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quarta-feira, 3 de abril de 2024

A Jornada de Matteo de Assisi para o Brasil

 


Nas montanhas verdejantes que circundavam a pitoresca vila não longe de Assisi, na região da Umbria, a parte central da Itália, nasceu Matteo, filho de Giovanni e Maria. Era uma manhã ainda fria de primavera quando ele veio ao mundo, envolto nas esperanças e nas expectativas de seus pais, que há muito tempo trabalhavam na terra fértil da região.
Desde os primeiros momentos de sua vida, Matteo foi imerso na beleza rústica e na simplicidade da vida campestre. Cresceu entre os campos ondulantes de oliveiras e vinhas, respirando o ar fresco das montanhas e ouvindo os cânticos dos pássaros que pairavam nos céus azuis.
Seu pai, Giovanni, era um mezzadro respeitado na comunidade, um homem que dedicava suas horas ao trabalho árduo nos campos em troca de uma modesta parcela de terra para cultivar. Sua mãe, Maria, era o coração do lar, uma mulher forte e amorosa que cuidava da casa e dos filhos com dedicação inabalável.
Matteo cresceu rodeado pelo calor da família e pela solidariedade dos vizinhos. Na pequena vila natal, próxima de Assisi, onde todos se conheciam pelo nome e compartilhavam alegrias e tristezas, ele encontrou um senso de pertencimento que moldaria sua visão de mundo nos anos seguintes.
Enquanto o tempo passava, Matteo testemunhava as estações mudarem, cada uma trazendo consigo suas próprias bênçãos e desafios. Ele aprendeu com seu pai os segredos da terra, trabalhando lado a lado nos campos desde tenra idade, enquanto absorvia as histórias e os ensinamentos dos mais velhos na vila.
No entanto, mesmo em meio à tranquilidade da região, Matteo não conseguia ignorar as histórias de parentes e amigos que partiram em busca de oportunidades além-mar. A situação economica da Itália no pós guerra impedia o desenvolvimento e a criação de novos postos de trabalho para uma população que crescia nas cidades pelo abandono do campo. Embora seu coração estivesse profundamente enraizado na terra que o viu nascer, ele sabia que o mundo além das montanhas guardava segredos e possibilidades desconhecidas.
E foi assim que, apesar de sua resistência inicial, Matteo se viu confrontado com uma escolha difícil em 1924, quando a Itália ainda estava se recuperando da guerra, uma série de más colheitas e dificuldades financeiras assolaram sua família e muitos outros na vila. A tentação da emigração tornou-se irresistível, e junto com outras famílias da província, Matteo embarcou em uma jornada incerta em direção ao Brasil, deixando para trás as colinas verdejantes e os laços de sangue que o ligavam à sua terra natal.
Após desembarcar no Porto do Rio de Janeiro, Matteo se encontrou diante de uma paisagem completamente diferente daquela que deixara para trás na Itália. As ruas movimentadas, os sons estridentes e a mistura de culturas o deixaram maravilhado e um pouco atordoado. No entanto, ele sabia que ali estava apenas o início de uma nova jornada.
Ao chegar em Santos e subir a Serra do Mar até São Paulo, Matteo contemplou as vastas plantações de café que se estendiam pela região, compreendendo a magnitude da economia cafeeira que impulsionava o estado. Em São Paulo, ficou tentado a se estabelecer na cidade, seduzido pela promessa de oportunidades infinitas, mas o convite de seu amigo de infância o levou a seguir rumo ao interior até Ribeirão Preto.
Ao chegar em Ribeirão Preto, Matteo imergiu profundamente no universo da construção civil. Seu domínio das técnicas de alvenaria, cultivado desde a infância enquanto auxiliava um tio em suas empreitadas, rapidamente o destacou pela destreza e dedicação. Logo, viu-se envolvido em projetos audaciosos e desafiadores, contribuindo para erigir os fundamentos de uma cidade em pleno crescimento.
Enquanto se entregava ao trabalho árduo durante o dia, Matteo mergulhava de corpo e alma na riqueza da cultura brasileira durante suas horas de folga. Determinado a se integrar completamente, ele dedicou-se a aprender o idioma local, imergindo em festas tradicionais e estabelecendo laços de amizade que transcendiam fronteiras. Foi em uma dessas celebrações que o destino o presenteou com Giulia, uma mulher cativante, cujas raízes italianas ecoavam as suas próprias. O amor entre eles floresceu de forma arrebatadora e rápida, guiando-os a decidir, em pouco tempo, unirem-se em matrimônio.
Com Giulia como sua companheira, Matteo descobriu uma fonte renovada de motivação para alcançar o sucesso. Unidos, eles ergueram sua morada e deram vida a uma família. Matteo persistiu em sua jornada na construção civil, eventualmente fundando sua própria empresa, que ascendeu para se tornar uma das mais conceituadas da região. Enquanto isso, Giulia dedicava-se incansavelmente ao lar e aos filhos, espelhando a mesma devoção e amor que ele testemunhara em sua própria mãe.
Ao longo dos anos, Matteo testemunhou o florescimento de Ribeirão Preto diante de seus olhos, como um jardim que desabrochava com o tempo. Novas ruas foram meticulosamente pavimentadas, imponentes arranha-céus ergueram-se majestosos onde outrora se estendiam campos abertos, e a cidade transformou-se em um polo econômico vital na região. Enquanto isso, seus filhos foram criados imersos na rica herança italiana que Matteo trouxera consigo, mas também absorveram avidamente as oportunidades oferecidas pelo Brasil em constante evolução.
Matteo, agora idoso, contempla o passado com um coração transbordando de gratidão pela jornada que o conduziu até este ponto. Ele se regozija com o trabalho árduo que desempenhou, com as memórias preciosas que acumulou ao longo dos anos e com a família que teve a honra de construir ao lado de Giulia. Embora as montanhas verdejantes da Umbria permaneçam como um cenário nostálgico em sua mente, ele reconhece plenamente que encontrou um novo lar, uma nova pátria, e uma vida repleta de realizações e significado no caloroso coração do Brasil.



sábado, 2 de março de 2024

De Mantova ao Espírito Santo: A Notável Jornada de uma Família Pioneira



Giuseppe Montanari, nascido na Província de Mantova em 1841, iniciou uma jornada extraordinária que moldaria não apenas sua vida, mas também a trajetória de uma família resiliente. Casou-se em 1862 com Amélia Benedino, dando início a uma família que, ao longo dos anos, enfrentaria desafios, superaria perdas e construiria uma nova vida em terras distantes.
Com o agravamento cada ano maior da situação econômica na Itália em 1877, Giuseppe e Amélia decidiram embarcar em uma audaciosa empreitada rumo ao Brasil, deixando para trás sua terra natal. Gênova foi o ponto de partida, e após uma viagem de 40 dias, aportaram no Rio de Janeiro. A Hospedaria da Ilha das Flores, em Niterói, foi o primeiro lar temporário, seguido pela Hospedaria da Pedra d’Água em Vitória. Utilizando vários meios de transporte, carroças, canoas de até 16 metros, navegaram pelos rios até Cachoeiro de Santa Leopoldina, passando por Santa Tereza. Junto a outras 15 famílias, estabeleceram-se em um local desabitado, dando início a um pequeno povoamento, que mais tarde se transformaria em uma bela cidade.
A descendência de Giuseppe floresceu no Brasil. Seu filho Antonello, aos 25 anos, uniu-se em matrimônio a Beatrice Mancini. O casal escolheu a região do Vale Verde para construir sua vida, adquirindo e negociando terras. Com doze filhos, Antonio se destacou como um empreendedor visionário. Suas viagens de negócios  até Vitória com uma pequena caravana de burros eram marcadas pela comercialização de produtos únicos, como a pimenta e o açafrão, entre outros, introduzindo um toque italiano nas tradições brasileiras.
O espírito aventureiro de Antonio o levava até locais distantes e perigosos como Taquaral, atravessando densas florestas habitadas por indígenas. Para evitar conflitos, presenteava e cativava os nativos, o que não apenas garantia a  segurança de suas viagens, mas também simbolizava uma troca cultural enriquecedora. 
Contudo, o ardente desejo de Antonio de retornar às suas raízes italianas persistiu como um sonho inalcançado ao longo dos anos. Infelizmente, a oportunidade de revisitar a terra natal, tão ansiada, nunca se materializou. Em um triste desfecho, Antonio faleceu em 1925, carregando consigo a nostalgia de um lar distante que permaneceu apenas nos recantos de sua memória e coração.
A saga da família Montanari é uma narrativa de  perseverança e contribuição para a construção de uma nova vida e uma nova comunidade. Ao deixar um legado que transcende gerações e fronteiras, a família não apenas prosperou no Brasil, mas também incorporou elementos italianos à rica tapeçaria cultural da região. A história de Giuseppe e seus descendentes é um tributo à capacidade humana de enfrentar desafios e florescer em terras estrangeiras, mantendo viva a chama de sua herança em solo brasileiro.




terça-feira, 19 de dezembro de 2023

Pelas Ondas do Providence: A Odisséia de uma Vida


 


Nas áridas terras da localidade de Sferro, município de Paternò, na Sicília, no movimentado ano de 1893, Chiara Bottari viu pela primeira vez a luz do sol. Contudo, seu vilarejo estava impregnado pela sombra da emigração, um fenômeno que marcava profundamente a vida daquela pequena comunidade. As belas colinas foram o cenário de uma infância simples, no seio de uma família humilde de agricultores, proprietários de um pequeno terreno, com pouco menos de um hectare, mas o destino de Chiara estava predestinado a ser tecido em terras além-mar.
Aos 19 anos, solteira e sem uma profissão definida, Chiara sentiu a chamada de seus parentes na América. Foi um convite de uma tia que desencadeou uma reviravolta em sua vida. Ao lado de sua irmã mais velha, Emma, ela decidiu trilhar a estrada da incerteza, embarcando em uma jornada que começou com uma viagem de trem até Nápoles, o movimentado porto de mar do sul da Itália.
O dia 30 de maio de 1913 marcou o início da epopeia das duas irmãs Chiara e Emma. A bordo do navio a vapor Providence, rumavam para Nova York, apresentando-se na entrevista do controle de imigração em Long Island, como duas donas de casa que tinham como destino final a ensolarada Califórnia, do outro lado do país. Emma, irmã de Chiara, conseguiu os bilhetes da viagem enviados pelo marido que já trabalhava nos Estados Unidos, enquanto as passagens de Chiara foram pagas com o dinheiro que sua mãe lhe deu, o qual era o pouco que a família possuía.
O navio não era apenas um meio de transporte para a América; era um elo que unia diversas almas oriundas da mesma província, todas com destino a San Francisco. Lá, vários parentes próximos e amigos esperavam inseri-las no complexo tecido da metrópole californiana.
A vivência americana de Chiara desdobrou-se em um trecho pequeno da Califórnia, entre San Francisco e as áreas rurais circundantes, notórias por suas vastas plantações de frutas. Durante todos esses anos, Chiara desempenhou o papel de supervisora em uma fazenda de pomares, gerenciando a colheita e coordenando a equipe de trabalhadores sazonais. Seu empenho incansável, seja sob o sol escaldante ou durante as épocas de colheita intensa, foi fundamental para angariar cada tostão necessário na construção da vida que ela almejava. Ela desempenhou diferentes funções, juntando cada tostão com suor e sacrifício. No entanto, o emprego estável e o matrimônio pareciam esquivos. O destino, por vezes, reserva caminhos inesperados.
No ano de 1922, com quase 30 anos de idade, Chiara tomou uma decisão audaciosa. Convencida de que seu futuro não encontrava morada na América, despediu-se dos parentes e amigos e embarcou de volta para a Itália. 
Voltando à terra natal, Chiara Bottari uniu-se em matrimônio a um morador local e, com as economias cuidadosamente juntadas, ergueu um lar, entrelaçando assim sua existência com a comunidade que a testemunhou crescer. Dessa união floresceu a dádiva do primeiro filho, Domenico, o primogênito entre os quatro que vieram a compor a família.
A vida de Chiara Bottari atravessou décadas, culminando em seu derradeiro capítulo em 1968. Ela repousa agora no pequeno cemitério de sua cidade natal, junto aos seus pais. Um capítulo escrito com as cores da perseverança e as sombras da incerteza, revelando que, mesmo quando as estradas da vida nos levam além-mar, o coração muitas vezes nos guia de volta ao lugar que chamamos de lar.




quarta-feira, 15 de novembro de 2023

Saga Italiana nos Pampas: Emigração, Trabalho e Sucesso na Argentina




Nas onduladas e pitorescas colinas da província de Bergamo, no norte da Itália, Luca cresceu imerso em uma vida simples e laboriosa. Sua família, composta pelos pais Antonio e Giovanna, e pelos irmãos e irmãs Giovanni, Marco, Martina, Antonio, Zeno e Sofia, enfrentava as agruras da vida agrícola em uma pequena vila. A pequena propriedade que arrendavam mal produzia o suficiente para sustentar a família, e a maior parte do que colhiam ia para o dono da terra.
Luca, o primogênito, sentia o peso das responsabilidades sobre seus ombros. A vida na vila era marcada pela simplicidade e pela dureza do trabalho no campo. Consciente da necessidade de proporcionar um futuro melhor para seus irmãos e aliviar as lutas financeiras de seus pais, Luca tomou a decisão difícil, mas inevitável, de emigrar em busca de oportunidades além das fronteiras da Itália.
No ano de 1878, movido por um misto de determinação e necessidade, Luca desembarcou nas promissoras terras da Argentina. Os amplos horizontes de Buenos Aires, onde permaneceu por apenas três dias, se desdobravam diante dele, trazendo consigo a promessa de um recomeço. Logo encontrou trabalho em uma grande fazenda nos pampas argentinos, onde se viu envolvido na colheita de trigo ao lado de seu novo amigo, Giovanni.
Os dias se desenrolavam sob o sol escaldante dos pampas, entre os campos dourados de trigo. Luca encontrou satisfação no trabalho árduo e na conexão com a terra. À noite, exausto após uma jornada extenuante de trabalho nos campos dourados de trigo, Luca partilhava refeições com seus colegas. Em um cansaço profundo, os laços entre eles eram forjados na fadiga compartilhada, mais do que nas delícias culinárias. Esses momentos, marcados pelo silêncio que sucede um dia de árduo labor, tornaram-se a essência da conexão entre aqueles que, à luz das estrelas, buscavam forças para enfrentar o nascer precoce do próximo amanhecer.
Mesmo distante, Luca não esqueceu suas raízes e a responsabilidade para com sua família na Itália. Regularmente, enviava alguma ajuda financeira para seus pais e irmãos. Com o passar do tempo e já estabilizado financeiramente, Luca tomou uma decisão que mudaria o destino de sua família: mandou as passagens para os irmãos Giovanni, Marco e Antonio poderem se unir a ele na Argentina.
Na Itália, ficaram Martina, que havia se casado com um rapaz da própria vila onde moravam, e Zeno, com 18 anos, e Sofia, ainda menor, que ficaram responsáveis por cuidar dos velhos pais.
Após dois anos na fazenda de trigo, Luca e Giovanni decidiram dar um novo rumo às suas vidas. Deixaram o emprego e mudaram-se para a Província de Córdoba, onde adquiriram dois grandes lotes de terras do governo argentino a preços subsidiados. Essa mudança representou um novo capítulo na vida de Luca e Giovanni, de trabalhadores assalariados a proprietários de terras, vislumbrando um futuro mais estável e independente.
A história de Luca e Giovanni se expandiu para além das plantações. Fundaram uma cooperativa local, unindo esforços com outros agricultores da região para fortalecer a comunidade. Seus esforços culminaram na construção de uma escola para as crianças da região, proporcionando educação e oportunidades que eles mesmos não tiveram.
Com o passar dos anos, a família de Luca e Giovanni cresceu, multiplicando-se em gerações. Os netos, inspirados pelos feitos de seus avós, seguiram diversos caminhos. Alguns continuaram na agricultura, modernizando as práticas herdadas, enquanto outros buscaram carreiras nas cidades, levando consigo os valores fundamentais transmitidos por Luca e Giovanni.
À medida que a Província de Córdoba se transformava e crescia, a história de Luca e Giovanni se tornou parte integrante do legado da região. Suas conquistas ecoaram nas pradarias argentinas, simbolizando a tenacidade e a visão que moldaram não apenas suas vidas, mas também o destino das futuras gerações. A história desses dois amigos imigrantes, que transformaram a adversidade em triunfo, permaneceu viva nas tradições e na memória de uma comunidade que eles ajudaram a construir.
A chegada dos irmãos Giovanni, Marco e Antonio à Argentina trouxe uma alegria renovada para Luca. Reunidos novamente, a família começou a construir um novo capítulo de suas vidas juntos. Giovanni, seguindo os passos de Luca, encontrou uma parceira chamada Rosalia, e juntos, estabeleceram-se em uma fazenda próxima. A terra generosa dos pampas argentinos parecia sorrir para eles, recompensando os anos de trabalho árduo.
Marco, o irmão mais jovem, apaixonou-se por uma jovem argentina chamada Elena. Eles decidiram explorar novos horizontes, optando por um pedaço de terra próximo à cidade, onde fundaram um pequeno comércio que prosperou com o tempo. Antonio, o mais jovem, encontrou em Luisa uma companheira para a vida. Juntos, decidiram investir na produção de laticínios, aproveitando a vastidão de terras para criar um negócio próspero.
A vida na Província de Córdoba era desafiadora, mas a união da família tornou cada obstáculo mais fácil de superar. As festividades italianas misturavam-se com as tradições argentinas, criando um lar onde o amor, o trabalho duro e a celebração se entrelaçavam.
Enquanto Luca e Giovanni colhiam os frutos de sua visão pioneira na cooperativa local, seus irmãos construíam legados próprios. O eco das risadas das crianças, dos negócios bem-sucedidos.



Dr. Luiz Carlos B.Piazzetta

Erechim RS




sexta-feira, 6 de outubro de 2023

Jornada de Rinaldo e Giuseppe: Da Itália para a Colônia Conde D'Eu no Brasil



No gélido inverno de 1889, Rinaldo Battista R., e seu cunhado Giuseppe G. enfrentavam uma reviravolta inesperada nos seus destinos. A possibilidade de uma nova vida no Brasil, surgida através da Società di Navigazione Generale Italiana, uma empresa de navegação encarregada e comissionada pelo governo brasileiro para recrutar mão de obra italiana por todo o país,  pagando os respectivos bilhetes de transporte, foi interrompida por uma decisão do parlamento italiano, suspendendo temporariamente a emigração subsidiada para o Brasil, jogando seus sonhos num abismo de incertezas.

Em Cantonata, a pequena localidade onde agora estavam morando, localizada no coração da província de Cremona, devido as más condições do tempo, naquele ano os campos de linho produziram apenas um terço do esperado. A neblina pairava sobre os trigais, reduzindo a colheita pela metade. A uva, símbolo de prosperidade, murchava nas vinhas, enquanto as tempestades dispersas causavam estragos generalizados. A desesperança se entrelaçava com seus dias e então tentaram uma mudança de  residência, deixando para trás Costa Santa Caterina, onde nasceram e sempre viveram, em busca de melhores condições em Cantonata. Ainda assim, as sombras da incerteza pairavam, alimentadas pela incansável espera do possível levantamento do veto governamental à emigração subsidiada.

Para essa empreitada tiveram ajuda de Pierino, um amigo comum, que não poupou esforços para ajudá-los conseguir as passagens gratuitas para o Brasil. Seus corações permaneciam aquecidos pela esperança, mesmo diante da crueza do inverno e das agruras da vida rural na Itália daquele ano.

Finalmente, em 1891, as nuvens da proibição se dissiparam. Embarcaram finalmente para o Brasil, a bordo de um grande navio a vapor, chegando depois de 40 dias na Colônia Conde D'Eu, localizada no coração do Rio Grande do Sul. A terra prometida acolheu-os generosamente, e a semente de seus sonhos, outrora plantada na Itália congelada, agora florescia em terras brasileiras.

Os primeiros anos no novo país foram desafiadores, na verdade muito duros, mas com perseverança e trabalho árduo, os dois  cunhados construíram um novo lar. Em poucos anos encontraram o amor, Giuseppe com Maria e Rinaldo com Carmela, ambas filhas de famílias imigrantes da região do Vêneto, que haviam se estabelecido 15 anos antes naquela colônia. As duas famílias cresceram, as colheitas abundaram, e logo puderam adquirir mais lotes de terra, tornando bem mais extensas as suas propriedades, consolidando de vez as suas presenças na colônia.

À medida que as décadas avançavam, puderam acompanhar os filhos seguindo seus passos, expandindo os vinhedos, modernizando as técnicas agrícolas e construindo uma base sólida para as gerações futuras. A Colônia Conde D'Eu, hoje a bela cidade gaúcha de Garibaldi, tornou-se o seu lar, não apenas geograficamente, mas no tecido de suas vidas e memórias.

A jornada dos dois cunhados cremoneses, que começou na Itália gelada, culminou numa história de sucesso, determinação e prosperidade nas vastas terras do Rio Grande do Sul. O Brasil passou a ser  a  segunda pátria deles, acolhendo-os generosamente, os quais, por nossa vez, plantaram raízes profundas e duradouras neste solo fértil.



sexta-feira, 25 de agosto de 2023

Destino Além-Mar: A Jornada dos Imigrantes Italianos no Brasil

 




Destino Além-Mar: 
A Jornada dos Imigrantes Italianos no Brasil



No horizonte distante, o sonho se avista, 
A jornada incerta, a busca por um lar,
Imigrantes italianos, na esperança conquista, 
No Brasil encontraram a nova pátria a desbravar.

Deixaram suas terras, seus laços, seu passado, 
No peito, a esperança de um futuro promissor, 
Embarcaram com coragem, enfrentando o desconhecido, 
Rumando ao Brasil, com fé e fervor.

A nova terra acolheu esses valentes corações, 
Abraçou suas tradições, sua cultura e suas lidas, 
Nas lavouras e cidades, construíram suas ações, 
Ergueram lares, escreveram histórias de vidas.

Imigrantes italianos, bravos desbravadores, 
No Brasil encontraram a nova vida, novas cores.



de Gigi Scarsea
erechim rs





sábado, 15 de julho de 2023

Destino Além-Mar: A Jornada dos Imigrantes Italianos no Brasil

 




Destino Além-Mar: 
A Jornada dos Imigrantes Italianos no Brasil


Em terras distantes, sob um sol radiante, 
Um povo se ergueu em busca de um destino brilhante, 
Imigrantes italianos, corações cheios de esperança, 
Deixando para trás as agruras, uma nova vida à espreita.

Embarcaram em navios, rumo ao desconhecido, 
Com sonhos entrelaçados, no peito o amor perdido, 
No olhar, a chama da esperança ardia forte, 
No coração, a determinação, a força da sorte.

Chegaram ao Brasil, terra prometida, 
Solo fértil e vasto, como uma tela colorida, 
Aportaram com mãos calejadas e sorrisos cansados, 
Mas com o ardor da vida, os desafios foram enfrentados.

Plantaram sementes, cultivaram os dias, 
A terra generosa lhes sorria, promessas trazia, 
Nas mãos, a enxada, no peito, a coragem, 
Ergueram raízes, uma nova página.

Nos canaviais, nos cafezais, suor e devoção, 
A construção de um lar, uma nova nação, 
No meio das adversidades, a cultura se entrelaçou, 
Itália e Brasil, abraços fraternos, laços que se formaram.

As mãos que outrora tocavam as terras italianas, 
Agora erguiam casas, igrejas, obras cotidianas, 
A língua se misturava, tradições se entrelaçavam, 
A música, a culinária, as artes, se encontravam.

No coração desses imigrantes, a chama nunca se apagou, 
A esperança de uma vida nova, seu legado ecoou, 
Enfrentaram as dificuldades, com bravura e determinação, 
Deixaram para trás suas origens, mas jamais a emoção.

E assim, construíram uma nova pátria, uma nova história, 
Com amor e resiliência, escreveram sua trajetória, 
Imigrantes italianos, honra e gratidão a lhes ofertar, 
Por construir lares e sonhos, e o Brasil abraçar.

A nova terra que os acolheu, hoje é lar e morada, 
O Brasil, enriquecido por essa caminhada, 
Italianos que partiram, mas jamais se esqueceu, 
Da esperança que os moveu, da coragem que os aqueceu.

Assim, celebramos a força desses imigrantes, 
Suas histórias vivas, enraizadas e vibrantes, 
Unidos pelo amor à nova pátria, tão distante, 
Brasileiros de alma, imigrantes de origem e semblante.

Que suas jornadas inspirem novos horizontes, 
Que a busca por uma vida melhor não conheça limites, 
E que o encontro entre povos seja sempre uma dança, 
De esperança, acolhimento e construção de nova esperança.



de Gigi Scarsea
erechim rs







sábado, 8 de abril de 2023

As Histórias de Vida dos Imigrantes Italianos no Brasil: Um Olhar Pessoal Sobre uma Jornada Coletiva

 





Introdução

A imigração italiana para o Brasil a partir do século XIX teve um impacto significativo na sociedade e economia brasileiras. Milhares de italianos deixaram suas vilas onde nasceram e cresceram em busca de uma vida melhor no Brasil, mas muitos enfrentaram dificuldades ao chegar na nova pátria, tais como saudades dos entes queridos que ficaram na Itália, a sensação de perda que dava lugar à depressões e alcoolismo, incapacidade de se acostumar com a comida brasileira, mal tratamento por parte dos patrões donos das fazendas, ou o isolamento nas colônias situadas no interior da mata, longe da civilização, barreiras culturais e linguísticas. Na verdade os imigrantes, logo nos primeiros dias no novo país, perceberam com tristeza que tinham sido enganados e que a vida no Brasil seria bastante difícil para eles, muito diferente do que a maioria estava esperando. Neste texto, vamos explorar as motivações e experiências dos imigrantes italianos e discutir como as diferenças culturais e linguísticas afetaram sua integração na sociedade brasileira. 

Motivações para a imigração italiana para o Brasil

As razões pelas quais os italianos emigraram para o Brasil foram diversas e complexas. Na grande maioria dos casos, a emigração foi motivada pela pobreza, escassez de terras e condições de vida difíceis na Itália. Além disso, o crescimento populacional no século XIX levou a um aumento da demanda por terras e empregos, o que incentivou muitos italianos a emigrarem para o exterior em busca de melhores  oportunidades. As guerras pela unificação do país e a formação do novo reino da Itália, com o consequente aumento dos impostos e criação de novas taxas levaram à uma fuga do campo, o aumento do desemprego nas cidades e o empobrecimento cada vez maior da população.

Outras razões para a imigração incluem as perseguições política e religiosa. Alguns imigrantes italianos foram atraídos para o Brasil por causa da promessa de liberdade religiosa e política, bem como da possibilidade de escapar da pobreza e do desemprego na Itália. Alguns também foram atraídos pelos programas de colonização oferecidos pelo governo brasileiro, que ofereciam terras e oportunidades de trabalho para os imigrantes. A possibilidade de emigrar gratuitamente provocou uma grande debandada da população mais pobre e sem trabalho nas pequenas vilas e aqueles marginalizados ou subempregados nas cidades maiores.

Experiências dos imigrantes italianos no Brasil

Ao chegar no Brasil, os imigrantes italianos enfrentaram muitas dificuldades. Eles frequentemente se depararam com barreiras linguísticas e culturais que dificultavam a comunicação com a população local. Muitos também não tinham experiência com as condições climáticas do Brasil e não estavam acostumados com as diferenças culturais, incluindo as tradições alimentares e de vestuário. Além disso, os imigrantes italianos frequentemente enfrentaram discriminação e até racismo nas fazendas do interior de São Paulo onde uma grande parte deles foi parar. Eles eram frequentemente vistos como estrangeiros e eram submetidos a preconceitos e estereótipos negativos por fazendeiros acostumados até então a mão de obra escrava. Essa hostilidade muitas vezes se manifestava em forma de violência verbal e até física.

No entanto, os imigrantes italianos também tiveram sucesso em encontrar oportunidades no Brasil. Com o tempo muitos conseguiram estabelecer suas próprias terras ou empresas e se tornaram bem-sucedidos como empresários e empreendedores. Outros encontraram trabalho nas indústrias têxtil, de mineração e agrícola.




Integração dos imigrantes italianos na sociedade brasileira

A integração dos imigrantes italianos na sociedade brasileira foi um processo gradual e complexo. Em muitos casos, os italianos mantiveram suas tradições culturais e linguísticas, mas também foram influenciados pela cultura brasileira, especialmente nos estados de São Paulo, Espírito Santo e Minas Gerais. Passaram a morar em pequenas cidades do interior e muitos deles se casaram com brasileiros e tiveram a vida no Brasil, criando uma nova identidade cultural e linguística. No Rio Grande do Sul em especial, os imigrantes italianos estavam isolados em colônias italianas localizadas no meio da mata e se casavam quase que somente entre eles, mantendo assim até agora a língua, o modo de viver e a cultura dos seus antepassados.

No entanto, a integração dos imigrantes italianos na sociedade brasileira não foi sempre fácil. A discriminação e o racismo muitas vezes persistiram, e os italianos continuaram a ser vistos como estrangeiros. A língua italiana também não era muito difundida no Brasil, o que dificultava a comunicação entre os imigrantes italianos e a população local. Os italianos que chegaram nos primeiros vinte anos a maioria era composta por analfabetos, que quando muito sabiam assinar o nome e poucos deles tinha conhecimento da língua italiana. Só se comunicavam em seus inúmeros dialetos locais, muitas vezes incompreensíveis entre eles.

Para ajudar a superar essas barreiras, muitos imigrantes italianos criaram organizações de mútuo socorro e associações culturais para promover a cultura e a língua italiana no Brasil. Essas organizações ajudaram a manter a cultura e a língua italianas vivas no país e também ajudaram os imigrantes a se integrarem na sociedade brasileira. No Rio Grande do Sul, por necessidade, chegaram a criar uma nova língua para poder se comunicar entre eles mesmos nas colônias. A grande maioria dos imigrantes não sabia falar italiano, somente os diversos dialetos das zonas de origem na Itália, muitas vezes incompreensíveis para eles. A essa nova língua foi dado o nome de talian, que é uma mistura de dialeto veneto, que é a base dessa língua, com o dialeto lombardo e alguma coisa de trentino e friulano. A esses dialetos se somaram palavras italianas aportuguesadas e ainda hoje, se bem que com menor  difusão, permanece em uso pelos seus descendentes.

Conclusão

A imigração italiana para o Brasil a partir do século XIX foi um evento significativo na história brasileira e teve um impacto duradouro na sociedade e economia brasileiras. Os imigrantes italianos que deixaram o país em busca de uma vida melhor enfrentaram muitas dificuldades ao chegar no Brasil, incluindo barreiras culturais e linguísticas. A imigração  foi um exemplo da coragem e determinação daquele povo pobre, a maioria  analfabeto, mas jamais ignorante. Suas histórias são um testemunho da resiliência humana e do espírito de perseverança que continua a inspirar pessoas em todo o mundo. A história da imigração italiana para o Brasil é um exemplo da diversidade cultural do país. Os imigrantes italianos trouxeram consigo uma rica herança cultural, que se integrou à cultura brasileira. A música, a culinária, a arte e outras expressões culturais italianas deixaram uma marca duradoura na sociedade brasileira e continuam a ser celebradas e apreciadas até hoje. As gerações subsequentes de seus descendentes continuam a contribuir para a sociedade brasileira, mantendo viva a cultura e a tradição italiana. Isso demonstra como a imigração tem um impacto duradouro nas sociedades que a recebem e como a diversidade cultural é uma
força enriquecedora. 

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS





segunda-feira, 20 de julho de 2020

O Clero na Itália do Século XIX

La Questua pintura de Gaetano Chierici


Nos anos 1800, além de padres, bispos e cardeais comuns, no clero ainda existiam eremitas e capelães, ou seja, sacerdotes que viviam em um oratório ou ermita, abades e padres sem paróquia. 

Eles eram reconhecidos por sua barba desgrenhada, roupas velhas e mal cuidadas, cajado de peregrino e caixa de esmolas, Eles foram desaparecendo aos poucos, ao longo do século, devido novas diretrizes da Igreja, como a reforma do clero mudando bastante a vida deles. A necessidade de formação teológica, com estudos sendo realizados cada vez mais em seminários, capazes de dar a preparação necessária para aqueles que queriam ser sacerdotes.

No século 19 um homem se tornava sacerdote por muitas razões além daquelas que aconteciam nos séculos anteriores. De fato, se até os anos do século XVIII o sacerdócio era escolhido através de estratégias familiares ou pelo rapaz ter privilégios sociais e econômicos, nos anos do século XIX a carreira eclesiástica era escolhida principalmente porque o candidato queria se comprometer em trabalhar e a fazer o bem para sociedade.

Essa mudança na escolha para o sacerdócio significa que o número de padres sofreu uma diminuição, especialmente após o ano de 1848, também porque o padrão de vida dos padres de uma paróquia era agora bastante modesto, semelhante ao dos professores do ensino fundamental.

Dom Bosco


Uma figura típica do "padre comprometido" foi Dom Giovanni Bosco, que fundou em 1846, nos arredores de Turim, o primeiro oratório, de San Francesco di Sales, ou oratório salesiano.

Esses locais de formação religiosa e ensino se espalharam rapidamente por várias regiões e eram voltados principalmente para jovens das classes menos favorecidas, aos quais era oferecido um local controlado de socialização, para contrastar a perda dos valores tradicionais que agora ocorria com a expansão da industrialização. 

Piccola Casa della Divina Provvidenza a Torino

Quase na mesma época, Giuseppe Cottolengo, em 1862, fundou a pequena casa da providência divina que acolhia os pobres e doentes rejeitados pelos hospitais e mais tarde aqueles incapazes.

Deve-se dizer, no entanto, que no século XIX a igreja foi liberal apenas por um curto período, isso por volta de 1848, e que sua abertura à sociedade com as escolas de Dom Bosco e o hospital de Cottolengo, contrastava com o novo estado italiano, que se considerava a única entidade que lidava com os vários problemas da sociedade.

De fato, as relações entre o papa e o estado secular eram bastantes difíceis, principalmente quando Roma foi conquistada e se tornou a capital do Reino da Itália, ocasião em que ao papa restou apenas o Vaticano.

Entretanto a Roma eclesiástica em 1870 ainda era muito poderosa, tendo 206 conventos entre homens e mulheres, 350 igrejas, 250 oratórios, cerca de sessenta paróquias e aproximadamente 8000 religiosos.