Entre os meses de agosto e setembro de 1893, quase seis mil imigrantes italianos tiveram os seus destinos alterados. Nesse ano, ao se aproximarem do Porto do Rio de Janeiro, quatro vapores italianos com cerca de 1500 imigrantes cada um, após um mês de viagem, tiveram que retornar para seus portos de embarque na Itália, abortando assim o sonho de indivíduos e famílias que deixavam sua pátria em busca de uma vida melhor deste outro lado do oceano. Atravessar o grande mar para “fazer a América” como então os imigrantes diziam, necessitava de muita preparação, planejamento, algum dinheiro, passagens, coragem, saúde e documentos, uma quantidade enorme de papéis que crescia a cada dia: passaporte, visto de entrada e saída dos portos de escala, certificado de vacinação, certificado de inspeção médica, certificado de antecedentes penais, etc.
A partir do mês de abril de 1893, começam a chegar os relatos preocupantes enviados pelas representações diplomáticas brasileiras no exterior, informando sobre as condições sanitárias nos diversos portos europeus atingidos por epidemia de cólera. As embarcações procedentes desses locais, ou que tivessem apresentado algum caso a bordo, passaram então a ser recebidas nos portos brasileiros somente após passarem por tratamento sanitário, como desinfecção da embarcação, das bagagens, das roupas e objetos pessoais dos passageiros, no Lazareto da Ilha Grande, para onde deveriam se dirigir antes de pisarem em terra firme.
O governo brasileiro, ainda como medida preventiva, suspendeu temporariamente a corrente imigratória, recusando os imigrantes transportados em vapores saídos da Itália e da Espanha depois de 16 de agosto de 1893. Também todos os portos franceses e africanos do Mediterrâneo foram declarados infectados.
Foi imposta a quarentena para navios com passageiros infectados ou suspeitos de cólera e só no começo do ano de 1894 a situação se normalizou, sendo liberada a corrente imigratória de locais livres da epidemia. Dentre as medidas profiláticas, o “torna-viagem”, retorno ao porto de embarque, era utilizado em casos extremos, quando havia uma grande quantidade de doentes e mortos a bordo. Infelizmente, esse foi o caso dos quatro vapores que adentraram o porto do Rio de Janeiro entre os meses de agosto e setembro de 1893.
O paquete Remo, que havia saído de Gênova no dia 15 de agosto, foi declarado como “infectado” no dia 16, tocando o porto de Nápoles dia 17. Suas condições sanitárias eram muito ruins e estava com excesso de passageiros, eram 1494 pessoas aglomeradas. Três passageiros já haviam morrido e, ao chegar no ancoradouro do Lazareto da Ilha Grande, outros três se encontravam acometidos da doença. O Remo não foi admitido “à livre prática nos portos do Brasil”, ou seja, foi proibido de entrar no Brasil e teve que voltar para o seu porto de partida, depois de receber os “socorros necessários”. No seu retorno, mais de 60 pessoas foram atacadas pelo flagelo. Conforme informações do consulado brasileiro em Barcelona, acreditava-se que o cólera havia chegado à Espanha junto com o navio italiano quando este voltava do Brasil, pois a epidemia começara a grassar em Tenerife depois de sua passagem pelo porto local.
O vapor Andréa Doria chegou à Ilha Grande em 12 de setembro e havia zarpado de Nápoles na data do aviso proibitivo da entrada de imigrantes no Brasil – 16 de agosto. Os passageiros se encontravam amontoados e em péssimas condições de higiene e asseio, tendo ocorrido durante a viagem 91 casos fatais de cólera. Como existiam ainda muitos outros doentes à sua chegada, foi ordenado que voltasse ao porto de origem.
O vapor Vincenzo Florio chegou à Ilha Grande no dia 16 de setembro, em condições idênticas às do vapor Remo. Mesmo após a sua chegada, pessoas continuaram a adoecer, tendo também que fazer a viagem de volta ao porto de origem, sem que os passageiros pudessem desembarcar.
O vapor Carlo R. partiu de Gênova em 27 de julho. Em Nápoles recebeu 1.300 emigrantes, saindo deste porto no dia 29 em direção ao Rio de Janeiro. O primeiro óbito a bordo se deu no dia 31. O comandante, ao invés de retroceder a viagem para o lazareto de Nápoles, onde os doentes poderiam ter recebido tratamento adequado, continuou a viagem, informando às autoridades brasileiras que os casos não eram de cólera mas de um tipo de gastroenterite. Por mais de vinte dias de viagem, pessoas continuaram morrendo, atacadas pelo cólera. Como o vapor era pequeno, não havia local para isolar os doentes. Ao chegar no Lazareto da Ilha Grande, dia 24 de agosto, havia mais de 100 mortos a bordo e era possível que tivesse ainda um número considerável de doentes, todos em péssimas condições de asseio, pois “exalava um cheiro fétido”. Nos relatórios ministeriais e documentos oficiais, o que ocorreu aos quatro navios é relatado de forma bem sucinta. No entanto, nem mesmo a frieza dos relatórios conseguiu anular completamente a dimensão da tragédia que se deu a bordo do Carlo R. Quem os escreveu deixou escapar certo incômodo com a situação, incômodo esse que abateu não só autoridades mas toda a sociedade carioca, durante os fatídicos dias em que o vapor permaneceu nas águas da capital da República.
O Carlo R. foi mais um dos navios que foram impedidos de entrar em águas brasileiras, durante este período, por causa do cólera. No entanto, a quantidade de pessoas, doentes e mortos a bordo; a incapacidade das autoridades brasileiras em resolver a questão; a falta de infraestrutura das instituições sanitárias; os problemas diplomáticos gerados e a própria tragicidade do episódio provocaram mais celeuma do que de costume. O caso foi bastante noticiado pela imprensa carioca, e diariamente o drama daqueles pobres imigrantes italianos foi acompanhado pelos principais jornais cariocas, desde sua chegada ao porto até o triste desfecho. É através das notícia vinculadas na imprensa que podemos compreender a dimensão deste episódio para todos os envolvidos, imigrantes, autoridades, comunidade médica e população.
Dentre os quatro navios que chegaram no mesmo período, o caso do vapor italiano Carlo R. foi sem dúvida o mais dramático, o que gerou mais discussões entre autoridades de saúde pública e o que chamou mais a atenção da imprensa. No dia 29 de agosto de 1893, o Jornal do Commercio publicou a nota a seguir:
Ontem à noite recebemos a seguinte carta: o rebocador Victoria, conduzindo carvão de pedra, víveres, medicamentos e mais socorros ao vapor italiano Carlo R., só partiu ontem desta capital, às 2h e 20 min. da tarde, com destino à Ilha Grande. Naturalmente o rebocador só chegará à noite e poderá ele suprir de tudo aquele vapor, que se acha na enseada das Palmas desde a noite do dia 24 (...) que tem mortos alguns dos coléricos, sendo os seus cadáveres atirados ao mar. Ora, vamos ver qual será o resultado de ter havido tanta demora da permanência do referido vapor naquela enseada. Oxalá que os cadáveres dos coléricos não dêem à costa.
Era unanimidade entre a população, autoridades e imprensa que o vapor deveria deixar águas brasileiras o mais rápido possível, permanecendo incomunicável, ou seja, ninguém poderia embarcar ou desembarcar, mesmo não sendo esta medida nada humanitária. O terror que a moléstia causava era imenso, conhecia-se o seu poder letal e de contágio, pois em menos de um ano ela assolara portos europeus, asiáticos e africanos.
Quando o Carlo R. saiu de Nápoles, no dia 29 de julho, este porto ainda não era considerado foco de uma epidemia. O aviso que proibia a entrada de navios de portos infectados ou suspeitos de cólera no Brasil datava de 16 de agosto. Sendo assim, quando este aviso foi publicado, o vapor ainda se encontrava em alto-mar. Autoridades consulares brasileiras remetiam continuamente por telégrafo notícias sobre a situação sanitária de portos e cidades no exterior. Além disso, era obrigatório ao comandante, de acordo com as regulamentações portuárias internacionais da época, enviar informações de bordo aos portos de escala e de destino. Assim, logo se soube oficialmente da chegada de quatro navios, vindos de portos europeus infeccionados e com doentes a bordo.
O comandante do Carlo R. seguiu todas prescrições, enviou informação sobre a existência de uma moléstia a bordo, fez a notificação, mas o tempo todo afirmava que os casos eram de diarréia normal, gastroenterite, e não de cólera. Essa omissão, mentira, descaso ou engano custou centenas de vidas.
Como o vapor chegou de porto infectado e com doentes a bordo, de acordo com a regulamentação portuária nacional, foi proibido de atracar no Porto do Rio de Janeiro, sendo direcionado para o Lazareto da Ilha Grande, na enseada do Abraão. No lazareto, o vapor seria desinfectado, os passageiros saudáveis ficariam em quarentena e os doentes seriam recolhidos para o hospital de isolamento ou ficariam para tratamento no próprio lazareto.
No entanto, o Carlo R. trazia mais de 1400 imigrantes, tendo falecido 109 deles durante a viagem. Ainda existiam doentes a bordo e “eram esperados mais 3 ou 4 vapores com imigrantes da Itália” talvez na mesma situação. Para agravar a situação, o Lazareto da Ilha Grande não estava preparado para receber tal quantidade de doentes e pessoas para quarentena. Por isso, logo que o navio chegou à enseada do Abraão e soube-se que havia cólera a bordo, foi dada ordem para que ele fosse fundeado à distância de “três milhas”, cerca de cinco quilômetros da costa, onde ficou ancorado e impedido de se comunicar com terra. A questão ficou tão grave, que de acordo com um aviso publicado na imprensa, o próprio vice-presidente da República, Floriano Peixoto, em plena Revolta da Armada, enviou telegramas à Ilha Grande, ordenando que o vapor fosse intimado a sair de águas nacionais e que não fosse permitido que navios, procedentes da Itália e trazendo imigrantes, atracassem e se comunicassem com terra. O mesmo aviso foi encaminhado também a autoridades nos estados. Um cruzador, o República, e um rebocador, o Lamego, pertencentes à Marinha brasileira, tiveram que ser deslocados para comboiar o Carlo R. até a Ilha Grande, a poucos dias da explosão da Segunda Revolta da Armada, em 6 de setembro de 1893, nas águas da Guanabara. Isto demonstra a particularidade do caso e o terror que a presença do navio com surto de cólera causou à população e às autoridades, enquanto esteve ancorado próximo ao porto do Rio.
Ao chegar à Ilha Grande, o diretor do lazareto - como era de rotina - quando o vapor adentrou o ancoradouro, foi imediatamente interrogar o comandante. Mesmo à grande distância, ficou “desagradavelmente impressionado com o cheiro nauseabundo que partia do ponto em que se achava o vapor”. Desconfiado não só pela constatação deste fato, mas também por causa do aspecto doentio dos passageiros e tripulação, perguntou ao comandante se havia cólera a bordo. Foi-lhe respondido que apenas havia casos de “colerina grave”, mas que tinham morrido mais de 100 passageiros. O diretor então deu ordem para que o navio seguisse em direção à enseada de Palmas, longe do lazareto, onde ficaria inteiramente isolado e vigiado pelo cruzador República, que levava a bordo um médico ajudante do lazareto.
O diretor do lazareto ficou à espera da chegada do Ministro do Interior, Fernando Lobo, e do Inspetor Geral de Saúde dos Portos, José da Silveira, que haviam enviado um aviso, informando que estavam a caminho. Mas um temporal atrasou a chegada, de forma que só conseguiram adentrar a ilha no dia seguinte. Quando as autoridades chegaram, dia 25 de agosto, foi resolvido que o navio não seria recebido, “ministrando-se tudo aquilo de que tivesse necessidade a bordo”. A pedido do comandante foram enviadas 100 toneladas de carvão, 15 bois vivos, farinha de trigo, legumes, frutas, grande quantidade de desinfetante, medicamentos e principalmente “láudano, um preparado de ópio com efeito sedativo”. O material foi enviado no dia 28, em um grande saveiro rebocado pelo Victória. O rebocador acompanhou depois o saveiro até o lazareto para este ser entregue ao diretor do estabelecimento. Do lazareto, o saveiro foi levado para a enseada de Palmas, onde permaneceu, para que a tripulação do Carlo R. pudesse buscar os mantimentos sem possibilidade de contágio. Depois de feita a descarga, o saveiro foi incinerado, nota do jornal Gazeta de Notícias.
Quando chegou ao lazareto, havia três cadáveres no navio, os outros cem foram lançados ao mar, provavelmente durante o trajeto do porto do Rio de Janeiro à Ilha Grande. Dezesseis passageiros se encontravam doentes e seis já haviam falecido. O diretor do lazareto informou à imprensa que, quando o Carlo R. chegou à enseada do Abraão, foi a alto-mar lançar três cadáveres. Depois regressou à enseada na parte da tarde, para ancorar em Palmas a três milhas de terra firme, onde permaneceu vigiado pelo cruzador República. No dia 30, seis dias após chegar em águas brasileiras, o vapor começou a retornar viagem em direção à Itália, comboiado pelo mesmo navio da marinha. No entanto, os problemas gerados na cidade pela chegada do Carlo R. não pararam por aí e nem o pavor da população carioca cessou.
Dia 31, um delegado de polícia foi chamado às pressas para verificar o aparecimento de um cadáver, “cuja presença estava causando terror aos habitantes e pescadores de Copacabana, que suspeitavam ser um dos mortos lançados ao mar de bordo do Carlo R”. O chefe de polícia imediatamente informou sobre o ocorrido à Diretoria de Higiene Municipal, informando a agitação que estava causando na população a presença do corpo e pediu que se procedesse logo a sua remoção, com as necessárias cautelas antissépticas. Porém, às cinco horas da tarde jazia ainda o cadáver insepulto na praia de Copacabana, sem que houvesse ainda sido tomada qualquer providência. A esta hora, o chefe de polícia participou diretamente ao Dr. Souza Lima, Diretor de Higiene Municipal, por ofício, o que se estava passando e mandou remover o cadáver suspeito para o cemitério. “O corpo foi encontrado despido, o rosto e abdômen carcomidos. Era impossível o reconhecimento” As notícias eram as piores possíveis, espalhava-se um boato de que o Carlo R. não havia saído da enseada de Palmas, na Ilha Grande. O Ministro do Interior requisitou então de seu colega da Marinha novas ordens, para que o cruzador República fizesse o paquete sair o quanto antes do Brasil.
Souza Lima pediu ao chefe de polícia que, caso aparecesse outro cadáver no litoral, isto fosse comunicado imediatamente à Diretoria de Higiene Municipal, por acreditar ser “possível, embora não provável", que se tratasse de alguma vítima da cólera, atirada ao mar do vapor Carlo R., que infelizmente, como havia sido noticiado por engano, até aquela data ainda não havia saído de nossas águas. "Infelizmente e com surpresa, ele ali está ainda, não sei porque, como uma ameaça tremenda à nossa capital, arriscando a pagar com uma hecatombe medonha a nossa generosidade, condescendência, fraqueza, ou que melhor nome tenha, nota do jornal Gazeta de Notícias de 1o de setembro de 1893".
No dia seguinte, os cariocas respiraram aliviados com a notícia de que o vapor havia, enfim, deixado a enseada de Palmas. Porém, foi a vez de moradores de outra redondeza entrarem em pânico. Pela madrugada, apareceu boiando junto à praia de Itaipu, no município de Niterói, um cadáver “em adiantado estado de putrefação”. Obviamente, o caso alarmou os habitantes locais, que supuseram logo ser mais um dos cadáveres das vítimas de bordo do vapor italiano. "O chefe de polícia comunicou o caso ao diretor da Assistência Pública que mandou retirar o cadáver com as devidas precauções, nota do jornal Gazeta de Notícias de 2 de setembro de 1893".
Até aqui, tivemos uma idéia do que era para a população e autoridades o medo da chegada de uma pandemia, o terror que isso causava. E para os passageiros? Para estes imigrantes que permaneceram durante quase dez dias dentro de um navio com surto de cólera, vendo as pessoas morrerem, acometidas por uma doença que, segundo a antropóloga Jane Beltrão, extingue a humanidade e animaliza suas vítimas Para o historiador Asa Briggs, o cólera era sim uma doença dos pobres, mas não de todos os pobres, pois muitos locais sem higiene escapavam. Em outros locais, os ricos, por causa da escassez de água potável naquela época, não ficavam imunes. No caso dos navios de emigrantes, juntavam-se às péssimas acomodações dos vapores, a falta de higiene, a aglomeração de pessoas, os alimentos mal conservados e o total descaso das companhias de navegação com este tipo de passageiro. Os imigrantes viajavam na 3ª classe, muitos deles subsidiados por governos sul-americanos, a maior parte deles era formada por pequenos agricultores e suas famílias, que vinham em busca de trabalho e de uma vida melhor.
Para Rosenberg, epidemias, em especial a de cólera, possuía o poder de gerar demasiado horror, principalmente por causa dos seus efeitos e sintomas assustadores, o que evocou respostas de vários aspectos em muitos setores da sociedade. Um estudo destas respostas gera material para a construção de valores culturais e práticas numa determinada época. Valores e atitudes principalmente relacionados à ciência, religião, ao tradicionalismo e às inovações. Mas o comportamento social, durante uma epidemia, gera um contexto orgânico no qual se configuram fatores institucionais que podem ser discernidos.
Os sintomas da cólera: diarréia volumosa, que logo se torna aquosa, denominada popularmente como ‘água de arroz’, vômitos, cólicas abdominais e espasmos musculares violentos , causam verdadeiro pânico. O rosto do paciente fica azulado, a pele murcha, mãos e pés ficam gelados, escurecidos, contraídos e enrugados. Em um dia, perde-se cerca de vinte litros d’água, o que gera desidratação e queda de pressão. A morte se dá em um curto espaço de tempo, às vezes em poucas horas após o aparecimento dos sintomas Nos navios, a situação poderia se tornar mais degradante e dolorosa para todos, mas principalmente para familiares, pois obrigatoriamente era necessário jogar o corpo ao mar para impedir o contágio, o que subtraía dessas famílias a passagem por todo o ritual habitual e necessário da morte, como velar o corpo e enterrá-lo de acordo com suas crenças e rituais.
Muitos desses imigrantes, principalmente das aldeias e vilarejos italianos, eram camponeses imersos em suas tradições. Quando chegavam ao Novo Mundo, esses homens da vida rural deparavam-se com algo totalmente diferente, principalmente na seleção de imigrantes como no modelo norte-americano: inspeção médica, testes psicológicos, testes de QI, uma outra lógica de se viver e pensar.
A maior parte das pessoas que imigrava para o Brasil vinha acompanhada de toda a família, pois essa era prerrogativa do sistema de subvenção do governo brasileiro a imigração familiar para colônia ou fazenda. Quando ocorriam fatos como o do Carlo R., toda a família poderia sucumbir à doença, ou chegar desfalcada ao seu local de destino. Sendo a emigração um plano familiar em busca de uma vida melhor, a doença surge como o fim de um sonho, o que tornava os fatos muito mais trágicos para todos, tanto para quem passava pela situação, quanto para quem a assistia de forma impotente dentro do navio.
Segundo Richard Evans, o cólera chocou profundamente a sociedade européia, acostumada a esconder as funções corpóreas da visão pública. Poucas coisas poderiam afrontar mais a moralidade vitoriana do que os sintomas desta doença. A cólera maculou a sensibilidade do século XIX, pois era vista pela perspectiva da desumanização, por causa dos seus sintomas degradantes e morte rápida. “A iminência do falecimento impedia o colérico de se preparar para a fatalidade. Assim, a morte por cólera era revestida por um manto de horror".
Resumo
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS