sexta-feira, 30 de junho de 2023

Desbravadores da Terra: A Lista das Famílias Italianas Pioneiras em Vale Vêneto, RS (1878-1888)


Relação das Famílias Pioneiras que Colonizaram Vale Vêneto vindas da Itália entre 1878 e 1888


BALCONI

BALDISSERA

BASSO

BEVLACQUA

BISOGNIN

BOLZAN

BONFADA

BORANGA

BORDIGNON

BORTOLAZZO

BORTOLUZZI

BRONDANI

CAGLIARI

CANAZZA

CARLOTTO

CASASSOLLA

CERETTA

CHIARINOTTO

CILIATO

COPETTI

CREAZZO

DALMASO

DAL SANTO

DANIEL

DOTTA

DOTTO

DRUZIAN

FERIGOLO

FILIPETTO

FOLETTO

FORGERINI

FORZIN

GIACOMINI

GRIGOLETTO

IOP

LODERO

LOVATTO

MARCHESAN

MARCUZZO

MARIN

MARIO

MELLOTTO

MENEGHEL

MISSAO 

MORO

MISSAN

NOGARA

PASQUATIN

PASQUATINI

PARCIANELLO

RIVETA

RIZZOLATTO

POZZOBON

RIGHI

RORATTO

ROSSI

ROSSO

SARTORI

SBIZIGO

STEFANEL

STROILI

TONDO

TRONCO

VARASCHIN

VENDRUSCULO

VENTURINI

VERNIER

VIGNOTTO

VIZZOTTO

WEBER

ZAGO

ZANINI







quinta-feira, 29 de junho de 2023

Náufragos de Almas: As Trágicas Odisséias dos Emigrantes no Mar

 



Náufragos de Almas: 
As Trágicas Odisséias dos Emigrantes no Mar



Nas águas revoltas do oceano, um lamento ecoa, 
Embarcações de sonhos, epidemias, morte e dor. 
A travessia incerta, destino sombrio a bordo, 
Levando emigrantes à sepultura nas profundezas do mar.

Em busca de novos horizontes, deixaram a terra natal, 
Mas a morte espreitava, silenciosa, implacável. 
Doenças cruéis, agouros sombrios no ar, 
Cobravam vidas preciosas, ceifando o sonho de recomeçar.

A bordo, corpos enfraquecidos, suspiros calados, 
Em meio às lágrimas, angústia e desespero. 
Enfrentavam a escuridão, a incerteza dos destinos traçados, 
Envolvidos em lençóis, ao mar profundo eram entregues, derradeiro adeus.

Pedras amarradas aos pés, símbolo triste de despedida, 
Submersos nas águas gélidas, abraçados pelo mar salgado. 
Seus nomes se perderam, suas histórias esquecidas, 
Mas o mar testemunha silencioso, guardião do passado.

Nas profundezas, suas almas vagam em eterno descanso, 
Em meio às ondas, encontraram a paz que lhes faltou na vida. 
Memórias daqueles que não chegaram ao novo lar, 
Nas águas vastas do oceano, eternamente entrelaçadas.

Lembramos dos que partiram, das vidas interrompidas, 
Das epidemias avassaladoras, das doenças cruéis. 
Honramos a coragem e a esperança, mesmo diante das despedidas, 
Erguemos nossos olhares ao céu, lembrando que o sonho é fiel.

Que suas histórias sejam contadas, lembradas com carinho, 
Esses emigrantes corajosos, que enfrentaram a travessia dura. 
A bordo da esperança, lutaram contra o destino mesquinho, 
Seu legado vive em nós, mesmo na sepultura obscura.

E assim, perpetuamos a memória daqueles que se perderam, 
Honrando a bravura e a resiliência que carregaram consigo. 
Nas ondas do tempo, suas vozes ecoam, jamais desvanecem, 
As epidemias, as doenças e as mortes não apagam seu abrigo.

de Gigi Scarsea
erechim rs



quarta-feira, 28 de junho de 2023

Da Província de Treviso ao Pampa Gaúcho: A Jornada Épica de Genaro em Busca de um Futuro Melhor - parte 4








Domenico, a mãe e os irmãos trabalharam duro para limpar parte do terreno e preparar um novo pedaço de terra para as semeaduras de inverno, principalmente, de trigo. Ainda tinham parte dos mantimentos recebidos do governo e muita coisa que por vezes faltava, os vizinhos, que já moravam a mais tempo no local, davam ou vendiam para eles. A primeira safra de milho foi ótima, além das suas expectativas. A semeadura do milho apesar de ter sido feita com um pouco de atraso, foi compensada com o atraso do inverno. Mostrou que a terra era muito fértil e a safra de fim de primavera seria abundante. Aprenderam que quando o milho já estivesse com grãos, precisavam ficar mais atentos, pelo grande número de pássaros e animais selvagens, que em bandos dizimavam as plantações. O tempo corria rápido e os irmãos já haviam começado a fazer as tábuas para a construção da casa. Estavam contentes com o lugar, com a terra que compraram. Agradeciam sempre ao pai Daniele pela indicação do lugar e incentivo para emigrarem. O correio chegava mensalmente na sede da colônia, não muito distante onde moravam. Maria tinha esperanças de receber notícias das duas outras filhas. Não sabia onde miravam e nem como estavam. Antes de deixar Segusino, durante a visita ao pároco Michele, havia deixado com ele o seu novo endereço no Brasil para caso as filhas quisessem ou pudessem entrar em contato com ela. Também tinha iniciado contato por cartas com o velho padre, amigo de muitos anos da família. Estava aguardando a sua resposta. Naquele tempo, conforme o local, uma carta demorava vários meses para ser entregue ao destinatário, especialmente naquelas colônias do Rio Grande do Sul, tão distantes de tudo. A casa de madeira estava quase pronta, os rapazes tinham se saído muito bem, revelando-se bons carpinteiros. Era grande com três grandes quartos e uma sala. A cozinha, com seu fogão de chão, ficava em outra pequena dependência, separada da parte principal da casa, pelo perigo de incêndio. A safra do trigo foi ótima e a do milho excelente, ocasião em que puderam encher os depósitos no grande paiol recém-construído. Parte das safras eram vendidas e seguiam de barcos para a capital do estado e a outra parte era reservada para consumo da família. Já estavam criando galinhas e alguns porcos soltos em um cercado. Um dos filhos andava semanalmente até o correio, na sede da colônia, para ver se tinha chegado alguma carta para eles. Durante muitos meses voltavam tristes, pois, não encontraram nada. Um dia o filho mais novo, voltou gritando e correndo. De longe balançava o braço mostrando dois envelopes brancos. Saíram todos correndo ao encontro do rapaz. De todos eles somente Domenico sabia ler um pouco, pois, tinha somente estudado até a terceira série. Uma das cartas era da filha mais velha que morava nos Estados Unidos e a outra era de Don Michele. Com dificuldade a família foi se inteirando nas notícias tão aguardadas. Ficou sabendo que a filha estava bem e já tinha três filhos, dois meninos e uma menina. O marido estava bem empregado na construção civil e que tinha muito trabalho. Todos estavam bem de saúde e muito contentes na nova pátria. Ela, infelizmente, ainda não tinha recebido notícias da irmã mais nova que havia emigrado para Chipilo, no México. Encontrou o endereço da família através do padre Michele. Pela carta do antigo pároco, ficaram sabendo dos acontecimentos em Segusino e, principalmente, notícias da segunda filha. Ela, como havia previsto Maria, a filha também tinha escrito para o pároco para saber notícias do resto da família. Algum tempo depois de se estabelecerem em Chipilo, entrou em contato com Don Michele e conseguiu o endereço atual da mãe e dos irmãos no Brasil. Já era mãe de dois meninos e estava grávida do terceiro. Estavam bem de saúde e ela e o marido trabalhavam em uma terra própria, comprada a prestações do governo mexicano, onde plantavam principalmente milho e criavam vacas, cujo leite era transformado em queijos, vendidos em Chipilo e nas cidades próximas. Estavam muito felizes no novo país e até já estavam começando a ganhar dinheiro. Maria e os filhos ficaram radiantes de alegria com as boas notícias recebidas das duas.

Este conto continua
Texto de 
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS




segunda-feira, 26 de junho de 2023

Da Província de Treviso ao Pampa Gaúcho: A Jornada Épica de Genaro em Busca de um Futuro Melhor - parte 3

 




A Caminhada

Apesar de usarem o mesmo rio para chegar aos seus destinos, o caminho a ser tomado era um pouco diferente para aqueles que se dirigiam para a Colônia Caxias, daqueles outros que seguiam para as colônias Dona Isabel e Conde D'Eu. Domenico e sua família, subindo pelo rio Caí, passaram pelo porto da cidade de São Sebastião do Caí onde alguns imigrantes desembarcaram com destino a Colônia Caxias. Continuaram a viagem rio acima até o porto da cidade de Montenegro onde aqueles que seguiam para a Colônia Dona Isabel desembarcaram, com vários outros imigrantes, como vimos no capítulo anterior. Aproveitaram para descansar, comprar algum alimento, em uma espécie de armazém, para as crianças e organizar a pouca bagagem que levavam. A distância a ser percorrida era de aproximadamente oitenta quilômetros, mas no caminho teriam que atravessar um trecho bem difícil de serra. Não era uma verdadeira estrada e sim um precário caminho com muitas pedras, bastante tortuoso, pelo meio de grandes árvores. Nos dias de chuva era um lodaçal difícil de ser atravessado. Ficaram espantados com a altura que muitas delas alcançavam, porém, uma em especial, pela sua beleza e grandiosidade, chamou mais a atenção de todos. Eram colossais pinheiros, que naqueles tempos existiam em grande quantidade. Do meio da mata vinham gritos de aves e de outros animais desconhecidos para eles, como dos bandos de macacos bugios, que, assustados com o ruído da caravana, faziam uma grande algazarra. Os adultos e crianças maiores caminhavam ao lado dos carroções puxados por várias mulas, no qual as mulheres grávidas, os mais idosos e as crianças pequenas iam embarcadas. A marcha era lenta, especialmente no trecho montanhoso, onde precisavam parar ocasionalmente para descansar e dar água para os animais. Quatro funcionários do governo brasileiro, dois deles filhos de ex-escravos, acompanhavam o grupo desde Montenegro, eram os guias e cocheiros da expedição. Um dos funcionários, o mais velho do grupo, falava perfeitamente o dialeto vêneto o que facilitou para todos. Depois de várias horas de dura caminhada, ao sol, em pleno verão brasileiro, finalmente chegaram a Colônia Dona Isabel, que então já tinha cerca de quatorze anos desde a sua fundação onde se podia ver grande progresso com algumas ruas de barro e inúmeras casas de madeira, algumas de tijolos. Já era um núcleo urbano. Foram alojados em outro grande barracão, fora da sede, ficando à espera da localização do seu lote de terra que tinha sido escolhido pelo governo. Genaro e a família, mais uma vez, tiveram muita sorte. Em apenas dois dias com todos os papéis assinados, já estavam sobre o que agora seria a sua propriedade. É bem verdade que este grande lote de terra não era fornecido de graça pelo governo, ele deveria ser pago em prestações anuais durante dez anos e o título de propriedade recebiam quando já tivessem quitado 20% da dívida. O governo concedia dois anos de carência para iniciarem o pagamento. Os valores não assustavam muito, as condições eram boas e se tudo corresse bem com as futuras safras, poderia ser pago com facilidade. Ao chegarem no local do lote souberam que cerca de dois anos antes ele já tinha sido concedido para um jovem casal de colonos provenientes de Padova, que, infelizmente, com a morte prematura do marido, devido a um acidente enquanto derrubava uma grande árvore, para fazer tábuas para construção de uma pequena casa para abrigar a família. O pobre homem teve a cabeça e parte do tórax esmagados por um grande galho que se desprendeu do alto, matando-o instantaneamente. A infeliz mulher, desesperada e sozinha, sem amigos ou parentes no Brasil, resolveu desistir e abandonar tudo, retornando rapidamente para Itália, com os dois bebês gêmeos do casal, nascidos justamente naquele lugar, com a ajuda de uma vizinha. Ela tinha restituído a propriedade ao governo, poucas semanas antes de Genaro e a família chegarem. Eles não conheceram a infeliz viúva que partiu poucas semanas antes deles chegarem, logo após o pobre funeral do marido, realizado por alguns vizinhos, sem o conforto religioso de um sacerdote. No lote ainda não havia uma casa, apenas uma pequena choupana construída com galhos de árvores e coberta por grimpas de pinheiro a guisa de telhado, onde a família do falecido se abrigava. Ali tinham nascidos os pobres órfãos, dois brasileirinhos, como tantos outros, que emigraram para a Itália. Todos esses funestos acontecimentos deixaram Domenico e os irmãos muito abalados, supersticiosos como eram, em geral, os vênetos, ficaram com muito medo e até pensaram ser um sinal de mal agouro. Quem trouxe serenidade foi Maria Augusta, sempre hábil em acalmar os filhos. Pela manhã reuniu todos os filhos e disse-lhes que tinha sonhado com o marido, Daniele e ele no sonho "pediu para eles terem coragem e não deixarem se influenciar com a morte daquele jovem. A vida era assim mesmo, cheia de ciladas e este era o seu destino, a sua hora tinha chegado e ninguém poderia ter feito nada para o salvar. Eles deveriam rezar um rosário todas as noites durante uma semana pela intenção da sua alma e também levar algumas flores que encontrassem no local onde ele estava sepultado. A vida da família devia continuar. Não podiam se amedrontar após tudo o que já tinham passado para chegar até ali". Ouvindo o relato do sonho da mãe todos se sentiram mais confortados e se acalmaram bastante, começando a esquecer o ocorrido. Tudo no lote estava por fazer, não queriam morar naquela cabana feita pelo falecido e assim resolveram atear fogo, como forma de exorcizar os maus espíritos. A família, com dificuldade, passou a primeira noite na nova terra, abrigada no oco de uma grande árvore chamada de embú. Era verão e um pequeno fogo, logo à entrada, servia para aquecer um pouco, iluminar e espantar algum animal selvagem. Receberam do governo sacos de mantimentos para alguns meses, vários utensílios domésticos e ferramentas para o trabalho rural, além de vários tipos de sementes para iniciarem uma roça, que naquele mês já deveria estar plantada. Genaro com os três irmãos iniciaram o desmatamento de uma área, perto de onde tinham pensado construir a futura casa, não longe de um curso de excelente água. Com os troncos mais finos retirados do local, fizeram uma grande barraca, serviço que todos tiveram que participar, inclusive a mãe e duas das irmãs menores, pois, a outra ficou encarregada de cuidar da comida que estava sendo preparada em uma fogueira improvisada, cercada por grandes pedras. Após três dias de trabalho a cabana, com três aposentos, ficou pronta. Estavam muito felizes com a nova "casa" e agora, depois semanas poderiam sair do abrigo no oco da árvore. Derrubadas as árvores e queimado o mato, colocaram na terra parte das sementes que haviam recebido, principalmente hortaliças, pois a temporada para semear o milho já havia passado e o trigo só deveria ser semeado no início do inverno, conforme instruções recebidas dos funcionários do governo. Com o passar das semanas foram se ambientando e conhecendo melhor o terreno que haviam adquirido. Era muita terra, mais do que podiam imaginar quando estavam na Itália. A propriedade era coberta por uma vegetação abundante e árvores imensas estavam por todo lado. Um pequeno córrego, com águas cristalinas, cortava toda a propriedade antes de desaguar em um rio maior, situado poucos quilômetros abaixo. Os terrenos foram traçados pelo governo em forma retangular, com duas frentes onde passavam pequenas picadas chamadas de linhas, que por contrato os proprietários deviam manter sempre limpas, para permitir o tráfego. Alguns desses lotes chegavam a ter áreas de 50 hectares, como este da família de Domenico, isso porque tinha sido demarcada alguns anos antes para o outro proprietário. Media 250 metros de largura por 200 metros de comprimento, assim, os vizinhos mais próximos ficavam bastante longe.

Continua
Trecho do conto 
"Em Busca de um Futuro Melhor"
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS



domingo, 25 de junho de 2023

Raízes na Colônia: Famílias Pioneiras de Nova Itália no Litoral Paranaense


 



Relação de Algumas Famílias Italianas Pioneiras na Colônia Nova Itália no Paraná



Valério, Turin, De Mio, Fante, Cherobin, Sotta, Ghignone, Fontana, Dall' Stella, Borsatto, Grandi, Piazza, Mazza, Gregorini, Bindo, Lati, Pontoni, Bacci, Madalozzo, Della Bianca, Pasquini, Gobbo, Zanardi, Canetti, Moro, Bavetti, Cavagnoíli, De Lay, Mori, Possiedi, Piovesan, Sundin, Miranda, Bertholdi, Bortholin, Triacchini (Triacchin), Curcio, Meneghetti, Contin, Cavogna, Bazzani, Grossi, Cavagnari, Brustolin, Belotto, Bergonse, Bertagnolli, Bortholuzzi, Carazzai, Carta, Casagrande, Cavalli, Cavallin, Cheminazzo, Chiarello, Zicarelli, Cini, Cit, Conte, Costa, Cusman, Dall' Ligna, Dai Lin, Dea, De Carli, De Paola, Dirienzo, Dotti, Ercole, Scarante, Favoretto, Comandulli, Ferrari, Ferrarini, Fraxino, Ferruci, Gabardo, Galli, Gaio, Gasparin, Grigoletto, Guzzoni, Jacomelli, Lazzarotto, Lucca, Lunardeli, Manfredini, Marchioratto, Marconsin, Marcon, Menin, Moreschi, Menegazzo, Molinari, Muraro, Nadalin, Nori, Olivetti, Orlandi, Panzolini, Pasello, Pietrobom, Pilatti, Poletto, Possiedi, Ramina, Ramagnolli, Roncaglio, Rossetto, Rossi, Salvare, Santi, Savio, Scarpin, Scorzin, Scremin, Semionatto, Simeão, Sperandio, Sguário, Stocco, Stocchero, Strapasson, Talamini, Feltrin, Tessari, Giglio, Tosin, Tozetto, Tramontini, Trevisan, Trombini, Todeschini, Túllio, Valenti, Valenza, Vicentini, Volpato, Vardanega, Zalton, Zeni, Zem, Zampieri, Zanardini, Zanella, Zanetti, Zanier, Zanon, Zortea. 

Procedência de alguns dos pioneiros

Antonio Chierigatti, Antonio Dalcucchi, Província de Mântova; 

Antonio Consentino, Província de de Cosenza;
 
Alexandre Brandalize, Júlio Vila Nova, Antonio Fruscolin, Luiz de Fiori, Antonio de Bona, Battista Citti, Angelo de Rocco e Angelo Ciscata, Província de de Belluno;
 
Antonio Robassa, Francisco Filipetti, Pedro Callegari, Luiz Tonetti, André Simon, José Dal  Col, Domingos Dal Negro, Marcelino Meduna e Antonio Orreda, André Buzetti, Vicente Bettega, Bortolo Foltran, José Sanson e Benjamim Zilli, Província de de Treviso; 

Antonio Pedinato, Pio Manosso, Giuseppe Gnatta, Angelo Pilotto, José Fabris e Marcos Tosetto, Província de Vicenza.



sábado, 24 de junho de 2023

Da Província de Treviso ao Pampa Gaúcho: A Jornada Épica de Genaro em Busca de um Futuro Melhor - parte 2

 




O Embarque


Deixaram Segusino com o coração partido, ansiosos com tudo que ainda estava para suceder. Nenhum deles ainda tinha viajado de trem e essa novidade os estava deixando muito apreensivos. Também a longa viagem de navio, para a travessia do oceano, deixava-os com muito medo. Muito tinham ouvido falar, e até algumas canções populares relatavam temporais e naufrágios em alto mar, o que aumentava o medo de todos. O clima reinante entre eles era uma mistura de tristeza, ansiedade, medo, mesclado com muita esperança em dias melhores. Genaro escondia de todos os seus medos e preocupações, tentava, na presença dos irmãos, se fazer de mais forte do que realmente era a fim de transmitir coragem a eles. Naqueles tempos uma viagem de trem como aquela, entre Segusino e Gênova, demorava muitas horas e no trajeto passavam por muitas dezenas de pequenas e até grandes cidades. Precisaram fazer baldeação, para a troca de trens, que paravam em praticamente todas as estações, onde, invariavelmente, dezenas de outros camponeses como eles embarcavam com destino ao mesmo porto. Nessa época a grande emigração italiana estava em pleno vapor e milhares de italianos do norte ao sul da península deixavam o país todos os meses, sendo o Brasil um dos destinos mais procurados, além dos Estados Unidos e da Argentina. Depois de uma noite sem praticamente poderem dormir, muito cansados, chegaram a Gênova. Estava muito frio, porém não chovia e de longe já puderam ver o porto com alguns grandes navios atracados. Ficaram pensando qual daqueles os levaria para o Brasil. Eles tinham as passagens gratuitas na terceira classe do vapor Giulio Mazzino, um grande navio que embarcaria mais de mil e duzentos passageiros até o Brasil. Eram meados de dezembro de 1883 e o porto estava repleto de pessoas, a maioria deles emigrantes esperando chegar a hora de embarcar. Maria Augusta, em pensamento, agradeceu ao agente de viagens pela honestidade em agendar a partida de Segusino justamente no dia anterior do embarque. Isso, ela sabia, não era comum, pois, muitos agentes desonestos agendavam passagens para o porto muitos dias antes do embarque, fazendo com que os pobres emigrantes, que já não tinham quase nada, ficassem a mercê de comerciantes exploradores, precisando gastar suas poucas economias com alojamentos e alimentação, ou fazer como a maioria, ficar ao relento em torno do cais e comendo alguma coisa que tinham levado de casa. Provavelmente, esses agentes desumanos deviam receber propinas dos donos de albergues e pensões localizadas nas ruas próximas ao porto. Genaro e um dos irmãos aproveitaram para dar umas voltas rápidas pelo cais, passando por de dezenas de grupos de emigrantes com suas grandes malas e sacos, chegando a conversar com alguns deles, se inteirando de alguns aspectos da viagem no grande barco. Genaro era um rapaz muito esperto e ativo, em pouco tempo conseguiu reunir informações que seriam muito úteis para eles. O porto era uma confusão de pessoas, dezenas de funcionários do porto e da companhia de navegação circulavam rapidamente em todos os sentidos, carregando grandes caixas para o interior do navio ancorado a beira do cais. Do seu interior se ouviam ordens gritadas em altos berros pelos marinheiros, que estavam se preparando para a chegada a bordo daquela multidão de passageiros. A tarde, um longo apito pode ser ouvido em todo o porto, era o aviso para o início do embarque. Em fila todos os passageiros, com suas passagens e passaportes à mão, carregando malas e sacos com suas bagagens de mão começaram a subir a longa escada inclinado apoiada na lateral do navio. Dezenas de mulheres com lenço amarrado na cabeça, carregando os filhos pequenos no colo e puxando outros pelos braços, algumas delas ainda aleitando o bebê, muitas crianças pequenas chorando em simultâneo, amedrontadas pela grande movimentação ou pela perda de vista momentânea de suas mães. Homens de aspecto sofrido, chapéu na cabeça, mal vestidos, carregando filhos maiores, cadeiras, sacos com pertences e outras bagagens. Genaro ajudava a mãe organizando a entrada de todos os irmãos, que andando sozinhos subiram a escada. Como os papéis de emigração estavam todos em ordem foram rapidamente admitidos na embarcação, onde imediatamente receberam as primeiras informações de como deveriam se comportar a bordo. Os alojamentos disponíveis eram enormes pavilhões adaptados com filas de beliches. Os homens e os meninos maiores de oito anos ficavam em um pavilhão e as mulheres e as crianças menores em outro. Assim as famílias eram separadas desde o embarque, criando muitas dificuldades. Genaro ficou em um pavilhão com os três irmãos e a mãe com as outras três filhas menores em outro. Com dois novos apitos o navio lentamente se afastou do cais e gradualmente Gênova foi ficando para trás. Estavam descendo pela costa italiana pelo Mar Tirreno, a caminho do porto de Nápoles onde seriam embarcados mais de 400 emigrantes provenientes de várias províncias meridionais da Itália. O destino desse grupo era a Província de São Paulo, contratados para trabalharem nas grandes fazendas de café. Depois do embarque desse novo grupo e acomodar os novos passageiros, o navio se afastou rapidamente da costa italiana e tomou o rumo para o Brasil, após atravessar o estreito de Gibraltar. A vida a bordo era bastante monótona e os passageiros gradualmente foram se acostumando com o balançar da embarcação, diminuindo os casos de tonturas e vômitos dos primeiros dias. Foi cerca de trinta dias confinados em porões malcheirosos, ainda cheirando carvão misturado com odores dos vômitos e outros dejetos humanos. Não havia instalações sanitárias suficientes para todos e a água potável também era racionada ao mínimo. Grandes baldes de madeira, com tampa, colocados no final de cada fileira de beliches eram usados, sem qualquer proteção ou privacidade, para satisfazer as necessidades fisiológicas dos passageiros. A falta de ventilação naqueles porões, o calor, a limpeza precária, a falta de banho dos passageiros, tornavam o ar irrespirável. Animais de corte confinados para fornecerem carne e o abate a bordo sem muita higiene, ajudavam a tornar o ar difícil de respirar. Para agravar, naquela época ainda não havia frigoríficos a bordo, tornando perigoso consumir alimentos que não fossem bem cozidos. Quando passaram da linha do Equador, o calor era grande em contraste com o frio que haviam deixado alguns dias antes. Nem todos os passageiros tinham roupas adequadas. Foi em um desses dias que uma forte tempestade de fim de tarde atingiu a embarcação. Ventos furiosos faziam com as grandes ondas batessem com força no casco da embarcação fazendo muito ruído. O convés era constantemente varrido pelas altas ondas e os passageiros foram proibidos de subir ao tombadilho. O medo tomou conta de todos os passageiros que em voz alta apelavam por clemência, rezando aos seus santos protetores. Depois de duas horas, já escuro, o vento cessou e o mar lentamente foi se acalmando. Essa foi uma experiência terrível e muito traumática que Genaro e os irmãos lembrariam para os seus netos. Por sorte não tinham ocorrido doenças graves a bordo durante todo o trajeto e assim o navio não teria proibições para desembarcar seus mil e duzentos passageiros. Chegaram ainda à noite no porto do Rio de Janeiro e na manhã seguinte já puderam contemplar a bela paisagem verde e montanhosa que os cercava. Para Domenico e família a impressão era de um sonho, parecia até que estavam vendo ao vivo alguns dos relatos sobre o Brasil descritos pelo pai Daniele. Era o mês de janeiro de 1884. Desembarcaram e depois do exame médico de praxe foram encaminhados para a Hospedaria dos Imigrantes, na Ilha das Flores, onde ficaram abrigados por dois dias esperando outro navio de menor calado que os levaria para o Rio Grande do Sul. Os passageiros que embarcaram em Nápoles, que tinham como destino as fazendas de café de São Paulo, embarcaram no dia seguinte da chegada, em outro navio até o porto de Santos. A jornada de Genaro e família ainda seria longa, embarcados agora no navio costeiro Maranhão, seguiam para o porto de Rio Grande, passando pelo porto de Paranaguá, no Paraná para deixar algumas famílias venetas. Em quatro dias estavam em Rio Grande, na província do Rio Grande do Sul, onde desembarcaram com centenas de outros emigrantes italianos entre vênetos e lombardos sendo recebidos em grandes barracões comunitários a espera dos pequenos navios fluviais a vapor e pelas condições de navegabilidade dos rios para seguirem até a Colônia Dona Isabel, o destino de muitos dos emigrantes que viajaram com a família de Genaro. Tiveram que ficar mais de uma semana, praticamente acampados naqueles desconfortáveis barracões, até que finalmente chegou a ordem de embarque. Em pequenos barcos fluviais a vapor Genaro e a família passaram por Pelotas e começaram a atravessar a extensa Lagoa dos Patos, passando também por Porto Alegre, até a foz do rio Caí, pelo qual começaram a subir lentamente por aproximadamente sete horas, até o porto na cidade de Montenegro, o mais próximo da colônia Dona Isabel. Nesse local faziam uma breve parada técnica para poder enfrentar as várias horas de caminhada até os barrações da colônia Dona Isabel. Genaro e sua família estavam realmente extenuados por tantos dias de viagens e ainda tinham que percorrer vários quilômetros e subir uma difícil serra até alcançarem a colônia Dona Isabel. Realmente não tinham sonhado que a viagem seria assim tão penosa e longa. A mãe de Genaro sempre de bom humor tentava de todas as maneiras incutir coragem nos seus filhos, encontrando em tudo que viam, motivos para muitas brincadeiras, comparações e assim passar o tempo, afastando pensamentos negativos.

Continua
Trecho do conto 
Em Busca de um Futuro Melhor
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS



sexta-feira, 23 de junho de 2023

De Pederobba ao Brasil: A História Prodigiosa da Emigração Italiana e a Construção de um Novo Lar

 

Vista desde a colina San Sebastiano


No final do século XIX e início do século XX, a Itália era um país marcado pela pobreza, pela fome e pela instabilidade econômica. A população rural era particularmente afetada pela falta de recursos e pelo difícil acesso à terra e aos meios de produção. Foi nesse contexto que muitos italianos, incluindo aqueles de Pederobba, começaram a emigrar definitivamente para outros países, em busca de uma vida melhor.
A emigração de Pederobba para o Brasil foi impulsionada pela falta de oportunidades econômicas e pela crise agrícola que afetava a região. Na sua maioria esses emigrantes eram camponeses, ou moradores na pequena vila, que trabalhavam como empregados diaristas para algum proprietário de terras, buscando melhores condições de vida e trabalho em outros lugares. A emigração para o Brasil foi incentivada por agências de recrutamento que prometiam trabalho e terra para os italianos que se aventuravam a cruzar o oceano.
A travessia para o Brasil era longa e perigosa, e muitos emigrantes enfrentaram condições precárias durante a travessia do Atlântico. Viajavam em navios superlotados e insalubres, onde as condições de higiene eram ruins e as doenças que surgissem se espalhavam rapidamente. A viagem podia durar semanas, e muitos emigrantes morriam devido à deficiência alimentar, à sede e às doenças a bordo.
Ao chegar ao Brasil, os emigrantes enfrentavam novos desafios. Não falavam português, somente o seu tradicional dialeto vêneto, marcadamente da direita do Piave e poucos tinham experiência na vida urbana, o que dificultava a adaptação ao novo ambiente. Além disso, as condições de vida nos centros urbanos eram precárias, com moradias superlotadas, falta de saneamento básico e doenças endêmicas, como a febre-amarela e a varíola.
No entanto, apesar das dificuldades, muitos emigrantes de Pederobba conseguiram se estabelecer no Brasil e construir uma nova vida para si e para suas famílias. Muitos se dedicaram à agricultura, trabalhando em fazendas e plantações em diferentes regiões do país. Outros se dedicaram ao comércio e à indústria, estabelecendo pequenos negócios e fábricas em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba entre outras.
Com o tempo, os imigrantes italianos, incluindo aqueles de Pederobba, foram se integrando à sociedade brasileira e contribuindo para o desenvolvimento do país. Eles trouxeram consigo suas tradições culturais, incluindo a culinária, a música e as festas, que hoje são uma parte importante da identidade cultural brasileira. A presença dos descendentes de italianos no Brasil é um testemunho da importância da imigração na história do país e do papel vital que os imigrantes desempenharam na construção do Brasil moderno.
Atualmente, a cidade de Pederobba é uma cidade com cerca de 5.000 habitantes e está localizada na região do Vêneto, na província de Treviso. Embora seja uma cidade pequena, Pederobba tem uma rica história e cultura, que reflete a herança dos imigrantes italianos que deixaram a cidade no final do século XIX e início do século XX em busca de novas oportunidades no Brasil. Ela tem desde 2003 um programa de cidades-irmãs chamado em italiano de gemellaggio com o município gaúcho de Jacutinga e a mais de 40 anos com a cidade de Hettange-Grande na França.
A emigração de Pederobba para o Brasil foi apenas uma parte de um fenômeno maior de emigração italiana para o exterior. Entre 1876 e 1976, estima-se que mais de 26 milhões de italianos tenham deixado o país em busca de uma vida melhor em outros lugares. A maioria dos emigrantes italianos se dirigiu para os Estados Unidos, Argentina e Brasil, mas muitos também foram para a Austrália, Canadá e outros países da América Latina e Europa.
A emigração italiana para o Brasil foi particularmente significativa durante as últimas décadas do século XIX e as primeiras décadas do século XX, com um hiato no período de 1914 a 1918 devido o conflito mundial. Estima-se que entre 1880 e 1930, cerca de 1,5 milhão de italianos tenham deixado o país em direção ao Brasil. A maioria dos emigrantes era de origem rural e se estabeleceu em regiões agrícolas do país, como o Paraná, São Paulo e Rio Grande do Sul.
No Paraná, os imigrantes italianos foram inicialmente assentados em colônias no litoral paranaense próximas a Paranaguá e depois se estabeleceram por conta própria em cidades como Curitiba, Piraquara, Colombo e São José dos Pinhais. Eles contribuíram para o desenvolvimento da agricultura e da indústria na região, e sua presença deixou uma marca indelével na cultura e na identidade do estado.
Atualmente, os descendentes de imigrantes italianos no Brasil formam uma grande comunidade, com uma forte presença em cidades como São Paulo, Vitória, Curitiba e Porto Alegre. Eles mantêm vivas as tradições e a cultura de seus antepassados, incluindo a culinária, a música e as festas, sendo reconhecidos como uma parte importante da diversidade cultural do país.
A emigração de Pederobba para o Brasil no final do século XIX e início do século XX foi um exemplo de como a falta de oportunidades econômicas e as condições de vida precárias podem levar as pessoas a buscar uma vida melhor em outros lugares. Embora os emigrantes italianos tenham enfrentado muitos desafios e perigos durante a viagem e a adaptação ao novo ambiente, eles conseguiram construir uma nova vida para si e para suas famílias no Brasil. A presença dos descendentes de imigrantes italianos no país é um testemunho da importância da imigração na história do Brasil e do papel vital que os imigrantes desempenharam na construção do país moderno.


Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS





quarta-feira, 21 de junho de 2023

Danke: O Cão Que Desvendou Minha História Familiar Perdida em Pederobba, Itália




Desde quando eu ainda era apenas um menino, e isso já faz muito tempo, pois, estamos falando da década de 1950, sempre manifestei curiosidade pela história da minha família. Quem eram eles? O que faziam e de onde vieram meus antepassados? Porque tiveram que abandonar o seu país natal, quando e como vieram? Por que escolheram o Brasil? As dúvidas eram muitas. Sabia, pelo meu sobrenome, e também por esporádicos relatos de outros familiares mais velhos, que tínhamos raízes na Itália. A explicação que eu recebia deles não ia muito além disso, simplesmente, terminava por aí. Pela minha pouca idade as vagas respostas que recebia até me satisfizeram parcialmente por algum tempo. 
O tempo foi passando e já adulto comecei a fazer algumas pesquisas por conta própria, as quais, também não progrediram muito, sempre esbarrando na identificação do local da Itália de onde partiram os primeiros emigrantes da família. Meus pais, e também os poucos parentes que eu conhecia, pouco ou nada puderam acrescentar, todos estavam na mesma situação de ignorância. Parecia até que os antigos não queriam me contar a verdade. Mas, por qual razão? 
Na cidade onde nasci moravam diversas famílias que tinham o mesmo meu sobrenome, algumas delas eram de conhecidos parentes, e outras tantas, por pessoas que não se conheciam como tal. Aqueles que então contatei não puderam me esclarecer mais nada. Eu não podia me conformar com esta situação, tínhamos que ter um lugar-comum de origem, uma cidade, um estado e não somente que viemos de um país chamado Itália. 
Sem respostas para minhas perguntas, apesar de muito procurar, a estranha sensação de deslocamento da minha origem, me fazia sentir muito mal. 
Depois de alguns anos, então já casado e com filhos, queria contar para eles a nossa origem, o local de onde viemos, mas, não conseguia encontrar nada. 
Foi após comprar uma casa, com um grande quintal, que um dia resolvi que seria hora de adquirir um bom cachorro de guarda. Não sabia qual raça escolher, pois, até então conhecia algumas poucas. Lembro que ainda estávamos muito longe do advento da internet, a qual só surgiria quase trinta anos depois. Não querendo errar na escolha, emprestei de um casal amigo, e também eles grandes entusiastas por cães, um livro ilustrado sobre as diversas raças caninas então existentes no mundo. Folheando a belíssima coleção de fotos coloridas, onde os exemplares das raças estavam dispostos por casais, com as devidas especificações oficiais, como finalidades da raça, peso, altura e também uma completa explicação do comportamento de cada uma. 
Não precisei procurar muito e lá estava a foto daquele que eu me apaixonei imediatamente. Realmente, eram animais muito bonitos, fortes e considerados na época, e acredito que até hoje, os melhores cães de guarda. Tratava-se de um cão da raça Rotweiller. Feito a escolha da raça bastava agora ligar para o Kennel Clube e obter informações sobre os telefones de criadores idôneos, registrados naquele conhecido clube de cinofilia. Foi o que realmente fiz. 
Os responsáveis pela entidade perguntaram onde eu morava, a fim de facilitar o encontro. Informei onde eu morava e eles disseram que perto da minha cidade ficava um famoso canil, o mais premiado daquela raça em todo o estado. Falaram também que o casal proprietário tinha vários grandes campeões no plantel, inclusive de nível mundial. Informaram o nome do canil, que ficava em uma cidade muito próxima de onde eu moro. Seus proprietários eram também grandes fazendeiros e criadores de cavalos de raça, em um município não muito distante. O mais interessante e inesperado aconteceu quando pedi o nome desse criador, para minha surpresa tinha o mesmo meu sobrenome: era um primo, filho do irmão mais velho do meu pai, o qual desde o tempo de criança não o tinha mais visto e nem sabia mais do seu paradeiro. Ele também, depois fiquei sabendo, não sabia que eu morava assim tão perto. 



Visitando-o, fiquei impressionado com a estrutura do canil e com o tamanho daquela mãe com seus sete filhotes, nascidos a pouco mais de um mês, mas, já enormes. O primo, separou-os da mãe e me deu o privilégio de escolher o cãozinho que eu mais gostasse de toda a ninhada. Adquiri o filhote e o fui buscar algumas semanas depois, quando já tinha dois meses. Já estava devidamente registrado no Kennel Clube e recebera por acaso o nome de Danke, palavra que em alemão quer dizer "obrigado". 



Restabelecemos amizade e algum tempo depois, em uma noite, depois de um caprichado jantar em sua casa, o assunto origem da nossa família foi abordado. Ele era alguns anos mais velho que eu, mas, também nada sabia da nossa origem. Disse que o pai dele falava, que o nossos avô e o bisavô, que vieram da Itália, não gostavam muito de falar nesse assunto. 
A única coisa que lembrou, e isso não passou despercebido para mim, foi que a muitos anos antes, em um velho livro que pertencia ao nosso avô e que ficara com seu pai após o falecimento do "nonno", ele tinha encontrado um bilhete, já bastante amarelado pelo tempo, com o nome Pederobba, manuscrito a lápis. Por mais que pensasse, ele não sabia a que podia se referir. Pensei comigo que talvez fosse uma pista sobre a origem da nossa família, escondida no meio daquelas páginas do livro. 
Sabia pelo nome que era de algum lugar da Itália, mas, naqueles anos tudo era mais difícil, não tinha os meios para saber qual era, como já citei antes ainda não havia sido criada a internet. 
Naquele tempo eu já era um aficionado do radioamadorismo, fazendo diariamente contatos via rádio, com todos os países, através das grandes antenas instaladas sobre uma alta torre no quintal. Como radioamador eu era obrigado a ter um conhecimento de geografia acima da média e também recebia diariamente pelo correio, muitos cartões de confirmação dos novos contatos que realizava. Esses cartões eram, por nós radioamadores, conhecidos por QSL cards e continham informações relevantes sobre o contato, como as datas, horários, frequências e detalhes técnicos, e eram trocados como uma forma de comprovação e registro das comunicações entre os radioamadores. Com eles, era habitual o companheiro, do outro lado do mundo, enviar também um postal da cidade onde morava, com algumas palavras gentis escritas. 
Um dia recebi de um desses amigos, radioamador na Itália, um mapa da província de Treviso e um belo cartão postal da cidade de Treviso, onde morava. O cartão era patrocinado e distribuído pelo jornal local Tribuna de Treviso, em cujo logo se podia ler o endereço. Esse jornal tinha uma excelente penetração em toda a província de Treviso, especialmente aos domingos, quando então circulava por todos os municípios. 
Procurando naquele mapa, que tinha muito mais detalhes que os meus, devido a sua escala ampliada, percebi que Pederobba era um dos municípios dessa província, localizado quase na fronteira com a província de Belluno. Entendi imediatamente que tinha encontrado uma pista concreta, pois, por qual razão aquele nome estaria em um bilhete escondido entre as páginas de um livro? 
Acreditando muito nessa possibilidade, redigi uma carta para o diretor do referido jornal, com muita dificuldade é verdade, me valendo de um pequeno dicionário português-italiano para ajudar, pois, até então não sabia nada de italiano. Pelo rádio e telégrafo usávamos o inglês para se comunicar. 
Nessa carta tentei explicar quem eu era, onde morava, e que estava pesquisando sobre as minhas origens, pois acreditava que poderiam estar em algum município da província de Treviso. Pedi ao diretor fazer o favor de verificar se entre seus assinantes existia algum deles com o meu sobrenome, reforçando também que o meu interesse era simplesmente encontrar as minhas raízes. 
Naquela época, início da década de 1980, quase ninguém aqui no Brasil estava procurando pelas suas raízes na Itália, como veio acontecer a partir de alguns anos depois, com milhares ansiosos em encontrar um possível antepassado que tivesse emigrado, para assim obter o reconhecimento da cidadania italiana por "juris sanguinis", um direito conferido pela constituição italiana. 
Naquele tempo em que escrevia a carta ao diretor do jornal ninguém falava em dupla cidadania, a qual era ainda proibida pelas leis em vigor no Brasil. Quem resolvesse obter uma cidadania estrangeira deveria automaticamente renunciar aquela brasileira e o indivíduo não poderia exercer um cargo público federal, como era o meu caso. 
Passados pouco mais de um mês, recebi, quase simultaneamente, seis cartas da Itália, cujos remetentes tinham todos o meu sobrenome. O diretor do jornal Tribuna de Treviso, se comoveu bastante com a minha pequena e mal escrita carta, com diversos erros de italiano, como depois soube, e resolveu divulgá-la em uma edição dominical, aquela que circulava por toda a província. 
Das seis cartas recebidas de Pederobba, todas muito educadas e gentis, em duas delas as pessoas que escreviam eram de fato meus parentes, afastados é bem verdade, que tinham eles mesmos sofrido com a emigração para outros países e compreendiam bem o que eu estava procurando: o reencontro com a minhas raízes mais profundas. 
Um casal em especial imediatamente se prontificou em ajudar a encontrar a minha linha familiar e para tanto mobilizou diversos amigos, entre eles um que era considerado o arquivo vivo da cidade, o historiador local. A partir daí mantivemos contato frequente por cartas e um dia marquei uma viagem para a Itália, já no ano seguinte para nos conhecer. Como não entendia nada de italiano, fomos com uma excursão que nos hospedou em outro município, distante uma hora e meia de carro de Pederobba. Tinha somente um dia para os encontrar, sacrificando uma visita, constante no roteiro da excursão, ao Santuário de Santo Antonio, em Padova. 
Bem cedo pela manhã, eles gentilmente foram de carro até o hotel para nos buscar e nos levaram para sua casa onde, em um grande almoço, pudemos conhecer diversos membros daquela família. A tarde também nos levaram para breves visitas pela cidade. Estudei italiano e a partir desse encontro fizemos inúmeras viagens para a Itália, sempre nos hospedando alguns dias em um município vizinho a Pederobba, muito próximo dela por falta de hotel na cidade, e gradualmente fui refazendo toda a nossa história familiar. 
Isso aconteceu a mais de quarenta anos atrás e até hoje agradeço por ter escolhido aquele querido cão que me ajudou a encontrar as minhas origens e, apesar da sua vida curta, foi um grande amigo e fiel companheiro.

As imagens acima são fictícias e foram geradas por I.A., mas, este relato é totalmente verdadeiro, de como consegui reencontrar com as minhas raízes.

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS










Danke: Il cane che ha svelato la mia storia familiare perduta a Pederobba, Italia


 


Da quando ero solo un ragazzo, e questo è accaduto molto tempo fa, stiamo parlando degli anni '50, ho sempre manifestato curiosità per la storia della mia famiglia. Chi erano loro? Cosa facevano e da dove venivano i miei antenati? Perché hanno dovuto abbandonare il loro paese natale, quando e come sono arrivati? Perché hanno scelto il Brasile? Le domande erano molte. Sapevo, dal mio cognome e anche da occasionali racconti di altri parenti più anziani, che avevamo radici in Italia. La spiegazione che ricevevo da loro non andava molto oltre, semplicemente finiva lì. A causa della mia giovane età, le vaghe risposte che ricevevo mi hanno soddisfatto solo parzialmente per un po' di tempo.
Il tempo passava e da adulto ho iniziato a fare alcune ricerche da solo, che non hanno fatto molti progressi, sempre bloccato nell'individuazione del luogo in Italia da cui i primi emigranti della famiglia provenivano. I miei genitori e anche i pochi parenti che conoscevo poco o nulla potevano aggiungere, erano tutti nella stessa situazione di ignoranza. Sembra quasi che i più anziani non volessero dirmi la verità. Ma per quale motivo? 
Nella città in cui sono nato vivevano diverse famiglie con lo stesso cognome, alcune di esse erano parenti conosciuti, mentre altre, persone che non si conoscevano come tali. Coloro che ho contattato non sono stati in grado di chiarirmi nulla di più. Non potevo accontentarmi di questa situazione, dovevamo avere un punto di origine comune, una città, uno stato e non solo il fatto di venire da un paese chiamato Italia.
Senza risposte alle mie domande, nonostante la mia ricerca, la strana sensazione di estraneità alla mia origine mi faceva sentire molto male.
Dopo alcuni anni, ormai sposato e con figli, volevo raccontare loro la nostra origine, il luogo da cui venivamo, ma non riuscivo a trovare nulla.
Fu dopo aver comprato una casa con un grande cortile che decisi che era il momento di prendere un buon cane da guardia. Non sapevo quale razza scegliere, poiché fino ad allora ne conoscevo solo alcune. Ricordo che eravamo ancora molto lontani dall'avvento di Internet, che sarebbe emerso quasi trent'anni dopo. Non volendo sbagliare nella scelta, presi in prestito da una coppia di amici, anch'essi grandi appassionati di cani, un libro illustrato sulle varie razze canine allora esistenti nel mondo. Sfogliando la splendida collezione di foto a colori, in cui gli esemplari delle razze erano disposti in coppie, con le relative specifiche ufficiali come scopo della razza, peso, altezza e una completa spiegazione del comportamento di ognuna. Non ho dovuto cercare molto e lì c'era la foto di colui di cui mi sono innamorato immediatamente. Erano davvero animali molto belli, forti e considerati i migliori cani da guardia dell'epoca, e credo che lo siano ancora oggi. Era un cane di razza Rottweiler. Dopo aver scelto la razza, mi è bastato chiamare il Kennel Club e ottenere informazioni sui contatti di allevatori affidabili registrati in quel famoso club cinofilo. Ed è proprio quello che ho fatto.



I responsabili dell'ente mi hanno chiesto dove abitassi per facilitare l'incontro. Ho fornito loro il mio indirizzo e mi hanno detto che vicino alla mia città c'era un famoso allevamento, il più premiato dello stato per quella razza. Mi hanno anche detto che i proprietari del canile avevano diversi grandi campioni nel loro allevamento, alcuni dei quali a livello mondiale. Mi hanno fornito il nome del canile, che si trovava in una città molto vicina alla mia.
I proprietari erano anche grandi allevatori di cavalli di razza e agricoltori, in un comune non molto lontano. La cosa più interessante e inaspettata è successa quando ho chiesto il nome di quell'allevatore e, per mia sorpresa, aveva lo stesso cognome del mio: era un cugino, figlio del fratello maggiore di mio padre, che non vedevo più e di cui non sapevo più nulla fin da quando ero bambino. Anche lui, come ho scoperto in seguito, non sapeva che io abitassi così vicino. Visitandolo, sono rimasto impressionato dalla struttura del canile e dalle dimensioni della madre con i suoi sette cuccioli, nati poco più di un mese prima ma già enormi. Il mio cugino li ha separati dalla madre e mi ha dato il privilegio di scegliere il cucciolo che preferivo di tutta la cucciolata. Ho acquistato il cucciolo e sono andato a prenderlo alcune settimane dopo, quando aveva già due mesi. Era stato adeguatamente registrato presso il Kennel Club e aveva casualmente ricevuto il nome di Danke, parola che in tedesco significa "grazie". Ristabilimmo l'amicizia e qualche tempo dopo, in una serata, dopo una cena a casa sua, affrontammo l'argomento delle origini della nostra famiglia. Lui era più vecchio di me di alcuni anni, ma non sapeva nulla delle nostre origini. Disse che suo padre raccontava che nostro nonno e bisnonno, che vennero dall'Italia, non amavano parlare di questo argomento. L'unica cosa che ricordava, e che non mi sfuggì, era che molti anni prima, in un vecchio libro che apparteneva a nostro nonno e che suo padre aveva conservato dopo la morte del "nonno", aveva trovato un biglietto, ormai ingiallito dal tempo, con il nome di Pederobba, scritto a matita. Per quanto ci riflettesse, non sapeva a cosa si potesse riferire. Pensai che forse fosse un indizio sulle origini della nostra famiglia, nascosto tra le pagine del libro. Sapevo dal nome che si trattava di un luogo in Italia, ma in quegli anni era più difficile scoprire quale fosse, come ho già detto prima, internet non era ancora stata creata. In quel periodo ero già un appassionato di radioamatore e ogni giorno facevo contatti radio con tutti i paesi, tramite le grandi antenne installate su una torre alta nel giardino. Come radioamatore, ero obbligato ad avere una conoscenza geografica superiore alla media e ricevevo quotidianamente per posta molte schede di conferma dei nuovi contatti che facevo. Queste schede, chiamate QSL cards, contenevano informazioni rilevanti sul contatto, come date, orari, frequenze e dettagli tecnici, e venivano scambiate come prova e registrazione delle comunicazioni tra radioamatori. Di solito, l'amico dall'altra parte del mondo inviava anche una cartolina della città in cui viveva, con alcune gentili parole scritte. Un giorno ricevetti da uno di questi amici, un radioamatore in Italia, una mappa della provincia di Treviso e una bella cartolina della città di Treviso, dove lui abitava. La cartolina era sponsorizzata e distribuita dal giornale locale Tribuna di Treviso, il cui indirizzo era visibile nel logo. Quel giornale aveva una grande diffusione in tutta la provincia di Treviso, specialmente la domenica, quando circolava in tutti i comuni. Consultando quella mappa, che aveva molti più dettagli della mia a causa della sua scala ingrandita, mi resi conto che Pederobba era uno dei comuni di quella provincia, situato quasi al confine con la provincia di Belluno. Capì immediatamente che avevo trovato una pista concreta, perché altrimenti perché quel nome sarebbe stato scritto su un biglietto nascosto tra le pagine di un libro? Credendo fortemente in questa possibilità, scrissi una lettera al direttore del suddetto giornale, con molta difficoltà, aiutandomi con un piccolo dizionario portoghese-italiano, perché fino ad allora non sapevo nulla di italiano. Per le comunicazioni via radio e telegrafo usavamo usato l'inglese. In quella lettera cercai di spiegare chi ero, dove abitavo e che stavo cercando le mie origini, perché credevo che potessero trovarsi in uno dei comuni della provincia di Treviso. Chiesi al direttore di fare la cortesia di verificare se tra i suoi abbonati ce ne fosse uno con il mio cognome, sottolineando anche che il mio interesse era semplicemente quello di trovare le mie radici. In quel periodo, all'inizio degli anni '80, quasi nessuno qui in Brasile stava cercando le proprie radici in Italia, come sarebbe successo alcuni anni dopo, con migliaia di persone ansiose di trovare un possibile antenato emigrato, al fine di ottenere il riconoscimento della cittadinanza italiana secondo il "jure sanguinis", un diritto conferito dalla costituzione italiana. In quel tempo in cui scrivevo la lettera al direttore del giornale, nessuno parlava di doppia cittadinanza, che era ancora proibita dalle leggi vigenti in Brasile. Chiunque volesse ottenere una cittadinanza straniera doveva automaticamente rinunciare a quella brasiliana e non poteva svolgere un incarico pubblico federale, come nel mio caso. Dopo poco più di un mese, ricevetti, quasi contemporaneamente, sei lettere dall'Italia, tutte con il mio cognome come mittente. Il direttore del giornale Tribuna di Treviso fu molto commosso dalla mia piccola e mal scritta lettera, con vari errori di italiano, come poi scoprii, e decise di pubblicarla in un'edizione domenicale, quella che circolava in tutta la provincia. Di quelle sei lettere ricevute da Pederobba, tutte molto educati e gentili, in due di esse le persone che scrivevano erano effettivamente miei parenti, anche se lontani, che avevano anch'essi sofferto dell'emigrazione verso altri paesi e capivano bene ciò che stavo cercando: il ritorno alle mie radici più profonde. Una coppia in particolare si offrì immediatamente di aiutarmi a trovare la mia linea familiare e per farlo mobilitò diversi amici, tra cui uno che era considerato l'archivio vivente della città, lo storico locale. Da lì in avanti mantenemmo un frequente contatto tramite lettere e un giorno programmai un viaggio in Italia per l'anno successivo per incontrarli. Non capendo nulla di italiano, partimmo con un tour che ci ospitò in un altro comune, a un'ora e mezza di macchina da Pederobba. Avevo solo un giorno per incontrarli, sacrificando una visita che era prevista nel tour, al Santuario di Sant'Antonio a Padova. Al mattino presto, gentilmente vennero in macchina all'hotel a prenderci e ci portarono a casa loro, dove in un grande pranzo potemmo conoscere vari membri di quella famiglia. Nel pomeriggio ci portarono anche a fare brevi visite in città. Studiai l'italiano e da quell'incontro feci numerosi viaggi in Italia, alloggiando alcuni giorni in un comune vicino a Pederobba, molto vicino per mancanza di alberghi in città, e gradualmente ricostruii tutta la nostra storia familiare.



Questo è successo più di quaranta anni fa e ancora oggi ringrazio di aver scelto quel caro cane che mi ha aiutato a scoprire le mie origini e, nonostante la sua breve vita, è stato un grande amico e fedele compagno.

Le immagini qui sopra sono immaginarie e sono state generate dall'Intelligenza Artificiale, ma questa narrazione è completamente vera, riguardante come sono riuscito a riscoprire le mie radici.

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta 
Erechim RS

segunda-feira, 19 de junho de 2023

Da Província de Treviso ao Pampa Gaúcho: A Jornada Épica de Genaro em Busca de um Futuro Melhor - parte 1

 



A Vida na Vila

Genaro era um jovem de quatorze anos. Tinha recebido esse nome dos seus pais pelo fato de ter nascido no mês de janeiro, do ano de 1866. Era o quinto filho de uma família de nove irmãos vivos, quatro meninas e cinco meninos. Sua mãe havia perdido três outros filhos, mortos ainda bebês, antes do primeiro ano de vida, por falta de uma melhor alimentação durante as seguidas gravidezes. Viviam na pobreza, como a maioria daqueles que moravam naquela pequena vila quase perdida à margem esquerda do rio Piave, no interior da província de Treviso. A vila, uma pequena fração do município de Segusino, que outrora já tinha vivido mais progresso, não passava agora de um amontoado de algumas poucas casas rurais, mal conservadas, com terrenos pequenos pouco produtivos, resultado dos seguidos desmembramentos quando das transmissões de posse deixadas como herança dos antepassados. A população da vila não ultrapassava, quando muito, duzentas pessoas, distribuídas entre a minúscula zona urbana e a rural. Uma pequena capela, uma pracinha e algumas antigas casas de comércio, entre elas, uma que vendia tabaco, sal, vinho e licores, administrada a muitos anos por uma viúva já idosa, a avó de Genaro. Era tudo que havia na vila. O prédio da prefeitura e a igreja matriz, com sua alta torre dos sinos e a praça, ficavam na sede do município, cerca de quatro quilômetros distantes. Aqui se podia sentir um pouco mais de movimento, principalmente aos domingos e dias santos, por ocasião das missas, quando também as diversas casas de comércio que vendiam vinho e licores também recebiam mais fregueses. Completava o cenário um pequeno hotel, com poucos quartos, agora quase sempre vazios, que em tempos passados dava abrigo às dezenas de balseiros que tinham descido pelo Piave com grandes balsas formadas com toras de madeira, provenientes sobretudo de Cadore e Cansiglio. Os "zattieri" como eram chamados esses trabalhadores, desciam com as balsas pelo rio  Piave até Veneza e retornavam a pé para começar uma nova viagem, muitos deles passando também por Segusino, onde faziam alguma refeição e pernoitavam. 
A família de Genaro tentava sobreviver como podia, plantando algumas hortaliças no pequeno lote de terra e criando alguns poucos animais domésticos, para ovos e abate. O pai Daniele tinha nascido no interior do município de Alano di Piave, localizado não muito distante, mas, já pertencente a província de Belluno e migrado muitos anos antes devido ao seu trabalho. Daniele conheceu a sua esposa Maria Augusta, a mãe de Genaro, no município de Vaz, também não longe de Segusino, quando, acompanhava o seu pai Antonio, que era um hábil carpinteiro, muito procurado em toda aquela região, e faziam um trabalho de reparo do telhado na casa dos pais de Maria. Depois de um namoro e noivado curtos, algum tempo depois, se casaram na Igreja Paroquial San Leonardo, de Vaz e depois de um ano, quando Maria já estava grávida do primeiro filho, Daniele resolveu se estabelecer por conta própria, descendo e costeando o rio Piave, rumando para Segusino, levando também a mãe viúva com eles. A situação de todo o Vêneto, e também da Itália, naquele período era muito difícil. O trabalho de carpinteiro estava cada dia mais difícil. Por falta de dinheiro as  pessoas não mais construíam e nem reformavam suas casas. As oportunidades de trabalho para Daniele foram ficando cada vez mais raras, chegando ao ponto que ele não mais aguentou e também passou a trabalhar como empregado rural diarista para alguns donos de grandes propriedades que ainda estavam sobrevivendo àquela economia que se seguiu a criação do novo país, a chamada Itália, que eles pouco conheciam. Genaro e suas irmãs mais velhas também trabalhavam o dia todo como diaristas em outras propriedades rurais da região. As dificuldades foram crescendo em casa e até as refeições, uma vez mais fartas, começaram a rarear e a polenta se tornou o único alimento ainda disponível. O pão branco e o vinho eram duas coisas que não conseguiam mais comprar. Genaro viu seu pai e irmãs mais velhas definhando a cada dia, por deixarem de fazer uma das refeições do dia, para sobrar comida para os irmãos menores. À mesa a polenta ficava cada vez menor, servida pela mãe e cortada com um fio de linha umedecido em água colocada em um prato fundo. Algumas poucas verduras amargas, tais como o "pissacan", completavam a pobre guarnição. Por cima da mesa ficava dependurada por um barbante, uma sardinha, ou outro peixe frito, em algumas raras vezes, um pequeno salame defumado, onde, cada um por sua vez o tocava com o seu pedaço de polenta, para obter algum sabor. Essa dieta quase única e muito fraca em nutrientes, fez o pai de Genaro e uma das suas irmãs ficarem muito doentes, com a pelagra, precisando internação em um hospital distante, na cidade de Mogliano Veneto. Depois de alguns meses de tratamento a irmã conseguiu se recuperar bem, mas, infelizmente, o seu pai voltou para casa para morrer pouco tempo depois. A morte de Daniele desestruturou completamente a família, deixando-os na miséria completa e as poucas economias, incluindo a vaca e o pequeno burro usado para o trabalho, foram vendidos para tentar salvá-lo. 
Um ano após o falecimento de Daniele, as duas irmãs mais velhas de Genaro se casaram. A primogênita, com um bravo rapaz de Vidor e no mesmo ano emigraram para os Estados Unidos. A outra irmã também se casou logo, em 1882, com um rapaz de família conhecida, moradores à localidade de Col Lonc e emigraram para Chipilo no México, com grande número de outros camponeses trevisanos e beluneses. 
Genaro já estava com dezessete anos, era agora o homem da família, responsável pela mãe viúva e mais seis irmãos e irmãs menores. Era o arrimo da família. Deveria se apresentar para o serviço militar no próximo ano, quando completaria 18 anos e isso o deixava muito preocupado. Pensava como a sua família poderia sobreviver sem ele. Em algumas ocasiões, nos tempos de paz, os rapazes arrimo de família eram dispensados do serviço militar, porém, não dava para ter certeza que isso aconteceria com ele. Não podia esperar pelo ano seguinte, quando então teria dezoito anos e se não conseguisse dispensa do serviço militar seria impedido de sair legalmente do país. Pensou até em migrar sozinho para a França e de lá embarcar em algum navio a caminho do Brasil, o destino que o pai sempre vinha sonhando para todos eles. Nos portos franceses de Le Havre e Marselha o controle do serviço militar era relaxado para os estrangeiros e passaria facilmente. Porém, lembrou que para  isso precisava ter dinheiro para comprar o bilhete de viagem, que não era pouco, e a família de muito tempo já não possuía mais recursos. Lembrou também de como ficariam a sua mãe e irmãos, pois, o outro irmão menor tinha somente 16 anos e não tinha ainda condições de assumir o seu lugar. Assim, em uma reunião da família, a mãe se impôs e resolveu seguir os conselhos do marido, que sempre falava que o Brasil era um grande e rico país no qual, certamente, encontrariam um local para eles. Daniele sempre alimentou a ideia de levar toda a família para o Brasil para fugir da carestia, do desemprego e da fome na Itália. Alguns dos seus conhecidos, anos antes, já tinham emigrado para a província do Rio Grande do Sul e contavam, nas suas cartas para as famílias, que estavam indo muito bem e aconselhavam os amigos a também irem para lá e jamais para a província de São Paulo. Sem discussão todos os irmãos concordaram com a mãe e começaram os preparativos para emigrarem juntos para o Brasil ainda naquele ano de 1883, quando Genaro estava com 17 anos. Na prefeitura fizeram um passaporte coletivo para todos da família, com destino ao Brasil. Ficaram sabendo que o governo do Império do Brasil continuava recrutando mão de obra na Itália e fornecia gratuitamente as passagens de navio e os deslocamentos até o novo local de trabalho. Genaro e quatro dos seus irmãos eram bem altos e muito corpulentos, acostumados desde cedo aos trabalhos pesados do campo, o que talvez compensaria a falta do pai, uma das exigências para obter a gratuidade da viagem, pois, aceitavam somente casais com filhos. Procuraram por um agente de viagens, também representante do governo imperial brasileiro, e sem maiores discussões foram aceitos para emigrar para o Brasil. Precisavam se desfazer das poucas coisas que possuíam e de tudo que não pudessem levar. Venderam até com facilidade a casa em que moravam, para um dos vizinhos. Venderam também a casa de comércio que era da avó, a qual tinha sido alugada e deixada pelo pai Daniele como a última reserva de capital, caso conseguissem emigrar. Conseguiram um bom valor por ela, até mais do que pensavam, por estar bem localizada, às margens da estrada que levava à sede do município.
Um dia antes de partirem, Maria Augusta e os filhos, após organizarem todas as caixas e sacos com a mudança, foram até o cemitério dar a última despedida para Daniele e a avó que ali estavam sepultados. Foram também até a igreja matriz se despedir do velho padre Michele, um antigo amigo da família, e pedir a sua benção para que a viagem transcorresse bem e que tivessem sucesso no Novo Mundo. Aproveitaram também para encomendar missas anuais, nas datas dos falecimentos de Daniele e da avó Giacinta, em intenção às suas almas. Se despediram de todos os amigos e vizinhos e em uma manhã bastante fria do início de dezembro, se dirigiram à estação ferroviária para pegar o trem até Gênova, e assim deixaram definitivamente a querida vila, para nunca mais voltarem.

Continua
Trecho do conto 
Em Busca de um Futuro Melhor
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS