segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Os Camponeses Italianos e o Grande Êxodo

 
Desembarque dos imigrantes de Antonio Ferraguti




Desde o ano de 1861, milhões de italianos, homens, mulheres e crianças tiveram a necessidade de sair do país em busca de uma melhor sorte no exterior, muitas vezes em países longínquos da América. Nessas suas novas pátrias foram recebidos com os mesmos preconceitos que hoje muitas vezes alguns ainda reservam aos imigrantes que chegam à Itália.

A maioria dos emigrantes italianos, mais de 14 milhões, partiu nas décadas que se seguiram à unificação da Itália, fenômeno que foi denominado a "grande emigração" (1876-1915).

Vilas inteiras viram a sua população cair pela metade nas décadas entre os séculos XIX e XX. Quase um terço tinha como destino dos sonhos a América do Norte, então ávidos por mão de obra. Destinos como New York eram os mais populares. Bem antes de 1861 já os genoveses partiam para a Argentina e Uruguai.

Da mesma maneira que os imigrantes que hoje chegam aos milhares na Itália, não vinham acompanhados por toda a família. A emigração começou como temporária e geralmente somente era composta por homens, quase sempre solteiros.


Desembarque dos imigrantes de Antonio Rocco




Famílias inteiras de camponeses da região do Vêneto e das províncias do sul da Itália, passaram a emigrar para o Brasil nos últimos 25 anos do século XIX, principalmente após 1888, quando se deu a abolição da escravidão, deixando a grande nação sul-americana necessitada de mão de obra. Campanhas oficiais organizadas, para angariar emigrantes, foram realizadas por toda a Itália por representantes do governo imperial do Brasil, que anunciavam um vasto programa de colonização. Nesse programa estava incluída a viagem grátis para aqueles que embarcassem com toda a família.

Os emigrantes do norte da Itália embarcavam normalmente pelo Porto de Gênova ou até mesmo por Le Havre, na França, enquanto que aqueles do sul embarcavam pelo Porto de Nápoles.

À bordo, eram visíveis as diferenças de tratamento para os passageiros emigrantes que estavam na terceira classe, a maioria deles representada pelas famílias de pobres camponeses que viajavam gratuitamente ou com passagens subsidiadas, e aqueles da primeira, ou mesmo da segunda classe, que pagavam pelos bilhetes, era muito grande. A maioria dos emigrantes viajava na terceira classe e não tinham nenhum conforto para enfrentar mais de um mês de viagem pelo oceano.


Caderno dominical do Jornal Corriere della Sera



Nos Estados Unidos desembarcavam geralmente no Porto de Ellis Island, na baía de New York, onde eram submetidos a um rigoroso exame médico e de aptidão físico e mental que podia durar até três dias e os rejeitados sumariamente proibidos de entrar no país e deviam empreender a viagem de volta, as tristes viagens de retorno.

Os emigrantes cujo destino era a América do Sul, principalmente Brasil, Argentina e Uruguai, encontravam maiores facilidades para entrar. O exame médico no desembarque não era tão rigoroso e se não houvesse ocorrido alguma comunicação de uma epidemia à bordo ou mesmo de casos isolados de doenças infectocontagiosas, o emigrante podia desembarcar normalmente e proseguir até o seu destino final.

No Brasil, nos primeiros anos, desembarcavam na Ilha das Flores, no Porto do Rio de Janeiro, onde havia um grande aparato construído para o recebimento dos imigrantes, com hospital e uma hospedaria, onde ficavam provisoriamente alojados aguardando o prosseguimento da viagem. Com o rápido crescimento da imigração nos anos seguintes, onde milhares de estrangeiros chegavam anualmente ao Brasil, também o Porto de Santos passou a ser utilizado, principalmente para aqueles imigrantes que ficariam no estado de São Paulo.


Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta

Erechim RS