segunda-feira, 30 de abril de 2018

A Mulher e a Partilha da Terra na Zona de Colonização Italiana no Rio Grande do Sul

 


A mulher imigrante italiana, com o seu trabalho árduo, participava em pé de igualdade com o homem, na manutenção da propriedade e na educação dos numerosos filhos. 
Ela foi a responsável direta pelo sucesso da imigração italiana em terras gaúchas e pela conservação da cultura originária, que ao passar para os filhos, pôde se conservar até os nossos dias.
Apesar de toda essa importância a ela quase nunca vinha reconhecido o direito à terra, ou quando isso acontecia, o seu quinhão na partilha era quase sempre proporcionalmente menor do que a do homem. 
A terra normalmente não fazia parte da herança da mulher imigrante na zona colonial italiana do Rio Grande do Sul. Se tivesse irmãos, por herança ela nunca se tornaria proprietária de um pedaço de terra, o que podia acontecer somente quando ficava viúva ou, se solteira e com a morte dos pais, fosse filha única ou não tivesse irmãos.
Quando acontecia o falecimento de um dos pais, a propriedade rural, deixada como única herança, era dividida somente entre os filhos homens. Como essa partilha geralmente deixava pouca terra para cada um, era muito comum acertos entre eles, nem sempre amistosos, onde compravam a parte do outro. 
Para evitar essas possíveis desavenças futuras, e quando a família tinha os recursos financeiros necessários, os pais procuravam, quando ainda em vida, comprar terras para os seus filhos homens, na medida em que iam casando e constituindo as suas próprias famílias. 
Para as moças quando se casavam ganhavam o enxoval, as vezes até uma máquina de costura e quase sempre uma vaca de leite. Algumas famílias mais abastadas já procuravam terras para os filhos ainda muito jovens, anos antes deles pensarem em casamento. Eles às vezes também ganhavam uma junta de bois ainda novos, às vezes bezerros, que iam aos poucos sendo treinados pelo jovem para serem usados no futuro quando constituísse família.
A partilha dos bens deixados como herança também obedecia a uma divisão desigual que quase nunca favorecia a mulher. Quando um filho casava recebia um pedaço de terra, quase sempre uma colônia, para trabalhar e construir a sua casa. A filha, quando muito, recebia alguma coisa para o enxoval, como roupas de cama, mesa e banho, utensílios domésticos, esporadicamente uma máquina de costura e uma vaca leiteira. O interessante é que parte deste enxoval tinha sido confeccionado por elas mesmas, durante anos de trabalho realizados à noite, no tempo livre e pagos por elas na sua maior parte desde novas, com pequenos trabalhos manuais ou recursos obtidos de pequenas vendas no mercado.


Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS