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sábado, 6 de dezembro de 2025

Emigrantes de Sandrigo (1885–1900): Lista Histórica de Italianos que Deixaram a Itália


 

Emigrantes de Sandrigo (1885–1900): Lista Histórica de Italianos que Deixaram a Itália


Resumo Explicativo

Este registro reúne os nomes dos emigrantes do Comune de Sandrigo, na província de Vicenza, que partiram entre 1885 e 1900. A relação inclui famílias inteiras, indivíduos isolados, profissões, datas de saída e, em alguns casos, informações sobre retornos. Organizada por ano, a lista serve como fonte valiosa para descendentes, genealogistas e pesquisadores da emigração italiana do final do século XIX.



LISTA DE EMIGRANTES (1885–1900)


Anno 1885
Menin Giovanni
Valerio Antonio

Anno 1886
Chemello Teresa
Novello Maria

Anno 1888
Alberti Sebastiano
Barbieri Giovanni
Basso Antonio
Basso Giovanni
Battistella Giovanni
Binda Sante
Bonato Valentino
Caichiolo Giovanni
Campese Giuseppe
Casagrande Giuseppe
Cason Giovanni
Centofante Girolamo
Chemello Antonio
Chemello Francesco
Chemello Giovanni
Costernaro Sebastiano
Crovadore Antonio
Essi Davide
Faresin Giuseppe
Faresin Maria
Ferracin Francesco
Frigo Sebastiano
Garbossa Giovanni
Garbossa Pietro
Gardellin Ottavio
Garzaro Lorenzo
Gasparotto Vicenzo
Girotto Cesare
Gobbato Clemente
Guadagnin Antonio
Marchetto Francesco
Marchiorato Nicola
Meneghin Girolamo
Miglioranza Giuseppe
Lovo Luigi
Miola Santo
Mion Domenico
Mion Giovanni
Morello Giacomo
Motterle Bortolo
Muzzolin Francesco
Nichele Nicolò
Panzolato Bernardo
Parise Luigia
Pedon Stefano
Pianezzola Giuseppe
Pozzato Luigi
Pozzato Mateo
Pozzato Valentino
Rossi Marco
Saccardo Luigi
Schirato Valentino
Tessari Pietro
Trentin Girolamo
Trentin Quirino
Valerio Francesco
Zoico Angelo
Zolin Giobatta
Zolin Marco
Villanova Tomaso

Anno 1889
Pianezzola Giuseppe

Anno 1891
Ampesi Benimiano
Basso Angelo
Bassoi Francesco
Basso Pietro
Benvenuto Carlo
Bigarella Lorenzo
Cason Girolamo
Donadello Lorenzo
Ferronato Giacomo
Frison Domenico
Frison Giovanni
Giaretta Maria
Marostica Luigi
Mela Bonaventura
Pianezzola Giuseppe
Pianezzola Teresa
Pigato Maria
Ramina Girolamo
Sartore Felice
Savio Angelo
Savio Sante
Valerio Antonio
Zoccolin Edoardo
Zorzi Giomaria

Anno 1892
Andrighetto Stefano
Baldisseri Antonio
Barbieri Valentino
Ferronato Bortolo
Saccardi Andrea
Tonin Giuseppe
Tonin Lorenzo
Zanasso Girolamo

Anno 1893
Balasso Domenico
Cesari Bortolo
Menin Giovanni
Trentin Girolamo
Valerio Francesco

Anno 1894
Boscato Giovanni
Enzetti Paolo
Miotti Vittoria
Zanasso Luigi

Anno 1895
Appoloni Francesco
Casagrande Gaetano
Centofonte Luigi
Chemello Elisabetta
Chemello Francesco
Crovadore Francesco
Crovadore Giuseppe
Fracasso Giuseppe
Gardelin Giobatta
Garzaro Bortolo
Marcato Girolamo
Marangon Giovanni
Mosele Giobatta
Zaccaria Giovanni

Anno 1896
Barbieri Domenico
Barbieri Giobatta
Boarotto Giobatta
Chemello Girolamo
Cristofori Marco
Fracasso Girolamno
Manfrin Girolamno
Milan Oliva
Stivanin Luigi
Tendolin Taddeo
Trentin Girolamo
Valerio Antonio
Zolin Antonio

Anno 1897
Antonello Serafino
Battistella Bortolo
Ramina Giacomo

Anno 1898
Baggio Cardina
Bigarella Lucia
Chemello Domenico
Corà Girolamo
Poletto Giovanni Battista

Anno 1899
Corradin Francesco
Cason Leonardo

Anno 1900
Caicchiolo Giovanni
Corà Francesco
Menin Giovanni
Novello Luigi
Verona Francesco
Zanasso Luigi
Zolin Domenico

EMIGRANTES DE 1888 — DETALHAMENTO

Nome – Ano de nascimento – Profissão – Data de partida/retorno (quando indicado)

 

Alberti Sebastiano (1842), contadino – 08/10/1888
Barbieri Giovanni (1857), contadino – 08/10/1888
Basso Antonio (1848), contadino – 25/10/1888
Basso Giovanni
Battistella Giovanni (1842), contadino – 10/10/1888
Binda Sante
Bonato Valentino (1839), contadino – 28/11/1888
Caichiolo Giovanni
Campese Giuseppe (1808), contadino – 17/10/1888
Casagrande Giuseppe (1826), sarto – 25/10/1888
Cason Giovanni
Centofante Girolamo (1851), industriante – 17/10/1888
Chemello Antonio (1847), contadino – 20/10/1888
Chemello Francesco
Chemello Giovanni (1865), contadino – 01/11/1888
Costenaro Sebastiano (1855), contadino – 10/10/1888
Crovadore Antonio (1859), contadino – 28/10/1888 (retorno 1892)
Essi Davide
Faresin Giuseppe (1868), contadino – 28/08/1888
Faresin Maria – 20/10/1888 (retorno 1892)
Ferracin Francesco
Frigo Sebastiano (1848), contadino – 28/10/1888
Garbossa Giovanni
Garbossa Pietro
Gardellin Ottavio
Garzaro Lorenzo (1860), contadino – 22/11/1888 (retorno 1895)
Gasparotto Vicenzo (1867), contadino – 28/08/1888
Girotto Cesare
Gobbato Clemente
Guadagnin Antonio (1867), contadino – 17/10/1888 (retorno 1892)
Lovo Luigi (1845), contadino – 10/10/1888
Marchetto Francesco (1842), contadino – 20/10/1888
Marchiorato Nicola (1848), allevatore – 08/11/1888 (retorno 1902)
Meneghin Girolamo
Miglioranza Giuseppe
Miola Santo (1845), bovaro – 30/11/1888
Mion Domenico
Mion Giovanni (1841), possidente – 10/10/1888
Morello Giacomo (1827), falegname – 10/10/1888
Motterle Bortolo (1844), contadino – 08/06/1888
Muzzolin Francesco
Nichele Nicolò (1826), contadino – 30/11/1888
Panzolato Bernardo (1848), contadino – 22/12/1888
Parise Luigia (1854), contadina – 08/10/1888
Pedon Stefano (1851), contadino – 02/11/1888
Pianezzola Giuseppe
Pozzato Luigi
Pozzato Mateo
Pozzato Valentino (1856), industriante – 28/10/1888
Rossi Marco (1855), contadino – 24/10/1888
Saccardo Luigi (1859), bovaro – 08/10/1888
Schirato Valentino (1844), falegname – 10/10/1888
Tessari Pietro
Trentin Girolamo
Trentin Quirino
Valerio Francesco (1867), contadino – 22/11/1888
Zoico Angelo (1835), possidente – 28/10/1888
Zolin Giobatta (1868), contadino – 28/08/1888
Zolin Marco
Villanova Tomaso (1853), fabbro – 25/11/1888

quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

A Emigração das Mulheres Italianas na Grande Diáspora (1880–1920)


A Emigração das Mulheres Italianas na Grande Diáspora (1880–1920)


Até a I Guerra Mundial a participação das mulheres desacompanhadas na emigração italiana era ainda pequena. Entretanto, emigraram em grande número acompanhadas, quando inteiros núcleos familiares atravessavam o Atlântico para se estabelecerem definitivamente nas terras do Novo Mundo, especialmente Brasil, Argentina e Estados Unidos. 

Antes dessa onda de emigração as mulheres italianas  permaneciam em casa cuidando da educação dos filhos, cultivando os campos e administrando a propriedade. Elas dependiam inteiramente das das remessas de economias que os seus maridos enviavam, nem sempre com regularidade necessária, do exterior onde moravam e trabalhavam. 

Elas tinham uma vida muito dura, repleta de solidão, vivendo permanentemente num estado de espera silenciosa, de medo, mas, por outro lado, também de  muita coragem. Após a grande guerra aconteceu uma mudança na vida dessas mulheres, quando as casadas e solteiras passaram a viajar sozinhas. 

Andavam a trabalho nas cidades vizinhas, maiores e mais ricas da Itália, mas, também para o exterior como França e Suiça. Partiam sozinhas para trabalhar como operárias, garçonetes, babás. Procuravam trabalho como operárias nas  fábricas de tecidos, nas regiões de Piemonte e Lombardia. 

Uma vez empregadas e estabelecidas chamavam os genitores e irmãos para as cidades onde tinham encontrado emprego e aos poucos as famílias íam se radicando no lugar. 

Em poucos anos este movimento  de migração feminina, dentro da própria Itália, foi crescendo cada vez mais até se tornar muito forte. Em algumas cidades a partida de mulheres era até muito superior aquela dos homens. 

Eram mães, esposas, noivas, filhas que agora se deslocavam para se encontrarem com os homens da família que tinham emigrado algum tempo antes. Eram agricultoras e mulheres da montanha, com pouca instrução, não conhecendo quase nada  da língua e cultura dos países que as estava acolhendo. 

Entretanto, essas mulheres e filhos mudavam a vida dos seus maridos, pais, companheiros, levando para eles mais alegria e esperança. Ao mesmo tempo essas mulheres levaram com elas as tradições, o dialeto e a cultura de origem; fundamentos que ajudarão os filhos a manter um forte vínculo com a terra de partida. 

As mulheres se superam e aprendem, descobrem uma responsabilidade até então desconhecida no mundo rural em que viviam. Assumem compromissos até então desconhecidos, são elas que ficam com a importante responsabilidade de mandar os filhos à escola. 



Aprendem um novo conceito no qual os filhos não são sua propriedade, têm direitos que ultrapassam as ligações familiares. Quando os maridos ou os filhos adoecem e não podem mais trabalhar, devendo por força ficar em casa, obviamente sem receber o salário, são elas que partem em busca de algum emprego para trazer o pão para casa. 

É necessário que elas também trabalhem, partem em busca de um trabalho a fim de completar a renda do marido, um só estipêndio não basta, e assim melhorar a vida familiar. 

Quando o marido fica doente fazem as vezes de enfermeiras, atendendo o enfermo com amor e transmitindo confiança. Inúmeras vezes o marido morria ainda muito jovem deixando só a mulher e os filhos, em um país estranho, longe de parentes e do conforto da casa paterna. 

Foram elas que guardaram a cultura de origem e os seus valores: a religião, a família, o trabalho e confiança no amanhã. Foi graças a elas que a memória da emigração foi salva.


Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta














sábado, 29 de novembro de 2025

A Emigração Italiana para o Brasil: História, Dor e Esperança

 


A Emigração Italiana para o Brasil: 

Uma História de Esperança, Dor e Silêncio dos Imigrantes Italianos


Entre o final do século XIX e as primeiras décadas do século XX, o Brasil se transformou no destino de centenas de milhares de italianos que, movidos por necessidade e esperança, cruzaram o oceano Atlântico em busca de uma vida melhor. Dentre eles, os vênetos — naturais da região do Vêneto, ao norte da Itália — formaram uma das maiores correntes migratórias rumo às lavouras brasileiras.

O Vêneto e a raiz da partida

Após a unificação da Itália, em 1870, o país enfrentou uma severa crise econômica. No Vêneto, então composto por províncias como Padova, Rovigo, Treviso, Verona, Veneza, Vicenza e Belluno (com Udine até 1900), a pobreza se alastrou entre os pequenos proprietários rurais. A estrutura agrária era arcaica, os impostos aumentaram, e os preços dos produtos agrícolas caíram drasticamente. Famílias numerosas dividiam pequenas parcelas de terra, insuficientes para garantir sustento. A polenta, à base de milho, era o alimento diário das camadas mais pobres, enquanto a carne era consumida apenas em ocasiões festivas. O vinho bom e o pão branco, por sua vez, estavam reservados às épocas de colheita e às casas mais abastadas.

As condições de moradia também eram precárias. Casebres de pedras soltas, chão batido e pouca mobília contrastavam com os altares improvisados com imagens do Sagrado Coração de Jesus e da Virgem Maria, testemunhas silenciosas da fé e da resignação de um povo. Quando os filhos cresciam, os mais velhos assumiam o trabalho do pai, geralmente por volta dos 46 ou 47 anos, e o ciclo recomeçava. O casamento, feito por acordo entre famílias, acontecia cedo: os homens, entre 23 e 25 anos; as mulheres, entre 18 e 23. Viúvos com filhos pequenos costumavam se casar novamente com moças jovens e de braços fortes, valorizadas por sua capacidade de trabalho e fertilidade.

Diante desse cenário, a emigração tornou-se uma válvula de escape para a miséria. Muitos vendiam suas posses logo após a colheita do trigo, entre setembro e novembro, reuniam o que podiam carregar e partiam, muitas vezes em família, sem planos de retorno.

A travessia e a chegada ao Brasil

A chegada ao Brasil se intensificou entre 1870 e 1920, quando mais de 960 mil italianos desembarcaram no país. São Paulo foi o principal destino, recebendo cerca de 70% desse contingente. Outros estados também atraíram italianos: Rio Grande do Sul (10%), Minas Gerais (8%), Espírito Santo (6%), Santa Catarina (4%) e Paraná (2%). Essas estatísticas, colhidas nos registros da Hospedaria dos Imigrantes de São Paulo, mostram uma forte concentração inicial no Sudeste, mas também indicam a dispersão gradual dos imigrantes.

Contudo, os registros italianos apresentam números ainda maiores. Considerando o princípio do jus sanguinis(nacionalidade por descendência), a Itália contabilizou como italianos os filhos nascidos fora do país, o que eleva a estimativa para cerca de 1,5 milhão de emigrantes para o Brasil — 850 mil só para São Paulo. No Brasil, por outro lado, adota-se o critério jus soli, o que reduz os números oficiais.

Ao desembarcar, os recém-chegados aguardavam nos centros de acolhimento a distribuição para as fazendas. Alguns vinham contratados por intermédio de agentes oficiais ou particulares; outros, por conta própria, lançavam-se à busca de trabalho, de fazenda em fazenda, até encontrar colocação. Muitos insistiam para que familiares e conterrâneos fossem mantidos juntos, numa tentativa de preservar os laços de solidariedade.

Do sonho à frustração: a vida nas fazendas brasileiras

A realidade no Brasil, no entanto, mostrou-se dura. Nas lavouras de café paulista, os italianos substituíram os escravizados recém-libertos. O sistema de parceria, em que os colonos plantavam e colhiam o café em troca de uma fração da produção, rapidamente revelou sua face cruel: dívidas crescentes, preços controlados pelos fazendeiros e abusos frequentes. O colono italiano tornou-se refém do patrão. Relatos de maus-tratos se multiplicaram, incluindo agressões físicas e psicológicas.

Em 1895, escandalizado pelas denúncias, o governo da Itália suspendeu temporariamente a imigração subsidiada para o Brasil. Somente pessoas com recursos próprios puderam continuar partindo. Ainda assim, o fluxo não cessou. Em 1902, com o Decreto Prinetti, a Itália proibiu em definitivo o envio de trabalhadores para o Brasil com passagem custeada pelo governo, selando o fim da grande imigração incentivada.

Dos quase um milhão de italianos que vieram entre 1870 e 1920, cerca de 357 mil deixaram o Estado de São Paulo, migrando para países como Argentina e Estados Unidos, que ofereciam melhores condições de trabalho e salários. O movimento não era apenas por ambição, mas por desilusão com a vida nas plantações brasileiras.

Desmemória, dispersão e silêncio

Ao longo das décadas, muitos descendentes deixaram de saber com exatidão a cidade ou a província de origem de suas famílias. O rompimento com o passado, muitas vezes intencional, era uma forma de sobrevivência emocional. Os que chegaram aqui raramente contavam aos filhos sobre as dificuldades vividas na Itália. Sabiam que a volta era impossível — e, por isso, preferiam o silêncio. Os traumas da travessia, da pobreza e da opressão eram engolidos pelo trabalho árduo e pelas novas responsabilidades.

Casos de famílias separadas durante fugas de fazendas não são raros. Um imigrante relatou, por exemplo, que fugiu sozinho após sofrer humilhações, deixando para trás irmãos e tios com os quais viera da Itália. Nunca mais soube deles. Situações como essa explicam por que hoje tantos brasileiros com o mesmo sobrenome não sabem se são parentes. No início do século XX, no entanto, todos conheciam suas raízes — sabiam os nomes dos avós, a aldeia de onde vieram, e a história familiar era parte viva do cotidiano.

Em 1904, um relatório diplomático italiano informou que 424 imigrantes embarcaram de Santos para a Argentina, insatisfeitos com o Brasil. E muitos outros fizeram o mesmo, silenciosamente.

Legado e identidade

Ainda que a memória dos sofrimentos tenha sido abafada, a marca da imigração italiana no Brasil é profunda. Da língua às tradições culinárias, das festas religiosas às comunidades rurais formadas no interior, o legado persiste. Os descendentes podem não saber a origem precisa de seus bisavós, mas herdaram deles a resiliência, o senso de comunidade e o valor do trabalho.

A grande ironia é que muitos dos que partiram em busca de uma nova vida foram recebidos com dureza em seu novo lar. E mesmo assim, plantaram raízes. A dor foi o adubo — e a memória, mesmo fragmentada, ainda brota nas histórias de família contadas em voz baixa, nos sobrenomes repetidos com orgulho, nos documentos antigos guardados como relíquias.

A história da imigração italiana no Brasil não é apenas uma narrativa de deslocamento, mas de reconstrução. E, acima de tudo, de um povo que, mesmo longe da pátria, construiu outra. 

Nota Explicativa

Este texto apresenta, de forma resumida e acessível, o contexto histórico da emigração italiana para o Brasil entre o fim do século XIX e o início do século XX. Explica as causas da partida no Vêneto, as dificuldades da travessia, a dura realidade nas fazendas brasileiras e o impacto dessa migração na memória e na identidade dos descendentes.



quarta-feira, 26 de novembro de 2025

L’Influensa del Clero ´nte l’Emigrassion Italiana par el Brasil: Confliti, Ideài e la Risserca de un Mondo Novo


 

L’Influensa del Clero ´nte l’Emigrassion Italiana par el Brasil: Confliti, Ideài e la Risserca de un Mondo Novo

Inte i teritori italiani da ’ndove che partia ’na gran mùcio de gente, l’ambiente sossiał el zera segnà da dispute profunde. Da ’na banda ghe zera quełi che vardava l’emigrassion de massa cofà l’ùnica via de scampo de la malora agrària. Da l’altra, quełi che gavea paura che ’l abandonar el campo i desfaresse tradission seculari e ’l strutura de le comunità contadine.

Sto conflito el coinvolsea autorità sivile, capi łocai e anca i representanti del clero. I governi łiberài acusava un saco de pàrochi de ’ncoraiar le famèie a partir e, a volte, de farse mediadori privilegià de l’emigrassion. Tanti de sti preti, in oposicion con el Stato italiano unificà, i se cataea anca soto pression interna de ’na Cesa che la voléa evitar problemi direti con el governo.

Par tanti preti, tegner su l’emigrassion zera ’na maniera de reagir contro la pèrdita de influensa e de prestìgio ´nte le paròchie. La malora econòmica la copava no solo i fedeli, ma anca i preti stessi e le so famèie, che sofria el disocùparo, le novi tasse e l’instabilità portà da le reforme polìtiche del novo Stato italiano.

Lo incremento del anticlericalismo e le tension tra Cesa e Stato i agravava l’ambiente. El Vatican reagia, ma no ghe zera ancora ’na lìnea ùnica sora la partensa de miaia de contadin verso le Amèriche. ´Nte sto contesto, qualche preti provava a desinssentivar la partensa, mentre altri organizava in modo ativo i grupi par el viaio oltre ossean.

Tanti pàrochi i ga seguì i so fedèli fin ´nte el Brasil. I voléa preservar i vìncołi religiosi, morai e de comunità che in Itàlia i se zera tornà rossi via dal liberalismo, da la modernisassion e dal indebolimento de la vita contadina tradissionae. Par tanti de lori, l’Amèrica zera un posto ’ndove che se podéa refar la coesion de le famèie e tegner vivi i valori minasià ´nte la penìsola.

In diverse region italian se difonde la vision che l’Amèrica la podéa diventar ’na comunità cristiana nova, quasi ’na “Repùblica de Dio”. Par i contadin pòvari e pien de incertesa, sta promessa la gavea un peso grande. Le parole dei preti gavea valor moral e tante volte lore contava pì de l’autorità del Stato.

Anca se perseguità par suposta desòrdine pùblica, contravension o oposission al governo, un bon nùmaro de preti continuava a difender l’emegrassion cofà un modo de salvar le so comunità. Par lori, partir zera ’na maniera de conservar la fede, la vita comunitària e l’identità contadin.

Intel dessene del 1870 e 1880, la paura de la misèria se somava a la desfassadura de le struture tradissionai. Tanti contadin i ga deciso de partir no tanto par la povartà de quel momento, ma par paura del futuro e par la risserca de dignità. Pìcoli proprietài, a volte catalogà cofà fanàtici o ambissiosi, i diventava capi łocài del movimento emigratòrio, portando con lori visin e parenti.

El Brasil comparì cofà un destino prometedor. El zera descrito cofà ’na tera fèrtile, rica de risorse e lontan da le guere che roinava parte de l’Itàlia. I raconti dei viaiadóri e i discorsi dei preti — cofà quel famoso de Don Cavalli — i presentava el Brasil cofà ’na vera “segunda Canaàn”, un posto ’ndove refar la vita e tegner viva la fede catòlica.

Cussì, l’emigrassion la ze diventà via de scampo davanti de la malora agrària, de l’instabilità polìtica e de la pèrdita de le rete tradissionai de sostegno. Ma la ze deventà anca ’na forma de resistensa: ’na prova de tegner su costumi, valori religiosi e la vita de comunità minasià da le trasformassion de l’Itàlia dopo l’unificassion.

La narassion de la “tera promessa” la ardea l’imaginàrio contadin. El sònio de catar giustìssia, łibartà e dignità oltre el mar el ghe dava forsa a miaia de famèie che ga colto el Brasil cofà destin. Par lori, l’emigrassion la zera la speransa de costruir un “mondo al rovèscio”, un mondo pì umano, cristiano e uguale.


Nota 

L’emigrassion italian e sopra tuto quela vèneta la ga avù un ruolo decisivo `nte la formassion cułtural, sossial e econòmica de tanti paesi che ga avù la fortuna de ’ndar a ricéver i so emigranti. El spìrito de laoro, la tradission agrìcoła, el senso forte de comunità e la conservassion dei valori de famèja i ga trasfornà ìntegre colónie, contribuindo al ingrandimento de regioni ´nte el Brasil, l’Argentina, l’Uruguai e altri posti de le Amèriche. Sto lassà el resta vivo ´nte le sagre tìpiche, ´nte la cusina, ´nte i dialeti e ´nte le tante stòrie de perseveransa lassà da le famèie dessendenti.

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta

quinta-feira, 20 de novembro de 2025

A Influência do Clero na Emigração Italiana para o Brasil: Conflitos, Ideais e a Busca por um Novo Mundo


A Influência do Clero na Emigração Italiana para o Brasil: Conflitos, Ideais e a Busca por um Novo Mundo


Nos territórios italianos que registraram grande fluxo emigratório, o ambiente social era marcado por disputas profundas. De um lado estavam os que viam a emigração em massa como única saída para a crise agrária. Do outro, aqueles que temiam que o abandono do campo destruísse tradições seculares e desestruturasse as comunidades camponesas.

Esse conflito envolvia autoridades civis, líderes locais e representantes do clero. Governos liberais acusavam inúmeros párocos de incentivarem a partida das famílias e até de atuarem como facilitadores privilegiados da emigração. Muitos desses sacerdotes, em oposição ao Estado italiano unificado, enfrentavam também pressão interna de uma Igreja que tentava evitar atritos diretos com o governo.

Para diversos padres, apoiar a emigração era uma forma de reagir à perda de influência e prestígio nas paróquias. A crise econômica atingia não apenas os fiéis, mas também os próprios sacerdotes e suas famílias, igualmente afetados pelo desemprego, pelos novos impostos e pela instabilidade provocada pelas reformas políticas do novo Estado italiano.

O crescimento do anticlericalismo e as tensões entre Igreja e Estado agravavam o ambiente social. O Vaticano reagia, mas ainda não havia uma postura uniforme sobre a saída de milhares de camponeses rumo às Américas. Nesse contexto, alguns sacerdotes tentavam desestimular a partida, enquanto outros organizavam ativamente grupos para a viagem transatlântica.

Vários párocos acompanharam seus fiéis até o Brasil. Buscavam preservar os vínculos religiosos, morais e comunitários que estavam sendo corroídos na Itália pelo liberalismo, pela modernização e pelo enfraquecimento da vida rural tradicional. Para muitos deles, a América representava um espaço onde seria possível reconstruir a coesão das famílias e proteger valores ameaçados na península.

Difundiu-se, em diferentes regiões italianas, a visão de que a América poderia abrigar uma nova comunidade cristã, uma espécie de “República de Deus”. Para camponeses empobrecidos e inseguros, essa promessa era poderosa. As palavras dos sacerdotes tinham peso moral significativo e muitas vezes superavam a autoridade do Estado.

Mesmo perseguidos por suposta desordem pública, contravenções ou oposição ao governo, vários padres continuaram a defender a emigração como caminho para salvar suas comunidades. Para eles, partir era uma forma de preservar a fé, a convivência comunitária e a identidade camponesa.

Nas décadas de 1870 e 1880, o medo da miséria se somou à destruição das estruturas sociais tradicionais. Muitos camponeses decidiram partir mais por receio do futuro e pela busca de dignidade do que pela pobreza imediata. Pequenos proprietários, às vezes rotulados de fanáticos ou ambiciosos, tornaram-se líderes locais do movimento emigratório, conduzindo vizinhos e parentes para o exterior.

O Brasil apareceu como destino promissor. Era descrito como terra fértil, abundante em recursos e distante das guerras que devastavam partes da Itália. Relatos de viajantes e discursos de sacerdotes — como o do padre Cavalli — apresentavam o território brasileiro como uma verdadeira “segunda Canaã”, um lugar onde seria possível reconstruir a vida e manter viva a fé católica.

Assim, a emigração tornou-se rota de fuga diante da crise agrária, da instabilidade política e da perda das redes tradicionais de apoio. Ao mesmo tempo, assumiu caráter de resistência: uma tentativa de proteger costumes, valores religiosos e formas de vida comunitária ameaçadas pelas transformações da Itália pós-unificação.

A narrativa da “terra prometida” alimentou o imaginário camponês. O sonho de alcançar justiça, liberdade e dignidade no além-mar serviu de impulso emocional para milhares de famílias que escolheram o Brasil como destino. Para elas, a emigração representou a esperança de construir um “mundo às avessas”, onde a ordem social pudesse ser mais humana, cristã e igualitária.

Nota explicativa

A emigração vêneta desempenhou um papel decisivo na formação cultural, social e econômica de diversos países que tiveram a sorte de receber seus imigrantes. O espírito de trabalho, a tradição agrícola, o forte senso de comunidade e a preservação dos valores familiares transformaram colônias inteiras, contribuindo para o desenvolvimento de regiões no Brasil, Argentina, Uruguai e outros destinos das Américas. Este legado permanece vivo nas festas típicas, na culinária, nos dialetos e nas inúmeras histórias de perseverança deixadas pelas famílias descendentes.

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta




domingo, 16 de novembro de 2025

A Jornada de Carlo Venturin: A Vida de um Emigrante Italiano nas Fazendas de Café do Brasil

 


A Jornada de Carlo Venturin: A Vida de um Emigrante Italiano nas Fazendas de Café do Brasil


A travessia de Carlo Venturin rumo ao Brasil marcou o início de uma transformação profunda, típica dos movimentos migratórios que moldaram o final do século XIX. Foram quarenta dias confinados no porão úmido de um navio superlotado, onde a fome, as doenças e o ar rarefeito corroíam lentamente a vitalidade de cada passageiro. Naquele espaço escuro, Carlo compreendeu que deixar a planície nevada próxima a Milão significava renunciar não apenas ao passado, mas também às certezas de sua própria identidade.

Quando o navio finalmente atracou em Santos, a sensação de alívio durou pouco. Os recém-chegados foram rapidamente enviados às fazendas de café do interior paulista, como peças substituíveis de um sistema que prometia trabalho, mas entregava cativeiro disfarçado. Na Fazenda Boa Fortuna, Carlo descobriu um regime silencioso e implacável: preços inflacionados pelo próprio patrão, dívidas que cresciam sem controle e uma rotina intensa que transformava cada dia em prova de resistência.

O sol tropical, muito mais severo do que qualquer verão italiano, marcava sua pele como ferro quente. Ainda assim, Carlo enxergava nos cafezais uma metáfora de sua própria existência. As raízes das plantas, forçadas a se adaptar ao solo estranho, refletiam sua tentativa de fincar lugar em uma terra que exigia mais do que ele imaginara ser capaz de oferecer.

À noite, quando o silêncio tomava o campo, Carlo permitia-se recordar o cheiro da polenta recém-feita, o frio úmido das ruas de Milão e o conforto seco da neve sob as botas. Essas lembranças tinham o peso de um mundo inteiro, mas também a força necessária para mantê-lo de pé. Ele sabia que não havia retorno. Sua persistência era agora uma construção voltada para o futuro, mesmo que seus filhos ainda não existissem. A promessa de oferecer a eles um destino menos árduo guiava seus passos.

Assim se formava a trajetória de Carlo Venturin: uma vida moldada por trabalho incansável, adaptação e esperança teimosa. Seu esforço silencioso refletia a jornada de milhares de italianos que deixaram a Europa em busca de dignidade. No calor intenso das plantações de café, Carlo reconstruía a si mesmo e deixava, sem perceber, as primeiras raízes de uma história que seus descendentes carregariam como legado.

Nota do Autor

Este texto é baseado em elementos históricos reais da imigração italiana no Brasil. Todos os nomes, incluindo Carlo Venturin, são fictícios, utilizados apenas para preservar a privacidade e representar, de forma literária, a experiência coletiva de milhares de emigrantes que enfrentaram a travessia atlântica, o trabalho duro nas fazendas de café e os desafios de reconstruir a vida em um país desconhecido.



sexta-feira, 14 de novembro de 2025

Do Vêneto à Serra Gaúcha: a jornada de Carlo Bernardini e o início da Colônia Caxias – 1890

 


Do Vêneto à Serra Gaúcha: a jornada de Carlo Bernardini e o início da Colônia Caxias – 1890


A Travessia de Carlo Bernardini

Quando o navio cruzou o Atlântico e o horizonte começou a se apagar sob o peso das nuvens, Carlo Bernardini entendeu que a vida antiga havia terminado. Maser, o vilarejo de colinas e neblinas na província de Treviso, ficava para trás como um quadro guardado na memória. No outono de 1887, abandonara a terra natal com o coração dividido entre a necessidade e a esperança. A Itália, unificada há pouco, era uma promessa quebrada; o solo empobrecido, o trabalho escasso, o pão medido em fatias. A América, ao contrário, era um rumor distante — o país onde se dizia que o trigo brotava sem pedir licença e o governo entregava terra a quem tivesse coragem de lavrá-la.

Três anos depois, no alto da serra do Rio Grande do Sul, Carlo aprendera a suportar o peso dos dias. Trabalhava para o governo, abrindo picadas e demarcando os terrenos que seriam destinados aos imigrantes. O engenheiro responsável — um brasileiro de fala pausada e modos firmes — reconhecera em Carlo um homem de confiança, e por isso intercedeu unto ao governo que lhe concedeu um lote à beira da estrada principal da Colônia Caxias. Era um pedaço de terra rude e fértil, onde o mato se erguia até o peito e o ar cheirava a resina.

Carlo construiu ali uma casa simples, de madeira escura, e cada tábua pregada era um gesto de renascimento. Trabalhava desde o romper do dia, recebendo cinco florins por jornada — o suficiente para manter o corpo de pé e o espírito em paz. Com o pouco que ganhava, comprou duas vacas e um cavalo, sinal de que o tempo começava a recompensá-lo. O governo prometera novos pagamentos, e ele esperava pelo próximo como quem espera a colheita depois da seca.

A solidão era a única coisa que o dinheiro não comprava. Nas tardes em que a chuva descia grossa sobre o vale, Carlo sentava-se diante da janela e olhava o caminho lamacento por onde, de tempos em tempos, passavam tropeiros, colonos e carroças cobertas. A ausência dos pais lhe pesava como pedra no peito. Sonhava em vê-los chegar, velhos e curvados, trazendo consigo o cheiro da terra vêneta e o calor das vozes familiares.

O Brasil, aos seus olhos, era um mundo novo e indecifrável. As florestas pareciam intermináveis, e os sons da mata — pássaros, insetos, o estalo dos galhos — lembravam-lhe que estava longe de tudo o que conhecia. Ainda assim, havia uma força secreta naquela solidão. O trabalho constante, o suor e o cansaço faziam-no sentir parte da paisagem. A cada árvore derrubada, a cada cerca erguida, Carlo via nascer não apenas uma colônia, mas uma civilização.

Os colonos que chegavam de outras partes da Itália traziam histórias parecidas: fome, dívidas, despedidas. Todos falavam com o mesmo sotaque cansado e o mesmo brilho de obstinação nos olhos. Juntos, transformavam o mato em lavoura, as picadas em estradas, os barracos em vilas. O nome “Caxias” começava a ganhar sentido — símbolo de uma nova vida construída sobre o esforço de quem não tinha nada além das próprias mãos.

Com o passar dos meses, a colônia se organizou. A estrada principal virou o eixo da vida comunitária: ao longo dela, surgiram a venda, a ferraria, a igreja de madeira e, mais tarde, a escola. Carlo era visto como um dos pioneiros — um homem que aprendera a lidar com as ferramentas do governo e com a dureza da terra. O engenheiro Brito, seu superior, elogiava-lhe a disciplina e a fé.

Apesar do progresso, a saudade nunca o abandonou. Nas noites de verão, quando o vento trazia o cheiro úmido da floresta, Carlo recordava o som dos sinos de Maser e a voz da mãe chamando da porta. Sonhava que, um dia, poderia juntar dinheiro suficiente para trazê-los. Imaginava o pai caminhando pela estrada de Caxias, espantado com a vastidão da América, e a mãe chorando de emoção diante da casa que o filho erguera com as próprias mãos.

O tempo, no entanto, seguia implacável. As cartas que mandava à Itália demoravam meses, e muitas não recebiam resposta. Ainda assim, ele escrevia, movido por um dever silencioso: o de manter viva a ponte entre o velho e o novo mundo. Em cada linha, descrevia os vales, o trabalho, a esperança de que um dia todos se reuniriam sob o mesmo teto.

Quando o outono de 1890 chegou, Carlo percebeu que o Brasil já o transformara. Não era mais o camponês de Maser, mas um homem endurecido pela distância e pelo destino. Os calos nas mãos eram suas medalhas; o campo que arava, seu testamento. Olhava a colônia e via crianças correndo, mulheres amassando pão, homens carregando madeira — a prova de que o sacrifício não fora em vão.

Naquela terra distante, Carlo encontrou mais do que trabalho: encontrou sentido. A solidão dera lugar à certeza de pertencer a algo maior. A Colônia Caxias, ainda jovem e coberta de mato, tornava-se um pedaço de Itália fincado no coração do sul.

Sob o céu avermelhado do entardecer, Carlo Bernardini ergueu os olhos e pensou que talvez o futuro começasse ali — no ponto exato em que o cansaço e a esperança se encontravam.

Nota do Autor

Esta narrativa é uma obra de ficção histórica, construída a partir de fatos, datas e emoções reais contidas em antigas cartas de emigrantes italianos do Vêneto, hoje preservadas em acervos museológicos do Rio Grande do Sul.

Embora os nomes e alguns detalhes tenham sido alterados, o enredo segue de perto as experiências relatadas por esses pioneiros que deixaram Maser e outras pequenas vilas de Treviso em direção às matas e vales da Colônia Caxias, no final do século XIX.

Trata-se, portanto, de uma recriação literária — uma tentativa de dar voz a homens e mulheres anônimos que transformaram o exílio em pátria e a saudade em herança. Suas palavras, escritas há mais de um século, continuam a atravessar o tempo, lembrando-nos que a história da imigração italiana no Brasil não é feita apenas de datas, mas de silêncios, distâncias e esperanças.

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta

Dal Vèneto a la Serra Gaúcha: La Zornada de Carlo Bernardini e el Scomìnsio de la Colònia Caxias – 1890 CORRIGINDO

 


Dal Vèneto a la "Serra Gaúcha": la zornada de Carlo Bernardini e el scomìnsio de la Colónia Caxias – 1890

Quando el bastimento el ga traversà l’Atlántico e l’orisonte el se scoverse soto le nèbie pesà, Carlo Bernardini capì che la vita vècia la zera finì. Maser, el paeseto de coline e de nèbia in provìnsia de Treviso, restava drio de luse, come un quadro consomà dal tempo. In autono de 1887, lu avea lassà la so tera con el cuor spacà tra la misèria e la speransa.
L’Itàlia, che da poco la zera fata unita, no zera gnanca pì un sònio: tera poca, fame tanta, e el pan contà. Ma l’Amèrica, al contràrio, la se disea che la iera ’na tera de promesse, ndove el grano el nasséa sensa dificoltà e el Governo regalava tera a chi che gavéa el corio de lavorarla.

Tre ani dopo, su l’alture frede dei  monti del Rio Grande do Sul, Carlo l’avea imparà a portar su la pena del zorno. El laorava par el Governo, taiando la foresta e segnando i loti par i coloni novi. El capi ingegnere, un brasilian de modo fermo e parola lenta, l’aveva vardà che Carlo el zera un omo de fidùssia, e ghe gavea solicità per l´aministrassion de la Colònia de Caxias darghe un peso de tera lungo la strada granda.
Lì, tra i pini e el fumo de le prime foghere, Carlo l’alzò la so césa de tavole scure, e ogni martelà iera come un fià de vita nova. El lavorava da la matina fin che calava el scuro, guadagnando cinque fiorin al zorno — quanto bastava par viver e no morir de fame. Co’ quei pochi schei, el comprò do vacche e un caval, segno che la sorte, forse, la ghe faseva el primo sorriso.

El Brasile, par lù, iera un mistero che profumava de resina e de speransa. El mato se alzava fino al peto, el silensio de la selva el iera vivo come un respìro. Ogni albero butà zo, ogni pala infìssa ne la tera, iera un atto de fede.
Carlo sentiva che ’sto mondo novo, benché duro, ghe stava cambiando l’ànima.

La solitùdine la iera ’na compagna fedele. Ne le sere de piova, sentà davanti a la finestra, el vardava la strada de fango dove passava qualche caròssa o i altri emigranti che venìa dai altri paesi del Vèneto.
El pensiero del pare e de la mare el ghe serava el peto. El sognava de vedarli rivar, stanchi e curvi, portando co’ lori el odor de la tera e la vòs del campanile.

El Brasil ghe pareva un paese sensa fine. Ma sotto quel ciel tanto lontan, el sentiva ’na forsa nova che ghe teneva in piè. El lavor continuo, el sudore, la fadiga, iera diventai la so preghiera.
Con i altri coloni, che rivava da Treviso, Belluno e Vicenza, el metéa insieme speranse e mani. De mato fazéa campo, de pietra fazéa casa. Caxias, pian pian, diventava ’na parola con sentido, ’na patria che naséa nel silensio.

El tempo passava, e la colònia la se sistemava. Lungo la strada granda se fazéa la venda, la ghe se alzava la gleisa, la scola, la ferraria.
Carlo, che el lavorava par el Governo, l’era vardà come un pionèr, un che sapeva tegnér su el cor anche ne le giornàe più nere.
L’ingegnere Brito, el so caposuperiore, el diseva che in quel vèneto ghe iera più corajo che in dezena de brasiliani.

Ma la nostalgia no lo molava mai. Ne le noti de estate, co el vento portava l’odor umido del mato, Carlo rivedeva la nèbia de Maser, i sò campi, el fogo ne la casa. El sognava che, un dì, i genitori i rivasse anca lori, e che la mare la piangesse de contentessa vardando la casa nova che el fiol gaveva fato co le man.

Le letare le partiva ogni tanto, ma poche le rivava in tera. El sapeva che le parole, qualche volta, le se perdeva tra i monti e i mari. Ma el scriveva lo stesso, perché scrìvar iera come respirar. El ghe contava de la vita de Caxias, de la tera che rendeva, de la speransa de rivédarse tuto un giorno.

In autun del 1890, Carlo capì che el Brasile lo gaveva fato novo.
No iera più el contadin povero de Maser, ma un omo temprà da la fadiga e da la lontanansa.
I calli ne le man iera la so gloria, la tera lavoràa el so orgoglio.
E vardando i fioi de altri coloni che coréa tra le case nove, el sentiva che el sacrificio so no iera sta invano.

Soto quel ciel rosso de sera, Carlo Bernardini alzò el sguardo e capì che forse el futuro el naséa lì — proprio nel ponto dove la fadiga e la speransa se tocava.

Nota del Autor

’Sta stòria la ze ’na fission stòrica, ma nassesta sora le parole vere de emigranti veneti che, tra el fin del sècolo XIX, i scrivea da le colonie del Rio Grande do Sul.
Le so lètare, incoi custodì in musei e archivi, le conta la fadiga, la lontanansa e la fede de chi che i ga lassà Maser e le contrade de Treviso par trovar vita nova tra i monti e i vali de Caxias.

I nomi i ze stà cambià, ma l’ànima de la stòria la resta vera. L’intento de ’sto raconto el ze de far parlar ’na altra volta ancora quei òmeni e quei done che, con le man rote e el cuor pien de speransa, i ga fato del silénsio ’na pàtria e de la misèria ’na eredità.
Le so vose, scrite sora carta descolorà dal tempo, le resona ancora tra ’sti monti — come ’na preghiera che no se desmentega mai.

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta



terça-feira, 11 de novembro de 2025

Do Vêneto a Nova York – A Coragem de Carlo Damiani na Emigração Italiana do Século XIX


 

Do Vêneto a Nova York – A Coragem de Carlo Damiani na Emigração Italiana do Século XIX


O inverno de 1895 chegava áspero sobre os vales do Vêneto, e nas colinas de Vicenza o frio parecia ainda mais cruel quando misturado à fome. Carlo Damiani, homem de trinta e poucos anos, olhava para os campos vazios, onde nem as vinhas resistiam mais. O trigo era pouco, o trabalho escasso, e os filhos — Luigi e Domenico — pediam pão antes mesmo que o sol nascesse. A mulher, Rosina, tentava esconder o desespero costurando roupas e fazendo alguns serviços para alguns vizinhos mais ricos, e a velha mãe, já perto dos noventa, rezava em silêncio, pedindo aos santos que protegessem os seus.

Naquela época, a Itália sangrava lentamente. O país, desde a unificação que prometia vida nova, ainda não encontrara um caminho seguro para seus filhos: impostos altos, pobreza no campo, miséria nas vilas. A palavra “América” era sussurrada nas tavernas como uma promessa — uma esperança vestida de vapor e distância.

Carlo decidiu partir. Não foi uma escolha fácil, mas uma necessidade. Vendeu as poucas ferramentas que possuía e conseguiu, com ajuda de conhecidos, um bilhete de terceira classe no navio Conte di Genova, que partiria de Gênova rumo a Nova York. No dia da despedida, Rosina chorou em silêncio. Os filhos, Luigi com sete anos e Domenico com cinco, agarraram-se às pernas do pai. Prometeu que voltaria um dia, ou que encontraria um modo de trazê-los para junto dele.

A viagem foi um inferno. Na terceira classe, o ar era pesado, o convés abafado, e o mar castigava o casco do navio como se quisesse devolver os passageiros ao seu destino. Carlo dividia o espaço com dezenas de outros camponeses, todos com o mesmo olhar: o medo e a esperança misturados como sal e suor.

Quando o Conte di Genova finalmente avistou a Estátua da Liberdade, Carlo sentiu o peito apertar. Nova York se ergueu diante dele como um monstro e uma promessa. Ellis Island, com seus corredores cheios e o cheiro de desinfetante, foi o primeiro solo americano que seus pés tocaram. Ali, entre filas intermináveis e perguntas em uma língua incompreensível, começou sua nova vida.

Trabalhou no que apareceu: carregador no porto, servente nas obras do metrô, limpador de fornos. As mãos se tornaram calos, o corpo emagreceu, mas a vontade de vencer nunca o deixou. Escrevia cartas sempre que podia, contando a Rosina sobre o trabalho duro e o frio que cortava os ossos. Mandava moedas, pequenas, mas cheias de esperança.

Três anos depois, em 1898, Carlo finalmente conseguiu juntar dinheiro suficiente para comprar as passagens da família. Em sua última carta, escrita com emoção e traços incertos, dizia:

“Rosina mia, vinde. Traz os meninos. A terra aqui é dura, mas há pão. Há futuro.”

Rosina embarcou com Luigi, Domenico e os três irmãos mais novos de Carlo — Francesco, Pietro e Innocente. A mãe, infelizmente, não viveu para ver o reencontro. Morreu um ano antes, aos noventa, com um rosário nas mãos, murmurando o nome do filho perdido no mar.

O reencontro no porto de Nova York foi silencioso e comovente. Carlo esperava entre a multidão, com o chapéu gasto nas mãos. Quando viu Rosina e os meninos descendo a escada do navio, o tempo pareceu parar. Abraçaram-se longamente, sem palavras.

A família Damiani instalou-se em Little Italy, em um pequeno apartamento na Mulberry Street. Carlo e Rosina trabalharam incansavelmente: ele nas obras e depois como ajudante de um sapateiro, ela costurando para famílias italianas mais abastadas. Luigi e Domenico cresceram entre dois mundos — italianos de alma, americanos por destino.

Nos domingos, Carlo costumava sentar-se na soleira da porta, com o olhar perdido entre os prédios de tijolo e o ruído distante das carruagens. Dizia que o vento que vinha do rio trazia cheiro de casa — cheiro das colinas de Vicenza, das vinhas secas, do pão de milho que sua mãe fazia.

Nunca mais voltou à Itália. Mas também nunca a deixou de verdade. Guardava, no fundo de uma caixa de madeira, as cartas da irmã mais velha, casada, que lhe escrevia sobre a vila, sobre os invernos e as colheitas que já não vinham.

Carlo Damiani morreu velho, em 1932, no bairro que o acolhera. Na parede, uma fotografia amarelada mostrava o casal no dia do reencontro. E no olhar de Carlo — firme, cansado, mas sereno — ainda se podia ler a mesma esperança que um dia o fizera atravessar o oceano em busca de um futuro melhor.

Era um homem simples, mas grande em coragem — como tantos outros que deixaram o Vêneto para escrever, com suor e saudade, as primeiras páginas da história italiana na América. 


Nota do Autor

A história de Carlo Damiani nasceu da leitura de uma antiga carta escrita em 1896 por uma imigrante italiana já estabelecida nos Estados Unidos. Entre linhas trêmulas e palavras cheias de saudade, percebi a voz viva de um tempo em que partir era o mesmo que se despedir da própria terra — e, muitas vezes, da própria vida.

Nessa carta simples, encontrei o eco de milhares de existências anônimas que, como Carlo, deixaram o Vêneto e outras regiões da Itália em busca de um futuro melhor. A miséria do final do século XIX, o desemprego no campo, a fome e o peso da desesperança forçaram homens e mulheres a atravessar oceanos, levando consigo apenas a fé, a coragem e o amor pelos seus.

Escolhi Carlo Damiani como símbolo desse imigrante silencioso — o pai de família que parte sozinho, acreditando que o sacrifício individual pode garantir o bem dos que ficam. Através dele, procurei retratar o drama humano da emigração italiana para a América: a solidão das longas travessias, o choque de culturas, a vida nas ruas apertadas de Nova York e, sobretudo, a esperança teimosa que manteve vivos tantos corações.

Escrever esta narrativa foi uma forma de prestar homenagem à geração que construiu, com mãos calejadas e lágrimas escondidas, os alicerces de uma nova vida em terras estrangeiras. São histórias como a de Carlo que explicam por que, ainda hoje, o sangue italiano pulsa forte nas veias dos descendentes espalhados pelas Américas.

Cada nome, cada carta, cada lembrança desse tempo é uma ponte entre o passado e o presente. E enquanto houver quem conte essas histórias, nenhum desses imigrantes será esquecido.

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta