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segunda-feira, 9 de junho de 2025

A Liberdade de Cismon


A Liberdade de Cismon
Um romance de esperança, terra e destino


Capítulo I — A Voz de Deus no Vento


Quando Alessandro Bellarossi escreveu à família de Cismon, não o fez apenas com a pena — mas com a alma inteira. Cada palavra daquela carta parecia gotejar suor, esperança e o eco de uma travessia ainda recente. Mais do que uma mensagem, era um testamento de fé: a promessa sul-americana não era mito, era chão — e ele já o havia pisado. Vinte dias antes, com a mulher Annetta e os três filhos ao lado, Alessandro finalmente tocara a terra escura e úmida da Colônia Dona Isabel, aninhada nas brumas altas do Rio das Antas, onde a mata parecia antiga como a própria criação.

Ele viera de um lugar onde os vales mal respiravam entre as rochas dos Alpes Vênetos — um vilarejo modesto e esmagado pela indiferença do tempo e a ganância dos senhores da terra. Ali, mesmo depois da unificação da Itália, a liberdade seguia sendo apenas uma palavra dita em voz baixa, nas esquinas. Os ricos ganharam bandeiras e exércitos. Os pobres, dívidas, fome — e filhos demais para alimentar.

A travessia não foi apenas uma viagem: foi um corte profundo entre dois mundos. O Vapor Roma, abarrotado de camponeses, zarpou de Gênova como um navio de promessas — mas flutuava sobre um oceano de incertezas. Na segunda semana, o cheiro de corpos e medo era mais forte que o sal do mar. Morreram quatro crianças e duas mães. As preces sussurradas à noite misturavam-se aos lamentos abafados nas redes, enquanto o balanço do casco lembrava a todos que a terra firme era um privilégio distante.

Mas Alessandro não se deixava vencer. Alimentava a família com pão duro e coragem. E, quando avistou as primeiras araucárias, altas como campanários e mergulhados em névoa, soube, com uma clareza que tocava o fundo da alma, que tinha chegado. Não a um fim — mas a um começo.

Foi então que se recordou das palavras do velho padre Giustino, ditas numa manhã fria, antes da partida:

— “Às vezes, a voz de Deus sopra do Sul.”

E naquele instante, entre a cerração da serra gaúcha e os gritos dos homens abrindo picadas na mata com machados rombudos, Alessandro ouviu essa voz. Não era alta, nem miraculosa. Mas era clara. E dizia, simplesmente: "Fique. Aqui se planta o destino."


Capítulo II — Terra Prometida

Colônia Dona Isabel ainda era um esboço de civilização — uma fronteira onde tudo estava por fazer. Clareiras abertas à machadada rasgavam a mata como feridas frescas. Os caminhos eram lamaçais trêmulos, moldados pelas rodas de carroças e pelas botas de imigrantes. A terra, embora selvagem, era deles. Pela primeira vez na vida, Alessandro podia chamar um pedaço do mundo de seu.

Cem hectares por família. Um sonho inimaginável nas colinas magras do Vêneto. E agora, ali, entre troncos de araucária e o sussurro distante de bugios, ele e os outros colonos erguiam casas com os próprios braços. Cada tábua pregada era uma oração. Cada parede, um escudo contra o medo do desconhecido. A farinha era feita moendo milho em pedras improvisadas. O pão tinha gosto de suor, mas também de liberdade.

A carta que Alessandro escrevera ao pai, semanas antes, começava com entusiasmo quase infantil:

"Bea posission, tera fèrtile, ària sana, e il governo assiste noialtri."

E pela primeira vez na vida, ele não exagerava. O Império do Brasil, ansioso por povoar o sul, fornecia sementes, ferramentas rudimentares, bois magros, e o mais precioso de todos os recursos: tempo. Nove meses de auxílio antes que a terra exigisse resposta. Nove meses para transformar selva em lavoura, barracos em lar. Era pouco, mas era algo. Era mais do que a pátria lhes dera em séculos.

Lucia, sua esposa, começava a sorrir de novo — ainda tímida, como quem teme a própria esperança. Os pés estavam sempre cobertos de lama até os tornozelos, os dedos inchados de tanto lavar e carregar, mas os olhos… os olhos haviam reencontrado o brilho que ela tivera no altar de Cismon. Havia algo na mata, talvez o ar espesso da manhã, que lhe dava ânimo. Talvez fosse o silêncio sem fome.

Matteo e Elvira, seus dois mais velhos, corriam pelos campos como animais livres. Exploravam o novo mundo como se fosse um quintal de infância eterna, sem muros nem limites. Criavam cabanas com galhos e imitavam o som dos tropeiros. Chamavam os vizinhos alemães de “gigantes loiros” e riam com sotaques misturados. Elvira falava de plantar flores silvestres. Matteo, de construir uma roda d’água.

Até o pequeno Paolo, nascido na travessia em meio ao cheiro de sal, enjoo e orações sufocadas, parecia já parte da terra. Tinha os pulmões fortes, os olhos atentos — e as mãos cerradas como se segurassem já, com teimosia, as raízes daquele novo mundo.

À noite, quando o fogo de lenha aquecia o chão de terra batida e o vento das araucárias sussurrava entre as frestas da madeira crua, Alessandro olhava ao redor e pensava: "Não é o paraíso. Mas é um começo. E o começo, às vezes, é mais sagrado que o fim."


Capítulo III — Giacomo e o Barro de Sangue

Chegou ao entardecer, quando o sol se escondia lento por trás das cristas da Serra e o céu se tingia de cobre e vinho. A carroça improvisada descia aos solavancos o trilho escavado no barro, puxada por dois bois magros e coberta por uma lona manchada de sal e tempo. Em cima, com os olhos cavados pela travessia e a barba crescida até o peito, vinha Giacomo Bellarossi, o irmão mais novo de Alessandro.

Lucia foi a primeira a vê-lo, aparando água com um balde no córrego. Correu. E gritou. Os filhos vieram atrás, descalços e sujos, como cães de matilha reencontrando o dono ausente. Alessandro largou o machado onde estava e caminhou, ainda incrédulo, até o irmão.

Abraçaram-se em silêncio por longos minutos. O abraço dos que carregam a mesma cruz e a mesma fé — a fé de que o outro não teria vindo se o destino ainda fosse incerto. Mas os olhos de Giacomo não brilhavam. Não como os de quem encontrou paz, mas como os de quem fugiu de uma guerra.

— “Cismon está mais vazio, Sandro. E mais velho. O padre faleceu. Mamma ficou. Disse que o coração dela não atravessaria o mar... e talvez tenha razão.”
— “Você vem por esperança... ou por desespero?”
— “Qual a diferença?”

Instalaram-no na pequena cabana de tábuas atrás da casa principal. Na primeira semana, Giacomo pouco falava. Ajudava no que podia — cerrava madeira, cavava valas, cuidava das crianças quando Lucia precisava ir ao rio. Mas havia nos seus gestos uma tensão dura, como se esperasse o chão desabar a cada passo.

E então veio o dia da desgraça.

Foi numa manhã encharcada de neblina, quando Giacomo seguiu com Matteo ao campo mais baixo, junto ao limite da propriedade, para levantar cercas. Um grupo de colonos vizinhos, de origem alemã, trabalhava do outro lado da linha marcada. Houve palavras. Depois, gritos. Depois, o som seco de um murro.

Matteo voltou correndo, aos prantos, coberto de lama e sangue. Giacomo havia sido golpeado na cabeça com um pedaço de madeira. Estava caído no barro, imóvel, o rosto desfigurado por um corte profundo na testa. Os vizinhos diziam que ele avançara primeiro. Que fora tomado por um acesso de fúria.

— “Disse que a terra era nossa, que o marco estava errado. Xingou o nome de Deus. Depois pegou o facão...”

Alessandro chegou a tempo de impedir o linchamento. Levou o irmão de volta arrastado, enquanto Lucia gritava ordens e Elvira corria buscar água quente. Paolo berrava no berço, sem entender o caos.

Durante três dias, Giacomo ficou entre a febre e a sombra da morte. Delirava em italiano, murmurava o nome da mãe, contava os filhos que não teve. Alessandro não saiu do seu lado. Lucia rezava.

Na noite do quarto dia, quando os grilos voltaram a cantar, ele abriu os olhos.

— “Tanta terra, Sandro… e ainda assim… brigamos por um palmo.”
— “Talvez não seja a terra, Giacomo. Talvez ainda carreguemos dentro de nós as correntes de onde viemos.”

Foi então que ambos entenderam: a terra era fértil, sim. Mas também selvagem. E o sangue, uma semente que não podiam deixar brotar. 


Capítulo IV — O Arado e a Promessa

A cicatriz na testa de Giacomo não desapareceu. Tornou-se uma linha torta e roxa, cruzando a sobrancelha como um lembrete gravado a ferro: até mesmo a terra prometida exige sangue em troca de paz.

Nos dias seguintes à briga, Alessandro reuniu os vizinhos — italianos, alemães e alguns poucos luso-brasileiros — sob o velho galpão do coronel Gasparini, o administrador da colônia. Era preciso mais que madeira e barro para se construir um povoado. Era preciso estabelecer respeito, regras simples, e sobretudo, confiança.

— “Ninguém veio do outro lado do oceano pra começar outra guerra aqui,” disse Alessandro, de pé sobre um caixote, a voz rouca e carregada de sotaque. “Viemos pra construir algo que nossos filhos não precisarão fugir pra encontrar.”

Não houve aplausos. Apenas acenos de cabeça. Mas no dia seguinte, o colono Hans Jäger — o mesmo que ameaçara Giacomo — deixou na varanda dos Bellarossi uma cesta com pão preto e um saco de sementes de centeio.

Na lavoura, o barro começou a se transformar em sulcos. O arado emprestado dos colonos vizinhos gemia atrás dos bois, abrindo veias na terra escura. Giacomo, com a cabeça coberta por um chapéu velho de aba larga, era o primeiro a erguer-se com o sol e o último a largar a enxada. Como se tentasse redimir-se diante dos deuses da nova terra.

Lucia cuidava da roça de feijão e das galinhas, e ainda encontrava tempo para ensinar Elvira a ler, usando um velho catecismo que trouxera escondido entre as roupas da travessia. Matteo crescia rápido, com os ombros já duros como madeira. Paolo aprendia a andar sobre a terra batida da varanda, tropeçando nos degraus de tábua e rindo como se o mundo fosse apenas aquilo: sol, milho, e o cheiro da mãe.

No final do outono, antes que os ventos frios cortassem a serra como lâminas, veio a primeira colheita. Pequena, modesta. Mas deles. Os sacos de milho e batata-doce foram levados ao galpão comum, onde uma tábua improvisada de madeira servia de altar para os agradecimentos. O padre Celestino, recém-chegado de Caxias, celebrou uma missa ao ar livre, sob uma cruz cravada entre dois pinheiros bravos.

— “A terra é dura, meus filhos. Mas é virgem. E como todas as virgens, precisa de paciência, cuidado... e fé,” disse ele, enquanto o vento soprava entre as tábuas do telhado ainda inacabado.

Naquela noite, houve música. Um velho violino, duas gaitas e vozes roucas cantando canções do Vêneto. Os risos ecoaram pela mata. Pela primeira vez desde que cruzaram o oceano, os Bellarossi se permitiram dançar. Mesmo Giacomo. Sob as estrelas, com um copo de vinho ácido nas mãos e as calças sujas de terra, ele olhava para o céu como se pedisse perdão por ter duvidado.

Foi nesse momento que Alessandro pegou uma estaca, gravou nela o nome da família — "Bellarossi, 1888" — e a cravou junto à entrada do terreno.

Era mais que um marco de posse.

Era uma promessa.


Capítulo V — A Sombra na Serra

O inverno chegou silencioso, como um cão de caça espreitando ao longe. Nas encostas da Serra Gaúcha, o frio descia pelas árvores como uma névoa viva, cobrindo as plantações com um véu de orvalho gelado e apertando os ossos dos mais velhos como um torno invisível.

O milho secava antes do tempo. O feijão apodrecia na palha. E os bois, que antes eram músculos em movimento, agora mirravam as costelas sob a pele como esqueletos ambulantes.

Lucia acordava tossindo, enrolada num xale remendado com linha de tear. Paolo — que mal começara a andar — tinha febres noturnas. Alessandro cavava valas para escoar a água que se acumulava no terreno, mas era como tentar esvaziar o oceano com uma colher. E quando a comida começou a faltar nas mesas dos vizinhos, a sombra mais temida se insinuou pelas frestas das janelas: a dúvida.

— “E se a promessa for mentira?” cochichavam alguns nas reuniões noturnas.

— “E se o imperador nos abandonou como fizeram os senhores da Itália?”

E então, chegaram os rumores.

Diziam que em Porto Alegre o império tremia. Que os abolicionistas exigiam o fim do trabalho escravo, e que os fazendeiros, temendo perder a mão-de-obra, olhavam com desconfiança para os imigrantes livres que agora recebiam terras e apoio do governo.

A tensão subia como a fumaça dos fogões a lenha. Alessandro sentia no ar: algo estava por vir.

Na segunda semana de julho, Gasparini — o velho administrador da colônia — apareceu a cavalo, encharcado e com o rosto mais branco que as neves do Vêneto. Trazia más notícias: os auxílios seriam suspensos.

— “A ordem veio da Corte. Dizem que o erário está seco. Que é preciso cortar as despesas nas colônias.”

O silêncio que se seguiu à frase pesava mais que o frio que entrava pela porta escancarada do galpão.

— “Mas e os nove meses de ajuda prometidos?” perguntou um dos colonos alemães, franzindo a testa.

Gasparini não respondeu. Apenas puxou o capote e saiu. Os cascos do cavalo sumiram no barro como se a notícia quisesse se esconder.

Lucia apertou a mão de Alessandro. Ele não disse nada. Apenas olhou para os filhos, que brincavam com gravetos perto do fogo.

Foi naquela noite, depois que todos dormiram, que ele tomou uma decisão.

No silêncio da cozinha, sob a lamparina a óleo, puxou o velho caderno de anotações que trouxera da Itália — a única herança do pai. Ali, entre receitas de vinho e contas de colheitas, ele começou a rascunhar um plano. Não um plano para resistir. Mas para prosperar, mesmo sem o império, mesmo sem promessas.

Ele escreveria aos parentes que ainda estavam na Itália. Mandaria sementes, relatos, fotografias. Organizaria uma cooperativa rudimentar com os vizinhos, para que os que colhessem mais sustentassem os que colhessem menos.

— “A terra nos quer aqui,” murmurou ele para si mesmo, como se confessasse um segredo à noite.

No dia seguinte, reuniu dez homens no campo aberto atrás da capela. Era o começo de uma nova fase: sobrevivência pela união. Estavam sozinhos agora. Mas não impotentes.

Na entrada da casa, Giacomo afiava uma enxada. As faíscas saltavam como vagalumes no fim da tarde. Matteo, já com treze anos, construía uma armadilha para tatus com madeira de galhos. E Elvira, entremeando letras no chão com um graveto, começava a escrever o nome da mãe.

Lucia, olhando tudo da janela, apertou Paolo contra o peito e sussurrou:

— “A sombra pode até vir, mas nós... somos feitos de luz.”


Capítulo VI — Fumaça na Capela

O sino da capela soou três vezes — um toque lento, fúnebre, que não anunciava missa, mas luto.

A fumaça ainda dançava entre os pinheiros quando Alessandro chegou, o coração aos pulos e a enxada nos ombros. A capela de madeira, erguida com doações e esforço coletivo, estava parcialmente queimada. Não fora consumida por completo, mas o altar estava negro de fuligem, os bancos enegrecidos, e a imagem da Virgem havia caído, rosto rachado, olhos voltados ao chão.

Padre Giustino, pálido e ofegante, caminhava em círculos diante da porta semiaberta. Ao seu lado, Giacomo cerrava os punhos com tanta força que os nós dos dedos pareciam ossos de vidro.

— “Cheguei cedo para rezar a missa… e encontrei isso.”

Alessandro passou a mão pelo rosto. Havia um cheiro agridoce no ar — madeira queimada misturada ao óleo das velas e algo mais: ódio.

— “Foi fogo posto?” perguntou, sem rodeios.

Giacomo respondeu por entre os dentes:

— “Não foi o acaso que acendeu esse inferno.”

Naquela noite, a colônia inteira se reuniu sob o galpão dos Brandt — os primeiros alemães que chegaram ali antes mesmo dos italianos. Havia tensão nos olhos, medo nos murmúrios e uma pergunta que atravessava todos os silêncios: quem faria isso... e por quê?

Padre Giustino levantou-se.

— “Estamos sendo vigiados. Há gente que não nos quer aqui. Nem os nossos cultos, nem nossas escolas. Muito menos nosso progresso.”

Gasparini, o administrador, chegou tarde, com dois soldados brasileiros a cavalo e um olhar incomodado. Tentou acalmar os ânimos com promessas: o governo investigaria, a segurança seria reforçada, nada justificava atos de vandalismo. Mas ninguém acreditava de fato. O que era uma capela queimada diante da vastidão do império?

Alessandro, de pé junto à porta, disse em voz baixa, mas firme:

— “Se querem nos intimidar, erraram de povo. Viemos de uma terra que ardeu em guerras e fome. Sobrevivemos ao mar, à peste e à lama. Não será o fogo de covardes que nos fará recuar.”

As palavras dele foram como brasas caindo na palha seca do ânimo dos colonos. Matteo, que escutava com os olhos arregalados, apertou o punho do pai em silêncio.

Na manhã seguinte, começaram a reconstruir a capela.

Cada homem trouxe uma tábua, um prego, um martelo. Cada mulher, uma vela ou uma imagem salvada do fogo. Até as crianças ajudaram, catando pedras para a fundação. Padre Giustino sorriu pela primeira vez em dias.

Lucia, enquanto sovava o pão com farinha minguada, disse baixinho a Alessandro:

— “Eles tentaram apagar a fé, e acenderam a coragem.”

No entanto, nem todos reagiram com força.

Famílias começaram a falar em desistir. Uma carroça carregada deixou a colônia ao entardecer. Eram os Cortese, que não resistiram à sequência de perdas: um filho com febre tifoide, uma colheita perdida, e agora… medo.

Mas quando a carroça passou pelo campo de Alessandro, ele ergueu Paolo no colo e acenou. Não em despedida, mas em advertência.

— “Se partirmos cada vez que o mundo treme, nunca teremos chão firme.”

Na noite em que a nova cruz foi erguida sobre o telhado da capela, os sinos tocaram outra vez. Não de luto. Mas de resiliência.

Sob o céu estrelado do sul, enquanto os colonos cantavam em vozes cruzadas — italiano, alemão, português —, uma certeza crescia em Alessandro: a colônia não era mais um abrigo, era uma pátria feita de barro, fé e feridas.

E toda pátria, cedo ou tarde, exige seus heróis.


Capítulo VII — As Vozes do Silêncio

O verão vinha quente demais, seco demais, e os ventos do Sul que antes traziam alívio agora sopravam apenas poeira. A terra endurecia. As plantações de milho encolhiam sob o sol impiedoso. E com a estiagem, vinha outro mal: o silêncio.

Não o silêncio da paz, mas o que precede a explosão.

Desde o incêndio da capela, as noites na Colônia Dona Isabel tornaram-se longas demais. Os homens recolhiam-se cedo, com espingardas encostadas à cabeceira. As mulheres cochichavam atrás das cortinas. Até as crianças pareciam caminhar com mais cuidado — como se seus pés pudessem acordar um monstro adormecido.

Giacomo passava mais tempo nos campos do que em casa. Trabalhava com fúria. Batia enxadas no solo como se pudesse vingar-se dele. Não falava do incêndio. Nem da ausência crescente de Gasparini, o administrador. Apenas cerrava os dentes.

Alessandro observava tudo com inquietação. Cada gesto calado era um alerta. Um povo que deixa de falar está à beira do colapso — ou da revolta.

Foi Matteo quem primeiro percebeu a diferença. Voltava da casa de um colono alemão, Hans Müller, quando ouviu vozes abafadas vindas do paiol. Era noite. Lá dentro, sombras agitavam-se sob a luz fraca de uma lamparina. Reconheceu uma: o próprio Giacomo.

— “Eles vêm por nós”, dizia uma voz. “Querem nossa terra. Primeiro queimam a capela, depois intimidam os pequenos. Aos poucos, vão nos forçando a recuar.”

— “Precisamos agir antes que seja tarde.”

Matteo prendeu a respiração. Um plano estava sendo armado. E seu pai, Alessandro, nada sabia.

Na manhã seguinte, Matteo contou tudo. O rosto de Alessandro ficou duro.

— “Se partirmos para o confronto sem provas, viramos bandidos. Se calarmos, viramos cúmplices da nossa própria destruição.”

Lucia, que escutava em silêncio, disse apenas:

— “Talvez devêssemos falar com quem ainda escuta.”

No dia seguinte, Alessandro selou um cavalo e partiu para Nova Palmira, uma vila distante três léguas, onde havia um posto imperial e um delegado. Levava consigo uma cópia da carta de doação das terras, o relatório do padre Giustino sobre o incêndio, e o diário do senhor Cortese, deixado para trás — onde se lia uma frase marcante: “Fomos atacados pelo medo, não pelo inimigo.”

Foram dois dias de viagem. Na vila, encontrou o delegado Abílio Rocha: um homem negro, de bigodes finos e olhar calculista. Escutou tudo, mas manteve-se impassível.

— “O senhor sabe que o império tem os olhos voltados para o Norte. Aqui, somos retaguarda, senhor Bellarossi. Terra de silêncio. E de esquecidos.”

— “Então que este silêncio exploda,” respondeu Alessandro. “Porque nós não seremos esquecidos. Nem calados.”

Rocha ergueu os olhos e pela primeira vez sorriu.

— “O senhor é teimoso. Vai dar trabalho... Mas gosto de gente que não abaixa a cabeça.”

Voltou com ele um sargento e dois auxiliares. Mas o que Alessandro não esperava era a recepção tensa ao chegar.

Na sua ausência, Giacomo e outros homens haviam confrontado um grupo de guardas de terras — brasileiros contratados por um fazendeiro das redondezas, que alegava sobreposição de fronteiras com a colônia. Houve empurrões, tiros no ar, e um ferido: o jovem Pietro Moretti, baleado na perna.

A chegada do delegado evitou algo pior. Reuniu os líderes das famílias, os alemães e italianos juntos, e disse com clareza:

— “Se há disputa de terra, há lei. Se há crime, há justiça. Mas se houver guerra... só haverá mortos.”

Naquela noite, a colônia dormiu como quem sobreviveu a um terremoto.

Lucia acendeu uma vela na nova capela e chorou em silêncio. Paolo, já engatinhando, brincava com um graveto no chão de terra batida. Matteo olhava o céu e buscava entre as estrelas uma que lhe dissesse que tudo ficaria bem.

E Alessandro, pela primeira vez desde que chegou à América do Sul, sentiu-se pequeno.

Mas também entendeu que a liberdade — como a terra — só se conquista com raízes fundas e espinhos no caminho.


Capítulo VIII — As Cinzas e o Aço

O amanhecer seguinte não trouxe alívio, apenas a constatação de que tudo mudara. A bala na perna de Pietro Moretti tornara-se símbolo de algo maior: a inocência da colônia tinha sangrado. E não havia como voltar atrás.

Giacomo caminhava de um lado a outro na varanda de sua casa, os olhos vermelhos de vigília e raiva. A mãe de Pietro, dona Celina, gritara com ele na noite anterior.

— “Você levou meu filho pra guerra! Não é por terra que se mata!”

Ele não respondeu. Apenas fechou os punhos e virou o rosto. A dor, quando vinha, ele engolia em silêncio.

Enquanto isso, Alessandro passava de casa em casa, tentando acalmar os ânimos, falando com os chefes de família. Trazia palavras de conciliação, mas também alertas. A chegada do delegado Rocha fora um passo, não uma vitória.

— “Não temos inimigos entre nós”, dizia. “Mas há quem queira que tenhamos. E isso... é mais perigoso do que o fogo ou o aço.”

Na igreja reconstruída às pressas, o padre Giustino reuniu os colonos para uma missa de reconciliação. Havia mais ausências do que presenças. Entre os que vieram, alguns cruzavam os braços; outros não rezavam. Era uma comunidade fraturada, como barro rachado ao sol.

Na homilia, o padre falou de Jó. De perdas, de provas, de fé no meio da desolação.

— “Mas até Jó”, disse ele com a voz trêmula, “teve amigos que se sentaram ao seu lado no chão. E às vezes, mais importante que entender a dor... é não deixá-la sozinha.”

No fim da missa, Matteo observou Elvira acendendo uma vela por Pietro. Era pequena, mas firme. Havia algo novo em seus olhos. Não era medo — era fúria contida. Uma menina de dez anos que já aprendera que até a infância pode arder nas chamas do mundo dos homens.

Na tarde seguinte, Alessandro foi chamado à casa de Hans Müller. Lá, encontrou um mapa — antigo, desbotado, mas oficial. Mostrava as delimitações das terras imperiais na região do Alto Taquari.

— “Olhe aqui”, disse Hans, apontando com o dedo grosso e calejado. “As terras do fazendeiro Fontoura param antes do nosso rio. A colônia está segura. O que ele quer... é poder. Não hectares.”

Alessandro assentiu. Aquilo não era apenas sobre posses — era sobre controle. Fontoura queria que os italianos soubessem que estavam sob sua sombra. Um jogo de intimidação sutil, pontuado por violência dos jagunços e por rumores espalhados entre os nativos. Uma tática antiga.

Mas os colonos, sem saber disso, começavam a se armar.

— “Precisamos agir antes que haja outro Pietro. Ou algo pior.”

Na semana seguinte, Alessandro partiu outra vez, agora para Caxias. Lá, havia uma sede da Intendência Provincial. Levaria o mapa. E sua palavra.

Levou também Matteo. O menino insistira. Queria aprender. Queria proteger. Não era mais criança — era filho de colono, e isso mudava tudo.

A estrada era poeirenta, cruzando campos abertos e matas cerradas. Dormiram em cocheiras, comeram o que levavam nos bolsos: pão de milho, queijo duro, água morna. Em cada parada, Alessandro perguntava sobre Fontoura — e ouvia histórias. Terras cercadas à força. Grupos expulsos. Documentos desaparecidos.

Caxias surgiu ao longe como uma promessa — e um risco. Na sede do governo local, foram recebidos com frieza. O Intendente, um homem chamado Amaral, vestia linho branco e falava com palavras medidas.

— “Senhor Bellarossi, sabemos da importância dessas colônias. Mas sabemos também das dificuldades que surgem quando povos se instalam sem compreender os limites da ordem.”

— “E o senhor chama de ordem o incêndio, a ameaça, a bala que perfura a perna de um menino?”

O Intendente não respondeu de imediato. Passou os olhos pelo mapa.

— “Essas terras foram traçadas por engenheiros imperiais. Se há conflito... será analisado. Mas tenha paciência. O Brasil é vasto. E lento.”

Ao saírem, Matteo perguntou:

— “Pai... ele nos ouviu?”

— “Ouviu. Mas não nos escutou.”

Na volta à colônia, o clima era outro. Pietro começava a andar com ajuda de uma bengala feita por Elvira. Os homens, por ordem de Giacomo, cavavam trincheiras discretas atrás das casas, como se se preparassem para uma guerra que ninguém queria, mas todos temiam.

E numa manhã em que o vento voltava a soprar do Sul — trazendo o cheiro fresco de pinho e umidade — chegou um mensageiro.

Trazia uma carta. Vinha de Porto Alegre. Era um comunicado oficial.

E nele, dizia-se que o Ministério da Agricultura, sob pressão de diversos representantes, enviaria um agrimensor ao local em trinta dias para reavaliar as fronteiras da Colônia Dona Isabel.

Lucia segurou o papel nas mãos e chorou. Pela primeira vez, não era medo. Era alívio.

Trinta dias. Um mês para resistir.

O jogo mudava. Mas ainda era de risco.


Capítulo X — A Medida de Todas as Coisas

O barulho dos cascos chegou antes da poeira.

João Vicente Lisboa apareceu na entrada da colônia numa manhã fria, envolto num sobretudo de lã escura, seguido por dois soldados e um ajudante mulato que carregava pranchetas e um nível topográfico.

Ele não sorriu.

Seu olhar percorreu a clareira como se estivesse mapeando almas, não hectares. Os colonos, em silêncio, deixaram os machados descansarem. Os rostos estavam sujos, as roupas remendadas, mas os olhos... os olhos ardiam com dignidade.

Alessandro foi ao encontro dele, acompanhado por Hans Müller e Giacomo. Ao vê-los, João Lisboa desmontou lentamente. Estendeu a mão — mas só depois de examinar.

— “Sou João Vicente Lisboa. Oficial agrimensor, designado pelo Império. Trago as demarcações. Mas antes... quero ouvir a verdade.”

Era o início.

Instalado numa das poucas casas de alvenaria improvisada, Lisboa começou o trabalho como se estivesse interrogando um tribunal invisível. Recolheu testemunhos. Analisou documentos. Visitou lotes. Escutou o padre. Visitou a cruz da criança morta com sarampo — e não disse uma palavra, mas permaneceu ajoelhado mais tempo que o esperado.

Durante três dias, anotou. Mediu. Comparou mapas.

Na noite do quarto dia, alguém tentou incendiar o galpão onde dormia. O fogo foi contido a tempo — mas um dos soldados ficou com o rosto queimado. Lisboa não demonstrou medo. Apenas ordenou que montassem guarda armada nas trilhas.

No quinto dia, convocou uma assembleia.

Foi ao pé da grande figueira, onde os colonos realizavam suas missas ao ar livre. Mais de cem pessoas estavam reunidas — crianças no ombro dos pais, velhos sentados em troncos, mulheres com olhos fixos como pedra.

João Lisboa subiu num caixote e falou como um juiz, mas com a voz de um homem cansado:

— “Esta terra foi prometida por decreto imperial. E foi conquistada por enxadas, suor e luto. A marca da legalidade... está aqui.”

Ergueu o mapa selado com o brasão do império.

— “A partir deste dia, a Colônia Dona Isabel está reconhecida como núcleo agrícola de povoamento livre. Os lotes serão titulados em nome das famílias pioneiras. Quem tentar expulsá-los será julgado segundo a lei dos homens — e, se for o caso, também pela de Deus.”

Um murmúrio percorreu a multidão. Alguns choraram. Outros apenas fecharam os olhos.

Giacomo, que até ali permanecera imóvel, murmurou:
— “Vencemos sem matar ninguém.”

Mas Hans respondeu, com amargura:

— “Sim. Só enterramos os nossos.”

Na noite seguinte, alguém deixou uma carta anônima cravada na porta da casa de Alessandro. Uma frase apenas:

"A terra pode ter dono, mas o medo não tem cerca."

Não foi o fim do conflito — mas foi o fim da dúvida.

Fontoura fugiria para o Uruguai semanas depois, abandonando os capangas e a posse falsa. E quanto ao traidor dentro da colônia — Lisboa soube quem era. Mandou-o embora, discretamente, sob escolta. Nenhum nome foi dito. A paz custava mais caro que a verdade completa.

Nos dias seguintes, o som das enxadas voltou. Com mais força. Como se cada batida na terra fosse uma afirmação:

Estamos vivos. Estamos aqui. Esta terra é nossa porque a fizemos nossa.

Elvira plantou flores ao lado da cruz do pequeno Paolo. Matteo escreveu seu nome no batente da casa. Lucia voltou a cantar ao moer milho. E Pietro... Pietro passou a copiar cada página do seu caderno em outra letra, mais firme — para que, um dia, outros pudessem ler.

João Lisboa partiu com o sol nas costas. Ao despedir-se, entregou a Alessandro um pequeno envelope selado.

— “É o registro da posse legal. Assinado. Carimbado. Guardem bem — mas não para si. Guardem... para os netos.”

E montou no cavalo, desaparecendo entre as araucárias.

A colônia dormiu em paz naquela noite pela primeira vez em anos. Mas ninguém percebeu que, ao longe, o céu estrelado parecia mais limpo — como se até Deus respirasse aliviado.


Capítulo XI — Epílogo: Sob as Árvores do Tempo

O velho Pietro sentou-se devagar sob a sombra do pinheiro mais antigo da propriedade.

O tronco era grosso como três homens juntos. Os galhos erguiam-se como braços de gigantes, e o som do vento entre as agulhas fazia um murmúrio que lembrava vozes esquecidas. Ao seu lado, sua neta Clara, de apenas oito anos, segurava um caderno de capa vermelha.

— “Nonno, conta de novo a história da cruz de madeira...”

Ele sorriu. Os olhos, turvos pela idade, ainda brilhavam com aquele fogo que nem o tempo apagara. Tocou de leve o pingente que pendia do pescoço — uma pequena cruz de ferro oxidado que ele mesmo moldara com pregos antigos do galpão queimado.

— “Essa história não é minha, minha flor. É nossa. É da terra. É do sangue que regou o barro antes de ser solo fértil.”

E começou.

Contou sobre a viagem em porões apertados, sobre o suor colado nas tábuas do Vapor Roma. Falou do pai, Alessandro, que escrevia cartas como quem plantava sementes no coração dos que ficaram para trás. E da mãe, Lucia, que sorria mesmo depois de enterrar um filho no mar.

Descreveu o rosto de Giacomo, sempre sujo de lama e de coragem. E de Hans, que nunca abandonou ninguém, mesmo quando teve chance. Mencionou o Padre Giustino e sua fé que resistia às febres, às perdas, às pragas.

E falou de João Lisboa — o homem de farda que não usava espada, mas palavras.

Clara ouvia como quem recebia um tesouro invisível.

— “E depois, Nonno? O que aconteceu com a colônia?”

Pietro suspirou.

— “Ela cresceu. Virou cidade. Vieram escolas, igrejas, mercado. As casas de madeira deram lugar a paredes de pedra. Mas a raiz... essa nunca mudou.”

Apontou para o chão.

— “Está aí embaixo. Nas fundações. Nos ossos dos que ficaram. Nos nomes que demos às ruas. Nos que nunca foram embora — mesmo mortos.”

Clara anotava com cuidado. Escrevia com a mesma letra firme que o avô ensinara. Quando terminou, o sol já se escondia atrás das colinas. As sombras alongavam-se como velhos amigos voltando para casa.

Pietro se levantou com esforço. Olhou para o horizonte.

— “Promete que um dia você vai contar isso a alguém, Clara?”

Ela assentiu com os olhos grandes e sérios.

— “Prometo, Nonno.”

— “Então está feito.”

Naquela noite, Pietro adormeceu no quarto onde nascera. Ao lado da cama, repousava o caderno vermelho. Na última página, em caligrafia ainda infantil, lia-se:

“Esta terra foi conquistada com coragem, fé e lágrimas. E por isso, ela é nossa. Não porque a tomamos. Mas porque a amamos.”

Nota Histórica do Autor
Sobre "Liberdade de Cismon – Um romance de esperança, terra e destino"

Este romance de Piazzetta nasceu da memória coletiva de uma saga silenciosa, cujos protagonistas raramente aparecem nos livros de História. "Liberdade de Cismon" é uma homenagem aos milhares de imigrantes italianos que, entre o final do século XIX e início do século XX, deixaram para trás vilarejos empedrados, campos magros e promessas não cumpridas da recém-unificada Itália, em busca de um recomeço no sul do Brasil.

Alessandro Bellarossi é uma figura ficcional, mas sua jornada ecoa a realidade de incontáveis famílias oriundas do Vêneto, Trentino, Friuli e outras regiões italianas. A narrativa é ancorada em fatos históricos: a precariedade das viagens transatlânticas a bordo de vapores superlotados, os primeiros anos de colonização nas serras do Rio Grande do Sul, e o esforço hercúleo de transformar mata virgem em lavouras, barracos em lares, sobrevivência em futuro.

A Colônia Dona Isabel — atual Bento Gonçalves — foi uma das mais importantes experiências de colonização italiana no Brasil, marcada tanto por dureza quanto por esperança. Os registros utilizados para a construção deste romance foram coletados a partir de cartas reais de imigrantes, relatos orais de descendentes, atas administrativas imperiais e memórias comunitárias preservadas em arquivos municipais e centros culturais da Serra Gaúcha.

"Liberdade de Cismon" não pretende ser apenas um relato histórico, mas sim uma ponte entre passado e presente — entre a saudade dos que partiram e a força dos que ficaram. Ao dar voz a personagens que nunca existiram oficialmente, mas que viveram em cada gesto de quem lavrou, chorou e sonhou sob o céu sul-brasileiro, este romance deseja lembrar ao leitor que a liberdade, tantas vezes negada na terra natal, encontrou raízes em solo estrangeiro — e que delas nasceram não apenas colônias, mas também identidades, culturas e legados que perduram.

