Mostrando postagens com marcador Monte Grappa. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Monte Grappa. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 8 de maio de 2025

O Vinho da Guerra: Uma Família Entre a Destruição e a Esperança

 


O Vinho da Guerra: 
Uma Família Entre a Destruição e a Esperança


24 de outubro de 1917. A data ecoaria como uma ferida aberta na história da Itália. Há anos, o país travava uma guerra extenuante contra o Império Austro-Húngaro, mas naquele fatídico dia, o equilíbrio foi abruptamente rompido. As tropas austro-húngaras, reforçadas por batalhões alemães experientes, desferiram um golpe devastador nas linhas italianas em Caporetto. A derrota, que ficaria conhecida como a 12ª Batalha do Isonzo, obrigou o exército italiano a uma retirada desesperada para a linha do Rio Piave, deixando atrás de si um cenário de caos e desespero.

Nas primeiras horas que se seguiram à catástrofe, a notícia percorreu a região como um incêndio em campo seco. Em Pederobba, um pequeno município situado entre as sombras do Monte Grappa e o Rio Piave, o toque incessante dos sinos da igreja alertava os moradores. A mensagem era clara e aterradora: a evacuação era inevitável. Homens, mulheres e crianças deveriam abandonar suas casas e terras imediatamente, fugindo para o sul, para longe do avanço inimigo. A pequena cidade, até então um refúgio de paz entre montanhas e vinhedos, mergulhou em um redemoinho de medo e agitação.

Entre os moradores, Giuseppe, um marceneiro habilidoso e carpinteiro renomado, era uma figura central. Morador na cidade a muitos anos, originário do município vizinho de Alano di Piave, na província de Belluno, Giuseppe vinha de uma linhagem de artesãos cuja maestria com a madeira era quase lendária. Muitas igrejas e casas nobres de Veneza e arredores exibiam orgulhosamente as portas esculpidas e altares de sua família, cuja reputação atraía até as famílias maus nobres. Além de seu talento com a madeira, Giuseppe herdara do pai, Francesco, uma paixão por seus vinhedos e pela produção do vinho Raboso del Piave, cultivado com dedicação quase religiosa para consumo familiar.

Casado com Giuditha, uma mulher de fibra e perspicácia comercial, Giuseppe tinha uma família numerosa: dez filhos ao todo. Os quatro mais velhos haviam emigrado anos antes para o Brasil, em busca de oportunidades. Outras duas filhas haviam seguido destinos igualmente distantes — uma para a França e outra para os Estados Unidos. Restavam em casa os quatro mais jovens, incluindo a caçula, uma menina de olhos brilhantes que parecia ainda alheia ao horror da guerra.

Quando as ordens militares de evacuação chegaram, Giuseppe agiu com a precisão de um homem acostumado a decisões rápidas. Com a ajuda dos filhos, cavou um buraco profundo ao lado de sua oficina, onde enterrou suas ferramentas mais preciosas, uma bicicleta e três damigianas cheias do vinho que ele tanto estimava. Pedras pesadas foram cuidadosamente colocadas sobre o esconderijo, criando uma falsa tampa que, esperavam, passaria despercebida.

O êxodo começou ao amanhecer. Carroças abarrotadas, grupos apressados a pé e até alguns poucos sortudos em vagões de trem seguiam a corrente humana em direção à Emília-Romagna, deixando para trás tudo o que conheciam. Após dias de caminhada extenuante, a família chegou a Sassuolo, uma pequena cidade nos arredores de Modena, onde foram acolhidos. Giuseppe e os dois filhos mais velhos, Matteo e Piero, logo encontraram pequenos trabalhos, o que trouxe alívio financeiro em meio às privações do exílio.

O retorno à terra natal, permitido após o armistício de 4 de novembro de 1918, foi agridoce. Pederobba estava irreconhecível, marcada por bombardeios incessantes que a transformaram em uma zona de ninguém entre os exércitos. A igreja, outrora o coração da comunidade, estava em ruínas. A casa da família, a oficina e a pequena loja de Giuditha haviam sido reduzidas a escombros. Mesmo assim, Giuseppe encontrou forças para recuperar o que pôde. O esconderijo com as damigianas foi descoberto intacto, mas a bicicleta estava irremediavelmente corroída pela água.

Sem recursos para reerguer o que perderam, Giuseppe e Giuditha tomaram uma decisão dolorosa, mas inevitável: deixar a Itália e juntar-se aos filhos no Brasil. Em 1919, embarcaram rumo a Curitiba, no Paraná, levando consigo apenas um baú de ferramentas e, como símbolo de resistência, alguns litros do vinho salvo da guerra. No Brasil, a família se reencontraria com os filhos mais velhos e suas famílias, até então rostos distantes em cartas. Ali, em um novo mundo, começariam de novo, sustentados pelo espírito resiliente que a guerra não conseguira apagar.




Nota do Autor


A inspiração para "O Vinho da Guerra: Uma Família Entre a Destruição e a Esperança" nasce de uma história que, embora fictícia, encontra eco em incontáveis vozes do passado. O cenário é a Itália dilacerada pela Primeira Guerra Mundial, um país em que a esperança e o desespero frequentemente se alternavam como protagonistas de uma tragédia coletiva.
Neste conto, o vinho — símbolo de tradição, sacrifício e raízes familiares — emerge como metáfora da resistência humana. Giuseppe, marceneiro e viticultor, não é apenas um personagem, mas uma homenagem aos anônimos que, em tempos de guerra, enfrentaram a ruína com engenhosidade e coragem. Sua decisão de salvar as ferramentas e o vinho, mesmo diante da devastação, reflete a essência da luta por preservar identidade e dignidade quando tudo parece perdido.
A narrativa também explora o impacto das decisões que transformam a vida de gerações. A evacuação, a jornada em busca de segurança e o recomeço no Brasil são testemunhos de uma coragem resiliente que transcende fronteiras. Como muitos imigrantes, Giuseppe e sua família carregaram consigo não apenas bens materiais, mas também os alicerces de uma nova história: trabalho árduo, tradição e um profundo amor pela vida.
Este conto pretende não apenas lembrar os horrores e sacrifícios da guerra, mas também celebrar a força que emerge das adversidades, unindo passado e futuro. Que o leitor encontre aqui um convite à reflexão sobre a fragilidade e a resiliência humanas, e sobre como, mesmo em tempos sombrios, a fé no amanhã pode ser destilada, como um bom vinho, do espírito imortal das pessoas comuns.






domingo, 3 de novembro de 2024

Da Pederobba al Alaska par Catare l’Oro


 

Da Pederobba al Alaska par Catare l’Oro


Giovanni Dalla Costa e la so famèia lori i ze vivesto a Pederobba, un pìcolo comune de la provìnsia de Treviso, za su el confin con Belùn, a fianco de la strada feltrina. El ze nassesto nel 1868 in una famèia de pìcoli agricultori. Laorava con i so genitori su tereni in afito, al piè del monte Monfenera. La situassion econòmica dea so famèia la zera paregià a quela de tanti altri agricultori de la contrà, e lui no i gà mai pensà de emigrar, come tanti altri che già son ‘nda via. De boto, na note d’autono, un gran fogo el ga brusà la casa e tuta e la resa messa ´ntel paiol. L’è restà mìsero de colpo. El gà sercà aiuto dal goerno, lu el gà provà a domandar schei ai banchi, ma no’l gà mia trovà quelo che ghe servia, e, con gnente laoro, l’è stà sonià de andarghe via d´Itàlia anca lu. Nel 1886 Giovanni el ze partì solo par la Frància do ghe ga trovà un laoro ´nte na mina, cussì el pò mandarghe dei schei a famèia restà a Pederobba. No sodisfà, el gà pensà de ‘ndar so Amèrica, ´ndove ghe ze grandi oportunità par chi gà vóia de laorar, magari anca da farghe fortuna. El ze ‘nbarcà al porto de Le Havre, in Normandia, con el destino de Nova York. Rivà in quela, sùito el sente dir de la Califòrnia, de là de Amèrica, ´ndove ghe ze tante mine d’oro. El ze montà su de primi treni par ‘ndar fin là, ma na volta rivà, el scopre che la corsa al oro, la ze inissià vent’ani prima, adesso l’era finì e se vol viver, ghe toca laorar. Trova un laoro come minerador pagà in na mina su in Montana, verso le Montagne Rossose, su a cofin col Canada. Quando el ze rivà, sente dir che in Alaska ghe ze la nova corsa al oro dei Stadi Uniti. Volendo far fortuna, Giovanni, oramai ciamà da tuti Jack, decise de andar sùito a quela tera lontana e sconossua, coperta de giasso par bona parte de l’ano, in serca de na vida nova. La febre de l’oro lo gà oramai tacà. Sbarcà in Alaska, el se meti a caminar in drento par quel grandìsimo teritòrio, a piè, a cavalo, in canoa, in compagna de altri aventurieri come lù, anche lori presi da la febre del oro. Ghe feci amissìssia con un emigrante talian de Mòdena, che l'avea ormai 'ndà a catar la so fortuna, a cavar oro. Poco dopo ghe ze rivà anca so fradeo Francesco. Par ani lori percori na gran strada, tra fiumi con barche e foreste con slite, montando sui monti coperti de neve ´ndove che a temperatura la cascava fin a meno trenta ´nte l´inverni. Lori i magnava carne seca e fasòi in tende poarete che ghe protegea poco dal fredo. Ma quando vinìa el istà, i ze becà da nùvole de moschetin. Durante i spostamenti, lori i se fermava ogni tanto par esplorar el tereno congelà che par cavar fora ghe serviva far gran fogassa par squagliare el giasso. Da i nativi lori ga imparà a laorar sensa sudar, che seno la piel sudada la zera sùito congelà. Dopo do ani de soferense, riva al fin el zorno tanto sonià su la riva del Yukon, ndove lori i gà trovà tanto oro. La località ze ciamà incòi Fairbanks, e là ghe ze un busto e na targa con el 9 Aprile del 1903. Rico, el gà deciso de tornar in Itàlia, ma a San Francisco el ghe vien ciapà via tuto el so oro e ghe toca tor el viàio fin Alaska par cavarghe n’altra volta. Dopo un ano el ze na volta ben rico e così torna a so Pederobba. Quando el ze rivà indrio nel 1905, dopo quasi venti ani, nessun ghe crede a sta so stòria, ma quando el inisia a comprar case, campi, e depositar monede de oro in banco, tuta la gente lo ciama come ‘na legenda. Inte'l mentre la so famèia se gà desfà, pieni de dèbiti che no i gà podesto pagare. So fradeo Jacomo emigra in Frància, do ghe se marida con na francesa e de lori no se sa gnente. So mare, so pare, on fradeo e na sorea, vendù quel che gà restà, e lori i ze emigrà su Montevideo, in Uruguay. Qualche tempo dopo lori i riva fin Rio Grande do Sul dove a sorea la morì con tanti tribolasioni. Dopo, i pochi che i gà restà in famèia, aiutà da Giovanni, trova posto in Guaporé, con un pìcolo albergo. Giovanni el ze a Pederobba e poco dopo el vien ragiunto da so fradeo Francesco. Tuti e do decide de maridarse. Giovanni se sposa con Rosa Rostolis e lori i gà fato un grande viàio, par tuti i posti che lù el gà conosuo, fin a Fairbanks in Alaska, sempre stanzo ntei alberghi de lusso. De sto matrimónio lori i gà on fiol e quatro fiòle. Giovanni a Pederobba se laora a s’occupasion dei so beni e laora su campi su quel comune. So fradeo Francesco el sposa Maria Poleselli, lor i gà de pìcoli e torna ‘ndrio in Alaska, poì pì tarde el va in Roma e dopo se trasferise in Toscana. Quando scòpia la Prima Guerra Mondial, con la rota del fronte italiano a Caporetto, el fronte se desloca e se ferma lungo a lìnea de Monte Grappa e Piave, e Pederobba se trova in meso ai buti. In freta la famèia de Giovanni la gà dovuo scampar via con quel poco che lori i gà podesto portarse, a riparo in Lombardia, su a Pavia, par pì de un ano, fin la fine del conflito. In sta sità, una de le fiòle la ze morta, vìtima de l’epidemia de gripe spagnola che devastava tuto el continente. Pederobba la zera quasi tuta distruta dai continui bombardamenti dei do eserciti in lota. Trova la so casa mia rovinà, i mòbili o gà roti o rubà. Na cassa con robe de valor che lori l’aveva interrà in orto, l’era stada trovà e piasa via. L’oro deposità ntel Banco de Valdobbiadene el gà stà ciapà dai austriachi. Se trovea ‘n dificoltà anca stavolta. Dopo poco tempo, colpì dal mal de cor, el ze morto a quaranta ani, lasando la famèia in poaretà. Con la crisi del 1929 la sposa Rosa la ze obligà a vender quel che gà restà de campi e anca la casa, morendo nel 1955. Al cimitero de Pederoba ze stà messa na làpide par ricordar sta stòria incredebile.


Riassunto del libreto publicà dal comune de Pederobba.