domingo, 6 de junho de 2021

O Arsenal de Veneza





Localizado no sestiere Castello era uma vasta área industrial na zona nordeste de Veneza. Cercado por um alto muro rendado, o Arsenal era um grande canteiro de construção naval, do qual saiam as naves mercantis e de guerra que fizeram a fortuna e grandeza de Veneza. O nome arsenal deriva de uma palavra árabe que significava ao mesmo tempo doca e canteiro de obras. No interior dessa grande estrutura industrial, portuária e militar, que nos períodos de produção máxima chegou a contar com 16.000 operários, vinham construídos e reparados os vários tipos de barcos civis e militares de grande porte da república. 

Foi fundado no ano de 1104 pelo doge Ordelaf Falier, instalado sobre duas pequena ilhas, conhecidas como Gêmeas, e com o passar do tempo foi crescendo continuamente conforme as necessidades civis e militares da Sereníssima. A sua grandeza máxima foi alcançada entre os séculos XIV e XVI quando chegou a ocupar quase um quinto da cidade dentro dos seus muros. Esses eram bastante altos para não poderem ser contornados, mas por outro lado, bastante baixos para se mimetizaram entre as casas, o suficiente para não serem visíveis de longe. Também as suas torres eram mais baixas que vários campanários da cidade. No arsenal foi também construído o belo barco de representação do doge, denominado de Bucintoro, que ali ficava guardado e mantido em perfeita ordem. Em 1579 foi ampliado e construído o grande prédio de 300 metros de comprimento, onde eram fabricadas as cordas e amarras necessárias para os barcos. Em 1700 foram feitas as últimas construções e reformas do tempo da Sereníssima. 




No arsenal existiam numerosas repartições onde funcionavam armazéns, fundições, oficinas de armas, escritórios para os projetistas e diversos outros  depósitos. Era uma cidade dentro da cidade. Os arsenalotti, assim eram denominados os operários que ali trabalhavam, geralmente, habitavam em bairros  construídos para esse fim, entorno dos muros. Nesses mesmos bairros se desenvolviam muitas atividades artesanais que davam suporte ao arsenal. Ali existiam artesãos que trabalhavam com o peixe, o chumbo, as velas, as âncoras e isso ficamos sabendo através do nome de algumas ruas que persistem até hoje. Nos fornos do arsenal também se produziam os biscoitos que serviriam de alimentação para os marujos quando embarcados, durante as travessias. Se entrava no arsenal através da porta de terra, construída em 1460 e dela ainda se conserva a bela fachada e as grandes estátuas de pedra representando leões, dois deles trazido da Grécia. O rio do arsenal se abre em uma porta, chamada porta da água, formada por duas altas torres do final do século XVI que no passado serviam de cancelas para o controle da entrada e saída dos navios. Essa entrada sofreu muitas modificações durante os anos devido o crescimento constante do tamanho dos navios ali construídos. Por essa porta temos acesso a um grande espelho de água que vai até o núcleo mais antigo do complexo, a chamada Darsena Vecchia que é o coração histórico de todo o arsenal. Nesta darsena de pouco antes da IV Cruzada, quando foi construída a grande frota naval que, no ano de 1202, sob o comando do doge Enrico Dandolo, zarpou de Veneza para a conquista de Constantinopla. 

O arsenal sobre muitas modificações durante a dominação austríaca e nos anos da II guerra mundial. Atualmente está sob o controle da marinha militar italiana que ali fez construir alguns dos importantes navios de guerra do país. Hoje grande parte desse complexo histórico foi restituído à cidade de Veneza e o local serve como espaço para feiras e demonstrações de vários tipos de arte. 



Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS