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quarta-feira, 17 de abril de 2024

Além do Horizonte: A Viagem de Retorno


 

Em uma das muitas jornadas do navio a vapor Carlo R, da renomada companhia de navegação Carlo Raggio, uma família italiana embarcou rumo ao desconhecido horizonte do Brasil. Pietro e Maddalena, com seus três filhos Giacomo, Aurora e Giovanni Battista, estavam repletos de esperança e expectativas enquanto deixavam para trás sua terra natal, Nápoles, no dia 27 de julho de 1893.
O Carlo R., com seus 101 metros de comprimento e 13 metros de largura, era uma relíquia adaptada às pressas para o transporte de passageiros em meio ao auge da emigração italiana. A bordo, cerca de 1.400 almas se amontoavam em condições precárias, uma situação agravada pela epidemia de cólera que assolava Nápoles naquele ano.
No quarto dia de viagem, o temor se concretizou quando um caso da doença surgiu a bordo. Ao invés de retornar ao porto de origem para tratamento adequado, o comandante optou por continuar a travessia, ocultando a gravidade da situação das autoridades locais. O resultado foi uma rápida propagação da epidemia entre os passageiros, transformando o navio em um verdadeiro inferno flutuante.
Quando o Carlo R. finalmente alcançou o porto do Rio de Janeiro, juntou-se a outros navios italianos igualmente atormentados pela tragédia. O Remo e o Vicenzo Florio compartilhavam do mesmo destino sombrio, com mortes a bordo e uma carga humana enferma.
Diante da ameaça de uma epidemia em território brasileiro, as autoridades decidiram não permitir o desembarque dos passageiros. Os navios foram escoltados para uma distante região próxima à Ilha Grande, onde passaram por desinfecção e reabastecimento.
Enquanto aguardavam uma decisão final, a angústia se instalava entre os passageiros, incluindo a família de Pietro e Maddalena. A incerteza do futuro pairava sobre eles como uma sombra constante.
Após semanas de espera, a ordem finalmente chegou: retornar à Itália. O procedimento padrão internacional para casos semelhantes exigia que os navios regressassem com sua carga humana. Para Pietro e Maddalena, era um retorno amargo, marcado pela dor das perdas sofridas durante a travessia e pela incerteza do que encontrariam ao voltar para casa.
Anos depois, em um tribunal italiano, o comandante do Carlo R. e a companhia responsável foram julgados e condenados pelas mortes ocorridas naquela fatídica viagem. No entanto, para Pietro e Maddalena, as cicatrizes daquela tragédia nunca desapareceriam completamente, permanecendo como testemunhas silenciosas de uma jornada marcada pela dor e pela perda.


quarta-feira, 3 de abril de 2024

A Jornada de Matteo de Assisi para o Brasil

 


Nas montanhas verdejantes que circundavam a pitoresca vila não longe de Assisi, na região da Umbria, a parte central da Itália, nasceu Matteo, filho de Giovanni e Maria. Era uma manhã ainda fria de primavera quando ele veio ao mundo, envolto nas esperanças e nas expectativas de seus pais, que há muito tempo trabalhavam na terra fértil da região.
Desde os primeiros momentos de sua vida, Matteo foi imerso na beleza rústica e na simplicidade da vida campestre. Cresceu entre os campos ondulantes de oliveiras e vinhas, respirando o ar fresco das montanhas e ouvindo os cânticos dos pássaros que pairavam nos céus azuis.
Seu pai, Giovanni, era um mezzadro respeitado na comunidade, um homem que dedicava suas horas ao trabalho árduo nos campos em troca de uma modesta parcela de terra para cultivar. Sua mãe, Maria, era o coração do lar, uma mulher forte e amorosa que cuidava da casa e dos filhos com dedicação inabalável.
Matteo cresceu rodeado pelo calor da família e pela solidariedade dos vizinhos. Na pequena vila natal, próxima de Assisi, onde todos se conheciam pelo nome e compartilhavam alegrias e tristezas, ele encontrou um senso de pertencimento que moldaria sua visão de mundo nos anos seguintes.
Enquanto o tempo passava, Matteo testemunhava as estações mudarem, cada uma trazendo consigo suas próprias bênçãos e desafios. Ele aprendeu com seu pai os segredos da terra, trabalhando lado a lado nos campos desde tenra idade, enquanto absorvia as histórias e os ensinamentos dos mais velhos na vila.
No entanto, mesmo em meio à tranquilidade da região, Matteo não conseguia ignorar as histórias de parentes e amigos que partiram em busca de oportunidades além-mar. A situação economica da Itália no pós guerra impedia o desenvolvimento e a criação de novos postos de trabalho para uma população que crescia nas cidades pelo abandono do campo. Embora seu coração estivesse profundamente enraizado na terra que o viu nascer, ele sabia que o mundo além das montanhas guardava segredos e possibilidades desconhecidas.
E foi assim que, apesar de sua resistência inicial, Matteo se viu confrontado com uma escolha difícil em 1924, quando a Itália ainda estava se recuperando da guerra, uma série de más colheitas e dificuldades financeiras assolaram sua família e muitos outros na vila. A tentação da emigração tornou-se irresistível, e junto com outras famílias da província, Matteo embarcou em uma jornada incerta em direção ao Brasil, deixando para trás as colinas verdejantes e os laços de sangue que o ligavam à sua terra natal.
Após desembarcar no Porto do Rio de Janeiro, Matteo se encontrou diante de uma paisagem completamente diferente daquela que deixara para trás na Itália. As ruas movimentadas, os sons estridentes e a mistura de culturas o deixaram maravilhado e um pouco atordoado. No entanto, ele sabia que ali estava apenas o início de uma nova jornada.
Ao chegar em Santos e subir a Serra do Mar até São Paulo, Matteo contemplou as vastas plantações de café que se estendiam pela região, compreendendo a magnitude da economia cafeeira que impulsionava o estado. Em São Paulo, ficou tentado a se estabelecer na cidade, seduzido pela promessa de oportunidades infinitas, mas o convite de seu amigo de infância o levou a seguir rumo ao interior até Ribeirão Preto.
Ao chegar em Ribeirão Preto, Matteo imergiu profundamente no universo da construção civil. Seu domínio das técnicas de alvenaria, cultivado desde a infância enquanto auxiliava um tio em suas empreitadas, rapidamente o destacou pela destreza e dedicação. Logo, viu-se envolvido em projetos audaciosos e desafiadores, contribuindo para erigir os fundamentos de uma cidade em pleno crescimento.
Enquanto se entregava ao trabalho árduo durante o dia, Matteo mergulhava de corpo e alma na riqueza da cultura brasileira durante suas horas de folga. Determinado a se integrar completamente, ele dedicou-se a aprender o idioma local, imergindo em festas tradicionais e estabelecendo laços de amizade que transcendiam fronteiras. Foi em uma dessas celebrações que o destino o presenteou com Giulia, uma mulher cativante, cujas raízes italianas ecoavam as suas próprias. O amor entre eles floresceu de forma arrebatadora e rápida, guiando-os a decidir, em pouco tempo, unirem-se em matrimônio.
Com Giulia como sua companheira, Matteo descobriu uma fonte renovada de motivação para alcançar o sucesso. Unidos, eles ergueram sua morada e deram vida a uma família. Matteo persistiu em sua jornada na construção civil, eventualmente fundando sua própria empresa, que ascendeu para se tornar uma das mais conceituadas da região. Enquanto isso, Giulia dedicava-se incansavelmente ao lar e aos filhos, espelhando a mesma devoção e amor que ele testemunhara em sua própria mãe.
Ao longo dos anos, Matteo testemunhou o florescimento de Ribeirão Preto diante de seus olhos, como um jardim que desabrochava com o tempo. Novas ruas foram meticulosamente pavimentadas, imponentes arranha-céus ergueram-se majestosos onde outrora se estendiam campos abertos, e a cidade transformou-se em um polo econômico vital na região. Enquanto isso, seus filhos foram criados imersos na rica herança italiana que Matteo trouxera consigo, mas também absorveram avidamente as oportunidades oferecidas pelo Brasil em constante evolução.
Matteo, agora idoso, contempla o passado com um coração transbordando de gratidão pela jornada que o conduziu até este ponto. Ele se regozija com o trabalho árduo que desempenhou, com as memórias preciosas que acumulou ao longo dos anos e com a família que teve a honra de construir ao lado de Giulia. Embora as montanhas verdejantes da Umbria permaneçam como um cenário nostálgico em sua mente, ele reconhece plenamente que encontrou um novo lar, uma nova pátria, e uma vida repleta de realizações e significado no caloroso coração do Brasil.



sábado, 16 de março de 2024

O Legado de Amor e Lembranças de Raquel


Raquel era mais do que uma senhora idosa; ela era um tesouro vivo de histórias, amor e sabedoria. Seus 82 anos eram como as páginas de um livro desgastado, repletas de capítulos que narravam a trajetória de uma vida vivida com intensidade. Agora, residindo em um lar para idosos, ela encontrava-se no crepúsculo de sua jornada, cercada pelas sombras da saudade e pela luz tênue da esperança.
Ao observar seu quarto modesto, Raquel não podia evitar a sensação de perda que a envolvia. Ali não estavam os móveis antigos, os objetos de família e as fotografias que contavam a história de uma vida plena. Mas, mesmo na ausência desses pertences materiais, ela encontrava conforto nas pequenas coisas: no carinho da equipe que ali trabalhava, nas refeições preparadas com dedicação e na cama feita com zelo todas as manhãs.
Entretanto, havia uma ferida silenciosa em seu coração, uma saudade que às vezes doía mais do que podia suportar. Dos seus 5 filhos, dos 12 netos e dos 3 bisnetos, apenas alguns eram capazes de visitá-la no lar. As visitas eram como raios de sol em dias nublados, raros e fugazes, mas capazes de aquecer a alma por um breve momento.
As lembranças dos tempos passados eram como uma canção antiga que tocava em sua mente, evocando emoções profundas e sorrisos nostálgicos. Ela se via revivendo os momentos de ternura compartilhados com sua família: os abraços apertados, os jantares em família, as brigas que sempre terminavam em perdão e amor. Eram esses momentos que sustentavam seu coração cansado, lembrando-a de que, apesar da distância física, o vínculo familiar era eterno.
Mesmo privada das atividades que tanto amava, como cozinhar os pratos preferidos da família ou bordar delicados pontos cruz, Raquel encontrava consolo nos pequenos prazeres do dia a dia. O sudoku se tornou um refúgio, um desafio mental que a distraía das sombras da solidão e a conectava com uma sensação de realização.
A terapia ocupacional se revelou um bálsamo para sua alma ferida. Ali, entre risos e conversas, Raquel encontrava um propósito renovado: ajudar aqueles que compartilhavam sua jornada nos corredores silenciosos do lar. No entanto, não podia se apegar muito a eles como desejava, pois a cada dia um desaparecia e não era mais visto. Mesmo diante dessa constante despedida, ela descobriu que, mesmo no crepúsculo da vida, ainda podia oferecer algo de si mesma aos outros, seja um sorriso gentil, uma palavra de conforto ou um abraço silencioso.
Enquanto contemplava o horizonte incerto que se estendia diante dela, Raquel nutria uma esperança silenciosa de que as gerações futuras compreendessem a importância da família. Ela desejava que o amor e o cuidado que ela dedicara à sua própria família fossem perpetuados, como uma chama que nunca se apaga. Pois, no final das contas, era esse amor que dava sentido à sua vida, um tesouro que nenhum tempo poderia roubar.



terça-feira, 12 de março de 2024

O Legado de Agostino: da Calábria a Porto Alegre




Agostino nasceu na pequena vila de San Luca, um enclave tranquilo entre as montanhas da província de Catanzaro, na região da Calábria, em 1857. Seu nome, uma homenagem ao seu avô paterno, refletia o orgulho de sua linhagem e o destino que o aguardava.

Desde jovem, Agostino demonstrava um talento excepcional para a arte da construção. Seus dedos ágeis moldavam o barro e a pedra com uma destreza impressionante, aprendendo os segredos do ofício com os anciãos da vila. Seu avô, um renomado pedreiro, deixara um legado de habilidade e excelência que Agostino estava determinado a honrar.
A vida em San Luca seguia seu curso tranquilo, embora fosse evidente uma diminuição sensível no número de construções em toda a região. Até que um dia, uma carta chegou à modesta casa de Agostino, trazendo consigo uma lufada de novas possibilidades e oportunidades. Era uma mensagem do outro lado do oceano, escrita pela mão do tio Carmelo, irmão mais novo de seu pai, que há muitos anos havia deixado a Itália em busca de fortuna no Brasil.
Carmelo, agora estabelecido em Porto Alegre, convidava Agostino e sua família a se juntarem a ele no novo mundo. O motivo era claro: a firma de construção que Carmelo havia fundado estava passando por dificuldades. Seu filho, que havia assumido os negócios, sofrera um acidente fatal, deixando Carmelo sem um sucessor adequado.
O tio via em Agostino não apenas um parente, mas um talento excepcional que poderia revitalizar o negócio familiar. Sua reputação como muratore, ou pedreiro, era conhecida até além das fronteiras da Calábria, e Carmelo não hesitou em fazer o convite, esperançoso de que seu sobrinho pudesse dar continuidade ao legado da família.
Com o coração cheio de esperança e determinação, Agostino e Giovanna decidiram aceitar o convite do tio Carmelo. Em dezembro de 1905, embarcaram em uma jornada rumo ao desconhecido, deixando para trás as colinas da Calábria para trilhar um novo caminho no Brasil.
Ao chegarem em Porto Alegre, foram recebidos de braços abertos pelo tio Carmelo, que os acolheu em sua casa e os ajudou a se estabelecer na cidade. Logo, Agostino encontrou trabalho na firma de construção da família, onde sua habilidade e paixão pela arquitetura brilhavam em cada projeto que realizava.
Os anos se passaram rapidamente, e a família de Agostino floresceu na terra distante. Seus filhos cresceram sob a influência da cultura brasileira, mas nunca esqueceram suas raízes italianas. Alguns seguiram os passos do pai na construção civil, enquanto outros encontraram seus próprios caminhos, mas todos compartilhavam o mesmo espírito de determinação e coragem.
Quando Agostino faleceu, deixou para trás um legado de realizações extraordinárias. Sua vida foi marcada pelo trabalho árduo, pela paixão pela construção e pelo amor incondicional pela família. Seu nome é lembrado com reverência em Porto Alegre, onde as construções que ele deixou para trás são testemunho de sua habilidade e visão. Agostino pode ter nascido na pequena vila de San Luca, mas seu espírito ousado e sua determinação o transformaram em um verdadeiro cidadão do mundo, deixando sua marca indelével na história da cidade que escolheu chamar de lar.




quinta-feira, 23 de novembro de 2023

Uma Dança de Cores, Calor Familiar e a Promessa de Novos Começos

 



Novembro, frequentemente considerado o mês mais melancólico, exala uma beleza singular. A celebração dos Mortos proporciona uma atmosfera única, mas a perspectiva que minha avó me presenteava tornava aquele momento tudo, exceto triste. A explosão de cores, das tonalidades de vermelho ao amarelo intenso, com as folhas dançando como borboletas, cria um espetáculo de transição entre o fim de uma vida e o início de outra, nos campos já semeados de trigo.

A grama intensamente verde, o musgo nos troncos e nas sombras dos riachos, tudo parecia me preparar para o iminente Natal, um verdadeiro nascimento que amplificaria meus pensamentos. O céu era sulcado por pássaros desenhando voos encantadores, fazendo-me sentir parte daquele cenário maravilhoso.

O frio penetrante não me impedia de explorar, e as bochechas avermelhadas testemunhavam as aventuras vividas. O fogo aceso pela vovó, acompanhado do crepitar das chamas na lareira, tornava-se o centro daqueles dias. Novembro era um conto de fadas pintado com a escuridão das casas iluminadas pelo calor do fogo e o aroma convidativo de castanhas no fogão.

O amarelo da polenta, cuidadosamente trazido à mesa pela vovó, tornava-se um símbolo de bênção, como um raio de sol sobre a mesa. Eu comia aquele sol de farinha com gratidão, mergulhando-o em um pequeno molho ou acompanhado de um arenque defumado grelhado. A simplicidade desses momentos, com os mais velhos ao redor e o calor das brasas sob a mesa, criava uma riqueza única.

Não havia necessidade de mais nada naqueles dias, pois o calor humano e a partilha ao redor da mesa tornavam cada momento precioso. Novembro, longe de ser triste, revelava-se como um período de profunda conexão com os outros e consigo mesmo, preparando o terreno para o próximo mês, quando o nascimento encheria de alegria os corações de todos.

Com a chegada de dezembro, a atmosfera se impregnava de uma emoção tangível. Os dias ficavam mais curtos, mas cada instante estava impregnado de uma atmosfera única. A floresta próxima, testemunha silenciosa de nossos momentos, antecipava a grande festa da natureza. Enquanto o frio apertava a terra, nossa mesa transbordava de histórias e risadas.

O calor humano, como o fogo que queimava incessantemente, tornava-se o centro dos dias. Sentados ao redor da mesa, saboreávamos a polenta dourada como se fosse um raio de sol capturado e trazido diretamente para a nossa mesa. Não precisávamos de mais nada, pois nessa refeição simples encontrávamos a riqueza da união familiar.

As noites tornavam-se mais íntimas, iluminadas apenas pela luz tremeluzente das chamas. Os momentos passados com os mais velhos sob o calor das brasas tornavam-se tesouros de sabedoria e afeto. Novembro, o mês que muitos consideravam triste, revelava-se, para mim, um período de conexão profunda com os outros e comigo mesma.

E assim, enquanto o sol de farinha iluminava nossas noites, eu sentia crescer dentro de mim a expectativa, a promessa de um novo começo iminente. Novembro, com seu encanto envolvente, estava se preparando para dar lugar a dezembro, portador de novos nascimentos e de uma alegria destinada a encher todos os corações, assim como o presente de um nascimento esperado por todos.

Com a chegada de dezembro, a atmosfera se impregnava de uma emoção palpável. Os dias ficavam cada vez mais curtos, e as luzes natalinas começavam a decorar as casas, dando um toque mágico a cada canto. Enquanto o frio abraçava a natureza em um abraço gelado, o calor humano tornava-se ainda mais envolvente.

Os preparativos para o Natal começavam a tomar forma: a árvore enfeitada, os presentes escondidos sob sua imponente forma e o aroma envolvente de doces natalinos que invadia a cozinha. Era como se cada detalhe contribuísse para criar uma atmosfera de espera, de esperança.

Naqueles dias de dezembro, a intimidade familiar tornava-se ainda mais profunda. Sentados ao redor da mesa, com os olhares voltados para a árvore cintilante, compartilhávamos histórias, sonhos e a alegria de estar juntos. A polenta dourada do mês anterior transformava-se em iguarias natalinas, e o sol de farinha tornava-se a luz que iluminava o caminho para a festa.

Os dias escorriam entre o calor das casas e as ruas iluminadas. As luzes da árvore refletiam nos olhos cheios de expectativa, antecipando o momento mágico da meia-noite de Natal. Era como se tudo, desde a preparação da comida até as decorações cintilantes, convergisse em uma única celebração de compartilhamento e amor.

E então, quando os sinos anunciavam a meia-noite de Natal, a espera atingia seu ápice. Naquele momento preciso, um novo capítulo começou a ser escrito em nossa história familiar. Um pequeno milagre, um novo nascido, portador de esperança e alegria, fez sua entrada, presenteando a todos um coração cheio de emoções indescritíveis.

À medida que os primeiros flocos de neve começavam a dançar no ar, anunciando a chegada do inverno, a magia persistia. A paisagem transformava-se em um cenário de conto de fadas, onde a neve macia cobria delicadamente cada superfície. O calor das lareiras ganhava um significado ainda mais profundo, proporcionando não apenas conforto físico, mas também um refúgio acolhedor para os corações que buscavam abrigo do frio lá fora.

As tradições de inverno tornavam-se a cola que unia gerações. As histórias à luz das chamas perduravam, agora envoltas em mantos de neve e suspiros de ar gelado. O aroma de especiarias e chocolate quente pairava no ar, elevando o espírito de celebração. Era um momento em que as fronteiras entre o interior e o exterior se dissipavam, e o calor humano criava uma barreira contra o frio impiedoso.

À medida que dezembro avançava, os preparativos para a celebração de Ano Novo ganhavam vida. O som de risos e música enchia o ar, enquanto os fogos de artifício pintavam o céu noturno com cores vibrantes. Era um momento de reflexão e expectativa, uma transição suave para um novo ano repleto de possibilidades.

Enquanto as festividades ecoavam, o ciclo anual se completava. De novembro a dezembro, a jornada era uma ode à vida, à conexão e à renovação constante. A cada estação, uma nova camada de significado era adicionada à tapeçaria da existência, formando uma história que transcenderia as páginas do calendário, ecoando eternamente nas memórias entrelaçadas de uma família unida pelo calor do amor.

Janeiro chegava com a promessa de um recomeço. Enquanto o frio do inverno se intensificava, a neve pintava os campos de um branco sereno, transformando a paisagem em um cenário de conto de fadas. As pegadas frescas na neve eram trilhas de histórias que se desenrolavam a cada novo passo.

Os dias eram curtos, mas a luz do sol refletida na neve criava uma luminosidade mágica. A lareira continuava a queimar, proporcionando calor e conforto durante os longos dias de inverno. A família se reunia ao redor do fogo, compartilhando risadas e memórias enquanto o mundo lá fora estava envolto em um silêncio tranquilo.

O aroma de sopas quentes e pães frescos preenchia a casa, criando uma sensação acolhedora. Era o momento de desacelerar, de refletir sobre o ano que passou e de traçar planos para o futuro. Janeiro, com sua serenidade e calma, convidava à introspecção, preparando o terreno para os dias mais longos que viriam.

Com a chegada de fevereiro, a expectativa do iminente despertar da primavera começava a pulsar no ar. Os primeiros sinais de vida começavam a aparecer, mesmo que timidamente. Botões de flores rompiam a superfície congelada, anunciando a renovação da natureza. Era como se a própria terra estivesse prestes a despertar de um sono profundo.

O amor estava no ar, não apenas no sentido romântico, mas na forma como a natureza se renovava e se reinventava. Os pássaros começavam a cantar canções de esperança, e a luz do sol ganhava uma qualidade mais suave. Era o prelúdio da primavera, um despertar gradual que trazia consigo a promessa de dias mais quentes e cheios de vida.

Assim, o ciclo continuava, cada mês trazendo sua própria magia e transformando a narrativa da vida em uma tapeçaria rica e intrincada. A jornada através dos meses era uma dança entre as estações, cada uma contribuindo com sua própria beleza e significado, criando uma sinfonia que ecoava através do tempo.



Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS





sexta-feira, 22 de setembro de 2023

Caminhos Além do Sile: Uma Saga de Amor e Prosperidade


 

Maria Augusta, Giuseppina e Antonella eram 3 irmãs com idades de 24, 20 e 17 anos respectivamente, filhas do casal Domenico Zatellon e Anna Mezzomo, moradores no interior de um pequeno município da província de Treviso, na região do Vêneto. Além das três moças Domenico e Anna tinham mais cinco filhos homens, todos vivos e mais duas meninas já falecidas ainda no primeiro ano de vida. Moravam e trabalhavam na agricultura e criação de bichos da seda, em uma grande terra particular margeada pelo rio Sile, de propriedade de uma família nobre veneziana, que já tinha conhecido mais importância e esplendor na época da Sereníssima República de Veneza. Já de alguns séculos era propriedade rural de nobres patrícios venezianos, local de férias de verão da família e de onde obtinham a sua renda. Outrora eram grandes armadores que substituíram a atividade marítima pela produção rural. A propriedade tinha vários empregados, todos morando no próprio local com as famílias, cultivando e produzindo um pouco de tudo, sendo a criação do bicho da seda umas das suas atividades principais.

Na tranquila província de Treviso, aninhada nas margens serenas do rio Sile, erguia-se a imponente Villa del Conte. Um legado de beleza e história, a propriedade era o lar de uma família laboriosa e notável: os Zatellon, que ali trabalhavam a três gerações.

Domenico e Anna, os pilares da família, dedicavam suas vidas à agricultura e, acima de tudo, à laboriosa criação do bicho da seda na Villa del Conte. Domenico, um homem de meia idade, forte e  experiente, era o encarregado geral responsável por tudo na propriedade. Sua palavra era a lei, e ele se reportava somente aos distantes patrões da nobre família veneziana.

Além das três filhas - Maria Augusta, de 24 anos, Giuseppina, com seus 20 anos, e Antonella, a caçula de 17 - Domenico e Anna tinham mais cinco filhos homens, cujas vidas se entrelaçavam com a terra e o rio, assim como as irmãs. Juntos, formavam uma família que trabalhava incansavelmente para a produção e manutenção da Villa.

A produção de seda, atividade fabril cuja técnica foi trazida secretamente do oriente pelos navegadores venezianos, era uma arte que exigia dedicação meticulosa. As amoreiras, cujas folhas alimentavam os bichos da seda, eram cultivadas com carinho. A cada safra, casulos preciosos eram colhidos e cuidadosamente preparados para a venda à indústria da seda, que despontava no Vêneto desde a época da sereníssima. Era uma tarefa que demandava habilidade e paciência, mas os Zatellon haviam dominado essa arte ao longo das gerações.

Enquanto a família Zatellon prosperava na Villa del Conte, as três irmãs e seus irmãos encontraram destinos que os levaram a terras distantes. Os irmãos Luigi e Giovanni, em particular, fizeram uma jornada audaciosa para a colônia Dona Isabel, no Brasil. Os dois jovens eram ambiciosos e tinham grandes sonhos,  queriam progredir na vida e serem proprietários da terra em que trabalhavam. Não concordavam com a vida que a família tinha levado até agora. Uma vida marcada pela submissão à um patrão, onde o que sobrava era somente trabalhar e calar sempre. Sonhavam romper este antigo costume, passando de empregados à patrões.

A vida no Brasil não era fácil no começo, mas com determinação e trabalho árduo, os dois ambiciosos irmãos logo prosperaram. Eles investiram nas terras férteis da colônia, cultivando safras abundantes e expandindo seus negócios. Anos se passaram, e suas vidas na nova terra se transformaram.

Luigi casou-se com Isabella, uma mulher forte e inteligente que compartilhava seu desejo de sucesso. Juntos, eles tiveram filhos que cresceram em meio aos campos e às fazendas que Luigi adquirira ao longo dos anos. Ele não apenas se tornou um grande proprietário de terras, mas também investiu em indústrias, contribuindo para o desenvolvimento econômico da região.

Giovanni, por sua vez, encontrou o amor nos braços de Elena, uma mulher de grande determinação. Eles construíram um legado juntos, à medida que Giovanni expandia seus negócios para além das fronteiras da agricultura. Ele estabeleceu indústrias prósperas e se tornou um dos empresários mais respeitados da colônia. Seu casamento trouxe à vida vários filhos que compartilharam a visão de seu pai.

Enquanto isso, na Villa del Conte, as famílias das três irmãs continuaram a prosperar, celebrando a vida, o amor e os laços familiares. A história dos Zatellon, marcada pela dedicação à terra, à criação do bicho da seda e à busca de novas oportunidades, era um conto duradouro, escrito com o suor e o amor de gerações de Zatellons nas terras abençoadas pelo rio Sile. E mesmo com a partida de Luigi e Giovanni em busca de novas terras no Brasil, o espírito e os valores da Villa del Conte permaneceram firmes, passados de geração em geração, enquanto os dois irmãos realizavam seus sonhos em terras distantes, tornando-se grandes proprietários de terras e líderes industriais. Suas histórias de sucesso ecoavam através do tempo, inspirando futuras gerações a trilharem seus próprios caminhos em busca de realizações e prosperidade.




sexta-feira, 1 de setembro de 2023

Vozes Ausentes: A Dor da Mãe Imigrante na Colônia Dona Isabel


 

Vozes Ausentes: 
A Dor da Mãe Imigrante na Colônia Dona Isabel


Na vastidão da colônia Dona Isabel, 
No meio do nada, isolados do mundo, 
Uma mãe carrega a dor, a angústia cruel, 
A espera dolorosa, o coração moribundo.

Três filhos ao seu lado, seu maior tesouro, 
Mas a ausência das outras, um vazio a corroer, 
O silêncio que consome, um peso agridoce, 
Quase um ano sem notícias, sem saber o que acontecer.

No seio da floresta, a mãe clama em prece, 
Anseia pelas palavras, pelas cartas esperadas, 
O eco do silêncio, uma dor que não desvanece, 
Enquanto o tempo avança, trazendo noites estreladas.

Os dias se arrastam, lentos como o vento, 
As lágrimas marcam seu rosto envelhecido, 
A esperança vacila, é um tormento, 
Nas sombras da incerteza, seu peito ferido.

A saudade aperta, o coração em pedaços, 
Perguntas sem respostas ecoam em seu ser, 
Será que estão bem? Afastadas em espaços, 
Em terras distantes, sem nenhuma saber.

No Brasil, a mãe aguarda com fervor, 
Notícias que tragam alívio e acalanto, 
Das duas filhas casadas, longe do calor, 
Nos Estados Unidos e na França, em outro canto.

A cada amanhecer, uma esperança renasce, 
A certeza de que o amor atravessa oceanos, 
Na força de uma mãe que não se esquece, 
De suas filhas queridas, mesmo em tempos insanos.

No meio da floresta, no isolamento profundo, 
A mãe sustenta a fé, a chama da espera, 
Que um dia as notícias cheguem ao seu mundo, 
E tragam alegria, um renascer primavera.

Em cada verso desse poema entrelaçado, 
Celebro a coragem dessa mãe imigrante, 
A dor, a angústia e os sentimentos abraçados, 
Na esperança de que a distância não seja constante.


de Gigi Scarsea
erechim rs




domingo, 13 de agosto de 2023

Eterna Gratidão: Homenagem ao Amor Paterno

 




Eterna Gratidão: Homenagem ao Amor Paterno


Neste Dia dos Pais, quero homenagear,
O herói em nossa vida, que sempre a nos guiar.
Com seu sorriso sábio, com seu amor sem fim,
Meu querido pai, és o presente mais divino.

Nos teus braços seguros, encontro a proteção,
És meu porto seguro, minha inspiração.
Com dedicação e carinho, traçaste meu caminho,
Pai, és a luz que brilha, és meu maior abrigo.

Teus conselhos sábios, as histórias que contas,
Cada gesto teu, nas memórias, que prontamente contas.
Seu riso é o melhor som, a tua mão a me guiar,
Agradeço a cada dia por teu amor sem hesitar.

Nas batalhas da vida, és meu aliado forte,
Enfrentando tempestades, sempre a enfrentar a sorte.
Seu exemplo me ensina a enfrentar os desafios,
Pai, contigo ao meu lado, tudo é mais fácil, eu sigo.

Oh, como sou grato por ter-te em meu caminhar,
Pai querido, és a rocha, o amor a me acompanhar.
Neste Dia dos Pais, te saúdo com carinho,
És meu herói, meu amigo, meu eterno abrigo.

Agradeço por tudo, por cada riso e lição,
Por cada amor incondicional, por cada gesto de afeição.
Pai, és a razão de minha gratidão infinita,
Neste Dia dos Pais, meu amor a ti se torna mais bonito.


de Gigi Scarsea
erechim rs

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Eterna Gratitudine: Omaggio all'Amore Paterno

In questo Giorno del Padre, voglio omaggiare,
L'eroe nella nostra vita, sempre a guidarci.
Con il tuo sorriso saggio, con il tuo amore infinito,
Mio caro papà, sei il regalo più divino.

Nei tuoi bracci sicuri, trovo la protezione,
Sei il mio porto sicuro, la mia ispirazione.
Con dedizione e affetto, hai tracciato il mio cammino,
Papà, sei la luce che brilla, sei il mio rifugio più vicino.

I tuoi saggi consigli, le storie che racconti,
Ogni tuo gesto, nei ricordi, prontamente affiora.
Il tuo riso è il suono migliore, la tua mano a guidarmi,
Ti ringrazio ogni giorno per il tuo amore senza esitazione.

Nelle battaglie della vita, sei il mio alleato forte,
Affrontando tempeste, sempre a sfidare la sorte.
Il tuo esempio mi insegna a fronteggiare le sfide,
Papà, con te al mio fianco, tutto è più semplice, io seguo.

Oh, quanto sono grato di averti nel mio cammino,
Caro papà, sei la roccia, l'amore a farmi da timone.
In questo Giorno del Padre, ti saluto con affetto,
Sei il mio eroe, il mio amico, il mio eterno rifugio perfetto.

Ringrazio per tutto, per ogni risata e lezione,
Per ogni amore incondizionato, per ogni gesto di affezione.
Papà, sei la ragione della mia gratitudine infinita,
In questo Giorno del Padre, il mio amore per te diventa più bello e completo.

de Gigi Scarsea
erechim rs



quarta-feira, 26 de julho de 2023

Laços Eternos: A Dor do Adeus entre Mãe e Filho Emigrantes


 

Laços Eternos: 
A Dor do Adeus entre Mãe e Filho Emigrantes


Nos versos entrelaçados da saudade, 
A dor da despedida se faz presente, 
Uma mãe, um filho, um destino incerto, 
Emigrantes que partem, vidas diferentes.

O coração aperta, a voz se quebra, 
A mãe abraça seu filho com ternura, 
O tempo, implacável, escorre pelas mãos, 
E o peso da despedida lhe tortura.

No olhar profundo da mãe aflita, 
A certeza triste de um adeus eterno, 
Pois sabe que jamais se reencontrarão, 
O filho parte, destino ao Brasil, seu inverno.

As lágrimas rolam silenciosamente, 
Misturando-se ao sorriso desfeito, 
Um abraço apertado, um beijo sentido, 
É o amor que se expressa em cada gesto feito.

A mãe segura o filho em seu peito, 
Guardando na memória o seu sorriso, 
Sabendo que a distância os separará, 
E que esse encontro será um sonho impreciso.

As mãos que se afastam num adeus, 
São laços que se soltam pelo ar, 
A mãe, a mulher, com coragem enfrentam, 
O desconhecido, o futuro a desbravar.

Emigrantes, almas corajosas, 
Enfrentam o mar em busca de uma vida nova, 
A mãe, com seu coração apertado, 
Vê seu filho partir, num adeus que a comove.

Nas palavras não ditas, a esperança persiste, 
De que o filho encontre a felicidade, 
E que mesmo distantes, os laços se fortaleçam, 
Em memórias, em cartas, em saudades.

A despedida é um capítulo amargo, 
Na história que a vida insiste em escrever, 
Mas o amor de mãe e filho é eterno, 
E mesmo distantes, nunca irá perecer.

Que a jornada do filho seja repleta de luz, 
Que a vida lhe reserve sorrisos e paz, 
E que no coração da mãe a lembrança perdure, 
Do filho que partiu, mas nunca desvanecerá.

Em versos, nesta poesia entrelaçada, 
Celebro a coragem da mãe e do filho, 
Que mesmo separados, estarão ligados, 
Por laços de amor, que nem o tempo abala.


de Gigi Scarsela
erechim rs



domingo, 2 de julho de 2023

A Emocionante Jornada da Família de Francesco Piazzetta: Uma História de Superação e Perseverança

Igreja Sagrado Coração de Jesus (Água Verde) em 1910


Francesco Piazzetta, já viúvo a três anos de Maria Augusta Verri, natural da vizinha cidade de Segusino, com a ajuda dos cinco filhos, se prepararam durante meses para a grande mudança que os levaria para o Novo Mundo. Vendeu a antiga casa de dois pisos na  "contrada Ghetto" em Pederobba, onde a família morava e todos os seus poucos bens, conseguindo juntar uma pequena economia que seria usada para iniciar a vida na nova pátria. Foi até a prefeitura e providenciou os passaportes para todos poderem deixar o país. Comprou as passagens para o navio Adria que partiria de Gênova no mês de dezembro e se despediram dos amigos e familiares que ficaram para trás. 
No último mês de 1890, Francesco Piazzetta, com 51 anos, nascido no ano de 1839 na localidade Fener, no vizinho município de Alano di Piave, província de Belluno, finalmente deixou a Itália e emigrou para o Brasil com seus quatro filhos - Giovanni Battista, Noè, Colomba e Augusta. A filha primogênita, Giovanna Antonia (Piazzetta)  Viviani, ficaria para trás, pois já estava casada e tinha sua própria família. Não sabiam, porém, que nunca mais veriam a querida Giovanella, apelido como era chamada em família. Ela junto com a sua família alguns anos mais tarde também precisou partir em emigração e o país escolhido foi a França.
A viagem de Francesco Piazzetta, que então estava com a idade de 51 anos e seus quatro filhos menores, todos nascidos em Pederobba, Giovanni Battista, Noè, Colomba e Augusta, para o Brasil começou na estação ferroviária de Cornuda, uma pequena cidadezinha localizada na região de Veneto, na Itália, a cerca de 8 km de Pederobba e por onde passa até hoje a linha férrea com os trens que vem de Belluno. 
Partiram com bastante antecedência e a pé, em uma tarde úmida e fria do início de dezembro, cada um carregando uma mala com roupas e alguns pequenos sacos com mantimentos preparados em casa para enfrentar a longa viagem de trem.
Francesco e seus filhos chegaram à estação de trem calados durante todo o trajeto, muito preocupados e nervosos, mas, cheios de expectativa, ansiosos para embarcar em sua jornada rumo ao porto de Gênova. Apesar da preocupação com o desconhecido Francesco estava animado com a ideia de deixar a Itália e começar uma nova vida em um país estrangeiro, mas, por outro lado, todos também estavam muito tristes em deixarem sua terra natal e as pessoas que amavam.
A estação ferroviária de Cornuda era bem pequena, tal como a própria cidade, pouco movimentada aquela hora do dia, com uma ampla plataforma bem construída por onde os passageiros embarcavam nos trens. Francesco e os filhos se sentaram em um banco de madeira, na espartana sala de espera, aguardando a chegada do trem que os levaria até o porto de Gênova e observaram as poucas pessoas ao seu redor, muitos deles conhecidos, emigrantes como eles. Alguns demonstravam o nervosismo com a viagem e a separação, enquanto outros aparentavam estar calmos e pensativos, aguardando a sua vez.
Finalmente, pouco depois das vinte horas, o trem chegou com pontualidade e assim puderam embarcar no vagão que os levaria até Gênova. Eles encontraram seus assentos e se acomodaram, observando pela janela as paisagens que passavam. O trem passou por Ferrara, Bologna onde nesta cidade fez uma parada mais longa seguindo para Modena e Parma. No trajeto pouco puderam ver dos vilarejos, cidades e campos verdes, com as poucas folhas amareladas que sobraram pela chegada do inverno. Esta era a primeira viagem de trem que faziam e jamais tinham estado assim tão longe de casa.
Durante a viagem, eles conversaram um pouco, com o pai explicando aos filhos sobre suas expectativas para a nova vida no Brasil e compartilharam suas preocupações e medos. Francesco explicou aos seus filhos que a viagem seria difícil, principalmente aquela de navio, através do grande oceano, que nenhum deles conhecia, mas que eles deveriam ser fortes e corajosos. Ele também lhes disse que a vida no Brasil seria bastante diferente da vida na Itália, mas, que eles logo se adaptariam e seriam bem-sucedidos. Pouco dormiram, mal acomodados que estavam nos desconfortáveis bancos da classe econômica.
Após treze horas de viagem, o trem finalmente chegou à estação ferroviária de Gênova, passando por dezenas de estações onde, fazendo grande rumor, parava para receber mais passageiros, quase sempre famílias de emigrantes como eles, que também estavam deixando a Itália. Pensaram consigo mesmo que talvez alguns tivessem o idêntico destino deles e viajassem no mesmo navio.
Francesco e seus filhos desembarcaram do trem sendo recebidos pelo barulho e agitação da cidade portuária naquele começo de manhã. O porto era enorme, com barcos e grandes navios ancorados em todas as direções. Procuraram e logo avistaram ao longe o navio Adria, que não era dos maiores, o qual os levaria ao Brasil e sentiram imediatamente uma mistura de emoções.
Com curiosidade caminharam pelo porto, observando as dezenas de carregadores com seus carrinhos de mão, se deslocando apressados, levando grandes caixotes de mercadorias. O Adria já estava ancorado no cais e dele ouviam ordens sendo repassadas aos gritos, desde o seu tombadilho e também viram o corre-corre agitado dos marinheiros preparando o navio para a viagem. Quando no final da tarde a hora da partida chegou eles finalmente se dirigiram para o portão de embarque do navio que os levaria para o Novo Mundo e, resolutamente, após entregarem suas bagagens, os bilhetes e seus passaportes, conferidos tanto por parte dos funcionários do porto como aqueles da companhia de navegação, subiram pela longa escada inclinada, sustentada por grossas cordas, ao lado do navio, e embarcaram sem maiores problemas. Os alojamentos eram bem pequenos, corredores apertados e deviam dividir o aposento com outros passageiros, sem muita privacidade, mas, apesar de tudo eles estavam felizes por estarem a bordo, ansiosos pelo início da grande aventura.
A viagem pelo mar seria longa e desafiadora, mas eles estavam determinados a chegar ao tão sonhado destino, o Brasil. Com um longo e grave apito o Adria começou a se afastar lentamente do cais e gradualmente observaram a costa italiana desaparecer no horizonte provocando um frio nas suas barrigas. A cada dia, eles se aproximavam mais do novo mundo e das oportunidades que ele oferecia.
Finalmente, depois de algumas semanas no mar, sem quaisquer incidentes, eles finalmente chegaram ao porto do Rio de Janeiro, no Brasil. Desembarcaram sendo recebidos por funcionários portuários e encaminhados para a Hospedaria dos Imigrantes onde, após o exame médico rotineiro, foram abrigados para esperar pelo outro navio menor que os levaria para o destino escolhido, o porto de Paranaguá no estado do Paraná. Depois de uns dias de espera finalmente chegou o aviso para embarcarem novamente, desta vez em um navio menor chamado Rio Negro que os levaria, com centenas de outros imigrantes italianos, do Rio de Janeiro para a cidade de Paranaguá, no Paraná, mas o navio continuaria viagem para o Rio Grande do Sul.
Eles haviam deixado a Itália, um país atrasado e com graves problemas econômicos, em busca de uma vida melhor no Brasil e esperavam que essa nova terra lhes oferecesse novas oportunidades.
De Paranaguá seguiram para Curitiba, fazendo o trajeto de subida da Serra do Mar até Curitiba, pela espetacular estrada de ferro inaugurada apenas cinco anos antes. Foi uma viagem de poucas horas, com duas ou três paradas, repleta de paisagens deslumbrantes de uma floresta tropical intacta, com diversas pontes de ferro e profundos precipícios, pois, Curitiba está a quase 1000 metros acima do mar. 
Na capital paranaense, com as economias trazidas da Itália, arrecadadas com a venda da casa e de alguns outros pertences, Francesco comprou um lote de terra com uma pequena casa de madeira, na ainda nova colônia Dantas, onde já moravam desde a sua inauguração, a apenas dois anos, várias outras famílias de imigrantes provenientes da região do Vêneto como eles, alguns até conhecidos e meio aparentados. Ele esperava que seus filhos tivessem acesso à educação e que ele pudesse encontrar trabalho como marceneiro, que lhes proporcionasse uma vida mais confortável. Francesco estava determinado a fazer uma nova vida na cidade e quando chegaram à Colônia Dantas, ficaram surpresos com o ótimo clima e progresso da capital paranaense. Era realmente um novo mundo, aquilo que Francesco sempre sonhara. A cidade era rica e organizada, bem desenvolvida para a época, com muitos recursos e disponibilidade de trabalhos. 
Com o tempo, Francesco e seus filhos se adaptaram à vida na Colônia Dantas, a qual progredia rapidamente e pela contiguidade com a capital estava se tornando a cada dia com aspecto de um populoso bairro, o que de fato veio acontecer alguns anos depois, quando passou a ser chamada de Água Verde. Eles logo fizeram amizade com outras famílias italianas moradoras no local e se estabeleceram definitivamente na comunidade se envolvendo e participando ativamente de eventos sociais e atividades comunitárias do local, como a construção da nova igreja. Francesco, bom carpinteiro e entalhador, logo encontrou trabalho, montando uma pequena oficina com o filho mais velho e os menores começaram a frequentar a escola. Embora a vida ainda reservasse grandes desafios, Francesco e os filhos estavam felizes por tomarem a decisão de emigrar para o Brasil. Sentiam terem ali muito mais oportunidades, que estavam no caminho certo para uma vida melhor neste grande país. Francesco Piazzetta faleceu em 30 de novembro de 1922, em Curitiba, com a idade de oitenta e três anos, deixando os quatro filhos, todos já casados, e também vários netos.


Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS










domingo, 14 de maio de 2023

O Dia das Mães é Mais do que Presentes: É um Dia para Honrar e Celebrar a Maternidade


 


FELIZ DIA DAS MÃES


As mães são as únicas pessoas no mundo que têm o poder de nos dar a vida. Elas são responsáveis por nos trazer ao mundo, por nos nutrir, cuidar e proteger desde o momento em que somos concebidos. A maternidade é uma experiência única e inigualável. A partir do momento em que uma mãe descobre que está grávida, começa a jornada de criar e nutrir um novo ser humano. Durante os nove meses de gestação, a mãe fornece ao feto tudo o que ele precisa para crescer e se desenvolver dentro de seu ventre. Quando o bebê nasce, é a mãe que o acolhe em seus braços, oferece seu leite e cuida de todas as suas necessidades básicas. Nos primeiros anos de vida, a mãe é a principal figura de referência da criança, e seu amor, carinho e cuidado são fundamentais para o desenvolvimento físico, emocional e cognitivo. O amor de uma mãe é capaz de superar qualquer obstáculo e vencer qualquer desafio. Elas são capazes de enfrentar noites sem dormir, alimentar seus filhos mesmo quando estão doentes, acalmar seus medos e preocupações, e estar lá para eles em todos os momentos. Além de nos dar a vida, as mães são responsáveis por nos ensinar muitas coisas importantes. Elas nos mostram como ser gentis, respeitosos e responsáveis, e nos ensinam a importância de sermos bons cidadãos e membros da sociedade. Suas lições são valiosas e duram a vida toda. Infelizmente, nem todas as mães têm a oportunidade de dar à luz. Há muitas mães adotivas que escolhem trazer para suas vidas crianças que precisam de amor e cuidado, e que não tiveram a sorte de ter uma mãe biológica presente. Essas mães são igualmente importantes e dedicadas, e seu amor é tão forte quanto o das mães biológicas.As mães são figuras essenciais em nossas vidas desde o momento em que nascemos, e sua influência dura toda a nossa existência. Elas nos amam incondicionalmente e estão sempre prontas para nos ajudar, apoiar e orientar, mesmo nos momentos mais difíceis. O Dia das Mães é uma data muito especial e comemorada em todo o mundo, é um momento em que podemos expressar nosso amor e gratidão por tudo o que nossas mães fizeram por nós. É uma oportunidade para honrar a dedicação e o sacrifício que elas fazem todos os dias para nos tornarmos as pessoas que somos hoje. Não há palavras suficientes para descrever o amor de uma mãe, é um amor incondicional e inabalável. Mesmo quando cometemos erros, elas estão sempre lá para nos apoiar e perdoar. Elas nos ensinam a ser compassivos, gentis e amorosos com os outros e nos mostram como ser fortes em momentos difíceis. As mães são exemplos de força e coragem, elas são capazes de enfrentar qualquer desafio e superar qualquer obstáculo para proteger e cuidar de seus filhos. Elas sacrificam seus próprios desejos e necessidades em prol da felicidade de seus filhos, e fazem isso com alegria e amor. O papel das mães é fundamental no desenvolvimento emocional e psicológico das crianças. Elas ajudam a construir a autoestima, a confiança e o senso de segurança de seus filhos, além de ensiná-los valores importantes como honestidade, bondade e respeito. As mães são as primeiras professoras de seus filhos e a influência delas se estende por toda a vida. As mães também têm um papel importante na formação da personalidade e do caráter de seus filhos. Elas são as primeiras a identificar e nutrir talentos e habilidades, e ajudam a orientar os filhos na escolha de carreira e na tomada de decisões importantes. O amor e o apoio das mães podem ser a base para o sucesso e a realização dos filhos. Não importa o que aconteça na vida, o amor de uma mãe nunca desaparece. Mesmo quando os filhos se tornam adultos e saem de casa, as mães continuam a amá-los e a apoiá-los em todas as fases da vida. Elas são uma fonte constante de inspiração e motivação, e seu amor incondicional é um dos maiores presentes que podemos receber na vida. 
As mães são figuras essenciais em nossas vidas, e o amor delas é incomparável. No Dia das Mães, devemos honrar e agradecer nossas mães por todo o amor, apoio e dedicação que elas nos deram ao longo dos anos. É uma oportunidade para lembrar da importância delas em nossas vidas e para reconhecer todo o trabalho duro que elas fazem para nos ajudar a alcançar nossos sonhos e objetivos.


Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS



quarta-feira, 19 de abril de 2023

A Saga de Um Casal de Imigrantes Italianos na Colônia Caxias

 




No final do século XIX, muitas famílias italianas emigraram para o Brasil em busca de melhores oportunidades de vida. Entre elas, estava a família de Francesco e Augusta, que vieram da região do Veneto e se estabeleceram na colônia Caxias do Sul, no estado do Rio Grande do Sul, em 1878. A jornada foi longa e difícil, durando 40 dias entre o mar e em terra. Eles eram dois pobres camponeses, mas corajosos, que decidiram deixar sua terra natal, na Itália, em busca de uma vida melhor na América do Sul. Eles haviam ouvido falar do Brasil e de suas terras férteis, onde os imigrantes eram bem-vindos e poderiam prosperar. Depois de muitas conversas e planejamento, eles finalmente embarcaram em uma longa jornada, que durou quase cinquenta dias, até chegarem à Colônia Caxias, no Rio Grande do Sul. Durante a longa viagem, Francesco e Augusta fizeram amizade com outros imigrantes, que também estavam a caminho da mesma colônia. A maioria deles eram italianos como eles, mas havia também alguns poucos alemães. Eles compartilharam histórias e experiências, tornando a viagem menos solitária e mais emocionante. Quando finalmente chegaram na Colônia Caxias, a terra parecia diferente de tudo o que tinham visto antes. As montanhas ao redor eram majestosas, a vegetação era densa e exuberante e o clima era um pouco diferente. Eles, e todo o grupo, foram recebidos pelos funcionários da colônia e por outros imigrantes que já estavam estabelecidos, que os ajudaram a encontrar o seu pedaço de terra e construir a sua nova casa. O casal teve que trabalhar duro para sobreviver nos primeiros anos. Eles desmataram uma parte do terreno e ali, após a queima das árvores, plantaram um pouco de trigo, milho, feijão e outros vegetais como todos os outros imigrantes na região. Começaram a criar alguns animais, como porcos e galinhas, para terem carne fresca e ovos. Pietro e Sofia, seus filhos, ajudavam nas tarefas diárias, mas também iam à escola no período da manhã para aprender a ler e escrever. A vida na colônia não era fácil, mas eles eram cercados de pessoas amigas e trabalhadoras. Eles participavam de festas e celebrações na igreja, onde se encontravam com outros imigrantes e trocavam experiências. Lentamente aprenderam a falar algumas palavras em português e a se comunicar com os brasileiros locais, mas entre os imigrantes italianos só falavam o talian, uma língua criada nas colônias italianas do Rio Grande do Sul para se comunicarem entre eles. Nos anos seguintes, a colônia cresceu e se desenvolveu. Mais imigrantes chegaram, e a terra foi ficando mais produtiva. Francesco e Augusta  conseguiram comprar mais terras ao lado da que já possuíam  e expandiram seus negócios. Pietro e Sofia cresceram e se casaram com os filhos de outros imigrantes italianos da região. Por volta do final do século, a família de Francesco e Augusta já era uma das mais prósperas da colônia. Eles tinham uma grande plantação de milho, um bom número de vacas e criação de suínos, até chegaram a construir uma pequena fábrica de queijo. Com muito amor eles ainda mantinham suas antigas tradições italianas. O casal havia se adaptado muito pouco à cultura brasileira e a língua do país, o português, jamais conseguiram falar direito e sempre carregado com muito sotaque italiano. A vida na colônia não era fácil, mas eles haviam conseguido construir uma vida feliz e satisfatória.


Texto de um livro de contos de
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS