quinta-feira, 17 de maio de 2018

A Religião nas Colônias Italianas do Rio Grande do Sul




Os imigrantes italianos eram católicos na sua grande maioria e, desde quando ainda estavam na Itália, a praticavam de uma forma bastante particular, com a missa e os cânticos em latim, com os padres usando paramentos vistosos, uma grande frequência dos fiéis aos sacramentos e procissões com a presença maciça dos paroquianos. 
O padre era um grande líder para os imigrantes e no seio da comunidade tinha um forte controle das pessoas, ouvindo, aconselhando todos, ajudando quando podia, procurando sempre minimizar o grande sofrimento que aquelas pessoas passavam, especialmente nos primeiros anos na nova pátria, vivendo distante da terra natal e dos entes queridos que ficaram.
A religião ensinava importantes e valiosos preceitos morais, onde exaltava a honra, a manutenção da palavra dada, o trabalho como forma de ganhar a vida, a conservação da castidade até o casamento, a paciência, a resignação frente as desventuras e o amor ao próximo.
Nos primeiros anos da imigração no Rio Grande do Sul, assentados nas várias colônias criadas para recebe-los, localizadas no meio da densa floresta, não existiam padres disponíveis. A necessidade de adaptação se fazia cada vez mais necessária para iniciar a reconstrução do mundo religioso que eles conheciam. Esse mundo foi aos poucos sendo novamente introduzido na vida dos imigrantes. Como a fé, a devoção individual e familiar permaneciam ainda inalteradas, em suas casas era costume que, ao retornarem do trabalho no fim do dia, rezassem todos juntos um rosário, geralmente ajoelhados frente à uma gravura ou imagem de um santo de devoção que haviam trazido da terra natal. 
As lembranças das manhãs de domingo nas suas aldeias natais, o alegre encontro com os amigos, faziam reviver um antigo costume, que foi logo adotado nas diversas colônias, para suprir a falta de igrejas e padres. Foi a construção de cruzeiros e pequenos capitéis, erguidos à semelhança daqueles deixados na Itália. Essas construções precederam as capelas e as igrejas, que ainda demorariam mais tempo para aparecer. Nesses capitéis e nas pequeninas capelas os imigrantes podiam encontrar um espaço mais adequado para o conforto espiritual e o reencontro com o divino.
Com o passar do tempo, iam surgindo ideias para a construção de uma pequena capela, muitas vezes cercadas por disputas no momento de escolher o local da construção, do santo patrono a que ela seria dedicada ou mesmo do material a ser usado. As primeiras eram todas erigidas totalmente com longas e largas tábuas de madeira e, aos poucos, quando arrecadavam mais dinheiro, erguiam ao lado um pequeno campanário. Também próximo da pequena igreja era pensado um espaço destinado à construção de um cemitério. A administração desse complexo religioso e a preparação das festas estava à cargo dos fabbricieri, um grupo de homens escolhidos pelo voto da comunidade. Esse grupo a;ém da conservação e manutenção dos objetos sacros, tinha também a tarefa de promover os melhoramentos necessários no interior da igreja e no cemitério, através do recolhimento de doações. A capela ou então a pequena igreja estava pronta, mas, não havia ainda um padre, quando este estava disponível, não podia ir até ela mais do que uma ou duas vezes ao ano. Existiam muitas capelas e igrejas nas zonas coloniais italianas do Rio Grande do Sul e em todas elas os padres eram insuficientes, sem contar que as distâncias entre elas era enorme, dificultando muito o translado do sacerdote. Para sanar a falta de um padre, o rosário dominical era rezado por um laico escolhido pela comunidade. Também a catequese era ensinada por alguém com maior instrução e com os conhecimentos necessários. As cerimônias religiosas da semana santa e os funerais eram presididos por alguém que já tivesse experiência, talvez como sacristão na Itália. Cabia também a esse líder religioso a preparação das pessoas no momento da morte e com exceção da confissão procediam com os demais ritos. 
 As capelas não tinham somente a função de culto, era usada também como sala de aulas e um centro de encontro da comunidade. 


Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta 
Erechim RS