terça-feira, 6 de março de 2018

Hábitos Sociais dos Vênetos na Zona Rural do Rio Grande do Sul - O Filò



Hábitos Sociais dos Vênetos na Zona Rural do Rio Grande do Sul


Entre os importantes hábitos sociais cultivados pelos imigrantes vênetos que colonizaram as terras gaúchas, estava o do "filò", que era um encontro fraternal entre os componentes de famílias vizinhas, que tinha início com o cair da noite, após uma jornada dura de trabalho no campo. Era um momento para o relaxamento e descontração, que unia jovens e velhos de ambos os sexos. Este hábito, que foi trazido da Itália, servia como um momento de ajuda recíproca com a troca de informações pessoais e coletivas, de confidências e conselhos sobre a saúde, o andamento da plantação e das colheitas. Era o espaço em que se podia saber das novidades ocorridas com as famílias vizinhas, tanto as boas como também aquelas tristes. Este encontro informal ocorria cada vez na casa de um vizinho, sempre nas estrebarias, junto com o gado, que com o seu calor aquecia o ambiente, assim como se fazia por séculos nas terras de origem, deixadas para trás com a emigração. Cantavam se estavam alegres, jogavam, contavam histórias e ao mesmo tempo faziam pequenos trabalhos manuais, em que todos participavam. As mulheres, enquanto falavam, faziam cestas, bolsas, estas chamadas de "sporte" e chapéus com a palha entrelaçada - la dressa - para uso da família e à vezes também para serem vendidos no mercato mais próximo. Nos dias de inverno também faziam trabalhos com a lã, como o tricot ou remendavam as roupas da família. As moças que pretendiam se casar e aquelas já noivas, aproveitavam para fazer o próprio enxoval. Sempre era servido alguma coisa para comer e beber, conforme a estação do ano. Cada família levava alguma coisa de casa, aquilo que podia, e juntos, dividiam alegremente. O filó era também o momento esperado, em que os rapazes e moças travavam conhecimento e começavam fortuítos namoros, início da maioria dos casamentos daquela época. O filó foi também a maneira encontrada pelas coletividades de imigrantes para, com o estar juntos reunidos, poderem mitigar o sofrimento e as saudades da terra natal, dos parentes e amigos deixados para trás com a radical mudança de vida causada pela emigração. Com esses encontros firmava-se cada vez mais o sentimento de pertencer a uma comunidade e isso criava as condições para a fixação e o enraizamento daqueles imigrantes. Juntamente com a forte e decisiva presença feminina, os filós muito concorreram para o sucesso alcançado pela imigração vêneta e italiana em solo gaúcho.

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS


Livro "Veneti in Rio Grande do Sul" vários autores e supervisão de Giovanni Meo Zilio







Veneti in Rio Grande do Sul



Veneti in Rio Grande do Sul, 2006a cura di Giovanni Meo Zilio

Quaderni dell'A.D.R.E.V. n. 11pp. 144, ISBN 978-88-8063-525-3

Settore storico a carico di:

L. DE BONI-R. COSTA, Ndemo in Merica. I Triveneti nel Rio Grande do Sul

E.L. BISOGNIN-J.V. RIGHI-V. TORRI, La presenza italiana nella Quarta Colonia del Rio Grande do Sul. Una prospettiva storica.


Settore linguistico-etnografico a carico di:


H. CONFORTIN - Luiz C. B. PIAZZETTA, Lingua, cultura, immigrazione italiana nel Rio Grande do Sul

T. MARASCHIN, Descrizione della parlata dei discendenti italiani nella città di Santa Maria, nel Rio Grande do Sul

H. SANGOI ANTUNES, L’insegnamento bilingue può essere un modello che garantisce la preservazione dei dialetti all’interno di una comunità italo-brasiliana?


Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta

Erechim RS

Os Imigrantes Italianos e os Vênetos no Rio Grande do Sul

Emigrantes Italianos no Porto de Gênova esperando o embarque


Os Imigrantes Italianos e os Vênetos no RS

 O Rio Grande do Sul foi uma terra disputada pelas coroas da Espanha e Portugal e a expansão da sua população teve o seu início com a chegada do século XVIII. 
Depois de muitos anos de cruentas lutas, a então Província foi delimitada e se deu início a sua colonização de forma sistemática. Assim no ano de 1824 chegaram os imigrantes alemães e mais tarde, cinquenta anos após, em 1875 as primeiras famílas de colonos italianos. 
Tendo obtido bons resultados com as colônias alemãs, no ano de 1875, a Província recebeu do Império as colônias Dona Isabel (que mais tarde se chamou de Bento Gonçalves) e Conde D'Eu (depois chamada de Garibaldi) destinadas a receber imigrantes italianos em geral, sendo que os vênetos eram a grande maioria. 
Depois foram criadas outras colônias: a Colônia Fundos de Nova Palmira, logo depois rebatizada como Colônia Caxias e também a Colônia Silveira Martins
O primeiro grupo de imigrantes italianos chegou no Rio Grande do Sul em 1875 e se estabeleceu na Colônia Nova Palmira, no local chamado Nova Milano (hoje Farroupilha). Neste mesmo ano outros imigrantes italianos em geral e vênetos em particular se estabeleceram nas Colônias Conde D'Eu e Dona Isabel e já em 1877 na Colônia Silveira Martins, vizinho a atual cidade de Santa Maria.
Os imigrantes italianos que vieram para as novas colônias no Rio Grande do Sul proveniam, na sua quase totalidade, do norte da Itália (Vêneto, Lombardia, Trentino Alto Adige, Friuli Venezia Giulia, Piemonte, Emilia Romagna, Toscana, Liguria). Um dado estatístico nos revela que por zona de proveniência: Vênetos 54%, Lombardos 33%, Trentinos 7%, Friulanos 4,5% e os demais 1,5%. Como se pode ver os vênetos e os lombardos constituíram 88% dos imigrantes fixados na Província do Rio Grande do Sul. 
Os imigrantes italianos chamados para substituir mão de obra escrava, com o advento da abolição da escravidão no Brasil, rapidamente, em poucos anos, os territórios à eles destinados para colonização, já estavam inteiramente ocupados, obrigando os que chegavam, e também aos filhos desses pioneiros, a procurar novas terras, mais distantes das primeiras colônias. Assim foram surgindo outras colônias, sempre com a esmagadora predominância numérica dos vênetos: atuais cidades de Alfredo Chaves, Nova Prata, Nova Bassano, Antônio Prado, Guaporé e um pouco mais tarde, Vacaria, Lagoa Vermelha, Cacique Doble, Sananduva e Vale do Rio Uruguai, como Casca, Muçum, Tapejara, Passo Fundo, Getúlio Vargas, Erechim, Severiano de Almeida.



Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS

As Colônias Italianas no Rio Grande do Sul

Distribuição dos Lotes em Caxias do Sul



As Colônias Italianas no Rio Grande do Sul


Após a bem sucedida experiência de colonização alemã no Rio Grande do Sul, fundada em 1824, o governo imperial brasileiro iniciou um processo semelhante com imigrantes de origem italiana. Assim, em 1875, começaram a chegar, na província de São Pedro do Rio Grande do Sul, as primeiras famílias de imigrantes italianos, sendo que os vênetos constituiram-se no contingente mais numeroso, atingindo no final a percentagem de 54% do total dos italianos desembarcados no Estado.
Nessa época o Rio Grande do Sul já contava com uma população de aproximadamente 400 mil habitantes e o governo provincial aproveitando a doação de terras, de acordo com a lei imperial de 1848, iniciou uma política imigratória, sendo a primeira província a fundar colônias com fundos próprios, podendo assim administrá-los por conta própria. Em 1875 iniciou a criação de quatro novos núcleos destinados ao assentamento de colonos imigrantes italianos. Assim foram fundadas as Colônias de Dona Isabel e Conde D' Eu (logo mais conhecidas como Bento Gonçalves e Garibaldi respectivamente), a Colônia Fundos de Nova Palmira (depois rebatizada de Colônia Caxias) e a Colônia Silveira Martins, também conhecida como Quarta Colônia, por ter sido o quarto núcleo de colonização italiana a ser criado no RS naquele período. Breve estas quatro colônias pioneiras deram lugar a dezenas de municípios gaúchos. Temos então:

1- Colônia Caxias deu origem a Caxias do Sul, Flôres da Cunha, Farroupilha e São Marcos

2- Colônia Dona Isabel formou Bento Gonçalves


   3- Colônia Conde D' Eu originou Garibaldi e Carlos Barbosa

  4- Colônia Silveira Martins deu origem as cidades de Silveira Martins, Vale Vêneto, Ivorá, Nova Palma, Faxinal do Soturno, São João do Polesine e Santa Maria



À partir de 1884, uma vez totalmente ocupadas esses quatro núcleos pioneiros, foram sendo criadas outras colônias do outro lado do Rio das Antas e assim surgiram:

1.        Colônia Antonio Prado, deu origem ao atual município de mesmo nome

2. Colônia Alfredo Chaves, deu origem a Veranópolis, Nova Prata, Nova Bassano e Cotiporã

3. Colônia Guaporé, origem dos municípios de Guaporé, Encantado, Muçum, Serafina Correa e Casca

4. Colônia Encantado, originou os municípios de Encantado e Nova Brescia.

Aos poucos, essas colônias foram se expandindo cada vez mais, sempre em direção do Rio Uruguai, divisa com Santa Catarina. Foram surgindo novas colonias nas atuais cidades de: Tapejara, Getúlio Vargas, Erechim, Severiano de Almeida, Sananduva, Paraí, Nova Araçá, Ciríaco, Davi Canabarro, Marau, Anta Gorda, Ilópolis, Putinga, Arvorezinha, Ipê.


Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta

Erechim RS