quinta-feira, 20 de abril de 2023

Erechim Cinco Nomes, Uma cidade: de Paiol Grande a Erechim a História de uma Cidade Gaúcha

Centro de Erechim na década de 1960

 

O município de Erechim localiza-se ao Norte do Rio Grande do Sul, na região do Alto Uruguai, sobre a cordilheira da Serra Geral. O significado aceito do seu nome, é que seja um termo de origem indigena da tribo  caingangue que habitavam a região, e significa "campo pequeno", nome esse dado provavelmente pela cidade estar rodeada de florestas naquela época. O engenheiro Dr. Ayres Pires de Oliveira foi o primeiro Intendente Provisório de 18 de junho de 1918 a 6 de Setembro de 1918.

Durante os seus quase 105 anos de existência, que completará no próximo dia 30 de Abril, Erechim teve oficialmente cinco nomes: Paiol Grande, Boa Vista, Boa Vista do Erechim, José Bonifácio e Erechim. 

Conhecido como Paiol Grande, a primeira denominação pela qual foi conhecida a futura cidade, foi segundo historiadores, devido a um grande paiol de madeira existente, o qual podia ser visto de muito longe, que dava o nome ao distrito de Passo Fundo. Em 30 de Abril de 1918 o pequeno, mas já pujante distrito, foi elevado a condição de município, recebendo o nome de Boa Vista. 

Em 1908 foi dado início da ocupação ordenada das terras devolutas situadas entre Passo Fundo e a divisa com Santa Catarina, costeando o Rio Uruguai, com a criação da Colônia Erechim projetada para receber migrantes  provenientes de outras áreas do estado, as conhecidas como colônias velhas, e também novos imigrantes da Europa. Assim colonos poloneses, italianos, alemães e judeus, que constituíram a grande maioria dos que aqui chegaram, junto com imigrantes de diversas outras etnias, se somaram com os índios, negros e caboclos brasileiros que já estavam presentes nessas terras, começaram povoar a então colônia criada na região. Esse fluxo de novos moradores se manteve entre 1908 e 1918.

Nos primeiros anos após a sua emancipação Boa Vista, o segundo nome oficial da cidade, teve um importante crescimento, chegando rapidamente a quase 40 mil habitantes, contando a sede urbana e a zona rural. Foi nessa época que surgiram inúmeras casas de comércio, algumas delas bastante duradouras, para suprir as necessidades dos colonos.

Em 1922 Boa Vista passou a ser denominada Boa Vista do Erechim, o seu terceiro nome que durou até 1938. Nesse período de 16 anos, ela viveu um ciclo bastante conturbado e de muito medo da sua história. Em 1923 a cidade assistiu, e participou, de três sangrentas batalhas da revolução, combatidas no seu território, na Fazenda Quatro Irmãos e no Desvio Giaretta, onde hoje fica o cemitério do Combate. Na ocasião o prédio do Cine Avenida e o Castelinho da Comissão de Terras  foram usados como hospitais improvisados para tratar o grande número de feridos. A cidade também ficou por algumas horas refém nas mãos dos revolucionários comandados pelo Gen. Felipe Portinho, que rapidamente se afastaram com a chegada das tropas de Borges de Medeiros. 

Nessa revolução lutaram, de um lado, os partidários do presidente do Estado, Borges de Medeiros, conhecidos como Borgistas ou Ximangos, que usavam no pescoço um lenço branco, e de outro os revolucionários aliados de Joaquim Francisco de Assis Brasil, chamados Assisistas ou Maragatos, que usavam no pescoço um lenço vermelho. A sangrenta revolução terminou em 14 de dezembro de 1923 com a assinatura do Pacto de Pedras Altas, na então residência de Assis Brasil na cidade.

Em 1938 a cidade de Boa Vista do Erechim passou a ser denominada de José Bonifácio, o seu quarto nome oficial que durou até 1944. Nesse período era um município muito grande, chegando a ter mais de 100 mil habitantes distribuídos entre a sede e os seus 13 distritos, hoje eles também municípios da região Alto Uruguai. Nesse período assistiu inúmeros episódios políticos e sociais, sequelas da Segunda Guerra Mundial, como a perseguição aos descendentes de alemães e italianos residentes no município, proibindo o uso da língua e o fechamento das sociedades étnicas, que em seguida tiveram que mudar de nome.

No ano de 1944 a cidade de José Bonifácio passou a ser chamada novamente pelo nome inicial de Erechim, do tempo da então colônia, sendo esse o quinto nome que permanece até hoje. 

A cidade também é apresentada pelos seus moradores como a  "Capital da Amizade", apelido carinhoso dado à ela pelo Rubens Safro, figura bastante popular na região, excelente contador de histórias, conhecido por todos pelo apelido de Buja.

Os moradores de Erechim, até a década de 1950, eram conhecidos nos municípios vizinhos, como os "botas amarelas", em referência aos calçados de couro sem tintura, usados, principalmente, pelos agricultores que vinham para fazer compras ou tratar de negócios no centro da cidade. O couro das botas, sem a aplicação de um tingimento, rapidamente após uma chuva, adquiria a coloração amarela de terra das ruas enlameadas pela falta de pavimentação da cidade.


Texto de
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS