domingo, 30 de abril de 2023

Enfrentando as Tormentas: A Jornada dos Emigrantes Italianos Rumo ao Brasil

 


Tempestade em Alto Mar


Era o ano de 1876, um período de muita tribulação e incertezas que tanto caracterizaram este século. Como um verdadeiro êxodo, milhares de italianos estavam deixando a sua terra natal em busca de uma vida melhor no Brasil, dando início a uma grande corrida para os países da América. Entre esses emigrantes, estava a família Rosteggo, naturais de um pequeno e esquecido município do interior da província de Treviso, na região do Veneto, que embarcou no navio a vapor Speranza, um velho cargueiro que até então somente fazia o transporte de carvão, adaptado os seus grandes porões para o transporte de passageiros, rumo ao novo mundo. A família era composta pelo casal Giovanni Battista e Giulia Rosteggo e seis filhos menores, além da sogra do GioBatta,  viúva, na faixa de setenta anos. A viagem prometia ser longa e desafiadora, mas eles estavam determinados a chegar ao seu destino. A vida na Itália estava muito difícil e não apresentava sinais que um dia pudesse melhorar. Giovanni e Giulia pensavam em um futuro melhor para os filhos e uma vida menos  sofrida para eles. O imenso e rico Brasil, que eles somente tinham ouvido falar, com sua imensidão de terras, onde centenas de fazendas estavam precisando de trabalhadores, era uma esperança para eles. Aproveitaram as vantagens oferecidas pelo governo imperial brasileiro que incluía passagens grátis e transporte, até o local de trabalho, para as famílias que quisessem emigrar.
O Speranza, de nome tão sugestivo, partiu do porto de Gênova, na Itália, em um dia ensolarado. Era um barco lento, muito velho, sofrendo para se manter flutuando com o peso da carga humana que transportava, como quase sempre acontecia nas viagens de todas as companhias italiana de navegação, ultrapassando os limites estabelecidos pelas autoridades portuárias de Gênova, mas isso ninguém parecia se importar, nem mesmo em conferir o número exato de embarcados. Os Rosteggo que haviam chegado em Gênova há mais de uma semana, seguindo as instruções recebidas do desonesto agente de viagens, o qual certamente também ganhava comissão dos donos de estalagens e pequenos restaurantes da zona portuária. Ficaram instalados em uma mal cuidada e superlotada pensão, localizada em uma estreita e pouco iluminada rua nas vizinhanças do porto, obrigados a gastar uma grande parte dos poucos recursos que tinham conseguido economizar para usar na nova terra. No dia da partida, com lágrimas nos olhos, mas com a esperança de um futuro melhor, seguiram em fila a multidão de várias centenas de passageiros, que também iriam embarcar, até a escada suspensa fixada na lateral do navio. Dezenas de funcionários da companhia de navegação e do porto, corriam por todos os lados transportando grandes caixotes de madeira para dentro do navio enquanto no convés a tripulação agitada se preparava para o embarque dos passageiros. Com uma série de graves apitos, que serviam como aviso final para o embarque, o grande navio calmamente se afastou do cais, deixando para trás aquela Itália que, para eles,  tinha se comportado menos como uma mãe carinhosa e mais como uma malvada madrasta. Durante os primeiros dias de viagem, tudo correu bem. Os passageiros, todos emigrantes italianos se acostumaram com a rotina a bordo do navio, dividindo os apertados espaços com pessoas provenientes de diversas regiões do país. O navio fez uma parada programada no porto de Nápoles, onde subiram a bordo mais de 400 outros emigrantes do sul da Itália que também tinham o Brasil como destino. Agora o navio estava superlotado e não cabia mais ninguém.
No entanto, a calmaria das primeiras semanas de viagem logo seria interrompida por uma tempestade terrível, que se seguiu no meio da tarde, de um dia muito quente e abafado, quando estavam cruzando a linha do Equador. Enquanto o céu rapidamente se escurecia com grossas e pesadas nuvens, os ventos aumentaram e as ondas ficaram mais altas, batendo forte no casco e balançando violentamente o navio. Os Rusteggo  se seguraram aos corrimãos e aos móveis que estavam fixados no assoalho, para não caírem no chão. O barulho contínuo dos trovões e as pancadas das fortes ondas eram ensurdecedores e o mar parecia querer engolir o navio. A tempestade durou várias horas e os passageiros tiveram que se agarrar para não serem jogados para fora do navio. A comida não pode ser servida e a água começou a ser racionada. Muitos dos passageiros passaram mal com fortes  vômitos devido ao frenético balanço do navio. A esperança de sobreviver a essa tempestade parecia estar cada vez mais distante.
Mas, mesmo diante de todas as dificuldades, aquele grupo de quase mil emigrantes italianos a bordo, mantiveram a esperança de chegar ao Brasil. Eles rezaram para os seus santos de devoção e pediram forças para suportar a tempestade. Em meio às orações e às lágrimas, os Rosteggo se uniram aos demais passageiros em um coro de esperança e fé.
Finalmente, a tempestade começou a diminuir e uma tímida lua começou a iluminar a noite. Os passageiros puderam sair dos alojamentos e sentir o cheiro do mar no tombadilho ainda molhado pelas altas ondas. O navio havia sobrevivido à tempestade e a esperança voltou a se renovar nos corações dos passageiros, a sua totalidade composta por emigrantes italianos.
Após mais alguns dias de tempo bom, finalmente avistaram a costa brasileira. Mais dois dias de navegação, já perto do porto, a emoção tomou conta de todos os passageiros, que aguardavam ansiosamente a hora de desembarcar. Os Rosteggo avistaram a cidade do Rio de Janeiro ao longe, com os lindos morros cercados por uma vegetação exuberante e não puderam conter as lágrimas de felicidade.
Ao desembarcarem no porto do Rio de Janeiro, a família Rusteggo e os demais imigrantes foram recebidos pelos funcionários do porto para a conferência dos seus documentos e depois foram encaminhados para a inspeção médica rotineira na Hospedaria de Imigrantes. Eles se abraçaram, cantaram e dançaram em agradecimento por sobreviverem à viagem apesar daquela grande tempestade. Como não tinha ocorrido qualquer problema médico durante a travessia, as autoridades sanitárias brasileiras os liberaram e os encaminharam para os alojamentos, onde ficariam hospedados até chegar a hora de serem conduzidos para os locais a eles destinados e, então, se instalarem definitivamente no país. Depois de alguns dias ainda na hospedaria, no porto do Rio de Janeiro, quase todos os passageiros foram novamente embarcados, em outro navio, para viagem até o Porto de Santos, pois tinham como destino o estado de São Paulo. Após desembarcados tiveram que subir a Serra do Mar até a capital do estado, em trem até a estação e em carroções até a Hospedaria dos Imigrantes de São Paulo. Neste local ficaram hospedados à espera que os representantes das fazendas de café, que os tinham contratado, viessem buscá-los. Aproveitaram o tempo para regularizar documentos e fazer contatos. Da hospedaria até a sede da fazenda a viagem foi feita de trem, sempre acompanhados pelos funcionários das fazendas e por centenas de outros imigrantes italianos como eles que tinham o mesmo destino, as plantações de café.
A família Rosteggo começou a vida no Brasil com muita dificuldade, mas com muita determinação. Eles trabalharam duro para conseguir garantir o sustento da família. Aos poucos alguns aprenderam a língua portuguesa e se adaptaram aos costumes do novo país. Mas a esperança de uma vida melhor sempre esteve presente em seus corações. 
Depois de quase seis anos vivendo e trabalhando duro na fazenda de café a família conseguiu reunir algumas economias e adquirir um pequeno sítio na zona rural, de uma pequena cidade vizinha à fazenda, também no interior do estado de São Paulo. Durante aqueles quase seis anos trabalhando como empregados na plantação de café da Fazenda Cipó conseguiam no pouco tempo privado que lhes sobrava, plantar nas faixas de terra a eles reservada pelo dono da fazenda, para produzirem seu próprio alimento e a sobra venderem na cidade, uma forma de assim conseguir fazer alguma economia. A esposa de Giovanni com a mãe e as duas filhas mais velhas eram bastante espertas e econômicas, faziam doces, salgados, compotas, sabão em casa para vender, além de criarem galinhas, cujos ovos eram negociados nas cidades próximas e até na própria fazenda. O dinheiro que ganhavam ficava separado, reservado para comprar algum lote de terra para eles ao deixarem a fazenda. O trabalho árduo era recompensado com o sorriso dos clientes satisfeitos e com o dinheiro que ajudava a sustentar a família. 
Ao longo dos anos, os filhos cresceram e se tornaram brasileiros de coração. Eles aprenderam a valorizar a cultura e as tradições do Brasil, sem esquecerem as suas raízes italianas. Os Rosteggo também nunca esqueceram a tempestade que enfrentaram durante a travessia no navio Speranza, como também nunca esqueceram a esperança que os guiou até o novo mundo.
A história da família Rosteggo se tornou uma das muitas histórias de imigrantes que enfrentaram desafios para construir uma nova vida no Brasil. Eles ajudaram a construir o país com o seu trabalho e a sua determinação. Hoje, muitos brasileiros descendem de italianos que enfrentaram a tempestade no navio Speranza e que nunca perderam a fé em uma vida melhor.

Nota: os nomes citados são fictícios


Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS





sábado, 29 de abril de 2023

Descobrindo as Raízes: Sobrenomes Italianos da Diretoria da Società Italiani Uniti de Araraquara


1. Antonio Nusdeo; 2. Raphael Barbieri; 3. Domingos Barbieri; 4. Dr. Giuseppe Aufiero Nipote; 5. Gaspar Abritta; 6. Dr. Giuseppe Aufiero; 7. Augusto Bignardi; 8. Nicola Barbato; 9. José Palamone Lepre; 10. Affonso Lombardi; 11. Oswaldo Negrini; 12. Agostino Tucci; 13. Corrosoni; 14. Marziali Billi; 15. Augusto Zenerin; 16. Guido Michetti; 17. Michele Loria; 18. Alberto Cestari; 19. Pedro Martini; 20. Caetano Mirabelli; 21. Enrico Somenzari; 22. Adolpho Criscini; 23. Pietro Galeazzi; 24. Antonio Blundi; 25. Caetano Passeto; 26. Janoario Arena; 27. Vincenzo Gravina; 28. Pietro Firminano; 29. Temistocles Fioretti; 30. Arturo Rizzoli; 31. Giuseppe Storino; 32. Enrico Lupo.



Società Italiani Uniti di Araraquara

 

Esta sociedade italiana existiu em Araraquara entre as décadas de 1920 e 1940. Abaixo alguns sobrenomes dos membros da diretoria da Società Italiani Uniti de Araraquara nas décadas de 1920 e 1930:



        • Abritta
        • Alimonda
        • Angelieri
        • Aufiero
        • Barbato
        • Bignardi
        • Blundi
        • Catanzaro
        • Cestari
        • Dall'Acqua
        • Donzelli
        • Ferrarezi
        • Firmiano
        • Galeazzi
        • Lagrotta
        • Lainetti
        • Lepre
        • Loria
        • Lombardi
        • Lupo
        • Martini
        • Masiero
        • Miari
        • Mirabelli
        • Negrin
        • Opice
        • Palamone
        • Rizzoli
        • Rosito
        • Somenzari
        • Storino
        • Tucci
        • Vigorito
        • Zaranella
        • Zenerin
        • Zerbini




quinta-feira, 27 de abril de 2023

A Jornada Épica dos Imigrantes Italianos: Desbravando Novos Mundos





𝐀 𝐄𝐌𝐈𝐆𝐑𝐀𝐂̧𝐀̃𝐎 𝐈𝐓𝐀𝐋𝐈𝐀𝐍𝐀


"Digam à eles que deixamos os patrões na Itália e agora somos donos de nossas vidas, temos quanto queremos para comer e beber, além de bons ares, e isto significa muito para mim. Eu também não queria estar mais na Itália, sob aqueles patrões velhacos. Aqui, para encontrar autoridade, são necessárias seis horas de viagem". Trecho de carta de um imigrante italiano na Colônia Caxias, Rio Grande do Sul, enviada para seus familiares na Itália. 





A emigração italiana iniciou em um momento delicado. Por volta de 1860 a 1870, a Itália acabara de concluir a luta pela unificação política, período conhecido como Risorgimento que se caracterizou por muita agitação, lutas armadas e mudanças na política. Sua economia era em grande parte agrária e sofria com o avanço, cada vez mais agressivo, do capitalismo. É nesse contexto que devemos entender o que foi esse verdadeiro êxodo que no curso de alguns anos despovoou a zona rural do país. Foi sem dúvida uma emigração que visou a sobrevivência. Entre 1850 e 1920, mais de um milhão e meio de imigrantes vieram para o Brasil, especialmente São Paulo, para trabalhar como agricultores nas fazendas de café. Alguns fazendeiros notaram que a escravidão estava condenada, e vários experimentos foram realizados com mão de obra provinda da Europa desde os anos 1840 e 1850. Essas experiências foram quase sempre abandonadas devido à resistência dos imigrantes ao grau de exploração que lhes era imposto. A imigração italiana foi de importância decisiva para a história do Brasil. Ela não apenas contribuiu para o progresso econômico do país, mas também para importantes mudanças sociais e culturais. A unificação da Itália e as transformações capitalistas prejudicaram substancialmente os mais pobres da população, forçando-os a emigrar. Muitos trabalhadores rurais ou mesmo pequenos proprietários de terras não conseguiam mais sobreviver com o produto do cultivo de suas terras. Isso ocorria porque eles não podiam competir com os grandes proprietários de terras que forneciam produtos a preços mais baixos no mercado. Além disso, os pequenos proprietários pagavam taxas muito altas de impostos sobre a terra, sem recursos financeiros para tomar empréstimos, o que os tornava cada vez mais endividados. Para os fazendeiros de café do Brasil, o trabalho escravo era a base da produção agrícola e a sua extinção prejudicava muito seus interesses econômicos. 
Com a desintegração do sistema escravagista, a elite cafeeira de São Paulo encorajou a imigração principalmente a partir da Lei do Ventre Livre de 1871. A escassez de escravos já era um problema desde 1850, com a proibição do tráfico de escravos, a Lei Eusébio de Queirós.  
Para os fazendeiros de café do Brasil, o trabalho escravo era a força que movia toda a produção agrícola. A imigração italiana foi fundamental para suprir a demanda de mão de obra após a abolição da escravidão. As leis provinciais de 30 de março de 1871 e 26 de abril de 1872 ajudaram os fazendeiros paulistas a atrair trabalhadores imigrantes, autorizando um apoio financeiro de até 900 contos para as despesas de viagem dos imigrantes. Assim, a imigração subsidiada para São Paulo começou. A miséria que arruinou o campo italiano e a coragem de deixar o país revelaram que o ato de emigrar não apenas implicava em "fazer a América", ou "fare la cucagna", como muitas vezes se dizia. Os emigrantes não eram, em geral, aventureiros em busca de riqueza fácil, mas sim partiam do seu país como forma de se defender contra as condições cruéis impostas pela solidificação do capitalismo no campo italiano. Muitos desses pobres imigrantes diziam: "me vao in Mèrica par magnar" ou "eu vou para a América para poder comer". A imigração representou para a Itália uma solução para a crise de desemprego que assolava o país desde 1870. Em São Paulo e em outros estados do sudeste, a imigração apareceu como uma solução para a desagregação do trabalho escravo nas fazendas. Nos estados do sul, iniciando pelo Rio Grande do Sul, a imigração foi a solução encontrada para povoar grandes extensões de terras, em zonas parcamente habitadas mais próximas de outros países, e, simultaneamente, colonizar a vasta região isolada e ainda coberta de florestas, criando polos de produção agrícola nas colônias criadas, capazes de suprir de alimentos os centros maiores, escoando a produção pela farta rede fluvial vizinha. O lento desenvolvimento industrial na Itália também favoreceu a emigração. Segundo Candeloro, "a emigração foi crucial para o desenvolvimento socioeconômico (...) no período que viu o lançamento do noroeste industrializado da Itália, e continuou como uma condição para o desenvolvimento econômico devido ao desequilíbrio estabelecido entre o norte e o sul do país". 
No início do século XIX, a economia italiana era essencialmente agrícola. Muitas regiões italianas ainda apresentavam características semi-feudais e feudais no período da unificação por volta de 1870. O norte do país era mais industrializado, a agricultura capitalista havia moldado a região, ao contrário do sul, onde a agricultura ainda mostrava vestígios de servidão. A burguesia industrial e comercial, mesmo após a unificação italiana, tinha pouca participação na classe política porque era composta de grandes e médios proprietários de terras. Levou vários anos para o grupo alcançar o controle econômico e político burguês do país, deixando o estado para a fase de acumulação essencialmente industrial. Em áreas com aspectos feudais predominantes, a emigração ocorreu em grande escala. Essas características limitavam qualquer mudança estrutural e a única saída para a população excedente era emigrar. 
Na região do Vêneto a produção rural dependia do trabalho de toda a família. A mão de obra era basicamente dividida em dois grupos: aqueles que trabalhavam para si mesmos, ou seja, os pequenos proprietários de terra, locatários ou meeiros, e aqueles que trabalhavam como empregados. Dentro deste último grupo estavam os braccianti ou trabalhadores braçais, que podiam ser fixos, vinculados à propriedade por meio de um contrato anual, ou temporários diaristas, que trabalhavam apenas em momentos de grande necessidade de mão de obra e recebendo um pagamento diário. Os braccianti, pelo excesso disponível eram os trabalhadores rurais mais explorados. Os pequenos proprietários de terra, locatários ou meeiros vênetos formaram o primeiro contingente de imigrantes. Eles foram os primeiros a deixar a Itália devido às precárias condições de vida. A região do Vêneto durante a fase inicial do grande êxodo pode ser descrita da seguinte forma: o campo era dividido em pequenos lotes com fileiras de árvores onde se agarram às videiras, enquanto os espaços entre elas eram de 8 a 12 metros de largura, eram quase sempre arados e plantados com cereais. O campo reflete fielmente em sua aparência externa o regime de produção imposto pelas condições sociais da região. Ele fornece aos proprietários milho e vinho, aos trabalhadores milho e muito pouco combustível para alimentar os dois animais que, no entanto, precisam arar e fertilizar o solo já tão esgotado. 
O camponês vêneto que possuía terras era praticamente autossuficiente. O trabalho agrícola quase sempre estava associado à indústria doméstica de tecidos ou artigos de vime e palha. A pequena propriedade lhes deu uma ilusão de independência, mas não aconteceu muito progresso depois da unificação, antes pelo contrário viram as suas economias minguarem. As famílias vênetas viviam em pequenos lotes de terra que lhes pertenciam. Eram em média compostas por doze a quinze pessoas, geralmente com dois ou três homens, suas esposas e filhos capazes de trabalhar. O pai era a autoridade máxima e quando ele não podia mais manter o controle, era substituído por seu filho mais velho. Todos se mantinham juntos enquanto a propriedade conseguia fornecer os recursos necessários para a sobrevivência de todos. Eles se alimentavam diariamente principalmente de polenta de farinha de milho, às vezes misturada com algum tipo de verdura. Os pequenos proprietários que eram responsáveis por até seis pessoas tinham em média uma mesa um pouco mais farta, com ovos, vegetais, mesmo assim, raramente comiam carne, quando comiam era de porco, galinhas, peixe, a carne bovina era usada para festas ou quando estavam doentes. 
A emigração italiana representou uma solução para a crise de desemprego que assolou o país desde 1870. Na verdade, as condições de vida dos pequenos agricultores, locatários e meeiros eram praticamente as mesmas condições dos pobres braccianti. Muitos eram forçados a deixar suas terras e trabalhar em outras propriedades para conseguir levar o sustento para a família. Entre eles, era comum a divisão da terra quando os filhos se casavam e isso era repetido geração após geração, retalhando a propriedade em lotes cada vez menores tornando-os assim produtivamente deficitários, não suprindo mais as necessidades das famílias. Este foi um dos principais motivos para o enfraquecimento das famílias e consequente empobrecimento. Até 1885, grandes regiões do Vêneto, onde primeiro se começou a emigrar, tais como Belluno, Treviso, Udine e Vicenza, que eram predominantemente compostas por montanhas e colinas. Em Udine, havia um proprietário para cada dois residentes, um para cada três em Belluno, um para cada quatro em Vicenza, e as propriedades eram insuficientes para sustentar uma família. 
Algumas regiões italianas, especialmente o Vêneto, destacaram-se por serem os principais fornecedores de mão-de-obra para São Paulo, Espírito Santo e para os estados do sul do país. Essa situação era agravada pela falta de melhorias técnicas na agricultura, com métodos de cultivo antiquados já de muito ultrapassados os altos impostos, a variação do clima, as catástrofes naturais, como a devastação das florestas que prejudicavam o sistema fluvial, levando a inundações nas planícies e avalanches nas zonas elevadas. Nas regiões montanhosas e de colinas, a falta de chuvas abalou a já escassa produção agrícola, que sempre fora de subsistência. Agravando o quadro pintado no período de 1873 a 1895, o panorama internacional foi marcado pela crise agrária ou "grande depressão" em todos os países da Europa. Essa crise precipitou a transição do antigo capitalismo individualista de livre concorrência para o capitalismo monopolista imperialista. Este foi um período de amargas lutas pelos mercados consumidores muito disputados, que afetaram a Itália em um cenário dramático de sua unificação política. A agricultura foi duramente afetada pela concorrência de produtos semelhantes importados de outros países que chegavam a preços muito abaixo dos praticados no país como o trigo americano e russo que, apesar do frete, era oferecido a preços muito abaixo do custo de produção na Itália. Assim, como decorrência a produção de trigo declinou, levando consigo o cultivo de outras commodities da agricultura italiana, como milho, arroz e oleaginosas. Portanto, os produtores agrícolas perderam seu lugar no mercado e sua única alternativa foi deixar o campo, afetados por competidores mais poderosos. O jornal L'Amico del Popolo, em 1882, publicou um artigo observando que mais de 20.000 pequenos proprietários haviam desaparecido da Itália naqueles anos, e certamente todos teriam emigrado para a América. Os emigrantes vênetos não deixaram a Itália com a esperança de retornar, como aqueles do sul. Eles foram obrigados a abandonar tudo o que possuíam, animais, utensílios domésticos. Partiam após a colheita do trigo no outono, entre setembro e novembro. Portanto, o primeiro contingente de trabalhadores que chegou a São Paulo foi composto por esses imigrantes. O sistema de assentamento no Brasil igualou todos os imigrantes a um único padrão, as características peculiares do primeiro contingente de imigrantes foram esquecidas. Nos contratos de trabalho, não foram considerados aspectos individuais. O sistema de assentamento acabou com as diferenças externas entre os inquilinos, os meeiros e outros, mas não com a organização interna das famílias, seus hábitos culturais, valores para os camponeses. Os imigrantes italianos assentados nas colônias do sul do país, criadas especialmente para recebê-los eram predominantemente vênetos, lombardos e tiroleses e experimentaram outro tipo de imigração, diferente daqueles que foram para o sudeste do país. No sul do Brasil, imediatamente após a chegada, os imigrantes puderam adquirir por preços bem baixos os seus lotes de terra, por financiamento do próprio governo, com prestações durando vários anos contados após um período de carência de dez anos. Eram áreas enormes, a maioria delas cobertas de mata virgem, da qual tiraram a madeira para a construção de suas casas, cercas, galpões e lenha para os fogões. Na Itália eles jamais poderiam ter sonhado com esta fartura de espaço, com áreas que variavam de 25 a 50 hectares cada uma, no início da colonização. Assim, desde a chegada eles puderam trabalhar nas suas próprias terras, não precisando mais dividir com ninguém o resultado das suas colheitas. Agora não eram mais empregados, não obedeciam mais a um patrão, como tinham feito durante todas as suas vidas, gerações após gerações, no país natal. O sonho da propriedade, um dos fortes motivos que os impulsionou abandonarem a Itália, estava sendo realizado em terras gaúchas. Essa foi, sem dúvida, a grande diferença ocorrida com o processo de imigração italiana implantada no sudeste do país.



Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS






terça-feira, 25 de abril de 2023

Duas Grandes Festas em Veneza: Dia de São Marcos e a A Festa del Bòcolo


 

São Marcos é o santo padroeiro de Veneza. A lenda por trás disso remonta ao século IX, quando dois mercadores venezianos roubaram transportaram os restos mortais de São Marcos, na Alexandria, no Egito, e os trouxeram para Veneza. Os venezianos acreditavam que São Marcos havia escolhido Veneza como seu local de descanso final, e seus restos mortais foram colocados em uma igreja que mais tarde foi substituída pela atual Basílica de São Marcos. O leão alado, que é o símbolo de São Marcos, também se tornou o símbolo de Veneza. A cidade comemora o Dia de São Marcos em 25 de abril com um festival que inclui uma corrida de barcos, missa nas igrejas, shows, carnaval e mercados com comidas típicas. 
A Festa di San Marco, é um feriado local anual em Veneza, Itália, realizada em 25 de abril em homenagem ao santo padroeiro da cidade, São Marcos. O dia coincide com o Dia da Libertação, que é um feriado nacional em toda a Itália, comemorando a libertação da Itália dos nazistas-fascistas na Segunda Guerra Mundial. A grande festa inclui uma famosa regata destaque do festival, a Regata di Traghetti, uma corrida de barcos com gondoleiros que competem transportando passageiros em suas gôndolas. A festa de São Marcos é observada pelas Igrejas Católica e Ortodoxa Oriental. 
Também neste mesmo dia 25 de Abril, se comemora a Festa del Bocolo, baseada em uma lenda que remonta ao século IX, em que um cavaleiro chamado Tancredi se apaixonou por Maria, filha de um rico comerciante. Tancredi foi enviado para lutar nas Cruzadas e, antes de partir, deu a Maria uma rosa como símbolo de seu amor. Quando voltou, descobriu que Maria havia morrido de coração partido, foi até o túmulo dela e colocou um "bòcolo" (um botão de rosa vermelha) sobre ele. A festa celebra essa lenda, e os homens presenteiam seus entes queridos com um bòcolo como símbolo de seu amor. 


Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS




sábado, 22 de abril de 2023

Colônia Nova Itália: Uma Viagem no Tempo pelas Tradições Italianas no Paraná

Igreja da Colônia Nova Itália no Paraná

Era o ano de 1878 e a grande colônia italiana de Nova Itália, o segundo grande experimento oficial de colonização da província, com uma população de mais de oitocentos imigrantes, localizada próximo de Paranaguá, entre as cidades de Antonina e Morretes, no Paraná, estava passando, desde algum tempo, por um período crítico de grande agitação. Desde a sua fundação em 1872, criada às pressas para acolher os imigrantes retirantes da mal sucedida Colônia Alexandra, esse novo assentamento era bem maior, com vários núcleos de povoamento, ainda não tinha mostrado o desenvolvimento e a pujança que as autoridades do governo tanto esperavam. Já de algum tempo as condições de vida na colônia estavam bastante corroídas, tendo já ocorrido diversas reclamações dos imigrantes contra a administração da colônia. Havia uma falta crônica de material para a construção das casas, de sementes, roupas e até de alimentos para os colonos, os quais depois de seis anos ainda dependiam totalmente do estado para praticamente tudo. Diversos abaixo-assinados foram enviados para as autoridades competentes em Curitiba, sem receberem solução adequada. O descontentamento para esta situação era generalizado e cresciam as manifestações de protestos contra a administração da colônia, as quais estavam ficando cada vez mais violentas. Os colonos exigiam do governo a sua transferência para outro local, fazendo valer uma das cláusulas constante nos seus contratos. Por diversas vezes a autoridades provinciais estiveram no local avaliando a situação, prometendo melhorias que acabaram não acontecendo, mas agora os colonos estavam irredutíveis exigindo transferência de local. Na realidade a extensa região que a colônia tinha sido implantada e onde se estabeleceram os diversos núcleos de povoamento da mesma, tinham condições muito diferentes na qualidade do solo. Alguns dos terrenos tinham áreas com possibilidade de algum cultivo e outros eram quase todo de terreno arenoso e alagadiço, impróprios para as culturas pretendidas. Por outro lado, o clima quente, muito úmido e os incômodos insetos típicos da zona litorânea, que tantas doenças causavam, estavam presentes indistintamente neles todos. O contrato oficial assinado pelos colonos com as autoridades brasileiras, estipulava que se eles, por qualquer motivo, não se adaptassem na colônia oferecida, poderiam solicitar ao governo paranaense a transferência para outro local. Os imigrantes italianos que ali tinham sido assentados, estavam preocupados com o seu futuro naquela colônia de clima ruim e terras magras para o cultivo e teimava em não progredir, isso também devido por se encontrar longe de um grande centro consumidor para os seus produtos. Muitos desses colonos já haviam começado a trabalhar como diaristas nas obras de construção da Estrada da Graciosa e da Estrada de Ferro Paranaguá Curitiba, mas o que conseguiam ganhar segundo eles mal dava para sustentar a família.
Cada vez mais a ideia de se transferir para Curitiba tomava corpo, estimulada pelas notícias que chegavam através dos tropeiros, viajantes comerciais ou mesmo em conversas com o pessoal da ferrovia, muitos deles trazidos da capital. Aqueles imigrantes que ainda tinham alguma reserva financeira, trazida da Itália, se adiantaram e por conta própria empreendiam a viagem até Curitiba, comprando em conjunto terrenos em alguns pontos da cidade, tal como a Colônia Santa Felicidade. Curitiba era uma cidade ainda pequena, mas como uma capital de província tinha um futuro muito promissor e isso era fácil de se perceber. As terras em torno da cidade eram de ótima qualidade para qualquer tipo de cultivo e o clima temperado de montanha, quase idêntico aquele da Itália que haviam deixado. A cidade era movimentada e cheia de vida, em franco crescimento, necessitando de muita mão de obra para as suas fábricas e de gêneros alimentícios para alimentar a população que não parava de crescer. Eles sabiam que não seria fácil se adaptar a um novo lugar, mas estavam dispostos a tentar. Então, a maioria decidiu se mudar para Curitiba. O governo provincial, depois de alguma relutância e atraso, finalmente cedeu e liberou a saída dos colonos da Colônia Nova Itália para aqueles que assim desejassem e até ajudou no transporte e na alocação das famílias em diversas outras colônias que estavam sendo criadas entorno da capital. 


Texto 
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS






quinta-feira, 20 de abril de 2023

Erechim Cinco Nomes, Uma cidade: de Paiol Grande a Erechim a História de uma Cidade Gaúcha

Centro de Erechim na década de 1960

 

O município de Erechim localiza-se ao Norte do Rio Grande do Sul, na região do Alto Uruguai, sobre a cordilheira da Serra Geral. O significado aceito do seu nome, é que seja um termo de origem indigena da tribo  caingangue que habitavam a região, e significa "campo pequeno", nome esse dado provavelmente pela cidade estar rodeada de florestas naquela época. O engenheiro Dr. Ayres Pires de Oliveira foi o primeiro Intendente Provisório de 18 de junho de 1918 a 6 de Setembro de 1918.

Durante os seus quase 105 anos de existência, que completará no próximo dia 30 de Abril, Erechim teve oficialmente cinco nomes: Paiol Grande, Boa Vista, Boa Vista do Erechim, José Bonifácio e Erechim. 

Conhecido como Paiol Grande, a primeira denominação pela qual foi conhecida a futura cidade, foi segundo historiadores, devido a um grande paiol de madeira existente, o qual podia ser visto de muito longe, que dava o nome ao distrito de Passo Fundo. Em 30 de Abril de 1918 o pequeno, mas já pujante distrito, foi elevado a condição de município, recebendo o nome de Boa Vista. 

Em 1908 foi dado início da ocupação ordenada das terras devolutas situadas entre Passo Fundo e a divisa com Santa Catarina, costeando o Rio Uruguai, com a criação da Colônia Erechim projetada para receber migrantes  provenientes de outras áreas do estado, as conhecidas como colônias velhas, e também novos imigrantes da Europa. Assim colonos poloneses, italianos, alemães e judeus, que constituíram a grande maioria dos que aqui chegaram, junto com imigrantes de diversas outras etnias, se somaram com os índios, negros e caboclos brasileiros que já estavam presentes nessas terras, começaram povoar a então colônia criada na região. Esse fluxo de novos moradores se manteve entre 1908 e 1918.

Nos primeiros anos após a sua emancipação Boa Vista, o segundo nome oficial da cidade, teve um importante crescimento, chegando rapidamente a quase 40 mil habitantes, contando a sede urbana e a zona rural. Foi nessa época que surgiram inúmeras casas de comércio, algumas delas bastante duradouras, para suprir as necessidades dos colonos.

Em 1922 Boa Vista passou a ser denominada Boa Vista do Erechim, o seu terceiro nome que durou até 1938. Nesse período de 16 anos, ela viveu um ciclo bastante conturbado e de muito medo da sua história. Em 1923 a cidade assistiu, e participou, de três sangrentas batalhas da revolução, combatidas no seu território, na Fazenda Quatro Irmãos e no Desvio Giaretta, onde hoje fica o cemitério do Combate. Na ocasião o prédio do Cine Avenida e o Castelinho da Comissão de Terras  foram usados como hospitais improvisados para tratar o grande número de feridos. A cidade também ficou por algumas horas refém nas mãos dos revolucionários comandados pelo Gen. Felipe Portinho, que rapidamente se afastaram com a chegada das tropas de Borges de Medeiros. 

Nessa revolução lutaram, de um lado, os partidários do presidente do Estado, Borges de Medeiros, conhecidos como Borgistas ou Ximangos, que usavam no pescoço um lenço branco, e de outro os revolucionários aliados de Joaquim Francisco de Assis Brasil, chamados Assisistas ou Maragatos, que usavam no pescoço um lenço vermelho. A sangrenta revolução terminou em 14 de dezembro de 1923 com a assinatura do Pacto de Pedras Altas, na então residência de Assis Brasil na cidade.

Em 1938 a cidade de Boa Vista do Erechim passou a ser denominada de José Bonifácio, o seu quarto nome oficial que durou até 1944. Nesse período era um município muito grande, chegando a ter mais de 100 mil habitantes distribuídos entre a sede e os seus 13 distritos, hoje eles também municípios da região Alto Uruguai. Nesse período assistiu inúmeros episódios políticos e sociais, sequelas da Segunda Guerra Mundial, como a perseguição aos descendentes de alemães e italianos residentes no município, proibindo o uso da língua e o fechamento das sociedades étnicas, que em seguida tiveram que mudar de nome.

No ano de 1944 a cidade de José Bonifácio passou a ser chamada novamente pelo nome inicial de Erechim, do tempo da então colônia, sendo esse o quinto nome que permanece até hoje. 

A cidade também é apresentada pelos seus moradores como a  "Capital da Amizade", apelido carinhoso dado à ela pelo Rubens Safro, figura bastante popular na região, excelente contador de histórias, conhecido por todos pelo apelido de Buja.

Os moradores de Erechim, até a década de 1950, eram conhecidos nos municípios vizinhos, como os "botas amarelas", em referência aos calçados de couro sem tintura, usados, principalmente, pelos agricultores que vinham para fazer compras ou tratar de negócios no centro da cidade. O couro das botas, sem a aplicação de um tingimento, rapidamente após uma chuva, adquiria a coloração amarela de terra das ruas enlameadas pela falta de pavimentação da cidade.


Texto de
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS 


quarta-feira, 19 de abril de 2023

A Saga de Um Casal de Imigrantes Italianos na Colônia Caxias

 




No final do século XIX, muitas famílias italianas emigraram para o Brasil em busca de melhores oportunidades de vida. Entre elas, estava a família de Francesco e Augusta, que vieram da região do Veneto e se estabeleceram na colônia Caxias do Sul, no estado do Rio Grande do Sul, em 1878. A jornada foi longa e difícil, durando 40 dias entre o mar e em terra. Eles eram dois pobres camponeses, mas corajosos, que decidiram deixar sua terra natal, na Itália, em busca de uma vida melhor na América do Sul. Eles haviam ouvido falar do Brasil e de suas terras férteis, onde os imigrantes eram bem-vindos e poderiam prosperar. Depois de muitas conversas e planejamento, eles finalmente embarcaram em uma longa jornada, que durou quase cinquenta dias, até chegarem à Colônia Caxias, no Rio Grande do Sul. Durante a longa viagem, Francesco e Augusta fizeram amizade com outros imigrantes, que também estavam a caminho da mesma colônia. A maioria deles eram italianos como eles, mas havia também alguns poucos alemães. Eles compartilharam histórias e experiências, tornando a viagem menos solitária e mais emocionante. Quando finalmente chegaram na Colônia Caxias, a terra parecia diferente de tudo o que tinham visto antes. As montanhas ao redor eram majestosas, a vegetação era densa e exuberante e o clima era um pouco diferente. Eles, e todo o grupo, foram recebidos pelos funcionários da colônia e por outros imigrantes que já estavam estabelecidos, que os ajudaram a encontrar o seu pedaço de terra e construir a sua nova casa. O casal teve que trabalhar duro para sobreviver nos primeiros anos. Eles desmataram uma parte do terreno e ali, após a queima das árvores, plantaram um pouco de trigo, milho, feijão e outros vegetais como todos os outros imigrantes na região. Começaram a criar alguns animais, como porcos e galinhas, para terem carne fresca e ovos. Pietro e Sofia, seus filhos, ajudavam nas tarefas diárias, mas também iam à escola no período da manhã para aprender a ler e escrever. A vida na colônia não era fácil, mas eles eram cercados de pessoas amigas e trabalhadoras. Eles participavam de festas e celebrações na igreja, onde se encontravam com outros imigrantes e trocavam experiências. Lentamente aprenderam a falar algumas palavras em português e a se comunicar com os brasileiros locais, mas entre os imigrantes italianos só falavam o talian, uma língua criada nas colônias italianas do Rio Grande do Sul para se comunicarem entre eles. Nos anos seguintes, a colônia cresceu e se desenvolveu. Mais imigrantes chegaram, e a terra foi ficando mais produtiva. Francesco e Augusta  conseguiram comprar mais terras ao lado da que já possuíam  e expandiram seus negócios. Pietro e Sofia cresceram e se casaram com os filhos de outros imigrantes italianos da região. Por volta do final do século, a família de Francesco e Augusta já era uma das mais prósperas da colônia. Eles tinham uma grande plantação de milho, um bom número de vacas e criação de suínos, até chegaram a construir uma pequena fábrica de queijo. Com muito amor eles ainda mantinham suas antigas tradições italianas. O casal havia se adaptado muito pouco à cultura brasileira e a língua do país, o português, jamais conseguiram falar direito e sempre carregado com muito sotaque italiano. A vida na colônia não era fácil, mas eles haviam conseguido construir uma vida feliz e satisfatória.


Texto de um livro de contos de
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS




terça-feira, 18 de abril de 2023

Sobrenomes Italianos na Colônia Nova Itália: Uma Janela para a História da Imigração Italiana no Paraná



Alguns Sobrenomes de Imigrantes Italianos 

da Colônia Nova Itália em

Morretes Paraná




Bacci, Bavetti, Belotto, 
Bergonse, Bertholdi, Bertagnolli, Bettega, Bindo, Borsatto, Bortholin, 
Bortholuzzi, Brustolin, 
Buzetti, Canetti, Carazzai, 
Carta, Casagrande, Cavagnolli, 
Cavagnari, Cavalli, Cavallin, 
Cavogna, Cerobin, Cheminazzo, 
Cherobin, Chiarello, 
Cini, Cit, Comandulli, Contin, 
Costa, Cusman, D' Igna, D' Stella, 
Dal'Col, Dalcucchi, Dalla Bianca, 
Dalla Negro, De Bona, De Carli, De Lay, 
De Mio, De Paola, De Rocco, Dirienzo, 
Della Bianca, Dotti, Ercole, Fabris, Favoretto, Ferrari, Ferrarini, Ferruci, 
Filipeti, Foltran, Fontana, Frachino, Fruscolin De Fiori, Gabardo, Galli, Gaio, 
Gasparin, Ghignone, Giglio, Giorgi, 
Gobbo, Grandi, Gregorini, Grossi, 
Guzzoni, Jacomelli, Lati, Lazzarotto, 
Lucca, Lunardeli, Madalozzo, 
Manfredini, Manosso, 
Marchioratto, Marconsin, Marcon, 
Mazza, Meduna, Menegazzo, 
Meneghetti, Menin, Miranda, Mori, 
Moro, Moreschi, Muraro, 
Nadalin, Nori, Olivetti, Orlandi, 
Orreda, Panzolini, Pasquini, 
Pedinato, Pietrobom, Pilatti, 
Piazza, Poletto, Pontoni, Possiedi, 
Possiedi, Ramagnolli, Ramina, 
Robassa, Roncaglio, Rossi, 
Salvare, Santi, Sanson, 
Savio, Scarante, Scarpin, Scorzin, Scremin, Semionatto, Sguário, Simeão, 
Simon, Sperandio, Stocco, Stocchero, Strapasson, Sundin, Talamini, Tessari, 
Tozetto, Todeschini, Trevisan, Trombini, Tramontini, Triacchini, Túllio, Turin, Valério, Valenti, Valenza, Vardanega, Vicentini, Volpato, Zalton, Zampieri, Zanardi, Zanardini, Zanella, Zanetti, Zanier, Zanon, Zem, Zilli, Zortea 
e muitos outros




Alguns Nomes de Imigrantes e Cidades de Proveniência na Itália 


Angelo Ciscata, de Belluno
Angelo de Rocco, de Belluno
André Buzetti, de Treviso
André Simon, de Treviso
Antonio Chierigatti, de Mantova
Antonio Consentino, de Cosenza
Antonio de Bona, de Belluno
Antonio Dalcucchi, de Mantova
Antonio Fruscolin, de Belluno
Antonio Orreda, de Treviso
Antonio Pedinato, de Vicenza
Antonio Robassa, de Treviso
Benjamim Zilli, de Treviso
Battista Citti, de Belluno
Bortolo Foltran, de Treviso
Domingos Dall' Negro, de Treviso
Francisco Filipetti, de Treviso
Giuseppe Gnatta, de Vicenza
José Dal' Col, de Treviso
José Fabris, de Vicenza
José Sanson, de Treviso
Júlio Vila Nova, de Belluno
Luiz de Fiori, de Belluno
Luiz Tonetti, de Treviso
Marcos Tosetto, de Vicenza
Marcelino Meduna, de Treviso
Pedro Callegari, de Treviso
Pio Manosso, de Vicenza
Vicente Bettega, de Treviso







segunda-feira, 17 de abril de 2023

Colônia Alessandra: A História da Imigração Italiana no Paraná

Estação Ferroviária de Alexandra



A Colônia Alessandra, a primeira do gênero criada em solo paranaense, foi fundada no dia 14 de fevereiro de 1872, após intermediação do controvertido empresário italiano Savino A. Tripoti, nascido em 184o, na província de Teramo. Proprietário das terras e dono da concessão de colonização da área, Tripoti pretendia trazer, no decorrer de alguns anos, milhares de agricultores italianos para a província do Paraná. Foi somente a partir de 1877 que ela mudou de nome passando a ser chamada de Colônia Alexandra. No ano de 1875, com o veleiro Anna Pizzorno e o vapor Liguria, chegaram os primeiros imigrantes italianos, pouco mais de trezentas pessoas, provenientes das províncias de Teramo, na região de Abruzzo, de Caserta, na Campania e de Potenza, na Basilicata. Uma vez desembarcados no porto de Paranaguá, foram alojados na Casa da Imigração, recebendo sua primeira alimentação em terra, ocasião quando alguns tiveram uma grande decepção pelo tipo de alimentos que eram consumidos no país, especialmente a sem sabor farinha de mandioca tão consumida pelos brasileiros, ainda desconhecida para eles, que desapontados confundiram com o queijo ralado. Da Casa da Imigração, eram levados à Colônia Alessandra, com as despesas de hospedagem e transporte correndo por conta do governo da província. Ao chegarem no local onde se situavam os seus lotes, os colonos perceberam de imediato que aquela terra não era o que sempre tanto tinham sonhado. Muitos dos lotes ficavam em lugares praticamente inabitáveis, com os terrenos posicionados em áreas alagadiças, arenosas ou muito pedregosas, localizados em uma zona isolada e afastada dos centros mais povoados, como Morretes e Paranaguá, o que causou um grande desânimo em todos os recém chegados. Não tinham o menor conhecimento prévio do clima que encontrariam, com ar abafado, muito quente e úmido, típicos de zonas do litoral cercadas por montanhas. Chamou atenção de todos a grande quantidade de incômodos insetos que infestavam o lugar, além da presença de animais selvagens que não conheciam e cujos gritos e rugidos muito os amedrontava. Não viam por onde pudessem começar a implantar uma agricultura rentável naquele lugar. Ficaram esmorecidos e isso também influiu negativamente no futuro sucesso econômico da colônia. Os primeiros casos de doenças graves como a malária logo começaram a aparecer em vários pontos da colônia. A falta de assistência médica ficou rapidamente evidente e os poucos médicos disponíveis estavam nas cidades vizinhas mas, segundo eles, cobravam muito caro pelos atendimentos e assim eram pouco procurados pelos imigrantes. Recorriam freqüentemente aos charlatães e curandeiros que gozavam de grande prestígio entre a população brasileira nativa, pessoas ignorantes e também, como os italianos, bastante supersticiosas. Casos de frequentes deserções e desavenças entre o empresário e alguns colonos, assim como os desentendimentos constantes, com as autoridades provinciais, foram se acirrando. A chegada de novos contingentes de imigrantes italianos era intensa e por essa época mais 870 colonos, provenientes da Lombardia, Tirol e do Piemonte, chegaram ao porto de Paranaguá, trazidos pelo mesmo empresário e que também tinham como destino final a Colônia Alessandra, o que agravaria as condições já deficientes desta colônia. Tripoti dizendo que estava sem recursos até para manter os antigos colonos, abandonou-os declarando que não tinha meios sequer para entregar os primeiros suprimentos. Por sua vez os imigrantes recém chegados alegaram que tinham sido ludibriados pelo empresário e ao saberem da situação de penúria, que estavam passando os colonos já moradores na colônia, não quiseram de forma alguma ser assentados naquele lugar sem futuro. Apresentaram reclamações junto à direção da colônia e também às autoridades provinciais exigindo a transferência de Alexandra para a recém criada Colônia Nova Itália, localizada em Morretes. Caso não fossem atendidos pretendiam a recisão dos contratos firmados com os empresários e as autoridades do império. Segundo alguns historiadores, como a prestigiada escritora paranaense Altiva P. Balhana, que diz: "o empresário Savino Tripoti não se interessou nem pelos colonos, nem pela colonização. Seu objetivo era apenas atrair o maior número de imigrantes para assim poder usufruir maiores ganhos". Por sua vez, a pesquisadora e escritora Jussara Cavanha, revela o contrário em seu livro intitulado "Colônia Alessandra" onde diz: "o empresário Savino Tripoti era uma pessoa preparada para implantar e gerir colônias agrícolas" e continuando baseia essa afirmativa em documentos preservados que provam "que produtos obtidos na Colônia Alessandra receberam diplomas especiais de honra na Feira Mundial da Philadelphia em 1876". Ainda de acordo com as suas pesquisas: "Tripoti se empenhou para construir um projeto viável, mas, que sucumbiu por motivos alheios à sua vontade". Com a situação dos colonos de Alexandra se agravando a cada dia e a chegada e um novo grande grupo de imigrantes, o então presidente da província do Paraná, Adolfo Lamenha Lins, por motivos políticos ou mesmo econômicos da província, talvez ainda por ter percebido o rumo que estava sendo dado ao empreendimento, por decreto assinado em 1877, rescindiu o contrato realizado e confiscou as terras do empresário, que acabou extraditado para a Itália, vindo a falecer poucos anos depois. Mas o descontentamento ainda continuou reinando na colônia de Nova Itália, para onde foi transferida a maior parte dos imigrantes de Alexandra, com muitos colonos em situação de miséria, iniciando uma nova debandada. Nesse meio tempo as autoridades provinciais providenciavam a aquisição de terrenos em torno de Curitiba para a formação de novas colônias.


Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS