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domingo, 3 de agosto de 2025

O Diário de Giuseppe Conto: Uma Jornada de Coragem e Superação.


 

O Diário de Giuseppe Conto 

Uma Jornada de Coragem e Superação


Giuseppe Conto era um agricultor humilde de Maser, então uma pequena localidade no interior da província de Treviso, Itália. Movido pela promessa de uma vida melhor no Brasil, ele se despediu da esposa Maria e dos dois filhos pequenos, com a esperança de trazê-los para o novo mundo assim que estivesse estabelecido. Com o coração pesado, mas cheio de determinação, embarcou em um navio a vapor no porto de Gênova. Mal sabia ele que os próximos meses testariam sua fé e resiliência como nunca antes.

Logo após o embarque, Giuseppe começou a perceber que a viagem seria muito diferente do que imaginava. Em seu diário, ele descreveu o primeiro choque:

"São oito horas do dia seguinte à partida, e os responsáveis pelas mesas foram chamados para buscar as rações de pão e manteiga que seriam distribuídas para a semana. Meu Deus, que desilusão! O pão é uma massa horrível de farelo, centeio, sementes de linho e outras imundícies indescritíveis. Nem os cães famintos aceitariam aquilo. À noite, nos deram chá… ou algo que deveria ser chá. Era apenas água suja, sem açúcar, impossível de engolir."

Os dias se arrastavam. A escassez de alimentos e a má qualidade da água tornavam cada momento um teste de resistência. Giuseppe descreveu em detalhes o desespero que se instalou quando o destilador de água do navio quebrou:

"Ficamos dias sem uma gota de água potável. A única opção era uma água fétida, retirada de barris que serviam como lastro do navio. Estava cheia de vermes, mas era tudo o que tínhamos. Alguns vomitavam após beber, mas a sede era mais forte que o nojo. Por sorte – e apenas por sorte – um mecânico russo que estava a bordo conseguiu consertar a máquina."

A bordo, o clima era pesado. Doenças tinham começado a se espalhar entre os passageiros. Vários adoeceram, incluindo Pietro, um jovem de 18 anos que Giuseppe havia conhecido durante a viagem. Giuseppe tentou cuidar do rapaz, mas ele acabou sucumbindo à febre. O funeral improvisado no mar foi um lembrete cruel da fragilidade de suas vidas.

Finalmente, após semanas de sofrimento, o navio chegou ao porto do Rio de Janeiro. Giuseppe desceu exausto, mas aliviado por estar em terra firme. Ele foi encaminhado para uma ainda nova colônia agrícola no interior do estado do Rio Grande do Sul, onde encontrou mais desafios. As condições de trabalho eram duras, e a saudade da família era uma dor constante. Mesmo assim, ele se recusava a desistir.

Em uma das cartas enviadas à esposa, Giuseppe escreveu:

"Maria, o Brasil não é o paraíso que nos prometeram. O trabalho é árduo, e a solidão pesa no coração. Mas já comecei a cultivar a terra, e em breve terei algo para nos sustentar. Ainda sonho com o dia em que você e as crianças poderão se juntar a mim. Até lá, reze por mim, pois são as suas orações que me mantêm forte."

Apesar de todas as adversidades, Giuseppe conseguiu transformar um pequeno pedaço de terra em uma propriedade próspera. Anos depois, ele finalmente reuniu sua família, e juntos reconstruíram suas vidas no Brasil. A jornada foi marcada por sofrimento e desilusões, mas também por coragem e esperança – qualidades que transformaram Giuseppe em um verdadeiro pioneiro.

Nota do Autor



O Diário de Giuseppe Conto: Uma Jornada de Coragem e Superação é uma obra que pulsa com a força da humanidade em meio às tempestades da vida. Inspirado por relatos de imigrantes que enfrentaram o desconhecido em busca de um futuro melhor, este livro é um tributo à coragem de quem abandona a terra natal para abraçar um destino incerto.
Giuseppe Conto é a representação de tantos anônimos que atravessaram mares, suportaram privações e venceram obstáculos intransponíveis. Seu diário, fictício mas profundamente enraizado na realidade histórica, revela as lutas de uma alma resiliente diante das dores da perda, das dificuldades do trabalho e da solidão do exílio. Mas também é uma celebração das pequenas conquistas, dos momentos de união, da força da fé e do poder transformador da esperança.
Esta história não é apenas sobre o passado. É um lembrete de que a superação é uma constante na trajetória humana, seja em terras estrangeiras, seja em desafios cotidianos. Giuseppe nos ensina que, mesmo nos dias mais sombrios, é possível encontrar luz, desde que tenhamos coragem de continuar a jornada.
Aos leitores, desejo que este livro não apenas os transporte para a época de Giuseppe, mas também os inspire a refletir sobre suas próprias jornadas, reconhecendo o poder da determinação e da solidariedade em nossas vidas.
Com profunda gratidão,
Dr. Piazzetta




sexta-feira, 1 de agosto de 2025

A Emigraçao Italiana, as Toneladas Humanas, o Cólera e o Torna Viagem

 


A Emigração Italiana, as Toneladas Humanas, as 

Epidemias de Cólera e o Torna Viagem 


O intenso verão de 1893 trouxe notícias de casos isolados de cólera que começavam a surgir em algumas cidades europeias, incluindo Gênova e Nápoles. Embora os números fossem baixos, o histórico da doença e suas consequências devastadoras mantinham as autoridades em alerta. Para a maioria da população, contudo, a ameaça parecia distante, pouco mais que rumores sem impacto imediato em suas vidas. Entre os emigrantes que lotavam os portos, o foco estava no desejo de partir e no recomeço que aguardavam além do oceano.

Gênova, um dos maiores portos da Itália, era o destino final de famílias inteiras provenientes das áreas rurais do centro norte do país, buscando escapar da pobreza e do desemprego que assolavam suas terras. Em meio ao calor intenso, milhares de pessoas se amontoavam com seus pertences em um cenário de caos e expectativa. As condições precárias e a superlotação eram uma constante, mas, para muitos, eram apenas etapas necessárias de uma jornada para um futuro promissor.

No dia 15 de agosto de 1893, o vapor Remo estava pronto para zarpar rumo ao Rio de Janeiro, com uma escala prevista no porto de Nápoles para o embarque de emigrantes do sul do país. Mais de mil passageiros subiram a bordo em Gênova, acompanhados por cerca de sessenta tripulantes. Entre eles estava a família de Piero Antonello, composta por nove membros. Vindos da pequena localidade de San Pietro Novello, em Monastier di Treviso, eles haviam abandonado a vida de agricultores arruinados para tentar a sorte em terras brasileiras. Carregavam não apenas seus poucos pertences, mas também o peso das despedidas e a esperança de um recomeço.

O convés do Remo refletia a diversidade e a agitação dos portos italianos: vozes em diferentes dialetos ecoavam enquanto famílias se acomodavam, crianças exploravam curiosas os espaços do navio e adultos trocavam relatos de suas expectativas. Olhares saudosos se voltavam para a costa italiana enquanto o navio começava a afastar-se lentamente. Para muitos, aquele era o último vislumbre da terra natal.

Apesar das condições apertadas e do calor sufocante, o clima a bordo era de otimismo cauteloso. Poucos se preocupavam com o risco de doenças; a presença de cólera em cidades como Gênova e Nápoles não era um tema amplamente discutido entre os passageiros. A promessa de um futuro melhor superava qualquer receio que pudesse surgir naquele momento.

Conforme o Remo navegava em direção ao horizonte, cada passageiro carregava sua história, suas perdas e suas esperanças. A viagem transatlântica era um salto no desconhecido, mas também a única chance de muitos para escapar da pobreza e reconstruir suas vidas. No silêncio das primeiras noites em alto-mar, a sombra das incertezas dividia espaço com a fé em dias melhores que os aguardavam do outro lado do oceano.

Já no dia seguinte que o navio zarpou apareceu um caso de colera a bordo,  o qual foi mal diagnosticado pelo capitão ou ele, seguindo as ordens dos armadores, preferiu não tomar conhecimento, considerando que fosse somente uma gastroenterite e resolveu irresponsavelmente prosseguir com a viagem. 

O navio seguiu normalmente para o porto de Nápoles, onde outro numeroso grupo de aproximadamente quinhentos passageiros aguardava ansiosamente para embarcar. Eram emigrantes provenientes das regiões rurais mais meridionais da Itália, carregando consigo o peso das dificuldades e a esperança de um futuro melhor. Entre eles destacava-se a família de Vittorio Esposito, composta por seis membros, cada qual trazendo no olhar a mistura de incerteza e determinação, características de quem deixa para trás suas raízes em busca de uma nova vida.

Terminados os procedimentos de embarque o navio zarpou em direção do porto do Rio de Janeiro, levando quase 1600 pessoas ao todo entre tripulantes e passageiros. Na ocasião segundo relatos de um desses passageiros, a dieta servida consistia em arroz de má qualidade e carne salgada com lentilhas, o que frequentemente causava diarreia e disenteria. 

No dia 17 de agosto mais casos de diarréia e vômitos surgiram seguidos das primeiras mortes. O diagnóstico de cólera a bordo foi então declarado. Mesmo assim o comandante não abortou a viagem retornando para Nápoles, o que teria salvo centenas de pessoas. Logo após a partida de Gênova, os primeiros casos começaram a se manifestar entre os passageiros: febre, diarreia intensa, vômitos, cólicas abdominais e espasmos musculares violentos. A pele dos enfermos tornava-se azulada e enrugada, os olhos encovados, e a morte podia ocorrer em poucas horas devido a uma desidratação rápida e intensa. O pânico se espalhou tão  rápido entre os passageiros, quanto o próprio cólera, que viam seus companheiros sucumbirem à doença sem qualquer assistência médica adequada.

Para a família Esposito, a viagem começara com lágrimas de despedida e promessas de um futuro melhor. Em Nápoles, eles se separaram dos amigos e parentes com abraços longos e olhares carregados de emoção, mas também de esperança. A bordo, Maria Esposito tentava acalmar seus filhos, ocupando-os com histórias sobre a vida que teriam no Brasil. Porém, apenas alguns dias após a partida, os sinais da tragédia começaram a emergir.

Vittorio Esposito, o patriarca da família, foi um dos primeiros a adoecer. Maria notou o cansaço incomum do marido e, em seguida, a febre e as cólicas que o deixaram debilitado. Buscando ajuda, ela procurou o médico do navio, um jovem inexperiente que logo se viu sobrecarregado com dezenas de casos semelhantes. Seus suprimentos médicos eram limitados e sua capacidade de resposta, insuficiente diante da magnitude do problema.

A doença também ceifou a vida de dois membros da família de Piero Antonello, a mãe viúva que os acompanhava e um dos seus filhos menores. A tragédia causada pela epidemia a bordo foi particularmente cruel para Piero Antonello e sua família. Em meio ao caos e à falta de recursos, a doença não fez distinção entre jovens ou idosos, fortes ou frágeis. Primeiro, foi sua mãe, uma mulher já idosa, cuja saúde delicada não resistiu aos sintomas devastadores do cólera. Em questão de dias, as febres intensas, a desidratação severa e a fraqueza extrema tiraram-lhe a vida, deixando Piero com o coração pesado pela perda de quem era a figura central de suas memórias e tradições familiares.

A situação tornou-se ainda mais insuportável quando um de seus filhos, um menino de apenas sete anos, também começou a apresentar os sintomas. O olhar inocente e assustado da criança, misturado ao desespero do pai que tentava protegê-lo de um inimigo invisível, tornou-se uma cena gravada na mente dos que assistiam à tragédia. Piero fez o que pôde com os escassos recursos disponíveis. Tentou hidratá-lo com a pouca água que conseguia, segurou-o nos braços por noites seguidas e implorou ao médico do navio por alguma intervenção. No entanto, o pequeno corpo, já enfraquecido pela alimentação precária e pelas condições insalubres da viagem, não suportou.

O momento do adeus foi avassalador. As despedidas a bordo não tinham direito a cerimônias ou conforto. Os corpos eram rapidamente envoltos em lonas, amarrados com uma pedra aos pés para afundarem rápido e lançados ao mar, um gesto necessário para evitar a propagação ainda maior da doença, mas que dilacerava os corações de quem ficava. Piero viu sua mãe e seu filho serem entregues às profundezas do oceano em questão de dias, sem uma sepultura onde pudesse prantear, sem um lugar onde pudesse se conectar com as lembranças daqueles que amava.

A dor da família de Piero foi compartilhada silenciosamente por outras a bordo. Cada perda era sentida não apenas como um luto individual, mas como um lembrete cruel da fragilidade da vida em meio às adversidades. As lágrimas de Piero se misturaram às de outras famílias que, como a sua, haviam embarcado no navio carregando sonhos e esperança, mas agora se agarravam ao pouco que restava: a força de continuar vivendo, mesmo diante de uma realidade tão implacável.

Com o passar dos dias, o número de doentes aumentou exponencialmente. O ambiente confinado dos porões da terceira classe, onde viajavam os emigrantes, era um terreno fértil para a propagação do cólera. As condições de higiene precárias pela escassez de água potável, instalações sanitárias insuficientes e a falta de alimentos adequados agravavam a situação. Maria, mesmo debilitada emocionalmente, tentava proteger os filhos do pior. Ela fazia o que podia para mantê-los longe das áreas mais afetadas, mas o espaço limitado do navio tornava essa tarefa quase impossível.

As mortes começaram a ocorrer com frequência alarmante. Primeiro eram os mais frágeis: idosos e crianças sucumbiam rapidamente à doença. Os corpos eram enrolados em lençóis e, com poucas palavras ditas em oração, lançados ao mar, o que gerava cenas de desespero e gritos de dor daqueles que perdiam seus entes queridos.

Quando o navio finalmente se aproximou da costa brasileira, a bordo reinava uma esperança frágil de que a chegada ao Rio de Janeiro pudesse representar a salvação. Porém, ao avistarem os oficiais sanitários que se aproximavam em pequenos barcos, a tensão cresceu. Após inspeções rápidas, veio a notícia que ninguém queria ouvir: o navio não teria permissão para atracar. As autoridades brasileiras temiam que a epidemia se espalhasse para a população local e ordenaram que o navio permanecesse em quarentena no mar com uma bandeira amarela hasteada no mastro principal para denunciar a sua situação.

A rejeição foi um golpe devastador. Os passageiros, já exaustos e famintos, não tinham forças para protestar. A bordo, o desespero atingiu seu ápice. A comida e a água se esgotaram, as mortes continuaram, e o odor da doença e da decomposição impregnava o ambiente. Os Esposito, como tantos outros, rezavam incessantemente por um milagre que não parecia vir.

Após dias intermináveis de espera, a decisão final foi anunciada: o navio teria que retornar à Itália. Para muitos, aquilo era o colapso de um sonho e o fim de qualquer esperança. A família Esposito, como os demais passageiros, viu-se forçada a enfrentar mais semanas de viagem, voltando para o ponto de partida, agora marcada pela dor, pela perda e pela desesperança.

A jornada de retorno, conhecida como "Torna Viagem", simbolizava não apenas um retrocesso físico, mas também emocional e espiritual. Para Maria, Vittorio e os filhos que sobreviveram, para a família Exposito, o que restava era tentar reconstruir suas vidas em meio aos escombros de uma tragédia que marcaria suas memórias para sempre. 

O "Torna Viagem" foi um processo trágico e emblemático da história da imigração no Brasil durante o século XIX. Implementado como uma medida de saúde pública, ele consistia em impedir o desembarque de passageiros em navios que transportavam imigrantes, caso houvesse registro de epidemias a bordo, como o temido cólera. Em vez de permitir que os passageiros desembarcassem e recebessem tratamento, as autoridades brasileiras ordenavam que esses navios retornassem aos seus portos de origem, levando consigo toda a carga de sofrimento, mortes e desespero.

Essa prática preventiva era motivada pelo temor justificado de que doenças contagiosas pudessem se espalhar pela população local, especialmente em cidades portuárias como o Rio de Janeiro, onde o acesso a infraestrutura sanitária era limitado. Assim, os navios eram submetidos a rigorosas inspeções sanitárias logo ao se aproximarem da costa. A detecção de mortes ou de sinais de doenças altamente contagiosas, como diarreia severa, febre e desidratação, geralmente levava à decisão de envio imediato do navio de volta à Europa.

Embora tivesse a intenção de proteger a saúde pública, o "Torna Viagem" gerava grande controvérsia. Para os imigrantes, que haviam investido todas as suas economias e sonhos em uma nova vida no Brasil, essa decisão era devastadora. Durante a viagem de ida, as condições a bordo já eram precárias: os porões das embarcações eram abarrotados, mal ventilados e mal iluminados. A higiene era quase inexistente, com instalações sanitárias insuficientes e água potável frequentemente contaminada. A disseminação de doenças como o cólera era praticamente inevitável.

No retorno forçado, a situação se agravava. Muitos passageiros já estavam enfraquecidos pela longa viagem e pela doença. O número de mortos aumentava, e os corpos eram frequentemente lançados ao mar sem cerimônias, um ato que aumentava o desespero daqueles que perdiam seus entes queridos. A comida e a água tornavam-se ainda mais escassas, enquanto a tripulação, também exausta, lutava para manter o controle em meio ao caos.

Para a famílias Esposito e Antonello, o "Torna Viagem" foi a culminação de um pesadelo que começou ainda nos primeiros dias de viagem. Após semanas de agonia, eles finalmente chegaram ao porto de Nápoles, mas o desembarque trouxe pouca sensação de alívio. Muitos passageiros estavam em estado crítico, debilitados pela doença e pela fome. Autoridades médicas e locais trabalharam incansavelmente para conter a epidemia e fornecer cuidados aos doentes. Os casos mais graves, como o de Vittorio Esposito, foram levados às pressas para hospitais improvisados, enquanto Maria e os filhos aguardavam com angústia a recuperação do patriarca.

O impacto psicológico do retorno foi imenso. Para os Esposito e tantas outras famílias, o "Torna Viagem" não foi apenas um revés prático, mas um golpe em suas esperanças e sonhos. Muitos nunca mais tentariam emigrar, marcados para sempre pelo trauma da experiência. Outros, obstinados pela necessidade, arriscariam novas travessias em busca de um futuro melhor, mas com cicatrizes indeléveis.

O "Torna Viagem" permaneceu em vigor até o início do século XX, quando avanços em saúde pública e infraestrutura permitiram a adoção de medidas mais humanas, como quarentenas em ilhas próximas aos portos e hospitais de isolamento. Hoje, é lembrado como um dos capítulos mais sombrios da imigração, destacando a vulnerabilidade dos imigrantes e a complexidade dos desafios enfrentados em busca de uma vida melhor.

Naquele verão além do Remo outros três navios transportando imigrantes italianos chegaram ao Brasil nas mesmas condições. O navio Andrea Doria chegou ao Porto do Rio de Janeiro em 12 de setembro de 1893 pelos mesmos motivos também não obteve a permissão para desembarcar os seus passageiros. Durante a travessia tinham ocorrido 91 casos de cólera a bordo e assim o navio recebeu a ordem de retornar ao porto de origem, frustando todos aqueles imigrantes e suas famílias. 

No dia 24 de agosto de 1893, o navio italiano Carlo R. atracou nas proximidades do Porto do Rio de Janeiro, trazendo consigo uma história de sofrimento e desespero. Durante a longa travessia atlântica, uma violenta epidemia de cólera assolou a embarcação, ceifando a vida de 100 pessoas. Entre os mortos estavam crianças, idosos e outros imigrantes debilitados pelas precárias condições de higiene e alimentação. A situação a bordo era calamitosa: além dos mortos, um número ainda maior de passageiros encontrava-se gravemente doente, lutando contra febres, diarreia intensa e desidratação severa.

Quando as autoridades sanitárias brasileiras subiram a bordo para vistoriar o Carlo R., foram imediatamente impactadas pelo cenário dantesco. Relatos da época descrevem o navio como uma verdadeira prisão flutuante de sofrimento, com um odor insuportável que impregnava o ar, resultado da falta de ventilação, da decomposição de resíduos e da aglomeração humana em condições desumanas. Os porões estavam lotados de passageiros exaustos e doentes, muitos deles amontoados em estreitas camas de madeira ou diretamente sobre o chão, sem acesso a cuidados básicos.

A inspeção confirmou o pior: o navio era um foco de contaminação. O estado deplorável da embarcação e o alto risco de propagação da epidemia levaram as autoridades brasileiras a tomarem uma decisão drástica. O Carlo R. foi sumariamente interditado e impedido de desembarcar seus passageiros em terras brasileiras. A embarcação recebeu ordens de retornar imediatamente ao porto de origem na Itália, levando consigo não apenas os doentes e os corpos dos que haviam perecido, mas também os sonhos despedaçados de centenas de famílias que acreditavam estar a caminho de uma vida nova e promissora.

O retorno forçado para a Itália foi uma sentença cruel para aqueles a bordo. A jornada de volta, em condições ainda mais deterioradas, prometia mais sofrimento e mortes. Sem acesso a tratamento médico adequado e com estoques de comida e água cada vez mais escassos, os passageiros enfrentaram uma verdadeira prova de resistência. O sonho de "fazer a América" transformou-se em um pesadelo flutuante, onde a esperança dava lugar ao desespero e à resignação diante do incontrolável.

A tragédia do Carlo R. é lembrada como um símbolo dos desafios enfrentados pelos imigrantes italianos no final do século XIX. Representa não apenas as adversidades de uma travessia transatlântica, mas também as políticas rigorosas de contenção sanitária da época, que frequentemente sacrificavam vidas e sonhos em nome da proteção coletiva.

No dia 16 de setembro do mesmo ano foi a vez do navio Vicenzo Florio ser proibido de desembarcar os seus passageiros devido o surgimento de uma epidemia a bordo enquanto atravessava o oceano com destino ao Brasil. Este navio também foi proibido de desembarcar os passageiros ou qualquer membro da tripulação e teve que empreender a viagem de volta ao porto de origem.

Quando finalmente o Vincenzo Florio chegou ao porto, as autoridades sanitárias brasileiras, alertadas pelos registros de mortes e relatos de doenças durante a travessia, realizaram uma rigorosa inspeção. As evidências de contaminação e o alto risco de propagação da epidemia levaram à temida decisão: o navio foi proibido de desembarcar passageiros ou tripulação. Seguindo os protocolos de saúde pública da época, a embarcação recebeu ordens para empreender a viagem de volta ao porto de origem na Itália.

A decisão foi um golpe devastador para os imigrantes. Após semanas enfrentando as adversidades do mar e os horrores da doença, a proibição de desembarque significava a destruição de seus sonhos de uma nova vida. Famílias inteiras, que haviam deixado tudo para trás em busca de oportunidades no Brasil, viram-se forçadas a retornar para uma terra onde a miséria e o desemprego as aguardavam.

A viagem de retorno foi ainda mais desafiadora. O número de doentes aumentava a cada dia, e os suprimentos de comida e água estavam perigosamente baixos. Muitos passageiros sucumbiram à epidemia durante o trajeto de volta, e os que sobreviveram chegaram à Itália profundamente debilitados, física e emocionalmente.

O episódio do Vincenzo Florio reflete um capítulo doloroso da história da imigração no Brasil e do fenômeno conhecido como "Torna Viagem". Ele simboliza os desafios e tragédias enfrentados por aqueles que, movidos pela esperança, se lançavam ao mar em busca de uma vida melhor. Além disso, destaca as condições desumanas a que esses imigrantes eram submetidos e as duras políticas sanitárias que, embora visassem proteger a população local, resultavam em sofrimento extremo para os viajantes. Essas histórias permanecem como testemunhos de coragem, resiliência e da busca incessante por um futuro melhor, mesmo diante das adversidades mais cruéis.

Entre os meses de agosto e setembro de 1893, quase seis mil imigrantes italianos tiveram seus destinos drasticamente alterados. Nesse período, quatro grandes vapores italianos, cada um transportando aproximadamente 1.500 imigrantes, viram suas jornadas interrompidas de forma abrupta ao serem impedidos de desembarcar no Porto do Rio de Janeiro. Após mais de um mês enfrentando os desafios e privações de uma longa travessia oceânica, esses navios foram obrigados a retornar aos portos de embarque na Itália, transformando sonhos de esperança e prosperidade em desespero e frustração.

Essas famílias deixavam a pátria com o propósito de “fazer a América”, como dizia-se à época, mas a concretização desse ideal exigia mais do que coragem e disposição. A decisão de emigrar era acompanhada de meses, ou até anos, de planejamento meticuloso e uma preparação rigorosa. Não bastava o desejo de partir; era necessário reunir recursos financeiros para custear as passagens e reunir uma vasta gama de documentos que atestavam desde a saúde até o histórico pessoal dos viajantes.

Entre os papéis exigidos estavam o passaporte, que marcava a saída de sua terra natal, e o visto, necessário para transitar pelos portos de escala e entrar no Brasil. Além disso, os imigrantes precisavam de certificados de vacinação, muitas vezes obtidos em clínicas lotadas nos dias que antecediam a viagem, bem como de certificados de inspeção médica, que atestavam estarem livres de doenças contagiosas. Como se isso não bastasse, era necessário ainda um certificado de antecedentes penais, que assegurava às autoridades brasileiras que os recém-chegados não representavam uma ameaça à ordem pública. Cada etapa burocrática representava um novo obstáculo, que os emigrantes superavam com determinação, movidos pelo sonho de um futuro melhor.

A partir de abril de 1893, começaram a chegar às autoridades brasileiras relatos alarmantes enviados pelas representações diplomáticas no exterior. Essas comunicações informavam sobre as precaríssimas condições sanitárias nos principais portos europeus afetados por uma devastadora epidemia de cólera. Em resposta, as embarcações provenientes dessas regiões, ou aquelas que tivessem registrado qualquer caso da doença a bordo, passaram a ser admitidas nos portos brasileiros somente após cumprirem rigorosos protocolos sanitários. Esses incluíam a desinfecção completa da embarcação, assim como a limpeza de bagagens, roupas e objetos pessoais dos passageiros. Todas essas etapas ocorriam no Lazareto da Ilha Grande, para onde os navios deveriam se dirigir antes de seus ocupantes terem a permissão de pisar em terra firme.

Como medida preventiva adicional, o governo brasileiro decidiu suspender temporariamente a corrente migratória. A partir de 16 de agosto de 1893, foi proibida a entrada de imigrantes transportados por vapores oriundos da Itália e da Espanha, além de todos os navios provenientes de portos franceses e africanos do Mediterrâneo, declarados oficialmente como infectados pela epidemia.

Além disso, foi imposta uma quarentena rigorosa para embarcações com passageiros infectados ou mesmo sob suspeita de contaminação por cólera. Apenas no início de 1894, quando a epidemia começou a ser controlada, a situação se normalizou, permitindo a retomada gradual do fluxo migratório a partir de regiões consideradas livres da doença.

Entre as medidas profiláticas adotadas, uma das mais drásticas foi o chamado “torna-viagem”, que consistia no retorno forçado do navio ao porto de origem. Essa prática era aplicada em casos extremos, especialmente quando havia grande número de doentes e mortos a bordo. Infelizmente, foi exatamente essa a situação enfrentada por quatro vapores italianos que chegaram ao Porto do Rio de Janeiro entre agosto e setembro de 1893. Essas embarcações, carregadas de passageiros esperançosos em busca de uma nova vida, tiveram seus sonhos interrompidos de forma trágica, sendo obrigadas a empreender a dolorosa jornada de volta à Europa.

A travessia, no entanto, era um teste de resistência. A bordo dos vapores, as condições eram muitas vezes desumanas. Os porões abarrotados tornavam o ar sufocante, enquanto os alimentos e a água potável eram racionados. Doenças como o cólera ou a febre tifoide encontravam terreno fértil para se espalhar rapidamente entre os passageiros enfraquecidos. Qualquer pequeno sintoma era motivo de pânico, pois uma epidemia a bordo podia condenar não apenas os doentes, mas também os saudáveis ao infortúnio do "Torna Viagem".

Para os imigrantes que sonhavam com uma nova vida no Brasil, o retorno à Itália não era apenas um revés prático, mas um golpe moral e emocional devastador. A dura realidade de ver o horizonte do novo mundo desaparecer em direção oposta era difícil de suportar. Muitos voltavam ainda mais pobres e fragilizados do que quando partiram, tendo perdido suas economias, sua saúde e, em alguns casos, seus entes queridos durante a viagem. Ainda assim, o desejo de reconstruir suas vidas continuava a pulsar, mesmo que o caminho para o futuro permanecesse incerto e doloroso.


Nota do Autor


Escrever A Emigração Italiana, as Toneladas Humanas, o Cólera e o Torna Viagem foi um mergulho profundo nas páginas esquecidas da história, onde vidas inteiras são comprimidas em estatísticas e relatos oficiais. Este livro nasce do desejo de dar voz aos protagonistas de um dos maiores deslocamentos humanos da história moderna: os emigrantes italianos do final do século XIX e início do XX.


Em um período de intensa crise social, política e econômica, milhares de famílias italianas enfrentaram a fome, o desemprego e a falta de perspectivas, embarcando rumo ao desconhecido em busca de sobrevivência. Contudo, a travessia marítima muitas vezes transformava a esperança em tragédia. Navios superlotados, condições insalubres e epidemias, como o cólera, transformavam os sonhos em luto.


Ao retratar os desafios, as perdas e as conquistas desses emigrantes, procuro não apenas resgatar suas histórias, mas também refletir sobre a resiliência e a humanidade que resistem mesmo diante das adversidades mais brutais.


Este livro também revisita o conceito do torna viagem — o regresso, muitas vezes forçado ou desejado, à terra natal —, como símbolo de um ciclo interminável de saudade, fracasso e recomeço. Ele revela o peso do passado que esses indivíduos carregavam consigo, mesmo ao tentar construir um novo futuro.


Dedico este trabalho a todos os descendentes desses corajosos emigrantes, para que jamais esqueçam a jornada dos que vieram antes deles, e às almas daqueles que nunca chegaram ao destino, mas cujas histórias merecem ser contadas.


Espero que as páginas que seguem sirvam como um convite à reflexão e uma homenagem à força indomável do espírito humano diante do sofrimento.

Dr. Piazzetta




quinta-feira, 31 de julho de 2025

Giovanni Rizzo: La Vita Tra Do Mondi

 


Giovanni Rizzo
La Vita Tra Do Mondi

Giovanni Rizzo lu el ze nassesto ´ntel 1864, ‘nte una contrà sperduta su le coste seche de la Sicilia oriental, ‘ndove el tempo pareva fermarse tra le rudere normane e i vignài scorticà dal vento salà che vegniva dal mar Tireno. Là, el destin dei òmeni el zera segnà prima ancora de nàssere — scrito par la tera ingrata, par la duresa de le staion e par l’òrdine fermo de le famèie, ‘ndove el nome, la fede e ‘l campo el zera tuto quel che se gavea.

Fin da putelo, Giovanni el aveva capìo che la vita la era ‘na sucession sensa fin de robe che se ripetea: àlbari taià dai mugido del bestiame magro, zornade sensa fin soto ‘l sol che brusava, e note corte, ‘ndove se dormiva sentìndo el strido del vento contro i muri de piere seche. I zorno scominsiava e finia soto el stesso cielo esteril, ‘nte ´na monotonia dura ‘ndove el sudor se mescolava con la pólvere, e la speransa la parea ‘na roba lontan, un lusso riservà a chi gavea tera, no a chi la laorava.

La casa ‘ndove el zera nassesto — ‘na baita de piere messa insieme a man, sensa calcina — la zera sta tirà su dal so nono, e a stento la bastava par contener la famèia granda. Le mure frede tegneva sete cristiani ‘ntei do stanzoti strèti, ‘ndove ogni spàssio el zera caro, e ogni piato, poareto. La mare, Carmela, la spartiva el tempo tra el telaio e l’orticelo che no rendea gnente. El pare, Donato, el zera mezadro soto un contrato verbal con el baron, paron de campi sensa fin e sensa scrùpoli.

La proprietà del baron la siapava tuto el fondo de la val, e i so’ capatàs passava a cavàl par le carrare come se fusse un teritòrio conquistà. I contadini i vivea con el peso eterno del dèbito — sempre dovendo par la tera, el pascolo, i semi, anca par l’aqua del poso. Bastava ‘na racolta sbaglià, ‘na piova fora de tempo, e le cambiale le se inpinia come un càrego che se tramandava de pare in fiòl

Nte la scòla del paes — se se podéa dir cussì al buco scuro ‘ndove un vècio prete insegnava a lesar i salmi — Giovanni el zera sta tra i pochi putéi che gavea ‘mparà a lesar. Ma no ghe zera né tempo né libri. A oto ani za ‘ndava in campo. A dòdese, el portava i scarponi roti del pare par tirar el aratro con el mulo straco. Soniar el zera un gesto inùtile. El mondo che el conosséa finiva là ‘ndove finiva le coste sbrusà.

Ancora, in quel silénsio dei zorni tuti uguali, Giovanni el ga tacà a capir che ‘sta vita tramandà la zera ‘na folia. ´Ntel so sguardo ghe el se lesea ‘na inquietudine muda, ‘na sospeta che fora dal mar ghe zera altro — oltre a quel che i veci contava ‘nte le cantine. La zera el prinssìpio de un desiderio ancora sensa forma: romper el siclo, traversar el mondo, e catare, ‘nte ´na tera foresta, un futuro che la so no ghe gavea mai promesso.

L’amor de Giovanni par Rosa el ze nassesto tacà pian, come l’aqua che se infila tra le piere sensa far rumor, ma con tanta forsa da sformarle con el tempo. La ze ´na intra i vignài e le fiere de la vila, coltivà a l’ombra de le usanse, niente a de sguardi de traverso e incontri nascosti tra un compito e un altro. Rosa Mancuso la zera fiola del scarper, un omo duro e pien de orgòio, che el vedea ntel sposar la fiola ‘na ocasion par nar su un scalìn — mai che l’avesse lassà che la se mete con un contadin sensa niente.

Ma Rosa la vedea in Giovanni ‘na roba che ndava oltre i strass e le man con i cali. El gavea un modo de vardar che no se piegava, un fondo calmo che no se trovava tra i altri. E mentre le altre putele le sospirava par le coltre ricamate e le fede d’oro, Rosa la volea libartà — e la vedea in Giovanni no un protetor, ma un compagno, con cui forse, scampar fora de ‘sta gàbia de contrà.

Se sposà prima de scònto, con l’aiuto de ‘na zia de la mare, e dopo i ga fà ‘na seremónia ufissial, al’ombra de la ceseta de Santa Lucia. No ghe ze stà festa, gnanca ‘na polenta: solo qualcheduna manta prestada, pan cot el dì prima, e el silénsio grosso de chi no aprovava. La so uniom la zera no solo de cuor, ma ‘na rotura — scéta ma decisa — con le catene dei veci. La ceseta, picenin e ùmida, quel zorno la ze sta ‘l palco ‘ndove la tradission e la rebelion se ga guardà ntei oci.

Par qualchedun mese, lori i ga vivento come se i gavesse vinto el destin. Giovanni, con el cuor pien de ‘na speransa rara, el laorava el dopio. Rosa, ‘ntei lavori de casa, la ricamava lenziòi che mai i ga avù. La zera ‘na felissità modesta, ma vera — come ‘na radura fata a forsa in meso al buco streto de la rutina.

Ma tuti do i savea, anca sensa dir gnente, che ‘sta trègua la saria stà corta. El mondo atorno el zera el stesso. La tera la restava seca, i fruti inserti, e i esatori del baron pì veloci che mai. Ma in quel spirà de pase, come el òcio de un temporal, i ga piantà insieme ‘na idea: ‘na vita fora — che forse la gavea nome de vapor, odor de porto, e acento foresto.

Ma la disgrasia no domanda. La riva come le ga rivà tante sfighe in ‘sta tera dura: sensa aviso, sensa giustìssia, sensa rimèdio. Rosa la si é malà dopo setimane de debolesa e dolori tacà, e la provava ancora a far tuto come prima. La zera incinta, ma ‘l corpo, fiaco dal poco magnar e dal peso del laor, no la ga resistì. Quando el sangue el ze tacà a rivar, i visin i ze corsi a siapar la vècia levadora del paese, perché médego no ghe ne zera prima de ‘na zornata in carossa. El socorso el ze rivà massa tardi. 

Rosa la ze morta ‘na matina cargà e sufocante, streta en lenziòi sporchi de sangue, ‘nte ‘na stanzota ‘ndove el sol no gavea coraio de ‘ndar. Lei gavea solo vintitrè ani. Giovanni el ghe tegneva la man fin al último respiro, e là, zenoci par tera, sul suolo pestà, el ga conossù ‘na pena che gnanca ‘na léngoa de la so tera podéa dir cossa la zera. No la ga pianto sùito. El ga sentì come se ghe ‘venisse cavà via el peto con ‘na pala, lassando ‘na ferida viva che mai la se sarìa.

El luto no el ze stà solo par la dona che el amava, ma par tuto quel che la rapresentava — la fuga, el doman, l’altro mondo. Con che la ze ‘nda via, lu el zé restà solo ‘na casa móla e scura, ‘ndove le robe che le gavea paréa che lo guardasse in silénsio. I lenziòi ricamà i zera ancora inpiài sora l’arca. El grembiule ‘ndà drio la porta el paréa che lei lo stesse aspetando. E el leto, che prima el zera massa pìcolo par do, adesso el zera un deserto insuportàbile.

Giovanni el ga provà a tirar via. El continuava a tegner la tera come podéa, ma questa no ghe parlava pì. Le vigne, che prima le gavea orgòio, adesso le ghe pareva grife piantà ´nte la tera, che lo tegnea là, incatenà a in peso de mondo che ghe gavea portà via tuto. El laor, che prima el zera dignità e sustento, el ze ‘nda diventar ‘na galera sensa muri. Ogni solco con l’aratro zera un altro zorno tirà via con le recorde. L’ària calda de la Sicilia, che ‘na volta profumava de mar e de mosto, adesso la lo strenséa come ‘na condana.

Con el passar dei mesi, Giovanni el ga capìo quel che i veci mai i diseva forte: che ‘sta tera dei pare podéa anca vegnir el tomba dei fiòi. E quando el ga vardà verso l’orisonte seco, el ga sentì che gnente ghe tegneva pì là — gnanca promesse, gnanca legami, gnanca speranse. Solo el vuoto. E el ze stà pròprio quel vuoto, paradosalmente, che ghe ga dà el coraio par ‘ndar via.

El tempo, che no guarisce ma fa dormir le feride, el ga portà a Giovanni no ‘l conforto, ma ‘na rassegnassion. ´Ntei ani dopo la morte de Rosa, el ze vegnesto un omo tacà, coñ l’oci infossà e i gesti precisi, come se la vita l’fusse restà solo ‘na fila de fadighe par ritardar el deserto che l’gavea drento. E el ze sta in ´na vita silensiosa che el ga conossesto Maria.

Maria Antonietta la zera vedova de un laorador del porto de Messina, morto in ‘na rovina dopo ‘na piova grande. ´Ntei so oci ghe zera el stesso peso del luto che portava Giovanni, e ´ntei spali ‘na forsa dura de chi no speta pì miràcoli. Lei zera ‘na dona con la parola giusta, le man tose e ‘l spìrito che no se straca. Ghe zera in lei ‘na roba che Giovanni el ga sentì suìto: no la speransa — che quela i ghe l’avea già robà — ma la forsa de rifar tuto anca sopra le macerie.

No ghe ze stà amor de boto, gnanca passion de novela. Ghe ze stà complissità. ‘Na intesa tra do cristiani che gavea resistì: tirar avanti insieme e cavar da la vita quel che se podéa ancora. E la zé stà Maria la prima che ga parlà de l’Amèrica. “Là, se ricomìnsia,” la disea. Là se riparte.

La decision de partir no la ze vegnesta con entusiasmo, ma con ‘na mescola de paura e pressa. I Stati Uniti de l’Amèrica — ‘sto nome che se sentiva in boca a la zente come ‘n incanto — i prometea ‘na roba che in Sicilia no esistea: libartà de sceglier el pròprio destin. Giovanni el ga vendesto quel poco che restava de la propietà dei veci, e con el poco che i ga messo insieme, i ga ciapà do bilieti de tersa classe su un vapor che partia da Napoli.

La traversia la ga durà venti zorni. Venti giorni ‘ndove el tempo no se contava con l’orològio, ma con le scatoe de zupa, le tossi del sotocoperto, e el rìtmo del mar che sbateva su la carena. El sotocoperto odorava de umidità, gómito e corpi streti. Ghe zera febre tra i passegieri, sopratuto i putéi, e el timor che el mar se ciapasse i so nomi prima ancora de rivar. Maria, sempre svèia, la curava chi che stava mal, co stràsi bagnà e preghiere. Giovanni, in cámbio, el vardava el mar sensa fin con la stessa ociada che ‘na volta el gavea dà a le campagne de Sicilia: con sospeto e testardessa.

Quande lori i ga sbarcà a Nuova York, scombussolà dal rumor de le sirene e da le case de fero e vetro, i se sentìa come naufragà. La léngua la zera ‘na muràia invisìbile. I carteli, i òrdini urlà da chi laorava con l’emigrassion — tuto el parea un còdice che no se capìa. I ga aspetà ore a Ellis Island, in code e sguardi de sfidansa. Ogni tosse la podea èsser un motivo de rifiuto. Ogni parola mal capita, un risco de vegnir mandà ‘ndrio.

E lora, i zera là. In piè. Insieme. Davanti a un mondo novo che no i gavea ‘spetà, ma gnanca li gavea respinti. E lu el ze stà lì, in quel spàssio tra paura e possibilità, che Giovanni el ga capìo che el ricomìnsio, anca in meso al scognossesto, zera mèio che ‘na morte lenta de rassegnassion.

El prinssìpio el ze sta feròs, come se el mondo novo el domandasse sangue e silénsio prima de darghe qualsiasi speransa. Giovanni el ga siapà lavoro ´nte le piantassion del sud, ‘ndove i campi de tabaco e coton i se distendea fin ‘ndove se se potea vardarva, ‘na vastità che parea pì ´na galera che libartà. I zorni tacava prima de la luse, con la tera che spandea ancora el respiro de la note, e finiva solo con l’ùltimo raio de sol che spariva ´nte l’orisonte rusenoso.

Le man de Giovanni, za dure de la tera siciliana, le ga trovà ´nte le campagne americane ‘na nova strachessa. El caldo pesante del istà imbibìa le camise, pien de zanzare, e el corpo parea de piombo. D’inverno, el fredo feriva come lame, e i strassi no bastava par coprirse dai venti che passa tra i fessure ‘ndove i dormiva strensù, sora leti de paia.

La léngua la zera pì che n problema — la zera ‘na galera. Giovanni el no capiva gnente dei urli dei fatori, e fora dal grupo de italiani el no gavea parola. L’inglese el parea un parlar taiente, che no se podea capir. Anca le robe pì semplice — comprar pan, domandar l’ora, reclamar — le zera ‘na lota par sopraviìvar.

El magnar el zera poco, sempre quel: fasòi liquidi, pan duro, carne salà. Maria la faseva miracoli con quel poco, ma la fame la ghe rodea, sopratuto a la fine del mese, quando i centèsimi no bastea par el late. Lo stesso, lei curava la casa con dignità. El teto el zera un cason de legno, con le spàchie ´nte le pareti, sensa caldana e con le gronde che piovea drento. Ma la zera, in qualche modo, un rifùgio.

Lu el ze stà lì che la morte lu ze rivà in altra volta a picar, come ‘na vècia che mai la sparisse. El primo fiòl del casal lu el ze diventà malà ´ntel secondo inverno — ‘na febre granda, con tosse e fià corto. No ghe zera schei par un mèdego, e gnanca un ambulatòrio par emigranti poveri come lori. Giovanni e Maria i ga provà de tuto: tè de erbe, stràsi, vègia contìnua. Ma no lo ze bastà. El putelo lu el ze morto ancora la matina, tra le brasse de la mare, con el corpo ancora caldo e i oci meso serà, come se dormisse.

El sepoltamento el ze stà pì che ùmile, quasi sensa nome. ‘Na crosseta in un canton del cimitero comunal, ‘ndove i nomi i zera scriti in freta su legno rùspego. Gnanca ‘na seremónia. Gnanca ‘na cantada. Solo la pena muda de do forestieri davanti a un dolor che no se rimete. Giovanni el ga sotarà là no solo el fiol, ma anca ‘na parte de l’ànima — e la speransa che el malel fusse restà indrio, in Europa. 

Da quel zorno là, el ga tacà a laorar con ‘na fùria muda, come se ogni gesto el fusse ‘na sfida lanssià al destin, ‘na maniera de domarlo a forsa. E Maria, pì tacà che mai, la tegnea la casa che parea un orològio che no taca mai, ma el lume ´ntei so oci el zera sparì. I do i savea, sensa dir gnente, che el sònio americano domandava pì che coraio. El domandava tuto.

Ma Giovanni el ga resistì — no par speransa, ma par instinto. La vita no ghe gavea mai dà strada fàssile, solo la scelta tra tirar avanti o cascar. E lu el tirava, passo dopo passo, rifando la so esistensa con quel poco che ghe zera e con ‘na forza che vegniva de lontan, de generassion de contadin che no se spaventava par un rovèscio.

El ga vissù i so ani ‘ntra altri come lu — napoletani, calabresi, abruzzesi — che el ga trovà, par la prima volta in tera americana, ‘na roba che el ghe ricordava casa. La comunità dei italiani, sparsa ma unìda, la funsionava come ‘na ragatela de aiuto e fedeltà. Ghe gera sempre qualchedun che conosséa qualchedun: un murador disposto a far un cámbio de man, un prete che lesea le carte, ‘na vedova che mostrava come far conserve par l’inverno. Legami fràgili, sì, ma veri, tesi tra la nostalgia e el bisogno.

Con el tempo, Giovanni el gà podesto comprar un peso de tera in torno a ‘na vila de operài. Là, con le so man, el ga tirà su ‘na casa de legno — poareta, sì, ma salda, con le fondamenta piantà fondo come par dir che, par la prima volta, el gavea un posto che el zera so. El teto el zera fato con tolete laorà con el facon, e le fenestre pìcole par tegner el caldo. Maria la gavea fato tende con i strassi, e la ga messo i santi in parete, come par dar un poco de belessa a que legno rùstego.

Drio la casa, Giovanni el ga netà un tocheto de tera dura e sabionosa, e con pasiensia el ga scominsià a piantar fasòi, cavoli, cepole, e anca do piantine de ua americana. A canto, el ga fato un porcil con palete storte e un ponaro che pareva un mucio de asse, ma bastava. El tirava su porsei e galine come i so vècie in Sicìlia, no par malinconia, ma par bisogno. El zera ‘na maniera de rifar, con quel che se gavea, el mondo che i gavea lassà — sistemà con le regole de ‘sta tera nova.

La doménega la zera messa in talian, selebrà in fondo a un galpon, ‘nte ‘na capela improvisà. Là, tra candèe tremolanti e cansoni che i conosséa, la memòria de la Sicìlia la tornava viva. La fede de Giovanni no la zera de teologia, ma de sangue: un misto de gesti, riti, promesse tacà e superstission che ghe dava forma al caos. El zera ‘sta fede — no solo in Dio, ma ´nte la dignità del laor, ´nte la costansa de la tera, ´nte la forsa de la famèia — che lo tegnea in piè.

Le memòria de l’infansa, tra i ulivi sechi e i coli pien de pòlvare, no lo lassava. Ma adesso le vegniva sensa ràbia. El zera parte de un càrego che no volea molar. Giovanni el savea che l’Amèrica la domandava che te cambi, ma el savea anca che, sensa le radisa de la Sicìlia, gnente al mondo se tegnea in piè.

Con el passar dei ani, Giovanni el ga smesso de èsser solo un sopravisù: el ze diventà ‘na áncora. La casa che el gavea costruì con tanta fadiga e sacrifìssi invisìbili, la ze diventà un ponto par chi che vegnia dopo — fradei, cugini, fiòi de conpaesan che rivava con el cuor pien e le man vode, con la speransa che anca lu, ‘na volta, el gavea osà soniar.

Là, sul pòrtico de legno e intorno al fornel a legna, se ze formà ‘na rete de acòio. Le doméneghe, la veranda la se impiniva de ose in dialeto, de putei che coreva tra le galine, de done che cussinava piati che ghe sapeva de Sicilia, ma fati con quel che se gavea: pan con erbe del orto, pomodori scampà via, vin fato in casa ´ntei boti piceni de rovere americano. El zera, pì che ‘na casa, un rifùgio: un tocheto de cultura salvà in un mondo che corea.

In sala, Maria la tegneva ‘na scansia con rosari, santi e fotografie in bianco e nero. Lì, i quei che ze rivà i vegniva a siapàr conseie, un posto par parlar de robe grosse: dove ‘ndar, che lavoro catar, come parlar con i paroni, se valea la pena farse sitadin brasilian. Giovanni no disea òrdini ne prèdiche — el mostrava. El stava sentà, parlava poco. I consci i vegniva con pause longhe e el sguardo fisso lontan, come se ogni parola la dovesse passar un campo de fantasmi prima de rivà in boca.

La casa de Giovanni la ze vegnù conossù in meso a l’altra gente come un toco de Sicìlia piantà ´ntel cor de ‘sta tera forestiera. El zera là che se fasea i matrimoni con i nastri colorà e le cansoni vècie, là che i batèsimi i se fasea tra strasse e vin dolse, là che i veci i moreva con la gente intorno, no consumà dal scordar. Un microcosmo, ‘ndove el tempo el gavea ancora ‘na lògica sua. 

Giovanni, sempre presente ma tacà come un saco, el stava ‘nte ste riunion con ‘na facia sèria, come chi porta un peso invisìbile. No disea mai de le pene vècie, ne de la traversia, ne del putel ´ntel fredo inverno che el ga sepolto. Ma el tegneva tuto drento. Lu el zera el depositàrio de ‘na memòria de tuta na generassion — dei fiaschi, dei sacrifìssi, dei picoli trionfi — che tuti preferiva no riviver, ma che gnanca podea scancelar.

El savea, anche sensa dir gnente, che el mise de vita el galava ‘na contradission fondamental: pì che i fòi i s’integrava in sta tera nova, meno che i capiva le radise de ndove i zera nassesto. E pròprio sta roba che Giovanni el aceptava con ‘na calma resignassion. La so mission no la zera de tegner el passà intato, ma de far si che almanco no venisse sotarà in silénsio.

Par cussì, ano dopo ano, la so casa la restava ‘na casa de acòio. E in ogni visita, in ogni pan spartì, in ogni conseio sussurrà, Giovanni el ga costruì, piera par piera, ‘na ponte invisìbile tra do mondi — la tera vècia che ga formà el so spìrito, e el teren novo ndove el piantava ogni zorno el futuro de so gente.

Quando el corpo ga scominsià a no risponder pì con la forsa de ‘na volta, ma el spìrito el restava svèio, Giovanni el ga scominsià a tornar de tanto in tanto in Sicìlia. Le viaie no zera fàssili ne tante — treghi e tragheti, passando per un mar che el ga za conossesto massa. Ma par lu no zera solo un spostar: zera ‘na peregrinassion.

Quando el rivava in contrà, tuto ghe parea pì pìcolo de quel che el tegnia in testa — le strade strete, le case basse, i monti meno monumentai. Ma zera cose che no se rompeva: come se i sècoli i fosse scurì tra le piere sensa cavai via i segni de mdove el zera rivà. El ndava con le man drio e i oci che vardava le case scrostà. El riconose portai, el sentea el profumo dei ulivi lontan, e el scriciolar dei campanili che parea che i sunava par un tempo che el zera sparì.

No el sercava rencontri ne nostalgie sémplissi. Quel che Giovanni el volea, zera la radisa de quel che ancora ghe dava forsa, l’orìgine profonda del so coraio. El savea che la vita nova che ga costruì de là de l'osseano — con sudor, pèrdite e caparbietà — no gavea cancelà la so identità. Al contràrio: la ga raforsà. L’Amèrica ghe gavea dà spassio par crèsser, ma la Sicìlia zera el teren dove i so piè i ga imparà a resister.

E, tutavia, el capia benìssimo che no zera pì solo siciliano, ne solo americano. Èl zera un omo fato da do tere, da do léngue, da do memòrie diverse. La so ànima zera stirà tra continenti, come un instrumento vècio che ancora gira con la forsa de le corde.

´Nte le ùltime visite, el ze restà pì poco. El sentea che la contrà la coreva in paralelo al so presente — come se el fusse solo un viaiante che el toca pian la tera e dopo el parte via. Ma el partia sempre con le tasche pien de tera seca e de foie de ulivo, serbà come ricordi sacri — no par superstission, ma par gratitùdine.

Giovanni el acetava el paradosso con tranquilità. El saveva che no zera pì solo sicilian, ne solo americano. El zera ‘na roba tra i do — un legame vivo tra mondi che par tanti zera separà. Par lu, zera solo ‘na sola stòria, la so.

Giovanni Rizzo no ga mai avù el nome scrito sui monumenti ne in libri de scola o de personagi famosi. No ga mai comandà guere, no ga mai parlà a assemblee, no ga mai fondà sità. Ma el ga vissuto con coraio tacà, quei che no fa rumore — e pròprio par cussì, el sostegno el mondo. El zera un omo comune, formà da l’adversità, drito da un senso del dovere che no ga mia molà, anca de fronte a la pèrdita, a la solitudene e a la distansa impossìbile da ndove el zera nassù.

El ga giocià con el peso de un destio che parea imutàbile — la misèria tramandà — e anca cusì, el ga vissuto el rischio de romperlLu el ga resistì a la pena de sepelir la dona amata e un fioleto, al silénsio opressivo de ´na léngua forestiera, al fredo dei inverni sensa misericòrdia, a la strachessa de zorno que no avea mai fin. E con le spale piegà da la fadiga, el ga trovà la forsa par ricominsiar, par construir da so man ´na esistensa nova, tocheto par tocheto, asse par asse, solco par solco.

La so stòria no la ze ùnica — e pròprio par cussì la conta. La ze el riflesso de miliaia de emigranti italiani che, tra el fin del XIX sècolo e l’inìsio del XX, i ga lassà le coline seche de la Calàbria, i vigneti de l’Umbria, i uliveti de la Sicìlia. I ga partì con poche in scarsela e tuto ´ntel cuor: la memòria de la tera, la fede ´ntei santi e la speransa de un doman pì giusto par i fiòi che ancora i gavarà. E in cámbio, i ga portà al mondo novo quel che i gavea de pì presioso — el laor senza basta, la resistensa capàrbia, la forsa de la parola mantegnù.

Con le man dure e el cuor saldo, sti omo e ste done i ga tegnù barache par case, campagne selvadeghe par orti fèrtili, vilagi scarsi par comunità vive. I ga lassià ai so fiòi no solo cognomi difìssili o ricete su caderni sporchi, ma qualcosa de pì fondo: la certessa che la dignità no depende da la fortuna, che l’onor pò star anca ´ntel silénsio, e che la vera grandessa la ze spesso invisìbile.

El lassà de Giovanni Rizzo no stà in ´na stàtua, ma ´ntel sguardo fermo de un nipote che ga imparà da lu el valor del sudor. Stà ´ntela léngua che la resiste tra le generassion, ´ntei riti de casa ripetù con caressa, ´ntel respeto per la memòria de chi zera prima. Un lassà silensioso, forse — ma eterno. Come le radise de un àlbaro che, anca lontan de la tera d’origen, no ga mia scordà de ndove el ze vignesto.

Epìlogo

Ani dopo la morte de Giovanni, la casa poareta che el ga costruì la stava ancora in piè, come ´na sentinela muta de la so stòria de coraio, renúnsia e speransa. Le mure rovinà dal tempo le tegnea ancora el calor de tanti inverni e istà de sacrifìssio, e l’odor dei fiori che Maria la coltivava ´ntel giardino se smissiava con l’ùmido de la tera, portando con el vento del cortil i bisbigli de memòrie quasi desmentegà.

In quel posto ndove el passà e el presente i se intreciava, cresseva ne generassion nove — fiòi, nipoti, bisnipoti — che i portava ´ntel sangue la forsa rùstega e tenasse de un omo comune. Un omo che el ga traversà osseani, afrontà tempeste che i no zera solo de mar, ma de pene de la vita. No ghe zera monumenti grandi, ne pàgine in libri che ricordasse el so nome. El so tributo zera diverso: ‘na memòria viva, sercà ´ntei oci de chi el ga volù ben e el ga seguì con coraio tasesto.

Giovanni Rizzo no el ga segnà su piere o registri ufissiai, perché la so grandessa zera ´ntel so viver de ogni zorno — ´ntela sfida muda al dolore, ´ntela soma invisìbile de pìcole vitòrie che ga sostegnù la so esistensa. La so vita la zera un mosaico de asénsse colmà da speransa, de pèrdite trasformà in coraio, de radise piantà forti in ´na tera che, pur lontan da la Sicìlia che lu el zera nassesto, el ga imparà a ciamà “casa”.

E cussì, mentre le olive resta contìnua a scotarse soto el cielo lontan de la Sicìlia, el lassà de Giovanni el resta vivo in ogni gesto sémplisse de chi, come lu, i ga osà partir. Omo e done che i ga portà ´ntel peto la fiama dela perseveransa e la certessa che, pur luntan da casa, se pol sempre trovar dove fiorir.

Nota de l’Autor

Sta stòria la ze nassù con la voia de dar vose a chi no ga mai avù nome. La figura de Giovanni Rizzo la ze inventà, ma el so camin el ze stà formà da pesi de verità, racolti tra le carte vècie, le stòrie de famèia, i archivi de l’emigrassion e la memòria condivisa de ‘na generassion che ga traversà el mar in serca de ‘na promessa.

Miaia de italiani i ga lassà le so contrà desmentegà del sud d’Itàlia tra la fin del Otosento e el scomìnsio del Novessento, sospinti da la fame, da le pèrdite e da la speransa. Le so vite le ze sta tessù in silénsio, con le man stropà e i piè ferì, in tera ndove tuto ghe zera novo — la léngua, el tempo, el magnar, le règole, el doman.

Giovanni lu el ze el sìmbolo de sti òmeni e done: no eroi da libri, ma eroi del ogni zorno, che el so pì grande mèrito el ze stà resistar, tegner la famèia, soto i so cari e continuar avanti. La stòria che qua la se conta la ze ‘na memòria viva de ‘sta forsa tacà, invisìbile, che ga trasformà el dolor in fadiga, la nostalgia in radise, l’assensa in eredità.

Scrivendo sta narrativa, no mi go volù contar la verità precisa de un personàio, ma onorar la verità profonda, quela che vien dal cuor de un pópolo intero. Se Giovanni Rizzo el te par vero, el ze parchè el ze stà in tanti. E forse, in fondo, el vive ancora in noaltri.

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta




El Diàrio de Giuseppe Conto: Un Viaio de Coraio e Superassion

 


El Diàrio de Giuseppe Conto 

Un Viaio de Coraio e Superassion


Giuseppe Conto el zera un laorador ùmile nassesto a Maser, un pìcolo comune drento la provìnsia de Treviso, Itàlia. Spentonà da promessa de 'na vita mèio in Brasil, el ga dito adio a la so moiè Maria e ai do fiòi ancora putèi, con la speransa de le portar drio in sto mondo novo ´na volta sistemà. Con el cuor grando, e pien de determinassion, lu el ga imbarcà su 'n vapor al porto de Génova. Ma no el saveva che i mesi dopo ghe metarìa a prova la fede e la resistensa cussì tanto.

Dopo che lu el ga partì, Giuseppe el ga sùito capì che el viaio el sarìa diverso de quel che’l pensava. In so diàrio, el ga scrito el so prime righe:

"Ze oto ore dopo che semo partì, i capi de le tàvole i ze stà ciamà a tòr le rasion de pan e butiro che i spartisse par la semana. Dio mio, che desilusione! El pan el ze un impasto tremendo de crusca, segale, semense de lino e altre schifese indescrivìbili. No' i cani afamà i lo tocaria. La sera, noaltri gavevamo tè… o quel che dovea èsser tè. La zera solo aqua sporca, sensa zùcaro, imbevìbile."

I zorni i passava lentìssimi. La mancansa de sibo e la qualità tremenda de l'aqua rendeva ogni momento 'na prova de resistensa. Giuseppe el ga descrito el desespero che se ga insinuà quando el destilador de l'aqua del vapor l'è andà fora uso:

"Semo stà zorni interi sensa 'na gota de aqua potàbile. L’ùnica opsion la zera 'na aqua pusolente, tolta da i barili che serviva come zavora del vapor. La zera pien de vermi, ma quela la zera tuto quel che gavèvimo. Alcuni i gomitava dopo aver bevù, ma la sete la zera pì forte del disgusto. Par fortuna – e solo par fortuna – un mecánico russo che zera drento la ga sistemà la màchina."

Su el vapor, l’ària la zera pesà. Le malatie le gaveva scominsià a girar tra i passegièri. Tanti i gaveva siapà mal, incluso Pietro, un zòvene de desoto anni che Giuseppe el ga conossesto drento el viaio. Giuseppe el ga tentà de siaparse cura del tosato, ma el ze finì de perder la batàlia contro la fiebre. El funeral improvisà in mar el zera un ricordo doloroso de quanto fràgili le ze le nostre vite.

Finalmente, dopo setimane de soferensa, el vapor el ze rivà al porto de Rio de Janeiro. Giuseppe lu el ze vegnesto zo distruto, ma solevà par èsser finalmente in tera. El ze stà mandà a 'na nova colónia agrìcola drento lo stato de Rio Grande do Sul, ndove el ga trovà altri sfidi. Le condission de lavoro le zera dure, e la nostalgia de la famèia la zera 'na pena contìnua. Ma no'l voleva arenderse.

In 'na de le lètare mandà a la so mòie, Giuseppe el ga scrito:

"Maria, el Brasil no'l ze el paradiso che lori i ga promesso. El lavoro el ze duro, e la solitudine la me grava su el cuor. Ma mi go zà scominsià a lavorar la tera, e presto mi go la speransa de aver qualcosa par mi mantegner. Sogno ancora el zorno che tu e i putèi i podarà rivar da mi. Fin quel momento, prega par mi, perché le ze to preghiere che me fa star forte."

Dopo tuti i sacrifìssi, le fatiche e le sfide che la vita ghe ga messo drio, Giuseppe no'l solo ze riussì a far fiorir quel peseto de tera selvàdega, ma el ga fato de quel ángolo lontan del mondo 'na casa. La tera che prima pareva ostile e impraticàbile la ze diventà un giardino rigoglioso, un segno tangìbile del so lavoro, de la so determinassion e de la so fede in un futuro mèio. Ma la pì grande vitòria de Giuseppe no’l ze stà solo la tera, ma el momento in cui finalmente el ze riussìo a portar Maria e i so fioi in Brasil.

El zorno che lori i ze rivà al porto, el cuor de Giuseppe el ze balzà de gioia e el so viso el ze iluminà de làgreme. La lontanansa e la nostalgia che ani prima ghe gavea pesà sul cuor, el ze diventà solo un ricordo distante. Maria, con i so òci pien de emossion, la ga trovà in Giuseppe no solo el omo che l’aveva sposà, ma un eroe che l’aveva portà fin in fondo al sònio. I fiòi, che prima i conosseva el pare solo dai raconti e dai ricordi, i ga abrassià un omo che pareva grande come le montagne de Treviso.

Insieme, come ‘na vera famèia, lori i ga fato rivar ‘na nova era. Le zornade de lavorar la tera le ga visto sudore e sacrifïssio, ma anca riso, cansoni e la gioia de star insieme. Con el passar del tempo, la famèia Conto la ze diventà un pìcolo faro de speransa par tuti quei che, come lori, i ze rivà drio con el sònio de ‘na vita mèio.

Giuseppe el ze restà un omo ùmile, ma con el cuor grando. Sempre che l’aveva tempo, el scriveva drento el so diàrio. No solo par conservar i ricordi de quei zorni, ma anca par tramandar ‘na stòria che ghe imparasse a i fiòi – e ai fiòi dei fiòi – che la vita, dura che sia, se podarà sempre triunfar con el coraio e la speransa.

A la fine, sto viaio no el ze stà solo de Giuseppe, ma de tuti quei che i ga credesto in un futuro mèio. E cussì, la stòria de Giuseppe Conto la se diventà ‘na legenda drento la famèia, un esémpio eterno de quanto la determinassion e l’amor par la vita podarà superar ogni aversità.


Nota de l'Autor


"El Diàrio de Giuseppe Conto" el ze un romanso che prova a dar vose ai vissuti, ai sacrifìssi e ai sussessi de miliaia de emigranti italiani che gaveva lassà la so tera par sercar un futuro mèio in tere lontane. Anca se la stòria de Giuseppe Conto e de la so famèia la ze inventà, la ze stà scrita con cura, basandose su raconti tramandà de generassion in generassion dai dessendenti de quei pionieri.

El raconto el xe inspirà da le esperiense vere de òmini e done che i ga afrontà viaie stracanti, condission de vita dure e la nostalgia par chi i gaveva lassà indrìo. Le dificoltà contà drento sto libro — come le traversie oceaniche, le condission precàrie ´ntei primi ani de vita ´ntele colònie agrìcole e la resistensa contro le aversità — le ze 'na fotografia fedele de quanto i ga vissesto da tanti che gaveva emigrà tra la fine del século XIX e el prinssìpio del XX.

Sto lavoro literàrio el vol èsser pì de 'na semplice òpera de fantasia: el ze un omenaio al coraio e a la determinassion de sta zente. Lori gaveva spianà strade, costruì comunità e lassà un legà che el ga segnà la stòria de tante region, spesialmente in Brasil.

Aspeto che sto raconto el possa permetar ai letori de conossèr un poco pì del perìodo stòrico, ma anca de emosionarse con la forsa e la speransa che gaveva portà tanti emigranti a trasformar i so sòni in realtà. Che la stòria de Giuseppe Conto la possa far da ponte par conservar la memòria de tanti altri che gaveva vivesti vissende sìmili e che le so vosi le rimbomba ancor ´ntel presente.

Con gratitudine e rispetto,

Dr. Piazzetta


quarta-feira, 30 de julho de 2025

I Zorni de Tera Rossa


I Zorni de Tera Rossa

Stòrie de sangue, sudor e speransa su ‘na tera nova

La nave la zera partì da Génova soto el manto scuro del inverno del 1877. Al porto, el vento portava un odor de carbon bagnà e pesse màrcio, smissià con el odor de l’aqua ferma e de i corpi che da zorni i no savea pì cossa la zera un bagno. L’imbarco el zera stà lento e ruvìdo, segnà da spintoni e urli dei marinai che tratava i emigranti come carga da stiva. Òmeni e done i entrava in barco con le spale basse e el sguardo sbusà, come se i sentìsse che i gavea da dir adio no solo a la tera natìa, ma anca a ‘na parte de l’ànima so.

Sora el barco, streti tra corde, valise e barili de aqua salmastra, i viaiava ànime mosse no da l’ambission, ma da la urgensa de sopravivar. No ghe zera tra lori esploradori, gnanca soniadori romántici. I zera contadin strachi da la tera, operài cacià fora da le fàbriche, vedove con putèi, veci che preferiva morir fora da l’Itàlia che continuar a mendicar in casa. L’ària i quel fondago la zera grossa, pien de umidità, scremento umano e l’odor àssido de gòmito. Chi che no rivava a siapar un posto su i leti improvisà dormiva sora i sacha de farina, facendo turni de riposo come in ‘na trincera invisìbile.

Tra quei poareti ghe zera Giuseppe Miazani, contadin del Véneto, che portava su el corpo le màrchie de ‘na vita consumà da la fadiga. I diti, duri e storti, pareva de legno. La schena, incurvà da quando che el avea quindese ani, la disea tuto: ´na vita passà tra zape, sassi e solchi sechi. A quarantado ani, no el sperava miràcoli, ma solo ‘na nova oportunità. Ghe zera con la so moièr Teresa, con li oci fondo e la vose smorsà, e con i tre putei che no savea gnanca cossa che i stea lassando drio, ma che lesea su la fàcia dei genitori la gravità de chi che parte sensa saver se torna.

La fame l’avea cacià via da l’Itàlia. No ‘na fame de un zorno, ma ‘na fam longa, sossial, de generassion. La tera del Véneto la zera massa cara, massa streta, e i paroni del grano e del poder no gavea pì uso per zente come Giuseppe — zente sensa tìtoli, sensa schei, sensa studi. El Brasile el lo ciamava con promesse che lu no capiva. I manifesti atacà sui muri de le paròchie disea de tera bona e libartà, ma nisun i lesea ben. Le parole le vegniva ripetù in fiere, smorsade dal’analfabetismo e da la speransa. Promesse scrite su carti timbrà che nisun savea decifrar, ma che pareva mèio che la fame su la pansa, le nove tasse che no se podea pagar, e la umiliassion lenta de inchinarse davanti al usuraro del paese.

La prima note in barco, Giuseppe el ga capì che la traversia no saria stà solo un cambiamento de continente, ma un rito de purgassion. L’aqua da bever zera poca e tiepida, el magnar, ´na polenta, dà come ‘na carità. I sorci combatéa posto con i malà. I pianti dei putei se smisciava con la tosse seca e le preghiere basse. El mar, indiferente, butava onde che strenzea el vapor  e fassea gomitar i pì debòi.

Ma par tuta la scomodesa, el mal de mar, el spavento, Giuseppe el tegneva ‘na convinssion muta — quela traversia la zera l’ùltimo gesto de dignità che ghe restava. Morir in barco, o anca in tera nova, saria almanco morir provando a scampar da ‘na condana a ‘na vita sensa doman. E cussì, con i piè tremanti e l’ànima sospesa, el passava el oceano come miaia e miaia de altri contadin scancelà dal mapa de l’Europa, provando a scrivar con el pròprio corpo el primo paragrafo de un mondo novo.

La traversia la zera stà un lento de se stacar del mondo vècio — no solo geogràfico, ma spiritual. Ogni zorno in alto mar, le robe che prima tegneva in piè la vita — el campanil del paese, l’odor de le stagion, i nomi de le strade e dei santi — i se sfumava come tinta lavà. In fondago, ndove sentene de ànime le se strinseva sora asse mal inchiodà, la traversia del mar la diventava pì che fìsica: la zera ‘na traversia interior, ‘na eroson lenta de l’identità. No zera pì italiani, ma gnanca brasiliani. I zera, par adesso, naufraghi del passà.

Gibraltar, el vapor el ga restà fermo par zorni interi, sensa che gnanca un spiegassion fusse dà. Le autorità del porto controlava el fondago con sospeto, contava teste, guardava carte strasse e timbri smorfi. I emigranti, da la so parte, i vardava el movimento del porto con un sguardo misto de desidèrio e rassegnassion. I òmeni i se sentava sora l’orlo de la nave e i vardava la schiuma del mar come se vardasse un altar. El zera un gesto istintivo, quasi ‘na liturgia: vardar l’orisonte come chi che prega, come chi che prova a contratar con el destin ‘na traversia manco crudele. El silénsio zera assoluto tra i colpi.

Un silénsio che no zera mancansa de rumore, ma la mancansa de tuto che i gavea conossesto: i campanei de cesa, i passi sui ciòdoli, le vosi ´nte le fiere, i canti del tramonto. Tuto quel zera restà drio del mar. Adesso ghe zera solo la boscaia e el tempo — un tempo che pareva muoversi pian, indiferente al straco, a la febre e a la nostalgia. La mata vèrgine no se dava via fàssil.
Lei resistea come un animal ferì, feroce ma muto. No ghe zera sentieri pronti, gnanca righe drite. Ogni metro conquistà zera fruto de setimane de lavoro ripetitivo, duro e pericoloso. Àlbari con diametro de un abràssio bisognava che cascasse prima che na semense tocasse la tera. I manare, ancora sensa el fil giusto, bateva sui tronchi che pareva de piera, e ogni colpo domandava pì che forsa: domandava paciensa, disciplina e ‘na fede strana ´ntel futuro. Quando finalmente i cascava, pareva che parte del mondo vècio cascasse insieme a lori.

La tera, rossa forte, sanguinava quando la vegniva scomodà. Sto baro grosso, che se atacava ai cavìcie e impastava i brassi, tensava tuto quel che tocase — robe, pele, óngie, soni. I strassi de le done se sporcava par sempre; i taloni se sgrepolava soto el peso de la moita dura; le ongie se negava. Ma chel no zera solo sporco. Zera batèsimo. El sigilo bruto de ‘n posto che no voleva coloni — solo sopraviventi.

Con le man feride, i diti taiài dal fil storto del fero e da le spin dei tronchi spacà da poco, e con i piè infià da portar l’aqua in sècie improvisà, Giuseppe el imparò no solo a resistar, ma a trasformar.
El imparò a coltivar formenton e fasòi coi semi passà tra visin con parlar diversi, a segnarse el tempo dei racolti co i sicli de le piove, a riconosser i rumori de la mata come segnali o benedission. El imparò anca a tirar su muri sensa piere, solo baro e pàia seca mescolà con el sudor del matìn e el silénsio del dopopranzo. I baracón cressea da drento in fora, formà pì da l’urgensa che da la tècnica, ma ognidun de lori zera ‘na vitòria contro l’oblio.

La léngua, però, zera ‘na selva ancor pì infasà. Giuseppe no capiva el idioma dei òmeni che lo comandava, no leseva le òrdine atacà su la sede de la colónia, gnanca capiva le ordinanse dei registri agrari. Le parole del potere rivava filtrà da interpreti improvisà, da visin che savea leser, da putei più adatà che i genitori. Zera un governo sensa fàssia, ‘na autorità che stava in alto sui coli, fra carte timbrà e promesse vaghe. E però, anca in quel silénsio obligà, la vita la ‘ndava avanti.

De doménega, con la stessa dignità straca con la qual i netava i òci dei fiòi, Giuseppe e Teresa se meteva dosso le robe manco sporche e montava el sentiero de tera batua fin la ceseta improvisà — un galpon de legna con un crucifisso rùstego e banchi de tronchi spacà.
Quel no zera ‘na cesa. Zera ‘na idea de cesa. Un sìmbolo pì che ‘na casa de fede, un tentativo de refar el sacro in un mondo che zera ancora in costrussion.

Là, soto la luse fioca che passava tra le fessure dei muri, se sentiva ‘na messa mescolà, ndove el latin antico se mescolava con el portughes strassinà del prete cavaler e con i mormori dei coloni che rispondeva in talian, o in dialeti che gnanca i visin capiva.
Ma no importava. Tuti zera confusi uguali, curvà soto el peso de la setimana, unì da la stessa fame, dai stessi dolori, da la stessa speransa. E in quel momento breve, soto el suono dissonante de le léngue e el odor de legna verde, ghe zera un fià — picin, fràgil, ma vero — in meso a la vastità selvàdega del mondo novo.

Le carte zera l’ùnico fil col mondo de prima. In mezo a la boscàia che se magnava le distanse e desfaseva i riferimenti, quel tochetin de carta zera tuto quel che restava de un tempo prima del mar, de la selva, de la tera rossa. No ghe zera pì strade, gnanca segni, gnanca cesete familiari. Ghe restava solo el ricordo, e sto ricordo, par no sparir, bisognava scrivarlo.

A ogni racolto, dopo setimane de laoro tosto e noti mal dormì, Giuseppe se parava un momento, sempre al scuro, sempre straco, par scrivar al fradèo pì vècio, che zera restà in Véneto.
Se sentava su un toco de legno, con ‘na candela che tremava su el fólio bagnà de sudor, e faseva quel che no gavea mai imparà ben: scrivar. Le parole vegniva fora con fadiga, letra dopo letra, come se ogni sìlaba dovesse traversar la resistensa de la strachessa. Frase corte, semplissi, ma càriche de significà invisìbili.

Contava le dificoltà — la febre che gavea tirà via un puteo del visin, l’aqua granda che gavea portà el formenton, la morsicada de serpe che gavea quasi costà la man del fiòl pì picinin.
Ma contava anca le vitòrie, anca se picolete: la carossa nova fata con legna del posto, el primo pan coto in un forno che l’avea costruì con baro cruo e coto, l’arivo de un visin de Trento che portava novità fresche de l’Itàlia e ricordava cansonete che tuti gavea desmentegà. Sti trionfi picinin zera tratà come imprese èpiche. No perché i zera cussì grandiosi, ma perché i simbolisava qualcosa de pì profondo — la lenta, dolorosa ma inevitàbile trasformassion de ‘na vita strapà da le radisa. Ogni carta zera un ato de resistensa contro l’oblio. Un gesto volù de tegner viva la scintila del ricordo, anca quando tuto atorno pareva voler el contràrio. La scritura tremolante, macià da man sporche de tera e cali, mostrava pì che analfabetismo.
La rivelava el sforso fisico e del cuor de un omo che tentava de tegnir insieme do mondi. Da ‘na parte, el Piemonte, con l’òrdine, la léngua, la stòria. Da l’altra, el Brasile — inòspito, fèrtile, incontrolàbile. In mezo, un omo che no zera pì ne uno ne l’altro. Brasilian? Italian? Gnente. Sol coloni.

Sto nome — “colono” — che ´ntei èditi ofissiai voleva dir categoria produtiva, là el gavea ‘n peso diverso. Èsser colono no zera ‘na profession. Zera ‘na condission. Zera viver sospeso tra quel che se zera e quel che mai se savaria èsser. Zera piantar radisa in tera strànea sensa saver se ste radise durava. Zera scrivar carte a chi forse no risponderia mai, solo par ricordarse che ‘na volta se zera stà da un’altra parte, soto un altro cielo,  con un altro nome.

I fiòi cressea con i piè fermi su la tera de la colónia — no par scelta, ma par instinto. Zera come se el corpo, pì in pressa che el pensar, capisse che lì bisognava piantar radise presto, senò se vegneva tirà via da la brutalità del posto. I corea tra i tronchi cascà e le stecadure improvisà con la sicuressa de chi no gavea mai visto el mondo de prima. Par lori, la boscaia, el baro rosso, el odor dolse de la cana fermentà ´nte l’ària calda del mesodì, no zera ostàcoli. Zera paesàgio. Zera casa.

Imparea a leser in portughes, su le tavole grezze de ‘na scola improvisà a canto la ceseta, ndove ‘na maestra zòvene, anca lei fiola de emigranti, insegnava le sìlabe con carbone.
I quaderni zera pochi, el silénsio impossìbile, ma lori imparava. La léngua nova entrava pian pian, come un rivolet che siàpa le sponde, e prendeva forma ´nte le vosi dei putei. Se leseva con l’acento, ma se leseva. Se scriveva mal, ma se scriveva. El idioma de la tera che i gavea acolto, par forsa e par bisogno, se impiantava ´nte le generassion nove con ‘na naturalessa inevitàbile.

Ma in casa, torno al fogo basso e al pan duro, se cantava le canson vècie del nord de l'Itàlia. Cansoni de sposalìssio, de vendemia, de Nadal — imparate dai veci, mormorà da le mare con la ose bassa mentre che impastava la farina o lavava i pani ´ntel rieto. Le parole vegniva in talian, carighe de imàgini che i putei no capiva par intero, ma che i savea a memòria. Zera parole eredà, come el color dei oci o la forma del mento. E in quele parole, anca sensa capir, i sentiva ‘na apartenensa che no se podea spiegar. Zera come recordar qualcosa che no se ga mai vissù, ma che, in qualche maniera, se riconosseva.

El tempo i fasea diventar qualcosa de novo. No i zera pì italiani — la léngua la scampava, le feste tradissionai se perdeva in meso ai calendari confusi dei coloni. E gnanca brasiliani i zera, almanco no par quei che zera nassesto là da generassión, che i ghe vardava storto, come intrusi che parlava strambo e che magnava polenta al posto del fasòi. I zera un’altra roba. ‘Na zente che se stea formando, ancora sensa nome, sensa ‘na stòria scrita, ma con ‘na identità che fasea le prime mosse. ‘Na generassion che no la perteneva a gnente, ma che, par ‘na ironia granda, la metea radise pì fonde de qualunque altra — radise piantà no su ‘na tradission o ‘na pàtria, ma su ‘na resistensa de ogni zorno.

E quele radise, invisìbili ai oci dei governanti e dei nùmari, le se piantava fonde ´nte la tera che prima zera solo bosco — ‘na tera che no zera stà dada, ma che i ga siapà con el badil, con el siénsio e con el tempo.

Ani dopo, quando Giuseppe rivava sora al monte ndove, piere su piere, lu aveva tirà sù con le so man la casa che teneva insieme la famèia, no vardava mia a la ricchessa. Con quei oci consumà dal sol e dal tempo, el vardava la restansa. No ghe zera mia lusso ne le serche che segnava el campo — solo legna grezza, scurìa da la piova e dal caldo. Ma ogni palo piantà ´ntel teren zera ‘n segno: no de proprietà, ma de resistensa. ‘Na prova muda che là, pròprio là, el a deciso de restar, anca quando tuto ghe disea de molar tuto e tornar indrio.

I solchi ´nte la tera, ndove el gran cresseva in filare che se muoveva con el vento, no i volea dir abondansa o bancheto. I volea dir tempo investì con speransa tegnù, come chi che prega sensa saver se el sarà sentì. A ogni stagion, sempre la stessa domanda: el sarà bon? Ma la tera, con el tempo, la gavea imparà a risponder con ‘na generosità cauta. E Giuseppe, anca se el savea che no saria mai diventà rico là, el capia qualcosa de pì fondo — che restar, da solo, iera za ‘na forma de vitòria.

Ogni sicatrisse su le so man — tàia fà dai badili sbusà, cali duri da la corda de la carossa — zera ‘na riga scrita su la stòria muda de quei che zera vegnesto par piantar el futuro là ndove prima ghe zera solo dùbio. No ghe zera libri che contava le so strade. Gnanca un giornal che contasse la fatica del colono piemontese tra i monti sofeganti del sud del Brasile. Ma lu el savea, come con el istinto, che el stéa lassando segni fondi tanto quanto quei del vasor ´nte la tera bagnà.

E la ze sta pròprio sta verità sconta che la ze vegnesta fora in quela lètara scrita in marzo del 1878. El folio, sporcà de suor e tera, el portava al fradèo lontan in Itàlia ‘na nova semplice, quasi seca: “Mi son vivo a Santa Maria Boca do Monte.” 
Nissun fronsolo. Nissun lamento. Nissuna epopea. Solo la verità nuda che lu, Giuseppe Miazani, contadin, pare, imigrante, el zera là — che respirava, che laorava, che spetava. Lu gavea patì la fame, sì. Lu gavea dormì con la paura, sì. Ma lu gavea tirà sù la so casa. Lu gavea seminà el so gran. El ciamava quel toco de tera no pàtria, ma soa.

E questo, par un che el zera partì con le man vode e l’ànima mesa spalancà, zera pì che bastansa.


Nota de l’Autor

I Zorni de Tera Rossa el ze nassesto da ‘na voia profonda de salvar e tegner vive le stòrie de chei che, con coraio e speransa, ga lassà la so tera natìa par costruì ‘na vita nova sora un solo scognossesto. Sto libro el ze ‘na reverensa silensiosa a le generassion de emigranti che, afrontando gran fatiche, i ga trasformà ‘el solo duro in campi fèrtili e ga piantà rade profunde in tere lontan.

Par tuto el camin de ste pàgine, mi go provà a entrarghe drento l’ànima de ‘sti òmeni e done comun, che la vita ghe la ze stà segnada da la fadiga, da la nostalgia che strenza el cuor, e da ‘na fede che no se spalma mai, gnanca con i zorni neri. No se trata mia sol de ‘na crónaca stòrica, ma de ‘na contassion che vol coglier el batito de l’esperiénsa umana – le so alegrie, i so afronti, le so picole-grandi vitòrie.

Speto che l’òpera I Zorni de Tera Rossa spinga chi la lese a tegner caro el ricordo e l’eredità de chi ga fato el presente che viven – un presente che tante volte el resta scondù soto la pòlvare de la stòria. Che sta stòria la possa èsser un invìto a pensar su el senso de pertenensa, de laor e de speransa – robe che serve par metar su ogni doman.

Dr. Luiz C. B. Piazzetta