quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Brasil a Terra da Cucagna




Há 145 anos atrás os primeiros emigrantes italianos deixavam a Itália em direção ao Brasil. Naquela época era um dos mais ambicionados destinos daqueles humildes agricultores e artesãos de origem veneta, lombar e trentinos. Os recrutadores contratados pela companhias de emigração e pelas empresas de navegação,  circulavam pelos pequenas vilas da Itália, pintando o Brasil como um lugar de fartura, o verdadeiro novo El Dorado, onde em pouco tempo podiam ficar ricos, pois, as montanhas eram de ouro e das árvores podia-se colher queijo e salame. No imaginário coletivo daquela gente era a sonhada terra da cucagna.


Entretanto, poucos deles se davam conta da longa e interminável viagem de navio que os aguardava, repleta de perigos e obstáculos desconhecidos que deviam vencer, mas, a enorme esperança de alcançar uma vida melhor se sobrepunha a todo pensamento lógico. Quando já se encontravam a bordo, durante a travessia do grande oceano que podia durar até 40 dias, precariamente instalados em grandes salões precariamente adaptados como quartos coletivos, amontoados com outras centenas de emigrantes,  nos quentes e fétidos porões da terceira classe, começavam a se dar conta das dificuldades que os aguardava. Em cada viagem, essa massa de desprotegidos, compunham um triste quadro da pobreza absoluta, com muitas pessoas amontoadas e pouca comida. Somente o sentimento de esperança, de uma vida melhor na nova pátria, os confortava e ajudava a enfrentar a viagem e as epidemias que frequentemente surgiam a bordo. Apesar de tudo, muitos desses emigrantes mantinham o bom humor, chegando mesmo  a cantar e dançar. 




Entre os anos de 1875 e até pouco antes do início da primeira guerra mundial quase um quarto dos emigrantes italianos se dirigiam para a América do Sul. Não tinham conhecimento para que parte do país seriam levados, só no desembarque descobriam qual seria o destino de cada família. Os navios com emigrantes atracavam nos portos do Rio de Janeiro ou de Santos. Aqueles que estavam destinados para o Rio Grande do Sul, depois de um breve período de quarentena na Ilha das Flores, Rio de Janeiro, embarcavam em navios menores com destino a Porto Alegre onde ao desembarcarem eram instalados provisoriamente, nos chamados barracões, construídos para esse fim. Nesses locais não tinham muita privacidade, com as famílias amontoadas em pequeno espaço e a comida fornecida era desconhecida para eles,   assim as recordações existentes dessa passagem não eram muito boas. Depois de aguardarem alguns dias pela demarcação das terras nas colônias chegava a ordem de partirem. Em vapores menores subiam lentamente pelo rio Caí. Os que ficariam no atual município de Bento Gonçalves desembarcavam em Montenegro e os que seguiriam para Caxias do Sul viajavam até a ultima parada que era em São Sebastião do Caí. Esta pequena povoação foi rapidamente promovida  à município, mais em função do projeto de colonização. Na verdade era o ponto mais distante que se podia alcançar por barco vindo de Porto Alegre. Deste local em diante os imigrantes deviam percorrer a pé, alguns em carroças de bois ou mulas, abrindo o caminho com ajuda de facões, dando início ao trecho mais difícil do trajeto, que era a subida da Serra. 



Os primeiros imigrantes italianos, três famílias, que chegaram ao Rio Grande do Sul foram instalados no distrito de Nova Milano, Farroupilha. Os lotes de terra naquela época eram ainda distribuídos pelo governo imperial brasileiro. 

As dificuldades que tiveram que enfrentar na nova pátria foram enormes, mas, o sentimento de felicidade pelo sonho da propriedade ter sido realizado era externado, como podemos constatar já nos primeiros anos, nas cartas e cartões que esses imigrantes enviavam para os parentes e amigos que tinham ficado na Itália. 




Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS