quinta-feira, 12 de outubro de 2023

A Grande Travessia: Navegando pela Coragem e Desafios na Jornada dos Imigrantes




Durante o final do século XIX e início do XX, muitos italianos emigraram para a América em busca de uma vida melhor. Uma grande parte desses imigrantes meridionais partia do porto de Nápoles em direção aos Estados Unidos ou à América do Sul. Eles embarcavam em navios precários, mal conservados e enfrentavam travessias duras e perigosas pelo oceano Atlântico. As condições a bordo eram terríveis e as doenças eram uma grande ameaça à saúde dos passageiros.

Os navios que transportavam os imigrantes italianos eram conhecidos como navios a vapor de terceira classe. Esses navios eram bastante diferentes dos navios de passageiros modernos que conhecemos hoje em dia. Eles não ofereciam nenhum tipo de conforto para os passageiros, que viajavam em grandes compartimentos mal acomodados em catres tipo beliche. A maior parte das pessoas dormia em beliches de três camadas, com até 500 passageiros em um único compartimento. Havia o compartimento para os homens adultos e meninos maiores de oito anos e o das mulheres e meninas. As famílias eram separadas já no embarque. 

As condições a bordo eram tão ruins que muitos passageiros ficavam doentes antes mesmo de chegarem ao destino final. A falta de higiene e a má qualidade da água e da comida eram grandes responsáveis pelas doenças a bordo. As epidemias eram comuns e muitas vezes se espalhavam rapidamente pelos compartimentos. O surto mais comum era o de febre tifoide, uma doença causada por bactérias que se espalha através da ingestão de alimentos e água contaminados.

A febre tifoide não era a única doença que podia dar origem a uma grande epidemia a bordo. Outras doenças comuns incluíam o cólera, varíola, sarampo e a tuberculose, além de outras menos graves como o tracoma e a escarlatina. Essas doenças se espalhavam rapidamente entre os passageiros, especialmente entre aqueles que estavam fracos devido à má alimentação e condições precárias a bordo. A tripulação do navio muitas vezes não tinha recursos suficientes para lidar com as epidemias e as vezes não tinham conhecimentos médicos para tratar os doentes.

As travessias eram particularmente difíceis para as mulheres grávidas e as crianças. As mulheres grávidas muitas vezes ficavam doentes a bordo e tinham partos prematuros. As crianças eram especialmente vulneráveis às doenças e muitas vezes morriam durante a travessia. As crianças ficavam o tempo todo com as mães, respirando aquele mesmo ar fétido dos compartimentos lotados e mal ventilados. As mães que aleitavam seu bebe perdiam o leite e a criança enfraquecia ainda mais ficando mais sujeitas a infecções.

Os imigrantes italianos muitas vezes não tinham ideia do que esperar durante a travessia. Muitos deles nunca tinham visto o mar antes e a maior parte não falava outras línguas além do seu dialeto paisano. Dependiam do pessoal de bordo para ajudá-los a se adaptar às condições do navio e muitas vezes eram vítimas de abusos e violência por parte dos membros da tripulação.

Mesmo com todas essas dificuldades, os imigrantes italianos continuaram a emigrar em grande número para a América durante o final do século XIX e início do XX. Eles estavam dispostos a arriscar suas vidas para ter uma chance de construir uma nova vida em um novo país. Eles vinham de famílias pobres e esperavam encontrar trabalho e oportunidades melhores nos Estados Unidos e na América do Sul. A maior parte dos imigrantes italianos se estabelecia em grandes cidades como Nova York, Chicago e São Paulo, onde muitos deles trabalhavam em fábricas ou na construção civil.

Apesar das condições terríveis a bordo dos navios, a maioria dos imigrantes italianos conseguia sobreviver à travessia e chegar ao destino final. Muitos deles acabavam se adaptando às novas condições de vida e construíam uma nova vida em seus novos países. Alguns, no entanto, não conseguiam se adaptar e deprimidos acabavam voltando para a Itália.

Ao longo dos anos, as condições a bordo dos navios foram melhorando gradualmente. A partir da década de 1920, os navios a vapor começaram a oferecer condições mais confortáveis para os passageiros. Os compartimentos ficaram mais espaçosos e limpos, a comida e a água melhoraram e os navios passaram obrigatoriamente a ter médicos e enfermeiras a bordo para lidar com as doenças.

Hoje em dia, as travessias do Atlântico são muito diferentes daquelas realizadas pelos imigrantes italianos do final do século XIX e início do XX. Os navios são modernos e confortáveis, com diversas opções de entretenimento e lazer a bordo. No entanto, a história desses imigrantes e as dificuldades que eles enfrentaram durante a travessia do Atlântico são lembradas como um testemunho da coragem e determinação daqueles que buscavam uma vida melhor em um novo país.


Texto
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS