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quarta-feira, 20 de março de 2024

Família de Francesco Piazzetta: Uma História de Superação e Perseverança

Igreja Sagrado Coração de Jesus (Água Verde) em 1910


Francesco Piazzetta, nascido em Pederobba, filho de Giuseppe Piazzetta e Caterina Franco, viúvo há três anos de Maria Augusta Verri, natural da cidade vizinha de Segusino, com a ajuda de seus cinco filhos, se preparou durante meses para a grande mudança que os levaria ao Novo Mundo. Vendeu a antiga casa de dois andares na "contrada Ghetto" em Pederobba, onde a família vivia, e todos os seus poucos bens, conseguindo juntar uma pequena economia que seria usada para iniciar a vida na nova pátria. Foi à prefeitura e obteve os passaportes para todos poderem deixar o país. Comprou passagens para o navio Adria, que partiria de Gênova no mês de dezembro, e se despediu dos amigos e da família que ficaram para trás. No último mês de 1890, Francesco Piazzetta, aos 51 anos de idade, nascido em 1839 em Fener, no município vizinho de Alano di Piave, província de Belluno, finalmente deixou a Itália e emigrou para o Brasil com seus quatro filhos - Giovanni Battista, Noè, Colomba e Augusta. A filha mais velha, Giovanna Antonia (Piazzetta) Viviani, ficaria para trás, pois já era casada e tinha sua própria família. No entanto, eles não sabiam que nunca mais veriam a querida Giovanella, como era chamada na família. Ela, junto com sua família, alguns anos depois também teve que partir em emigração e escolheu a França como destino. A jornada de Francesco Piazzetta, aos 51 anos de idade, e de seus quatro filhos menores, todos nascidos em Pederobba, Giovanni Battista, Noè, Colomba e Augusta, para o Brasil, começou na estação ferroviária de Cornuda, uma pequena cidade situada na região do Veneto, na Itália, a cerca de 8 km de Pederobba e ainda percorrida pela ferrovia que leva trens de Belluno. Eles partiram com antecedência e a pé, em uma tarde úmida e fria do início de dezembro, cada um levando consigo uma mala com roupas e alguns pequenos sacos de mantimentos preparados em casa para enfrentar a longa viagem de trem. Francesco e seus filhos chegaram à estação ferroviária em silêncio durante todo o percurso, muito preocupados e nervosos, mas cheios de expectativas, ansiosos para embarcar em sua jornada para o porto de Gênova. Apesar da preocupação com o desconhecido, Francesco estava entusiasmado com a ideia de deixar a Itália e começar uma nova vida em um país estrangeiro, mas ao mesmo tempo todos estavam muito tristes por deixar sua terra natal e as pessoas que amavam. A estação ferroviária de Cornuda era muito pequena, assim como a cidade em si, pouco movimentada naquela hora do dia, com uma ampla plataforma bem construída de onde os passageiros embarcavam nos trens. Francesco e seus filhos se sentaram em um banco de madeira na sala de espera espartana, esperando a chegada do trem que os levaria a Gênova e observando as poucas pessoas ao seu redor, muitas das quais conhecidas, emigrantes como eles. Alguns pareciam nervosos com a viagem e a separação, enquanto outros pareciam calmos e pensativos, aguardando sua vez. Finalmente, pouco depois das oito horas da noite, o trem chegou pontualmente e eles puderam embarcar no vagão que os levaria a Gênova. Encontraram seus lugares e se acomodaram, observando pelas janelas as paisagens que passavam. O trem passou por Ferrara, Bolonha, onde fez uma parada mais longa, seguindo então para Modena e Parma. Durante o trajeto, conseguiram ver apenas brevemente os vilarejos, as cidades e os campos verdes, com poucas folhas amarelas restantes devido à chegada do inverno. Esta era a primeira viagem deles de trem e nunca tinham estado tão longe de casa. Durante a viagem, conversaram um pouco, com o pai explicando aos filhos suas expectativas para a nova vida no Brasil e compartilharam suas preocupações e medos. Francesco explicou aos seus filhos que a viagem seria difícil, especialmente a de navio, através da imensidão do oceano, que nenhum deles conhecia, mas que eles deveriam ser fortes e corajosos. Ele também disse que a vida no Brasil seria muito diferente da vida na Itália, mas que eles se adaptariam em breve e teriam sucesso. Dormiram pouco, mal acomodados em assentos desconfortáveis da classe econômica. Após treze horas de viagem, o trem finalmente chegou à estação ferroviária de Gênova, fazendo muito barulho enquanto parava para permitir que mais passageiros embarcassem, quase sempre famílias de emigrantes como eles, que estavam deixando a Itália. Pensaram que talvez alguns deles tivessem o mesmo destino e viajariam no mesmo navio. Francesco e seus filhos desceram do trem entre o barulho e a agitação da cidade portuária naquela manhã cedo. O porto era enorme, com barcos e grandes navios ancorados em todas as direções. Eles procuraram e avistaram imediatamente o navio Adria, que não era um dos maiores, que os levaria ao Brasil, e sentiram imediatamente uma mistura de emoções. Curiosamente, caminharam pelo porto, observando dezenas de estivadores com seus carrinhos se movendo rapidamente, transportando grandes caixas de mercadorias. O Adria já estava atracado no cais e ouviram os gritos dos marinheiros que se preparavam para a viagem. Quando chegou a hora da partida no final da tarde, eles finalmente se dirigiram ao portão de embarque do navio que os levaria ao Novo Mundo e, com determinação, depois de entregar suas bagagens, passagens e passaportes, verificados tanto pelos funcionários do porto quanto pelos da companhia de navegação, subiram pela longa escada inclinada, sustentada por cordas grossas, ao lado do navio, e embarcaram sem muitos problemas. Os alojamentos eram bastante pequenos, com corredores estreitos, e eles teriam que compartilhar a cabine com outros passageiros, sem muita privacidade, mas ainda assim estavam felizes por estarem a bordo, ansiosos para começar a grande aventura. A viagem pelo mar seria longa e desafiadora, mas estavam determinados a alcançar o tão sonhado destino, o Brasil. Com um longo e grave apito, o Adria começou a se afastar lentamente do cais e gradualmente viram a costa italiana desaparecer no horizonte, provocando um frio na barriga. A cada dia, eles se aproximavam mais do Novo Mundo e das oportunidades que ele oferecia. Finalmente, após algumas semanas no mar, sem incidentes, eles chegaram ao porto do Rio de Janeiro, no Brasil. Desembarcaram e foram recebidos pelos funcionários do porto e levados ao Albergue dos Imigrantes, onde, após exame médico de rotina, foram acomodados aguardando o próximo pequeno barco que os levaria ao destino escolhido, o porto de Paranaguá no estado do Paraná. Depois de alguns dias de espera, finalmente receberam o aviso de embarque, desta vez em um pequeno barco chamado Rio Negro, que os levaria, junto com centenas de outros imigrantes italianos, de Rio de Janeiro a Paranaguá, mas o barco continuaria a viagem até Rio Grande do Sul. Eles haviam deixado a Itália, um país com sérios problemas econômicos, em busca de uma vida melhor no Brasil, e esperavam que essa nova terra lhes oferecesse novas oportunidades. De Paranaguá, seguiram para Curitiba, percorrendo a subida da Serra do Mar até Curitiba, ao longo do espetacular percurso ferroviário inaugurado apenas cinco anos antes. Foi uma viagem de algumas horas, com duas ou três paradas, cheia de paisagens deslumbrantes de uma floresta tropical intocada, com várias pontes de ferro e abismos profundos, já que Curitiba está a quase 1000 metros acima do nível do mar. Na capital do Paraná, com as economias trazidas da Itália, arrecadadas com a venda da casa e de alguns outros bens, Francesco comprou um terreno com uma pequena casa de madeira, na ainda nova colônia Dantas, onde já moravam desde o seu estabelecimento, apenas dois anos antes, várias outras famílias de imigrantes provenientes da região do Veneto como eles, algumas até conhecidas e parentes. Ele esperava que seus filhos pudessem ter acesso à educação e que ele pudesse encontrar trabalho como carpinteiro, o que garantiria uma vida mais confortável. Francesco estava determinado a construir uma nova vida na cidade e quando chegaram à Colônia Dantas, ficaram surpresos com o clima fantástico e com o progresso da capital paranaense. Era realmente um Novo Mundo, o que Francesco sempre sonhara. A cidade era rica e organizada, bem desenvolvida para a época, com muitos recursos e oportunidades de trabalho. Com o tempo, Francesco e seus filhos se adaptaram à vida na Colônia Dantas, que progredia rapidamente e, devido à proximidade com a capital, estava se tornando cada vez mais um bairro populoso, como de fato aconteceu alguns anos depois, quando foi chamada de Água Verde. Rapidamente fizeram amizade com outras famílias italianas residentes na área e se estabeleceram definitivamente na comunidade, participando ativamente de eventos sociais e atividades comunitárias locais, como a construção da nova igreja. Francesco, habilidoso carpinteiro e entalhador, logo encontrou trabalho, abrindo uma pequena oficina com o filho mais velho, enquanto os mais jovens começavam a frequentar a escola. Embora a vida ainda reservasse grandes desafios, Francesco e seus filhos estavam felizes por terem tomado a decisão de emigrar para o Brasil. Sentiam que lá tinham muitas mais oportunidades, que estavam no caminho certo para uma vida melhor neste grande país. Francesco Piazzetta faleceu em 30 de novembro de 1922, em Curitiba, aos 83 anos de idade, deixando os quatro filhos, todos já casados, e também vários netos. 

quarta-feira, 13 de março de 2024

A Jornada de Rosalia: da Sicília ao Brasil - Uma História de Luta e Superação



Rosalia já era uma senhora na casa dos sessenta anos quando seu genro, Donato, casado com sua filha caçula, Giuditta, resolveu emigrar, seguindo o destino dos milhares de outros camponeses por todo o país. Na casa da última filha, tinha encontrado abrigo logo após a morte prematura do marido em um acidente de trabalho cinco anos antes. A Itália ainda era um país muito novo, recém-unificado no agora chamado Reino da Itália, e passava por sérias dificuldades econômicas. O Sul, onde viviam, foi assolado por vários anos de guerras e convulsões sociais, não sendo mais um lugar adequado para criar uma família. A falta de trabalho, o subemprego e a fome já rondavam muitos lares da pequena vila no interior da Sicília. Donato e Giuditta, casados há cerca de doze anos, tinham seis filhos, todos com idades abaixo de onze anos. Rosalia e seu falecido marido Giacomo, por sua vez, haviam tido quatro filhas, todas agora casadas e morando nos Estados Unidos para onde tinham emigrado alguns anos antes. Estavam distantes uma das outras, em cidades diferentes. Rosalia mantinha contato regular com elas através de cartas e sabia que todas estavam bem, que tinham inúmeros filhos, todos saudáveis e alguns já frequentando as escolas americanas.
Rosalia estava enraizada na sua pequena vila, onde era conhecida e estimada por todos, mas agora estava sem outra opção senão seguir a filha mais nova para o Brasil, destino escolhido pelo casal, para ajudá-la a cuidar dos seis netos. O genro e a filha haviam sido contratados, assim como centenas de outras famílias compatriotas, para trabalhar em uma grande fazenda de café no interior de São Paulo, na região de Ribeirão Preto. Depois de muitos dias de viagem de navio, chegaram ao porto de Santos e dali até um local de Ribeirão Preto, não muito distante da fazenda, o trajeto até ali foi feito de trem. A grande plantação de café pertencia a um único proprietário, o qual tinha o título de Barão e, na época da escravidão, havia tido mais de seiscentos escravos. Foi justamente para uma casa bastante humilde desses antigos trabalhadores que a família de Rosalia foi alojada. Na verdade, era um velho casebre, cujo piso de terra batida e paredes de barro delimitavam quatro pequenos aposentos com janelas. Alguns móveis toscos completavam a mobília. Apesar de serem pobres na Itália, o que encontraram naquela fazenda deixou todos muito desanimados. Perceberam que tinham deixado de trabalhar para um dono de terras na Itália para depender de outro patrão em outro país. O marido de Giuditta havia assinado um contrato de trabalho de quatro anos, para ter direito à passagem gratuita e a todos os traslados da Itália até a fazenda. Esse contrato, que incluía todos os membros da família, explicitava que eles ficariam responsáveis pelos cuidados de limpeza de mil pés de café, deviam também ajudar na colheita e transporte dos grãos de café até os grandes terreiros de secagem. Tinham permissão para cultivar uma pequena horta e criar alguns animais pequenos em volta da casa. Eram acordados bem cedo todas as manhãs, com o som de um grande sino que ficava não longe da casa de um dos capatazes. Deviam se dirigir a pé por alguns quilômetros, subindo e descendo ladeiras no meio de longas filas de cafeeiros, até o local onde, às seis horas, iniciavam o trabalho. O almoço e as vezes a água deviam levar de casa. Tinham uma breve pausa de meia hora para fazer a refeição à sombra de algum pé de café. Como a fazenda ficava longe de qualquer cidade, o proprietário mantinha um grande armazém para suprir seus empregados. Geralmente, o preço cobrado era muito mais alto do que os praticados no comércio das cidades. Quando chegavam os dias de pagamento, os imigrantes percebiam que haviam muitos descontos com a diminuição nos valores que deviam receber. Somando a precariedade das instalações onde foram alocados, este procedimento desagradou muito a todos eles, mas, presos a um contrato que só favorecia o patrão, não podiam abandonar a propriedade. Um imigrante só podia deixar a fazenda após o período combinado de quatro anos e ainda após quitar todas as dívidas contraídas com o patrão, sob pena de ter que ressarcir o fazendeiro de todas as despesas de viagem da família, o que para eles era impossível. A essas despesas, muitas vezes, eram somados gastos com médicos, remédios ou internações hospitalares, que o fazendeiro pagava e depois descontava dos seus empregados. Donato e Giuditta compravam no armazém da fazenda somente o estritamente necessário e faziam todo esforço possível para não contraírem dívidas, a fim de um dia poderem deixar a fazenda, mas isso ainda estava longe de acontecer.
Rosalia, em sua juventude, havia aprendido com sua avó paterna, uma reconhecida curandeira, a arte de tratar doenças e ferimentos usando chás, poções e emplastros de ervas recolhidas da natureza. Também com sua avó, aprendeu a arte de "arrumar ossos" e também trazer ao mundo os bebês, não só da sua vila, mas também daquelas mais próximas. Ela tinha o dom natural de curar enfermos com suas ervas e isso pôde demonstrar centenas de vezes nos anos em que morou na fazenda. Muitos imigrantes moradores na grande propriedade recorriam à velha Rosalia para curar seus males, aliviar seus sofrimentos, costurar seus ferimentos ou mesmo reduzir suas fraturas. Ela via nessa sua atividade uma espécie de sacerdócio provido por Deus e, por isso, nunca cobrava pelos seus trabalhos, mas aceitava doações e presentes dos seus pacientes, o que constituía uma verdadeira fonte de recursos para a família. Na fazenda ainda morava morava uma antiga escrava, que sempre tinha exercido este trabalho de curandeira, porém, agora, com quase cem anos de idade, doente sem poder enxergar direito e não podendo mais caminhar, não tinha mais condições de tratar ninguém.  Rosalia, nas suas poucas horas vagas, a visitava com frequência e com ela foi aprendendo a reconhecer as centenas de ervas brasileiras, as suas propriedades e indicações terapêuticas, agregando ao conhecimento que ela tinha trazido da Itália. A jovem esposa de um dos capatazes, que também compreendia bastante de italiano, servia de intérprete entre Rosalia e a velha curandeira.
Aos poucos, a família foi economizando e guardando todo o dinheiro que conseguiam ganhar para a tão sonhada liberdade. Nos domingos após a missa na capela da fazenda, e também quando conseguiam alguma folga, iam a pé até a então pequena cidade de Ribeirão Preto, a mais próxima da fazenda. Nessas visitas, fizeram vários amigos na localidade, imigrantes como eles, que os ajudaram com muitas informações valiosas. Além de comprarem por melhor preço as coisas que faltavam, evitando o armazém da fazenda, aproveitavam para sondar os preços dos terrenos que estavam à venda, especialmente aqueles maiores e um pouco mais afastados do centro. Foi assim que, um dia, quando já haviam se passado quatro anos desde a chegada na fazenda, Rosalia, que sabia ler e escrever, muito comunicativa e astuta, ficou sabendo através de uma amiga, que também se tratava com ela, de um negócio de ocasião, uma pequena chácara com ótima casa e belo arvoredo, não muito afastada do centro da cidade. O proprietário, um imigrante italiano, estava querendo vender para voltar para a Itália, pois sua esposa não aguentava mais ficar no Brasil longe de seus familiares. O preço e as condições de pagamento eram bastante convidativos e cabiam perfeitamente dentro das economias da família. Donato e Giuditta ao saberem não perderam tempo, solicitaram a permissão de se ausentar por um dia da fazenda, o que não foi negado pelo capataz, desde que fosse descontado do pagamento. Foram até Ribeirão Preto e fecharam a compra da chácara, pagando quase todo o valor em dinheiro vivo e o restante em duas prestações. Depois de dois meses, em uma manhã ensolarada, deixaram definitivamente a fazenda após se despedirem dos amigos e do capataz geral.
Estabeleceram-se em Ribeirão Preto e a primeira providência de Donato foi arrumar um trabalho que pudesse garantir o sustento da família. Analfabeto, encontrou um emprego condizente nas turmas de reparo da rede ferroviária, com possibilidades de melhorias de posto e vencimentos com o passar dos anos. Com alegria, aceitou a oportunidade e trabalhou a vida toda na rede ferroviária, no final alcançando o posto de chefe geral das turmas de manutenção. Giuditta, desde menina hábil costureira e uma das filhas mais velhas, abriu um salão de costuras e reparos na própria casa. Com o tempo, a freguesia foi aumentando e o nome de Giuditta e sua filha Maria Augusta tornaram-se sinônimos de boa costura em Ribeirão Preto, costurando para a alta sociedade local. Rosalia continuou com seu trabalho de parteira e de curar os enfermos, se tornou uma afamada curandeira e arrumadora de ossos, muito requisitada pelos membros da grande colônia italiana da região, mas não só, inclusive jogadores de times de futebol a procuravam com frequência. Com seu trabalho sério chegou a atrair até a alta sociedade local que a procurava em massa. Quando nona Rosalia, como era conhecida, faleceu, já com quase noventa anos, teve um dos maiores funerais vistos em Ribeirão Preto. Em vida, entre vária honrarias, recebeu o título de cidadã honorária. Após a morte seu nome foi dado para uma das ruas da cidade e para uma pequena praça, próxima à casa onde viveu, na qual foi erguido um belo busto de bronze, que a retrata com perfeição, uma homenagem da municipalidade pelos importantes serviços prestados. Seu túmulo logo tornou-se local de peregrinação durante todo o ano e, por ocasião de Finados, fica até hoje repleto de flores e velas, recebendo uma verdadeira multidão de admiradores que formam longas filas para homenagea-la com uma oração.


terça-feira, 19 de dezembro de 2023

Pelas Ondas do Providence: A Odisséia de uma Vida


 


Nas áridas terras da localidade de Sferro, município de Paternò, na Sicília, no movimentado ano de 1893, Chiara Bottari viu pela primeira vez a luz do sol. Contudo, seu vilarejo estava impregnado pela sombra da emigração, um fenômeno que marcava profundamente a vida daquela pequena comunidade. As belas colinas foram o cenário de uma infância simples, no seio de uma família humilde de agricultores, proprietários de um pequeno terreno, com pouco menos de um hectare, mas o destino de Chiara estava predestinado a ser tecido em terras além-mar.
Aos 19 anos, solteira e sem uma profissão definida, Chiara sentiu a chamada de seus parentes na América. Foi um convite de uma tia que desencadeou uma reviravolta em sua vida. Ao lado de sua irmã mais velha, Emma, ela decidiu trilhar a estrada da incerteza, embarcando em uma jornada que começou com uma viagem de trem até Nápoles, o movimentado porto de mar do sul da Itália.
O dia 30 de maio de 1913 marcou o início da epopeia das duas irmãs Chiara e Emma. A bordo do navio a vapor Providence, rumavam para Nova York, apresentando-se na entrevista do controle de imigração em Long Island, como duas donas de casa que tinham como destino final a ensolarada Califórnia, do outro lado do país. Emma, irmã de Chiara, conseguiu os bilhetes da viagem enviados pelo marido que já trabalhava nos Estados Unidos, enquanto as passagens de Chiara foram pagas com o dinheiro que sua mãe lhe deu, o qual era o pouco que a família possuía.
O navio não era apenas um meio de transporte para a América; era um elo que unia diversas almas oriundas da mesma província, todas com destino a San Francisco. Lá, vários parentes próximos e amigos esperavam inseri-las no complexo tecido da metrópole californiana.
A vivência americana de Chiara desdobrou-se em um trecho pequeno da Califórnia, entre San Francisco e as áreas rurais circundantes, notórias por suas vastas plantações de frutas. Durante todos esses anos, Chiara desempenhou o papel de supervisora em uma fazenda de pomares, gerenciando a colheita e coordenando a equipe de trabalhadores sazonais. Seu empenho incansável, seja sob o sol escaldante ou durante as épocas de colheita intensa, foi fundamental para angariar cada tostão necessário na construção da vida que ela almejava. Ela desempenhou diferentes funções, juntando cada tostão com suor e sacrifício. No entanto, o emprego estável e o matrimônio pareciam esquivos. O destino, por vezes, reserva caminhos inesperados.
No ano de 1922, com quase 30 anos de idade, Chiara tomou uma decisão audaciosa. Convencida de que seu futuro não encontrava morada na América, despediu-se dos parentes e amigos e embarcou de volta para a Itália. 
Voltando à terra natal, Chiara Bottari uniu-se em matrimônio a um morador local e, com as economias cuidadosamente juntadas, ergueu um lar, entrelaçando assim sua existência com a comunidade que a testemunhou crescer. Dessa união floresceu a dádiva do primeiro filho, Domenico, o primogênito entre os quatro que vieram a compor a família.
A vida de Chiara Bottari atravessou décadas, culminando em seu derradeiro capítulo em 1968. Ela repousa agora no pequeno cemitério de sua cidade natal, junto aos seus pais. Um capítulo escrito com as cores da perseverança e as sombras da incerteza, revelando que, mesmo quando as estradas da vida nos levam além-mar, o coração muitas vezes nos guia de volta ao lugar que chamamos de lar.




quinta-feira, 2 de novembro de 2023

Destinos Entrelaçados: A Jornada da Emigração



 

Destinos Entrelaçados: A Jornada da Emigração




No silêncio das partidas, nas lágrimas contidas, 
Ecos da emigração, histórias compartilhadas. 
Destinos entrelaçados, memórias enterradas, 
No cerne da saudade, nas almas divididas.

De terras longínquas, à procura de novos céus, 
Partem os sonhadores, com coragem e anseio, 
Deixando para trás lares, risos e enseio, 
Em busca de horizontes onde reinventar os seus.

No abraço da incerteza, do idioma e da cultura, 
O emigrante se forja, na força e na ternura, 
No coração, a pátria, como estrela-guia segura.

Em cada esquina, uma esquina da pátria esquecida, 
Em cada prato, um sabor da terra nascida, 
A emigração, um poema épico de vida costurada, 
Onde herança e esperança, na diáspora, são tecidas.



sexta-feira, 29 de setembro de 2023

Desafios e Superações: A Vida dos Imigrantes Pioneiros nas Florestas do Rio Grande Do Sul

 

Rua central da colônia Caxias na década de 1890


Durante o século XIX, muitos italianos deixaram sua terra natal em busca de uma vida melhor no Brasil. Esses pioneiros imigrantes enfrentaram grandes desafios ao chegar no país e foram abandonados no meio da mata do Rio Grande do Sul, tendo que construir suas próprias casas e plantar suas próprias colheitas para sobreviver.
A vida dos imigrantes italianos nos primeiros anos no Brasil era extremamente difícil. Eles não tinham muita experiência de alguns cultivos que podiam se praticar no sul do Brasil e não estavam acostumados ao clima e ao solo do Rio Grande do Sul. Muitos tiveram que aprender a plantar, cultivar e colher sozinhos, sem a ajuda de especialistas. Muitas vezes aprenderam com  os negros, índios e caboclos que moravam na mata entorno da colônia. A terra tinha uma vegetação exuberante com grossas árvores que precisavam ser abatidas e queimadas para fazer lugar para as plantações, além de ter que lidar com animais peçonhentos desconhecidos, como as cobras, os insetos e outros animais selvagens.
Os imigrantes italianos produziam principalmente alimentos básicos, como trigo, feijão, milho e batatas, além de criar gado, suínos e outros animais para sustento próprio. Logo que puderam, depois de passados alguns anos da chegada, começaram também a produzir vinho, queijos e outros produtos derivados do leite. A produção era em pequena escala, principalmente para consumo próprio, e pouca parte era destinada para venda, mas nem sempre os mercados consumidores estavam próximos.
A falta de médicos era um grande problema nos primeiros anos daqueles imigrantes no Brasil. A maioria das doenças eram tratadas com remédios caseiros, feitos com plantas e ervas encontradas na região. Alguns dos remédios caseiros incluíam chás de ervas para dor de cabeça, febre e problemas digestivos. Além disso, a prática de cuidar de si mesmo e da família era muito comum, muitas vezes passando de geração em geração. Alguns imigrantes já traziam de casa na Itália o dom de curar doenças, fraturas e fazer partos. Eram os chamados curandeiros, os arrumadores de ossos, denominados  giustaossi na língua italiana e as parteiras, conhecidas como comare.
A religião era uma parte muito importante da vida dos imigrantes italianos e, embora não houvesse padres nos primeiros anos, eles mantiveram sua fé. Realizavam parte de ofícios religiosos  em casa, rezavam o rosário e a leitura da Bíblia e a oração eram práticas diárias. Quando os padres chegaram, eles se estabeleceram em pequenas igrejas construídas pelos próprios imigrantes, e a religião católica tornou-se uma parte importante da vida da comunidade.
A vida dos imigrantes italianos não era fácil, mas eles perseveraram e se adaptaram à sua nova vida no Brasil. Com o tempo, começaram a prosperar, construíram novas casas e ampliaram suas plantações e criações. Hoje, a cultura italiana contínua sendo muito importante no Rio Grande do Sul, e os descendentes desses imigrantes italianos ainda mantêm as tradições e costumes de seus antepassados.
Com o passar do tempo, os imigrantes italianos começaram a construir pequenas comunidades em volta de suas plantações e criações. Essas comunidades eram compostas principalmente por outros imigrantes italianos e suas famílias, mas também havia outros europeus e brasileiros que se juntaram a eles.
À medida que a comunidade crescia, os imigrantes italianos começaram a estabelecer escolas, igrejas e outros serviços públicos. As escolas eram muito importantes para eles, que valorizavam muito a educação. Muitas vezes, eles próprios se tornavam professores, ensinando a seus filhos e outros membros da comunidade.
A igreja também era uma parte importante da vida dos imigrantes italianos. Eles construíram pequenas igrejas de madeira ou pedra, decoradas com imagens religiosas e objetos sagrados. A missa era celebrada regularmente e os imigrantes italianos frequentavam a igreja em grande número, cantando hinos e participando de outras cerimônias religiosas.
Embora a religião católica tenha sido a principal religião dos imigrantes italianos, mais tarde havia também aqueles que pertenciam a outras religiões, como o protestantismo. Eles se reuniam em pequenos grupos para orar e estudar a Bíblia, muitas vezes construindo suas próprias igrejas.
A vida dos imigrantes italianos no Brasil também era influenciada pela política. Muitos dos imigrantes italianos eram socialistas e lutavam por melhores condições de trabalho e vida. Eles organizaram sindicatos e greves, exigindo melhores salários e direitos trabalhistas. Muitos imigrantes italianos também se envolveram na política local, apoiando candidatos que prometiam melhorias para a comunidade.
A culinária italiana também se tornou uma parte importante da cultura do Rio Grande do Sul. Os imigrantes italianos trouxeram consigo suas próprias receitas e práticas culinárias, que foram adaptadas com os ingredientes locais. Pratos como massa, pizza, polenta, risoto e outros pratos italianos se tornaram populares entre a população local, e muitos restaurantes e pizzarias foram abertos para atender à demanda.
Hoje, a cultura italiana continua a ser uma parte importante da cultura gaúcha, e muitas cidades têm festivais italianos anuais. Os descendentes dos primeiros imigrantes ainda mantêm as tradições e costumes de seus antepassados, incluindo a religião, a culinária e a língua italiana.
Em resumo, a vida dos pioneiros imigrantes italianos no Brasil foi marcada por grandes desafios e dificuldades, incluindo a falta de conhecimento na agricultura praticada no sul do país, a falta de médicos e a falta de padres nos primeiros anos. No entanto, esses imigrantes perseveraram e se adaptaram à sua nova vida no Brasil, construindo comunidades, escolas e igrejas. A cultura italiana se tornou uma parte importante da cultura do Rio Grande do Sul e os descendentes dos imigrantes italianos ainda mantêm as tradições e costumes de seus antepassados.



domingo, 30 de julho de 2023

Da Itália ao Brasil: A História de Francesco e Maria - Uma Jornada de Esperança e Superação


 


Da Itália ao Brasil: A História de Francesco e Maria - Uma Jornada de Esperança e Superação


Era o final do século XIX, uma época de grandes transformações e esperanças para muitas pessoas ao redor do mundo. Em uma pequena aldeia no norte da Itália, vivia um casal de jovens apaixonados, Francesco e Maria, que sonhavam com uma vida melhor do outro lado do oceano. A pobreza e as dificuldades da vida no campo os impulsionavam a buscar novas oportunidades em terras distantes. Com coragem e determinação, Francesco e Maria decidiram embarcar em uma longa travessia pelo Atlântico rumo ao Brasil. A viagem foi árdua e desafiadora, com dias intermináveis de mar revolto e incertezas sobre o futuro. No entanto, a esperança de uma vida melhor os mantinha firmes em seu propósito.
Após semanas de viagem, finalmente avistaram a terra à distância. Era o Brasil, o país que lhes prometia uma nova chance. Desembarcaram em Porto Alegre e, com poucas posses e muitos sonhos, partiram em direção à Colônia Dona Isabel, no Rio Grande do Sul. A chegada à colônia foi um misto de deslumbramento e desafios. A paisagem verdejante e as vastas terras férteis pareciam prometer um futuro próspero. No entanto, a adaptação à nova cultura e a língua desconhecida se mostraram grandes obstáculos. Francesco e Maria encontraram abrigo em uma pequena choupana de madeira e começaram a trabalhar na plantação de trigo de um colonizador local. Os dias eram longos e árduos, com o sol escaldante castigando suas costas e a terra seca exigindo esforço redobrado. Mas eles não desistiram. A cada novo amanhecer, renovavam sua determinação em construir uma vida melhor para si e para as gerações futuras.
Com o passar dos anos, Francesco e Maria prosperaram. Suas lavouras se expandiram, eles construíram uma casa de alvenaria e tiveram filhos. A colônia Dona Isabel se transformou em um pequeno vilarejo, com uma comunidade italiana unida pelo trabalho árduo e pela solidariedade. As tradições italianas foram preservadas, com festas e celebrações que remetiam à terra natal. A comida típica, como a polenta e o vinho, eram apreciados por todos. A língua italiana era falada com orgulho e os costumes transmitidos de geração em geração. Francesco e Maria, orgulhosos de suas raízes e da vida que construíram, viram seus filhos crescerem e se tornarem parte ativa da comunidade. O legado de coragem e perseverança deixado por eles influenciou não apenas seus descendentes, mas também todos aqueles que os cercavam. 
No final do século XIX, a longa travessia do oceano e os primeiros anos na Colônia Dona Isabel no Rio Grande do Sul foram marcados por desafios, mas também por esperança e superação. Francesco e Maria, assim como tantos outros imigrantes italianos, deixaram um legado de trabalho árduo, fé e amor pela terra que escolheram chamar de lar. Sua história é um testemunho da força e da resiliência daqueles que buscam uma vida melhor para si e para seus descendentes.



de Gigi Scarsela
erechim rs




sexta-feira, 7 de julho de 2023

Além das Árvores: A Saga das Famílias Italianas nas Florestas do Rio Grande do Sul


 


Além das Árvores: 
A Saga das Famílias Italianas nas Florestas do Rio Grande do Sul



No seio da floresta tropical gaúcha, 
Onde árvores majestosas erguem-se altaneiras, 
Vive uma família de italianos bravos, 
Emigrantes corajosos, de almas inteiras.

Desbravadores destemidos, longe da pátria, 
Colocados em solo desconhecido e rústico, 
Cercados por matas densas e misteriosas, 
Em busca de um sonho, de um futuro frutífero.

Sem casas para abrigar seus sonhos e afetos, 
Eles improvisam choupanas e refúgios singelos, 
Com mãos calejadas, construindo com amor, 
No meio do verde, no calor dos anelos.

Alguns encontram abrigo no oco das árvores, 
Como ninhos acolhedores, proteção sagrada, 
Aconchegam-se em meio à natureza imponente, 
Enfrentando a saudade, a incerteza desejada.

Ainda sem colher a primeira safra abundante, 
No suor do trabalho, cultivam esperanças, 
Plantam sementes de vida, com fé e persistência, 
Buscando um horizonte de bênçãos e bonanças.

Os pinhões se tornam o alimento da alma, 
Nas refeições simples, saciam a fome ardente, 
Eles encontram na simplicidade uma força, 
Um elo com suas origens, uma dádiva presente.

Entre o silêncio da floresta, ecoam histórias, 
Lembranças de terras distantes e de amores, 
Unidos pela coragem e pela devoção, 
Essas famílias são laços fortes e protetores.

Ainda que isolados, longe de tudo conhecido, 
Seu espírito não se abate, nem desfalece, 
Pois a coragem e a união são suas armas, 
E no coração, o amor jamais perece.

Ó famílias de emigrantes italianos valentes, 
Imersas na densa floresta, tesouro oculto, 
Que a vida lhes sorria em belos horizontes, 
E que cada pinhão seja um abraço no voo.


de Gigi Scarsea
Erechim RS

segunda-feira, 3 de julho de 2023

Lágrimas da Floresta: A Dor de uma Mãe Imigrante Italiana

 




Lágrimas da Floresta: 
A Dor de uma Mãe Emigrante Italiana



Nas matas do Rio Grande do Sul, 
Uma mãe emigrante, com o coração ferido, 
Sofre a dor profunda de uma perda insuportável, 
Seu amado filho, com apenas um mês de vida.

Nascido em meio ao isolamento, sem ajuda, 
Na colônia Dona Isabel, onde foram levados, 
A falta de recursos e cuidados adequados, 
Fez com que o destino lhe fosse arrancado.

O choro do bebê se misturava ao vento da floresta, 
Enquanto a mãe, desesperada, buscava consolo, 
Entre as árvores, suas lágrimas caíam, 
Um lamento silencioso, marcado pelo desamparo.

A imensa saudade da terra distante, 
O sentimento de estar longe, sem proteção, 
Tudo se intensifica com essa perda avassaladora, 
Um filho levado, deixando um vazio amargo.

Que tristeza profunda invade seu peito, 
Como uma dor que não encontra alívio, 
Essa mãe emigrante, entre as matas, 
Chora a perda de seu tesouro, sua razão de viver.

Que o tempo traga algum conforto a essa alma, 
Que a esperança possa renascer em seu olhar, 
Mesmo entre as árvores, no silêncio da floresta, 
Essa mãe encontra forças para continuar a caminhar.



de Gigi Scarsea
erechim rs



domingo, 2 de julho de 2023

A Emocionante Jornada da Família de Francesco Piazzetta: Uma História de Superação e Perseverança

Igreja Sagrado Coração de Jesus (Água Verde) em 1910


Francesco Piazzetta, já viúvo a três anos de Maria Augusta Verri, natural da vizinha cidade de Segusino, com a ajuda dos cinco filhos, se prepararam durante meses para a grande mudança que os levaria para o Novo Mundo. Vendeu a antiga casa de dois pisos na  "contrada Ghetto" em Pederobba, onde a família morava e todos os seus poucos bens, conseguindo juntar uma pequena economia que seria usada para iniciar a vida na nova pátria. Foi até a prefeitura e providenciou os passaportes para todos poderem deixar o país. Comprou as passagens para o navio Adria que partiria de Gênova no mês de dezembro e se despediram dos amigos e familiares que ficaram para trás. 
No último mês de 1890, Francesco Piazzetta, com 51 anos, nascido no ano de 1839 na localidade Fener, no vizinho município de Alano di Piave, província de Belluno, finalmente deixou a Itália e emigrou para o Brasil com seus quatro filhos - Giovanni Battista, Noè, Colomba e Augusta. A filha primogênita, Giovanna Antonia (Piazzetta)  Viviani, ficaria para trás, pois já estava casada e tinha sua própria família. Não sabiam, porém, que nunca mais veriam a querida Giovanella, apelido como era chamada em família. Ela junto com a sua família alguns anos mais tarde também precisou partir em emigração e o país escolhido foi a França.
A viagem de Francesco Piazzetta, que então estava com a idade de 51 anos e seus quatro filhos menores, todos nascidos em Pederobba, Giovanni Battista, Noè, Colomba e Augusta, para o Brasil começou na estação ferroviária de Cornuda, uma pequena cidadezinha localizada na região de Veneto, na Itália, a cerca de 8 km de Pederobba e por onde passa até hoje a linha férrea com os trens que vem de Belluno. 
Partiram com bastante antecedência e a pé, em uma tarde úmida e fria do início de dezembro, cada um carregando uma mala com roupas e alguns pequenos sacos com mantimentos preparados em casa para enfrentar a longa viagem de trem.
Francesco e seus filhos chegaram à estação de trem calados durante todo o trajeto, muito preocupados e nervosos, mas, cheios de expectativa, ansiosos para embarcar em sua jornada rumo ao porto de Gênova. Apesar da preocupação com o desconhecido Francesco estava animado com a ideia de deixar a Itália e começar uma nova vida em um país estrangeiro, mas, por outro lado, todos também estavam muito tristes em deixarem sua terra natal e as pessoas que amavam.
A estação ferroviária de Cornuda era bem pequena, tal como a própria cidade, pouco movimentada aquela hora do dia, com uma ampla plataforma bem construída por onde os passageiros embarcavam nos trens. Francesco e os filhos se sentaram em um banco de madeira, na espartana sala de espera, aguardando a chegada do trem que os levaria até o porto de Gênova e observaram as poucas pessoas ao seu redor, muitos deles conhecidos, emigrantes como eles. Alguns demonstravam o nervosismo com a viagem e a separação, enquanto outros aparentavam estar calmos e pensativos, aguardando a sua vez.
Finalmente, pouco depois das vinte horas, o trem chegou com pontualidade e assim puderam embarcar no vagão que os levaria até Gênova. Eles encontraram seus assentos e se acomodaram, observando pela janela as paisagens que passavam. O trem passou por Ferrara, Bologna onde nesta cidade fez uma parada mais longa seguindo para Modena e Parma. No trajeto pouco puderam ver dos vilarejos, cidades e campos verdes, com as poucas folhas amareladas que sobraram pela chegada do inverno. Esta era a primeira viagem de trem que faziam e jamais tinham estado assim tão longe de casa.
Durante a viagem, eles conversaram um pouco, com o pai explicando aos filhos sobre suas expectativas para a nova vida no Brasil e compartilharam suas preocupações e medos. Francesco explicou aos seus filhos que a viagem seria difícil, principalmente aquela de navio, através do grande oceano, que nenhum deles conhecia, mas que eles deveriam ser fortes e corajosos. Ele também lhes disse que a vida no Brasil seria bastante diferente da vida na Itália, mas, que eles logo se adaptariam e seriam bem-sucedidos. Pouco dormiram, mal acomodados que estavam nos desconfortáveis bancos da classe econômica.
Após treze horas de viagem, o trem finalmente chegou à estação ferroviária de Gênova, passando por dezenas de estações onde, fazendo grande rumor, parava para receber mais passageiros, quase sempre famílias de emigrantes como eles, que também estavam deixando a Itália. Pensaram consigo mesmo que talvez alguns tivessem o idêntico destino deles e viajassem no mesmo navio.
Francesco e seus filhos desembarcaram do trem sendo recebidos pelo barulho e agitação da cidade portuária naquele começo de manhã. O porto era enorme, com barcos e grandes navios ancorados em todas as direções. Procuraram e logo avistaram ao longe o navio Adria, que não era dos maiores, o qual os levaria ao Brasil e sentiram imediatamente uma mistura de emoções.
