sexta-feira, 11 de maio de 2018

Resumo da Emigração dos Vênetos no Sul do Brasil

“E Criaram um outro Vêneto no Rio Grande do Sul...


 



Ente 1876 e 1976, no espaço de um século, emigraram mais de quatro milhões de cidadãos vênetos, espalhando-se pelos quatro cantos do mundo. Os vênetos formaram de longe o grupo mais numeroso entre os emigrantes de toda a Itália. 


Saíram esperançosos com as possibilidades de uma nova vida, porém, ao mesmo tempo, partiram com um nó na garganta por ter que deixar os lugares onde nasceram e onde viveram por diversas gerações. Partiram com um forte aperto no peito pelos amigos e entes queridos que tiveram que deixar, muitos para nunca mais se encontrarem. Adquiriam uma passagem sem bilhete de volta. No íntimo sabiam que emigravam  para nunca mais voltar.
Nas terras do Rio Grande do Sul, com a sua coragem e determinação, esses emigrantes escreveram uma das mais belas páginas de heroísmo e glória do Povo Vêneto. Nos locais onde foram assentados, no meio da densa floresta, praticamente no meio do nada, em poucos anos fizeram surgir cidades e importantes indústrias que constituem hoje um novo vêneto do outro lado do mar. Milhões são os seus descendentes, distribuídos pelos três estados do sul do Brasil, que com orgulho ainda mantém vivas a língua e cultura da terra de origem dos seus antepassados. 
A grande emigração vêneta se constituiu em uma verdadeira epopeia silenciosa cujo testemunho estão hoje tanto nos vastos campos cultivados de parreiras no sul do Brasil como nos desertos australianos, transformados em jardins, com grandes extensões cultivadas e transformadas em pasto. Estes exemplos significam que aqueles pobres emigrantes tiveram um papel muito importante na nova Pátria, destacando-se no desenvolvimento econômico e cultural dos países onde se estabeleceram. 
Tudo isso foi conquistado pela força e perseverança dos emigrantes vênetos acostumados a séculos com uma vida dedicada ao trabalho duro. Os vênetos no Brasil se transformaram em sinônimos de trabalho, um exemplo a ser seguido por todos. À noite, quando terminava o turno regular de trabalho na fábrica, tanto o homem como a mulher descendentes de vênetos, ao chegarem em casa iniciam novo turno, com alguma outra forma de trabalho autônomo para aumentar um pouco mais o ganho familiar. Com essa atitude demonstram a grande capacidade de empreendedorismo do Povo Vêneto, o desejo de todos de poder ser o seu próprio patrão. 



Esta força e determinação dos emigrantes vênetos frente às adversidades, foi sobejamente colocada à prova durante a perigosa travessia do oceano. Uma longa viagem, de várias semanas, sempre mais de trinta dias, amontoados sem qualquer privacidade, em um velho navio que, até então, só levava mercadorias, mal adaptado, às pressas, para transportar passageiros. Diversos desses navios já estavam prestes a serem aposentados, quando então, de qualquer maneira, foram requisitados para aproveitar o boom da emigração vêneta e encherem os bolsos dos proprietários das companhias italianas de navegação. Muitos deles partiam superlotados, superando em muito a lotação permitida, mas, as autoridades do porto faziam vistas grossas, tudo pelo bem da jovem marinha mercante italiana e do lucro dos seus proprietários. Na maioria das vezes não tinham instalações higiênicas adequadas à bordo. A falta de água potável e de comida para todos os passageiros eram muito frequentes. Confinados em espaços pouco ventilados, mal alimentados e sem instalações higiênicas adequadas, os passageiros desses barcos eram presas fáceis para o surgimento de graves epidemias que ceifaram a vida de várias centenas de emigrantes, quase sempre os mais debilitados, os velhos e as crianças. Depois da fatigosa viagem transoceânica, quando finalmente chegavam ao porto do país de destino, após a obrigatória quarentena na Ilha das Flores, no Rio de Janeiro, ali começava uma outra fase da viagem até Paranaguá, no Paraná, ou Porto Alegre no Rio Grande do Sul. Após desembarcarem neste último porto e depois de alguns dias hospedados nos grandes barracões à eles destinados pelas autoridades de imigração, precisavam novamente juntar os seus pertences e embarcar em outros pequenos navios fluviais. Subindo por rios chegavam até novos barracões de alojamento, mas, ainda estavam muito longe dos locais definitivos onde seriam assentados. Após mais alguns dias de espera nesses barracões, cada vez piores, os emigrantes juntavam novamente seus poucos pertences e a pé, 

 



no lombo de mulas ou em carroças tracionadas por bois, partiam através de uma picada, em fila indiana, na direção da densa floresta. No trajeto, sem estradas, precisavam atravessar rios e montanhas, sempre cercados pela exuberante vegetação e por árvores altíssimas, que jamais tinham sido vistas por eles. Também o som desconhecido produzido pelos pássaros e animais selvagens da floresta levavam muito medo àqueles pobres infelizes. Depois de alguns dias de penosa marcha, finalmente chegavam ao local demarcado da colônia. Ali existiam alguns barracões onde podiam se alojar precariamente até localizarem e se instalarem nos lotes a eles destinados. 



Nessas enormes áreas de terra, nos primeiros anos chegavam a 500.ooo metros quadrados cada um, as famílias dos pobres emigrantes ficavam totalmente isoladas uma das outras. Na pequena clareira que conseguiam abrir, cada família providenciava erguer, o mais rápido que podia, um pequeno abrigo de fortuna, feito por alguns troncos de árvores, retirados da floresta, cobertos por galhos e folhas. Às vezes, uma pequena e frágil cerca era tudo que os separava da amedrontadora floresta e dos seus barulhentos e temidos habitantes, que à noite vinham espreitar pelas frestas. Assim foi o começo dessa epopeia dos vênetos no Rio Grande do Sul. 




Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS