domingo, 12 de outubro de 2025

Sonhos no Pacífico


 

Sonhos no Pacífico
A história real de uma emigrante italiana em San Francisco

Lucia Bartoloni, filha de Antonio, nasceu em Alpe di Gorreto, uma pequena comuna encravada nos vales montanhosos da Ligúria, em 1888. Solteira, no início de 1914 então com 26 anos, quando a Europa já vivia os prenúncios da guerra, decidiu emigrar para a América. Acompanhavam-na o irmão Carlo, alguns anos mais velho, e a cunhada Teresa Bianchini.

Os três seguiram até Gênova, onde embarcaram no vapor Principessa Giovanna, que deixou o porto em 10 de abril de 1914. Na entrevista de embarque, Lucia declarou ter custeado sozinha sua passagem e possuir cinquenta dólares, pequena soma economizada com muito esforço. O destino informado era San Francisco, na Califórnia, onde pretendiam reunir-se a parentes já instalados no bairro de North Beach, tradicional reduto italiano da cidade.

No registro inicial, afirmou ser dona de casa, mas em Nova Iorque, no controle de Ellis Island, declarou-se criada de servir, acreditando que essa condição lhe facilitaria o acesso ao mercado de trabalho. A travessia foi marcada por privações: furtos entre passageiros, a sensação constante de desorientação diante do tamanho do navio e o temor de naufrágio nas noites de mar grosso.

No início de maio, após as inspeções médicas, Lucia e seus parentes foram admitidos em solo americano. Em San Francisco, começou com pequenos trabalhos a domicílio, costurando e fazendo consertos. Mais tarde, conseguiu emprego em uma fábrica de roupas e calçados. As condições eram duras: longas jornadas em ambientes abafados, poeira que se infiltrava nos pulmões, salários baixos e ausência de proteção contra doenças.

Foi nesse ambiente que sua saúde começou a se deteriorar. Diagnosticada com tuberculose, Lucia foi internada em hospital, mas logo notificada de que deveria ser repatriada, conforme exigiam as leis de imigração dos Estados Unidos.

De volta a Alpe di Gorreto, recebeu cuidados, mas a doença avançou rapidamente. Em 1922, aos 34 anos, Lucia faleceu, levando consigo os sonhos que a tinham conduzido ao outro lado do Atlântico.

Seu irmão Carlo e a cunhada Teresa permaneceram na Califórnia, mas abandonaram a cidade e se mudaram para o interior, onde adquiriram terras e fundaram um pequeno rancho. Ali fixaram raízes definitivas, sem nunca mais regressar à Itália.

A vida breve de Lucia Bartoloni reflete o destino de milhares de emigrantes italianos: coragem para deixar a terra natal, esperança diante do desconhecido, sacrifícios impostos pelo trabalho e uma luta contra o tempo e o destino que marcou gerações.

Nota do Autor

Esta narrativa é baseada em fatos verídicos, reconstruídos a partir de registros de emigração e memórias preservadas por descendentes. Para proteger a intimidade das famílias envolvidas e preservar as fontes originais, os nomes e sobrenomes foram alterados.

Trata-se de uma homenagem a todos os emigrantes italianos que, com coragem e sacrifício, cruzaram oceanos em busca de um futuro melhor, deixando como herança uma história de luta, esperança e resiliência.

Dr. Piazzetta