Com curiosidade caminharam pelo porto, observando as dezenas de carregadores com seus carrinhos de mão, se deslocando apressados, levando grandes caixotes de mercadorias. O Adria já estava ancorado no cais e dele ouviam ordens sendo repassadas aos gritos, desde o seu tombadilho e também viram o corre-corre agitado dos marinheiros preparando o navio para a viagem. Quando no final da tarde a hora da partida chegou eles finalmente se dirigiram para o portão de embarque do navio que os levaria para o Novo Mundo e, resolutamente, após entregarem suas bagagens, os bilhetes e seus passaportes, conferidos tanto por parte dos funcionários do porto como aqueles da companhia de navegação, subiram pela longa escada inclinada, sustentada por grossas cordas, ao lado do navio, e embarcaram sem maiores problemas. Os alojamentos eram bem pequenos, corredores apertados e deviam dividir o aposento com outros passageiros, sem muita privacidade, mas, apesar de tudo eles estavam felizes por estarem a bordo, ansiosos pelo início da grande aventura.
A viagem pelo mar seria longa e desafiadora, mas eles estavam determinados a chegar ao tão sonhado destino, o Brasil. Com um longo e grave apito o Adria começou a se afastar lentamente do cais e gradualmente observaram a costa italiana desaparecer no horizonte provocando um frio nas suas barrigas. A cada dia, eles se aproximavam mais do novo mundo e das oportunidades que ele oferecia.
Finalmente, depois de algumas semanas no mar, sem quaisquer incidentes, eles finalmente chegaram ao porto do Rio de Janeiro, no Brasil. Desembarcaram sendo recebidos por funcionários portuários e encaminhados para a Hospedaria dos Imigrantes onde, após o exame médico rotineiro, foram abrigados para esperar pelo outro navio menor que os levaria para o destino escolhido, o porto de Paranaguá no estado do Paraná. Depois de uns dias de espera finalmente chegou o aviso para embarcarem novamente, desta vez em um navio menor chamado Rio Negro que os levaria, com centenas de outros imigrantes italianos, do Rio de Janeiro para a cidade de Paranaguá, no Paraná, mas o navio continuaria viagem para o Rio Grande do Sul.
Eles haviam deixado a Itália, um país atrasado e com graves problemas econômicos, em busca de uma vida melhor no Brasil e esperavam que essa nova terra lhes oferecesse novas oportunidades.
De Paranaguá seguiram para Curitiba, fazendo o trajeto de subida da Serra do Mar até Curitiba, pela espetacular estrada de ferro inaugurada apenas cinco anos antes. Foi uma viagem de poucas horas, com duas ou três paradas, repleta de paisagens deslumbrantes de uma floresta tropical intacta, com diversas pontes de ferro e profundos precipícios, pois, Curitiba está a quase 1000 metros acima do mar. 
Na capital paranaense, com as economias trazidas da Itália, arrecadadas com a venda da casa e de alguns outros pertences, Francesco comprou um lote de terra com uma pequena casa de madeira, na ainda nova colônia Dantas, onde já moravam desde a sua inauguração, a apenas dois anos, várias outras famílias de imigrantes provenientes da região do Vêneto como eles, alguns até conhecidos e meio aparentados. Ele esperava que seus filhos tivessem acesso à educação e que ele pudesse encontrar trabalho como marceneiro, que lhes proporcionasse uma vida mais confortável. Francesco estava determinado a fazer uma nova vida na cidade e quando chegaram à Colônia Dantas, ficaram surpresos com o ótimo clima e progresso da capital paranaense. Era realmente um novo mundo, aquilo que Francesco sempre sonhara. A cidade era rica e organizada, bem desenvolvida para a época, com muitos recursos e disponibilidade de trabalhos. 
Com o tempo, Francesco e seus filhos se adaptaram à vida na Colônia Dantas, a qual progredia rapidamente e pela contiguidade com a capital estava se tornando a cada dia com aspecto de um populoso bairro, o que de fato veio acontecer alguns anos depois, quando passou a ser chamada de Água Verde. Eles logo fizeram amizade com outras famílias italianas moradoras no local e se estabeleceram definitivamente na comunidade se envolvendo e participando ativamente de eventos sociais e atividades comunitárias do local, como a construção da nova igreja. Francesco, bom carpinteiro e entalhador, logo encontrou trabalho, montando uma pequena oficina com o filho mais velho e os menores começaram a frequentar a escola. Embora a vida ainda reservasse grandes desafios, Francesco e os filhos estavam felizes por tomarem a decisão de emigrar para o Brasil. Sentiam terem ali muito mais oportunidades, que estavam no caminho certo para uma vida melhor neste grande país. Francesco Piazzetta faleceu em 30 de novembro de 1922, em Curitiba, com a idade de oitenta e três anos, deixando os quatro filhos, todos já casados, e também vários netos.


Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS