terça-feira, 30 de janeiro de 2024

Lista de Sobrenomes de Trovatelli na Itália



Desde a antiguidade, era costume ter um sobrenome. Entretanto, este costume caiu em desuso com as invasões bárbaras, pois a tradição germânica previa o uso exclusivo do nome. A partir da Baixa Idade Média, o sobrenome foi novamente adotado em toda a Itália, primeiro pela nobreza e gradualmente também pelas classes sociais mais baixas. Isso tornou-se obrigatório a partir de 1563 com o Concílio de Trento. Surgiu, então, a necessidade de atribuir sobrenomes também aos encontrados, aquelas crianças que eram abandonadas pelos pais naturais e geralmente acolhidas por orfanatos e instituições religiosas. Esses sobrenomes eram geralmente convencionais, com inúmeras variantes nas várias cidades.
Os sobrenomes atribuídos aos encontrados variavam de acordo com a região e o período histórico, dando origem a centenas de sobrenomes diferentes.

Sobrenomes com significado religioso: devido à numerosa presença de instituições religiosas que cuidavam dos expostos, era muito comum dar sobrenomes com significado religioso a essas crianças, como um sinal de boa sorte, com numerosas variantes em toda a Itália.
Del Papa refere-se à prática de chamar os expostos do Estado da Igreja "filhos do Papa". Tem raízes na Toscana, Lácio e Abruzzo-Molise.
Di Dio é típico da Sicília, presente desde o século XV; as variantes Didio e Di Deo são comuns, respectivamente, no teatino e no materano.
Diolaiuti é frequente perto de Pistoia; também está presente com as variantes Diomaiuti, Diotaiuti, Diotaiuta e Diolaiti (esta última provavelmente devido a erros de transcrição).
Diotallevi deriva do nome medieval Diotallevio, usado principalmente para crianças abandonadas, carregado, entre outros, pelo pintor Diotallevio D'Antonio. Uma família Diotallevi foi marquesa em Rimini, com propriedades em alguns territórios na Ístria. O sobrenome é tipicamente das Marcas, com presença também na Umbria e Lazio.
Diotisalvi, agora quase desaparecido, tem origens lucanas.
Dioguardi, sobrenome presente na Sicília, em Irpinia, na Puglia, no Lazio e no Piemonte.

Sobrenomes emprestados de celebridades, artistas famosos, compositores, maestros, cantores de óperas: 
Puccini

Sobrenomes que indicam o estado de abandono: muitos sobrenomes eram usados pelos orfanatos para indicar o estado original de abandono do portador, às vezes indicando com precisão o orfanato do qual foram acolhidos. Esposito, de origem napolitana, é provavelmente o sobrenome italiano para encontrados mais difundido e deriva da roda dos expostos, uma estrutura pública giratória na qual as crianças eram deixadas para serem entregues à caridade pública. Com inúmeras variantes presentes em toda a Itália, é o quarto sobrenome italiano mais difundido.
Proietti, panitaliano, mas mais frequente no centro-norte, especialmente em Roma, deriva do latim proiectus, que significa "projetado, lançado", portanto, abandonado no adro da igreja ou na roda de um orfanato. Suas variantes são Proietta, Proietto, Projetti, Projetto, Proitti, Proitto. Entre os portadores famosos, destaca-se o ator e showman Gigi Proietti.
Trovato é difundido principalmente no leste da Sicília. Suas variantes são Trovatelli, Trovatello (tarantino e messinese), Trovatelli (pisano), Trovati, Trovatori (veneto) e Trovatore (milanês).
Colombo, embora em alguns casos derive do nome latino tardio Columbus, é principalmente conhecido por ser usado para encontrados acolhidos no Ospedale Maggiore de Milão até 1825, razão pela qual é amplamente difundido na cidade metropolitana de Milão, sendo o primeiro em termos de difusão na Lombardia e o vigésimo segundo na Itália. Também está presente nas variantes Columbo, Colombi, Colombelli, Colombetti, Colombina, Colombino, Colombini, Colomboni e Colombin.
Innocenti deriva principalmente do Spedale degli Innocenti de Florença. O sobrenome é o segundo mais difundido na Toscana e também está presente nas formas, difundidas em várias partes da Itália, Innocente, Innocentini, Innocenza, Innocenzo, Innocenzi, Degli Innocenti, Nocenti, Nocentino e Nocentini.
Incerti é uma clara referência à frase latina Incertis Padris, que indica a não conhecimento do pai do portador. Está mais presente na região de Reggio e Modena.
Ignoti, também na forma Ignoto, tem a mesma origem do anterior e é tipicamente siciliano.
Casadei refere-se aos orfanatos religiosos. Está presente no Lazio, na variante Casadidio. Historicamente, é muito difundido na Romagna, especialmente em Forlì.
Conforti indica um desejo de saúde e sorte para os encontrados. Confuorti é a variante napolitana.
Regalato, indicando o abandono como um presente.
Fortunati, indicando a sorte do encontrado por ter sido encontrado.
Sperandio e Dellasanta, indicando a confiança nos santos na ausência da mãe biológica.

Sobrenomes que enfatizam a condição de falta de paternidade:
Ventura - Venturini – Fallaci - Mainati – Trovato –Venuto – Vago - Paternò - Incogniti – Ignari – Lasciati – Disgraziati – Buttò – Buttazzoni - Trovò – Donati – Di Dona’ – Inciampi - Incerti – Inutile - Vianello - Venini – Interdonato – Esposito – Degli Esposti – Manca – Mancaniello – Stancanelli - Locatelli - Avanzi – D’avanzo – Vanzetti - Amari, per giungere fino a Trovatelli – D’ignoto – D’incerto - Bastardini – Bastardo - D’Ignoto- D’Ignoti, D’Incerti, D’Incerto, Incertopadre, Parentignoti, Spurio, Spuri.

Os sobrenomes que lembram a “ruota”: 

Giraldi – Girardi – Girardelli – Girardengo - Rodari – Rota – Rotelli - Rotari – De Roda - Barili – Barilla - Bartoli – Bartolini - Bortoli – De Bortoli – Tombolo – Tombola – Torno – Tornelli – Tamburello – Mangano – Manganelli - Presepi – Botta – Baricco -Barrichello - Bottai.

Sobrenomes que indicam o Instituto de abrigo
Innocenti – Nocenti – Nocentini - Degli Innocenti - Innocente, Nocentino dall’omonimo Spedale Fiorentino.
Colombo – Colomba – Colombini – Palumbo – Palombelli – Tortora – Tortorelli , para lembrar  o brasão  do Ospedale Maggiore di Milano que é uma pomba.
Trovato, Ventura, Venturelli, Venturini.

Sobrenomes que indicam o local onde foram encontrados:
Di Piazza – Chiesa – Campanile - Da Ponte – Aponte – Ponti -Fontana - Riva – Costa – Canali – Strada - Campo – Sacrestia - Soglia - Scala - Viale.

Sobrenomes que se relacionam diretamente ao nome de Deus e que indicam os Institutos religiosos onde foram deixados
Amadio - Diotallevi –Daddio – Di Dio, Diotallevi, Diotiguardi Diotisalvi, Diotaiuti, Diotallevi, Servodidio, Sperandio , Acquistapace– Casadei – Casadidio, Graziadei - Casadio – Casaceli - Caddeo – Cantamessa - Laudadio – Servadio – Pregadio - Adeodato – Deodati - Casagrande - Della Pietà – Dall’angelo –D’annunzio - Angeli - Angiolini – Agnolin - Agnoletti - Cherubini – Serafin – Del Prete –Del Frate –Del Monaco– Cantamessa - Dell’amore – Di Benedetto – Benedetti – Benedini – Salvadori – Santi – Santucci – Cardinale – Del Santo – Del Buono – Del Pio – Fede – Fedeli–Paternostro.

Sobrenomes relacionados a objetos de uso comum, frequentes, por exemplo, no Instituto delle Laste de Trento: 
Bottiglia refere-se aos recipientes.
Posata refere-se às louças e talheres.
Salvietta refere-se a gradanapos.
Sala refere-se à sala.
Sedili refere-se aos assentos, lugares para se sentar.
Tavola refere-se à mesa.
Tazza refere-se às xícaras.
Terraglia refere-se ao tipo de cerâmica.
Tovaglia refere-se à toalha de mesa.
Mestoli, Quaderni, Inchiostri, Tetti, Valigi

Sobrenomes relacionados ao nome do encontrado, típicos também do Instituto delle Laste de Trento:

Sobrenomes referentes a lugares geográficos, utilizados no mesmo instituto.
Padovani, em referência ao topônimo Padova.
Dalpiaz.
Fornace, do nome de um povoado local.

Sobrenomes com referências temporais ao momento em que o bebê foi encontrado: 
Martedi, em referência à terça-feira, dia da semana.
Marzini, em referência ao mês de março.
Ottavo, atribuído ao dia 8 de dezembro.
Pasquali, em referência à Páscoa.
Silvestrini, atribuído ao 1º de janeiro em referência à festa de São Silvestre.
Primo, atribuído ao primeiro dia do mês.

Sobrenomes em referência a aspectos da vida religiosa ou a figuras eclesiásticas, típicos de instituições religiosas: 
Preti, em referência aos padres católicos.

Sobrenomes dados em sinal de augúrio,  qualidades morais, votos de boa sorte ou infundir força: 

Bencivenga – Bonagura – Bennato -Benvenuti Benarrivati - Bonaventuri– Beccaiuti - Di Bello - Di Meglio - Di Vita – Vitale - Vitali – Vivarini –Viviani - Felici - Fortunato – Venturato – Riccobon – Re - Del Re - Di Sole – Guarise - Allegri - Bonfigli – Bonfanti – Boncompagni - Perfetti - Migliori – Migliorini – Bonaiuti - Boninsegna –Bonvicini - Laudati – Letizia - Buonaccorsi – Bonaccorti – Vigorosi - Valorosi - Modesti.

Sobrenomes emprestados da natureza: Felci - Alberi - Allori – Alberoni – Arbusti – Giacinti – Nespoli - Olivi – Ontani – Ornelli -Pruni – Peri - Rosai – Sorbi - Susini – Tassi - Carpini – Volpi – Gabbiani – Caprioli - Cervi – Grilli – Grillini - Orsi – Orselli – Orsini - Pavone – Lupi - Lovi - Serpi – Tacchini – Tassi – Tassini - Tassoni -  Primagema, Pioppi, Peri, Limoni, Rosai, Gerani.

Sobrenomes que se referem ao tempo de quando foram encontrados
Del Sabato – Domenicali – Dominici - Domenichini – Festa - Bonora – Gennari - Di Marzio, Marzi - Aprile - Di Maggio – Maggi, Maggini Maggioni – De Julii – Lugli - Agostini – Augusti - Settembri, Settembrini – Natali – Pasqualin - Pasquetto – Quaresima – Annunziata – Rosario - Meriggi - Tramontin – De Luna – Inverni – Invernizzi - Carnevale.

Sobrenomes fantasiosos

Accorsi - Alboretti – Allevi - Bimbi - Disparuto - Fantuzzi - Mainati – Maina – Minghi – Monda – Mucelli - Natolino – Natuzzi - Secondi – Semprini - Strazzolini - Favilla, Fiamma, Albione, Lanotte, Orifiamma, Tantibaci, Sorrisi, Oredolci.

Sobrenomes invocando personagens históricas: Benvenuto Napoleoni, Maria Stuarda.


Sobrenomes lembrando localidades, cidades, paísesMantovani, Romani, Senesi, Tamigi, Sassarini, Asiatici, Tirolesi.

Sobrenomes que indicam aspectos de caráter ou características físicas:
Briosi
Bassi

Sobrenomes indicando condições de saúde precárias: 
Giali, em referência à icterícia.

Sobrenomes indicando profissões: Tagliaferro, indicando a profissão de ferreiro.

Sobrenomes que indicam acessórios: 
Zaini, em referência às mochilas.

Sobrenomes que indicam a condição de gêmeos:
Isidi, do grego isos: igual.


segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

Raízes que Florescem: A Saga de Resiliência de Giovanni na Terra Prometida



Giovanni Marco Rossi, um emigrante italiano oriundo de Montecielo, perto de Bréscia, Itália, passou a maior parte da sua vida na Califórnia. Nascido em 24 de agosto de 1896, Giovanni começou a trabalhar como agricultor desde a adolescência. Durante a Primeira Guerra Mundial, ele prestou serviço militar como técnico, engajado em uma companhia de engenharia, construindo túneis e pontes. Em 1920, juntamente com seu amigo Marco Ferrari, natural do mesmo povoado, decidiu emigrar para os Estados Unidos em busca de melhores oportunidades. Após sua chegada a Nova York em 3 de agosto de 1920, Giovanni se estabeleceu em Lindale, Califórnia, vivendo com seu tio Luigi Cademartori. Graças ao árduo trabalho e à economia, em 1925 Giovanni e Marco conseguiram adquirir 20 acres de terra em Lindale. Inicialmente, enfrentaram desafios como a falta de água, mas engenhosos perfuraram um poço, trouxeram eletricidade e construíram uma modesta casa de madeira. Giovanni e Marco plantaram árvores frutíferas, cultivaram campos, usaram cavalos para o trabalho agrícola e levaram sua produção ao mercado de Stockton. Após um tempo, Marco decide retornar à Itália, deixando toda a propriedade para Giovanni que a adquiriu por um preço justo. Firmemente determinado a se integrar à sociedade americana, Giovanni aprendeu inglês na Escola Secundária de Stockton e obteve a cidadania americana. Ele conheceu Catarina Lombardi, nascida nos Estados Unidos e originária do Vale de Bréscia, na Itália, com quem se casou em 1921. O casal enfrentou os desafios da vida rural na Califórnia, com Catarina dedicando-se ao trabalho agrícola e doméstico. Com o tempo, a família cresceu com o nascimento das filhas Teresa em 1931, Dena em 1935 e Delsie em 1941. Apesar de uma doença e outros desafios, Giovanni continuou a trabalhar a terra com dedicação. Em 1955, Giovanni comprou mais 20 acres de terra e, mesmo doente, continuou a cultivá-los com sucesso. Já em idade avançada, ele alugou a terra, mas continuou a ajudar nas atividades agrícolas. Em 1964, fez uma breve visita a Montecielo com Catarina para rever parentes e amigos. Giovanni Marco Rossi faleceu em 20 de julho de 1978, aos 82 anos, cercado pela família e respeitado pela comunidade. A história de Giovanni reflete a integração social e o sucesso alcançado através do trabalho árduo e respeito pelas tradições italianas em um contexto americano.


domingo, 28 de janeiro de 2024

Roda dos Expostos na Igreja de San Rocco em Vicenza

Ruota degli esposti vista do interior da igreja de S. Roque

A Roda dos Expostos


Durante a República Veneta, em Vicenza, junto ao Hospital de San Marcello - sustentado por generosas doações da família Porto, que detinha o patronato e era gerido pela confraria dos Battuti - desde meados do século XV, há registros de que muitos lactentes abandonados eram acolhidos. Em 1466, o número era de aproximadamente uma centena, sendo quarenta no hospital e cerca de sessenta com amas de leite externas; dois anos depois, o Papa Paulo II concedeu uma indulgência especial a todos que ajudassem um dos recém-nascidos acolhidos e alimentados neste hospital, que já se tornara célebre "et famosum in partibus illis".
O problema, além de social, era econômico, pois, apesar das doações do governo e inúmeras doações por parte das famílias nobres - muitas provavelmente destinadas a aplacar consciências culpadas - os custos de administração eram consideráveis. Em 1484, os administradores do hospital estavam alarmados com a multidão de crianças expostas, já que os gastos com sua subsistência superavam a renda pela metade. Diversas causas contribuíam para essas dificuldades econômicas, principalmente o fato de quem administrava os bens imóveis do instituto estar inadimplente no pagamento dos rendimentos.
A partir de 1530, o Hospital de San Marcello especializou-se em acolher apenas crianças expostas ou ilegítimas, assumindo a denominação de Casa degli Esposti, ou seja, dos filhos ilegítimos, a fim de evitar infanticídios que, aparentemente, estavam se multiplicando. Além dos filhos ilegítimos dos nobres, também eram confiados ao hospital filhos legítimos de famílias extremamente pobres, que esperavam poder recuperá-los em tempos mais favoráveis; um registro secreto foi criado para descrever os sinais de identificação e o local onde eram confiados: a devolução só poderia ocorrer após o pagamento das despesas de manutenção.
Na segunda metade do século XVI, o problema econômico tornou-se o principal e angustiante; a Casa degli Esposti acolhia uma média de 250 lactentes a cada ano. As amas camponesas, a quem eram confiadas, eram pagas muito pouco e, portanto, tentavam obter mais crianças do que podiam alimentar, o que aumentava significativamente a mortalidade por desnutrição. Durante sua visita pastoral a Vicenza em 1584, o cardeal Agostino Valier instava para que fosse providenciado de alguma forma para que os pobres órfãos lactentes não morressem de fome continuamente. Além disso, a redução no número de assistidos, internos e externos, ocorria devido às frequentes epidemias, a última das quais - a peste de 1630 - praticamente a zerou. No entanto, mesmo em tempos normais, a mortalidade era muito alta: registros municipais indicam que no triênio 1666-68, variou de 92,5% a 97,7%; isso explica por que havia apenas 20-30 crianças dentro do instituto e pouco mais de uma centena fora.
Somente na segunda metade do século XVII, os magistrados da República de Veneza - os prefeitos e os inquisidores da terra firme, vendo, devido a inconvenientes gravíssimos, o hospital de San Marcello se tornar um local de sacrifício de inocentes em vez de um abrigo para crianças, já que das duas mil e mais criaturas que chegaram nos últimos nove ou dez anos, apenas sete sobreviveram e foram criadas, infelizmente, perecendo as demais - que até então se limitavam a conceder isenções de impostos sobre as propriedades imobiliárias do instituto, intervieram para tentar melhorar sua administração e angariar mais receitas.
No entanto, a mortalidade permaneceu extremamente alta no século XVIII, em torno de uma média de 83% do total de crianças acolhidas, em comparação com cerca de 30% da mortalidade infantil naquela época[5], e essas intervenções das autoridades venezianas e locais, tanto de controle quanto de contribuição, se multiplicaram. Em 1716, foram instituídos os registros de exposições ou livros da Roda; eles recebiam o nome da roda dos expostos, que consistia em um cilindro de madeira com uma cavidade, onde quem pretendesse abandonar o recém-nascido podia fazê-lo sem ser visto; girando em um eixo, o cilindro fazia com que o bebê entrasse no interior do instituto. Em San Marcello, além da roda, havia outros dois pontos de acesso, a porta dos carruagens e a porta do sino, onde a entrega da criança não era anônima.
O hospital não podia aceitar crianças de localidades fora do território vicentino, nem aquelas que já tinham dentinhos; no registro, todos os sinais que poderiam levar à identificação da criança, como bilhetes ou roupas, eram cuidadosamente descritos. Também era dada importância à certificação do batismo, que, caso não fosse administrado na igreja catedral, era feito ali. No registro, ao lado dessas indicações, também eram registrados os eventos subsequentes: a entrega a uma ama externa, ou a entrega "por pão", ou seja, a confiança de uma criança um pouco mais velha a uma família camponesa que a acolhia "a pensione" (como pensionista), ou, finalmente, o sinal da cruz indicando o óbito.
Se durante a primeira metade do século XVIII o número de crianças expostas parecia diminuir (a média anual de 130-140 dos anos vinte quase havia se reduzido pela metade por volta de 1750), durante a segunda metade começou gradualmente e constantemente a aumentar, chegando ao final do século a cerca de 200 acolhimentos anuais.
Em 1806, durante o reino da Itália sob o império francês, um decreto reformou o sistema assistencial, reunindo todos os hospitais e institutos da cidade na Congregação de Caridade; entre eles estava o brefotrofio, que foi transferido para as instalações do mosteiro de San Rocco, recém-desocupado pelas irmãs teresianas, as carmelitas descalças que lá viviam há mais de um século.

Vista interna da Ruota degli Esposti na Igreja de Sao Roque


Em Vicenza, o brefotrofio, isto é, o instituto que recebia e cuidava de recém-nascidos e lactentes permanentemente ou temporariamente abandonados, esteve localizado do século XV até o século XVII no Hospital de San Marcello e, do século XIX até a segunda metade do século XX, no antigo mosteiro de San Rocco. A expropriação da Chiesa di San Rocco na época napoleônica não foi indolor: a igreja foi gravemente empobrecida de várias obras, que foram parar em museus públicos, e o mosteiro sofreu pesadas alterações e reformas para abrigar a "Casa degli Esposti", o orfanato que existia há séculos na antiga sede de San Marcello, onde eram acolhidos recém-nascidos de nascimentos ilegítimos, ou aqueles com deficiências físicas, psíquicas ou pertencentes a famílias muito pobres sem condições para cuidar deles. A mudança foi motivada pela necessidade de ter espaços mais amplos e confortáveis, e pelo fato de que San Rocco estava localizado em uma parte menos visível da cidade, permitindo assim maior liberdade para deixar uma criança indesejada na "roda" para entregá-la à "piedade cívica".
A administração do lugar piedoso teve que resolver problemas imponentes para garantir a sobrevivência dos recém-nascidos, ou pelo menos tentar fazê-lo. Portanto, além dos apelos das autoridades públicas e do bispo às mulheres de Vicenza para que estivessem dispostas a amamentar os bebês abandonados, encontrou-se a solução no "baliatico", ou seja, a entrega dos bebês expostos para adoção a famílias dispostas a alimentá-los e cuidar deles mediante uma pequena compensação financeira. A mortalidade infantil permaneceu, no entanto, muito alta, e os poucos que sobreviviam enfrentavam enormes dificuldades. Para lidar com esses problemas, o Instituto Novello foi transferido para San Rocco em 1833 e o Conservatório Checcozzi em 1837, com o objetivo de capacitar e integrar socialmente, respectivamente, as meninas e os meninos. Em 1867, no ano seguinte à anexação ao Reino da Itália e à criação da Administração Provincial de Vicenza, a representação e a direção do abrigo foram confiadas a um conselho diretor de cinco membros; o orfanato passou a se chamar "Abrigo para Crianças Abandonadas" e manteve esse nome até 1958, quando foi alterado para "Institutos Provinciais de Assistência à Infância" (IPAI). Essa instituição privilegiou novas formas de assistência, voltadas não apenas para crianças abandonadas, mas também para mães solteiras ou em dificuldade; em 1976, a creche foi aberta também para crianças externas. No final dos anos 80, as crescentes dificuldades econômicas das entidades públicas levaram ao fechamento dos IPAI e, consequentemente, dos serviços por eles gerenciados. 
No pós-guerra, à medida que o número de crianças institucionalizadas diminuía, o antigo mosteiro tornou-se sede de várias atividades sócio-culturais, incluindo o Instituto de Pesquisas de História Social e Religiosa, o Centro de Estudos sobre Negócios e Patrimônio Industrial, o Centro de Serviços Voluntários e a comunidade terapêutica "San Gaetano". Em 2014, o antigo convento foi cedido pela prefeitura à Fundação Cariverona e está em processo de reestruturação para criar serviços, apartamentos e escritórios. 
Além das funções religiosas, a igreja abriga os concertos do coro polifônico da Schola San Rocco.




sábado, 27 de janeiro de 2024

Destino: Brasil - A Odisseia Inesquecível de uma Família de Imigrantes




No mês de janeiro de 1836, nas acidentadas terras de Cesiomaggiore, cercada por altas montanhas, repletas de neve naquela época do ano, Giacomo veio ao mundo, um homem destinado a traçar uma jornada que moldaria o destino de gerações da sua família. Maddalena, nascida em 1835 em Arsiè, seria sua companheira nessa odisséia, uma mulher alta e forte, com determinação e amor tão profundos quanto as raízes das árvores que testemunhariam sua saga.
O casal de pequenos agricultores trouxe à vida uma família vibrante, começando com Giuseppe, o primogênito, nascido em 1858 em Cesiomaggiore, sendo a escolha do seu nome uma homenagem ao avô paterno, Giuseppe, cujo nome ressoava nas colinas como um tributo à tradição familiar. Logo, Maria Augusta veio ao mundo em 1860, seguida por Beatrice em 1861 e Giovanni Battista em 1863, todos nascidos na mesma cidade de Cesiomaggiore, na província de Belluno. Uma família unida, mas inquieta, cujo destino se entrelaçaria com a imensa vastidão do Brasil.
A história da família ganhou uma nova dimensão em 1875, quando todos, de Giacomo e Maddalena aos filhos e netos, decidiram embarcar em uma jornada épica para terras desconhecidas localizadas do outro lado do grande e temeroso oceano. O irmão mais novo de Giacomo, nascido em 1842, casado com Fiordalise, e seus filhos Angelo e Augusto, completavam a caravana que se aventuraria muito além dos horizontes familiares. O governo imperial brasileiro, necessitando urgentemente de mão de obra estava concedendo a passagem grátis até o novo local de trabalho, para as as famílias que aceitassem o convite para se transferirem para o grande país. Foi a oportunidade que tiveram para abandonar de forma definitiva aquele novo país no qual sempre viveram, mas que agora depois da unificação, não reconheciam mais. Lá, o desemprego grassava em todas as regiões, a má alimentação e a fome assolavam suas vítimas, forçando milhares de pessoas a buscarem um novo lugar para garantir seu sustento diário, bem distante daquelas circunstâncias adversas. 
A viagem, da pacata Belluno até o movimentado porto de Genova, foi uma experiência marcante. O desconhecido trem conduziu-os pela paisagem italiana, antes que embarcassem no navio Adria, enfrentando as intempéries do oceano. Duas tempestades memoráveis desafiaram sua resiliência, mas a determinação de deixar uma Itália desconhecida superou as adversidades. Apesar de tudo estavam felizes porque sabiam que um mundo melhor os aguardava.
O desembarque no porto do Rio de Janeiro, em janeiro de 1869, marcou o início de uma nova fase. Ficaram dois dias hospedados na Hospedaria dos Imigrantes, aguardando ansiosos o navio Rio Negro, que os conduziria à Colônia Dona Isabel no longíquo Rio Grande do Sul.
A bordo do Rio Negro, entre centenas de outros sonhadores, a família enfrentou seis dias de travessia até desembarcarem no porto de Rio Grande. Grandes barracões comunitários de madeira, onde quase não havia privacidade, os abrigaram por quase quinze dias, enquanto esperavam pela chegada dos barcos fluviais que os levariam até a cidade de Montenegro, o local mais próximo à tão aguardada Colônia Dona Isabel.
A travessia pela grande Lagoa dos Patos até Porto Alegre, e a subsequente subida do rio Caí por mais de sete horas, culminaram na chegada ao porto da pequena cidade de Montenegro, o local mais próximo que poderiam chegar de barco ao seu destino final. Um breve descanso de um dia precedeu a preparação para a jornada final até a colônia, que se fazia com carroças e mulas transportando os poucos pertences do grupo. Os homens, as mulheres aptas e as crianças maiores, caminhavam ao lado das carroças, enquanto as pequenas e as mulheres grávidas seguiam nas grandes carroças. O trecho era pedregoso e difícil, a maior parte dele percorrido em subida. Ao chegarem na colônia sempre acompanhados por funcionários do governo brasileiro, que serviam de guias, foram acomodados em outros barracões de madeira esperando a liberação dos seus lotes de terra.
No dia seguinte, os homens, determinados, partiram para conhecer e ajudar demarcar as terras adquiridas do governo. As mulheres e as crianças permaneceram nos barracões enquanto os alicerces do sonho eram estabelecidos. Como eram três famílias, cada uma adquiriu um grande lote 500.000 metros quadrados cada, uma área de terra vasta, coberta por uma vegetação exuberante e rios que seriam testemunhas da prosperidade por vir. Haviam realizado o sonho da propriedade acalentado por todos. Agora deixariam de calar sempre e dividir a safra com o patrão dono da terra. Eles agora eram os patrões. Com orgulho diziam "Desso, qua, in coesto paradiso, naltri ghe semo i paroni"!
Os primeiros anos foram bastante árduos, com derrubada de florestas, construção de casas precárias e o desbravamento do solo para plantio de milho e trigo. A colheita da primeira safra inaugurou uma era de melhoria nas condições de vida, e a família floresceu. Ao longo dos anos, cresceram não apenas em número, mas em riqueza e sucesso, tornando-se um exemplo do espírito pioneiro que impulsionou tantos imigrantes italianos na construção do Rio Grande do Sul.
Assim, a história dessa família italiana se entrelaçou com as paisagens verdejantes do Brasil, uma narrativa de coragem, determinação e sucesso que ecoa através das gerações.


Texto 
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS

sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

A Saga do Imigrante Alessandro Ferrazo: Uma Jornada da Itália à América e Além


 


Havia uma vez em Mondovì, um pequeno município na pitoresca província de Cuneo, um jovem chamado Alessandro Ferrazo, apelidado carinhosamente pela família como Piccin, cujo nascimento ocorreu em 1893. À medida que atingiu seus dezessete anos, Alessandro começou a indagar se o mundo não reservaria algo mais além da árdua vida que levava como camponês em sua pequena cidade. Inspirado por relatos empolgantes da América, compartilhados através de cartas enviadas por outros compatriotas emigrantes, Alessandro tomou a corajosa decisão de empreender uma jornada além-mar, ansioso por desbravar novas oportunidades.
Em outubro de 1910, uma chance única surgiu quando seu primo, Giovanni Mansuetto, conhecido como John, estava retornando aos Estados Unidos e convidou Alessandro para acompanhá-lo. Com coragem e o apoio do primo, eles embarcaram no navio Savoia a partir do porto de Genova, chegando finalmente a Nova York em 5 de novembro de 1910.
Ao longo dos dezoito dias no mar, Alessandro e John compartilharam histórias com os mais de mil outros imigrantes a bordo, oriundos de distintas regiões da Itália e até mesmo de outras nações. Após a chegada em Nova York, Alessandro passou pela inspeção médica em Castle Garden, a primeira estação de triagem para imigrantes recém-chegados a Nova York. Notavelmente, o médico, ao avaliar a expressão decidida em seus olhos, permitiu que ele seguisse adiante.
De Nova York, Alessandro e John partiram de trem em uma longa viagem para a ensolarada Califórnia. Chegando a San Giuseppe di San Francisco, ficaram maravilhados com a terra fértil e as plantações exuberantes de pessegueiros, ameixeiras e vinhas. Encontraram um emprego nas vastas terras de um rico e respeitado fazendeiro da região. 
Após alguns anos nas plantações, Alessandro decidiu mudar para uma fábrica de cimento, onde o pagamento era melhor. Trabalhou arduamente por quatro anos até que a Primeira Guerra Mundial estourou. Os jornais italianos instavam os compatriotas no exterior a retornarem para lutar, e Alessandro, junto com outros italianos, decidiu voltar para a Itália.
Embarcando em uma jornada incerta, Alessandro retornou à Itália com dez mil liras em economias. Enquanto se preparava para o próximo capítulo de sua vida, ele pensava: "Sarà mica la fine del mondo." A guerra o aguardava, mas Alessandro estava determinado a enfrentar o desconhecido com a mesma coragem que o levou da pacata Mondovì para a vibrante América.
Após o término do serviço militar na Primeira Guerra Mundial, Alessandro retornou a Mondovì, sua cidade natal, mas não mais como o jovem sonhador que partira anos atrás. Ferido em uma perna durante os conflitos, passou quase três meses no hospital militar de Padova, recebendo alta com uma sequela significativa: a perna atingida era notavelmente mais curta, causando-lhe uma evidente claudicação. Contudo, a guerra também lhe concedeu uma condecoração por bravura e uma indenização pelos ferimentos.
Em 1923, Alessandro, buscando novas oportunidades, embarcou novamente para a América. Dessa vez, optou por um trabalho mais leve e compatível com sua atual limitação, tornando-se zelador de um clube de golfe em Sacramento. Nessa cidade, ele encontrou uma jovem chamada Marion, filha de imigrantes italianos pioneiros, nascida e criada nos Estados Unidos. Alessandro e Marion se apaixonaram, casaram-se e, ao longo dos anos, tiveram três filhos e duas filhas.
Os filhos, honrando suas raízes, receberam nomes que refletiam a dualidade cultural de sua herança.
A vida da família transcorreu tranquilamente após a herança das duas casas dos pais de Marion. Alessandro faleceu com quase 90 anos, enquanto Marion seguiu-o dois anos depois. Ambos foram sepultados no antigo cemitério da cidade, onde suas histórias se entrelaçaram com as de outros imigrantes que contribuíram para a construção da comunidade.
Os netos da família Ferrazo, guiados pelo legado de seus avós, buscaram a educação e tornaram-se profissionais bem-sucedidos. Mantendo as tradições italianas, eles se tornaram pontes entre duas culturas, honrando a memória de Alessandro e Marion. A história da família Ferrazo perdura, tecida nas tradições e sucessos das gerações que seguiram os passos corajosos de seus antepassados.


quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

Raízes de Pederneiras: O Legado Italiano - Sobrenomes e Origens Marcantes

Imigrantes




Alguns Sobrenomes de Imigrantes Italianos 

Pederneiras São Paulo



  1. Adelmo Trazzi, 
  2. Adolfo Zampieri
  3. Alessandro Grijo, de Padua
  4. Amadeu Baldellas, de Veneza
  5. Andre Reghini, de Ferrara
  6. Angelo Della Coletta, de Conegliano
  7. Angelo Quartaroli, de Padova
  8. Angelo Zanoto, de Verona
  9. Antoni De Agostini
  10. Antonino Pisani, de Corigliano Calabro, Calábria
  11. Antonio Albano Casarvan, de Veneza
  12. Antonio Caputo, de San Nicola Arcella, Calábria
  13. Antonio Garrone, de Maglione, província de Turim
  14. Antonio Marcandeli, de Nápoles
  15. Antonio Martini, de Ferrara
  16. Antonio Mazzini, de Soresina, província de Cremona
  17. Antonio Minguili, de Pádua
  18. Antonio Roma, de Rovigo
  19. Antonio Stabile
  20. Artemio Mordacchini
  21. Attilio De Conti, de Treviso
  22. Augusto Manzato 
  23. Basilio Lodo, de Adria, Rovigo
  24. Bortolo Provido, de Grana, Asti
  25. Caetano Cestari, de Pádua
  26. Carlo Ghiraldelli
  27. Carlo Maran, de Pádua
  28. Carlo Moreto, de Verona
  29. Dario Beltramin, Veneto
  30. David Fabril, de Veneza
  31. Davide Erba, Verona
  32. Demetrius De Marco, da Calábria
  33. Dionisio Vicário, de Borgomanero, Novara
  34. Domenico Albonetti, da Comuna de Marradi, prov. de Florença
  35. Domenico Bonatelli, província de Brescia
  36. Domenico Sorze, de Pádua
  37. Emilio Serotine
  38. Eugenio Maccioca
  39. Eugenio Mai, de Verona
  40. Francesco Juliano Nicolielo
  41. Francesco Pelegrinelli, de Bracca, província de Bergamo
  42. Francesco Pisani, de Corigliano Calabro, Calábria
  43. Germano Borin, Verona
  44. Giacinto Bellissimo, da Calábria
  45. Giacomo Bertolini, de Udine
  46. Giacomo Cantarim, de Campolongo Maggiore,
  47. Giovanni Battista Guermandi, de Crevalcore, prov. de Bolonha
  48. Giovanni Bertotti, de Povo, província de Trento
  49. Giovanni Momesso
  50. Giovanni Scarlassara, 
  51. Giovanni Tozzi, da Província de Verona
  52. Giuseppe Artioli, Casttel Dario, Mantova
  53. Giuseppe Bessi, de Legnaro, Padua
  54. Giuseppe Comegno, de Roma
  55. Giuseppe Magnani, de Mantova
  56. Giuseppe Mascaro, da Calábria
  57. Giuseppe Moi, de San Giorgio di Mantova
  58. Giuseppe Schiavonni, Treviso
  59. Giuseppe Tonini, de Treviso
  60. Gregorio Arena, da Calábria
  61. Guglielmo Fornazari, da província de Nápoles
  62. Isaia Alburghetti
  63. Leonardo Furlani, de Povo, província de Trento
  64. Leonore Reghini, de Ferrara
  65. Luigi Spoliante, de Bolonha
  66. Luiz Grigoletto, de Verona
  67. Marcelo Dario, de San Dona di Piave, Província de Veneza
  68. Michele Stancari, Mantova
  69. Natale Fabbri, de Ferrara
  70. Natale Garbin, de Padua
  71. Nazareno Balestri
  72. Pietro Copede, de Vila Minozzo, Reggio Emilia
  73. Pietro Mussi, de Veneza
  74. Pompeo Pompei
  75. Rocco Tamanini 
  76. Salvadore Ladaga, Corigliano Calabro, Calábria
  77. Sante Frascarellii, de San Severino, Marche, Macerata
  78. Santi Bigelli, de Senigallia, Província de Ancona
  79. Secondiano Piccolo, de Udine
  80. Vittorio Minetto, de Veneza


quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

Imigrantes Italianos nos EUA: Contribuições Notáveis e Legado

 




De meados do século XIX até 1914, uma onda de italianos decidiu explorar horizontes além-mar, direcionando-se aos Estados Unidos, América do Sul e até mesmo à distante Austrália. A emblemática chegada em Nova York envolvia desembarques em Ellis Island, onde, além das típicas esperas ansiosas, enfrentavam exames médicos exaustivos.
No panorama de Manhattan, enquanto os imponentes arranha-céus e pontes ganhavam forma, a habilidade de operários era notável, sendo muitos deles de ascendência italiana. Em um episódio pouco conhecido, durante o terremoto devastador de 1906 em San Francisco, a comunidade italiana enfrentou perdas significativas, marcando um ponto doloroso na diáspora.
Contudo, em meio às adversidades, destaca-se o protagonismo de Amedeo Giannini. Este visionário italiano não apenas se estabeleceu nos Estados Unidos, mas fundou a Bank of America, uma instituição que transcendeu fronteiras e se tornou um pilar global no sistema financeiro. Antonio Meucci, inventor italiano que contribuiu para o desenvolvimento do telefone, embora o crédito muitas vezes tenha sido atribuído a outros. Frank Capra um imigrante italiano que se tornou um dos cineastas mais célebres de Hollywood, vencendo três Oscars e dirigindo clássicos como "It Happened One Night" e "It's a Wonderful Life". Fiorello La Guardia, um político ítalo-americano que se tornou prefeito de Nova York, deixando um legado de reformas significativas e liderança resiliente. Além de Amedeo Giannini, seu irmão Amadeo Pietro foi um influente banqueiro que co-fundou a Bank of Italy, que mais tarde se tornou o Bank of America. Antonio Meucci, inventor italiano que contribuiu para o desenvolvimento do telefone, embora o crédito muitas vezes tenha sido atribuído a outros.
Esses imigrantes italianos não apenas enfrentaram os desafios da adaptação a um novo país, mas também enriqueceram os Estados Unidos com suas realizações notáveis em campos diversos. Suas histórias exemplificam a resiliência e a contribuição significativa da comunidade italiana para a sociedade americana.
Além dos fatos históricos registrados, há narrativas envolventes de sonhos realizados, encontros improváveis e contribuições culturais que se entrelaçam com o tecido da sociedade americana. A trajetória desses italianos em terras estrangeiras é uma tapeçaria rica em nuances e histórias inspiradoras que vão além dos registros tradicionais.




terça-feira, 23 de janeiro de 2024

Resistência Feminina na Província de Belluno no Século XIX - O Trabalho Sazonal das Meninas

 


No crepúsculo do século XIX, nas belas terras de Belluno, no entorno da magnífica província de Trento, desdobrava-se um capítulo épico de luta e sobrevivência, protagonizado por jovens moças compelidas pelo flagelo da fome. Entre os frágeis anos de 10 a 12-13, essas meninas destemidas se entregavam a afazeres domésticos nas rústicas fazendas, enquanto, nos raros intervalos de liberdade, embrenhavam-se nos campos para a colheita de ervas e a pastagem dos animais.

Entrementes, as mulheres, desabrochando na plenitude dos 14 anos, ingressavam em uma esfera mais árdua do labor agrícola, revelando uma resiliência notável que desafiava as agruras da natureza. Imbuídas em tarefas que tradicionalmente incumbiam ao sexo masculino, elas se dedicavam incansavelmente ao cuidado meticuloso das plantações de milho, perfurando as fileiras de vinhas com determinação, realizando tarefas de pulverização de sulfato, com a pesada carga de bombas sobre os ombros, uma labuta que persistia ao longo de intermináveis dias.

Além disso, eram parte integral das operações essenciais da agricultura, engajando-se no árduo processo de corte e colheita de trigo e milho. Seu envolvimento transcendia os limites das plantações, pois manipulavam o feno com destreza, virando-o, empilhando-o e, por fim, carregando-o com graciosidade nos carros, compondo uma sinfonia de força e graça em meio à ruralidade imponente.

Na dança mágica da vindima, essas meninas- moças destemidas não apenas testemunhavam, mas eram protagonistas, contribuindo ativamente nas operações vitais, traçando os contornos de suas existências entrelaçadas com a terra que tanto exigia e, paradoxalmente, concedia. Assim, sob o firmamento austero da época, as jovens de Belluno traçavam uma narrativa de coragem e perseverança, onde a fome instigava uma dança ardente entre o dever e a resistência.



domingo, 21 de janeiro de 2024

Harmonie della Vita: Poesia tra la Salute e la Conquista della Guarigione


 


Harmonie della Vita: Poesia tra la Salute e la Conquista della Guarigione




Nei sentieri dell’esistenza, la salute danza,
Vestita di splendore, la speranza si diffonde.
Nel tempio corporeo, la poesia dell’equilibrio,
Dove la gioia tessi il suo canto leggero.


Tuttavia, ombre insidiose, la malattia intreccia,
Un verso cupo, il corpo trascurato.
La battaglia intrinseca, una fertile contesa,
Tra vigore e macchia, su questo fragile cammino.


Nei farmaci, strofe di redenzione delineate,
Il sollievo spunta, nelle mani benedette.
La malattia, malvagia, sfida la forza,
La medicina, versificazione che libera e rafforza.


Nella prevenzione, la poesia della salvaguardia,
Pratiche e abitudini, la preghiera della salute proclamata.
Il viaggio umano, verso per verso, intrecciato,
Tra la pulsante vitalità e il male che si avvicina.


Oh, corpo, carcere dell’esistenza,
Custode della salute, resistenza.
Nel compasso del tempo, la melodia si concepisce,
Tra la pienezza e il male che, silente, minaccia.


In questo modo, nelle strofe della vita da disegnare,
Salute e malattia, la danza a perseverare.
Che il poema della guarigione, con lettere d’amore coniate,
Sia intonato, robusto e senza timore.


All’alba della convalescenza, l’aurora risplende,
Canti di vitalità, la speranza abbraccia e riscalda.
In ogni pulsare, il cuore intona,
La melodia della vita, vibrante e buona.


L’organismo, una sinfonia in costante movimento,
Salute e malattia, eterna oscillazione nel fermento.
Ogni cellula, verso che grida,
La lotta persistente che la vita proclama.


Nel letto della guarigione, sboccia la poesia,
La malattia arretra, la salute si crea.
Oh, medicina, arte di trasmutare,
I mali in versi di pienezza a esprimersi.


Nelle pagine del tempo, il ciclo si delinea,
Salute e malattia, danza che non sorprende.
Che la poesia della vita, nella sua vasta complessità,
Sia scritta con inchiostro di prosperità.


Così, nelle strofe del destino da tessere,
Salute persiste, malattia a dissolversi.
Che la narrazione del bene prevalga,
Nel poema dell’esistenza, la salute a rinascere.




sábado, 20 de janeiro de 2024

Lamentos nas Marés da Condenação: O Desolador Destino dos Remadores de Veneza no Século XVI


 

No sombrio contexto do século XVI, a expressão "condannati al remare" sussurrava uma sentença cruel: prisioneiros condenados ao martírio das galés. Surgindo das terras germânicas, grupos de delinquentes, como sombras indesejáveis, eram escoltados por guardas através da Valsugana. No limiar de sua jornada sinistra, a Sereníssima República de Veneza, a Rainha do Adriático, os aguardava para impor a pena, na qual os condenados redimiriam seus pecados remando incansavelmente nas temíveis galés.

O nefasto comércio humano, urdido na Alemanha em 1556, estendeu seus tentáculos para outras cidades, proporcionando às autoridades germânicas uma maneira eficaz de se desvencilharem de elementos socialmente perigosos. Para Veneza, era uma fonte vital de remadores, uma necessidade acentuada, especialmente nos tumultuosos períodos de guerra. Na Guerra de Morea, o Duque da Baviera, Maximiliano Emanuel, estendeu a crueldade da pena de remo a mendigos, ciganos e caçadores, além dos criminosos comuns.

Os prisioneiros, como peões involuntários em um jogo perverso, eram reunidos na cidade de Munique, cruzavam os majestosos Alpes pelo Passo de Brenner, descendo o vale do Adige até Trento, onde ingressavam na traiçoeira Valsugana. O ritual sombrio atingia seu ápice em Primolano, quando os infortunados eram entregues ao podestà de Bassano, representante de Veneza. O preço da redenção variava entre 35 e 45 ducados, podendo atingir a exorbitante cifra de cem ducados para os condenados à prisão perpétua.

Uma cruel expedição, anotada nos anais em 1715, testemunhou 62 prisioneiros enviados pelo Eleitor de Mogúncia. No lazareto de Primolano, a realidade brutal se desdobrava diante do podestà de Bassano, Lorenzo Pisani, e seus 28 homens a cavalo, que recebiam apenas 59 prisioneiros, três deles consumidos pela sina antes mesmo de chegar ao seu destino final.

Primolano, entrelaçado nas teias da desgraça, não era o único palco dessa tragédia humana; em Val d’Astico, uma ponte de madeira sobre o rio Tora testemunhava a mesma prática macabra. Ali, sob a égide de Cesare, os prisioneiros eram entregues às triremes venezianas, um espetáculo dantesco de almas acorrentadas.

Essa tenebrosa gestão de prisioneiros, negociada por sombrias alianças, não era um monopólio veneziano; as autoridades do principado episcopal de Trento também recorriam a esse sinistro expediente para resolver o enigma da custódia. Nesse enredo sombrio, onde a vida era barganhada como moeda de troca, a jornada dos condenados à galé se tornava um capítulo macabro na história obscura e implacável da Valsugana.



sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

La Rinascita Dorata: Storie e Sapori Tra le Montagne di Castagne


 
In una remota valle montana, la vita contadina era un’arte di sopravvivenza. Terreni ostili sfidavano gli abitanti a raccogliere il prezioso nutrimento che la natura offriva con parsimonia. Funghi, patate e soprattutto castagne erano i pilastri dell’alimentazione.
La farina di castagne, frutto di pazienti essiccazioni e macinazioni, diventava il tesoro vitale per le famiglie di questa comunità isolata. Conservata con cura in robusti contenitori di legno, assomigliava a un blocco inattaccabile, estratto solo quando necessario. Una riserva culinaria poliedrica, trasformata in castagnacci, polente dolci, pane, pasta e biscotti, alimentava le giornate degli abitanti di questa regione montuosa.
Nella quiete di quei paesaggi maestosi, la castagna non solo era nutrimento, ma un simbolo di resilienza e ingegnosità per affrontare le sfide della vita di montagna.
In una di queste valli, la famiglia Di Marco viveva con l’arduo compito di trarre sostentamento dalla terra irsuta. Carlo, il capofamiglia, con le sue mani caleidoscopiche, sapeva trasformare castagne rugose in farina dorata. La sua casa profumava di castagnaccio appena sfornato e di storie tramandate da generazioni.
Una fredda mattina d’autunno, quando le foglie crepitavano sotto i piedi e il fumo delle case si mescolava all’aria cristallina, la figlia più giovane, Isabella, decise di esplorare il bosco. Avvolta da un caldo scialle di lana, si addentrò tra gli alberi secolari, affascinata dalla danza delle foglie dorate.
Isabella scoprì un antico albero di castagne, il cui tronco maestoso sembrava custodire segreti millenari. Mentre raccoglieva le castagne cadute, notò una luce flebile provenire da un’apertura nel terreno. Con timore ma anche con curiosità, si avvicinò e scoprì una grotta nascosta.
Dentro la grotta, Isabella trovò un antico molino abbandonato. Accanto ad esso, un libro ingiallito conteneva ricette di castagne dimenticate nel tempo. I suoi occhi brillarono di eccitazione mentre immaginava come potesse arricchire la tavola della sua famiglia con questi tesori culinari dimenticati.
Ritornata a casa, Isabella condivise la sua scoperta con la famiglia. Carlo, con gli occhi colmi di gratitudine, decise di riportare in vita quelle antiche ricette. La farina di castagne, già simbolo di vita, divenne un legame tra passato e presente, trasformando la cucina della famiglia Di Marco in un rituale che celebrava la storia di quei luoghi.
Così, nelle notti invernali, il profumo avvolgente del castagnaccio si mescolava con le risate della famiglia Di Marco, creando un racconto che, come le montagne stesse, resisteva al tempo. La castagna, da semplice alimento, divenne il filo magico che tessé le generazioni, trasformando la vita quotidiana in una storia di resilienza, scoperta e amore per la terra.
Le stagioni cambiavano, dipingendo il paesaggio montano con sfumature diverse. La famiglia Di Marco prosperava, e la loro tavola era impreziosita da nuove varianti di piatti a base di castagne. Isabella, cresciuta con la saggezza del bosco e la storia custodita nella grotta, diventò una maestra culinaria.
Il villaggio, inizialmente scettico, iniziò a scoprire i tesori gastronomici nascosti nelle ricette antiche. La farina di castagne dei Di Marco divenne rinomata, richiamando visitatori da villaggi vicini. Il loro modesto focolare si trasformò in un punto d’incontro per chi cercava non solo cibo, ma anche la calda ospitalità delle montagne.
Una sera, mentre la neve danzava fuori e il fuoco crepitava nell’antica stufa, la famiglia ricevette la visita di un anziano del villaggio. Portava con sé una scatola di legno logoro e un sorriso nostalgico. Dentro la scatola, c’erano ricette tramandate dalla sua famiglia da generazioni.
Con un nodo in gola, l’anziano raccontò di come la farina di castagne avesse un tempo sostenuto le loro comunità durante inverni rigidi. La famiglia Di Marco ascoltava con rispetto, riconoscendo il legame speciale tra passato e presente, tra i loro sforzi e quelli delle generazioni precedenti.
Decisero di unire le forze, creando un festival annuale delle castagne, dove le famiglie del villaggio condividevano le loro tradizioni culinarie. Il profumo invitante di castagnaccio si mescolava con le risate e le storie, creando un’atmosfera di festa che riempiva l’aria di gratitudine e apprezzamento per la vita montana.
Così, nel cuore di quella valle circondata da maestose cime, la castagna non era solo un alimento, ma un simbolo di connessione tra le generazioni, di comunità che prosperavano grazie alla condivisione delle proprie ricchezze culinarie e della storia intessuta nei fili del tempo.
E così, il festival delle castagne divenne un evento annuale che univa cuori e menti nel villaggio di montagna. La tavola degli Di Marco, ricca di prelibatezze a base di castagne, divenne il centro di una tradizione che trascendeva il cibo stesso.
Le stagioni passavano, ma la resilienza della comunità e l’amore per la terra rimanevano saldi. La farina dorata di castagne, tramandata attraverso le generazioni, divenne una moneta di scambio tra famiglie, un segno tangibile di solidarietà e condivisione.
Con il passare degli anni, il villaggio prosperò, attrattivo non solo per le sue pittoresche montagne, ma anche per la ricchezza delle sue tradizioni culinarie. La storia delle castagne, intrecciata con la vita quotidiana delle famiglie, diventò un patrimonio condiviso che veniva raccontato di generazione in generazione.
E così, sotto il cielo stellato delle notti montane, la comunità celebrava la vita, l’amore e la continuità. La castagna, un tempo semplice nutrimento, aveva acquisito un significato più profondo, diventando il collante che univa il passato al presente e proiettava la comunità in un futuro luminoso, sempre radicato nelle sue tradizioni di montagna.

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS




segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

O Pacto das Vinhas

 


O Pacto das Vinhas

Em tempos passados, numa pequena vila italiana onde as colinas se vestiam de vinhedos e o aroma do grão fresco permeava o ar, Giovanni, um experiente viticultor, estava prestes a fechar um negócio que mudaria o destino de seu vinhedo. Numa tarde ensolarada, encontrou-se com Marco, um comerciante respeitado conhecido por sua palavra firme.

“Giovanni, este negócio pode mudar o destino da tua adega,” disse Marco, enquanto contemplavam as vastas plantações de uvas.

Com um aperto de mãos, decidiram selar o destino de seus vinhedos. Marco, um homem de honra, assegurou a Giovanni que seu vinho seria celebrado em todas as mesas do país.

As colinas ecoavam promessas silenciosas, e o aperto de mãos era mais do que um acordo; era um pacto esculpido na história da terra.

Décadas se passaram, e a adega de Giovanni prosperou, suas uvas tornaram-se símbolo de qualidade. Marco, agora um ancião sábio, voltou à vila para testemunhar o legado que juntos construíram. Em frente às vinhas douradas, renovaram o pacto com um olhar cúmplice, lembrando-se de como uma simples promessa, selada por uma aperto de mãos, transformou suas vidas.

A fama do vinho de Giovanni se estendeu além dos limites nacionais, alcançando países distantes. As colinas, uma vez silenciosas guardiãs de segredos, agora contavam histórias de sucesso e perseverança. Os descendentes de Giovanni e Marco uniram-se para manter viva a tradição, honrando o vínculo estabelecido pelos antepassados.

Nas noites estreladas, Giovanni caminhava entre os vinhedos, ainda fascinado pela magia daquele encontro fatídico com Marco. Sua amizade, transformada em uma parceria vitoriosa, continuava a desafiar o tempo. O vilarejo, antes sombrio e tranquilo, transformou-se em um lugar de festa e celebração, onde as pessoas se reuniam para homenagear a promessa feita por dois homens sábios.

Cada aniversário do acordo era comemorado com um banquete farto, com os cálices erguidos em honra à parceria eterna. Os jovens cresciam ouvindo a história de Giovanni e Marco, aprendendo o valor de uma palavra dada e de um compromisso mantido. As colinas, agora animadas pela vitalidade da comunidade, carregavam os sinais indeléveis de uma amizade que havia resistido às provações do tempo.

O destino da adega de Giovanni e das colinas circundantes estava entrelaçado com o fio da fidelidade e dedicação. O eco daquele primeiro encontro ainda ressoava, pois as gerações futuras continuavam a cultivar as vinhas, honrando a promessa de dois homens cujo vínculo havia resistido ao desgaste do tempo.