quinta-feira, 15 de março de 2018

A Presença dos Vênetos na Província do Paraná

Igreja de Santa Felecidade no final do século XIX




A então Província do Paraná foi fundada em 19 de Dezembro de 1853, com o seu desmembramento da Província de São Paulo.
A colonização Vêneta do Paraná teve grande incremento com a formação da Colônia Nova Itália, no município de Morretes, da Colônia Antonio Prado, fundada em 1866, da Colônia Alexandra em 1877, da Colônia Alfredo Chaves (hoje o município de Colombo) em 1866 e a de Antônio Rebouças, fundada em 1888.

Após a falência das colônias localizadas no litoral paranaense, em especial da Colônia Nova Itália, grande parte dos seus habitantes se transferiram para Curitiba, encontrando espaço nas novas colônias que se estabeleciam em torno da capital paranaense, principalmente a Colônia Dantas (hoje bairro Água Verde) e Colônia de Santa Felicidade (hoje tradicional bairro gastronômico com o mesmo nome).

Estas novas colônias, em volta de Curitiba, ao contrário daquelas primeiras localizadas no litoral, eram vizinhas a um grande centro consumidor e se organizaram baseadas na pequena propriedade.

Tiveram logo um rápido desenvolvimento devido principalmente à produção agrícola de hortaliças e frutas, além de outros produtos alimentícios e serviços, que eram comercializados diretamente pelos produtores, tendo ali encontrado uma terra fértil e um clima mais ameno, muito parecido com aquele das suas cidades de origem no Vêneto.


Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS

Alguns jogos dos imigrantes vênetos no Brasil




Jogo de Bochas início do século XX Erechim RS



Em geral os imigrantes vênetos ao chegarem Brasil tinham poucos momentos para diversão, mas, com o passar do tempo foram, aos poucos, introduzindo aqueles jogos tradicionais das suas províncias de origem e também assimilaram outros tantos comuns aos imigrantes italianos. 



Jogo de Mora



Assim, entre os jogos preferidos estava a mora, conhecido e rápido jogo que exige dos contendores além de ligeireza mental a capacidade de saber fazer contas. Era um jogo muito conhecido e praticado em todo o Vêneto, tanto nas festas religiosas como nas osterias. O baralho, com seus vários tipos e formas de jogar, era outro passatempo predileto dos imigrantes Vênetos nos filós e nas tarde de domingo, quando se concediam um período de descanso da lide diária. Entre as formas de jogo de baralho mais conhecidas estão: bisca, três sete, quatrilho, escova e mais tarde truco, entre outros. Um outro esporte muito difundido nas colônias de imigrantes italianos e vênetos em particular, o jogo de bochas foi sem dúvida um dos mais populares, reunindo, principalmente nas tardes de domingo, dezenas de jogadores, e outro tanto de assistentes, em volta das canchas quase sempre localizadas junto a capela das comunidades. Outra forma de diversão muito difundida foi o jogo do cinquilho, quase sempre presente nas festas das capelas onde os jogadores disputavam um premio.


Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS

Imigração Vêneta no Paraná um Pouco da História

 
Estação Ferroviária de Morretes no início século XX


Enorme e com um índice populacional baixíssimo, a Província do Paraná era, nos últimos anos do século XIX, um território muito novo no interior de um jovem país, o Brasil.

O Paraná, Província do Estado de São Paulo, se torna um estado independente em 1853, possuindo um vasto território e algumas regiões inexploradas ainda no início do século XX. Tudo ali estava por se fazer, para se construir, para se criar. Havia a necessidade urgente de ocupar aqueles amplos vazios do grande território e promover rapidamente a sua colonização.

A idéia de trazer imigrantes europeus se consolidou e transformou-se em realidade. Já tinha sido iniciada quando Província de São Paulo, com a criação em 1828 da colônia Rio Negro, de imigrantes alemães. Estava aberta as portas para a grande imigração que em poucos anos transformou o Estado do Paraná em um dos mais importantes e ricos da federação.

Os primeiros imigrantes vênetos começaram a chegar no Paraná já a partir do ano de 1875, através do porto de Paranaguá, após o período obrigatório de quarentena na Ilha das Flores, no Rio de Janeiro, então capital do Brasil.

Os vênetos vieram juntos com famílias italianas provenientes de outras regiões da Itália. Faziam parte das primeiras levas de imigrantes que, naqueles anos do final do século XIX, transformaram o Brasil na meta preferencial da imigração italiana.

Naquele período, a Estrada de Ferro Curitiba - Paranaguá ainda não estava concluída e ao chegarem a Paranaguá eram transferidos inicialmente para o alojamento de imigrantes de Morretes e depois para as colônias italianas especialmente criadas, sobretudo na cidade de Morretes.

Entre essas colônias italianas destacamos a Colônia Nova Itália, pela sua breve e conturbada existência, a prova do falimento daquele modelo de colonização implantado.

As condições de vida nesses locais eram bastante precárias e em alguns deles, como nessa Colônia Nova Itália, imperava o descontentamento e a desorganização, chegando ao ponto de ocorrem alguns motins dos colonos ali residentes contra a direção da Colônia.

O tempo quente do litoral, a selva úmida e a presença em grande quantidade de mosquitos e outros insetos que causavam grande desconforto aos imigrantes, como as infestações de bicho-de-pé, tornavam um inferno a vida daqueles pioneiros.

Mais tarde, quando o serviço diminuia nas colônias, muitos homens encontravam algum trabalho na construção da Estrada de Ferro Curitiba - Paranaguá, obra gigantesca, triunfo da engenharia brasileira, que exigiu o esforço de milhares de trabalhadores.

Mas, apesar de estarem na "América", sonho acalentado por todos, continuava grande o descontentamento dos imigrantes com o local onde foram colocados para viver. As queixas eram gerais e quando ocorreu o falimento da colônia, e apartir de 1878 os imigrantes começaram a ser distribuídos para outros locais, principalmente subindo a Serra do Mar, se estabelecendo nos arredores de Curitiba, a capital do Estado do Paraná, situada em um altiplano, a quase mil metros de altura em relação ao mar.

Este local foi de inteiro agrado dos imigrantes italianos, pois, além de ser uma terra fértil para plantar, tem um clima muito parecido com aquele europeu. Tinha início uma outra mentalidade de colonização experimentada pelo governo do Paraná: a ocupação de áreas próximas às grandes cidades, dando impulso à agricultura local. Muitos também vieram a se colocar expontaneamente, em pequenas propiedades rurais, ao redor de Curitiba, tirando o seu sustento como agricultores e executando trabalhos como artesãos.

Assim foram-se formando comunidades italianas, onde os vênetos constituiam sempre a maioria, em torno da cidade de Curitiba, em colônias menores, disponibilizadas pelo governo paranaense.


Igreja São José - Santa Felicidade em 1891

 Essa antigas colônias em Curitiba, em breve se transformaram em bairros, como os de Santa Felicidade e Água Verde, onde ainda hoje, é grande a presença dos descendentes de vênetos.

A chegada de novos imigrantes não cessava. Com o passar dos anos os vênetos foram se espalhando por todo o Estado do Paraná, sendo que um grande número foi encaminhado para a cidade da Lapa.

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS


Festa de Nossa Senhora da Saúde em Veneza





Em Veneza todos os anos no dia 21 de Novembro se festeja o fim de uma grande epidemia de peste negra que assolou todo onorte da Europa entre os anos de 1629 e 1633.
Esta epidemia foi particularmente muito virulenta na cidade, provocando a morte de 12.000 pessoas, nos primeiros 17 meses da sua chegada. Levando-se em conta que Veneza na ocasião tinha uma população de 150.000 pessoas podemos avaliar a extensão dessa tragédia.
Muitos foram os mortos ilustres, entre eles o Doge Nicolò Contarini e o Patriarca de Veneza Giovanni Tiepolo.
Essa epidemia golpeou a cidade com tanta intensidade que o enterro de tantos mortos ao mesmo tempo casou sérios problemas para as autoridades. Os corpos eram depositados frente as casas à espera de transporte e em alguns momentos jogados diretamente no canal ou colocados em barcos.
Neste quadro de desespero o Doge prometeu em construir uma magnífica igreja dedicada a Nossa Senhora para que ela livrasse a cidade daquela terrível doença.
Assim tão logo Veneza se viu livre da peste foi dado início a construção da grande Basílica que hoje conhecemos, em estilo barroco, localizada do outro lado do canal frente ao Palacio Ducale.


No altar-mor foi colocado um quadro da Virgem, magnífico trabalho de origem bizantina, que o 108* Doge Francesco Morosini, tinha trazido de Creta em 1670, quando os venezianos tiveram que abandonar a ilha para os Turcos.
Esta festa é muito querida pelos venezianos e uma das suas manifestações religiosas até o dia de hoje. 


Nos dias precedentes à festa uma ponte formada por barco é organizada para unir as duas margens do Canal Grande e permitir o trânsito dos peregrinos. Estes na ocasião Vão em procissão sobre ela, portando velas para serem depositadas no altar da Virgem. Com este gesto esperam agradecer pelas graças já alcançadas e ao mesmo tempo pedir novas interseções. 
O prato típico desse dia é conhecido como “castradina” e consiste de uma sopa de carne de carneiro salgada e defumada, importada da vizinha “Schiavonia”, que é faixa costeira da Dalmazia, do outro lado do Mar Adriático, na frente de Veneza. Hoje ali estão os países Bósnia e Albânia. O nome completo do prato é “castradina sciavonica” que é preparada com couve, cebola e vinho.



Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS