sábado, 9 de agosto de 2025

Achille Scapinetto – Entre Dois Mundos e Duas Guerras


 

Achille Scapinetto – Entre Dois Mundos e Duas Guerras

Entre a terra que o viu nascer e a que lhe deu abrigo, ele aprendeu que o verdadeiro campo de batalha é o coração.

O cheiro da terra vermelha e quente da região de Piracicaba nunca abandonou Achille Scapinetto, mesmo décadas depois de ter deixado o Brasil. Ele nascera ali, num pedaço de chão que não pertencia à sua família, sob o sol inclemente que queimava tanto a pele quanto as esperanças. Seu pai, Vittorio Scapinetto, e sua mãe, Luigia Sacaron, tinham atravessado o Atlântico em 1890, vindos de Rozzampia, no comune de Thiene, província de Vicenza.

Não vieram sozinhos. Trouxeram a filha mais velha, Santina, e o segundo filho, Giacomo, ambos ainda pequenos. No Brasil, nasceriam os outros: Francesco, Mansuetto, Umberto, Vittoria e, por último, Achille. A promessa que os trouxera da Itália era sedutora: trabalho remunerado, vida melhor, futuro para os filhos. Mas as promessas, tão abundantes no cais de Gênova, evaporaram no calor dos cafezais paulistas.

O latifundiário que os contratara ainda na Itália tinha as próprias dívidas e, com o café em queda no mercado, não havia generosidade para com os colonos. O pagamento vinha minguado, corroído por débitos constantes: a compra de mantimentos, as ferramentas de trabalho, a doença de Santina que, durante um parto difícil, precisou de uma cesariana no hospital de Piracicaba — tudo pago pelo patrão e cobrado, com juros, no acerto.

As dívidas eram uma prisão invisível. Fugir não era opção; a liberdade só viria com a quitação total, e isso parecia inalcançável. Os anos se arrastaram em meio ao calor sufocante, aos gritos de comando nos cafezais e à rotina exaustiva.

Quando finalmente retornaram a Rozzampia, em 1920, estavam um pouco menos pobres que antes, mas muito mais velhos do que a idade sugeria. Vittorio, obstinado, apesar da idade, investiu as economias de três décadas de suor na abertura de uma pequena casa de comércio, onde vendia mantimentos além de tabaco e licores. O comércio, situado em uma das esquinas mais movimentadas de Thiene, tornou-se ponto de encontro e sobrevivência para a família.

Mas a Itália não ofereceria tranquilidade por muito tempo. O avanço do regime fascista instalou-se como uma sombra espessa sobre as ruas, as praças e até sobre as conversas familiares. Cartazes de propaganda, desfiles militares e discursos inflamados tentavam disfarçar a crescente falta de liberdade. Nas casas, a prudência passou a ser lei: portas fechadas, janelas semiabertas, olhares desconfiados para cada passo na calçada. O silêncio tornou-se refúgio, pois qualquer palavra mal interpretada poderia atrair vigilância, interrogatórios e humilhações.

O clima era sufocante, como se o ar estivesse carregado de chumbo. Pequenos gestos — uma carta recebida do exterior, um comentário sussurrado no mercado, um livro escondido no fundo do armário — podiam se tornar perigosos. A incerteza pairava como neblina que não se dissipa.

Quando a Segunda Guerra Mundial explodiu, a tensão atingiu o ponto máximo. O som distante das rádios transmitindo notícias do front parecia ecoar dentro das paredes, misturando-se ao peso de um medo que não ousava se mostrar em voz alta. Foi então que a casa de Vittorio mergulhou no silêncio mais denso de sua história. As conversas rarearam, as refeições tornaram-se breves, e os olhares evitavam se encontrar, como se a troca de sentimentos fosse abrir fissuras por onde o pavor pudesse escapar.

A convocação chegou como um golpe seco, sem espaço para apelos ou despedidas prolongadas. Três de seus filhos — Mansuetto, Umberto e Achille — receberam a ordem de apresentar-se. As mãos de Vittorio tremeram ao segurar aquelas cartas oficiais, seladas com o brasão do Estado, pois sabia que não eram apenas folhas de papel: eram bilhetes de entrada para um destino incerto, talvez sem volta.

A guerra não teve piedade. Mansuetto encontrou a morte a cinquenta graus abaixo de zero, congelado nas trincheiras da Rússia, em Nikolayevka, no Oblast de Belgorod. Umberto tombou sob um sol implacável, a cinquenta graus acima de zero, nos desertos do norte da África. E Achille, o mais jovem dos três combatentes, foi ferido na Grécia.

Capturado numa manhã cinzenta, quando o frio parecia morder até os ossos, Achille foi empurrado para dentro de um vagão de carga. O ar era denso, carregado do cheiro agridoce de suor, palha úmida e medo. Amontoado entre homens que tremiam mais pela incerteza do que pela temperatura, não sabia se o destino seria o trabalho forçado ou um campo de extermínio.

O Lager onde foi confinado parecia ter sido erguido para apagar lentamente qualquer vestígio de humanidade. Barracões de madeira mal vedados, chão de terra batida, e um vento gelado que atravessava cada fresta, arrancando o calor dos corpos como se quisesse lembrar que até o ar estava sob domínio dos guardas.

A comida chegava em formas quase irônicas: uma tigela de caldo ralo com um fiapo de repolho, um pão escuro e duro como pedra, algumas cascas de batata que, se não fossem devoradas, serviriam de alimento para os ratos. Beber água significava abaixar-se sobre um barril onde a superfície estava coberta por um fino véu de sujeira. A fome não era apenas física — era um peso constante na mente, que tornava cada pensamento mais lento, cada movimento mais custoso.

Ainda assim, Achille se agarrou a algo que nenhum regime ou campo de prisioneiros podia confiscar: a esperança. À noite, deitado sobre a palha infestada de piolhos, fechava os olhos e se transportava para Thiene. Sentia o calor de um forno aceso, o cheiro do pão recém-assado, o som ritmado de passos conhecidos na rua de pedra. Na penumbra, recordava o rosto da mãe como quem segura uma fotografia desbotada — frágil, mas indispensável para sobreviver.

Meses se arrastaram. Dias e noites misturavam-se, e a contagem do tempo era feita não pelo calendário, mas pelo número de companheiros que não resistiam. Alguns partiam sem um som, apenas fechando os olhos e entregando o corpo ao frio.

Quando a guerra finalmente afrouxou suas garras e Achille foi libertado, ele já não era o mesmo homem. Caminhou durante dias até reconhecer, no horizonte, os contornos familiares das montanhas que cercavam Thiene. A cada passo, a paisagem despertava lembranças adormecidas: o sino da igreja que ecoava ao longe, o cheiro de terra molhada após a chuva, a curva da estrada onde, em tempos de paz, ele brincava quando menino.

Parou diante do portão da casa. O ferro estava frio ao toque, e por um momento, Achille temeu que ninguém abrisse. Quando finalmente a porta se escancarou, ele ficou imóvel. Carregava no corpo as marcas profundas das balas — cicatrizes que riscavam a pele como mapas de batalhas que ninguém queria recordar — e, na alma, feridas invisíveis. Trazia nos olhos a memória de um abismo que não devorou apenas homens, mas também futuros inteiros.

Achille viveu ainda longas décadas, resistindo como um velho tronco de oliveira que, retorcido e marcado pelo tempo, permanece de pé apesar das tempestades que lhe arrancaram galhos e folhas. Os anos não lhe pouparam o corpo — os passos tornaram-se lentos, as mãos carregavam o tremor discreto da idade, e os olhos, antes vivos como brasas, agora guardavam um brilho calmo, quase crepuscular.

Chegou aos noventa anos como quem atravessa um continente inteiro: com o cansaço estampado no rosto, mas com a dignidade intacta. Dentro de si, conservava dois mundos que se misturavam como águas de rios diferentes. Havia o Brasil ardente da infância — os dias de sol que queimava a pele, o cheiro doce da terra molhada após as chuvas tropicais, o riso fácil das gentes que acolhem com braços abertos. E havia a Itália sofrida da maturidade — o frio cortante dos invernos, o som dos sinos ecoando entre as colinas, as ruas estreitas onde a vida corria devagar, mas onde a guerra deixou marcas que o tempo jamais apagou.

Carregava também a lembrança de duas guerras, que haviam moldado não apenas o seu destino, mas o de toda a sua família. Foram guerras que roubaram amigos, dispersaram parentes e transformaram sonhos em silêncio. E, no entanto, ele também guardava memórias de coragem — dos que se ergueram apesar da fome, dos que partilharam o pouco que tinham, dos que mantiveram acesa a chama de um futuro melhor mesmo quando tudo parecia perdido.

Nos últimos anos, gostava de se sentar à sombra da velha oliveira no quintal. Passava horas ali, olhando para o horizonte como se ainda pudesse ver, ao mesmo tempo, o céu claro do Brasil e o entardecer dourado da Itália. Talvez soubesse que, quando chegasse a sua hora, levaria consigo não apenas as lembranças, mas o peso e o orgulho de ter vivido entre dois mundos e sobrevivido a duas guerras — uma herança invisível, destinada a permanecer no sangue e na memória de todos que vieram depois dele.

Nota do Autor

O que o leitor encontrará nestas páginas não é pura ficção, mas a recriação de uma história real, preservada ao longo de décadas por memórias familiares, relatos orais e fragmentos de registros históricos. Por respeito à privacidade dos descendentes e para preservar a liberdade narrativa, todos os nomes e alguns detalhes geográficos foram modificados.

Achille Scapinetto é, portanto, um nome escolhido. Mas por trás dele viveu um homem de carne e osso, que atravessou a vida dividido entre dois países, dois idiomas, dois afetos — e que carregou no corpo e na alma as marcas de duas guerras. Ele não foi herói perfeito nem mártir imaculado: foi humano, e justamente por isso sua história fala tão fundo ao coração.

Escrevi este livro como quem recolhe e costura retalhos de um manto antigo: cada linha busca unir as tramas da dor e da esperança, da coragem e da renúncia, para que não se perca a lembrança daqueles que construíram nossas raízes longe de sua terra natal. Não é apenas o retrato de um homem. É o eco da jornada de milhares de imigrantes que viveram na encruzilhada entre a saudade e o recomeço, entre o dever e o sonho.

Que estas páginas sejam, para o leitor, um abraço através do tempo — e um tributo àqueles que viveram entre dois mundos e sobreviveram a duas guerras.

Dr. Piazzetta



Na Tera Nova par I Belardi: El Ricomìnsio in Rio Grande do Sul


Na Tera Nova par i Belardi 

El Ricomìnsio in Rio Grande do Sul 


Ntel ano 1885, in ´na pìcola vila del comune de Castelfranco, Itàlia, la famèia Belardi se trovava drio a ´na dura realtà de povertà e mancansa de speranse. Antonio Belardi, un contadin ùmile e perseverante, dedicava i so zorni a laorar la tera afità, ndove el sudor del laoro el zera par pagar el paron de la tera. La maior parte de la racolta, la zera fata de grano, ua e qualche verdura, la gavea da ´ndar al paron de le tere, lassiando la famèia con poco pì del necessàrio par suportar i fredi inverni italiani. Ogni staion che passava, Antonio sentiva che la frustrasion cresseva. Vardava i fiòi, Pietro de 10 ani e Anna de 7, con i piedi scalsi e i vestì ratopà, e la so mòier Maria che dividia con lui la fadiga del campo. Maria, con ´na forsa silensiosa, spesso calava i ánimi in casa, ma anca lei la scominsiava a domandarse se quela vita gavea un futuro mèio.

Na matina de doménega, con el sol che scaldea, mentre chiachierava con altri contadin dopo la messa in piassa davanti la cesa, Antonio sentì parlar par la prima olta de le oportunità ´ntel sud del Brasil. Se diseva che el governo brasilian dava tera gratis par i imigranti disposti a passar l’ossean e a far gran fadiga. Le stòrie gavea speranse: campi fèrtili, clima bon e, sopra tuto, la possibilità de èsser padroni de le pròprie tere, roba che in Italia pareva un sònio lontan.

Antonio passava i zorni a pensar a sta possibilità. Sercava informasion ogni olta che podea, domandava ai viaiatori e gavea in man poche lètare che i parenti là in Brasil gavea mandà. Anca se lui gavea dubi e paure – come far a passar un ossean sconosciuto con fiòi picinin? – l’idea de na vita nova, ndove i so fiòi podesse crescser con oportunità e dignità, gavea siapà forma ´ntel so cuor. Seguro che el sacrifìssio saria sta grande, ma che valeva la pena, Antonio decise che zera ora de cambiar el destin de la famèia. ´Na note freda, con la luce de ´na lámpada che iluminava la pìcola casa, el gavea fato saver la so decision. Anca se Maria gavea paura al’inisio, temendo l’incògnito, la promessa de un futuro mèio par i fiòi la fece acordar. Da quel momento, la vita dei Belardi no saria mai sta la stessa.

Con la so mòier Sofia e i do fiòi, Marco e Elena, Antonio el ga scominsià el viaio verso lo scognossesto, portando solo el necessàrio: na valigia de legno, ´na imagine de Santo Antonio e el coraio de ricominsiar. Partì da quel pìcolo paeseto verso la sità portuària de Genova, ndove i ga imbarcà su un gran vapor ciamà Colombo. El zera un gigante de fero e legno che, par tanti, simbolesiava tanto el congedo dal passato quanto la promessa de un futuro inserto.

La traversia del Atlántico la zera un drama par el corpo e l’ánima. El viaio, che durava setimane, la zera segnà da onde gigantesche che sbateva el vapor in manera spaventosa. Sofia, sempre forte, passava gran parte del tempo a cuidar de Marco, de 8 ani, e Elena, che gavea solo 5, mentre la combatea con mal de mare e preocupassion. Antonio, da parte so, fasea quel che podea par aiutar altri passegieri, formando legami con altre famèie che anca lori sercava na vita nova in Brasil. Sul ponte, ´ntei pochi zorni de calma, el se perdeva a vardar el orisonte infinito, imaginando cosa i gavea da aspetarse da l’altra parte del oceano. Fra le stòrie che i viasatori contava, ghe zera anca tante speranse, oltre ai problemi. Zera pròprio quella speranza che tegneva su Antonio e la so fameja, anca ´nte le note pì difìssili, quando la mancansa de chi lori i gavea lassà drio strigeva el cuor de tuti.

Dopo setimane de viaio, el Colombo finalmente el ze rivà al porto de Rio de Janeiro, ´na sità che par lori parea viva e sfidante. Ma ´ntel posto la so strada no zera mia finì. Con altri emigranti, la famèia se imbarcò su un vapor pì picinin, el Maranhão, che i portaria verso el sud del Brasil. Dopo un’altra setimana de navigassion par aque pì calme, Antonio se domandea se tuti quei sacrifìssi i sarìa vàlido.

Quando finalmente lori i ze sbarcà al porto de Rio Grande, al estremo sud del Brasil, Antonio e la so famèia i zera rissevuti da agenti del governo dea provìnsia, che ghe confermava promesse grandi: tera fèrtili i stava ad aspetar i imigranti, oportunità in abondansa, e na vita nova se podìa far. Ma presto se capì che ste promesse le zera anca pien de problemi: la lèngoa locae la zera un mistero, i costumi diversi, e el teritòrio, un vasto bosco fito, parea pì na bariera che ´na oportunità. ´Ntei primi zorni, la famèia la zera alogià in barache improvisà, struture rùsteghe provisòrie de legno greso con i teti de zinco, che dava poco conforto. L’ambiente el zera afogante e el spasso, condiviso con altre famèie arivà, el zera pìcoli par tuti. Ma Antonio tegnea ancora l’otimismo, recordando a tuti che ogni passo i se avissinava al sònio de aver la so tera. Dopo pochi zorni, ga vignesta l’ordine de continuar el viaio. Lori i se ga imbarcà su vapori pìcoli par traversar la vasta Lagoa dos Patos, con destin al fiume Caí. Durante la traversia, el paesàgio cambiava pian pian: l’aqua calma rifletea el cielo, e le rive zera coerte da vegetassion sconossuta. Passando par la sità de Porto Alegre, capoluogo de la provìnsia, Antonio el zera colpì dal movimento del porto, dai casoni coloniai e da le strade de piera. Zera un mondo novo, ma anca lontan da la realtà rurae che i zera spetà. L’ùltima parte del viaio i ga portà a Caxias do Sul, ´na zona montagnosa e coerta da boschi fiti. Là, lori i ga recevesto na parcela de tera che saria diventà la base de la so nova vita. No zera casa, no zera strada, no zera vicini prossimi – solo la natura pura e el desafio de domarla. Par mesi, Antonio, Sofia e i fiòi i se dedicava al laoro duro de netar el teren e far la prima casa. La casa, la ze sta fata de tavole de legno taià con fadiga, zera semplice, ma pien del orgòlio de un risultato conquistà con le pròprie man. Pian pianin, Antonio gavea scominsia a piantar vigne, sfrutando el sapere che el gavea portà da Itàlia su la coltura de l’ua e la produssion del vin. El soniava de far de quele coline verdi vigneti pròsperi. Intanto, Sofia presto la diventò na persona importante tra i imigranti che se radunava intorno. Le so abilità culinàrie e la capassità de far feste zera conossude da tuti. Con ricete italiane e el calor de la so ospitalità, lei la portava gioia e tradission a chi condividea le stesse fatiche.

Con el passar dei ani, la famèia Belardi prosperò, gràssie a la forsa de la unione e al sostegno recìproco tra i coloni. La pìcola comunità diventò ´na casa ndove la cultura italiana fioria, adatandose al mondo novo sensa mai perder le radice che i legava al passà. E cussì, fra le vigne che cresseva e le feste che radunava i visin, Antonio e Sofia i ga trovà no solo un novo scomìnsio, ma un senso novo a la vita.

Gli ani i ga passà, e Marco, el fiol pì vècio de Antonio e Sofia, mostrò da sùito un spìrito de imprenditore. Curioso e atento, el seguiva el pare ´nte le cure de le vigne e ´nte la produssion artisianal del vin. Quando compì 18 ani, Marco decise che zera ora de far un passo in pì. Con ´na carossa de legno che l’avea fato anca lui, scominsiò a visitar le comunità visin, ofrendo no solo el vin de la famèia, ma anca formài freschi e salami preparà da Sofia. El sucesso el ze sta imediato. El vin Belardi diventò conossuo in tuta la zona, no solo par la qualità, ma anca par la simpatia de Marco, che sempre gavea ´na parola bona e ´na stòria da contar. Presto el stabilì na rete de scambi con altri coloni, comprando farina e tessuti in cambio dei so vini e formài. Marco no solo gavea aiutà a far cresser el negòssio de la famèia, ma gavea anca rinforsà i legami tra le comunità, essendo spesso invità a fiere e incontri locai.

Intanto, Elena, la fiola pì zòvene, la seguì un sentiero diverso, ma anca importante par la colónia. Da picina, la gavea un interesse special par i pochi libri che i gavea portà da Itàlia. La imparò a ler con l’aiuto de la so mare e, a 16 ani, la ga scominsià a insegnar a altre tosete. Capìa che se gavea bisogno de un spasso dedicà a l’istrusion, e la convinse el pare a trasformar na parte del baracon de casa in na scola improvisà. Con ´na lavagna de carbon e banchi de legno, Elena no solo insegnava a leser e scrivar, ma contava anca stòrie e canzoni italiane, fasendo sì che la eredità culturae dei so antenati no ze drio scordà. Pian pianin, la so pìcola scola diventò un punto de incontro par la comunità. I fiole imparava con entusiasmo, mentre i pare, spesso analfabeti, i vardava con orgòlio i progressi dei so fiole. Dopo qualche ano, Elena gavea anca l’idea de far na “Festa de la Racolta”, un evento che mescolava na fiera de prodoti locai con bali e musiche tradisionai italiane. La festa diventò un apuntamento fisso, atirando imigranti da altre colònie e rinforsando l’identità culture de la zona.

Cussì, i fradèi Marco e Elena, ogn’un con el so talento ùnico, i contribuì de maniera decisiva al cresser e a la coesion de la colónia. Marco, con la so abilità par el comèrssio, gavea verto porte e portà prosperità a la famèia, mentre Elena, con la so passion par l’istrussion e la cultura, piantò i semi par un futuro pì rico de conossensa e tradission. Tuti do i ga mostrà che, anca in tera lontan, se pol far qualcosa de novo sensa perder de vista le radice che i tegnea su. Nonostante tante dificoltà lungo la strada, i Belardi no gavea solo sopravissù, ma prosperà in ´na tera che a prima vista parea ostile e pien de sfide. Antonio e Sofia i ga trasformà el teren duro e la foresta fita in vigneti produtivi e ´na casa calorosa, mostrando che la determinassion e el laoro duro i pol superar anca le prove pì dure. Marco e Elena, con i so talenti e le so vision uniche, i ga continuà el lassà de i so pare, portando el nome de la famèia oltre i confini de la colónia. Marco, con la so rete de comèrssio, gavea aiutà a far conosser la region come produtrise de vini e formài de qualità, atirando novi imigranti e inssentivando l’economia locae. Elena, da parte so, trasformò l’istrussion in un pilastro de la comunità, formando generassion che cressea con ´na profonda consapevolesa de le so radise e del so ruolo ´nte la costrussion de un futuro mèio. Incòi, i dessendenti dei Belardi i ga mantegnù viva la memòria dei antenati, preservando le tradission italiane e intanto abrassiando i cambiamenti de un mondo moderno. Le vècie vigne de Antonio ancora dà fruto, adesso soto le cure dei pronipoti che i ga alargà la produssion par includer novi vini premià. La scola fondà da Elena la ze diventà un sentro comunitàrio, ndove la stòria, cultura e conossensa continua a esser tramandà. La storia de la famèia Belardi la ze diventà un sìmbolo de coraio, resistensa e union. ´Nte le feste comunitàrie e ´ntei raduni de famèia, i veci i conta le stòrie de Antonio e Sofia ai pì zòveni, rinforsando i valori che i ga portà fin qua. L’eredità dei Belardi no ze solo materiale, ma anca spiritual: un testimónio che anca davanti ai pì grandi problemi, se pol transformar le sfide in oportunità e far nàssere qualcosa de duraturo. Le so tera, adesso un peso vivo del sud del Brasil, le ze la prova che el sònio de un futuro mèio, sustegnù da amore e union de famèia, pol superar ogni confine. 

Nota do Autor 

Sta stòria la ze un peseto del libro Na Tera Nova par i Belardi: El Ricomìnsio in Rio Grande do Sul, un’opera che vol racontar la saga de ´na famèia italiana che, spinta da corgio e speransa, la ga afrontà le dificoltà de l’immigrassion e se ga butà in tera sconosciù in Brasil. Tra ste pàgine, el letor el ze invità a viver le fatiche, i sacrifìssi e i sucessi che no el ga formà solo el destino dei Belardi, ma anca la stòria de tante altre famèie che ga contribuì a formar el Rio Grande do Sul come lo conossemo incòi.

Pì de un raconto stòrico, sto libro el ze ´na celebrassion de la resistensa umana, de la forsa de la union de famèia e del incontro tra culture diverse. Mostrando le radise profonđe che lega el passà europeo a sta tera do Brasil do Sul, se vol tegner viva la memòria de chi, con fadiga e fede, ga trasformà le sfide in oportunità e i soni in realtà. Che sta stòria la possa inspirar generasioni a valorar le pròprie origini e a afrontar el futuro con coraio e determinasion.


Dr. Luiz C. B. Piazzetta