— O Autor

terça-feira, 10 de setembro de 2024

Os Últimos Dias de San Martino




Era o ano de 1880, e as colinas da pequena vila de San Martino, no coração do Vêneto, estavam mais secas do que nunca. O cheiro acre da terra ressequida invadia o ar, e o silêncio reinava sobre os campos que, outrora, eram verdes e férteis. Os camponeses, antes orgulhosos de suas colheitas, agora observavam, impotentes, as terras que não mais lhes pertenciam, e o céu, que parecia cada vez mais distante de seus pedidos por chuva.
Luigi Bortolatti, um homem de olhos cansados e costas curvadas pelo peso da vida no campo, levantou-se cedo naquela manhã, como fazia todos os dias. O frio do outono penetrava suas roupas gastas, e ele sabia que, em breve, o inverno implacável chegaria para trazer ainda mais dificuldades. Ao lado de sua esposa, Teresa, e de seus dois filhos pequenos, Luigi observava as sombras da fome se aproximarem como lobos famintos, rondando sua casa, onde o pão era cada vez mais raro e os olhares mais desesperados.
O Vêneto, uma região outrora próspera sob o domínio da Sereníssima República de Veneza, tinha sido transformado pela violência das guerras, pela tirania dos novos senhores e pela ganância dos reis. Com a anexação ao recém-formado Reino da Itália, sob a Casa de Savoia, as promessas de prosperidade se dissiparam como a névoa das manhãs de inverno. "Com a Sereníssima, almoçávamos e jantávamos," murmurava Luigi, repetindo o dito popular que circulava entre os camponeses, "com Cesco Bepi, só almoçávamos, e com os Savoia, nem almoçamos nem jantamos."
San Martino, como tantas outras vilas do Vêneto, fora devastada pela fome, pelos impostos extorsivos e pela ausência de perspectivas. Os grandes proprietários de terra, outrora poderosos, agora vendiam suas propriedades aos poucos que ainda conseguiam pagar. O resto, como Luigi, vivia em terras alheias, trabalhando como diaristas ou, os mais afortunados, como meeiros, dividindo o pouco que colhiam com seus patrões. Nos últimos anos, até isso se tornara escasso, e a dignidade que antes carregavam se perdia com cada safra falida.
Naquela manhã, Luigi e Teresa reuniram os filhos ao redor da mesa, onde apenas um pedaço de pão duro servia de refeição. "Não podemos continuar assim," disse Teresa, seus olhos refletindo a angústia de uma mulher que via sua família definhar dia após dia. "Precisamos tomar uma decisão, Luigi. As crianças... elas não podem crescer assim."
Luigi sabia que sua esposa estava certa. As conversas na vila eram sempre as mesmas: todos falavam da América, das oportunidades além-mar, das promessas de terra e de trabalho. Padres no Vêneto incentivavam abertamente a partida durante os sermões, como se emigrar fosse uma missão sagrada. "A terra prometida," diziam. Mas para Luigi, deixar sua terra natal era como arrancar as próprias raízes. O Vêneto corria em suas veias, assim como corria em seus antepassados. Ir embora significava abandonar tudo o que conhecia, tudo o que era.
"Ouvi dizer que muitos padres da região estão organizando grupos para a América," disse Teresa, sua voz hesitante. "Até o padre Giovanni está indo. Ele levará metade da vila com ele."
O padre Giovanni, um homem respeitado e amado por todos, tinha visto sua própria igreja esvaziar-se nos últimos meses. As famílias que restavam na vila eram poucas, e mesmo essas pareciam fadadas a seguir o mesmo caminho. O clero, que outrora fora uma força conservadora, agora liderava o êxodo. Luigi sabia que isso não era um bom sinal.
Naquela tarde, Luigi caminhou até a praça da vila, onde encontrou outros homens na mesma situação. Seus rostos estavam marcados pela desesperança, mas também pela determinação. "Não podemos mais viver assim," disse Carlo, um dos vizinhos de Luigi. "Eu vou. América, Brasil, Argentina... Não importa. Qualquer lugar é melhor do que aqui."
Luigi observou o homem, sentindo o peso daquelas palavras. A emigração, que antes parecia uma saída extrema, agora se apresentava como a única solução. "E o que faremos com a terra?" perguntou ele, mais para si mesmo do que para os outros. "Esta terra que foi nossa por gerações?"
"Que terra, Luigi?" respondeu Carlo, amargo. "Esta terra já não nos pertence. Trabalhamos para outros. Somos escravos de um sistema que nunca nos favoreceu."
Naquela noite, Luigi voltou para casa com o coração pesado. Sentou-se à mesa, onde Teresa já o esperava, e falou com a voz baixa, como se admitisse uma derrota. "Teresa... talvez tenhamos que ir. Não há mais nada para nós aqui."
Os dias que se seguiram foram marcados por preparativos silenciosos. Luigi e Teresa reuniram o pouco que possuíam: algumas roupas, ferramentas de trabalho, e o pouco dinheiro que haviam conseguido economizar. O padre Giovanni, fiel ao seu rebanho, ajudava as famílias com os trâmites necessários, enquanto suas palavras de encorajamento ecoavam pelos campos vazios.
"Deus os guiará," dizia ele, em seus sermões dominicais. "Há uma terra onde o trabalho é recompensado, onde poderão criar seus filhos em paz, longe da fome e da miséria. Sigam com fé."
Em um dia frio de novembro, a pequena família Bortolatti, junto com outras dezenas de famílias de San Martino, subiu em carroças que os levariam até a estação de trem mais próxima e dali ao porto de Gênova. A viagem foi longa e árdua, atravessando vilas desertas, onde as casas estavam abandonadas e os campos, intocados. Era uma visão de desolação que deixava Luigi com um nó no estômago.
"Olhe," disse Teresa, apontando para uma igreja à beira da estrada. "Até os párocos se foram."
No porto de Gênova, uma multidão aguardava desordenada pelas ruas próximas ao cais. Homens, mulheres e crianças se amontoavam com suas bagagens, e os navios para a América eram poucos e sempre lotados. Luigi olhou para o vasto mar à sua frente, uma extensão que ele nunca havia visto antes. Era assustador pensar que, do outro lado daquele oceano, havia um destino incerto.
A bordo do navio, o cheiro de suor, fome e desespero misturava-se com o ar salgado do mar. As condições eram terríveis. As famílias se amontoavam em compartimentos apertados, com pouca ventilação e ainda menos comida. As crianças choravam, e os rostos dos adultos expressavam o medo de uma viagem que muitos já sabiam que poderia ser fatal. "Eles não nos querem vivos," murmurava uma mulher ao lado de Teresa, referindo-se à tripulação do navio que tratava os passageiros com indiferença.
Durante os longos dias no mar, Luigi tentava se agarrar à esperança de que, do outro lado do oceano, haveria algo melhor. Algo que justificasse o sacrifício de deixar para trás a terra de seus antepassados.
Finalmente, após semanas de travessia, o navio chegou ao Brasil. O calor tropical e o cheiro da terra eram um choque para aqueles que haviam vivido nas colinas frias e secas do Vêneto. Luigi e sua família desembarcaram com outras centenas de imigrantes, todos cansados e abatidos, mas com uma centelha de esperança nos olhos. O que os esperava ali, naquela terra distante, ainda era um mistério.
San Martino, agora, era apenas uma lembrança distante, uma sombra no horizonte da memória.


quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

A Itália e a Investigação Agrária

Inchiesta agraria del Veneto (Investigação Agrária do Vêneto) 1882



Em 1887 a Itália ainda era um pequeno país, atrasado, pobre e com muitos problemas sociais de difícil solução. Somente em 1860 foi criado o Reino da Itália e Roma tinha passado a ser a sua capital em 1870. Até então a Itália era formada de pequenos reinos e ducados de convivência entre eles bastante complexa, nem sempre pacífica. A unificação desse ainda jovem reino se fez as custas de muitas lutas, de encontros e desencontros e do sacrifício do seu heterogêneo povo, especialmente aqueles mais pobres. As autoridades do governo estavam tendo muitas dificuldades para equilibrar a ainda débil economia italiana. Para tentar sanar esse imenso problema, passaram a vender inúmeras propriedades do estado, bens da Igreja, e concessões de estradas de ferro. Foram criados vários novos impostos, como aquele odiado pelo povo, que incidia sobre a moagem de grãos, o qual devia ser recolhido diretamente nos moinhos e o imposto sobre o sal. Esses impostos,  que a princípio sujeitavam toda a população, gravavam de maneira mais pesada os mais pobres, entre eles os pequenos agricultores e os artesãos, que pagaram com seu sangue e suor o peso da criação do novo reino. 




Na jovem Itália tudo estava por ser feito pelo Estado, com funcionários ainda sem prática e com pouca experiência administrativa. Faltavam escolas, estradas, pontes, hospitais, enfim toda a infraestrutura necessária para o funcionamento do país, além de precisar tentar  a harmonização e unificação das inúmeras línguas faladas no reino, as várias formas de aplicar a justiça, as várias moedas que circulavam, os vários procedimentos aduaneiros usados em todo o reino e unificar as diversas forças militares ainda existentes. 




Na Itália de 1887 várias doenças epidêmicas matavam a população como a malária que assolava em grandes áreas do reino e a pelagra, uma doença carencial causada pela subalimentação, pela falta crônica de algumas vitaminas e elementos necessários à vida. Pelas cifras oficiais dadas a conhecer pelas autoridades pode-se ver que os números são de um verdadeiro massacre da população, sendo que as mais atingidas eram as crianças de até 5 anos de idade. Nesse período a Itália tinha uma alta mortalidade infantil, vítimas da   grande escassez de alimentação, da higiene precária e da falta de recursos financeiros para serem examinados por médicos. 

Quando a Itália foi unificada existiam pouquíssimas fábricas, o trabalho era feito em casa, segundo um velho hábito de manufatura artesanal, ainda hoje presente em várias regiões da Itália e também nos países que receberam a emigração italiana, como o Brasil meridional. 

Em 1887 a Itália era um país cuja economia se baseava quase exclusivamente na agricultura. Segundo alguns dados, de uma população de 30 milhões  de habitantes, 21 milhões era formado por pequenos agricultores. Praticavam ainda uma forma de cultivo ainda muito atrasada em relação a outros países da própria Europa. Usavam superados equipamentos agrícolas, herdados dos avós, não tratavam a agricultura como uma prática capaz de gerar economia e progresso. A grande maioria dos pequenos agricultores nascia, vivia e morria na mesma propriedade rural, à sombra da mesma torre de igreja, como os seus antepassados, imersos em hábitos e tabus ancestrais. Na maioria das propriedades rurais, ainda se praticava uma agricultura de subsistência, cultivada essencialmente para saciar as suas necessidades básicas imediatas e não para a comercialização do excedente. Em alguns pontos planície vêneta   se iniciava alguns exemplos de um capitalismo agrário mais desenvolvido, com o aparecimento de algumas propriedades rurais em que se praticava o múltiplo cultivo agrícola associado a formação de pastos para a criação de animais para o abate e produção de queijos.  Somente na região do Piemonte a agricultura conheceu níveis de qualidade aproximados ao de outros países europeus. 



Nessa época a economia da Itália se arrastava, perdendo a concorrência para os produtos importados como o trigo, o milho, o vinho que chegavam de outros países, principalmente Estados Unidos e França, a preço muito mais baixo do que aquele produzido no país. A consequência mais visível disso era o desemprego em massa no campo, a diminuição do salário pago aos diaristas e pequenos artesãos, que agora começavam a se amontoar  frente as igrejas, nas praças das pequenas vilas, esperando por um trabalho. O desestímulo desses homens magros e de rostos encavados era muito grande especialmente para aqueles que não estavam conseguindo levar alimentos suficientes para casa. A fome já rondava um grande número de lares.  

A Itália se apresentava ao mundo como um país pobre e analfabeto, sem recursos naturais, como ferro e carvão, para suprir a incipiente industrialização. Um país onde a renda média do trabalhador era apenas um quarto daquela inglesa e um terço da francesa. 

Uma aprofundada investigação agrária, ordenada pelo parlamento italiano, dirigida pelo conde Stefano Jacini, expoente deputado da democracia cristã, que durou entre os anos de 1861 e 1886, apresentou suas conclusões em 15 volumes. Nas suas páginas podemos ter uma verdadeira radiografia das reais condições da agricultura italiana nas diversas regiões aqueles primeiros anos do novo Reino. Nele podemos ver que a vida na Itália era bem difícil, com pouco trabalho, e quando esse havia era mal pago, o povo sem dinheiro para as suas necessidades básicas, como para levar um doente ao médico ou comprar os remédios receitados. Lá se pode ver que em muitos lugares, tanto do sul como do norte da península, as crianças eram colocadas a venda em praça pública, comercializadas come se fossem uma mercadoria qualquer. A descrição das condições de vida do povo italiano, onde milhares de pobres ainda viviam em cavernas escavadas na rocha e em e pequenos e úmidos casebres. 

Resumo 

O Inquérito sobre as condições da classe agrícola na Itália, decretado pela lei de 15 de março de 1877, representa a documentação mais completa sobre o estado da economia agrícola da Itália pós-unificação. Os atos da investigação, publicados de 1881 a 1890, foram resumidos no relatório final do presidente da junta, senador Stefano Jacini, que denunciou o desinteresse dos diversos governos que haviam conduzido o país para a agricultura, que também fornecia ao Estado a maior parte da renda nacional, sem receber em troca nem capital, nem estímulos ou incentivos para seu desenvolvimento. A investigação, que teve por objeto as características da propriedade fundiária, as colheitas e métodos de cultivo, as condições de vida dos camponeses, revelou que vinte anos após a unificação, permaneceram diferentes realidades ambientais e produtivas, vinculadas aos costumes, usos e culturas diferentes: áreas limitadas de cultivo intensivo, caracterizadas pelo uso de fertilizantes e maquinário agrícola e pela disponibilidade de capital e espírito empreendedor, contrastadas grandes áreas não cultivadas ou pouco produtivas, devido aos métodos arcaicos de cultivo adotados, e infinitas gradações entre os dois extremos. Além disso, o país tinha apenas uma área cultivável limitada, que também estava sujeita à seca e à malária. Era necessário, portanto, aumentar a área de produção por meio de reflorestamento e recuperação de terras, usar meios de cultivo mais modernos, maiores fertilizantes químicos e irrigação, implementar uma rotação de culturas mais eficaz, aumentar árvores e vegetais. Jacini era um conservador, de fé liberal, mas diante da crise agrária dos anos 1980, causada pela competição do trigo americano, argumentou a necessidade de defender a produção nacional com um leve protecionismo aduaneiro e pediu ao governo que reduzisse a carga tributária e uma compromisso financeiro substancial para o setor agrícola. 














quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Passageiros Italianos Navio Matteo Bruzzo - Santos 21.08.1891



Lista Incompleta 

ARANCHISE TOMMASO 44 MARIDO 
LUISA 43 ESPOSA 
MARIA 03 FILHA 
ELISA 06 FILHA 
ITALIA 06 FILHA 
GIOVANNI 03 FILHO 
SANTE 10 FILHO 
LUIGI 11 FILHO 
PIETRO 17 FILHO 

BATTAGLIN GIOVANNI 46 MARIDO 
LUIGIA 37 ESPOSA 
AMELIA 04 FILHA 
GIUSEPPE 01 FILHO 
FEDERICO 07 FILHO 
RICCARDO 06 FILHO 
FERDINANDO 12 FILHO 
AMABILE 13 FILHO 

ROSSI MARIA TERESA 32 MÃE 
ROSA 03 FILHA 
GIUSEPPINA 01 FILHA 

BORIN GIACINTO 44 MARIDO 
ANTONIA 33 ESPOSA 
GIOVANNI 08 FILHO 
RIZZIERI 02 FILHO 

BUFFIN LUIGI 37 MARIDO
ANNA 37 ESPOSA 
MARIA 13 FILHA 
 
NICOLETTI GIOVANNI 38 MARIDO
PALMIRA 27 ESPOSA 
LANDINA 01 FILHA 
 
CIORAMELLARO GAETANO 34 MARIDO 
GIOVANNIa 25 ESPOSA 
NINA 06 FILHA 
ANGELO 01 FILHO 
NINO 02 FILHO 

MURATORE SANTE 29 MARIDO
GIUSEPPA 24 ESPOSA 
ANNA 01 FILHA 
GIOACCHINO 05 FILHO 
PLACIDO 03 FILHO 
 
RAVAGNANI LUIGI 43 MARIDO 
LUIGIA 39 ESPOSA 
GIUSTINA 07 FILHA 
GIUSEPPE 10 FILHO 
ANTONIO 17 FILHO 

BECCARI LORENSO 38 MARIDO 
MARGHERITA 35 ESPOSA 
LIBERA 07 FILHA 
GIOVANNI 09 FILHO 
MODESTO 02 FILHO 

MALAFON AGOSTINO 33 MARIDO 
MARIA 30 ESPOSA 
ANGELA 07 FILHA 
GIUDITHA 04 FILHA 
ADELAIDE 08 FILHA 
GIUSEPPE 02 FILHO 
MARIA 70 MÃE 

SCURO BORTOLO 28 MARIDO 
TERESA 27 ESPOSA 
PIETRO 02 FILHO 

MION GIUSEPPE 29 MARIDO 
ANNA 23 ESPOSA 
ALBINA 01 FILHA 
ALESSANDRO 03 FILHO 
MARIA 59 MÃE 

ZORZAN ISIDORO 49 MARIDO 
CATERINA 42 ESPOSA 
ELVIRA 02 FILHA 
GIUSEPPE 17 FILHA 
M
ARIA TERESA 22 FILHA 
GIUSEPPE 15 FILHO 
ANTONIO 13 FILHO 

VILLANI GIOVANNI 33 MARIDO 
CARTELINDA 26 ESPOSA 
GIUSEPPE 03 FILHO 

FINATI VITTORIO 30 MARIDO 
NAZZARENA 25 ESPOSA 
MARIA 03 FILHA 
LUIGIA 01 FILHA 

MILLEGARO ANGELO 35 MARIDO 
MARIA 32 ESPOSA 
AUGUSTA 07 FILHA 
EMILIA 02 FILHA 

FRANCESCHINI CATERINA 35 MÃE 
NARCISA 12 FILHA 
ROSA 07 FILHA 
ANGELO 09 FILHO 

ZANESI EUSEBIO 22 MARIDO 
LETIZIA 23 ESPOSA 
ANTONIO 01 FILHO 

SPERONELLO LUIGI 39 MARIDO 
GIUSTINA 31 ESPOSA 
ANGELA 12 FILHA 
GIUDITTA 04 FILHA 
CARLO 01 FILHO 
GIUSEPPE 08 FILHO 

CHIERON ANGELO 35 MARIDO 
AMABILE 30 ESPOSA 
CAROLINA 07 FILHA 
LUIGI 04 FILHO 
ANTONIO 02 FILHO 

BALZANO LUIGI 29 MARIDO 
CARMELA 40 ESPOSA 
ANGELO 07 FILHO 
PASQUALE 06 FILHO 

BARBIERI LUIGI 35 MARIDO 
TERESA 30 ESPOSA 
ORSOLA 05 FILHA 
GIACOMO 02 FILHO 

POLO BENEDETTO 42 MARIDO 
ELENA 36 ESPOSA 
VIRGINIA 02 FILHA 
EMILIA 17 FILHA 
PIETRO 15 FILHO 

PEROSA GIOVANNI BATTISTA 28 MARIDO 
MARIA 31 ESPOSA 
ROSALIA 04 FILHA 
ANTONIO 01 FILHO 

PEDRAZZOLI ANGELO 19 CHEFE 
LIBERA 17 IRMÃO 

ROSSI ANTONIO 50 MARIDO 
DOMENICA 50 ESPOSA 
ERMINIA 10 FILHA 
ANGELO 20 FILHO 

FABRIS FRANCESCO 42 MARIDO 
CATERINA 37 ESPOSA 
MARIA 10 FILHA 
CATERINA 07 FILHA 
LUCIA 15 FILHA 
CARLO 04 FILHO 
EMILIO 02 FILHO 

BRIGATO LUIGI 33 MARIDO 
CATERINA 29 ESPOSA 
GIUSEPPE 04 FILHO 

SPELLER ANTONIO 33 MARIDO
MARIA 30 ESPOSA 
ANTONIO 02 FILHO 
DOMENICO 05 FILHO 
GIACOMO 03 FILHO 
 
GLISA GIUSEPPE 46 MARIDO 
TERESA 36 ESPOSA 
MARIA 14 FILHA 
CATERINA 08 FILHA 
ANGELA 04 FILHA 
GIOVANNI 11 FILHO 

MARSICANO MICHELE 37 MARIDO 
ANNA 45 ESPOSA 
GIUSEPPE 11 FILHO 
VINCENZO 14 FILHO 

ZARANTONELLO DOMENICO 33 MARIDO
CELATO ANGELO 15 AGREGADO 
DOMARIA 30 ESPOSA 
MARIA 08 FILHA 
TERESA 04 FILHA 
 
GRECHI LORENSO 44 MARIDO  
ALBA 40  ESPOSA  
PALMINA 10 FILHA 
MARIA 19 FILHA 
EUGENIO 16 FILHO 
GUGLIELMO 04 FILHO 
VITALE 07 FILHO 

BOLOGNERI GIO BATTA 23 MARIDO  
CESINA 22  ESPOSA  
ELISA 01 FILHA 

BOTOVIN GERMANO 35 MARIDO 
LUIGIA 27  ESPOSA  
DILETTA 01 FILHA 
LUVIA 04 FILHA 
ROZA 63 MÃE 

ZUBBIOLO GAETANO 33 MARIDO  
CATARINA 30  ESPOSA  
VIRGINIA 06 FILHA 
PIETRO 02 FILHO 
LUIGI 08 FILHO 

CAMELATO PASQUALE 53 MARIDO  
GIUDITTA 31  ESPOSA  
ANGELA 09 FILHA 
MARIETTA 12 FILHA 
GIOVANNI 05 FILHO 
ALBERTO 01 FILHO 

ARDINNI PIETRO 54 MARIDO  
GIUSEPPINA 53  ESPOSA  
EVANG.ta 21 FILHO 
LUIGI 22 
REGINA 19 NORA 

VENDRAMINI GIOSUÉ 50 MARIDO 
TEREZA 47  ESPOSA  
ANGELA 10 FILHA 
MADDALENA 21 FILHA 
ALESSIO 15 FILHO 
LUIGI 26 FILHO 
GIOVANNI 17 FILHO 

MARCHIORI CARLO 16 MARIDO
PIETRO 75 AVÔ 
REGINA 45 MÃE 

GRECHI EURICO 46 MARIDO  
TERESA 42  ESPOSA  
VITTORIO 20 FILHO 
TEREZA 27 NORA 

SARSO ANGELO 39 MARIDO ITALIANA
CATERINA 55  ESPOSA  
ALBERTO 14 FILHO 
ANTONIO 19 FILHO 

TREVISAN ANGELO 43 MARIDO 
ANNA 46  ESPOSA  
LUIGIA 12 FILHA 

CORSINI BORTOLO 59 MARIDO  
STELLA 58 FILHO CASADO 
DOMENICO 35 FILHO 
CATERINA 29 FILHA 
ALIANO NICOLA 70 PAI 

PIZZO ANDREA 41 MARIDO 
ROZA 39  ESPOSA  
CONCETTA 13 FILHA 
LUIGI 16 FILHO 

MAMPRESO ANTONIO 32 MARIDO  
EUGENIA 29  ESPOSA  
VIRGINIA 03 FILHA 
ELISABETTA 43 IRMà
ANGELA 67 MÃE 
VITTORIO 05 

BARBIERI GIO BATTA 56 MARIDO
MADDALENA 50  ESPOSA  
MARIA 14 FILHA 
LUCIA 26 FILHA 
GIOVANNI BATTISTA 13 FILHO 
 
SAPORE GIUSEPPE 49 MARIDO 
ANTONIA 48  ESPOSA  
MARIA 04 FILHA 
AGOSTINO 24 FILHO 

ZUCCORATO ANTONIO 23 CHEFE 
SANTA 26 IRMÃO 
MARGHERITA 46 MÃE 

DANZO FEDERICO 48 MARIDO 
SANTA 48  ESPOSA  
ELISA 20 FILHA 
GIOVANNI 06 FILHO 
GIROLAMO 16 FILHO 

RUFFATO LUIGI 55 PAI 
GIUSEPPE 15 
PASQUALE 22 

PAVESE LUIGI 47 
EMILIO 20 
ROZA 45 

PERZOLO FRANCESCO 27 MARIDO  
SILVIA 22  ESPOSA  

ZAPPAROLLI LORENZO 38 MARIDO  
PLACIDA 38  ESPOSA  

GALASSI FRANCESCO 24 MARIDO 
RACHELE 20  ESPOSA  
 
SUINO GIOVANNI 35 MARIDO 
GIOVANNA 32  ESPOSA  
 
GIACCHETTO FEDERICO 26 MARIDO 
ROZA 23  ESPOSA  

 ZANELLA PROSPERO 33 MARIDO  
 CECILIA 25  ESPOSA  

GIOVANNI FERNANDO 28 SÓ SOLTEIRO 

STAGI GIOVANNI 26 SÓ 

MORI GIO BATTA 41 SÓ

RIZZATTO ANTONIO 24 SÓ 

GUAGLIANONE VINCENZO 22 SÓ 

GRAZZATO NATALE 22 SÓ 

NATALI ETTORE 20 SÓ

DUBILLI DOMENICO 33 SÓ 

ZOVIANI GIOVANNI 38 SÓ 

FRIZZO FELICIANO 24 SÓ 

PRANDI PAOLO 22 SÓ 

CAPPI TEMPIRICO 26 SÓ

FACCINI EURICO 20 SÓ 

ZANE DOMENICO 37 SÓ 

PIA PIETRO 24 SÓ 

SIMONCELLI FRANCISCO 30 SÓ 

GARCIA LOPES ANTONIO 20 SÓ ESPANHOLA 

JORENTE FELIPPE 19 SÓ ESPANHOLA 

MUCLACLARO CORBANTINO 49 MARIDO ESPANHOLA 
TEREZA 46 ESPOSA ESPANHOLA C. DI NAPOLI CASADO

FERRARESE PIETRO 56 PAI ESPANHOLA 
MARIA 19 NETA ESPANHOLA  
DOMENICO 22 NETO ESPANHOLA 

DASIE GIOVANNI 37 MARIDO ESPANHOLA 
MARIA 37 ESPOSA ESPANHOLA  CASADO 
GENOVEFFA 03 FILHA ESPANHOLA 
FERDINANDO 12 FILHO ESPANHOLA 
ANTONIO 01 FILHO ESPANHOLA 
ERMINIO 08 FILHO ESPANHOLA 

LUIGIA 22  CASADA
ANGELO 01 FILHO 

BATASIRA CARLO 43 MARIDO  
RADEGONDA 43  ESPOSA 
AGUSTINA 18 FILHA 
OLIVIA 15 FILHA 
AGATA 07 FILHA 
VITTORIA 03 FILHA 
EMILIO 17 FILHO 
BELLINO 12 FILHO 
TALMIRO 10 FILHO 
EURICO 05 FILHO 

MONPELLI GIUSEPPE 53 MARIDO 
LAURA 41  ESPOSA  
BAMVINA 19 FILHA 
 
BAGLIARDIN MARCO 47 MARIDO  
ANGELA 35  ESPOSA  
MARIA 04 FILHA 
GIUSEPPE 08 FILHO 
SANTA 10 FILHO 
EMILIO 16 FILHO 

CANDIAN BENVENUTO 28 MARIDO 
TEREZA 26  ESPOSA  
GIOVANNA 03 FILHA 
ANGELO 01 FILHO 

CELARDI CANTORE 40 MARIDO 
GIOVANNA 40  ESPOSA  
RAFFAELA 04 FILHA 
MARIA 07 FILHA 
ISABELLA 13 FILHA 
ANGELA 09 FILHA 
GIUSEPPE 01 FILHO 
ROCO 02 FILHO 

CAPELLIN GIOVANNI 32 MARIDO
CATARINA 26  ESPOSA  
AURELIA 03 FILHA 
VITTORIO 05 FILHO 
UMBERTO 01 FILHO 
 
TEBALDO VINCENZO  61 MARIDO  
LAETICIA 51 ESPOSA
DONATO 29 FILHO 
ANNUNCIATA 29 NORA 
120 02186 MARIA 04 FILHA 
120 02186 ANTONIO 01 FILHO 
EDVIG 13 FILHA 

PICCOLO GIOVANNI BATTISTAta 43 MARIDO
ANTONIA 37  ESPOSA  
ROZA ? FILHA 
GENOVEFFA 06 FILHA 
BORTOLO 12 FILHO 
GIUSEPPE 09 FILHO 
 
TOLINI GENOVEFFA 10 AGREGADO 
MARCHI FRANCISCO 43 PAI 
OLGA 15 FILHA 
GIOVANNI 07 FILHO 
RODOLFO 12 FILHO 

STEVANNI ANDREA 27 MARIDO 
ROZA 24  ESPOSA  
GIUGLIO 07M FILHO 
GIOVANNI 03 FILHO 

ROSSATO CARLO 29 MARIDO 
ANGELA 25  ESPOSA 
FRANCISCO 55 CUNHADO 
AUGUSTO 04 FILHO 
ZARIA 01 FILHO 
GIOVANNI B. 12 

LIDO GIOVANNI 28 MARIDO 
ANNA 26  ESPOSA  
BENVENUTO 01 FILHO 

TESTA GIUSEPPE 29 MARIDO 
SANTA 25  ESPOSA  
MARIA 03 FILHA 
SANTA 63 MÃE 

BEASSON ANTONIO 32 MARIDO 
MARIA 29  ESPOSA  
LUIGI 07 FILHO 

BRANDO ANANIA 33 MARIDO 
CATARINA 26  ESPOSA  
CECILIA 05 FILHA 
ELISA 03 FILHA 
ÂNGELO 04 FILHO 

LIZO ROCCO  33 MARIDO
FRANCISCA 25 ESPOSA C. DI NAPOLI CASADO 
 
TREVISAN DOMENICO 47 MARIDO
ANTONIA 42  ESPOSA  
MARIA 09 FILHA 
ROZA 14 FILHA 
LUIGI 03 FILHO 
GIOVANNI 05 FILHO 
SANTE 16 FILHO 
 
PICCOLI VIRGILIO 48 MARIDO 
GIUSTINA 38  ESPOSA  
MARIA 05 FILHA 
GIACOMO 10 FILHO 
MAXIMILANO 12 FILHO 

BERIGAN EVANGELISTA 44 MARIDO 
MARIA 40  ESPOSA  
GIULIETTA 17 FILHA 
ANGELINA 05 FILHA 
FELICE 01 FILHO 
FELISBERTO 14 FILHO 
MICHELE 12 FILHO 

RISSOTO GIOVANNI 30 MARIDO 
MARIA 24  ESPOSA  
GUERINA 04 FILHA 
TEREZA 55 MÃE 

VOLPATO GIACOMO 28 MARIDO 
CATARINA 26  ESPOSA  
VITTORINE 03 FILHO 
ANTONIO 02 FILHO
ANTONIO 66 PAI 

ZACCHIN GIOVANNI BATTISTA 33 MARIDO 
AMALIA 30  ESPOSA  
MARIA 02 FILHA 
GIOVANNI BATTISTA 07 FILHO 

PIAZZO EMILIO 19 AGREGADO 
MARCHISIN LUIGI 47 MARIDO 
FILOMENA 41  ESPOSA  
GIUGLIA 08 FILHA 
CAROLINA 04 FILHA 
ANTONIO 15 FILHO 
GIOVANNI 07 FILHO 
MATTEO 14 FILHO 
UMBERTO 10 FILHO 
FORTUNATO 18 FILHO 
AUGUSTO 12 FILHO 
ANGELA 03 FILHA 

GEOMBELLI GIUSEPPE 32 MARIDO 
CRISTINA 22  ESPOSA  
CAMILLA 03 FILHA 
CLITO 07 FILHO 
CELESTO 47 IRMÃO 

ZAMIN GIUSEPPE 27 MARIDO
OLIVA 24  ESPOSA  
MARIA ? FILHA 
PIETRO 03 FILHO 
 
CAVICHIOLLI ADAMO 37 MARIDO
GIOVANNA 34  ESPOSA  
MARIA 07 FILHA 
ADELE 03 FILHA 
ATTILIA 12 FILHA 
ANSELMO 09 FILHO 
 
GREGORATO LUIGI 37 MARIDO
MARIA 36  ESPOSA  
REVENTO 05 FILHO 
BENGAMIN 02 FILHO 
TEREZA 17 NETO 

BANALDI LUIGI 48 MARIDO 
ROZA 38  ESPOSA  
GIUSTINA 04 FILHA 
LUIGIA 02 FILHA 
REGINA 07 FILHA 
MICHELA 14 FILHA 
ANNA 09 FILHA 
DOMENICO 05 FILHO 
PIETRO 12 FILHO 

GIANELLO BORTOLO 47 PAI 
LUIGIA 16 FILHA 
ANGELA 18 FILHA CASADA 
AMALIA 14 FILHA 
GIOVANNI 10 FILHO 
BENEDITTO 12 FILHO 

BEFFI ALEXANDRE 41 MARIDO 
MARIA 39  ESPOSA  
BAMLENA 13 FILHA 
LUIGI 08 FILHO 
GIOVANNI 02 FILHO 

GAZELLI GIUSEPPE 40 PAI 
ROZA 14 FILHA 
VITTORIA 12 FILHA 
GIOVANNI 17 FILHO 
PIETRO 10 FILHO 

VACCHARO DOMENICO 43 MARIDO 
LUIGIA 33  ESPOSA  
ADELAIDE 15 FILHA 
EMMA 12 FILHA 
CORLANTE 13 FILHO 
VITTORIO 03 FILHO 
ORESTO 01 FILHO 

NICOLLETTO CARLO 29 MARIDO 
ARGIA 26  ESPOSA  
ARSENIO 07 FILHO 
ANTONIO 04 FILHO 
ANIALOR 02 FILHO 
GIUDITA 65 MÃE 

LATTO BORTOLO 46 MARIDO  
DOMENICA 43  ESPOSA  
DORIA 08 FILHA 
MARIA 13 FILHA 
CAROLINA 07 FILHA 
ANNA 17 FILHA 

PEVAROLI DOMENICO 48 MARIDO 
ADELAIDE 46  ESPOSA  
LIBERA 14 FILHA 
MAXIMO 04 FILHO 
GIUSEPPE 19 FILHO 
AMALIA 30 CASADA 
GUIDONE 03 FILHO 
GIOVANNI 09 FILHO 
ONORINDO 01 FILHO 
ROBERTO 07 FILHO 
ROSA 

BERIA G. B MARIDO 
MADDALENA 27 ESPOSA 
MARIA 12 FILHA 
GINEORA 07 FILHA 
AMALIA 03 FILHA 

TREVISAN GIUSEPPE 64 PAI 
ANNA 33 NORA 
MARIA 10 NETA 
LUIGIA 05 NETA 
EMILIO 12 NETO 
GIUSEPPE 08 NETO 

GODIM GAETANO 37 MARIDO
ELISA 36 ESPOSA 
ANGELA 04 FILHA 
NARCISO 10 FILHO 
GIUSEPPE 12 FILHO 
ANTONIO 01 FILHO 
 
GIOSSI GIROLAMO 24 MARIDO
CATERINA 24 ESPOSA 
 
DAVAN GIOVANNI 30 MARIDO 
MARIA 21 ESPOSA 
ROSA 01 FILHA 

MAIAN DESIDERIO 40 MARIDO 
COSTANTINA 40 ESPOSA 
PIETRO 13 FILHO 

BARISON GIUSEPPE 50 PAI 
AMALIA 18 FILHA 
IDA 07 FILHA 
EMILIO 15 FILHO 
ANTONIO 20 FILHO 
ALBANO 09 FILHO 

FRANCISCA 41 ESPOSA
ANGELA 14 FILHA 
ROSA 18 FILHA 
GIOVANNA 20 FILHA 
MADDALENA 05 FILHA 
GIOVANNI 12 FILHO 

STRAPAZZON GIOVANNI 33 MARIDO 
TONIN CATERINA 33 ESPOSA 
PALMA 07 FILHA 
MARIA 03 FILHA 
IDA 10 FILHA 
RODOLFO 05 FILHO 
GIOVANNI 08 FILHO 

PIANAETI DOMENICO 51 MARIDO
MARIA 43 ESPOSA 
LUIGIA 08 FILHA 
AMALIA 05 FILHA 
CATERINA 17 FILHA 
SEBATINO 12 FILHO 
 
BONETH GIACINTO 60 MARIDO 
MADDALENA 45 ESPOSA 
ROSA 03 FILHA 
GIOVANNI 09 FILHO 
GIUSEPPE 10 FILHO 

GUERRA CAMILLO 33 MARIDO 
ARPALICE 29 ESPOSA 
LOLIDEA 07 FILHA 
CLELIA 04 FILHA 
GIUSEPPE 01 FILHO 
MARIA 20 IRMà
ANGELINA 60 MÃE 

LAVORENTI SANTE 45 MARIDO 
GIUSEPPE 35 ESPOSA 
MARGHERITA 07 FILHA 
UMBERTO 12 FILHO 
ANGELO 16 FILHO 
DENI 10 FILHO 
GIOVANNI 04 FILHO 

BUGNO FRANCESCO 53 MARIDO 
MARIA 48 ESPOSA 
ANTONIA 16 FILHA 
CATERINA 10 
GIOVANNI 04 
ANGELA 14 
ANTONIO 08 

MASINI REGINA 29 MÃE VIÚVO 
ANTONIO 10 FILHO 
LUIGIA 60 MÃE
 
TURCHETTI GIOVANNI 69 PAI 
ANTONIO 30 FILHO 
FERDINANDO 27 FILHO 
MARIA 25 NORA 
MARIA 58 SOGRA
 
TAGLIARO DOMENICO 57 PAI 
ERMENEGILDO 25 FILHO 
ANTONIO 28 FILHO 
LUCIA 21 NORA 

DEL FERRO FRANCESCO 32 MARIDO 
ANGELICA 25 ESPOSA 
MARIA 01 FILHA 
GIUSEPPE 03 FILHO 

CORTURA GIACINTO 58 MARIDO 
ANGELA 50 ESPOSA 
ELISABETTA 24 FILHA 
GIOVANNI 20 FILHO 

STEFANIN SANTE 57 MARIDO
MARIA 51 ESPOSA 
CATERINA 15 FILHA 
LUIGIA 21 FILHA 
 
MARTINELLO MICHELE 50 MARIDO 
MARIA 48 ESPOSA 
SPERANZA 17 FILHA 
MARIA 14 FILHA 

BAS ANGELO 26 CHEFE 
TERESA 17 IRMà
SANTA 49 MÃE 
LORENZO 74 PAI 

MUMPRESO DOMENICO 55 MARIDO 
BERTOLINA 48 ESPOSA 
CLEOFE 10 FILHA 
GIOVANNIa 16 FILHA 
BENEDETTO 13 FILHO 

MOSTRELLA GIOVANNI BATTISTA 59 MARIDO 
GIUDITTA 58 ESPOSA 
MAURIZIO 28 FILHO 
SILVIO 17 FILHO 

MARTINELLI LUIGI 37 MARIDO 
ANGELA 27 ESPOSA 
EULALIA 07 FILHA 
MARCELLA 12 FILHA 
TERESA 64 MÃE 
MARTINELLI LUIGI 37 MARIDO 
ANGELA 27 ESPOSA 
EULALIA 07 FILHA 
MARCELLA 12 FILHA 
TERESA 64 MÃE 

GHIROTTO ANTONIO 56 MARIDO
CECILIA 54 ESPOSA 
PIETRO 20 FILHO 
 
ANDREATO TOMASO 64 MARIDO
ROSA 51 ESPOSA 
LUIGI 15 FILHO 
GIACINTO 12 FILHO 
 
POSSER ANTONIO 61 MARIDO 
MARIA 55 ESPOSA 
VIRGINIA 17 FILHA 
GIUSEPPE 24 FILHO 
ROSA 25 NORA 

AMADEO GIOVANNI 60 PAI 11/08/1891 
ANGELA 17 FILHA 
PIETRO 26 FILHO 
GIACINTO 23 FILHO 
MARGHERITA 27 NORA 
REGINA 20 NORA 

CERA LUIGI 63 MARIDO 
MARIANNA 54 ESPOSA 
GIOVANNI 24 FILHO 

ROSA ANTONIO 28 MARIDO
ANGELA 22 ESPOSA 
 
VALENTINI CARLO 56 MARIDO 
LUIGIA 49 ESPOSA 
ROMANO 15 FILHO 

GANCO ISIDORO 49 MARIDO
LUIGI 50 ESPOSA 
TERESA 20 FILHA 
MARIA 71 MÃE 
INNOCENTE 77 PAI 

ALQUATI CARLO 28 MARIDO 
LUCIA 24 ESPOSA 

CIBELLI VITA 25 MARIDO 
SERAFINA 20 ESPOSA 

PIOVAN CATERINA 65 MÃE 
ANNUNCIATA 27 FILHA 

PADOVAN GIOVANNI 26 MARIDO 
GIUSEPHINA 28 ESPOSA 

MARASCHIN ANGELO 30 MARIDO 
MARIA 26 ESPOSA 

GIACOMELLI ANTONIO 27 SÓ 

LISSA FRANCESCO 18 SÓ 

ROSSI ANGELO 25 CHEFE 
PIETRO 31 IRMÃO 

FERLIN ISIDORO 52 PAI 
ARTURO 12 FILHO 

D'ANGELO ANTONIO 57 PAI 
LUIGI 21 FILHO 

MUTTERLE ANGELO 52 PAI 
GIUSEPPE 22 FILHO 

PADOVAN LUIGI 34 MARIDO 
GIACOMA 35 ESPOSA 

TIANELLO SEBASTIANO 32 SÓ 

CIAGIBELLI PIETRO 25 SÓ 

POSSOBAN VITTORIO 35 SÓ 

MEGLIORANZI ANTONIO 32 SÓ 

PASQUALINATO PIETRO 25 SÓ 

RAVAGO LUIGI 32 SÓ 

TAFFAREL GIOVANNI 24 SÓ 

BERNARDI GIUSEPPE 25 SÓ 

COLMAOR CANDIDO 20 SÓ ITALIANA

TRALLI VINC.o 24 SÓ 

REATI DOMENICO 24 SÓ 

BRUN GIUSEPPE 47 SÓ 

BIRAL PIETRO 22 SÓ 

CONTARIN FRANCESCO 23 SÓ 

CEUSI PIETRO 30 SÓ 

FURLANETTO GIOVANNI 41 SÓ 

PAGIOLLI PIETRO 22 SÓ 

PALANGO GIOVANNI 32 SÓ 

MARTINELLO GIORDANO 26 SÓ 

GHISATI GIOVANNI 29 SÓ 

LAZZARI GIOVANNI 23 SÓ 

BELLENTONI ADAMO 28 SÓ 

FITZPATRICK CORNELIUS 24 SÓ INGLESA 

FABRELLI FRANCESCO 40 SÓ 

MADDALENA BENVENUTO 31 SÓ 

TANDIN VIRGINIO 24 SÓ 

CISCO EUGENIO 26 SÓ 

ZANASCO GIUSEPPE 40 SÓ 

MASSINIAN PIETRO 23 SÓ 

CASA FELICE 21 SÓ 

BUCHINI CARLO 20 SÓ 

BONFATTI AGOSTINO 21 SÓ 

FERRARI CARLO 20 SÓ 

ZERINA GIOVANNI 25 SÓ AUSTRIACA