terça-feira, 25 de agosto de 2020

As Últimas Grandes Invasões da Europa



Entre os séculos IX e X, novos povos invadiram a Europa, perturbando o seu equilíbrio e pondo fim ao renascimento carolíngio: são os Vikings, os Húngaros e os Árabes.


Os Vikings

Os vikings, também chamados de normandos, homens do norte, daneses ou ainda de Variaghi, eram navegadores habilidosos que  deixaram suas terras geladas, localizadas no norte da Europa, para atacar e saquear aldeias, cidades, igrejas e mosteiros. 
Eles não formavam um único povo e sim um grupo de comunidades, que habitavam territórios diferentes, separados umas das outras, na atual Escandinávia: Dinamarca, Noruega e Suécia. 
Eles não chamavam a si próprios de  vikings. Nas populações da costa do norte da França e da Holanda, a palavra Viking significava "saquear", entretanto, a etimologia do nome ainda é incerta e existem muitas outras interpretações para o termo. 
Os vikings dominaram o Mar do Norte, o Báltico, o Mar da Noruega e todo o Atlântico Norte.


Navio viking atacado por um enorme monstro marinho, em miniatura do século XII

Várias foram as causas de sua expansão desse povo: o aumento da população, o progresso ocorrido na construção de embarcações,  cada vez mais resistentes, mas, principalmente o fato do apogeu do reino dos Francos, no governo de Carlos Magno, ter mostrado à todos como eram ricas as terras localizadas ao sul deles. 
Se considera que as primeiras incursões dos homens do norte deixaram a Dinamarca, rumo às costas da Holanda, e tenha acontecido por volta do ano de 810 d.C. 
Essas invasões cessaram por um período de aproximadamente 25 anos, para recomeçarem à partir do ano de 834, quando dinamarqueses e noruegueses atacaram o continente e as Ilhas Britânicas. 
Alguns anos mais tarde  essas incursões de saqueio se tornaram ainda mais perigosas, não se limitando a pilhagens das terras do litoral, mas agora avançavam pelo interior, subindo através dos grandes rios: Reno, Sena e Loire. 
Em 845, eles chegaram até a cidade de Paris que foi cercada e parcialmente destruída. Nesta ocasião o rei franco Carlos, o Careca, sabendo que os seus exércitos não poderiam conte-los, resolveu firmar um acordo com os invasores, oferecendo como resgate uma grande quantidade de prata, com a condição que partissem e não mais voltassem.
A mesma estratégia de pagar um resgate também foi adotada quando os Vikings retornaram e o rei Lothair, irmão de Carlos, faz um novo acordo, concedendo terras aos invasores vikings, uma  parte  de um feudo formado  por territórios nas costas da Holanda, com a intenção que ao se estabelecerem nesse local, pudessem afastar outros grupos de saqueadores que porventura chegassem. 


Barco Viking


Em 865, as invasões dos vikings começaram no território da atual Inglaterra, sendo que após dez anos já tinham conquistaram toda a sua metade oriental. As tentativas de conquistado a parte sul da ilha, no entanto, falharam devido à tenaz resistência do rei Alfredo de Wessex, cidade estado localizada precisamente ao sul da atual Inglaterra.
No início do século IX, a Irlanda também foi atacada por esses homens do norte, especialmente pelos noruegueses, que usaram a ilha para também estabelecer centros de comércio, chegando mesmo a conquistar a capital Dublin. A presença dos Vikings na Irlanda durou até 1014, quando então foram finalmente derrotados por reis irlandeses.
As fontes da época descrevem os vikings como guerreiros particularmente ferozes e sedentos de sangue. Certamente que suas ações predatórias não foram nada pacíficas, mas talvez possa existir um pouco de exagero nessa descrição. 
Na verdade, naquela época, despertou muita atenção e medo o fato dos vikings terem atacado algumas  propriedades da Igreja, em particular mosteiros franco britânicos, que até então nunca tinham sido submetidos a  tal violência. Também o fato dos escandinavos serem pagãos, não tinham obviamente escrúpulos religiosos em relação aos padres e monges que foram massacrados.


Uma pedra gravada, proveniente de Gotland, datada do ano 1000, com uma representação do deus Odin recebendo os guerreiros vikings no Walhalla (Estocolmo, Historiska Museet)

Os Vikings não eram somente piratas, mas, também bons comerciantes, fazendo o comércio no Mediterrâneo e o Mar Negro,  ao longo dos grandes rios russos. 
Se estabeleceram na parte noroeste da França, a qual recebeu então a denominação de Normandia e em áreas ainda despovoados, como a Islândia e a Groenlândia, este nome dado  por eles e que significava "terra verde" na sua língua. 
A arqueologia revelou que na época dessas invasões o clima dessas duas ilhas era realmente bem mais ameno do que hoje e que grandes florestas podiam realmente ter crescido ao longo da costa.
Os Vikings fundaram ou conquistaram reinos na Inglaterra, na atual Rússia e também no sul da Itália. 
Segundo novas descobertas eles também chegaram à América, principalmente na Ilha de Baffin e no Labrador, atual Canadá. Também  navegaram mais ao sul da América do Norte, tendo sido encontrados restos dos seus assentamentos em escavações mais recente. Esses locais só foram se tornariam conhecidos pelos europeus muitos anos mais tarde, com  as viagens de Cristóvão Colombo. 


Um navio viking do século IX no Museu do Navio Viking em Oslo, Noruega



Os Húngaros


No século IX, os húngaros, também denominados de magiares, era um povo nômade e semi nômade, de hábeis cavaleiros, que viviam mais à leste, nas fronteiras da Europa com a Ásia, e se deslocaram chegando às planícies banhadas pelo rio Danúbio. Devido a sua presença essa terra, no ano de 896, passou a ser conhecida como Hungria. 
De lá, eles logo começaram a se expandir pela Europa, invadindo vilas e cidades, saqueando ouro, prata e tesouros das ricas abadias e igrejas que encontravam pelo caminho. Entre tantas outras, saquearam cidades e regiões da atual Itália como Vercelli, Reggio Emilia e Modena, mas apesar de várias tentativas não tiveram êxito de invadir e destruir Veneza.


Arqueiro húngaro à cavalo, com armadura em estilo asiático usada no kaftan (ele usa mangas grandes) e capacete de rabo de cavalo

No ano de 955, Corrado, o Vermelho, de Lorena, cunhado do imperador Otto I, pagou para os húngaros se aliarem com ele e outros príncipes alemães, contra o Imperador, mas este derrotou a todos eles. Os húngaros, derrotados militarmente e humilhados no seu orgulho guerreiro, não mais ousavam se aventurar em novas invasões. Eles agora decidiram escolher o caminho da aliança e amizade no confronto com os poderes da Europa Ocidental, e assim foram convertidos ao cristianismo. 
Quando Géza, chefe dos magiares de 970 a 997 e o seu filho Estêvão I, o Santo, foram coroados reis da Hungria, no ano 1000, esta se tornou um país cristão.
A memória dos ataques húngaros ficaram marcados na memória coletiva dos italianos e continuam ainda a existir na toponímia de muitas regiões italianas, onde ainda podemos ler "Via Ungaresca", "Via Ongarine", "estrada húngara" e outras similares.



Miniatura do século XIV, representando Estêvão I da Hungria entronizado



Os Árabes

Provenientes do norte da África e de alguns assentamentos na Europa, os árabes chegaram às costas do Mediterrâneo e passaram também a invadir terras localizadas no interior do continente: ocuparam Creta em 827, a Sicília entre os anos 827 e 902 e várias outras cidades ao longo da costa da península italiana, como Bari, na atual região da Puglia.
Os sarracenos, como então eram chamados, mas também conhecidos por outras denominações como Mouros e  Berberi, atacaram repetidamente as costas italianas, especialmente da região da Campania, com a intenção de saquear e fazer prisioneiros que após seriam vendidos como escravos. 
Em diversas ocasiões, atuaram como mercenários contratados e participaram, decisivamente, em batalhas travadas entre senhores feudais locais.