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segunda-feira, 16 de setembro de 2024

A Jornada dos Imigrantes Italianos ao Brasil




A Jornada dos Imigrantes Italianos ao Brasil

O sol mal começava a despontar no horizonte quando Giovanni acordou sua esposa, Maria, e os dois filhos, Pietro e Antonella. O dia havia chegado. Partiriam de sua pequena aldeia no interior da Itália em direção ao Brasil. A jornada seria longa e cheia de incertezas, mas a esperança de uma vida melhor alimentava seus corações. Naquela manhã, o aroma do pão fresco misturava-se ao silêncio pesado da despedida. Os pais de Maria, já velhos e debilitados, sabiam que nunca mais veriam a filha. Os olhos marejados de Giovanni, no entanto, não podiam fraquejar.
Após dois dias de viagem a pé, de carroça e finalmente o trem, a família finalmente chegou ao porto de Gênova. O cenário era caótico. Centenas de famílias, todas com os mesmos sonhos e temores, aguardavam o momento para embarcar. Amontoados ao relento, sentados como podiam, nas ruas próximas ao cais, sobraçando sacos, malas de papelão e caixotes com seus poucos pertences. Giovanni olhou para o imenso vapor que os levaria, um monstro de ferro fumegante que parecia engolir vidas e histórias em seu porão. Maria segurou firme a mão do marido, e ele retribuiu com um sorriso tênue, embora o medo os corroesse por dentro.
O porão onde foram alocados estava abarrotado de gente. O ar era abafado, a umidade, sufocante, e o cheiro da desesperança impregnava o ambiente. Antonella, de apenas três anos, chorava sem cessar, amedrontada pelo barulho e pela escuridão. Pietro, aos oito, mostrava-se forte como o pai, mas em seus olhos Giovanni via um medo infantil que ele mesmo tentava esconder.
A primeira semana de viagem foi especialmente dura. O constante balanço do navio deixava todos mareados e a maioria dos passageiros não conseguia segurar o vomito. A comida era escassa e de má qualidade, o enorme espaço para dormir, com seus desconfortáveis catres e beliches, distribuídos em longas filas, onde a privacidade era quase inexistente. As noites eram passadas em vigília, entre cochilos inquietos, enquanto os gemidos dos doentes ecoavam pelos corredores. Surtos de piolho começaram a se espalhar e, como uma praga invisível, o sarampo logo começou a acometer as crianças. Maria temia por Antonella. A menina, tão frágil, já demonstrava sinais de febre, e Giovanni sabia que a medicina a bordo era quase nenhuma.
O vento que soprava nas noites de tormenta parecia carregar consigo o lamento dos que haviam perdido seus entes queridos. A cada manhã, novos corpos eram envolvidos em lençóis e lançados ao mar, em cerimônias rápidas e silenciosas. A visão desses sacrifícios alimentava a angústia de todos os passageiros. As orações eram constantes, como se a fé pudesse afastar o destino cruel que parecia espreitar a cada esquina do navio.
Certa noite, quando Antonella já respirava com dificuldade, Maria pegou a pequena nos braços e começou a cantar uma antiga canção que sua mãe lhe ensinara. A melodia ecoou pelo porão, tocando o coração de outros imigrantes que, um a um, começaram a entoar canções de suas aldeias. O canto trouxe uma sensação de paz temporária, um consolo nas longas noites de incerteza.
Finalmente, após quase trinta dias no mar, as colinas do Brasil surgiram no horizonte. A visão era um alívio para os que haviam sobrevivido. Antonella, ainda frágil, havia resistido à febre, mas seus olhos brilhavam ao ver as novas terras. Pietro, excitado, falava sem parar sobre o que encontrariam na “terra prometida”. Giovanni, com um misto de alívio e apreensão, segurava Maria pela cintura, sabendo que o pior havia passado, mas ciente de que novos desafios os aguardavam.
O desembarque no porto do Rio de Janeiro foi caótico. O calor tropical, a umidade e o cheiro forte das matas surpreenderam a todos. Os imigrantes, ainda atordoados pela longa travessia, foram levados para a Hospedaria dos Imigrantes. Ali, conheceriam seu destino. A ansiedade no olhar de Giovanni e Maria era palpável. Logo descobriram que seriam enviados para uma colônia italiana chamada Caxias, distante mais de 1500 quilômetros no sul do país.
Os dias seguintes foram preenchidos por uma nova viagem pelo mar, dessa vez, embarcados em outro navio menor, que só fazia viagens na costa brasileira, rumo ao Rio Grande do Sul onde ficava a grande colônia. Depois de alguns dias chegaram ao porto di Rio Grande onde ficaram hospedados em um grande alojamento coletivo, de madeira e telhas de barro, sem muita privacidade. Ali ficaram por mais de uma semana a espera dos barcos fluviais que os levariam pela grande Lagoa dos Patos até a foz do rio Jacuí em Porto Alegre, a capital do estado. Não desembarcaram e com o mesmo barco a vapor seguiram rio acima até São Sebastião do Caí, onde terminava a viagem pelo rio. Ainda faltava muito chão a ser percorrido para chegar ao destino final. Deveriam agora seguir a pé ou em enormes carroças puxadas por bois, onde acomodavam as mulheres grávidas, idosos, crianças pequenas e a bagagem de todo o grupo.
O caminho, na verdade uma mera picada, era tortuoso, passando através de florestas densas e montanhas imponentes. Dela vinham gritos de animais desconhecidos que assustavam o recém-chegados. As carroças avançavam lentamente, e a saudade da Itália crescia a cada passo. Giovanni tentava manter o ânimo da família contando histórias sobre as aventuras que viveriam em sua nova terra, mas o cansaço era implacável.
Ao chegarem à Colônia Caxias, o cenário era desolador. As terras prometidas eram vastas, mas selvagens, cobertas de mata virgem. Não havia estradas, nem vizinhos próximos. Apenas a natureza imponente e, ao longe, outras famílias de imigrantes que, como eles, começavam a desbravar aquele novo mundo. Giovanni e Maria foram apresentados ao terreno que lhes fora destinado, uma extensão de terra densa que precisaria ser desmatada antes que pudessem plantar o primeiro grão. Passaram a noite acomodados no interior do oco de uma grande árvore que lhes forneceu abrigo e calor.
O trabalho árduo começou no dia seguinte. Giovanni, com a ajuda de Pietro, derrubava as árvores, enquanto Maria cuidava de Antonella e preparava o terreno para o plantio. Mas o que mais impressionava era sua resiliência. Ao final de cada dia, apesar do cansaço físico, ela ainda encontrava forças para manter em ordem aquele amontoado de paus e folhas que chamavam de casa, cozinhar e ajudar o marido na lavoura.
Os dias transformaram-se em semanas, e as semanas, em meses. A vida na colônia era um constante desafio. O isolamento, as doenças e a falta de recursos tornavam tudo mais difícil. Mas Maria nunca reclamava. Seus olhos, embora marcados pelo cansaço, continuavam brilhando com a esperança de um futuro melhor para os filhos. Sabia que, finalmente, apesar de todo o sofrimento que passaram, estavam agora trabalhando na própria terra. Tinham agora uma enorme propriedade para plantar, repleta de grossas árvores e até de um pequeno rio, o maior sonho de muitas gerações da sua família. Trabalhavam no era deles, não precisavam mais dividir a maior parte das colheitas com o senhor dono das terras.
A primeira colheita foi modesta, mas suficiente para alimentar a família. Giovanni, com o semblante aliviado, agradeceu aos céus pelo sustento. Mas sabia que precisariam de mais para sobreviver. Enquanto ele e Pietro trabalhavam arduamente na lavoura, Maria os acompanhava em todas as atividades pesadas da roça, dividindo o peso do trabalho com o marido. Além disso, ela preparava as refeições, cuidava da casa, dos filhos e dos animais. À noite, quando todos finalmente descansavam, Maria ainda estava ocupada, remendando roupas ou confeccionando chapéus, sem nunca parar de trabalhar.
Aos poucos, as outras famílias da colônia começaram a formar uma comunidade. Aos domingos, reuniam-se para missas improvisadas e momentos de convivência. Maria era respeitada por todos, não apenas pela força com que enfrentava o trabalho diário, mas também pela generosidade com que acolhia os novos imigrantes que chegavam. Seu sorriso, ainda que tímido, trazia conforto e esperança.
Os anos passaram, e a família prosperou. Pietro tornou-se um jovem forte e decidido, enquanto Antonella, já crescida, ajudava a mãe nos afazeres da casa e na lavoura. Giovanni, agora com alguns cabelos grisalhos, olhava para suas terras com orgulho. A transformação que haviam feito era fruto de um trabalho incansável, de sacrifícios inimagináveis.
Certa tarde, enquanto observavam o pôr do sol sobre os campos que haviam cultivado, Giovanni abraçou Maria com ternura. "Conseguimos", disse ele, com os olhos cheios de lágrimas. Ela sorriu, silenciosa, sabendo que a jornada ainda não havia terminado, mas que, juntos, haviam superado os maiores desafios de suas vidas.
Naquela noite, a família reuniu-se ao redor da mesa, como tantas outras vezes, mas com um sentimento diferente. A Itália, agora uma lembrança distante, havia sido trocada por uma nova pátria, uma terra que os acolhera com desafios, mas também com promessas de um futuro melhor. A saga dos imigrantes italianos estava apenas começando, e Maria sabia que as futuras gerações colheriam os frutos do seu sacrifício.
Com o tempo, as dificuldades começaram a se dissipar à medida que a Colônia Caxias se desenvolvia. As terras antes cobertas de mato virgem foram transformadas em campos produtivos, e as pequenas casas de madeira começaram a formar um vilarejo coeso. Giovanni e Maria tornaram-se figuras centrais na comunidade, não apenas pela contribuição direta ao desenvolvimento das terras, mas também pelo espírito de solidariedade e cooperação que promoveram.
Os filhos de Giovanni e Maria cresceram e prosperaram. Pietro, agora um jovem adulto, dedicava-se com afinco aos parreirais, desenvolvendo técnicas de cultivo que ajudavam a aumentar a produção de vinho que eram enviados para todo o país. Antonella, por sua vez, casou-se com um jovem agricultor também morador no local, de família vizinha, com a mesma origem dela e construiu sua própria família, perpetuando os valores e tradições que seus pais lhe ensinaram.
Maria, apesar dos anos de trabalho extenuante, encontrava tempo para transmitir suas memórias e histórias às novas gerações. Ela falava sobre a vida na Itália, a dura travessia e os sacrifícios que a família fez para construir uma nova vida. Suas histórias eram passadas para os filhos e netos, que ouviam com reverência a jornada que havia moldado a vida da família.
A influência de Maria e Giovanni na colônia era palpável. A escola local foi batizada em homenagem aos primeiros imigrantes, e a pequena igreja, onde antes rezavam em meio à dificuldade, tornou-se um símbolo de esperança e fé para todos. A dedicação de Maria ao cuidado dos outros e a força de Giovanni no trabalho diário eram lembradas com admiração por todos que conheceram sua história.
Os eventos da comunidade, como festas de colheita e celebrações religiosas, tornaram-se momentos de reunião e alegria. A música tradicional italiana voltou a ser ouvida nos eventos sociais, unindo todos em um sentimento de identidade e pertencimento. As canções que uma vez foram entoadas no porão do navio ressoavam agora nas festas da colônia, simbolizando a jornada e a perseverança.
A prosperidade da Colônia Caxias também trouxe novos desafios. O crescimento populacional levou à necessidade de mais infraestrutura, e Giovanni e outros líderes comunitários trabalharam incansavelmente para garantir que a colônia continuasse a se expandir e a prosperar. Maria, enquanto isso, ajudava a organizar eventos comunitários e iniciativas de bem-estar, sempre com um sorriso acolhedor e um coração generoso.
À medida que envelheciam, Giovanni e Maria observaram com orgulho o legado que haviam construído. Eles se aposentaram em uma pequena casa que construíram com suas próprias mãos, cercada por um jardim exuberante que Maria cultivava com carinho. A casa, repleta de memórias e fotografias, tornou-se um lugar de encontro para a família e amigos.
Os netos de Giovanni e Maria cresceram cercados pelo amor e pelas histórias de seus avós. Eles ouviam com atenção os relatos da travessia e do estabelecimento na colônia, entendendo o valor do sacrifício e da resiliência. Esses relatos formavam a base de uma identidade familiar sólida, ancorada na história e na perseverança.
A última festa de colheita que Maria e Giovanni participaram foi um evento memorável. A colônia estava vibrante, cheia de música, risos e danças. Em um discurso emocionado, Giovanni fez um brinde à memória dos que haviam falecido e ao futuro promissor da nova geração. Maria, com lágrimas nos olhos, agradeceu a todos por manter viva a chama da esperança e da solidariedade que haviam trazido da Itália.
No fim da vida, Giovanni e Maria encontraram paz e satisfação, sabendo que haviam cumprido sua missão de transformar uma terra desconhecida em um lar vibrante e próspero. O legado deles perduraria através das gerações que continuariam a construir sobre as fundações que haviam estabelecido.
Em seus últimos dias, Maria e Giovanni sentaram-se à sombra da grande árvore que haviam plantado juntos no jardim de sua casa. Observavam os netos brincando e os filhos trabalhando, sentindo-se contentes com a vida que haviam construído. Eles sorriam, sabendo que a jornada, com todas as suas dificuldades e alegrias, havia valido a pena.
E assim, a saga dos imigrantes italianos na Colônia Caxias tornou-se uma história de triunfo e resiliência, um testemunho do poder do espírito humano e da força da esperança. A cada nova geração, a memória de Giovanni e Maria continuaria a inspirar e a lembrar a todos que, mesmo nas circunstâncias mais desafiadoras, a perseverança e a união podem transformar o impossível em realidade.


terça-feira, 23 de julho de 2024

Condições Sanitárias e Desafios na Emigração Italiana


 

Nos últimos anos do século XIX, houve um aumento considerável no número de pessoas que partiram em direção às Américas, resultando em viagens marítimas que frequentemente se estendiam por mais de um mês, caracterizadas por condições extremamente precárias. 

Antes da promulgação da lei de 31 de janeiro de 1901, não existiam regulamentações que abordassem os aspectos sanitários da emigração. Em 1900, um médico descreveu o transporte marítimo de emigrantes como um cenário onde "higiene e limpeza estão constantemente em conflito com a ganância. O espaço e o ar são escassos."

Os beliches dos emigrantes eram distribuídos em corredores estreitos, recebendo ventilação principalmente através de escotilhas. A altura mínima desses corredores variava de um metro e sessenta centímetros a um metro e noventa centímetros. Eram úmidos e cheiravam a resíduos humanos e corpos sem banho por diversos dias. Nessas condições, surgiam frequentemente doenças respiratórias. Um exemplo da falta de normas básicas de higiene era a água potável armazenada em caixas de ferro revestidas de cimento, que, com o movimento do navio, liberavam partículas que turvavam a água. Os emigrantes consumiam essa água, tingida de vermelho pelo contato com o ferro oxidado, já que não havia destiladores a bordo.

A alimentação, independentemente da condição dos emigrantes - muitos dos quais eram analfabetos ou incapazes de entender as regras alimentares - consistia em uma rotina de dias "ricos" e "magros", alternando entre "café" e "arroz". A escolha entre pratos à base de arroz ou massa dependia da maioria regional dos passageiros, nortistas ou sulistas. Do ponto de vista nutricional, a dieta diária fornecia proteínas suficientes, geralmente superior ao padrão alimentar habitual dos emigrantes.

Analisando as estatísticas sanitárias do Comissariado Geral da Emigração e os relatórios anuais dos oficiais de marinha responsáveis pelo serviço de emigração, é possível traçar um panorama da saúde dos emigrantes italianos durante as viagens para a América do Norte e do Sul entre 1903 e 1925. Embora limitadas pela parcialidade dos dados coletados, essas fontes revelam aspectos cruciais das condições sanitárias das grandes migrações, conforme relatado em registros e diários de bordo. A falta de organização dos serviços de saúde tanto em terra quanto no mar compromete a precisão das estatísticas, dificultando o estudo de doenças específicas. Os dados estatísticos cobrem apenas as doenças detectadas pelos médicos a bordo ou pelos comissários, excluindo emigrantes que evitavam assistência médica por desconfiança ou medo de rejeição no destino.

É claro que tentativas de estimar sistematicamente a situação sanitária da emigração com base em fontes oficiais subestimam amplamente a extensão real dos problemas de saúde enfrentados durante as viagens transatlânticas. Apesar dessas limitações, as estatísticas oferecem insights importantes sobre as condições de saúde durante essas migrações em massa, conectando a experiência migratória com as condições socioeconômicas das classes menos favorecidas nos séculos XIX e XX.

A análise das estatísticas de 1903 a 1925 revela a persistência de certas doenças ao longo das viagens de ida e volta para as Américas. Embora não seja objetivo deste estudo investigar como o fluxo migratório contribuiu para a disseminação de doenças como pelagra, malária e tuberculose na Itália, é notável que essas condições tenham sido significativamente presentes nas estatísticas de morbidade. Por exemplo, a malária registrou altos índices nas viagens de ida para a América do Norte e do Sul, superada apenas pelo sarampo. Nas viagens para o sul, casos de tracoma e sarna também foram relevantes, enquanto no retorno predominavam tuberculose e tracoma, além de casos menos frequentes de ancilostomíase, ausente nas estatísticas de ida. Nos retornos do norte, a tuberculose pulmonar, as doenças mentais e o tracoma eram mais comuns, embora com números menores.

Embora as taxas de mortalidade e morbidade durante as viagens transatlânticas não tenham alcançado níveis alarmantes, elas foram mais altas nas viagens de ida e volta para a América do Sul, onde predominavam famílias inteiras emigrantes. A alta morbidade durante as viagens de retorno é especialmente relevante para os emigrantes que retornavam da América do Norte. O fluxo migratório para os Estados Unidos tendia a atrair pessoas em boa saúde e em idade produtiva, seja devido à auto seleção dos trabalhadores emigrantes ou aos rigorosos controles sanitários impostos pelos EUA sobre a emigração europeia.



quarta-feira, 17 de julho de 2024

Entre a Esperança e a Adversidade: A Saga dos Italianos Rumo à América



Durante o período de 1876 a 1920, aproximadamente 9 milhões de italianos deixaram sua pátria em busca de melhores condições de vida, impelidos pela pobreza e pela desesperança econômica. Essa migração em massa iniciou-se sob a égide da esperança, alimentando o sonho de uma terra distante que muitos retratavam como um paraíso na Terra: a América. Os destinos principais eram os Estados Unidos, Argentina e Brasil, onde muitos camponeses e artesãos viam na emigração a última chance de escapar da fome e da miséria.
Após a unificação italiana, a elite não apenas não reprimiu essa saída em massa, mas a viu como um alívio para as tensões sociais. Em 1888, foi promulgada a primeira lei oficial reconhecendo o direito de emigrar, o que facilitou o trabalho das agências que persuadiam os pobres a partir. A maioria das autoridades italiana entre os quais Sidney Sonnino, ministro liberal das Finanças e do Tesouro de 1893 a 1896, viam a emigração como uma "válvula de segurança para a paz social".
No entanto, o caminho rumo à América não era fácil. Os emigrantes enfrentavam tremendas dificuldades desde o recrutamento por agentes desonestos até as condições desumanas nos navios superlotados que cruzavam o Atlântico. Muitas vezes tratavam-se de embarcações de carga adaptadas, onde as condições higiênicas eram terríveis, com alta incidência de doenças como o cólera e uma mortalidade infantil alarmante.
Além das dificuldades físicas, os italianos enfrentaram desafios emocionais intensos ao se despedirem de suas terras natais. A nostalgia pela pátria era uma constante durante a travessia, evocada nas canções populares que lamentavam a distância crescente de suas cidades amadas.
Nos destinos finais como Argentina e Brasil, os recém-chegados eram recebidos em condições muitas vezes precárias, como o famoso "Hotel degli Immigrati" em Buenos Aires, onde eram alojados temporariamente em condições indignas.
Apesar dos perigos e das adversidades, a emigração italiana deixou uma marca indelével na história desses países receptores, contribuindo significativamente para seus desenvolvimentos econômicos e sociais.
Adicionalmente, a emigração italiana não foi apenas uma fuga das dificuldades, mas também um fenômeno complexo que moldou profundamente a identidade e a cultura desses países de destino. Os italianos trouxeram consigo não apenas habilidades laborais, como na agricultura e na construção civil, mas também valores familiares fortes e tradições culinárias que enriqueceram a vida cotidiana das comunidades onde se estabeleceram. A diáspora italiana não se limitou apenas aos centros urbanos; muitos italianos contribuíram para o desenvolvimento de áreas rurais, ajudando a transformar vastas extensões de terras em campos produtivos.
A experiência da emigração italiana também foi um catalisador para movimentos sociais e políticos tanto na Itália quanto nos países de destino. Movimentos anarquistas e sindicatos de trabalhadores formados por italianos no exterior desempenharam papéis importantes na luta por direitos trabalhistas e na defesa da justiça social. Essas comunidades transnacionais não apenas mantiveram laços estreitos com suas terras natais, mas também contribuíram para o desenvolvimento de uma consciência global entre os italianos e seus descendentes ao redor do mundo.


sexta-feira, 21 de junho de 2024

Jornada Perigosa: O Drama da Imigração Italiana nas Américas no Século XIX

 


No final do século XIX, a imigração em massa italiana para as Américas tornou-se uma séria preocupação devido às condições desumanas nos navios. Superlotação, más condições de higiene e surtos de doenças infecciosas, como cólera, tifo e sarampo, eram enfrentados pelos imigrantes. As autoridades sul-americanas, preocupadas com riscos sanitários, recusavam a entrada de navios europeus, resultando em incidentes dramáticos. A história do navio Matteo Bruzzo, rejeitado a tiros em Montevideo em 1884 após casos de cólera, ilustra a negligência das companhias de navegação. Viagens como a do navio Remo, em 1893, revelam condições desumanas, com alimentos escassos e epidemias, enquanto a falta de regulamentações eficazes contribuiu para incidentes de envenenamento. A saúde precária, superlotação e falta de cuidados médicos adequados tornaram as viagens transatlânticas uma jornada perigosa e angustiante para os imigrantes italianos do século XIX. Além dos perigos óbvios, como cólera e febre amarela, as condições de vida nos navios eram desoladoras. A superlotação nas áreas de terceira classe, destinada aos passageiros com preços mais acessíveis, era extrema. Incidentes como o do navio Carlo Raggio em 1888, com 18 mortes por fome, e do Piroscafo Pará em 1889, com uma epidemia de sarampo que matou 34 pessoas, destacam a extrema vulnerabilidade dos passageiros. As empresas de navegação, mesmo cientes das condições adversas, continuaram a lotar os navios, ignorando os alertas e experiências passadas dos próprios imigrantes. Mesmo com a conscientização na Itália, expressa através de cartas e relatos, as companhias buscavam maximizar os lucros, preenchendo os navios em cada viagem transatlântica. A higiene precária e a falta de cuidados médicos adequados levaram a surtos de difteria, tuberculose e outros males. A história do Piroscafo Remo, em 1893, ilustra a prontidão em descartar doentes para evitar a propagação de epidemias, mesmo quando isso resultou em mortes evitáveis. O retorno dos navios também apresentava desafios, incluindo incidentes de envenenamento devido a más condições de armazenamento de alimentos. Regulamentações de higiene alimentar foram introduzidas em 1890, mas sua eficácia era limitada. A preocupação com epidemias, a superlotação, a má nutrição e a falta de assistência médica eram uma constante para os imigrantes italianos. A despeito dessas dificuldades, alimentados pela esperança de uma vida melhor, eles continuaram a embarcar em navios em direção às Américas, enfrentando incertezas e perigos para tentar construir um futuro mais promissor no Novo Mundo. A experiência dos imigrantes italianos no século XIX, apesar dos desafios e perigos enfrentados nas travessias transatlânticas, era impulsionada por uma mistura de desespero e esperança. Muitos venderam tudo o que tinham para financiar a viagem, enquanto outros partiram na tentativa de se reunir com familiares no Brasil e em outros países das Américas. A notícia devastadora de que, após uma longa jornada em condições desesperadoras, 1.500 pessoas não seriam permitidas no Brasil gerou desânimo e desespero entre os passageiros do Piroscafo Remo. O retorno desses navios após as dificuldades encontradas também foi uma prova da resiliência e força dos imigrantes. Após 70 dias de viagem, incluindo uma parada forçada na ilha de Asinara, na Sardenha, para quarentena, o Piroscafo Remo chegou de volta a Gênova, tendo perdido 96 vidas no percurso. A falta de cuidados médicos adequados e as condições precárias persistiam nas viagens, e as companhias de navegação hesitavam em assumir os custos para melhorar a qualidade dos serviços a bordo. A luta contra epidemias, envenenamentos alimentares e outros males continuava a assombrar os imigrantes que buscavam uma vida melhor do outro lado do oceano. Essa época deixou um legado de coragem e resiliência, pois os imigrantes italianos enfrentaram adversidades inimagináveis em sua busca por oportunidades nas Américas. O preço humano pago durante essas jornadas é uma parte significativa e muitas vezes esquecida da história das migrações. Em uma canção dos imigrantes italianos, reflete a mentalidade daqueles que, apesar das incertezas e perigos, escolheram enfrentar os desafios da travessia oceânica em busca de uma vida melhor. A frase "Tentiamo la sorte" ("Vamos tentar a sorte") encapsula a atitude corajosa e otimista que impulsionou esses indivíduos a embarcar em uma jornada incerta. A história dessas migrações é um testemunho da tenacidade humana diante das adversidades. Mesmo diante de condições desumanas, doenças e incertezas, os imigrantes italianos perseveraram, motivados pela esperança de um futuro mais promissor e pelas oportunidades que a América poderia oferecer. Esses relatos históricos também ressaltam as deficiências nos sistemas de saúde e regulamentações de segurança da época, evidenciando a necessidade de melhorias significativas nas condições de viagem e nas práticas das companhias de navegação. O legado dessas experiências contribui para a compreensão da complexidade e das dificuldades enfrentadas pelos imigrantes italianos durante o século XIX. Hoje, essas histórias servem como um lembrete poderoso do sacrifício, da resiliência e da determinação que moldaram as trajetórias de muitos que buscavam uma vida melhor além das fronteiras de sua terra natal. A imigração italiana para as Américas é uma parte fundamental da narrativa global de migrações, deixando um impacto duradouro na história e na cultura desses países. A coragem demonstrada pelos imigrantes italianos ao enfrentar adversidades inimagináveis durante suas travessias transatlânticas é um testemunho da força do espírito humano diante das circunstâncias mais difíceis. Ao escolherem "Tentiamo la sorte" ("Vamos tentar a sorte"), esses indivíduos não apenas buscaram uma vida melhor para si mesmos, mas também contribuíram para a construção de uma nova narrativa nas Américas. A frase encapsula a resiliência, a coragem e a esperança que guiaram esses pioneiros italianos através de uma jornada incerta em direção a um futuro desconhecido. A história das migrações italianas é marcada por sacrifícios, perdas e triunfos, mas, acima de tudo, é um testemunho da busca incessante por oportunidades e de um desejo inabalável de construir um futuro melhor para as gerações vindouras. Essa herança, embora muitas vezes esquecida, é uma parte vital da história das Américas, enriquecendo a tapeçaria cultural dessas nações e destacando a extraordinária resiliência daqueles que ousaram tentar a sorte em terras distantes.



domingo, 19 de maio de 2024

Precursores da Grande Emigração




A Saga dos Vendedores Ambulantes Itinerantes na Itália

Partiam a pé, carregando nas costas uma grande caixa de madeira sustentada por duas alças de couro. Dentro dela, guardavam uma variedade de itens coloridos: imagens religiosas, baralhos de cartas, a imagens conhecidas também como cromo. Suas jornadas os levavam por caminhos longínquos, distanciando-se de casa por meses, até anos. Eles vendiam estampas coloridas de paisagens ou santos, produzidas pela renomada impressora Remondini de Bassano del Grappa, que alcançavam os cantos mais remotos do país: uma editora de destaque naquela época, dominando o setor mundialmente. O habitantes da zona em torno a Bassano del Grappa, encontrava nesse trabalho uma forma de amenizar a extrema pobreza em que viviam. Partiam de Asiago, da Valstagna, de Fastro, de Crespano, de Possagno e tantas outras. Deixavam as suas pobres casas e ganhavam a Europa.

A profissão de vendedor ambulante era bastante comum na região do Bassanese, entre os séculos 17 e 18. Destacava-se quem comercializava as estampas de Remondini de casa em casa, pelas vilas e cidades na Península e no vasto Império Austríaco, onde eram conhecidos como cromer (Krommer), na França, Suíça, Inglaterra, Dinamarca, Alemanha, Polônia, até mesmo em São Petersburgo e além. Esses "viajantes comerciais" foram pioneiros que deram lugar para as futuras ondas de emigrantes que se seguiram, passando a seguir, pelas "rondine", uma forma de migração sazonal, que aproveitava a diminuição do trabalho nos campos, deslocamento dentro da própria Europa, que antecedeu a emigração definitiva. Eles anteciparam, em cerca de cem anos, o gigantesco êxodo que levaria milhões de italianos ao Novo Mundo nos séculos seguintes.

Algumas décadas se passaram e os vendedores das populares estampas transformaram-se em vendedores de cerâmica, vidro e cristal, conhecidos como "maiolini". Carregando consigo as caixas nas costas, amarradas por cintos de couro, eles percorriam a pé, vendendo seus produtos de porta em porta, passando por vilas e cidades, oferecendo taças, garrafas, jarros e cristais. Eram numerosos também os "maiolini" na primeira metade do século 18, principalmente nas regiões montanhosas e nos vales. Experimentaram um período de sorte que logo se dissipou. O trabalho árduo e arriscado os mantinha longe de casa, levando uma vida errante. Alguns nunca mais retornaram; outros, saqueados por bandidos, foram forçados a desistir. Mas muitos, ao final, estabeleceram-se onde chegaram, montando suas próprias lojas. Ainda hoje há alguns (na Lombardia, no Veneto, na Emília, no Tirol...) que revivem os tempos da emigração a pé, com a caixa nas costas.

Em poucos anos, começaram a surgir os primeiros sinais de transformação profunda no velho continente. A Europa estava em expansão: construíam-se estradas, galerias, pontes, e uma impressionante rede ferroviária. Para realizar essas grandes obras públicas, centenas de milhares de trabalhadores migravam de um país para outro. Foi nesse contexto de movimentos a pé, de migração temporária que a emigração italiana deu seus primeiros passos e se consolidou.






sexta-feira, 26 de abril de 2024

Maiolini: Os Precursores da Grande Emigração


Eles saíam de casa ao nascer do sol e caminhavam a pé pelas estreitas estradas. Nas costas, carregavam uma caixa sustentada por duas alças de couro. Dentro, guardavam gravuras coloridas: imagens sacras, estampas de paisagens e cartas de baralho. Seguiam rotas intermináveis, ficando fora de casa por longos meses e até anos. Eram os vendedores de imagens que a famosa oficina de impressão Remondini, de Bassano del Grappa, conseguia enviar aos lugares mais distantes: uma proeza editorial extraordinária para aquela época, a mais importante do mundo no ramo.
O ofício de vendedor ambulante era comum na região de Bassano, entre os séculos XVIII e XIX. Milhares de pessoas vendiam as gravuras da Remondini de porta em porta, por vales e cidades, de toda a península e ainda no vasto império austríaco, na França, Suíça, Inglaterra, Dinamarca, Alemanha, Polônia, chegavam até na Rússia, em São Petersburgo e muitas vezes até além. Esses pequenos vendedores ambulantes, já um século antes, foram os que abriram caminho para as futuras ondas de emigrantes do final do século XIX e início do XX, quando milhões de italianos se dirigiram para as terras do além mar, o Novo Mundo.
Algum anos depois aqueles vendedores de estampas e gravuras, que viajavam a pé e vendiam de casa em casa, se transformaram em vendedores de artigos de ceramica, cristal e vidro como copos, garrafas, jarros e vários tipos de artigos de cristal. Ainda continuavam levando as suas mercadorias nas costas, acondicionadas em caixas sustentadas por duas tiras de couro ou em cesto de vime. Agora eram conhecidos por maiolini
Eles também foram numerosos na primeira metade do século XIX, nas áreas montanhosas e nos vales. Tiveram um sucesso passageiro que não durou muito, para eles era um trabalho árduo e arriscado, uma vida errante longe de casa.
Alguns nunca mais voltaram; outros, vítimas de roubos, acabaram desistindo. Mas muitos, no final das contas, pararam onde haviam chegado e abriram uma loja.
Em poucos anos, os primeiros sinais de transformações profundas apareceriam no velho continente. A Europa estava crescendo: construíam-se estradas, túneis, pontes, uma rede ferroviária extraordinária. Para realizar essas grandes obras públicas, centenas de milhares de trabalhadores se deslocaram de um país para outro.
É nesse contexto de movimentos que a emigração italiana dá seus primeiros passos e se consolida. As populações da área de Bassano encontrariam nesses trabalhos uma alternativa à sua extrema pobreza. Partiram de Asiago, de Valstagna, de Fastro, de Crespano, de Pedeobba, de Possagno e outros lugares deixando suas pobres moradas e, pela primeira vez, encontrariam a Europa.
Emigrar se tornaria muito em breve uma profissão. Seria essa profissão que os ajudaria a crescer, a conhecer o mundo. Sua pátria não seria mais apenas a Itália, mas a Europa. Seria o mundo.
Tudo teve início há mais de duzentos anos, com uma caixa nas costas e longas caminhadas, longe de casa. A emigração dos maiolini começou depois da abertura de algumas fábricas de vidro na Val di Genova e na Valsugana: pequenos agricultores e lenhadores abandonaram o antigo ofício para se tornarem vendedores ambulantes.
Muitos escolheram esse trabalho, mas poucos foram aqueles que realmente tiraram proveito da atividade; na volta, as economias tão duramente conquistadas,  frequentemente acabavam nos bares. Mais tarde, uma após a outra, as fábricas de objetos de vidro foram fechando e os maiolini voltaram a ser agricultores e lenhadores.
Foi quando a vida se tornou insuportável, restou àquelas populações apenas a emigração. Porque naquelas terras não havia quase nada. O que restou foi a emigração  que oferecia trabalho a todos. 

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

A Emigração Europeia para os EUA no Século XIX: Motivos, Mudanças e Impactos

 



A grande migração em massa da Europa para os Estados Unidos no século XIX teve como origem a grande crise agrária dos anos 1870 que afetou mais de 5 milhões de pessoas e foi em grande parte individual e masculina. O objetivo era buscar trabalho nos prósperos setores industriais americanos, muito mais desenvolvidos do que os europeus. As condições de origem dos migrantes europeus não eram tão críticas a ponto de obrigá-los a partir, tanto que a maioria se adaptou às condições de vida oferecidas em seu continente ou, no máximo, recorreu à migração interna.
O início da possibilidade de emigração para as Américas foi impulsionado pelo progresso naval na segunda metade do século XIX, com navios de casco metálico e cada vez maiores, o que reduziu tanto o custo, antes impraticável para um emigrante pobre, quanto a periculosidade da viagem. A data simbólica do início da emigração italiana para as Américas pode ser considerada 4 de outubro de 1852, quando foi fundada em Gênova a Companhia Transatlântica para a navegação a vapor com as Américas, cujo principal acionista era Vittorio Emanuele II da Sardenha. Esta companhia encomendou aos estaleiros navais de Blackwall os grandes navios a vapor gêmeos Genova, lançado em 12 de abril de 1856, e Torino, lançado em 21 de maio seguinte.
Neste período, ocorreram várias mudanças na migração transatlântica, com caráter social, laboral e comportamental. Houve uma transição da migração de famílias inteiras para a de indivíduos isolados, da migração para o estabelecimento rural para o trabalho nos setores industriais e, por fim, da emigração definitiva para uma emigração temporária, com uma espécie de "trabalho pendular" transatlântico. Essas tendências foram reforçadas pelas novas contratações de trabalho do tipo urbano-industrial nos EUA. Além disso, na Europa, havia a ideia difundida de uma maior liberdade e oportunidade de realização pessoal, bem como melhores chances de casamento no Novo Mundo. O século XIX ainda via vivo o sonho de muitos de conquistar riquezas nas terras americanas, para depois reinvesti-las ao retornar à pátria. No entanto, a migração de retorno foi escassa porque enfrentava altos custos e condições difíceis de viagem transatlântica, além de ser viável apenas se a migração fosse individual e não envolvesse o grupo familiar como um todo.
A emigração europeia para os Estados Unidos foi desigual, pois tinha diferentes objetivos e muitas vezes consistia em uma emigração individual com o propósito final de retorno à Europa depois de juntar algumas economias.



quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

Rumo às Américas: A Épica Jornada dos Imigrantes Italianos no Século XIX



No século XIX, os avanços no transporte marítimo, impulsionados pela chegada da tecnologia a vapor, não apenas tornaram as viagens marítimas mais rápidas, mas também mais acessíveis para um número significativo de pessoas. Também a introdução do trem a vapor não apenas revolucionou o transporte ferroviário, mas também facilitou substancialmente as viagens internas até os portos. 
O impacto do crescimento demográfico e das crises econômicas, que afetaram até mesmo as oportunidades alimentares, foi crucial na decisão de milhões de italianos de considerar a migração para as Américas como uma oportunidade real de melhorar suas condições de vida.
As condições adversas a bordo dos navios a vapor eram uma realidade incontestável. As pessoas viajavam amontoadas em compartimentos com ventilação insuficiente, enfrentando escassez de alimentos, condições higiênicas precárias e uma promiscuidade extrema. Nesse ambiente propício, a probabilidade de desenvolvimento de epidemias, como cólera, tifo, sarampo e tuberculose, era bastante alta durante toda a jornada transatlântica.
As autoridades de saúde da época adotavam medidas para conter a propagação dessas epidemias, emitindo "patenti di sanità" como garantia das condições de saúde da tripulação e dos passageiros a serem apresentados na chegada. Além disso, em casos de doenças infecciosas ou mortes suspeitas durante a viagem, as embarcações eram submetidas à quarentena, afetando tanto as pessoas quanto as mercadorias transportadas.
A magnitude da emigração italiana durante esse período revela histórias de grande sofrimento. Milhões de italianos, especialmente na segunda metade do século XIX e nos primeiros anos do século XX, enfrentaram desafios enormes e pagaram um preço elevado para chegar às Américas em busca de oportunidades.
A emigração não se restringia apenas aos trabalhadores do campo; pequenos proprietários rurais e artesãos foram igualmente impactados. A diminuição constante dos empregos no campo, seguida pela escassez de oportunidades nas cidades, levou muitos a enfrentar a pobreza e a fome. A migração tornou-se a única opção viável, mesmo que muitos imigrantes tenham enfrentado doenças e dificuldades durante a travessia. No entanto, o processo migratório persistiu, impulsionado pela esperança de uma vida melhor e oportunidades promissoras no Novo Mundo.


terça-feira, 14 de novembro de 2023

Trama de Transformações: O Crepúsculo da Escravidão e a Saga dos Imigrantes na Reconstrução do Brasil





À medida que as décadas do século XIX desenrolavam-se, uma complexa trama de debates se desdobrava no Brasil em torno do declínio da odiosa prática da escravidão. Nesse contexto histórico, medidas políticas significativas, como a promulgação da Lei Aberdeen, promulgada em 1845, foi uma legislação britânica que tinha como objetivo reprimir o tráfico de escravos. Essa lei concedia à Marinha Real britânica o poder de interceptar navios negreiros estrangeiros suspeitos de estarem envolvidos no comércio de escravos e de confiscar essas embarcações. Ela fazia parte dos esforços internacionais para combater o tráfico transatlântico de escravos. A Lei Eusébio de Queirós em 1850, a Lei do Ventre Livre em 1871 e a Lei dos Sexagenários em 1885, surgiam como respostas ao movimento que visava extinguir o sistema escravista que por tanto tempo tinha assolado o solo brasileiro. No cerne desse conjunto legislativo, destacava-se, de maneira proeminente, a promulgação de 1888, a Lei Áurea, com a abolição da escravidão no Brasil, que sancionava de forma incontestável o fim do trabalho escravo no Brasil. Contudo, tal decisão acarretou um colossal desafio para os fazendeiros, agora confrontados com a penúria de mão de obra nas vastas plantações. Diante desse impasse, a solução encontrada foi a contratação de trabalhadores estrangeiros, com milhares de italianos, suíços, alemães e japoneses sendo atraídos para contribuir principalmente nas fazendas de café, notadamente no Estado de São Paulo.
A principal motivação para a vinda desses imigrantes residia na escassez de oportunidades de emprego provocada pela Revolução Industrial, cujo avanço tecnológico redundou na dispensa de uma considerável parcela da força de trabalho nas fábricas. Nesse cenário, a emigração tornou-se a alternativa buscada pelos imigrantes para driblar o desemprego.
Ao pisarem em solo brasileiro, os imigrantes eram absorvidos pelo sistema de parceria. Nesse esquema, os fazendeiros custeavam a viagem dos imigrantes, impondo-lhes, assim, um início de jornada já marcado pela dívida. Ademais, trabalhavam em parcelas específicas de terra nas fazendas, com os frutos e prejuízos das colheitas sendo compartilhados. Todavia, em razão do controle disciplinador exercido sobre os trabalhadores, estes frequentemente mal podiam se ausentar das fazendas. Além disso, o fazendeiro detinha o monopólio da venda de mercadorias essenciais, como roupas, alimentos e remédios, mantendo o imigrante perpetuamente endividado, já que o sistema de parceria favorecia invariavelmente os fazendeiros. Diante dessas circunstâncias adversas, muitos imigrantes optaram por não eleger o Brasil como destino, dirigindo-se a outras regiões das Américas, como a Argentina. Percebendo o iminente esgotamento da mão de obra, os grandes fazendeiros reformularam a dinâmica laboral, passando a remunerar os imigrantes com uma quantia fixa, abrindo mão, assim, do sistema de parceria. Somente com essa transição é que os trabalhadores estrangeiros recuperaram a confiança em escolher o território brasileiro como sua morada.
Para além de atuarem como força de trabalho nas fazendas, os imigrantes faziam parte de um projeto político mais amplo no Brasil, cujo intento era o embranquecimento da sociedade. O objetivo era transformar o país em uma nação predominantemente composta por pessoas de ascendência europeia, refletindo a discriminação, à época, da elite brasileira em relação às misturas raciais entre indígenas, africanos e europeus. Esse ambicioso projeto visava moldar o Brasil conforme uma civilização assemelhada à dos países europeus, onde a predominância de pessoas brancas era notável em comparação com a população negra.
Assim, esse período histórico caracterizou-se por profundas transformações na sociedade brasileira, e em decorrência dessa transição do trabalho escravo para o assalariado, o Brasil abriga atualmente colônias japonesas, alemãs e italianas, contribuindo para a formação de uma sociedade rica em diversidade cultural e costumes.

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS



segunda-feira, 6 de novembro de 2023

Tragédia no Mar: O Naufrágio do Navio Sirio com Emigrantes a Bordo

 

Naufrágio do Navio Sirio


O navio partiu de Gênova em 2 de agosto de 1906 com destino a Buenos Aires com escala em Barcelona, ​​Cádiz, Gran Canaria, Cabo Verde, Rio de Janeiro, Santos e Montevidéu. Depois de embarcar outros passageiros, o navio deixou a capital catalã com destino a Cádiz ainda na Espanha.

Em 4 de agosto, o navio passou em frente ao Cabo Palos, na costa mediterrânea espanhola.  Neste ponto, o promontório se estende sob a água para, em seguida, emergir novamente para formar as pequenas Ilhas Hormigas (Formigas). 

A profundidade da água na linha ideal que une o cabo a essas ilhotas pode ser muito rasa, atingindo em algumas áreas, chamadas de baixios, apenas três ou quatro metros. As rotas marítimas da época então se desviaram das ilhas para evitar o perigo de colidir com elas. Também acima de Capo Palos, um grande farol já tinha sido construído em 1864, que alertava para o perigo desta costa.

No dia 4 de agosto de 1906, por volta das quatro da tarde, o navio, navegando com força total, encalhou perto do Cabo Palos, por manter um curso muito próximo da costa. A proa foi vista subindo violentamente da água devido à alta velocidade. Este é o depoimento do comandante do navio francês Maria Louise, que presenciou o acontecimento e participou dos trabalhos de resgate:

"Vi passar o vapor italiano Sirio a todo vapor. Falei da sua passagem ao colega de bordo quando observei que havia parado de repente ... Vi a proa subir, afundar a popa. Não havia mais dúvidas: o Sirius havia sofrido uma colisão. Imediatamente mandei Marie Louise ser direcionada para Sirius. Ouvimos então uma explosão violenta: as caldeiras estouraram. Pouco depois vimos cadáveres nas ondas, ao mesmo tempo gritos desesperados de socorro chegavam aos nossos ouvidos". 

Os botes salva-vidas foram colocados fora de serviço pelo impacto violento, enquanto muitos passageiros foram atirados ao mar e se afogaram. Segundo o depoimento de um passageiro, o engenheiro Maggi, a água entrou nas cabines da primeira classe, invadiu então o corredor direito e por fim o espaço ao redor da escotilha de ré e o corredor à direita da casa de máquinas. 

Nesta área do navio haviam inúmeras mulheres e crianças que ficaram presas sem poder sair e sem poder ser resgatadas. A tripulação lançou uma jangada ao mar, que ficava na popa, e saiu do navio junto com o terceiro imediato, que se chamava Baglio. Apenas os oficiais permaneceram a bordo, mas logo perderam o controle da situação. O jornal L'Esare, de Bagni di Lucca, assim relatou:

"As lanchas foram atiradas ao mar, mas logo se encheram de tantas pessoas mas, devido ao peso excessivo, as fizeram afundar e assim todos os infelizes que ali caíram em vez da salvação encontraram a morte. A costa ficava a 3 quilômetros de distância do vapor e das rochas que ultrapassavam a água cerca de um quilômetro e meio. Vinte e cinco ou trinta homens salvaram-se nadando até as rochas onde permaneceram todo o dia e a noite seguinte, sem nada para comer".


Página da edição dominical La Domenica del Corriere, do jornal 
Corriere della Sera 


O jornal Corriere della Sera relatou que:

“A primeira sensação de espanto degenerou em um piscar de olhos em um pânico louco, produzindo uma confusão indescritível. Os passageiros, correndo loucamente e gritando desesperadamente, tornaram o trabalho de resgate impossível. "

Como o acidente ocorreu em plena luz do dia e a poucos quilômetros da costa, as equipes de resgate partiram imediatamente. Alguns barcos de pesca como o Joven Miguel e o Vicenza Llicano partiram de Cabo Palos e fizeram o possível para resgatar os náufragos. 

O comandante do Joven Miguel, Vicente Buigues, trouxe o seu navio para o costado do Sírio e assim embarcou trezentos náufragos. O Joven Miguel, porém, não tinha carga a bordo e a presença de tantas pessoas no convés colocava em risco sua estabilidade e, assim, poderia tombar. Apesar dos apelos, os passageiros do Sirio não queriam descer do convés e foi necessário ameaçá-los com uma arma para fazê-los obedecer. 

O alívio também foi proporcionado por dois navios a vapor que, naqueles mesmos minutos, contornavam o Cabo Palos: o francês Marie Louise e o austro-húngaro Buda.


Navio a Vapor (piroscafo) Sirio


Jornais britânicos, como o Daily Telegraph, insistiram em cenas de violência e brigas de faca para conseguir os poucos coletes salva-vidas disponíveis. Uma crônica da época conta que a maioria dos tripulantes conseguiu escapar simplesmente porque permaneceram no navio que, estando encalhado, permaneceu flutuando por mais dez dias.

As vítimas foram estimadas inicialmente em 293 pessoas para depois chegar a um total final de mais de 500 passageiros e tripulantes.  Devido à presença a bordo de inúmeros imigrantes ilegais, nunca foi possível estabelecer quantas pessoas realmente embarcaram no Sirius e quantas se afogaram. Entre as vítimas do naufrágio estava o bispo de São Paulo no Brasil, José de Camargo Barros. 

Os sobreviventes do Sírio foram hospedados na cidade vizinha de Cartagena. Os que decidiram seguir rumo à América do Sul embarcaram na Itália e Ravenna, enquanto os que desejavam voltar à Itália embarcaram no Orione.

As investigações sobre o acidente foram imediatamente abertas e eles verificaram que o capitão Giuseppe Piccone dirigiu as operações de resgate com bom senso e julgamento e foi o último a ser salvo. As primeiras notícias veiculadas pelos jornais da época indicam, ao invés, um comportamento inadequado do capitão e da tripulação que levaram ao naufrágio.


Navio Sirio pouco tempo antes do naufrágio


A imprensa espanhola também denunciou que o Sirio costumava fazer escalas não oficiais ao longo da costa ibérica para embarcar passageiros clandestinos. Na verdade, estes eram conduzidos para baixo da lateral do navio por barcos improvisados ​​e depois transbordados. Isso explicaria por que o Sirius estava navegando tão perto da costa.

Em Capo Palos, um museu foi dedicado ao naufrágio do Sirius. Ele também exibe os folhetos que possibilitaram a entrada de imigrantes ilegais no navio nas escalas extras.

Os restos mortais do Sirius repousam em grande profundidade nos arredores do Cabo. A popa está a cerca de 40 metros de profundidade, enquanto a proa a cerca de 70 metros. Após ser declarada Reserva Marinha de Capo de Palo e das Ilhas Formigas, em 1995, a atividade de mergulho na área é limitada, e para uma visita, é necessária a autorização do "Conselho do Meio Ambiente do Governo Regional de Murcia".



Dr. Luiz Carlos Piazzetta

Erechim RS


segunda-feira, 16 de outubro de 2023

Caminhos Transatlânticos: Uma Jornada Épica da Itália à Colônia Silveira Martins




No início do inverno de 1890, Antonio B. e Giovanna R., dois jovens emigrantes italianos de 25 anos, como tantos outros compatriotas, embarcaram em uma emocionante e totalmente desconhecida jornada rumo ao mítico Brasil, na ocasião reputado como um verdadeiro el Dorado. A situação econômica da Itália continuava cada dia pior, a quebra de safras e a concorrência dos produtos importados atingia especialmente a agricultura, com diminuição dos postos de trabalho no campo e nas cidades. O fenômeno da emigração já há quinze anos contagiava todos na Itália, cada qual tentando encontrar meios para comprar os bilhetes para o navio e embarcarem para aquele novo país do outro lado do oceano. O casal era proveniente de um pequeno município, de não mais de dois mil habitantes, no interior de Vicenza, e vinha com o sonho e o firme propósito de construir uma nova vida na Colônia Silveira Martins. Levavam consigo seu precioso tesouro, um filho de 18 meses chamado Carlo.
A angustiante e temida travessia do oceano Atlântico foi uma experiência desafiadora a qual ficou indelevelmente marcada na memória de todos os emigrantes italianos. O navio em que viajavam, o Utopia, estava lotado de outros imigrantes, todos ansiosos por uma chance melhor. As condições a bordo eram simples, com beliches apertados, comida e água limitadas, higiene precária e falta de instalações sanitárias suficiente para aquele grande número de passageiros. Antônio e Giovanna enfrentaram duas tempestades ferozes, as quais pareciam que fossem o fim do mundo, mas nunca perderam a esperança, agarrados aos corrimões do barco e orando fervorosamente à Madonna di Monte Berico, a Santa de devoção dos dois jovens. 

Finalmente, após semanas de sofrimento e muitas incertezas, avistaram a costa brasileira. O Porto do Rio de Janeiro os recebeu com a promessa de um novo começo. Tinham enfim conseguido chegar ao Brasil, mas ainda faltava muito até o local onde seriam assentados. A jornada até a Colônia Silveira Martins foi outro trecho longo e árduo, que durou quase quatro semanas, com viagem em um novo navio, barco fluvial e carroções puxados por diversas mulas, mas a família chegou com a determinação de transformar aquele lugar em seu lar.

As primeiras impressões da nova terra eram um misto de surpresa, encantamento e medo com tantas coisas novas. A paisagem era desafiadora, com vastas áreas ainda cobertas de mata virgem a serem desbravadas, povoadas por bandos de aves e animais desconhecidos, alguns perigosos. No entanto, a comunidade de imigrantes italianos que já haviam se instalado estava unida, e todos ajudaram na construção de suas casas simples, erguidas com troncos de árvores, abundantes nos seus lotes e cobertas com folhas e capim entrelaçados.

Os primeiros anos foram bastante difíceis. Após abrirem uma clareira na mata, plantaram suas primeiras sementes e lutaram contra os desafios da agricultura em um clima tão diferente do que estavam acostumados. Mas com trabalho duro e a ajuda de seus vizinhos, logo viram os frutos de seu esforço crescerem. A terra era muito fértil e havia abundância de água.

Carlo, o filho que havia cruzado o oceano com eles, cresceu forte e saudável. Antônio e Giovanna tiveram mais seis filhos, todos nascidos na Colônia. A família prosperou, expandindo sua plantação e construindo uma vida melhor.

Os anos se passaram, e os filhos de Antônio e Giovanna cresceram, casaram-se com outros imigrantes italianos, e a família cresceu ainda mais. A Colônia Silveira Martins também floresceu, tornando-se um ponto de referência na região. Ela ficou conhecida como a quarta colônia da imigração italiana no Rio Grande do Sul, localizada na parte central do estado, próxima à cidade de Santa Maria.

Antônio e Giovanna viram a chegada de netos, e seu lar se encheu de risos e histórias. A jornada desde aquela pequena e atrasada vila na Itália até a Colônia Silveira Martins havia valido a pena. Eles haviam construído um legado, uma família unida e uma história de sucesso naquela nova terra.

A saga da família italiana continuou, com cada geração contribuindo para o crescimento da colônia e mantendo viva a memória de Antônio e Giovanna, os corajosos imigrantes que ousaram sonhar e construir uma vida melhor em uma terra distante. E assim, a história da família italiana na Colônia Silveira Martins se tornou uma parte essencial da rica tapeçaria cultural e histórica do Brasil.



sábado, 30 de setembro de 2023

Vapor Colombia: A Épica Jornada das Famílias Italianas Rumo ao Espírito Santo



 

Famílias Italianas no Espírito Santo

Vapor Colombia

15 de agosto de 1877




Amadio - Basso - Bazzo - 
Bibanel - Bigolin - Bit - Bitti - Bresciani - Cao - Caon - Casagrande - Chiaradia - Cisana - 
Costa - Cuzzuol - 
D' Ambros - Da Dalt - 
Dal Gobbo - 
Dall'Antonia - Dambom - 
D'Ambrosine - De Mari - De Mattia - 
De Nardi - De Poli - Del Pio Luogo - 
Del Puppo - 
Della Pascoa - Dusioni - 
Fantin - Faraon - Fiorot - Fiorotto - 
Follin - Franco - Furgeri - Garbelloto - 
Levis - Manente - Marin - Masullo - 
Mazzon - Menegazzo - Modolo - 
Moro - Nardi - Pazzin - Perin - Peruch - 
Pessot - Pianca - Pignaton - Pizzinat - 
Poletto - Redivo - Rizzo - Rosolen - 
Rossini - Rui - Sagrillo - Santret - Sarzi - 
Scarpat - Scopel - Soneghet - 
Sonego - Spinazzè -  
Susana - Tessianelli - Tonon - Venturin - 
Vighin - Zancanari - 
Zandonà




domingo, 24 de setembro de 2023

Caminhos Transatlânticos: Uma Jornada Épica da Itália à Colônia Silveira Martins




No início do inverno de 1890, Antônio e Giovanna, jovens imigrantes italianos, ambos com 25 anos, da mesma maneira que tantos outros italianos, embarcaram em uma emocionante e totalmente desconhecida jornada rumo ao mítico Brasil. A situação econômica da Itália continuava cada dia pior, com diminuição dos postos de trabalho no campo e nas cidades, onde grandes grupos de desempregados passavam as manhãs reunidos na praça da matriz, na esperança de conseguir algum trabalho como diarista. O fenômeno da emigração contagiava todos, cada qual tentando encontrar meios para comprar as passagem e embarcarem para aquele novo país do outro lado do oceano. Eles vinham de um pequeno comune no interior de Vicenza, com o sonho de construir uma nova vida na Colônia Silveira Martins. Levavam consigo seu precioso tesouro, um filho de 18 meses chamado Carlo.

A tão temida travessia do oceano Atlântico foi uma experiência desafiadora a qual ficou indelevelmente marcada na memória daqueles emigrantes. O navio em que viajavam, o Andrea Doria, estava lotado de outros imigrantes, todos ansiosos por uma chance melhor. As condições a bordo eram simples, com beliches apertados, comida limitada, higiene precária e falta de instalações sanitárias suficiente para o número de passageiros. Antônio e Giovanna enfrentaram duas tempestades ferozes, as quais pareciam que fosse o fim do mundo, mas nunca perderam a esperança, agarrados nos corrimões do barco e orando fervorosamente à Madonna di Monte Berico, a Santa de devoção dos dois jovens. 

Finalmente, após semanas de sofri e incertezas, avistaram a costa brasileira. O Porto do Rio de Janeiro os recebeu com a promessa de um novo começo. Tinham chegado ao Brasil, mas ainda faltava muito até o local onde seriam assentados. A jornada até a Colônia Silveira Martins foi longa e árdua, durou mais quatro semanas, com viagem de navio, barco e carroças puxadas pó diversas mulas, mas a família chegou com a determinação de transformar aquele lugar em seu lar.

As primeiras impressões da nova terra eram mistas. A paisagem era desafiadora, com vastas áreas ainda cobertas de mata virgem a serem desbravadas. No entanto, a comunidade de imigrantes italianos ja instalados estava unida, e todos ajudaram na construção de suas casas simples, erguidas com troncos de árvores, abundantes nos seus lotes..

Os primeiros anos foram bastante difíceis. Depois de abrir uma clareira na mata, plantaram suas primeiras sementes e lutaram contra os desafios da agricultura em um clima tão diferente do que estavam acostumados. Mas com trabalho duro e a ajuda de seus vizinhos, logo viram os frutos de seu esforço crescerem.

Carlo, o filho que havia cruzado o oceano com eles, cresceu forte e saudável. Antônio e Giovanna tiveram mais seis filhos, todos nascidos na Colônia. A família prosperou, expandindo sua plantação e construindo uma vida melhor.

Os anos se passaram, e os filhos de Antônio e Giovanna cresceram, Casaram-se com outros imigrantes italianos, e a família cresceu ainda mais. A Colônia Silveira Martins também floresceu, tornando-se um ponto de referência na região. Ela ficou conhecida como a quarta colônia da imigração italiana no Rio Grande do Sul, localizada na parte central do estado, próxima à cidade de Santa Maria.

Antônio e Giovanna viram a chegada de netos, e seu lar se encheu de risos e histórias. A jornada desde aquela pequena vila na Itália até a Colônia Silveira Martins havia valido a pena. Eles haviam construído um legado, uma família unida e uma história de sucesso naquela nova terra.

A saga da família italiana continuou, com cada geração contribuindo para o crescimento da colônia e mantendo viva a memória de Antônio e Giovanna, os corajosos imigrantes que ousaram sonhar e construir uma vida melhor em uma terra distante. E assim, a história da família italiana na Colônia Silveira Martins se tornou uma parte essencial da rica tapeçaria cultural e histórica do Brasil.



terça-feira, 11 de abril de 2023

Imigrantes Italianos no Navio Thibes em 1889

 




NAVIO THIBES
 
RELAÇÃO DE PASSAGEIROS PROCEDENTES DE GÊNOVA DESEMBARCADOS  
NO PORTO DO RIO DE JANEIRO 
EM 24 DE MARÇO DE 1889


nº.
SobrenomeNomeIdadeCivilnac.Chegada SaídaDestino


5115
MortinigeGostiza49solt.Austriaco24.03.188925.04.1889Porto Alegre
5116PossemPadloy32solt.Austriaco24.03.188925.04.1889Porto Alegre
5117FranzRozmeane39solt.Austriaco24.03.188925.04.1889Porto Alegre
5118ZiviceJosaf35solt.Austriaco24.03.188925.04.1889Porto Alegre
5119SimonBujan33solt.Austriaco24.03.188925.04.1889Porto Alegre
5120ZosanaSibana36solt.Austriaco24.03.188925.04.1889Porto Alegre
5121FranzKattav36solt.Austriaco24.03.188925.04.1889Porto Alegre
5122PemgengruberEduardo27solt.Austriaco24.03.188925.04.1889Porto Alegre
5123NenfimBlagek41solt.Austriaco24.03.188909.04.1889Campo Bello
5124FranzBezzak46cas.Austriaco24.03.188909.04.1889Campo Bello
5125FranzGuttin40cas.Austriaco24.03.188909.04.1889Campo Bello

5126FranzFosseimar18solt.Austriaco24.03.188909.04.1889Campo Bello
5127FranzMargaretta14solt.Austriaco24.03.188909.04.1889Campo Bello
5128FranzAntonio10xAustriaco24.03.188909.04.1889Campo Bello
5129GasparMackverk42cas.Austriaco24.03.188909.04.1889Campo Bello
5130GasparGuttin35cas.Austriaco24.03.188909.04.1889Campo Bello
5131GasparRoza1xAustriaco24.03.188909.04.1889Campo Bello
5132GasparMaria5xAustriaco24.03.188909.04.1889Campo Bello
5133Luk-yTink51cas.Austriaco24.03.188909.04.1889Campo Bello
5134Luk-yMaria56cas.Austriaco24.03.188909.04.1889Campo Bello
5135Luk-yJosepha8xAustriaco24.03.188909.04.1889Campo Bello
5136Luk-yRosulin2xAustriaco24.03.188909.04.1889Campo Bello
5137JohannRastelin51xAustriaco24.03.188909.04.1889Campo Bello
5138FranzPrenirn37cas.Austriaco24.03.188909.04.1889Campo Bello
5139JosephFakna33solt.Austriaco24.03.188909.04.1889Campo Bello
5140CancioniJoham Battista64cas.Austriaco24.03.188909.04.1889Campo Bello
5141FranzJoham Battista31solt.Austriaco24.03.188925.04.1889Campo Bello
5142SluySabec55solt.Austriaco24.03.188909.04.1889Campo Bello
5143FossumMohiorcie77viuvoAustriaco24.03.188909.04.1889Campo Bello
5144FranzBlasck35solt.Austriaco24.03.188909.04.1889Campo Bello
5145FossumAmbrog24solt.Austriaco24.03.188909.04.1889Campo Bello
5146BartoloCernac46solt.Austriaco24.03.188909.04.1889Campo Bello
5147BartoloAnna46cas.Austriaco24.03.188909.04.1889Campo Bello
5148BartoloGida9xAustriaco24.03.188909.04.1889Campo Bello
5149BartoloGiacomo7xAustriaco24.03.188909.04.1889Campo Bello
5150BartoloFranz3xAustriaco24.03.188909.04.1889Campo Bello
5151CeamiAntonio42cas.Austriaco24.03.188909.04.1889Campo Bello
5152CeamiTereza28cas.Austriaco24.03.188909.04.1889Campo Bello
5153CeamiGio Battista7xAustriaco24.03.188909.04.1889Campo Bello
5154CeamiEduardo5xAustriaco24.03.188909.04.1889Campo Bello
5155CeamiCarl3xAustriaco24.03.188909.04.1889Campo Bello
5156IgnazKapriver34cas.Austriaco24.03.188909.04.1889Campo Bello

5157IgnazIgnez36cas.Austriaco24.03.188909.04.1889Campo Bello
5158AntonBezzach18cas.Austriaco24.03.188909.04.1889Campo Bello
5159FranzSabec37solt.Austriaco24.03.188909.04.1889Campo Bello
5160FranzSabec9xAustriaco24.03.188909.04.1889Campo Bello
5161HanfaelRahnc31solt.Austriaco24.03.188925.04.1889Porto Alegre
5162CeccatoGiovanni28solt.Italiano24.03.188925.04.1889Porto Alegre
5163GiacominiValentino32cas.Italiano24.03.188931.04.1889Porto Alegre
5164GiacominiMaria25cas.Italiano24.03.188931.04.1889Porto Alegre
5165GiacominiCarlo3xItaliano24.03.188931.04.1889Porto Alegre
5166GiacominiGenoveffa6mxItaliano24.03.188931.04.1889Porto Alegre
5167BettinGirolamo46cas.Italiano24.03.188909.04.1889Porto Alegre
5168BettinMaria45cas.Italiano24.03.188909.04.1889Porto Alegre
5169BettinRoza11xItaliano24.03.188909.04.1889Porto Alegre
5170BettinErminia8xItaliano24.03.188909.04.1889Porto Alegre
5171BettinGiuseppe5xItaliano24.03.188909.04.1889Porto Alegre
5172BettinLuigi4xItaliano24.03.188909.04.1889Porto Alegre
5173PasquatoDomenico30xItaliano24.03.188909.04.1889Porto Alegre
5174VanzoGiuseppe38solt.Italiano24.03.188925.04.1889Porto Alegre
5175RessatoGiuseppe31solt.Italiano24.03.188925.04.1889Porto Alegre
5176CemacchioFortunato22solt.Italiano24.03.188925.04.1889Porto Alegre
5177MagnitteEurico37solt.Italiano24.03.188925.04.1889Porto Alegre
5178GabettoGiuseppe24solt.Italiano24.03.188925.04.1889Porto Alegre
5179BertoGiacinto37cas.Italiano24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5180BertoRosina30cas.Italiano24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5181BertoAnna10xItaliano24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5182BertoAntonio8xItaliano24.03.1889xPorto Alegre
5183BertoMaria4xItaliano24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5184BertoAngelo2xItaliano24.03.188931.03.1889Porto Alegre

5185ArteseClemente47cas.Italiano24.03.188909.04.1889Campo Bello
5186ArteseDomenico40cas.Italiano24.03.188909.04.1889Campo Bello
5187ArteseVirginio12xItaliano24.03.188909.04.1889Campo Bello
5188ArteseAntonio8xItaliano24.03.188909.04.1889Campo Bello
5189ArteseGiuseppe5xItaliano24.03.188909.04.1889Campo Bello
5190ArteseRegina2xItaliano24.03.188909.04.1889Campo Bello
5191Fracoso(a)Antonio36cas.Italiano24.03.188931.03.1889Campo Bello

5192Fracoso(a)Maria38cas.Italiano24.03.188931.03.1889Campo Bello
5193Fracoso(a)Isabella14xItaliano24.03.188931.03.1889Campo Bello
5194Fracoso(a)Mario13xItaliano24.03.188931.03.1889Campo Bello
5195Fracoso(a)Giolietto10xItaliano24.03.188931.03.1889Campo Bello

5196Fracoso(a)Alessandro8xItaliano24.03.1889xCampo Bello
5197Fracoso(a)Alberto6xItaliano24.03.188931.03.1889Campo Bello
5198Fracoso(a)Angelo4mxItaliano24.03.188931.03.1889Campo Bello
5199FraçonSante38cas.Italiano24.03.188931.03.1889Campo Bello
5200FraçonRoza38cas.Italiano24.03.188931.03.1889Campo Bello
5201FraçonGiuditta15xItaliano24.03.188931.03.1889Campo Bello
5202FraçonLeoniso13xItaliano24.03.188931.03.1889Campo Bello
5203FraçonEmilio10xItaliano24.03.188931.03.1889Campo Bello
5204FraçonEugenio6xItaliano24.03.188931.03.1889Campo Bello
5205FraçonPierino2mxItaliano24.03.188931.03.1889Campo Bello
5206MartinaziaSante16solt.Italiano24.03.188931.04.1889Campo Bello
5207ContasaltoLuigi54cas.Italiano24.03.188931.04.1889Campo Bello
5208ContasaltoMaria52cas.Italiano24.03.188931.04.1889Campo Bello
5209ContasaltoDomenico29solt.Italiano24.03.188931.04.1889Campo Bello
5210ContasaltoGiovani16xItaliano24.03.188931.04.1889Campo Bello
5211TosoatiEmanuela21xItaliano24.03.188931.04.1889Campo Bello
5212CavaluiGiacomo27xItaliano24.03.188931.04.1889Campo Bello
5213MenonGiacomo32cas.Italiano24.03.188931.04.1889Resende
5214MenonMaria30cas.Italiano24.03.188931.04.1889Resende
5215MenonNicolo7xItaliano24.03.188931.04.1889Resende
5216MendaloErmengildo33solt.Italiano24.03.188931.04.1889Resende
5217MalisanSebastiano34viuvoItaliano24.03.188931.04.1889Resende
5218MalisanLuigia10xItaliano24.03.188931.04.1889Resende
5219MalisanRoza8xItaliano24.03.188931.04.1889Resende
5220MalisanGuerino6xItaliano24.03.188931.04.1889Resende

5221MalisanAnna3xItaliano24.03.188931.04.1889Resende
5222MalisanMaria7mxItaliano24.03.188931.04.1889Resende
5223GosiGiuseppe47solt.Italiano24.03.188925.04.1889Resende
5224TabroRegina22cas.Italiano24.03.188931.03.1889Resende
5225MossenghineAntonio47cas.Italiano24.03.188925.04.1889Resende
5226BernardoPietro41cas.Italiano24.03.1889xMinas Gerais

5227MessenghineAntonio NapolionxxItaliano24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5228MoroFerdinando48cas.Italiano24.03.188925.04.1889Porto Alegre
5229BaccariniFelice37cas.Italiano24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5230BaccariniElisabetta49cas.Italiano24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5231BaccariniCristino12xItaliano24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5232TitilinoLuigi40cas.Italiano24.03.188931.03.1889Resende
5233TomiloGiovanna43viuvaItaliano24.03.188901.04.1889Minas Gerais

5234TomiloLuigi17solt.Italiano24.03.188901.04.1889Minas Gerais
5235TomiloGiuseppe15solt.Italiano24.03.188901.04.1889Minas Gerais
5236TomiloAmalio17xItaliano24.03.188901.04.1889Minas Gerais
5237TomiloRegina11xItaliano24.03.188901.04.1889Minas Gerais
5238TomiloAngelo49viuvoItaliano24.03.188901.04.1889Minas Gerais
5239TomiloErminia16xItaliano24.03.188901.04.1889Minas Gerais
5240TomiloClelia14xItaliano24.03.188901.04.1889Minas Gerais
5241TomiloMassemiliano10xItaliano24.03.188901.04.1889Minas Gerais
5242AndreotiEliseo34solt.Italiano24.03.188925.04.1889Minas Gerais
5243PentaveniLuigi28solt.Italiano24.03.188925.04.1889Minas Gerais
5244CemensatoAntonio37solt.Italiano24.03.188925.04.1889Minas Gerais
5245ScagiaretoAngelo24solt.Italiano24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5246CavasniGiuseppe21solt.Italiano24.03.188925.04.1889Porto Alegre
5247CagninGiuseppe24solt.Italiano24.03.188925.04.1889Porto Alegre
5248BaessoAmadeu33solt.Italiano24.03.188925.04.1889Porto Alegre
5249BeatoGiordano17xItaliano24.03.188925.04.1889Porto Alegre

5250BoselliFerdinando36cas.Italiano24.03.188925.04.1889Porto Alegre
5251BoatoAntonio16solt.Italiano24.03.188925.04.1889Porto Alegre
5252PivaliFrederico44solt.Italiano24.03.188925.04.1889Porto Alegre
5253ZanungoGiuseppe24xItaliano24.03.188925.04.1889Porto Alegre
5254VedovateEugenio22xItaliano24.03.188925.04.1889Porto Alegre
5255CecatoAntonio22xItaliano24.03.188925.04.1889Porto Alegre
5256ImperatoreGiacomo42cas.Italiano24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5257ImperatoreGiuseppa38cas.Italiano24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5258ImperatoreGiuseppe16xItaliano24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5259ImperatoreAntonio2xItaliano24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5260ImperatoreThibes24diasxItaliano24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5261SbogoSante44cas.Italiano24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5262SbogoLuigia38cas.Italiano24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5263SbogoAndrea15xItaliano24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5264SbogoRegina13xItaliano24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5265SbogoAgostino8xItaliano24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5266SbogoArturo1xItaliano24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5267BetteoliPietro49cas.Italiano24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5268BetteoliTereza45cas.Italiano24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5269Betteoli???centi16xItaliano24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5270BetteoliGiuseppe7xItaliano24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5271BetteoliStella3xItaliano24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5272MiottoGiulio28cas.Italiano24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5273MiottoLucia25cas.Italiano24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5274Pietro54xItaliano24.03.188925.04.1889Porto Alegre
5275NadolinAngelo46xItaliano24.03.188925.04.1889Porto Alegre
5276TrentinaglinGiuseppe38cas.Italiano24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5277TrentinaglinLuigia38cas.Italiano24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5278TrentinaglinGaetano18solt.Italiano24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5279TrentinaglinAugusto15xItaliano24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5280TrentinaglinGiuseppina13xItaliano24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5281TrentinaglinGiovana10xItaliano24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5282TrentinaglinEleonora5xItaliano24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5283TrentinaglinArchangelo4xItaliano24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5284TrentinaglinRegina1xItaliano24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5285ValpratoAntonio20xItaliano24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5286TessareseLuigi34cas.Italiano24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5287TessareseFilomena30cas.Italiano24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5288TessareseElisa 1xItaliano24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5289AndreatoLuigi26cas.Italiano24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5290AndreatoDomenica25cas.Italiano24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5291AndreatoSante38solt.Italiano24.03.188931.03.1889Porto Alegre
5292BiginViictorio21solt.Italiano24.03.188925.04.1889Porto Alegre
5293MartonLuigia65viuvaItaliano24.03.188921.04.1889Porto Alegre
5294ZagoPacifico28cas.Italiano24.03.188909.04.1889Campo Bello
5295PacificoLuigia24cas.Italiano24.03.188909.04.1889Campo Bello
5296PacificoGiovanni5xItaliano24.03.188909.04.1889Campo Bello
5297PacificoElizabetta5xItaliano24.03.188909.04.1889Campo Bello
5298PacificoAntonio2xItaliano24.03.188909.04.1889Campo Bello
5299PacificoDomenico8mxItaliano24.03.188909.04.1889Campo Bello
5300VanzoPietro44cas.Italiano24.03.188931.03.1889Campo Bello
5301VanzoM. Luigia40cas.Italiano24.03.188931.03.1889Campo Bello
5302VanzoGiuseppe10xItaliano24.03.188931.03.1889Campo Bello
5303VanzoCarlotta8xItaliano24.03.188931.03.1889Campo Bello
5304VanzoMarcella5xItaliano24.03.188931.03.1889Campo Bello
5305TaschiaFranco40xItaliano24.03.188925.03.1889Campo Bello
5306SilvestreGiuseppe39cas.Italiano24.03.188925.03.1889Campo Bello
5307SilvestreLuigia37cas.Italiano24.03.188925.03.1889Campo Bello
5308SilvestreGiuseppe11xItaliano24.03.188925.03.1889Campo Bello
5309SilvestreCarlo10xItaliano24.03.188925.03.1889Campo Bello
5310SilvestreElvira5xItaliano24.03.188925.03.1889Campo Bello
5311SilvestreGiovani7mxItaliano24.03.188925.03.1889Campo Bello
5312MachinnAngelo27viuvoItaliano24.03.188909.04.1889Campo Bello
5313MachinnGiuseppe6xItaliano24.03.188909.04.1889Campo Bello
5314BattanoleAngelo28cas.Italiano24.03.188909.04.1889Campo Bello
5315BattanoleCezare1xItaliano24.03.188909.04.1889Campo Bello
5316RossettiLuigi16xItaliano24.03.188925.04.1889Campo Bello
5317GerattoAngelo34solt.Italiano24.03.188925.04.1889Campo Bello
5318Luigi25solt.Italiano24.03.188931.03.1889Campo Bello
5319GoriGiovani Battista44solt.Italiano24.03.188931.03.1889Campo Bello
5320FirmoAntonia47solt.Italiano24.03.188931.03.1889Campo Bello
5321FirmoAnna39solt.Austriaco24.03.188931.03.1889Campo Bello
5322BaldoniDomenico8xItaliano24.03.188931.03.1889Campo Bello
5323PavonGio Maria54cas.Italiano24.03.188930.03.1889São Paulo
5324LuigiGio Maria26cas.Italiano24.03.188930.03.1889São Paulo
5325CasinatoGio Battista24cas.Italiano24.03.188930.03.1889São Paulo
5326CasinatoAngela19cas.Italiano24.03.188930.03.1889São Paulo

5327SalvadegoGiuseppe23solt.Italiano24.03.188930.03.1889São Paulo
5328PiccoloMaria52viuvaItaliano24.03.188930.03.1889São Paulo
5329PiccoloAnna16solt.Italiano24.03.188930.03.1889São Paulo
5330PiccoloLuigi13solt.Italiano24.03.188930.03.1889São Paulo
5331DozzoSebastiano22solt.Italiano24.03.188930.03.1889São Paulo
5332DozzoVincenzo

23solt.Italiano24.03.188930.03.1889São Paulo