domingo, 28 de maio de 2023

Migrantes Transcontinentais: Um Estudo Sobre a Experiência dos Italianos na Romênia

 



Esta história é hoje praticamente desconhecida, esquecida pelas novas gerações de italianos, habituados ao conforto e a riqueza atual, conquistados especialmente após a década de 1960, com o grande desenvolvimento industrial do norte e nordeste do país. Se torna bastante difícil para eles acreditarem hoje, que no desenvolvido e rico nordeste italiano, o conhecido Triveneto, ainda no início do século XX, a pátria italiana não tinha dinheiro suficiente para pagar salários e a salvação estava na hoje pobre Romênia! 
O território romeno atual, desde tempos pré-históricos, sempre foi habitado por diferentes grupos de pessoas. A Romênia é um país do sudeste europeu, mais conhecido pela região florestal da Transilvânia, cercada pelos Montes Cárpatos. Como país, foi fundado em 24 de janeiro de 1859 com a união da Moldávia Ocidental com a Valáquia e já em 1877 declarou independência do Império Otomano, após a guerra entre a Turquia e a Rússia, reconhecida pelo Tratado de Berlim de 1878. 
Entre meados do século XIX e início do século XX, muitos italianos emigraram para a Romênia quando ela era então um país independente, rico em recursos e pouco povoado, ansioso para aproveitar ao máximo o seu potencial econômico. Os italianos que para lá seguiam era composto principalmente por pedreiros, carpinteiros, lenhadores, pintores, operários de fábricas, operários da construção civil e mineiros, além de outros, como os artesãos. Começando como uma migração sazonal - quando então eles eram conhecidos em italiano como “rondini”, ou andorinhas, que vão e voltam anualmente - quando no início da primavera até o final do outono, com os seus campos já estavam plantados, milhares de camponeses e artesãos “italianos”, se dirigiam para esse país, para aproveitar ganhar algum dinheiro extra, com o progresso daquele país. De uma migração temporária ou mesmo quase sazonal, logo se transformando em um deslocamento definitivo. Entre a segunda metade do século XIX e a Primeira Guerra Mundial, 130.000 italianos foram para a Romênia, principalmente saindo do Friuli, Veneto e Trentino, especialmente aqueles que trabalhavam com pedra e madeira. Antes de 1821 já aconteceram as primeiras partidas de italianos - que, na verdade, eram tiroleses - para a Romênia, sendo encaminhadas, principalmente, para a região da Transilvânia. Eram formadas por algumas famílias de Val di Fassa e Val di Fiemme, no Trentino, levados para os Montes Apuseni, na Transilvânia, para trabalhar como lenhadores e marceneiros. Por outro lado, alguns empresários italianos conseguiram contratos para a construção da grande ferrovia Transiberiana e já em 1845, um número significativo de engenheiros estavam empregados na companhia ferroviária romena.
Havia uma canção que os emigrantes italianos cantavam onde uma estrofe dizia: 


Andiamo in Transilvania
a menar la carioleta
che l’Italia povereta
no’ l’ha bezzi da pagar.



Em 1892, o ministro italiano em Bucareste, Francesco Curtopassi, escreveu que "as localidades de Frisono, Forgaria, Castelnuovo del Friuli, Forni di Sotto forneceram à Romênia um número tão grande de trabalhadores que se poderia pensar que elas ficaram desabitadas". Segundo alguns autores, no final do século XIX cerca de 10 a 15% dos emigrantes que partiram do Veneto foram para a Romênia trabalhar na construção civil, na construção dos estradas-de-ferro, nas atividades florestais ou nas minas. O número de emigrantes italianos na Romênia quase decuplicou em três décadas. A emigração continuou entre as duas guerras mundiais e algumas estimativas calculam a presença na Romênia de cerca de 60.000 italianos com muitos deles renunciando a cidadania italiana e permanecendo nas cidades romenas. Outros voltaram para a Itália. Sua presença ainda é sentida hoje em Bucareste, Brasov, Falticeni, Roman, Tulcea, Iasi, Ploiesti, Arad, Calafat, Sulina, Turnu Severin, Bacau, Neamt, Cluj, Bistrita, Suceava e muitas outras. Com a queda do comunismo, o governo romeno concedeu às pequenas comunidades a condição de minoria linguística e o direito de serem representadas na Câmara dos Deputados por seu próprio parlamentar. Ainda hoje a Romênia exerce um forte atrativo, principalmente para os empresários do Vêneto, Trentino e Friuli, que deslocaram suas atividades produtivas para cidades romenas como Timisoara, rebatizada de "Trevisoara”, uma referência ao grande número de empresas trevisanas naquele país e o concorrido fluxo diário de empresários vênetos, que contam até com uma linha aérea direta entre Treviso e aquela cidade.




Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS