domingo, 19 de maio de 2024

Precursores da Grande Emigração




A Saga dos Vendedores Ambulantes Itinerantes na Itália

Partiam a pé, carregando nas costas uma grande caixa de madeira sustentada por duas alças de couro. Dentro dela, guardavam uma variedade de itens coloridos: imagens religiosas, baralhos de cartas, a imagens conhecidas também como cromo. Suas jornadas os levavam por caminhos longínquos, distanciando-se de casa por meses, até anos. Eles vendiam estampas coloridas de paisagens ou santos, produzidas pela renomada impressora Remondini de Bassano del Grappa, que alcançavam os cantos mais remotos do país: uma editora de destaque naquela época, dominando o setor mundialmente. O habitantes da zona em torno a Bassano del Grappa, encontrava nesse trabalho uma forma de amenizar a extrema pobreza em que viviam. Partiam de Asiago, da Valstagna, de Fastro, de Crespano, de Possagno e tantas outras. Deixavam as suas pobres casas e ganhavam a Europa.

A profissão de vendedor ambulante era bastante comum na região do Bassanese, entre os séculos 17 e 18. Destacava-se quem comercializava as estampas de Remondini de casa em casa, pelas vilas e cidades na Península e no vasto Império Austríaco, onde eram conhecidos como cromer (Krommer), na França, Suíça, Inglaterra, Dinamarca, Alemanha, Polônia, até mesmo em São Petersburgo e além. Esses "viajantes comerciais" foram pioneiros que deram lugar para as futuras ondas de emigrantes que se seguiram, passando a seguir, pelas "rondine", uma forma de migração sazonal, que aproveitava a diminuição do trabalho nos campos, deslocamento dentro da própria Europa, que antecedeu a emigração definitiva. Eles anteciparam, em cerca de cem anos, o gigantesco êxodo que levaria milhões de italianos ao Novo Mundo nos séculos seguintes.

Algumas décadas se passaram e os vendedores das populares estampas transformaram-se em vendedores de cerâmica, vidro e cristal, conhecidos como "maiolini". Carregando consigo as caixas nas costas, amarradas por cintos de couro, eles percorriam a pé, vendendo seus produtos de porta em porta, passando por vilas e cidades, oferecendo taças, garrafas, jarros e cristais. Eram numerosos também os "maiolini" na primeira metade do século 18, principalmente nas regiões montanhosas e nos vales. Experimentaram um período de sorte que logo se dissipou. O trabalho árduo e arriscado os mantinha longe de casa, levando uma vida errante. Alguns nunca mais retornaram; outros, saqueados por bandidos, foram forçados a desistir. Mas muitos, ao final, estabeleceram-se onde chegaram, montando suas próprias lojas. Ainda hoje há alguns (na Lombardia, no Veneto, na Emília, no Tirol...) que revivem os tempos da emigração a pé, com a caixa nas costas.

Em poucos anos, começaram a surgir os primeiros sinais de transformação profunda no velho continente. A Europa estava em expansão: construíam-se estradas, galerias, pontes, e uma impressionante rede ferroviária. Para realizar essas grandes obras públicas, centenas de milhares de trabalhadores migravam de um país para outro. Foi nesse contexto de movimentos a pé, de migração temporária que a emigração italiana deu seus primeiros passos e se consolidou.