sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

A Herança dos Bens Familiares nas Colônias Italianas do RS


 


A mulher imigrante nas colônias italianas do Rio Grande do Sul, com o seu trabalho árduo, participava em pé de igualdade com o homem, tanto nas lidas para manutenção da propriedade como na educação dos numerosos filhos.

À ela cabia a dupla jornada de trabalho, cuidando da roça, sempre ajudando o marido ou o pai, e na administração da casa, incluindo aqui a criação e educação dos filhos, ou muitas vezes dos irmãos mais novos, quando ainda solteira morando com os pais.  
 
A mulher foi a espinha dorsal da família, responsável direta pelo sucesso alcançado pela  imigração italiana em terras gaúchas e também pela conservação da cultura familiar e coletiva trazida da Itália, que ao passar para os filhos, pôde assim se conservar até os nossos dias.

Apesar de toda essa  importância, que tinham no contesto das famílias, à elas quase nunca vinha reconhecido o direito à terra, ou quando isso acontecia, o seu quinhão na partilha era, quase sempre, proporcionalmente menor do que a dos irmãos.
 
A terra, o bem maior que, com tanto esforço, foi conquistada por uma família de imigrantes italianos, normalmente não fazia parte da herança da mulher na zona colonial italiana do Rio Grande do Sul.  A terra era quase sempre de propriedade dos homens da casa evitando assim que, com os matrimônios a propriedade saísse das mãos da família.

Se a mulher tivesse irmãos, por herança ela nunca se tornaria proprietária de um pedaço de terra, o que podia acontecer somente quando ficava viúva ou, se solteira e com a morte dos pais, fosse filha única ou não tivesse irmãos.

Quando acontecia o falecimento de um dos pais, a propriedade rural, deixada como única herança, era dividida somente entre os filhos homens. Como essa partilha geralmente deixava pouca terra para cada um, era muito comum haverem acertos entre eles, nem sempre amistosos, onde compravam a parte do outro.
 
Para evitar essas possíveis desavenças futuras, e quando a família tinha os recursos financeiros suficientes, os pais procuravam, quando ainda em vida, comprar terras para os seus filhos homens, na medida em que iam casando e constituindo as suas próprias famílias.
 
Para as moças quando se casavam ganhavam apenas o enxoval, quando muito,  uma máquina de costura e quase sempre uma vaca de leite. 

Algumas famílias que tinham maiores recursos já procuravam terras para os filhos quando esses eram ainda bem jovens, muitos anos antes deles pensarem em casamento. Eles às vezes também ganhavam uma junta de bois ainda novos, às vezes bezerros, que iam aos poucos sendo treinados pelo jovem para serem usados no futuro quando constituísse família.

A partilha dos bens deixados como herança também obedecia a uma divisão desigual que quase nunca favorecia a mulher. Quando um filho casava recebia um pedaço de terra, quase sempre uma colônia, para trabalhar e construir a sua casa. 

A filha, quando muito, recebia alguma coisa para o enxoval, como roupas de cama, mesa e banho, utensílios domésticos, esporadicamente uma máquina de costura e quase sempre uma vaca leiteira. 

O interessante é que parte deste enxoval da jovem tinha sido confeccionado por elas mesmas, durante anos de trabalho realizados à noite, no tempo livre e pagos por elas na sua maior parte desde novas, com pequenos trabalhos manuais ou recursos obtidos de pequenas vendas no mercado.



Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS