sexta-feira, 31 de julho de 2020

Os Primitivos Veneti



Os antigos Veneti se estabeleceram em pequenas aldeias, principalmente entre o Adige e o Lago de Garda e também nas áreas pré alpinas de Valbelluna, quando então o vale do Pó era coberto por bosques e áreas pantanosas. 
Uma das maiores necrópoles dos Veneti, perfeitamente preservada, está na cidade de Mel, entre Belluno e Feltre. Os centros habitados acompanhavam as margens dos rios e nas colinas. Os centros habitados consistiam em algumas cabanas de forma retangular agrupadas, conectadas umas às outras. Com o passar do tempo a vila foi se expandindo e as casas construídas com várias cômodos, sendo alguns deles destinadas para atividades artesanais. 



Essas casas eram feitas de paredes com um tramado de madeira coberto de argila , construídas sobre a pedra, com a finalidade de isolamento e reduzir a umidade. O chão das casas era de terra batida, enquanto o teto feito de palha. A peça principal das casas era onde ficava a lareira, feita de uma base de argila sobre a qual eram depositados fragmentos de cerâmica e seixos com a finalidade de manter o calor, atuando como isolamento. A família se reunia em torno dela. 

Os principais centros habitados eram providos de portos, não apenas aqueles ao longo da costa, mas também os localizados ao longo dos rios que possuíam um volume de água suficiente. Nesses, uma rede de canais era escavada, permitindo assim que o atracamento de  barcos.

Sempre em torno dos grandes centros, os Veneti começaram o desmatamento das florestas e se organizaram em centros habitados cada vez maiores, especialmente ao longo dos rios Adige, Brenta e Piave. As suas principais cidades foram Este, Altino, Pádua, Montebelluna, Oppeano e Gazzo Veronese. 






As casas que eles construíam nas áreas montanhosas eram diferentes daquelas construídas nas planícies ou colinas. Eram casas construídas no subsolo, com fundações de pedra e elevação de madeira, de preferência expostas ao sul, possibilitando receber o máximo de luz e calor possíveis. 

Os Veneti surgiram na Idade do Ferro e sua história pode ser dividida em dois períodos: um mais antigo, que vai de suas origens por volta do século V a.C, no qual a originalidade cultural é mais evidente e o período mais recente que vai até o primeiro século d.C, que sofreu uma influência celta e, em seguida, uma lenta assimilação romana.

No período antigo, tiveram intercâmbios culturais com os etruscos, desde período vilanoviano do X ao VIII séculos a.C. Também com os Gregos e o Oriente. No período mais recente, os Veneti entraram em contato, principalmente no oeste, com os gauleses Cenomani, com os quais teriam se aliado junto com os romanos. A influência cultural celta foi se tornando cada vez mais importante. Mais tarde, tiveram contato com a civilização romana e por eles foram assimilados. 



Segundo os historiadores da época  romana, os Eneti seriam uma população originada na Paflagonia, uma região da Ásia Menor no Mar Negro. Eles teriam sido expulsos de lá e também participaram da Guerra de Troia. Diziam esse historiadores romanos, que em Troia morreu Pilemene, o chefe dos Eneti, assim eram conhecidos os Veneti, os quais sem uma pátria e sem um guia, se voltaram para Antenor. Com ele e após várias peripécias, chegaram nas costas ocidentais do norte do mar Adriático. Aqui os Eneti teriam expulsado os Euganei, uma população local que se refugiou nos vales alpinos e da qual não restam vestígios relevantes hoje.

Segundo o historiador Virgilio, Antenor é apresentado como o fundador de Pádua. Os Veneti também estão associados a Diomedes, um herói deificado, que teria fundado, além de Spina, também a importante cidade portuária de Adria que, apesar de ter origens vênetas, é mais conhecida como um entreposto comercial grego, depois um período etrusco e mais tarde gálico.

Plínio, o Velho, fala dos Veneti se referindo ao que Cato havia escrito: "Veneti troiana estirpe ortos auctor est Cato” ou "Cato certifica que os Veneti descendem da linhagem troiana”.

Strabon relata uma hipótese diferente, que os Veneti eram uma população celta: isso porque ele estava ciente da existência de uma população com o mesmo nome, os Veneti de Armórica, hoje a atual Bretanha.

Nas pesquisas mais recentes, encontrou-se uma concordância substancial com o que já foi reivindicado pela historiografia latina: os Veneti compartilham com os latinos uma origem proto histórica comum, embora não através desse vínculo comum com a Grécia antiga e com Tróia em particular postulado pelos romanos através do mito de Antenor. O grupo indo-europeu veneto latino havia se formado como um grupo separado em uma área da Europa Central, provavelmente localizada dentro das fronteiras da Alemanha atual e parte de um vasto continente indo-europeu que se estendia pela Europa Central e Oriental desde o início do III milênio a.C.  
A partir desse local, mudaram-se para o sul durante o segundo milênio a.C., provavelmente por volta do século XV a.C, enquanto uma parte desse povo continuava estabelecida até o atual Lácio, terra dos latinos.






terça-feira, 28 de julho de 2020

Caterina Cornèr Uma Rainha em Asolo




Caterina Cornaro, ou Caterina Cornèr na língua vêneta, nasceu em Veneza no ano de 1454, em uma família antiga e nobre, a Cornèr, uma das doze famílias mais importantes. Era filha de Marco Di Giorgio Cornèr e de Fiorenza di Nicolò Crispo, duquesa de Nasso, esta neta pelo lado materno do Imperador Giovanni IV de Trebisonda. Caterina foi educada em Pádua e era muito famosa por sua beleza.

Em Veneza, entre os séculos XV e XVI, duas são as figuras femininas mais proeminentes do patriciado: Bianca Cappello, Grã-duquesa da Toscana e Caterina Cornaro. Entre os dois, a escolhida para se casar com Jacques II de Lusignano, é Caterina, nascida de uma antiga família que haviam grandes interesses econômicos na ilha de Chipre, além disso, ostentava pelo lado materno um parentesco com a dinastia imperial Bizantino dos Comnenos.
Foi claramente um casamento de conveniência tanto para a família Cornèr, a quem uma filha rainha conferia uma posição de alto privilégio social, quanto para o rei, nascido ilegítimo sempre temendo com as intrigas do pretendente legítimo. 


  

Também entre os interesses dos Cornèr na ilha de Chipre, constavam importantes plantações de cana-de-açúcar, algodão, linho, cânhamo e trigo. Outros membros da família Cornèr, chamados Psicopio, também habitavam a ilha desde o início do século XIV e possuíam vastas terras, incluindo o grande feudo de Episkopi. 

Em 1468, o tio paterno de Caterina, Andrea Cornèr, amigo íntimo do rei de Chipre, Giacomo II de Lusignano, um jovem de 30 anos de idade, combinou o casamento de Caterina com ele, prometendo-lhe também a proteção de Veneza. Isso foi muito importante porque mesmo filho de Jean II, este pertencente a uma dinastia de cruzados originários de Poitou e possuidor também do título de rei de Jerusalém, embora naquela época já sob completo domínio dos muçulmanos, fôra contra outros herdeiros e estes ainda contestavam seu direito ao trono. Giacomo II vivia bastante inseguro com o futuro do seu reinado e a alegada proteção de Veneza seria de grande valia.

O noivado ocorreu em Veneza em julho de 1468, durante uma cerimônia suntuosa, na presença do representante do noivo, embaixador Filippo Mistahel. Caterina, foi declarada "filha adotiva da República" pelo Senado veneziano - uma honra nunca dada a nenhuma mulher antes dela - e recebeu um dote de 100.000 ducados de ouro; além disso, a família Cornèr adquiriu direitos e privilégios sobre as cidades de Famagusta e Cerines. Mas foi somente em 1472 que Catarina foi trazida para Chipre.
  

Imediatamente após a morte do rei, seu marido, em Famagusta, houve um tumulto, promovido pelos inúmeros pretendentes para substituir Caterina, tal como a cunhada Carlotta, casada com Ludovico di Savoia, que se considerava a  herdeira "legítima" do trono. 

Foi à partir desse momento que Veneza passou a intervir orientando a política de Caterina, que governava Chipre, auxiliada por um Conselho de Regência, formado pelo seu tio Andrea Cornèr e mais dois primos. Após a tomada do poder da ilha por Veneza, a nobreza cipriota passou a ser regida pelo Conselho Maior da Ilha, com 145 membros, no qual os patrícios venezianos que se estabeleceram em Chipre estavam em maioria.
Em 14 de novembro do mesmo ano de 1473, um grupo de nobres catalães, tendo o arcebispo de Nicósia à frente, invadiu o Palácio Real e, no quarto da rainha, assassinou o seu tio Andrea, seu primo Marco Bembo, o médico real e um servo. Caterina foi tomada como refém e vigiada, após ser forçada a entregar o dinheiro, as jóias e o selo oficial do estado. Os rebeldes pretendiam casar a pequena Carlotta, filha natural do rei Jacques II com Alfonso de Aragão, filho de Fernando, Rei de Nápoles, forçando Catarina e o filho recém-nascido Jacques III a cederem seus direitos como rei.

Veneza, como combinado, reagiu rapidamente e em 23 de novembro, dez galeras sob as ordens de Vettore Soranzo aportam em Famagusta com o exército veneziano, sob o comando do capitão-general Pietro Mocenigo, pronta para combate. As tropas venezianas desembarcaram rapidamente e ocuparam a cidade, fazendo os conspiradores fugirem. A Serenissima tinha ordenado que à partir de agora a rainha seria auxiliada por um Provedor e dois conselheiros, patrícios venezianos.  As tropas ficariam sob as ordens do Provedor e as guarnições venezianas passavam a controlar Famagusta e Kyrenia. No entanto, nenhuma decisão poderia ser tomada sem o consentimento da rainha e apenas seus estandartes seriam hasteados nas fortalezas. Apesar de tudo, a rainha estava cada vez mais isolada, situação que piorou quando da morte de seu pai Marco Cornèr, ocorrido em Veneza, ocasião em que a sua mãe Fiorenza Crispo também deixou a ilha. 

Em 21 de fevereiro de 1487, o Senado veneziano decidiu que o Reino de Chipre seria anexado aos domínios da República da Sereníssima. O Conselho dos Dez foi encarregado do planejamento e execução da missão, tendo em vista que as ameaças de Alfonso de Aragão, eram cada vez mais inquietantes e causava muita preocupação para Veneza.
Em 28 de outubro de 1488, o Conselho dos Dez da Sereníssima reiteraram a ordem ao capitão-general Francesco Priuli de trazer Caterina de volta para Veneza, inicialmente tentando persuadi-la, mas também depois a ameaçando, se fosse necessário. Em caso de recusa em retornar deveriam avisá-la de que ela poderia ser  tratada como rebelde e que as suas mordomias seriam retiradas. Ao mesmo tempo, ordenam que Giorgio Cornèr, irmão de Caterina, se juntasse ao capitão-geral em Chipre e que exerça toda a sua influência para convencer sua irmã a abdicar em favor de Veneza. Giorgio percebeu que sua irmã não estava disposta a obedecer e assim passou para as ameaças, lembrando que o exército veneziano tinha chegado, e ela perderia neste caso todas as vantagens que teria para sua família caso não aceitasse em abdicar. Enfim, ele conseguiu convencê-la.


Em 26 de fevereiro de 1489 em Famagusta, após um solene "te Deum", a bandeira de Lusignano é abaixada e a bandeira de San Marco é erguida nos mastros. A cerimônia foi repetida na presença da rainha em todas as cidades cipriotas, incluindo Nicósia. E em 18 de março, vestida de preto, a rainha deixa a ilha de Chipre para sempre.




Veneza foi muito generosa com sua "filha", dando-lhe uma memorável boas-vindas ​​em 6 de junho de 1489. Foi conduzida  pelo Bucintoro, a embarcação oficial da Sereníssima, onde Catherine foi acolhida pelo Doge Agostino Barbarigo. Depois de uma forte tempestade, mas de curta duração, a comitiva dirigiu-se em procissão, acompanhada pelo repicar de sinos, até a Basílica de São Marcos, onde foi celebrado um ato solene no qual Catarina renovou a abdicação da coroa de Chipre em favor da Sereníssima, entregando-a para o mandatário supremo da República de Veneza.
Desde então, todos os anos, no dia 5 de setembro, em Veneza, é celebrada a data com a Regata Histórica em memória a aquela cerimônias de boas vindas reservadas à rainha de Chipre.



Em seguida, seguiram-se suntuosas honrarias também para o seu irmão Giorgio, pelo fato de ter conseguido a desistência de Caterina do reino de Chipre, os banquetes duraram três dias. O Senado Veneziano também presenteou Caterina com a posse de Asolo e a permissão para manter o título de "Rainha de Jerusalém Chipre e Armênia". Asolo então era uma pequena cidade na área da Marca Trevisana, onde ainda se incluíam trinta e três aldeias.


Em 10 de outubro de 1489, em sua viagem de Veneza à Asolo, a ex-rainha conheceu, perto da cidade de Treviso, a dois embaixadores asolanos, que lhe deram a primeira saudação em nome da comunidade. Na noite de 11 de outubro foi recebida na praça de Asolo pelas autoridades locais,  pelos cidadãos mais ilustres e uma grande multidão que acorreu para vê-la, seguindo para a catedral onde foi oficiado um ato religioso e cantado o Te Deum. As festividade de acolhimento se estenderam por vários dias. 



Caterina chegou a Asolo acompanhada por um pequeno séquito: um capelão cipriota, seus dois secretários, um médico, dois chanceleres e um mordomo e até de alguns nobres como Nicolò Priuli, prefeito em Asolo, de 1489 a 1497 e Filippo Cornaro, um meio-irmão de Caterina, que se tornará chanceler real em Asolo.

Uma vez instalada em Asolo, Caterina logo estabeleceu laços de amizade com os expoentes das famílias asolanas e acolheu em torno da corte escritores famosos como Pietro Bembo, futuro cardeal.

 



Catarina reinou por 20 anos com seu séquito no Palazzo Pretorio, hoje um belíssimo castelo em estilo medieval, que ainda preserva a torre do relógio, a torre cortada e a sala de audiências da rainha. Ela também adorava uma suntuosa vila construída em Altivole, localidade vizinha de Asolo, que Bembo havia chamado de "il Barco", um local de prazer e caça.
Cornaro passava seu tempo entre obras piedosas e beneficentes, além de doações para parentes, amigos e a igreja de Asolo. Criou uma casa de penhores e não negligenciou das atividades mundanas, como o casamento da fiel dama de honra Alvisa, com Floriano de Floriani, no castelo de Asolo em 1494. 

Caterina costumava ir a Veneza, não muito longe de Asolo. Lá ela também frequentava a magnífica vila de seu irmão Giorgio, em Murano, considerada uma elegante propriedade de férias ao longo do século XVI. Neste local, no ano de 1493, Caterina recebeu Isabella d'Este Gonzaga, marquesa de Mantua e mais tarde Beatrice Sforza, duquesa de Milão. Nesta vila, o humanista Andrea Navagero plantou um jardim botânico raro, o primeiro da Europa. 



Da mesma forma, em Veneza, recebia esplendidamente seus convidados no belo Palazzo situado no Grande Canal, que Giorgio a havia disponibilizado, após a morte de sua mãe.
Uma outra propriedade ficava em San Cassiano, onde a rainha de Chipre abriu os salões de seu palácio para celebrar casamentos de netos com damas e senhores de linhagem nobre, como o casamento de seu sobrinho Filippo Cappello com Andriana Marcello. 


Túmulo de Caterina Cornaro


Com o tempo, a saúde de Caterina se tornou bastante precária e em 18 de maio de 1508, ela foi atingida por uma "dor tipo cólica muito séria".  Cada dia mais doente e enfraquecida morreu em em Veneza em 10 de Julho de 1510. A Sereníssima reservou-lhe grandiosas pompas fúnebres, tendo sido sepultada na Basílica dos Santos Apóstolos em Veneza, no túmulo da família.

A ilha de Chipre permaneceu em mãos venezianas até a derrota para os turcos em 1571 com a queda de Famagusta. 





Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta

Erechim RS

segunda-feira, 27 de julho de 2020

Treviso e a sua História




O nome de Treviso, ou Tarvisium, tem duas possíveis interpretações. A primeira derivando da palavra céltica Tarvos, ou touro, seguida da desinência latina isium. A outra interpretação nos fala que poderia ser derivado de uma tribo proto veneta de origem ilírica, que teria por primeiro habitado a região.



O primeiro assentamento provavelmente se deu ao entorno da Igreja de Santo Andrea, ainda antes dos romanos. Com a chegada desses Tarvisium passou a ser um importante centro comercial e a população adquirindo a cidadania romana.

Treviso teve uma história complexa mas com contínua evolução sócio econômica. Foi poupada das destruições causadas pela invasão dos hunos, comandados por Átila. Teve um grande progresso por ocasião da invasão dos Godos e dos Longobardos, que promoveram a cidade em um ducado. A seguir com o domínio Carolíngio, continuou progredindo após a construção de uma casa da moeda, sinal de grande prestígio, chegando no século IX como uma florente cidade.

No ano de 911, infelizmente, foi devastada pelo húngaros e à partir de então na sua reconstrução como município teve o reconhecimento do Imperador Federico Barbarossa no ano de 1164.

Apesar de parecer favorável ao império, também aderiu a Liga Veronesa e também a Liga Lombarda. Combateu em Legnano e fez a Paz de Constanza, demonstrando definitivamente a sua posição bem definida no cenário político da região. 



À partir de então teve início um período de progresso para Treviso tanto econômico como cultural, se transformando em meta para poetas e trovadores, que a narraram em suas obras exaltando as suas características e a beleza da cidade. Nesse periodo surgiu a denominação de "Marca gioiosa et amorosa".

No ano de de 1237 Romano d'Ezzelino e Alberico se apossaram da cidade e puseram fim a este período de paz e tranquilidade em que Treviso vivia. Em seguida a morte, e desaparecimento, deles a cidade voltou a ser livre, mas logo começaram novas guerras entre os guelfos e gibelinos. Guelfi e Ghibellini eram duas facções que se opunham entre si na política italiana na época da baixa idade média, particularmente entre o século XII até o nascimento das Signorie no século XIV. Nesta luta os Ghibellini apoiavam o império (de Federico I) e os Guelfi aqueles que estavam do lado do papado. O chefe dos guelfi era Gherardo da Camino, que se transformou em senhor de Treviso no ano de 1283 administrando com astúcia a cidade. 



Treviso seguindo a sua saga, passou para o domínio de Gorizia e de outros vigários imperiais. Em 1328 passou para as mãos da senhoria dos Scaligeri ate 1339, quando então passou para as mãos da Sereníssima Republica de Veneza, para alegria dos trevisanos.

Em 1381 a cidade foi governada por Leopoldo da Áustria que por sua vez a vendeu para a senhoria dos Carraresi de Pádua. 



Por motivos estratégicos a Senhoria dos Visconti se empossaram da cidade exercendo rígido controle até 1389 quando a população de Treviso, já exausta dessa contínua alternância de senhores, passou espontaneamente para os domínios de Veneza e com ela seguiu o seu destino em uma longa e duradoura paz.

Assim a cidade dividiu a sua sorte com aquela de Veneza até o ano de 1797, quando esta foi derrotada e invadida pelo exército de Napoleão. Treviso passou pela dominação da Áustria e depois em 1805 ao Reino da Itália, retornando em 1813 para Áustria. Em 1848 acompanhou Veneza na revolta contra os austríacos mas em 14 de Junho desse ano teve que se render. Em 15 de Julho de 1866 retornou ao Reino da Itália.

Já na I Grande Guerra a cidade sofreu bastante devido a bombardeios aéreos que destruíram parte da cidade. Anos depois, com o advento da II Guerra Mundial, os trevisanos também voltaram a sofrer com bombardeios americanos que causaram milhares de vítimas e causando a destruição de prédios públicos e monumentos de grande valor histórico para a cidade.

Desde os tempos antigos Treviso era dotada de um grande muro, muito danificado e em fase de restauração, que servia de proteção ao centro histórico da cidade.

Um outro elemento basilar na evolução de Treviso é observada na sua religião. Segundo historiadores ao cristianismo se fez presente no Vêneto já no final do I século, trazidas por algum soldado das legiões romanas que combateram na Ásia e na cidade iniciou pouco a pouco a reunir adeptos, afirmando-se no século IV em seguida a conversão de Constantino, que o decretou religião oficial do Império. São também do século IV as ações dos primeiros santos cultuados pela cidade como: São Liberal, patrono da cidade de Treviso e os santos Teonisto, Tabra e Tabrato, martirizados no final do século IV. 

Luiz Carlos B. Piazzetta

sábado, 25 de julho de 2020

Asolo e a sua História


Localizada em uma posição privilegiada, com um clima bastante favorável, fizeram de Asolo um centro habitado já desde a época pré histórica, logo depois que os Vêneto ali se estabeleceram.
Em época romana se chamava Acelum, ocasião em que assistiu um período de grande crescimento especialmente entre os séculos I a.C. e I d.C., quando então foi promovida à categoria de municipium romano.
Descobrimentos arqueológicos atestam a presença de termas, de um aqueduto, um Foro e um teatro, mostrando a sua importância nessa época.

Leone Veneto
Foto Luiz Carlos Piazzetta

Já no século VI era um importante centro cristão, tinha um bispo e até o ano de 969 conservou a sede episcopal quando então se tornou feudo do arcebispado de Treviso.

Estrada em Asolo
Foto Luiz Carlos Piazzetta

Entre os séculos XI e XIV passou pelo domínio de potentes famílias, tais como os Tempesta, Ezzelini, da Camino, Scaligerie Carraresi e finalmente passando para o domínio da Sereníssima Republica de Veneza.

Rua de Asolo
Foto Luiz Carlos Piazzetta

No final do século XIV, já no período da dominação de veneziana, Asolo entrou em uma fase de grande esplendor. No ano de 1489 com a chegada da ex rainha de Cipre, passou a Senhoria de Caterina Cornaro, a qual reuniu ali uma grande corte renascentista de artistas, escritores e poetas, os quais deixaram indeléveis pegadas na arte e no progresso da cidade.

Rua de Asolo
Foto Luiz Carlos Piazzetta

Nesse período a administração veneziana promoveu modernizações urbanas na cidade criando fortes laços com Veneza e sua própria aristocracia somente rompidos com a queda da Sereníssima. Nesse período se dizia por toda parte, como forma para demonstrar e reforçar esses fortes laços, que "Asolo é Veneza e Veneza é Asolo".

Via Browning
Foto Luiz Carlos Piazzetta


Em 1797 foi a vez de Napoleão tomar posse da cidade e no século XIX foi dominada pelos austríacos. Estes reformaram várias instituições civis e deram inicio a um programa de obras públicas, como a restauração do teatro Duse. Finalmente em 1866 passou a fazer parte do Reino da Itália.
Um relato dos fatos ocorridos na cidade até o século XIX ficou marcado no antigo relógio de pendulo escondido atrás do balcão de uma enoteca na rua Browning, próximo ao teatro dos Rinnovati, onde estão anotadas as datas da importantes da história da cidade à partir do início do século XIX.



sexta-feira, 24 de julho de 2020

Belluno e a sua História



A cidade celta Belodonum, um milênio antes da chegada dos romanos, já era uma importante cidade paleo-veneziana ao longo da rota pré-histórica que unia importantes santuários como Lagole, em Cadore, ao Noal de Sedico e ao povoado de Mel 

A localização privilegiada fez dela um importante 'município' nos tempos romanos quando importantes vias de comunicação passaram por ele, conectando-se a importante estrada romana Claudia Augusta Antinata e a Cadore. 



Com o domínio carolíngio no século VIII e durante toda a Idade Média, o principado dos bispos-condes afirmou-se no século X, com o bispo João II, quando então se estendeu por toda a bacia do Piave e além, de Cadore a Feltre, em Bassano e parte do Valsugana, no Pordenonese e até Jesolo. 

Depois, o épico ezzeliniano no século XIII, Ezzelino III, o tirano que perturbou o equilíbrio feudal e abriu a temporada dos senhores e municípios. É a vez dos nobres Da Camino trevisanos, os Scaligeri de Verona, os Carraresi de Pádua e até os Visconti de Milão.

Mas a época mais característica e importante aconteceu com a sua passagem para  os domínios da Serenissima Republica de Veneza, no ano de 1404. 

Belluno então tornou-se a conhecida capital da montanha, cidade estratégica e um centro de triagem para as atividades fundamentais de mineração das regiões de Cadore, Zoldano e do  Agordino, bem como o trânsito de empresas que usavam o rio Piave para navegação e transporte da madeira de Cadore para Veneza.

quinta-feira, 23 de julho de 2020

Castelo de Zumelle a Mel




Castelo de Zumelle a Mel
Grande charme, encruzilhada de histórias medievais

Lugar de muita história, se sabe já estar fortificado ainda em tempos pré-romanos, mesmo que não ainda não exista qualquer  evidência arqueológica dessa teoria. Uma primeira torre, protegida pela escavação de um grande fosso na rocha viva e por paliçadas de madeira, poderia ser do tempo dos romanos. O forte estava localizado ao longo do trânsito, entre o Praderadego e a junção do município de Feltre, da estrada militar romana Claudia Augusta Altinate. Uma das rotas mais importantes e freqüentadas desde tempos antigos.

Ali aconteceram incursões de bárbaros que assolavam povoações e estradas romanas, que infelizmente deixaram poucos vestígios. 

Diz a lenda que Gianserico, o personagem misterioso e homem de confiança de Amalasunta, a rainha dos godos na morte de seu pai Teodorico no ano 526, depois de uma conspiração com Teodato, primo de Amalasunta, escapou com a serva Eudosia.
Os dois amantes se abrigam em um lugar inacessível no Val Belluna, entre as ruínas de um castelo. Podemos imaginar que o castelo foi reconstruído, a lenda continua com o nascimento de dois filhos gêmeos: Goffredo e Ildebrando.
O castelo de Zumelle tem o seu nome devido essa lenda. Chamava-se então "castrum zumellarum" ou castelo dos gêmeos.
Outra lenda, mais historicamente reconhecida, Zumelle deriva do nome de "zamelo" ou "zumelo", para indicar a combinação com o vizinho Castelvint, no lado oposto do vale Terche, em Carve, do qual restam apenas alguns vestígios. Em pares, eles controlavam o trânsito na estrada de Praderadego. 




Entre história e a lenda, o castelo foi disputado entre os potentados de Belluno, Feltre, Ceneda (Vittorio Veneto) e a alta Marca Trevigiana, quando sofreu numerosos cercos e destruições. No ano de 737, quando Liutprando, rei da Lombardia, briga com a corte de Zumelle, foi imediatamente contestado por Giovanni conte di Belluno ocasionando guerras sangrentas, tanto que em 750 Astolfo, rei da Lombardia, teve que se apressar para apaziguar os conflitos. 



Otto I da Saxônia, imperador do Sacro Império Romano, em 963 investiu os bispos com poderes políticos confiando-lhes  cargos feudais. O condado de Zumelle foi dado aos bispos de Belluno.
Em 1037, o castelo passou, por vontade de Corrado II Salico, para o seu protegido Barão Abelfredo, que morreu sem deixar  herdeiros do sexo masculino tem os bens herdados pela sua filha Adelaita, que tomou Valfredo di Colfosco como marido. Sua filha Sofia se casou com Guecello da Camino, resultando na união dos vastos feudos da região alta de Treviso e de todo o Val Belluna. 



Textos não confiáveis ​​fazem com que Sofia da Camino, condessa de Zumelle, se opôs em armas ao temível Federico Barbarossa em 1160, quando se apressou em apoiar os habitantes do Castelo de San Cassiano, cercados por Cristiano da Magonza, súdito do imperador. A valente Sofia morreu em 1177 em Mareno di Piave e foi enterrada na Abadia de Follina, onde ainda hoje está, confirmando os laços muito estreitos entre os feudos do alto Marca e Val Belluna. 


O esplendor máximo do castelo Zumelle data deste período. Pode ter sido equipado com quatro paredes e quatro torres, além de uma forte guarnição militare.
A vontade de Sofia é novamente motivo de divergências e disputas entre Caminesi, Zumellesi, Bellunesi e o condado, divididas em duas partes. A disputa foi resolvida em Veneza, então neutra, e confirmada por Federico Barbarossa em 2 de junho de 1177. 



Já em 1192, o patriarca Gottifredo excomungou a área de Treviso e o papa Clemente III e o imperador Arrigo IV intervieram nas discussões, que delegaram o bispo de Trento para resolver a disputa. O bispo de Belluno, Gerardo, retomou a posse do município e do castelo de Zumelle. Isso é uma desculpa para desencadear a devastação de cidades pelos exércitos de Treviso e Pádua, que correram em auxílio do bispo por ordem do imperador. Em 18 de junho de 1193, foi retirada a excomunhão de Treviso e proferida a sentença que confiava definitivamente os bens de Sofia ao bispo de Belluno. Também foi decidido demolir o Castelo de Zumelle, a fim de não dar origem à futuras contenções.
Mas os moradores de Treviso recorreram ao imperador Henrique IV, que anula a sentença. 



A raiva do bispo recaiu sobre todos os castelos ocupados pelos trevisanos em terras de Belluno. Em 6 de abril de 1196, ele cercou o castelo e, após um ataque sangrento, o conquistou, incendiou e o destruiu. Outros castelos famosos tiveram o mesmo fim: Castel Mirabello di Sedico, Castel Landredo, Castel d'Ardo (Trichiana), Tagliata di Quero, a torre-fortaleza de Praderadego.
A vingança de Treviso não tardou e, liderada por Valperto de Onigo, as tropas de Treviso entram na área de Belluno atropelando o Praderadego. O bispo é ferido, preso e levado à morte em meio a sofrimentos atrozes, Valperto é morto em uma batalha no campo. O papa Inocêncio III excomunga os trevisanos e a cidade sofre um pesado "embargo".
O castelo de Zumelle ficou abandonado e o mato cresceu no sangue derramado.
Rizzardo da Camino, vigário imperial, se apropria novamente do castelo em 1311, reconstruindo-o em suas formas atuais, deixando nele uma pequena guarnição militar.
Mas o grande periodo feudal se acaba e o declínio político e militar desaparecendo gradualmente. 



Um incêndio final, no sentido literal do termo, ocorre com a destruição, pelas tropas imperiais associadas à Liga de Cambrai, em 1510. O castelo e toda a zona feltrina, Feltre em particular, são incendiados e submetidos à ferro e fogo.

Zumelle é rapidamente restaurada, mas o complexo se torna mais uma residência e abrigo rural para os agricultores, com o longo e sonolento 'pax' veneziano e o abandono de todas as estruturas medievais dos papéis militares com a demolição de muitos castelos. Proprietários por três séculos, os condes Zorzi, senhores de Mel, o passaram para a rica família veneziana Gritti e, depois com a queda de Veneza, confiscados pelos novos invasores austríacos.

Dentro do castelo, além de artefatos interessantes e da característica Mastio do século XIII, há uma capela dedicada ao bispo de San Donato de Arezzo - muito reverenciada pelos lombardos - construída no início da Idade Média, provavelmente entre os séculos VIII ao IX.
O altar de madeira é do século XVII e o valioso retábulo de 1715.
Fortemente restaurada no início dos anos 1900, para abrigar uma estátua da Madonna de Lourdes, desde então também foi chamada Madonna della Grotta.

Em 1872, foi comprado pelo município de Mel, que ainda é o proprietário, e concedido sob gestão a particulares ou associações. É considerada como o mais preservado na área de Belluno. Se encontra no município de Mel na estrada Feltrina à esquerda do rio Piave, entre os municípios de Belluno e Feltre.
Imerso em um ambiente natural esplêndido e perfeitamente intacto, é um local de grande charme.

quarta-feira, 22 de julho de 2020

Alimentos e Bebidas no Início da Era Moderna


La polenta Pietro Longhi +/- 1740 

Na segunda metade do século XVIII, os recursos alimentares fornecidos à Europa pelo Novo Mundo entraram plenamente nos hábitos de nosso continente. O primeiro a se estabelecer é o milho, chamado de várias maneiras: "trigo Rhodes" na Lorena, "trigo siciliano" na Toscana, "trigo turco" em outras regiões italianas, "trigo ocidental" na Turquia. O milho, no entanto, é involuntariamente o protagonista de uma grande tragédia, em uma sociedade profundamente desigual como a do início da Era Moderna. Em certas regiões onde é difundido, torna-se comum que os proprietários de terra guardem trigo para si e deixem o meeiro para comer. O milho se torna quase o único consumo camponês, causando a disseminação da pelagra, uma doença causada pela falta de vitamina PP, da qual o milho é muito pobre.

Mais lenta é a afirmação da batata, que há muito é humilhada pelo desprezo geral (à medida que "cresce no subsolo") e confinada ao papel de comida para os pobres. Como é barato, é costume deixar que condenados e soldados o comam, e isso não favorece sua propagação; ela também é acusada de causar hanseníase e na Enciclopédia de 1765 de causar flatulência. Em sua defesa, deve-se dizer que foi usado da pior maneira, tornando-o um tipo de pão, aparentemente nauseante. Somente no século XIX, a batata se espalhou, principalmente no norte da Europa, onde é cultivada por ser mais resistente que o congelamento de cereais. A apreciação deste tubérculo começa com o trabalho de Antoine Augustin Parmentier, um engenheiro agrônomo francês que conhece a batata quando é prisioneiro pelos prussianos durante a Guerra dos Sete Anos. Em seu retorno à França, ele propôs seu uso a Luís XVI e promoveu sua difusão popular com um estratagema: ele supervisionou os campos, onde começou a cultivar o produto, de maneira muito evidente, espalhando o boato de que era um cultivo especial e precioso para o rei; à noite, no entanto, os campos são completamente não supervisionados, de modo que os agricultores roubam o que cresceu lá e, dessa maneira, começam voluntariamente a se alimentar de batatas.


Antoine Parmentier offre a Luigi XVI un mazzo di fiori di patate

O tomate também se espalha lentamente: nos primeiros 150 anos desde a descoberta da América, permanece confinado à Espanha, em particular à área de Sevilha, onde é alimento para os pobres. A desconfiança em relação ao tomate decorre de muitos preconceitos (acreditava-se, por exemplo, que era usado por bruxas), mas também de alguns fatos concretos: seu cheiro azedo, o fato de que por si só não é um alimento capaz de superar o problema. fome, o fato de não poder ser transformado em algo que se assemelha a pão. Na realidade, a incapacidade dos europeus de reconhecer sua utilidade por muito tempo pesa sobre o tomate, tanto que ele é cultivado há muito tempo como planta ornamental para embelezar jardins ou para as mulheres. Até a segunda metade do século XVII, um cozinheiro italiano, Antonio Latini, fala disso em alguns de seus livros, como um alimento para preparar um excelente molho: no século XVIII, o tomate conhece o sucesso que ainda mantém (é uma das espécies mais hortícolas cultivada no mundo).

Duas llustrações da planta e do fruto do tomate em um herbário do século XVIII

Eles também se firmam, embora sua circulação ainda seja limitada apenas às classes privilegiadas, chocolate e café, estes últimos provenientes do velho mundo islâmico, não do Novo. O chocolate é o produto afirmado com maior esforço: ainda em meados do século XVII é considerado um corroborante para fins médicos, não apenas um alimento.


A família do Duque de Penthièvre
Família nobre degustando bebidas, provavelmente chocolate
de Jean-Baptiste Charpentier no ano de 1768 

O cafeeiro talvez seja nativo da Pérsia, mais provavelmente da Etiópia. Não há vestígios de café antes de 1450, então a bebida se espalhou para o império otomano; É de fato nos países islâmicos que os europeus se familiarizam com o café. Em 1615, ele chegou a Veneza, em 1643-44, em Paris e Marselha. O destino da bebida é decidido em Paris. Por volta de 1670, as primeiras lojas que vendem café foram abertas e o italiano Procopio de 'Coltelli, que abriu um restaurante no distrito de Saint-Germain, o "Procope" - ainda existente - de considerável sucesso. É um local elegante, com um sabor moderno, onde frutas cristalizadas e licores são vendidos, além de café; a loja se torna um ponto de encontro para conversadores mundanos, alfabetizados e ociosos. A moda se espalha, afirmando uma nova forma de relacionamento e sociabilidade junto ao consumo de café.


Clientes no Café Procope em 1743

O consumo de café aumentou no século XVIII, embora ainda estamos longe de ser popularizados. Seu sucesso faz a oferta crescer: a Europa organiza sua própria produção, explorando suas colônias e diversifica a qualidade (determinada pelo local de cultivo) e, consequentemente, os preços; em geral, no entanto, o preço do café permanece relativamente estável e moderado em comparação ao de outros produtos.
Outra bebida que está se espalhando é o chá, especialmente na Inglaterra e na Holanda; como envolve a ingestão de água fervida, o chá contribui para reduzir o risco de contrair doenças infecciosas; de fato, segundo alguns historiadores, a disseminação do consumo dessa bebida é um dos contribuintes fundamentais para a diminuição da mortalidade no século XVIII.


O Chá Inglês de 1764
Obra de Michel-Barthélémy Ollivier

O consumo de alguns produtos europeus indígenas, como bebidas espirituosas, não tem o mesmo efeito. Antes do século XVI, as únicas bebidas alcoólicas difundidas eram as obtidas por fermentação: cerveja, vinho e cidra. Para obter licores, uma operação química adicional deve ser adicionada ao processo natural de fermentação: destilação. Esse processo, possibilitado por um instrumento específico, o alambique, havia sido desenvolvido pelos árabes por volta de 1.100 e depois desenvolvido em meados do século XII, parece na Faculdade de Medicina de Salerno, onde foram utilizados recipientes de vidro de Veneza e Murano. A referência ao vidro veneziano não é secundária, porque é precisamente a qualidade desse material que permitiu a construção de alambiques mais adequados para destilação; inicialmente limitado a usos farmacêuticos. De fato, acreditava-se que o álcool tinha propriedades medicinais; acreditava-se que o conhaque derramado na boca de um moribundo lhe permitisse pronunciar suas últimas palavras. Com a peste negra de 1348, a demanda por bebidas alcoólicas altas disparou o medo da epidemia. Mas é somente durante o século XVI que o conhaque (produto da destilação de vinho e bagaço) sai do controle para médicos e farmacêuticos e somente no século seguinte ele se torna de uso comum.


A destilação obra de Philippe Galle do XVI século

A fabricação continua difícil, artesanal, e o alambique ainda não conhece melhorias. No entanto, a produção e o consumo aumentam. Entre os principais promotores estão os holandeses, que com a produção de conhaque resolvem muitos problemas relacionados ao seu comércio como comerciantes. O vinho, de fato, é uma mercadoria frágil, mantém-se mal, enquanto o conhaque é mais resistente, no mesmo volume exige menos custos de transporte, é mais precioso e, finalmente, é um excelente aditivo que restaura o corpo até o vinho mais fraco. No "século do ferro" (como o século XVII foi definido), o uso de dar álcool aos soldados antes do início do combate; de certo modo, o conhaque se torna uma indústria de guerra.
Não apenas o conhaque circula: o rum é feito de cana-de-açúcar, gim, uísque e vodka de cereais (também de batatas). Os espíritos de cereais têm uma vantagem: o preço é relativamente modesto e até decrescente. Na Inglaterra, o gin é mais barato que a cerveja e os proprietários de terras veem a produção desse licor como uma oportunidade de obter grandes lucros, desde que o consumo seja favorecido. O Parlamento britânico não faz nada para frustrar os interesses dos proprietários de terras, que são os próprios parlamentares, e as conseqüências do consumo pesado de gim não são apenas uma enorme disseminação do alcoolismo, mas também um aumento no crime e na violência, o abandono dos filhos para si mesmos, a ruína da saúde, especialmente a dos mais pobres. Somente em 1751 o Parlamento emitiu uma lei que contribui para reduzir drasticamente o consumo de álcool.


Obra de William Hogarth  Gin Lane de 1751 
A ilustração se refere a desordem pública como consequência do alcoolismo 

terça-feira, 21 de julho de 2020

Os Nobres na Sociedade Italiana do Século XIX


 
Vila Widmann, em Mira (Venezia)  uma típica vila no campo da nobilidade veneziana. 
Foi construída no início do século XVII e habitada por diversas famílias de nobres
Até o século XVIII, tradicionalmente ser nobre significava desfrutar de títulos e privilégios estabelecidos e garantidos por lei, possuir grandes propriedades fundiárias e poder alcançar os mais altos postos na carreira militar. 

Entre os privilégios da nobreza, estava o de governar um território, mas, depois da revolução francesa a aristocracia perdeu esse poder, que passou então ao Estado, com suas leis e burocracia.

Como os nobres reagiram nas várias regiões que formavam a Itália no século XIX?
No norte e na Toscana, parte da nobreza rapidamente se modernizou,  incorporando as novas ideias, tentando investir a sua riqueza nos novos setores da economia que surgiam. 

Para isso, ela devia ele associou à burguesia,  permitindo que essa se juntasse à classe social que detinha o poder nessas regiões mais modernas.

No Estado da Igreja e no Reino das Duas Sicílias, no entanto, isso raramente aconteceu: a grande maioria dos nobres se fechou para qualquer forma de modernização, mantendo geralmente o prestígio e a riqueza.
Seja como for, os nobres ainda formavam uma classe social separada das demais do século XIX. 

Nós os encontraremos em suas belas casas: grandes construções que deveriam transparecer todo o prestígio da família. Os nobres possuíam um palacete na cidade, para viver durante o outono e inverno, mas, também uma vila no campo, para onde se mudavam na primavera, retornado no final do verão. 

Nas suas duas residências, existem belos jardins, salões para festas, salas de jantar, áreas para empregados, cozinhas, adegas, salas para lavar roupas, estábulos, além de outros serviços.

Nessas casas suntuosas, não apenas viviam os membros da família, mas também uma multidão de empregados: babás, amas de leite, empregadas domésticas, garçons, cozinheiros, cavalariços, jardineiros, etc. funcionários para toda e qualquer trabalho necessário nas propriedades. 

Dr. Luiz Carlos Piazzetta

segunda-feira, 20 de julho de 2020

O Clero na Itália do Século XIX

La Questua pintura de Gaetano Chierici


Nos anos 1800, além de padres, bispos e cardeais comuns, no clero ainda existiam eremitas e capelães, ou seja, sacerdotes que viviam em um oratório ou ermita, abades e padres sem paróquia. 

Eles eram reconhecidos por sua barba desgrenhada, roupas velhas e mal cuidadas, cajado de peregrino e caixa de esmolas, Eles foram desaparecendo aos poucos, ao longo do século, devido novas diretrizes da Igreja, como a reforma do clero mudando bastante a vida deles. A necessidade de formação teológica, com estudos sendo realizados cada vez mais em seminários, capazes de dar a preparação necessária para aqueles que queriam ser sacerdotes.

No século 19 um homem se tornava sacerdote por muitas razões além daquelas que aconteciam nos séculos anteriores. De fato, se até os anos do século XVIII o sacerdócio era escolhido através de estratégias familiares ou pelo rapaz ter privilégios sociais e econômicos, nos anos do século XIX a carreira eclesiástica era escolhida principalmente porque o candidato queria se comprometer em trabalhar e a fazer o bem para sociedade.

Essa mudança na escolha para o sacerdócio significa que o número de padres sofreu uma diminuição, especialmente após o ano de 1848, também porque o padrão de vida dos padres de uma paróquia era agora bastante modesto, semelhante ao dos professores do ensino fundamental.

Dom Bosco


Uma figura típica do "padre comprometido" foi Dom Giovanni Bosco, que fundou em 1846, nos arredores de Turim, o primeiro oratório, de San Francesco di Sales, ou oratório salesiano.

Esses locais de formação religiosa e ensino se espalharam rapidamente por várias regiões e eram voltados principalmente para jovens das classes menos favorecidas, aos quais era oferecido um local controlado de socialização, para contrastar a perda dos valores tradicionais que agora ocorria com a expansão da industrialização. 

Piccola Casa della Divina Provvidenza a Torino

Quase na mesma época, Giuseppe Cottolengo, em 1862, fundou a pequena casa da providência divina que acolhia os pobres e doentes rejeitados pelos hospitais e mais tarde aqueles incapazes.

Deve-se dizer, no entanto, que no século XIX a igreja foi liberal apenas por um curto período, isso por volta de 1848, e que sua abertura à sociedade com as escolas de Dom Bosco e o hospital de Cottolengo, contrastava com o novo estado italiano, que se considerava a única entidade que lidava com os vários problemas da sociedade.

De fato, as relações entre o papa e o estado secular eram bastantes difíceis, principalmente quando Roma foi conquistada e se tornou a capital do Reino da Itália, ocasião em que ao papa restou apenas o Vaticano.

Entretanto a Roma eclesiástica em 1870 ainda era muito poderosa, tendo 206 conventos entre homens e mulheres, 350 igrejas, 250 oratórios, cerca de sessenta paróquias e aproximadamente 8000 religiosos.