Navio Niger
Lista de Imigrantes Italianos
Desembarque 11 julho 1887
Porto de Santos
Espaço destinado aos temas referentes principalmente ao Vêneto e a sua grande emigração. Iniciada no final do século XIX até a metade do século XX, este movimento durou quase cem anos e envolveu milhões de homens, mulheres e crianças que, naquele período difícil para toda a Itália, precisaram abandonar suas casas, seus familiares, seus amigos e a sua terra natal em busca de uma vida melhor em lugares desconhecidos do outro lado oceano. Contato com o autor luizcpiazzetta@gmail.com
A história da imigração italiana no Brasil revela um marco significativo que remonta ao desembarque, em 17 de fevereiro de 1874, do navio "La Sofia" no porto de Vitória. A bordo, 388 imigrantes italianos, recrutados pelo empresário italiano Pietro Tabacchi, desembarcaram para se integrar ao empreendimento da fazenda "Monte das Palmas", localizada em Santa Cruz. Parecia uma grande oportunidade para eles, que deixavam para trás um país recém unificado, repleto de problemas, onde o desemprego e até a fome rondava os lares nas zonas rurais. Contudo, as expectativas do grupo de uma vida melhor e prosperidade rapidamente desvaneceram, dando lugar a descontentamentos e insurgências. Diante disso, uma parte desses italianos optou por migrar para as colônias oficiais na Região Sul, enquanto outros acolheram a oferta do Governo do Espírito Santo para estabelecer-se na "Colônia Imperial de Santa Leopoldina", direcionados ao Núcleo de Timbuhy, hoje situado no município de Santa Teresa.
Nos registros do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo, encontra-se uma grande quantidade de documentos que atestam este notável evento histórico. Entre estes documentos, destaca-se um ofício datado de outubro de 1874, assinalando a presença de imigrantes na área. Neste contexto, emerge um apelo por indenização apresentado por Francesco Merlo, colono que, em 28 de outubro de 1874, dirigiu-se ao Presidente da Província reivindicando o reembolso das despesas incorridas durante a jornada da Itália à Colônia de Nova Trento, totalizando 122 Fiorins, montante não ressarcido pelo contratante. Este episódio catalisou a promulgação da Lei nº 13.617, oficializando Santa Teresa como o berço da imigração italiana no Brasil.
A primeira grande leva de italianos que desembarcou no Espírito Santo foi batizada em homenagem ao empresário responsável, Pietro Tabacchi. Ele já residia na província desde os albores da década de 1850, comerciante astuto soube do interesse do governo imperial em trazer mão de obra da Europa. Ele concebeu a oferta de terras aos imigrantes, em troca do direito de explorar 3,5 mil jacarandás para exportação.
Após intensas negociações, o Ministério da Agricultura consentiu ao contrato com Tabacchi, que então enviou emissários ao Trentino, então sob domínio do império austro hungaro, para angariar famílias dispostas a emigrarem. Assim, em 3 de janeiro, às 15 horas, o navio "La Sofia" zarpou do porto de Gênova. Em 1º de março, a embarcação atracou no porto de Santa Cruz, em direção à propriedade de Tabacchi. Esta expedição marcou o início da migração em massa de camponeses italianos para o Espírito Santo, uma jornada que, porém, revelou-se repleta de decepções, com terras inexistentes e condições de alojamento precárias.
A Expedição Tabacchi inaugurou um fluxo migratório que reverberou além-fronteiras. Agora, os olhares dos agentes migratórios se voltavam para a península itálica, especialmente suas regiões norte e nordeste, de onde multidões partiram rumo a diversos destinos globais, incluindo o Brasil em números consideráveis. A recém unificada Itália deparava-se com desafios monumentais, caracterizada por altas taxas de crescimento populacional, déficit na produção agrícola, criação de novos impostos o que causou perdas de empregos no campo e uma volumosa massa de desempregados. Neste cenário, muitos não tiveram outra escolha do que arranjar uma forma de sair da Itália, tomando rumo em direção aos novos e ricos países do outro lado do oceano carentes de mão de obra. A partir de 1875, as partidas dos transatlânticos de Gênova e de outros portos europeus tornaram-se uma rotina estabelecida e milhões de italianos de norte ao sul abandonavam suas vilas em busca do pão de cada dia que a Itália não conseguia fornecer. Estas ondas de emigrantes atingiram proporções nunca antes vistas, um verdadeiro êxodo, que Deliso Villa em seu livro Storia Dimenticata, compara com a grande fuga dos judeus do Egito relatadas na bíblia.
Lista Incompleta de Imigrantes Italianos
Embarque Porto de Gênova
Desembarque Porto de Santos
Navio Lavarelo
Navio EUROPA
Porto do Rio de Janeiro em 22 de junho de 1887
Lista incompleta de passageiros italianos
Quando cheguei, ao entardecer, o embarque dos emigrantes já havia começado há uma hora, e o Galileo, ligado ao cais por uma pequena ponte móvel, continuava a receber miséria: uma procissão interminável de pessoas que saíam em grupos do prédio em frente, onde um delegado da polícia examinava os passaportes. A maioria, tendo passado uma ou duas noites ao ar livre, encolhida como cães pelas ruas de Gênova, estava cansada e sonolenta. Operários, camponeses, mulheres com bebês no colo, garotos com a placa de leite do jardim de infância ainda presa ao peito, passavam, carregando quase todos uma cadeira dobrável debaixo do braço, sacos e bolsas de todas as formas nas mãos ou na cabeça, carregados de colchões e cobertores, e o bilhete com o número do beliche apertado entre os lábios.
As pobres mulheres que tinham uma criança em cada mão seguravam seus volumosos fardos com os dentes; as velhas camponesas de tamancos, levantando as saias para não tropeçar nos trilhos da ponte, mostravam as pernas nuas e magras; muitos estavam descalços, e carregavam os sapatos pendurados no pescoço. De vez em quando, passavam entre essa miséria senhores vestidos com elegantes sobretudos, padres, senhoras com grandes chapéus emplumados, segurando na mão um cachorrinho, um porta-chapéus ou um feixe de romances franceses ilustrados, da antiga edição Lévy. Em seguida, subitamente, a procissão humana era interrompida, e avançava sob uma tempestade de golpes e palavrões um bando de bois e carneiros, que, ao chegarem a bordo, desviavam para cá e para lá, assustando-se, misturando os mugidos e balidos com os relinchos dos cavalos na proa, com os gritos dos marinheiros e estivadores, com o estrondo ensurdecedor da grua a vapor, que levantava no ar pilhas de malas e caixas. Depois disso, a procissão dos emigrantes recomeçava: rostos e roupas de todas as partes da Itália, trabalhadores robustos com olhos tristes, velhos desgastados e sujos, mulheres grávidas, moças alegres, jovens brilhantes, camponeses de mangas arregaçadas, e rapazes atrás de rapazes, que, mal pisavam no convés, no meio daquela confusão de passageiros, garçons, oficiais, funcionários da Companhia e guardas alfandegários, ficavam atônitos ou se moviam como em uma praça lotada. Duas horas depois de começar o embarque, o grande navio a vapor, sempre imóvel como um enorme cetáceo mordendo a costa, sugava ainda mais sangue italiano.
À medida que subiam, os emigrantes passavam por uma mesa onde estava sentado o oficial Comissário; ele os agrupava em conjuntos de meia dúzia, chamados "ranci", registrando os nomes em uma folha impressa, que entregava ao passageiro mais velho para que fosse com ele buscar a comida na cozinha, na hora das refeições. As famílias com menos de seis pessoas se inscreviam com um conhecido ou com o primeiro que aparecesse; e durante esse trabalho de inscrição, um forte medo de serem enganados na contagem das cotas e dos beliches para os rapazes e crianças, uma desconfiança invencível que qualquer homem com uma caneta na mão e um registro à sua frente inspira ao camponês, transparecia em todos. Surgiam disputas, ouviam-se lamentos e protestos. Depois, as famílias se separavam: os homens de um lado, as mulheres e crianças do outro, eram conduzidos aos seus dormitórios. E era piedoso ver aquelas mulheres descerem penosamente as escadas íngremes e avançarem tateando para esses dormitórios amplos e baixos, entre as inúmeras camas dispostas em andares como os camarotes de um teatro.
Continua