Mostrando postagens com marcador brasil. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador brasil. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 16 de junho de 2025

O Destino de Vittorio Belomonte


O Destino de Vittorio Belmonte


Na fria alvorada de 2 de julho de 1904, Vittorio Belomonte fechou a pequena mala de couro que sua mãe havia lhe dado e, com um último olhar para a casa onde crescera, saiu sem olhar para trás. O destino o chamava.

Nascido em 1882, em um vilarejo esquecido nas montanhas do Friuli, Vittorio passara a juventude trabalhando nos bosques, cortando lenha para senhores que nunca lembravam seu nome. Seu pai, Giovanni, morrera cedo, deixando a mãe e três irmãos na miséria. A fome tornara-se uma sombra constante, e, à medida que os anos passavam, Vittorio percebeu que seu destino não estava ali, mas além-mar.

A viagem até Longarone foi silenciosa. Seus companheiros, jovens de sua vila, compartilhavam a mesma melancolia. O condutor da carroça bradou impaciente para que subissem, e um nó apertou a garganta de Vittorio. Com um último olhar melancólico, ele contemplou seu vilarejo: as casas de pedra aconchegadas umas às outras, como se buscassem calor, e as montanhas imponentes ao fundo, seus picos eternamente coroados de neve. O vento gelado trouxe o cheiro da terra úmida e da lenha queimada nas lareiras. Vittorio suspirou fundo, gravando aquela imagem na memória.

Em Longarone, pegou seus documentos para deixar o país e seguiu para Veneza. As ruas estreitas e os canais da cidade lhe pareceram um outro mundo. Mas não havia tempo para contemplação. O passaporte foi carimbado, e, com os trocados que tinha, comprou pão, salame e um frasco de vinho, o suficiente para a jornada. Quando o trem para Gênova chegou, ele embarcou sem hesitação. Não havia mais volta.

A Estação de Gênova fervilhava de emigrantes, um turbilhão de rostos ansiosos e mãos calejadas segurando malas gastas pelo tempo. Homens e mulheres, vestidos com suas melhores – e muitas vezes únicas – roupas de viagem, deslocavam-se em meio à multidão, esbarrando-se sem querer, trocando olhares de cumplicidade e medo.

Poucos tinham dinheiro suficiente para um hotel decente, então amontoavam-se em uma pequena estalagem de teto baixo e paredes úmidas, escondida em uma viela sombria perto do porto. O lugar era abafado, impregnado pelo cheiro de suor e peixe salgado, e os murmúrios dos hóspedes misturavam-se ao ranger do assoalho gasto. Todos temiam os perigos daquela cidade portuária, onde golpistas e ladrões rondavam como lobos à espreita de presas fáceis. Qualquer descuido e o pouco que possuíam poderia desaparecer em um instante.

Ainda assim, mesmo em meio à incerteza, havia um sentimento pulsante no ar: a promessa de um novo começo, a esperança de um destino melhor do outro lado do oceano. A tensão e a expectativa eram quase palpáveis, como a eletricidade antes de uma tempestade.

Vittorio dividiu um quarto apertado e mal ventilado com outros três friulanos. Os beliches rangiam a cada movimento, e o cheiro de mofo misturava-se ao odor de corpos cansados e roupas úmidas. O sono veio apenas em fragmentos inquietos, interrompido pelo barulho da cidade que nunca dormia e pelo medo latente do que estava por vir.

Ao amanhecer, espreguiçaram-se sob a luz fraca que se infiltrava pelas frestas da janela e, sem muito a fazer além de esperar a hora do embarque, decidiram explorar a cidade. Caminharam pelas ruelas estreitas de Gênova, onde vendedores gritavam ofertas em dialetos diversos e carroças espirravam lama nos transeuntes. O cheiro de pão recém-assado se misturava ao odor forte do porto, onde o mar e o suor dos estivadores se fundiam em uma atmosfera pesada.

Então, ao dobrarem uma esquina, a visão do vapor Regina Elena os fez parar. Ele estava ancorado no cais, imenso e imponente, como um colosso de ferro e vapor. Suas chaminés erguiam-se como torres de um castelo flutuante, e a madeira dos conveses reluzia sob o sol da manhã. Para Vittorio, o navio era uma promessa e uma ameaça ao mesmo tempo. Dentro dele estava seu futuro, sua esperança e também o medo do desconhecido.

Por um instante, o mundo ao redor pareceu silenciar. O burburinho dos estivadores, o ranger das cordas sendo puxadas, até mesmo o tilintar das moedas nas mãos dos vendedores ambulantes — tudo pareceu distante, abafado, como se o tempo tivesse parado.

Vittorio sentiu o coração bater pesado no peito. O gosto salgado do ar encheu seus pulmões, misturado ao cheiro de carvão queimado que escapava das entranhas do navio. O Regina Elena estava ali, gigantesco, como um portão entre dois mundos — o passado que ele deixava para trás e o futuro incerto que o aguardava.

Engoliu em seco. Não havia mais volta. A Itália, sua terra, sua infância, seus bosques familiares e os rostos que jamais voltaria a ver... tudo ficaria para trás no momento em que ele pisasse naquele convés. A única direção agora era para frente.

No dia 29, Vittorio pagou a passagem e submeteu-se à rigorosa inspeção médica. Os oficiais o examinaram com olhares frios e mecânicos, apalpando-lhe os braços, verificando seus dentes, como se avaliassem a resistência de um animal de carga. Foi vacinado com uma agulha áspera e sem cerimônia, sentindo a ardência do líquido em sua pele. Cortaram-lhe os cabelos sem cuidado, deixando fios grossos caírem sobre seus ombros como vestígios da vida que abandonava. Seus pertences foram revistados por mãos desconhecidas, que reviraram sua mala como se buscassem algo de valor escondido.

A noite anterior ao embarque foi longa e inquieta. O quarto apertado da decadente estalagem estava impregnado pelo cheiro de suor e mofo, o colchão fino não oferecia conforto algum. Ele escutava a respiração pesada de seus companheiros de quarto — roncos intermitentes, murmúrios febris de sonhos turbulentos — misturados ao som distante das ondas quebrando contra as pedras do porto. Cada rajada de vento que entrava pela janela mal fechada trazia o cheiro salgado do mar, lembrando-o de que, dali a poucas horas, sua vida mudaria para sempre. 

Na manhã do dia 30, Vittorio caminhou até o porto com passos firmes, mas o coração acelerado. O cais fervilhava de gente. Homens gritavam ordens em dialetos diversos, carregadores passavam apressados equilibrando malas e fardos pesados nos ombros, e crianças agarravam-se às saias das mães, assustadas com a confusão ao redor. O cheiro do mar misturava-se ao de carvão queimado e peixe fresco, formando uma névoa espessa de sal e fuligem que pairava no ar.

Antes de seguir para o embarque, Vittorio comprou alguns limões — diziam que ajudavam contra o enjoo — e, apoiando-se em um caixote de madeira, escreveu uma última carta para a família. Escolheu as palavras com cuidado, tentando transmitir esperança, embora o peso da despedida lhe apertasse o peito.

A fila para embarque serpenteava pelo cais, arrastando-se lentamente como uma procissão de almas ansiosas. Os funcionários da companhia de navegação verificavam documentos com olhares indiferentes, enquanto os passageiros aguardavam sob o sol escaldante, segurando seus pertences com desconfiança. Quando chegou sua vez, Vittorio foi submetido a mais uma inspeção, os olhos atentos dos agentes percorrendo seu rosto e suas roupas como se buscassem algo suspeito.

Por fim, um funcionário lhe entregou um número rabiscado em um pedaço de papel sujo e indicou a entrada do navio. Descendo por corredores estreitos e abafados, iluminados apenas por lampiões oscilantes, Vittorio finalmente encontrou sua beliche: um espaço exíguo, onde mal cabia deitado. O colchão fino era pouco mais que um pedaço de pano gasto sobre tábuas duras, e a manta áspera cheirava a mofo. Ele se sentou devagar, sentindo o metal gelado da estrutura contra as mãos trêmulas.

Lá fora, os apitos soaram longos e solenes. A terra firme começava a se afastar. Pouco depois do meio-dia, soaram três apitos longos. As cordas foram soltas. O vapor Regina Elena moveu-se lentamente, afastando-se do porto. O barulho das despedidas ecoava no ar. Mães choravam, pais levantavam os chapéus, crianças acenavam sem entender. A bordo, Vittorio e seus companheiros retribuíam o gesto, engolindo as lágrimas. O hino real tocava, seguido pela Marcha Garibaldi. Uma pequena banda saudava aqueles que partiam, soldados de um exército invisível em busca de uma vida melhor.

Os primeiros dias foram um teste de resistência. No porão apertado onde dormia, o ar era denso, carregado do cheiro acre de suor, mofo e vômito. O calor sufocante tornava o ambiente ainda mais insuportável, e o balançar incessante do navio fazia com que muitos passageiros passassem mal. O som dos gemidos de náusea e da tosse seca de crianças doentes preenchia a escuridão.

A comida era pouca e sem sabor: pedaços de pão endurecido, caldo ralo que mais parecia água suja e, ocasionalmente, um punhado de batatas cozidas. As filas para receber as rações eram longas, e os mais fracos frequentemente ficavam sem nada.

Mas Vittorio resistia. Ele se recusava a ceder à fraqueza, mantendo a disciplina que aprendera nos campos de sua terra natal. Durante o dia, sempre que podia, escapava do porão e subia ao convés. Lá, o vento salgado refrescava sua pele, e a visão do oceano infinito lhe dava a ilusão de liberdade. Ficava horas observando as ondas, tentando ignorar o estômago vazio e a saudade crescente.

À noite, quando finalmente conseguia dormir, sua mente o levava de volta a Friuli. Sonhava com os bosques úmidos após a chuva, com o cheiro da terra revirada pelo arado, com a voz de sua mãe chamando-o para a ceia. Mas, ao acordar, tudo o que via eram paredes de ferro corroídas pelo tempo e corpos exaustos amontoados ao seu redor. A viagem mal havia começado, e já parecia uma eternidade.

No décimo quinto dia de viagem, o oceano, antes calmo, se transformou em um monstro furioso. O céu escureceu de repente, como se a noite tivesse caído em pleno dia. O vento uivava entre os mastros, e trovões ribombavam sobre as águas agitadas. Quando as primeiras ondas colossais atingiram o casco do Regina Elena, o navio estremeceu como se fosse feito de papel.

No porão, o terror tomou conta dos passageiros. Cada balanço da embarcação lançava corpos contra as paredes de ferro. Gritos se misturavam ao estrondo das ondas. Algumas mães, apavoradas, agarravam os filhos contra o peito e rezavam baixinho. Outros simplesmente choravam, sem forças para reagir.

Vittorio segurava-se como podia, os dedos crispados na borda da beliche. Um homem ao seu lado foi jogado ao chão e bateu com a cabeça em uma viga. O sangue se espalhou pelo assoalho de madeira, mas ninguém teve tempo de socorrê-lo. Tudo o que importava era sobreviver àquela noite interminável.

Lá fora, o mar tentava engolir o Regina Elena. Ondas monstruosas varriam o convés, levando caixas, barris e qualquer coisa que não estivesse presa. Tripulantes gritavam ordens que ninguém conseguia ouvir, enquanto lutavam para manter o navio no curso.

Então, tão repentinamente quanto começou, a tempestade passou. O silêncio foi quebrado apenas pelo som do mar ainda revolto e dos soluços abafados no porão. O estrago era visível. Malas e roupas encharcadas espalhavam-se pelo chão, alguns passageiros estavam feridos, outros simplesmente paralisados pelo medo.

Mas o Regina Elena seguia firme. E com ele, os sonhos e as esperanças de centenas de almas que, apesar de tudo, ainda acreditavam em um futuro melhor.

No vigésimo quinto dia de viagem, um burburinho se espalhou pelo convés. Terra à vista! Vittorio correu para olhar. No horizonte, uma linha escura tomava forma, crescendo a cada minuto. O porto de Santos emergia da névoa matinal como uma miragem, um amontoado de galpões, mastros de navios e telhados vermelhos, cercado por colinas cobertas de vegetação densa. O cheiro salgado do mar começou a se misturar com algo novo: um aroma quente e pesado, de madeira úmida e café.

Conforme o Regina Elena se aproximava do cais, a agitação tomava conta dos passageiros. Alguns se benziam, outros choravam, abraçados. Homens seguravam seus chapéus contra o vento, mulheres ajeitavam os lenços e roupas amarrotadas. Os tripulantes gritavam ordens em italiano, tentando conter o tumulto, enquanto barcaças carregadas de sacas de café passavam ao lado, guiadas por remadores morenos de olhar curioso.

Quando finalmente desceram a rampa de desembarque, uma onda de calor pegajoso os envolveu. Vittorio sentiu o suor escorrer pelas costas enquanto tentava respirar aquele ar novo, carregado de umidade. O idioma ao redor soava como uma cacofonia incompreensível—ordens gritadas, risadas, discussões entre trabalhadores portuários. Ele mal teve tempo de assimilar o choque antes de ser empurrado junto com os demais imigrantes para um dos galpões imensos ao lado do porto.

Lá dentro, o cheiro de corpos suados e roupas molhadas tornava o ambiente ainda mais sufocante. Filas se formavam diante dos funcionários, que verificavam documentos, assinavam papéis, apontavam direções. Alguns homens, de pele bronzeada e olhar avaliador, caminhavam entre os recém-chegados, observando-os como se escolhessem mercadoria.

— Café! Todos para o interior! — bradou um deles em italiano rudimentar.

Vittorio engoliu em seco, sentindo o peso da incerteza apertar-lhe o peito. Não havia tempo para contemplação, nem espaço para hesitação. A engrenagem da imigração girava sem pausas, empurrando-os inexoravelmente para o próximo destino.

A exaustão da viagem ainda pesava nos corpos dos recém-chegados, mas ninguém se atrevia a reclamar. Homens de rostos severos davam ordens rápidas, chamando nomes, apontando direções. Vagões de trem, de madeira escura e janelas gradeadas, aguardavam na linha férrea próxima ao galpão. O cheiro de ferro e óleo queimado se misturava ao calor abafado da manhã tropical.

Vittorio sentiu um nó no estômago ao avistar as composições que os levariam para o desconhecido. Onde dormiria naquela noite? O que encontraria no fim daquela jornada?

O aviso veio curto e seco:

— Para os trens! Movam-se!

Ele pegou sua pequena trouxa e avançou com os demais, passos hesitantes no solo quente do novo mundo. Já não havia mais navios, nem mar. Apenas terra firme e um destino incerto.

Não havia mais volta.

Com uma mala de couro gasta e um coração pesado de incertezas, Vittorio seguiu em frente, empurrado pelo fluxo implacável dos recém-chegados. Atrás dele, a Itália se tornava apenas uma lembrança distante, um mundo ao qual jamais retornaria da mesma forma.

O chão de terra batida rangia sob suas botas, o calor escaldante grudava em sua pele. À sua volta, imigrantes caminhavam em silêncio, carregando sacos e baús, os rostos marcados pela fadiga e pela expectativa. Cada passo era um salto no desconhecido.

No Brasil, um novo capítulo se abria diante dele—não por escolha, mas por necessidade. O que o aguardava além da estação de trem? Campos intermináveis de café? Trabalho árduo sob o sol impiedoso? Ou talvez, quem sabe, a promessa de uma vida digna, algo que a terra natal lhe negara?

A única certeza era que não havia caminho de volta.

Vittorio mal teve tempo de se recuperar da exaustiva travessia. Assim que desembarcou em Santos, foi rapidamente selecionado e encaminhado para o interior de São Paulo, onde um fazendeiro necessitava de trabalhadores para sua vasta plantação de café. A viagem de trem foi longa e desconfortável, o vagão de madeira sacolejando sobre os trilhos enquanto o calor e o cheiro de suor tornavam o ar quase irrespirável.

Quando finalmente chegou à fazenda, nos arredores da emergente Ribeirão Preto, foi recebido com poucas palavras e um olhar avaliador. Ali, o trabalho não fazia concessões. Antes mesmo do sol despontar no horizonte, já estava nos cafezais, arrancando os grãos vermelhos sob um calor implacável que fazia sua camisa grudar no corpo. Os cestos se enchiam rápido, e logo vinham os sacos pesados, que ele e os outros imigrantes carregavam até os secadores. Os ombros ardiam, as mãos se cobriam de calos, mas não havia descanso.

A barreira da língua o isolava no início. O português soava rude, estranho, como um código indecifrável. Mas, entre ordens gritadas e murmúrios trocados à sombra dos cafezais, Vittorio começou a entender. Aprendia com os outros imigrantes, muitos deles tão perdidos quanto ele. E, pouco a pouco, o desconhecido tornava-se familiar.

Os anos se passaram, marcados por trabalho árduo e sacrifícios silenciosos. Vittorio economizava cada tostão, recusando-se a gastar com qualquer coisa que não fosse essencial. Dormia pouco, comia o suficiente para se manter de pé e sonhava com o dia em que teria sua própria terra. A ideia de ser dono do próprio destino era o que o fazia resistir.

Em 1910, esse dia finalmente chegou. Com o que havia juntado, arrendou uma chácara nas proximidades de Araraquara. Não era grande, nem rica, mas era sua. A terra, escura e fértil, prometia sustento, mas cobrava um preço alto. Trabalhar sozinho significava acordar antes do sol e seguir até a última luz do dia, preparando o solo, plantando, colhendo. A cada estação, enfrentava novos desafios: a fúria das chuvas tropicais que castigavam as lavouras, as pragas traiçoeiras que ameaçavam destruir meses de esforço.

Mas Vittorio aprendeu. Observava os fazendeiros mais experientes, testava métodos, enfrentava as falhas e tentava de novo. Cada safra era uma lição. Cada derrota, um aprendizado. Seus calos engrossavam, suas costas se curvavam sob o peso do trabalho, mas, junto com o cansaço, crescia também a convicção de que, naquela terra, fincaria suas raízes.

O sucesso veio devagar, como a germinação das mudas que plantava. Primeiro, conseguiu comprar uma carroça, o que lhe permitiu levar sua colheita diretamente ao mercado. Depois, contratou ajudantes, homens tão determinados quanto ele, que viam no café uma chance de prosperar. A pequena chácara transformou-se em uma propriedade produtiva, e os sacos de grãos empilhavam-se na varanda antes de seguirem para a venda.

Em 1915, quando finalmente sentiu que havia construído algo sólido, casou-se com Maria, filha de um imigrante calabrês. Ela trazia no olhar a mesma resiliência de quem cruzara o oceano em busca de uma vida melhor. Juntos, trabalharam lado a lado, expandindo as plantações e cuidando da terra como se fosse um membro da família.

Com o tempo, a propriedade deixou de ser apenas um campo de cultivo e tornou-se um lar. Seus três filhos cresceram correndo entre os cafezais, os pés descalços tocando o solo que ele tanto lutou para conquistar. O som das risadas infantis misturava-se ao canto dos pássaros e ao farfalhar das folhas ao vento. Ali, no coração do Brasil, Vittorio não era mais apenas um imigrante. Tornara-se parte da terra que o acolheu.

Nos anos seguintes, o suor de Vittorio se transformou em prosperidade. Sua pequena fazenda expandiu-se além do que ele jamais imaginara. Com paciência e estratégia, adquiriu terras vizinhas, uma a uma, até tornar-se um dos maiores fornecedores de café da região. O aroma dos grãos recém-colhidos impregnava o ar, misturando-se à promessa de um futuro cada vez mais próspero.

Mas a riqueza de Vittorio não se media apenas em sacas de café. Ao lado de outros imigrantes italianos, ajudou a moldar uma comunidade forte e vibrante. Doou terras para a construção de uma escola, pois sabia que o conhecimento era a chave para que seus filhos tivessem um destino melhor. Contribuiu para erguer uma igreja, onde os fiéis se reuniam para rezar, buscar conforto e celebrar a vida. A vila cresceu, impulsionada pelo trabalho árduo de homens e mulheres que, como ele, haviam deixado tudo para trás em busca de uma nova chance.

No entanto, Vittorio jamais esqueceu o dia de sua partida. O último olhar lançado sobre sua terra natal permanecia gravado em sua mente, como uma fotografia desbotada pelo tempo. Sabia que nunca voltaria, que as ruelas estreitas e as montanhas de Friuli permaneceriam apenas em sua memória.

Ainda assim, ao caminhar entre os cafezais floridos, sentindo o perfume adocicado das flores brancas e ouvindo o riso de seus netos ecoando pelos campos, percebia que havia encontrado mais do que um lugar para trabalhar. Ali, fincara suas raízes. Ali, seu nome viveria além dele.




domingo, 15 de junho de 2025

Raízes da Esperança: Histórias de um Imigrante Italiano no Brasil

 

Raízes da Esperança 

A História de Giovanni, um Imigrante 

Italiano no Brasil


Em uma pequena localidade nas ondulantes colinas da Toscana, no final do século XIX, vivia Giovanni Bianchi, um jovem agricultor de 28 anos. A terra que cultivava era árida e pouco produtiva, tornando difícil sustentar sua esposa, Maria, e seus dois filhos pequenos, Luca e Sofia.

As histórias sobre oportunidades no Brasil começavam a circular entre os moradores do pequeno e quase esquecido município toscano, prometendo terras férteis e uma vida melhor.

Certa noite, após um dia exaustivo no campo, Giovanni sentou-se à mesa de madeira desgastada de sua modesta casa e falou à sua mãe, Letizia:

"Partiremos em um mês, minha mãe. Iremos para bem longe. Muitos estão indo para um novo mundo. Promete-se uma nova vida e terras extensas para plantar e colher. Deixarei a saudade ficar amarga, porque talvez eu nunca mais volte a este lugar."

A decisão de Giovanni não foi fácil. Deixar a terra natal, a velha mãe, os irmãos e os amigos era doloroso, mas a perspectiva de um futuro melhor para seus filhos pesou mais. Maria, embora apreensiva, apoiou o marido, compartilhando do sonho de prosperidade.

A viagem de navio foi longa e árdua. As condições a bordo eram precárias, com pouco espaço, água potável e alimentos escassos. Giovanni observava seus filhos tentando transformar o ambiente hostil em uma aventura, enquanto Maria cuidava deles com ternura, apesar do cansaço evidente.

Ao desembarcarem no porto do Rio de Janeiro, foram recebidos por um calor sufocante e uma língua desconhecida. Foram encaminhados a uma hospedaria de imigrantes, onde aguardariam a ordem de encontrar os encarregados do novo patrão. O ambiente era caótico, com famílias de diversas nacionalidades tentando se comunicar e entender o que viria a seguir.

Após semanas de espera, Giovanni e sua família já contratados por um fazendeiro paulista, foram direcionados ao interior de São Paulo, para trabalhar nas plantações de café. Isso os obrigou a embarcar novamente em outro navio até o porto de Santos e dali, de trem, subir a serra até São Paulo, onde os representantes do futuro patrão os esperavam para levá-los ao interior do estado. Junto com um grande grupo de famílias escolhidas, seguiram de trem até Araraquara. As terras eram vastas, mas o trabalho era exaustivo, e as condições de moradia rudimentares. Giovanni, porém, não desanimou. Via naquele solo vermelho a esperança de um futuro promissor.

As dificuldades enfrentadas pelos imigrantes italianos eram imensas e multifacetadas. A adaptação ao clima tropical era um desafio constante, já que vinham de regiões de clima temperado, onde as estações eram bem definidas e os verões não atingiam temperaturas tão altas. A umidade intensa, as chuvas tropicais e a vegetação densa tornavam o ambiente ainda mais opressivo. O impacto dessas condições sobre a saúde era severo: doenças tropicais, como febre amarela, malária e disenteria, rapidamente se tornaram ameaças reais para aqueles que haviam cruzado o oceano em busca de uma vida melhor.

A barreira linguística agravava o isolamento. Muitos colonos falavam apenas dialetos italianos e não dominavam o português, o que dificultava tanto a comunicação com os brasileiros locais quanto o acesso a informações vitais, como instruções agrícolas.

As casas destinadas aos colonos eram antigas habitações degradadas, que antes abrigavam os escravos da fazenda. Eram estruturas simples e precárias, feitas de barro e madeira, sem ventilação, iluminação ou conforto básico. Telhados frequentemente vazavam, as paredes apresentavam rachaduras e o chão de terra batida expunha as famílias a insetos e à umidade.

Apesar disso, os colonos começaram a transformar esses espaços com muito esforço e perseverança. Reparavam como podiam os telhados, reforçavam paredes e criavam pequenas hortas ao redor das casas, buscando recriar um pouco das vilas italianas. A vida na fazenda era marcada pelo intenso trabalho agrícola e pelas difíceis condições de moradia, mas os imigrantes italianos encontraram maneiras de fortalecer seus laços comunitários e preservar suas tradições. Ainda que sob as rígidas regras impostas pelo sistema de colonato, Giovanni e os demais colonos começaram a cultivar vínculos culturais e religiosos. Durante os raros momentos de descanso, reuniam-se para celebrar datas especiais, compartilhar histórias de sua terra natal e planejar o futuro.

Embora a construção de uma escola e igreja independente fosse quase impossível devido às restrições impostas pelos proprietários da fazenda, os colonos improvisavam espaços para encontros religiosos e atividades comunitárias. Em um barracão emprestado para o uso coletivo, Giovanni destacou-se pela liderança. Ele organizava missas conduzidas por padres itinerantes e, em ocasiões festivas, liderava a preparação de refeições típicas e danças tradicionais. Essas celebrações, ainda que simples, tornavam-se poderosos símbolos de resistência cultural e esperança.

Ao longo dos anos, esse espírito colaborativo ajudou os imigrantes a manterem vivas suas raízes, mesmo em meio às adversidades. Giovanni, com seu entusiasmo, tornou-se uma figura central nesses momentos de união, não apenas fortalecendo a identidade de sua comunidade, mas também deixando um legado de resiliência para as gerações futuras.

Com o passar dos anos, o trabalho árduo começou a dar frutos. Depois de economias rigorosas, Giovanni adquiriu um pedaço de terra próprio em uma vila nascente ao redor da fazenda. Plantou suas primeiras videiras, escolhendo mudas que remetiam aos vinhedos da Toscana.

A vila prosperou graças à dedicação das famílias que transformaram terras inóspitas em campos produtivos. Os filhos de Giovanni cresceram nesse ambiente de trabalho e esperança, fluentes em italiano e português, integrando-se à cultura brasileira sem abandonar suas raízes.

Em uma tarde ensolarada, sentado na varanda de sua casa, Giovanni escreveu à sua mãe:

"Querida mãe, a saudade de nossa terra é constante, mas o Brasil nos acolheu com generosidade. As crianças crescem fortes e felizes. A terra aqui é fértil e tem nos dado sustento. Sinto falta da Toscana, mas neste novo lar encontramos uma forma de honrar nossas origens."

A história de Giovanni, como tantas outras, é um testemunho de coragem e determinação. Neste livro, Piazzetta revela com sensibilidade como os imigrantes italianos ajudaram a moldar a história do Brasil, mantendo vivas suas tradições enquanto transformavam dificuldades em oportunidades.


segunda-feira, 12 de maio de 2025

El Vino de la Guera: Na Famèia tra La Destrussion e l´Esperansa

 


El Vino de la Guera: 

Na Famèia tra La Destrussion e l´Esperansa 


Era el 24 de otobre del 1917. L'Itàlia la zera da ani impegnà in guera contro le forse del impero austro-ungàrico. Inte sto zorno de dolor par tuto el paese, i austrieghi, con l’aiuto de le trope tedesche, i ga sfondà le lìnie de difesa italiane, obligando l’esérsito italiano a un ripiego stratègico fin ai argini del fiume Piave. Tuto intorno al Monte Grappa, ndove, dopo setimane de feroci scontri, l’avansata nemiga la ze stà finalmente fermà.

Le ore che ga seguito al disastroso sfondamento de le lìnie italiane a Caporetto, durante la dodessèsima Batalha del Isonzo, le ze stà crussiali. La notìssia del desastre la ze rivà a Pederobba come un vero tsunami. Le autorità militari italiane le ga sùbito dato l’ordine de evacuar tuto i paese e le vile su tuto el percorso fin a Caporetto. La zona la ze diventà tereno de guera fra i due esérsiti. Pederobba, trovandose ‘ntel sentro del conflito, la ze stà un punto stratègico par contener el nemigo e salvar l’Itàlia da un’invasione completa.

Giuseppe e la so famèia, avisà da i campanèi che no gaveva de smeter de sonar, i ze corsi in piasa par sentir le notìssie e le ordini. La paura e l’agitassion i ga invaso tuto el paese. L’ordine del comando el zera de scampar a sud, verso zone pì sicure. La zente, colta de sorpresa, la ga impacà quel poco che gaveva e la ze partì in carosse, con el tren o a piè, verso l’Emilia Romagna.

Giuseppe el zera un bravo marangon e carpentiere, famoso par i so bei lavori. Nassù a Alano di Piave, provìnsia de Belluno, el zera parte de na famèia de marangoni che i ga costruì altari e òpere in legno par le cese e par le famèie nòbili de la regione, fin anche a Venéssia. Del so papà Francesco, el gaveva imparà sia l’arte de lavoar el legno che la passion par el vin e i vigneti di Raboso del Piave, la casta de ua da lori preferida. Con la so sposa Giuditha gaveva diese fiòi, ma parte de lori gaveva oramai emigrà in Brasil, Francia e Stati Uniti prima de l’inìsio de la guera. Restava a casa solo quatro fiòi: tre mas-chi e na fiola.

Quando ze rivà l’ordine de evacuassion, Giuseppe e i fiòi i ga cavà un buso vissino a la ofissina ndove i ga incoacià le cassete con i feri da lavorar, tre damigiane de Raboso del Piave e na bissicleta. Lori i ga coerto tuto con grosse piere, sperando che i nemighi no le trovase.

Partì, la famèia, a piè, verso l’Emilia Romagna, strada longa e stracante. Dopo zorni de viàio, strachi ma salvi, lori i ze rivà al picolo comune de Sassuolo, vissin a Modena. Qua, Giuseppe e i so fiòi i ga trovà lavoreti che li ga salvà durante l’ano de soferensa.

Dopo l’armistisio, el 4 de novembre del 1918, i ze ritornà a Pederobba, trovando tuto sbregà: le case, la ofissina e anca el comèrssio de Giuditha. Ma, par fortuna, le damigiane de vin le zera ancora là, ìntegre, aspetando par èsser provà. La bissicleta, invece, la zera inutilisà.

Sensa schei sufissienti e prinsipalmente voia de rescominsiar in quel posto distruto, Giuseppe e Giuditha lori i ga deciso de seguir la stessa strada de i so fiòi emigrà in Brasil, a Curitiba. Lori i ga partì ntel ano seguinte con i so quatro fiòi restanti, el ga portà i feri de lavorar el legno e qualche litri del so pressioso vin Raboso, salvà da la guera, un dono ai so fiòi in Brasil.


Nota de l’Autor


L’ispirassion par "El Vin de la Guera: Na Famèia Tra la Destrussion e la Speransa" la ze nassesta da na stòria che, anca se inventà, la trova eco in tante vose del passà. El sfondo la ze l’Itàlia sbregà da la Prima Guera Mondial, un paese ndove la speransa e el disperar se alternava come protagonisti de ´na tragèdia comun.
In sto raconto, el vin — sìmbolo de tradission, sacrifìssio e radise de famèia — vien fora come metàfora de la resistensa umana. Giuseppe, marangon e vinèr, no el ze solo un personàgio, ma un omaio ai sconossù che, in tempi de guera, i ga sfidà la roina con ingegno e coraio. La so resolussion de salvar el ferramenta e el vin, anca con tuto se sgretola intorno, el ze na rapresentassion de la lota par conservar l’identità e la dignità quando el mondo va in rovina.
La stòria la toca anca l’impato de le resolussion che cambia la vita de intere generassion. L’evacuassion, el viaio par trovar seguressa e el ricominssiar in Brasil ze testimoni de un coraio tenace che va oltre le frontiere. Come tanti emigranti, Giuseppe e la so famèia i ga portà via no solo robe materiali, ma anca i basamenti de ´na stòria nova: laoro, tradission e un amore profondo par la vita.
Sto raconto el vol no solo ricordar i orori e i sacrifìssi de la guera, ma anca selebrar la forsa che vien fora da le adversità, metendo insieme el passà e el futuro. Che el letor trove qua un invito a rifleter su la fragilità e la resistensa umana, e come, anca in tempi scuri, la fede nel doman se pol distilar, come un bon vin, dal spìrito imortal de le persone comun.



domingo, 4 de maio de 2025

Na Vita de Fortuna e Sacrifìssio



Na Vita de Fortuna e Sacrifìssio


In 'na matina freda de marso del 1893, i fradei Filippo e Giuliano Bertelli lori i parte de la pìcola vila de Castellorosso, in la provìnsia de Mantova, con el cor spartì tra la speransa e la nostalgia. ILori i zera do de i sete fiòi de na tradisional famèia de contadini che, benché i gavea le tere, i sentiva el peso de la crisi agrària e de le incertesse che ghe zera in Itàlia in quei ani.

El destino de i fradei el zera el Brasile, na tera distante e avolta de mistèrio, ma che ghe prometea oportunità par i coraiosi. Intela vila, le stòrie de compaesani che i zera rivà a crusar l'Atlántico par catar na vita mèio i se contava tra la zente, aumentando sòni e ambission. Filippo, el pì vècio, el vardava l'aventura come 'na oportunità par ingrandir i orisonte de la famèia. Giuliano, par contro, el desiderava de costruir qualcosa de so, fora de l’ombra de le generassion passà.

Dopo setimane de na traversada dura su l'osseano, la nave la ga fermà a Santos. El caldo pesante e i odor de spesie e cafè i zera un contrasto forte con i campi fredi e de nèbia de Castellorosso. I do i va verso la zona de Vila Bela, che dopo i ghe va ciamà Ribeirãozinho, atirà da la presensa de altri mantovani che i zera za sistemà là.

Filippo, anca se lu el zera un contadino, el se ga mostrà bravo ´ntel comèrssio. El scominsia picin, cambiando strumenti e utensili in le fiere del posto. In poco tempo, el verze un picin negòssio che vendeva de tuto: ceramiche, piati, bevande e material par l’agricoltura. Lu el zera un omo de vision. Notando el potensiale de la region par la produssion de seda, el porta da l'Europa el saver su el cultivo de le more e i bachi da seda. Sta novità la trasforma la region, dando la possibilità a tante famèie de catar na renda.

Giuliano, con un spirito pì pràtico, el investe in l’agricoltura e ´ntel processo del café. El compra na machina par netar e preparar i grani, che la diventa presto indispensàbile par i contadini del posto. El so magasino el zera sempre pien de sachi de café che i se carreghava su le cariole e i lavoradori che i zera in fila par scaricar.

I ani dopo i porta prosperità, ma anca tante sfide. In 1913, Filippo, oramai sposà e con cinco fioi, el decide de tornar provisoriamente in Itàlia par sistemar robe de famèia e far vadar a la so mòier e fiòi da ndove che i zera rivai. Ma la Prima Guerra Mondiale la cambia tuto. Mobilisà ´ntel esèrcito italiano, el va su el front alpin, ndove el vive orori che no el ga contà mai a nessun. Solo in 1919, con la guerra finida, Filippo el riesse a tornar in Brasile. Là, el se cata papà de novo: el sètimo fiol el nasse mentre el zera via.

Giuliano no la ga avù la stessa fortuna. In 1920, el more par na febre forte che la ghe ga cavà la vita de colpo. La so morte la lassia un vodo grande ´nte la so famèia e in la comunità. La so dona, con sete fiòi, la ga da gestir le tere e el magasino, afrontando con coràio e determinassion i problemi de l'epoca.

Col passar dei ani, i dissendenti de i Bertelli i se spandissi in tante sità del interior paulista, portando con lori el lassà de duro lavoro e inovassion dei pionieri. Qualchidun el resta in l'agricultura, altri i prova strade diverse ´nte l'industria, ´ntel comèrssio e ´ntele arte. Castellorosso, con i so ricordi de le coline verdi e campi de trigo, la resta viva ´nte le so memòrie e ´nte le reunion de famèia, come 'n ricordo de tuto quel che i ga conquistà e perdù in sta strada de fortuna e sacrifìssio.


Nota de L´Autore

"Na Vita de Fortuna e Sacrifìssio" el ze un raconto de imaginassion, ma le figure e i eventi de la stòria i ze inspirà da i testimoni de vita reale de tanti imigranti italiani che i ga traversà el osseano 'ntel sècolo XIX. Sto perìodo, segnà da la crisi agrària, la miséria e le sfide sossiai in Itàlia, el ghe ga fato catar a milioni de persone la speransa in tere lontan, ndove ghe parea de èsser oportunità par un futuro mèio.

I fradei Filippo e Giuliano Bertelli no i ze mai esistì de vero, ma le so stòrie i ghe fa eco a quelle de tanti altri che i ga lassà paesi e famèie in serca de fortuna. I Bertelli i ze na rapresentassion de quei pionieri che, con coraio e determinassion, i ga trasformà tere estrane in case nove, afrontando dificoltà imaginàbili.

Scriver sta òpera el ze stà na ocasion par onorar la memòria de quei imigranti che i ga segnà la stòria con la so resiliensa, la so creatività e el so spìrito de sacrifìssio. Con sto libro, speremo de regalar a i letori no solo 'na finestra su el pasà, ma anca un momento de riflession su el valor de le radisi, de la famèia e de i sòni che ghe spinta avanti anca 'nte le situassion pì dure.








quarta-feira, 23 de abril de 2025

La Vita del Dotor Martino: Un Mèdego Italiano nel Brasile – Capitolo 2


 

La Vita del Dotor Martino: Un Mèdego Italiano ´ntel Brasile – Capitolo 2


El Dotor Martino el zera su l'òra de un novo camin, pien de promesse e de incertesse. L'idea de stabilirse in tera brasiliana, spesialmente ´nte l'interno de un stato ancora in sviluppo, ghe riempiva la mente e infiamava la determinassion. Ma, prima de partir, ghe zera un compito fondamentale da fare: comprar i strumenti che faria de la so clìnica un punto de riferimento in un posto ndove mancava de tuto.

Par questo, Martino el ga fato le so valigie e el ze ndar par Roma, la vibrante capitale de l'Itàlia. La sità frisava con el rumore de le carrose so le strade de sassi, le vosi in le piase e el ritmo de la modernità che scomenssiava a trasformar el mondo. Tre ani prima, mentre che ancora studiava medicina, el gaveva visto na invenssion tedesca che prometeva de revolucionar la pràtica mèdica: la radiografia. Da quel momento, el soniava de portar questa tecnologia in Brasile, pensando a'l impato che podaria aver in un posto ndove tuto mancava.

A Roma, dopo tante tratative con i fornitori e i importadori, el ga comprà un modelo portàtile de aparèio de raios X. El gavea un preso sofisticà par quei ani, bon par far radiografie normai e radioscopie direte, senza bisogno de stampare i film. El costo el zera alto, ma Martino el zera disposto a investir la so eredità, sicuro che queo podaria garantìr el sucesso de la so impresa e, soratuto, salvar le vite.

Dopo mesi, quando tuto l'equipamento finalmento i ze riva, imbalà in casse robuste, Martino ga comprà el biglietto in prima classe su el Vapor Giulio Cesare. El barco saria partìo da Genova in dicembre, con una fermada ´ntel porto de Napoli, ndove che el saria embarcà.

El viàio lunga su l'Atlántico el ze stà na esperiensa de contrasti. El conforto de la prima classe ghe dava tranquilità, ma no ghe impediva de pensar ai emigranti imbucai in tersa classe. Con el calor de i tròpici che se sentiva pí forte a misura che se incrociava la Linea de l'Equatore, na tempesta improvisa la ga fato tremar el barco par ore. Tenendose al corimano de legno lucidà, Martino imaginava la soferensa de quei povereti chiusi ´ntei buchi la zo. Se sentiva in colpa, mescolà con gratitudine par el so destino pì fortunà.

Quando el porto de Rio de Janeiro el ze vegnù fora, Martino el ze restà incantà. El panorama zera lussuriante, un mosaico de colori e de soni. Le palme se alsava come sentinele e el calor ghe dava come un abràssio infinito. Sbarcà in dogana, dove ga speso ore a curar la liberassion de le so pressiose bagàie, Martino osservava la vita intorno: venditori ambulanti, marinai e famèie de emigranti carghi de le loro poche robe.

Ma el viàio el no zera finìo. El ze embarcà su un altro navio verso el sud del Brasile, con destinasione Porto Alegre. La capitale de lo stato ghe se mostrava una cità ben organisà, con strade larghe e un ària de provìnssia che nascondeva la so importansa económica e culturale.

Durante le setimane in sità, Martino el ze restà a sistemar le carte par restar in Brasile e a visitar due grandi ospedali locali. El ze restà impressionà dai problemi e da le limitassioni de la medicina brasiliana, ma anche da la creatività dei medici del posto, che sfidava tuto con ingenuità e determinassion.

In quele setimane, el ga ricevù un invito sorpresivo dal consolato italiano par un consserto de piano. La elegante sala la ze stà iluminà dai candelabri splendente e l'aroma de profumi ghe mischiava con el odore delicà del legno lucente. Là, el ga conossiù Eleonora, la brava pianista de la sera e fiola del console generale.

Eleonora gavea 25 ani, òci profondi come el mar a tramonto e cavéi neri come le note napoletana. La so presensa emanava na sofisticassion natural che ga cativà Martino fin dal primo momento. Durante el ressital, el ga scoperto che el console conosseva ben el so papà, un lasso inaspetà che ga verzo la strada par conversasioni e incontri futuri.

Martino, che fin a quel momento no gavea mai provà l'amor, ghe ze sentì un fogo drento. Fassinà da Eleonora, el ga deciso de restar pì tempo a Porto Alegre. Le setimane sussessive ze stà pien de passegiate lungo el fiume Guaíba, ciacole al lume de luna e promesse sotovoce de un futuro inserto. Restar no zera solo na dessision de core, ma anche de destino, come se la so vita in Brasile e quella dona straordinària se stesse intressiando par sempre.


Nota de l'Autore

"La Vida del Dotor Martino: Un Médego Talian intel Brasil" la ze un romanso inventà ispirado al rico contesto stòrico de l'emigrassion italiana al Brasil a la fin del sècolo XIX. Ben che i cenari, i eventi stòrici e le circonstanse socioeconòmiche descrite ghe sia basà su fati veri, i personagi e le sue stòrie le ze tuta 'na criassion de l'imaginassion de l'autore.

Sto libro el serca de esplorar la forsa umana in meso a le adversità e la resilensa de la zente che la ga lassà la so tera par sercar un futuro pì beo. El protagonista, el Dotor Martino, el ze 'na figura inventà, ma la so aventura la rapresenta i sforsi de tanti che i ga inissià 'sta strada verso tere sconossue, con i so sòni, speranse e la voia de rifar la so vita.

Scrivendo 'sta stòria, spero che chi che lese el se trovi transportà a un tempo de trasformassion, sfide e trionfi. Che el possa sentir el peso de le decision che le ga formà le generassion, la nostalgia che la riempiva i cori e la determinassion che la ga spinto òmini e done a sfidar l'insserto.

Questo xze, prima de tuto, 'na dèdica al coraio, a l'umanità e al spìrito d'aventura che i ga definì un capìtolo cusì importante de la stòria de do paesi, Itàlia e Brasil, che i se ga intressià par sempre con l'emigrassion.

Con gratitudine par aver inissià 'sta strada,

dott Piazzetta


domingo, 20 de abril de 2025

A Vida do Dr. Martino: Um Médico Italiano no Brasil - Capítolo 1

 


A Vida do Dr. Martino: Um Médico Italiano no Brasil


Era o ano de 1898. O século XIX agonizava, e o novo milênio despontava no horizonte com promessas incertas, mas carregadas de esperança para os habitantes da região do Vêneto. A expectativa permeava o ar, tingida pelo desejo de dias melhores, como um fiapo de luz que se infiltra por entre as fendas de uma porta fechada. Trinta anos haviam transcorrido desde o fim das guerras de independência, cujo rastro de sangue e destruição marcara cada canto da nação unificada. Ainda assim, as feridas permaneciam abertas, ecoando na vida cotidiana de um povo que lutava para sobreviver.

No Vêneto, como em tantas outras regiões italianas, a situação era sombria. O país ainda permanecia atrasado em comparação à maioria das nações europeias, enredado em um ciclo de carestia e dificuldades. O custo de vida subia sem controle, alimentado por colheitas fracassadas devido às inclemências climáticas, que se tornavam mais frequentes e severas. Fenômenos naturais, antes suportáveis, agora pareciam conspirar contra os agricultores. Somava-se a isso a queda nos preços dos cereais, sufocados pela abundância de importações vindas de países como os Estados Unidos e o Leste Europeu. O progresso industrial, tão desejado, continuava a ser um sonho distante, enquanto métodos antiquados de produção mantinham a Itália prisioneira de seu próprio passado.

Nas cidades, a pressão social crescia como uma tempestade inevitável. O aumento populacional dos últimos vinte e cinco anos sobrecarregava as áreas urbanas, que não conseguiam absorver a massa de trabalhadores desempregados que fugia dos campos. O êxodo em direção ao Novo Mundo, iniciado há mais de duas décadas, tornara-se uma constante. Milhões de italianos desesperados atravessavam o Atlântico, em busca de um futuro melhor em terras como Brasil, Argentina e Estados Unidos. Esses emigrantes não eram apenas camponeses pobres ou artesãos famintos. Entre eles, encontravam-se também membros da classe média — pessoas com casas e, em alguns casos, trabalhos, ainda que mal remunerados.

Foi nesse cenário de incertezas que Martino, um jovem médico de 32 anos, decidiu abandonar tudo e unir-se à corrente humana que fluía para o Novo Mundo. Formado com distinção na renomada Faculdade de Medicina da Universidade de Pádua, e com especializações em cirurgia geral e obstetrícia pela Universidade de Nápoles, Martino tinha o futuro garantido em sua terra natal. No entanto, sua alma inquieta ansiava por algo maior. Nascido em 1866, em Nápoles, ele era fruto de uma família abastada. Seu pai, um advogado agora aposentado, construíra uma fortuna com um prestigiado escritório de advocacia. Sua mãe, de origem veneta, era uma rica herdeira de comerciantes venezianos cujas propriedades rurais se estendiam pelos arredores de Treviso.

Martino herdara o espírito aventureiro de seus antepassados navegadores. Entretanto, não foi o desejo de explorar o desconhecido que o levou a tomar essa decisão, mas sim seu lado humanitário. Sensível às dores alheias, ele não podia ignorar a miséria que via diariamente. Os trens que partiam lotados de camponeses famintos em direção ao porto de Gênova eram testemunhas silenciosas de um drama humano que o comovia profundamente. Certo dia, movido por sua curiosidade insaciável, decidiu acompanhar um desses trens até o porto. A cena que encontrou ali mudou sua vida. Homens, mulheres e crianças, com rostos marcados pela exaustão e esperança, aguardavam o embarque rumo ao desconhecido.

Foi nesse momento que Martino tomou sua decisão. Soubera da existência de colônias formadas quase exclusivamente por imigrantes venetos no sul do Brasil. Histórias de sofrimento chegavam a seus ouvidos: cidades onde não havia médicos suficientes, e muitos morriam por falta de atendimento adequado. O Brasil, com sua vastidão e riquezas, parecia uma terra de oportunidades, mas também de desafios imensuráveis.

Ao retornar, procurou seu pai para compartilhar a decisão. O velho advogado, um homem pragmático, reagiu com ceticismo inicial. Tinha planejado um futuro confortável para o filho, comprando-lhe um espaço privilegiado para estabelecer seu consultório médico na cidade. Contudo, ao ouvir os argumentos de Martino, reconheceu a nobreza de sua intenção. Com o apoio da esposa, não apenas deu sua bênção, mas também antecipou parte da herança familiar para que o jovem tivesse os recursos necessários.

Agora, com a bênção dos pais e os meios financeiros assegurados, Martino preparava-se para sua nova jornada. O destino era uma colônia no sul do Brasil, recentemente elevada à condição de cidade, com apenas nove anos de existência, mas em franco desenvolvimento. Ali, esperava não apenas exercer sua profissão, mas também transformar vidas e, quem sabe, encontrar seu próprio caminho em meio às incertezas de um mundo em mudança.


Nota do Autor

"A Vida do Dr. Martino: Um Médico Italiano no Brasil" é um romance fictício inspirado no rico contexto histórico da imigração italiana para o Brasil no final do século XIX. Apesar de os cenários, eventos históricos e circunstâncias socioeconômicas descritos serem baseados em fatos reais, os personagens e suas histórias são inteiramente fruto da imaginação do autor.

Este livro busca explorar a força humana em meio a adversidades e a resiliência de indivíduos que deixaram suas terras natais em busca de um futuro melhor. O protagonista, Dr. Martino, é uma figura fictícia, mas sua jornada representa os desafios enfrentados por muitos que embarcaram nessa travessia para terras desconhecidas, carregando consigo sonhos, esperanças e o desejo de reconstruir suas vidas.

Ao dar vida a esta narrativa, espero que o leitor seja transportado para uma época de transformações, desafios e conquistas. Que possam sentir o peso das decisões que moldaram gerações, a saudade que permeava os corações e a determinação que levava homens e mulheres a desafiar o desconhecido.

Este é, acima de tudo, um tributo à coragem, à humanidade e ao espírito de aventura que definiram um capítulo tão significativo na história de dois países, Itália e Brasil, cujos destinos se entrelaçaram para sempre através da imigração.

Com gratidão por embarcar nesta jornada,

Dr. Piazzetta



sexta-feira, 11 de abril de 2025

Famílias Vênetas no Brasil: Uma História de Trabalho e Esperança


Famílias Vênetas no Brasil: Uma História de Trabalho e Esperança


As famílias vênetas, um pilar da nossa cultura, deixaram uma marca profunda e indelével em diversas regiões deste grande país chamado Brasil. Partindo das terras do Vêneto em busca de um futuro melhor, enfrentaram longas e difíceis viagens, movidas pela esperança de uma vida digna, mas carregadas de saudades das raízes deixadas para trás.

No final do século XIX e início do XX, os vênetos, como muitos italianos, decidiram abandonar suas terras, forçados por condições econômicas e sociais devastadoras. Províncias como Verona, Belluno, Rovigo, Vicenza, Treviso e Padova estavam marcadas pela crise agrária, pela fome e pela falta de trabalho. Com uma mala simples e uma imensa carga de esperanças, embarcaram nos portos de Gênova e Veneza rumo a um mundo desconhecido, mas cheio de promessas.

No Brasil, as "terras prometidas" foram tão variadas quanto os desafios que encontraram. Os vênetos foram destinados a diversas regiões: no Sul, estados como Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná os acolheram em colônias agrícolas, enquanto no Sudeste, São Paulo e Espírito Santo os receberam nas fazendas de café e nos primeiros assentamentos montanhosos.

No Sul, as florestas virgens e o isolamento foram os principais obstáculos. As famílias vênetas tiveram de trabalhar arduamente para desmatar as terras, construir suas casas e cultivar o solo. Não havia estradas nem médicos, e a distância entre as comunidades era um fardo enorme para quem havia deixado seus entes queridos na Itália. Mas, com determinação, criaram as bases para comunidades sólidas, construindo igrejas, escolas e mercados locais, que ainda hoje são símbolos de união e resiliência.

No Espírito Santo, as montanhas tornaram-se lar de muitos vênetos, que transformaram terras difíceis em pequenos paraísos agrícolas. Com a mesma força e criatividade, contribuíram para o desenvolvimento de São Paulo, tanto nas fazendas de café quanto nas cidades, onde desempenharam trabalhos artesanais, comércio e pequenas indústrias. A cidade de São Paulo hoje é uma metrópole onde a herança vêneta permanece visível, tanto na língua quanto nas tradições familiares.

Um aspecto fundamental da cultura vêneta no Brasil é o talian, uma mistura de vêneto e italiano que ainda hoje é falada em muitas comunidades, tanto no Sul quanto no Sudeste. O talian é uma ponte entre gerações e um símbolo de como as raízes nunca são esquecidas, mesmo longe de casa.

As famílias vênetas não foram apenas agricultores, mas também pedreiros, artesãos e pequenos empreendedores. Com sua força e engenhosidade, construíram um patrimônio cultural e econômico que ainda hoje é motivo de orgulho. As primeiras igrejas, como as capelas dedicadas aos santos da tradição vêneta, os mercados locais e as escolas rurais são testemunhos de um povo que encontrou no trabalho um meio de superar todas as adversidades.

Não se pode falar dessas famílias sem lembrar a saudade que sentiam de sua terra natal. As cartas escritas aos parentes na Itália narram histórias de sacrifício e dores, mas também de esperança e sucesso. Cada palavra é uma ponte entre dois mundos: o Vêneto deixado para trás e o Brasil abraçado como novo lar.

Hoje, as comunidades vênetas no Brasil estão espalhadas por todos esses estados e representam um exemplo vivo de como a cultura, as tradições e o senso de identidade podem superar qualquer obstáculo. Os vênetos não vieram apenas para encontrar um lugar onde viver, mas transformaram São Paulo, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná em pedaços vivos do Vêneto, repletos de história e emoções.

As famílias vênetas são um testemunho eterno de como, com trabalho duro, união e orgulho por suas raízes, é sempre possível transformar esperança em realidade, construindo não apenas um futuro melhor, mas também um legado que perdura por gerações.



quinta-feira, 10 de abril de 2025

Malatie e Viaio su’l Mar: Odissee dei Migranti ´nte’l XIX Sècolo


Malatie e Viaio Su’l Mar: Odissee dei Migranti ´nte’l XIX Sècolo


Inte’l sècolo XIX, viaiàr par mar el ze ‘ndà vegnendo pì velose gràssie a l’introdussion del motore a vapor. Ma i viàio de chi che spetava un futuro mèio el zera ‘na vera odissea. ´Nte l’Itàlia, soratuto ´nte le provìnsie del Véneto, la povertà, le fame e le crisi agràrie i gavea fato lori a considerar l’idea de emigrar in Amèriche, sia ´ntel Nord che ´ntel Sud.

Intei vapori, che zera speso ciamài “bastimenti”, le condission le zera spaventose: i passegièri i stava tuti streti ´nte dormitori sensa ària polita, el magnar el zera scarso e spesso mal cusinà, e la pulisia quasi no esisteva. In tanti no gavea gnanca un leto; i dormiva ´nte leti de tela stese par soaio. L’igiene poca e la promiscuità fasea proliferar malatie come còlera, tifo, sarampo e la “peste bianca” - la tubercolosi. Se ghe zera morti durante el viàio, el vapor el venìa fermà ´ntei porti e messo ´nte na quarantena severa. Se sa che ´nte’l porto de Rio de Janeiro, in Brasile, ghe zera un lasareto ndove tanti imigranti i moriva.

No manca testimoni de quei tempi: ´ntei zornài e ´ntei lètari scriti da quei véneti partì par l’Amèrica del Sud, i raconta le dificoltà de le famèie. “Su quei bastimenti ghe zera chi che piansea par le sue famèia rimasta ´nte’l Véneto, ma anca chi che pregava par no morir su quel mar infinito.” Par esempi, el bastimento Sud America I el ze stà tragicamente ricordà: ´ntel 1888, el ze stà colpì da un altro vaporo francese, La France, ´ntei pressi de Las Palmas, costrìngendo molti a morir intrà le onde.

Inte’l 1880, con le prime onde de imigrassion véneta, tanti ghe ze rivà in Brasile, Argentina e Uruguai, spesando el poco che i gavea par pagar un posto su quei bastimenti. Quasi tute le famèie vénete le sperava ´nte un futuro mèio, ma tanti i zera anca ignoranti del trageto del viàio. Tanti di lori i morìa prima de rivar. Ntei archivi de Caxias do Sul, ghe ze ricordi de tanti famèie che gavea sepultà i so fiòi morti ´ntel viàio ´nte tere straniere, sensa gnanca un cimitero “de casa”.

Malgrado tute ste dificoltà, quei véneti i gavea una forsa incredìbile: con la fatica e la union, lori i son rivà a far piantagioni, paesi, e colònie che, con el tempo, lori i ze trasformà ´nte sità pròspere. Ma ogni progresso el zera pagà a caro preso, con el sudor e con el sacrìfìssio.




quinta-feira, 3 de abril de 2025

La Stòria de Vita de Domenico Valtier


La Stòria de Vita de Domenico Valtier


Domenico Valtieri gavea 31 ani quando el decise de lassar la so pìcola San Pietro di Barbozza, 'na antica località tra i bei cole de Valdobbiadene. La tera gavea bona, ma in quei tempi, a la fine del sècolo XIX, el lavor no se trovava e el futuro par lui, la so mòier Elena e la fiola Maria, pareva sempre pì bruto. Tuti la zona rurai del Veneto sofriva con racolte magre, maltempo, presi bassi dei gran, disimpiego cressente e fame. Le lètare de parenti e amissi che i gavea zà emigrà in Brasil parlava de teri fèrtili e oportunità, ancò se con tanto sforso. Par Domenico, l’idea de 'n novo inìssio gavea 'na forsa che no se podèa resistar.

In autuno del 1892, el vendé tuto quel che gavea: 'n po' de galine, un musso vècio e i strumenti de lavoro. Con quei soldi e un prestito fato da 'n comerssiante local, el ga comprà i bilieti par el vapor Giulio Cesare, che doveva partir da Génoa par el Rio de Janeiro. La traversada sarìa stà longa e piena de insertesse, ma Domenico credèa che gnente sarìa pì zorfo de restar in misèria.

La realtà de la navigassion se rivelò dura. In terza classe, dove stava Domenico e la so famèia, la zera 'na méscola de corpi, vosi e olori. Òmini, done e putini divideva spasi streti, con leti duri e poca ària. I zorni sul mar i zera monòtoni, roti da tempeste che portava ansietà. De note, se sentiva tossi contìnue, preghiere a bassa vose e pianse de putini che gavea fame. Elena tentava de contar stòrie a Maria par distrarla, mentre che Domenico, sempre pensieroso, vedeva in quela traversada 'na metàfora de la so vita: 'na pausa tra el mal de ieri e la speransa de domàn.

Ma el viàio se rivelò pì tremendo del previsto. 'Na epidemia de sarampòn se sparse tra i putini ´ntei sotoposti del vapor, e Maria fu tra i primi a vegnir malà. Domenico e Elena fece tuto quel che podèa, ma la mancansa de medicine e de cure trasformava ogni zorno in 'na lota persa. Maria la morì 'na setimana prima de rivar in Brasil. El so pìcolo corpo fu dolorosamente sepultà in mar, avolto in lenzuoli ligà con cordi, e 'na preghiera silenssiosa segnò quel momento devastante, che restò gravà per sempre ´ntela memòria dei genitori e dei passegieri che gavea assistì a quela scena strasiante.

Quando lori i ga sbarcà in Rio de Janeiro, Domenico e Elena i ga trovà 'n mondo novo, ma lontan dal sònio. Dopo qualchi zorno ´nte la Hospedaria dos Imigrantes, lori i fu mandà al sud, a 'na colónia agrìcola ´ntel´ interno del Rio Grande do Sul. El viàio fin là fu 'n'altra prova de resistensa: ore sul fiume in barchéti a vapor, dopo su careti tirà da boi, drento strade fangose e afrontando el fredo de le montagne. Quando finalmente lori i ga rivà ´nte la colònia de Dona Isabel, i ga trovà foreste vèrgine, con grosse àlbari, fiumi forti e tere fèrtili, ma che gavea de lavorar tanto.

La vita ´ntela colònia la ga scominssià con dificoltà. Domenico, inseme ai altri coloni, taiava legnami par far 'na casa semplice. Intanto, Elena curava quel che gavea e preparava el teren par 'na nuova rotina. No ghe zera mèdici visini, e l’isolamento tra le famèie rendeva la nostalgia sempre presente. La memòria de Maria e de i parenti che i ga rimasti in Itàlia la zera dolorosa, ma el lavor duro teneva la mente sui zorni avanti.

Con el tempo, i sacrifissi i ga scominssià a dar soi fruti. Domenico el ga riusì a pagar la tera che gavea comprà dal governo e a far più grande la so proprietà. El ga piantà vigne, come el faseva a casa, che dopo ani diventò 'n gran vigneto, rendendolo 'n pioniero de la produsion de vin in quela zona. La so famèia la ga cressù con altri fiòi, e i Valtieri i ga diventà un sìmbolo de resistensa e lavor duro ´ntela colònia.

Ntei momenti de pausa, Domenico amava caminar tra le vigne, guardando i gràpoli de ua che balava con el vento. Sentiva 'n orgòio par quel che gavea costruì, ma portava sempre el peso del passato. El savea che la vita in la colònia era dura, ma rapresantava 'na vitòria su le adversità.

El sacrifìssio de Maria e de tanti altri putini che no i sopravisse a la traversada no fu invano. Par Domenico, la saga dei emigranti era 'na lesion de forsa e fragilità umana. Ognuno i zera, al stesso tempo, testimone e vìtima de 'n sistema che prometeva 'n futuro pì beo, ma che spesso dava abandono e sfrutamento.

Anni dopo, quando gavea zà 'na vita sistemà, Domenico se sedeva avanti la casa a guardar i campi lavorà. Là, rifleteva i soi sacrifìssi, sui sòni interroti e su le vite perse in la traversada. La so stòria, come quea de tanti altri, la zera 'na prova de coràio e forsa. Spinti da nessessità e speransa, lu e Elena i gavea traversà l’ossean, costruindo 'na nova oportunità par lori e par i fiòi che i zera vegnù.




quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

La Saga de l’Imigrassion Taliana in Brasile: Condission de Vita, Sfidi e Lassà Culturae


 

La Saga de l’Imigrassion Taliana in Brasile: Condission de Vita, Sfidi e Lassà Culturae

Resumo de Tese 
Autor: Dr. Luiz Carlos Piazzetta

Introdussion

L’imigrassion taliana in Brasile la rapresenta uno de i pì grandi movimenti migratòri de la stòria mondiale tra la fin del XIX e l’inìsio del XX sècolo. Secondo el scritor e stòrico talian Deliso Villa, ´ntel so libro Stòria Dimenticata, sto movimento el vien descrito come "un vero ésodo, comparabile a quel de i judei in Egito descrito ´ntela Bìbia." Tra el 1870 e el 1970, sinque milioni de taliani i ga lassà l’Itàlia in serca de un futuro mèio. Fra i paesi de destinassion, el Brasile el se distingueva per promession e speranze, spesso alimentà da propaganda inganevole, che dipingeva sto paese come "El Dorado," un toco de paradiso ´ntel Novo Mondo.

I migranti taliani i ga portà con lori no solo el laor fìsico, ma anca na rica eredità culturae fata de tradission, arte e valori. Sta presensa taliana la ga moldà el panorama socioculturae de el Brasile, lassiando segni duradori che ancora incòi i ze visìbili. De la gastronomia a la mùsica, da le arti a la religion, la cultura taliana la ga enriquìo e trasformà la sossietà brasilian, dando vita a na diversità vibrante.

El contributo talian al sgrandimento económico el se nota anca ´nte le atività industriae, agrìcole e comerssiae. I taliani i ze stà pionieri ´ntel sgrandimento de cooperative agrìcole, indùstrie tèssili e negòsi pròpri, sbregando oportunità de sgrandimento ´nte le aree rurai e urbane. Sta resiliensa e creatività i ga favorìo non solo el progresso de el Brasile, ma anca la so pròpria integrassion ´nte un contesto multiculturae.

Obietivi de la Risserca

Sto stùdio el ga come scopo:

  • Analisar le motivassion che i ga spinto i taliani a emigrar in massa verso el Brasile.
  • Capir le sfide incontrà durante el viàio e la prima fase de adaptassion.
  • Valorisar l’impato de l’imigrassion su la cultura, l’economia e la sossietà brasilian.

La risserca la vol anca ofrir riflession su question de senofobia, identità e integrasione, temi ancora rilevanti ´nte le dinamiche migratòrie atuae.

Metodologia

La metodologia se basa su:

  • Revision bibliogràfica sistemàtica de fonti primàrie e secondàrie, come registri stòrici, articoli academichi e disertassion.
  • Interviste qualitative con discendenti de imigranti taliani per otegner dati su le esperiense vissute.
  • Anàlisi de i documenti migratòri, come liste de passegieri, per identificare origini regionai e destini finai.

Integrando sti dati, el stùdio el ga adotà na infronta multidissiplinar, che combina aspeti stòrici, economiche e cultura.

Contesto Stòrico

La migrassion taliana in Brasile la se inquadra in un perìodo de grandi trasformassion globali. L’Itàlia, devastà da crisi economiche e sossiai, la ga assistìo a na dispersion massiva de la so popolassion, specialmente da le region del Sud. A la fine del sècolo XIX, con l´abolission de la schiavitù in Brasile, el paese gavea urgente bisogno de manodopera, particolarmente ´ntel setore agrìcolo.

El governo brasilian el ga incentivà l’imigrassion europea con promesse de tera, alogio e oportunità, spesso ben lontane da la realtà. I migranti, spinti da la misèria e da el sònio de proprietà, i ga affrontà viàie lunghe e pericolosi ´ntel’Atlàntico per trovar un futuro mèio.

Sfidi e Contribussion

La vida in Brasile no zera come descrita ´nte le propaganda. I imigranti i se trovava ad afrontar:

  • Condission de vita difìssili ´nte le piantagioni e ´nte le prime colónie.
  • Isolamento geogràfico e culturae.
  • Malatie e mancansa de servissi bàsichi.

Nonostante ste sfide, i taliani lori i ga dimostrà grande resiliensa, costruindo comunità autónome e preservando le so tradission. Sta capassità de adatarse e prosperar la ze diventà un sìmbolo de forsa e unità.

Conclusion

L’imigrassion taliana la ga lassà na impronta profonda ´nte la società brasilian. El contributo de i taliani ´nte l’agricultura, l’indùstria e le arti el ze inegàbile. Incòi, i dessendente de sti pionieri i onora sta eredità, mantegnendo vive le tradission e selebrando un passato fato de sfide e conquiste.

Sto stùdio el ne ricorda l’importansa de preservar e valorisar l’eredità de i migranti, riconossendo el loro ruolo ´nte la costrussion de un Brasile pì forte, sverto e diverso.


domingo, 19 de janeiro de 2025

Das Plantações de Café à Colheita da Vida: A História Triunfante de uma Família de Imigrantes Italianos no Brasil





Um casal de imigrantes italianos, conhecidos como Lorenzo Rossin e sua esposa, Isabella Bianchetti, deixou sua terra natal  para uma jornada transoceânica em direção às Américas, com o destino sendo o Brasil, em 1886. Lorenzo Rossin nasceu em uma pequena cidade chamada Montalcino, na região da Toscana, Itália, em 1º de novembro de 1861, e faleceu em Rio Claro, estado de São Paulo, em 11 de abril de 1943. Sua esposa, Isabella Bianchetti, também originária de Montalcino, nasceu em 8 de setembro de 1867, vindo a falecer em Rio Claro em 10 de Março de 1955.
Com eles, também vieram ao Brasil os dois filhos pequenos do casal, nascidos na Itália. Após a chegada, a família estabeleceu-se em uma localidade chamada São Miguel, para trabalhar em uma vasta propriedade de um rico fazendeiro. Eles desde a chegada se dedicaram exclusivamente ao cultivo da terra, cuidando de  milhares de pés de café da propriedade, junto com quase uma centena de outros imigrantes italianos como eles, proveniente de várias partes da Itália. Nas horas vagas podiam, com o consentimento do patrão, se dedicar ao plantio de uma pequena roça de subsistência. Tragicamente, mais uma vez não tiveram muita sorte com a vida de imigrantes que trouxe novos eventos trágicos para o casal, que já havia perdido dois filhos na Itália, e, infelizmente agora, novamente perderam os dois filhos que vieram com eles para o Brasil.
A vontade era de largar tudo e voltar para a Itália, mas, o contrato assinado impedia que isso pudesse ocorrer antes de transcorridos os quatro anos e depois de pagas todas as dívidas contraídas com o patrão, inclusive as despesas de viagem até a fazenda. Depois de amargurarem as perdas, a tristeza começou a dar lugar à alegria quando a família foi abençoada com o nascimento dos filhos Gianluca, Matteo, Giovanni, Alessio e Caterina, nascidos e rápida sucessão, fortes e saudáveis. Todos os colonos que trabalhavam e moravam na fazenda precisavam comprar os mantimentos e outros ítens de sobrevivência, diretamente do armazém do patrão, e as despesas de Lorenzo eram consideráveis. Decidiram então limitar a alimentação diária de sua família a polenta, um excelente alimento, e suco de laranja. A polenta era adquirida na própria fazenda, pois a farinha de milho usada para prepará-la era trocada por milho com o proprietário. Além disso, possuíam algumas galinhas e uma vaca leiteira. Graças a pequenas economias ao longo de muitos anos de trabalho árduo,  finalmente conseguiram deixar o emprego assalariado na fazenda e tentar a vida por conta própria em um terreno relativamente grande e fértil que adquiriram em uma pequena cidade que estava se formando nas proximidades.
Assim, se estabeleceram em um lugar chamado Colina Verde, junto com todos os filhos, alguns já casados e os primeiros netos da envelhecida família. A única que não os acompanhou foi a filha Caterina, que, ao se casar com um outro imigrante chamado Marco De Luca, também de origem italiana, foi viver em outra fazenda vizinha,  onde seu marido trabalhava.
Anos se passaram desde a mudança para Colina Verde, e a vida na pequena cidade prosperou para os Rossin. Lorenzo e Isabella viram seus filhos crescerem, constituírem famílias e construírem suas próprias casas na mesma colina que um dia era apenas terra fértil. A família agora se expandia, com netos correndo pelos campos verdes e plantações de vegetais que, ao longo do tempo, substituíram monocultura de café.
Gianluca, o mais velho, tornou-se um respeitado agricultor, seguindo os passos de seu pai, enquanto Matteo mostrou um talento excepcional para negócios e abriu uma pequena mercearia no centro de Colina. Giovanni, Alessio e os outros filhos encontraram suas vocações, contribuindo para a comunidade que agora chamavam de lar.
Caterina e Marco De Luca, que haviam se estabelecido em uma fazenda vizinha, prosperaram com o tempo. A terra generosa do Brasil recompensou seus esforços, e eles também construíram uma família sólida. A conexão entre as duas famílias permaneceu forte, com visitas frequentes entre os parentes que viviam tão perto um do outro.
Lorenzo e Isabella, apesar das adversidades iniciais, viram a realização de seus sonhos na nova terra. A pequena propriedade que compraram cresceu, e agora era uma próspera fazenda familiar. A casa, outrora modesta, agora era rodeada por jardins bem cuidados e árvores frutíferas que proporcionavam sombra nos dias quentes.
Com o passar dos anos, tornaram-se um símbolo de superação e prosperidade para a comunidade italiana na região. Os Rossini eram respeitados não apenas por sua determinação, mas pela contribuição significativa que deram para o desenvolvimento local.
Quando Lorenzo e Isabella olhavam para trás, recordavam não apenas as perdas e desafios, mas também as alegrias que encontraram na nova pátria. A tristeza inicial transformou-se em gratidão pela oportunidade de recomeçar e criar uma história de sucesso em terras brasileiras.
A família Rossin não apenas sobreviveu, mas floresceu, deixando um legado que transcendeu gerações. Colina Verde tornou-se um lugar onde histórias de coragem e esperança eram contadas nas noites quentes de verão, e o nome Rossini era sinônimo de perseverança e sucesso naquelas terras ricas e acolhedoras do Brasil.

Nota - os nomes dos personagens, cidades e datas desse conto foram substituídos e são fictícios