sábado, 5 de março de 2022

A Emigração Italiana um Importante Fenômeno Social


Família italiana entorno da mesa




A grande emigração foi um importante fenômeno social que influenciou decisivamente a história da Itália, contribuindo para a  transformação do país de uma das nações mais atrasadas da Europa, no final do século XIX, em um dos países mais ricos e desenvolvidos no século XX. 

Esse verdadeiro êxodo durou praticamente cem anos, de 1876 a 1970, e envolveu milhões de pessoas, das mais variadas classes sociais, predominando, evidentemente, aquelas mais desafortunadas, e interessou com maior ou menor intensidade  todas as  regiões da Itália. 


Emigrantes à bordo

 

Didaticamente, a grande emigração italiana, pode ser dividida em quatro fases. A primeira delas ocorreu entre os anos de 1876 e o início de 1900. Essa emigração teve início após a grande crise agrária dos anos 1870, afetando mais de 5 milhões de pessoas e se caracterizou por ser na sua maior parte uma emigração individual e predominantemente masculina.


Esses emigrantes, que saíram em sua grande maioria do norte da Itália, em direção principalmente aos países europeus vizinhos, mais desenvolvidos, onde havia grande necessidade de mão de obra e para as grandes plantações agrícolas dos países americanos, especialmente Brasil e Argentina.






A segunda fase da emigração italiana, ocorreu entre os anos 1900 e durou até o início da grande guerra mundial de 1914 e coincidiu também com o desenvolvimento industrial italiano da era Giolitti, com a consequente fuga do campo em direção às cidades e suas fábricas.

A emigração desse período, principalmente aquela direcionada para o outro lado do oceano, foi composta em mais de 70%, por homens que habitavam as regiões meridionais da Itália. Outros por sua vez, se dirigiram para os países europeus mais ricos, que na ocasião experimentavam grande desenvolvimento, principalmente para a França, Suíça e Alemanha, para trabalharem nas minas de carvão, construção de estradas e ferrovias.

A emigração italiana na sua terceira fase, ocorreu no período compreendido entre as duas guerras mundiais. Ela se caracterizou por uma desaceleração do fenômeno emigratório devido às medidas restritivas à imigração nos tradicionais países anfitriões e também pela política contrária a emigração durante o   governo fascista.





A quarta fase, ocorreu entre os anos de 1946 e 1970, e se caracterizou por uma forte migração interna dos italianos em direção aos centros industriais do Norte do país, que viviam o boom econômico do pós guerra.

Os países que mais receberam os emigrantes italianos foram: Estados Unidos, Brasil, Argentina e Austrália cujos governos tinham aprovado importantes incentivos para a imigração. 

Quanto aos destinos da emigração italiana nos países vizinhos na própria Europa os que mais receberam italianos foram: França, Alemanha, Suiça e mais tarde também a Bélgica, que naquele período demandava mão de obra para o trabalho em suas minas de carvão. 

A emigração sazonal experimentada muitos anos do grande êxodo já tinha provocado profundas transformações na sociedade rural italiana nas localidades de origem e serviu de  preparação para reduzir analfabetismo, mudar a mentalidade e o estilo de vida desses emigrantes quando retornavam à sua terra natal. Também ajudou as mulheres a se emanciparem na medida que, com a saída dos homens, foram obrigadas a assumirem  novas responsabilidades na gestão da economia familiar, antes tarefa exclusiva masculina.

Desde os países que os acolheram, os emigrantes enviavam regularmente importantes remessas de dinheiro que permitiram às suas famílias sobreviverem e também saldarem os compromissos e as dívidas contraídas. Essas remessas constituíram um verdadeiro rio de ouro, como se expressou um ministro italiano da época, para a combalida economia italiana, pois, com o afluxo das moedas estrangeiras foi incentivado o consumo e o estimulo do desenvolvimento industrial no país. 

As poupanças conseguidas com essas remessas de valores feitas pelo emigrantes ficavam  também  depositadas em bancos e caixas econômicas rurais, valores esses que eram investidos por esses bancos em títulos do tesouro nacional e ficavam a disposição do Estado para financiar a modernização da Itália. 

Foi também com a venda das passagens de milhares de viagens dos emigrantes para o exterior que as receitas da marinha mercante italiana cresceram e então foram usadas para a modernização da frota, a qual já mostrava sinais evidentes de sucateamento. 

Na economia das famílias, essas remessas de valores do exterior serviram para melhorar o padrão de vida e o empréstimo de dinheiro à  parentes, geralmente, com taxas mais baixas que o mercado normal, geravam lucros que foram usados ​​para iniciar pequenos negócios. 



Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS