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sexta-feira, 23 de junho de 2023

De Pederobba ao Brasil: A História Prodigiosa da Emigração Italiana e a Construção de um Novo Lar

 

Vista desde a colina San Sebastiano


No final do século XIX e início do século XX, a Itália era um país marcado pela pobreza, pela fome e pela instabilidade econômica. A população rural era particularmente afetada pela falta de recursos e pelo difícil acesso à terra e aos meios de produção. Foi nesse contexto que muitos italianos, incluindo aqueles de Pederobba, começaram a emigrar definitivamente para outros países, em busca de uma vida melhor.
A emigração de Pederobba para o Brasil foi impulsionada pela falta de oportunidades econômicas e pela crise agrícola que afetava a região. Na sua maioria esses emigrantes eram camponeses, ou moradores na pequena vila, que trabalhavam como empregados diaristas para algum proprietário de terras, buscando melhores condições de vida e trabalho em outros lugares. A emigração para o Brasil foi incentivada por agências de recrutamento que prometiam trabalho e terra para os italianos que se aventuravam a cruzar o oceano.
A travessia para o Brasil era longa e perigosa, e muitos emigrantes enfrentaram condições precárias durante a travessia do Atlântico. Viajavam em navios superlotados e insalubres, onde as condições de higiene eram ruins e as doenças que surgissem se espalhavam rapidamente. A viagem podia durar semanas, e muitos emigrantes morriam devido à deficiência alimentar, à sede e às doenças a bordo.
Ao chegar ao Brasil, os emigrantes enfrentavam novos desafios. Não falavam português, somente o seu tradicional dialeto vêneto, marcadamente da direita do Piave e poucos tinham experiência na vida urbana, o que dificultava a adaptação ao novo ambiente. Além disso, as condições de vida nos centros urbanos eram precárias, com moradias superlotadas, falta de saneamento básico e doenças endêmicas, como a febre-amarela e a varíola.
No entanto, apesar das dificuldades, muitos emigrantes de Pederobba conseguiram se estabelecer no Brasil e construir uma nova vida para si e para suas famílias. Muitos se dedicaram à agricultura, trabalhando em fazendas e plantações em diferentes regiões do país. Outros se dedicaram ao comércio e à indústria, estabelecendo pequenos negócios e fábricas em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba entre outras.
Com o tempo, os imigrantes italianos, incluindo aqueles de Pederobba, foram se integrando à sociedade brasileira e contribuindo para o desenvolvimento do país. Eles trouxeram consigo suas tradições culturais, incluindo a culinária, a música e as festas, que hoje são uma parte importante da identidade cultural brasileira. A presença dos descendentes de italianos no Brasil é um testemunho da importância da imigração na história do país e do papel vital que os imigrantes desempenharam na construção do Brasil moderno.
Atualmente, a cidade de Pederobba é uma cidade com cerca de 5.000 habitantes e está localizada na região do Vêneto, na província de Treviso. Embora seja uma cidade pequena, Pederobba tem uma rica história e cultura, que reflete a herança dos imigrantes italianos que deixaram a cidade no final do século XIX e início do século XX em busca de novas oportunidades no Brasil. Ela tem desde 2003 um programa de cidades-irmãs chamado em italiano de gemellaggio com o município gaúcho de Jacutinga e a mais de 40 anos com a cidade de Hettange-Grande na França.
A emigração de Pederobba para o Brasil foi apenas uma parte de um fenômeno maior de emigração italiana para o exterior. Entre 1876 e 1976, estima-se que mais de 26 milhões de italianos tenham deixado o país em busca de uma vida melhor em outros lugares. A maioria dos emigrantes italianos se dirigiu para os Estados Unidos, Argentina e Brasil, mas muitos também foram para a Austrália, Canadá e outros países da América Latina e Europa.
A emigração italiana para o Brasil foi particularmente significativa durante as últimas décadas do século XIX e as primeiras décadas do século XX, com um hiato no período de 1914 a 1918 devido o conflito mundial. Estima-se que entre 1880 e 1930, cerca de 1,5 milhão de italianos tenham deixado o país em direção ao Brasil. A maioria dos emigrantes era de origem rural e se estabeleceu em regiões agrícolas do país, como o Paraná, São Paulo e Rio Grande do Sul.
No Paraná, os imigrantes italianos foram inicialmente assentados em colônias no litoral paranaense próximas a Paranaguá e depois se estabeleceram por conta própria em cidades como Curitiba, Piraquara, Colombo e São José dos Pinhais. Eles contribuíram para o desenvolvimento da agricultura e da indústria na região, e sua presença deixou uma marca indelével na cultura e na identidade do estado.
Atualmente, os descendentes de imigrantes italianos no Brasil formam uma grande comunidade, com uma forte presença em cidades como São Paulo, Vitória, Curitiba e Porto Alegre. Eles mantêm vivas as tradições e a cultura de seus antepassados, incluindo a culinária, a música e as festas, sendo reconhecidos como uma parte importante da diversidade cultural do país.
A emigração de Pederobba para o Brasil no final do século XIX e início do século XX foi um exemplo de como a falta de oportunidades econômicas e as condições de vida precárias podem levar as pessoas a buscar uma vida melhor em outros lugares. Embora os emigrantes italianos tenham enfrentado muitos desafios e perigos durante a viagem e a adaptação ao novo ambiente, eles conseguiram construir uma nova vida para si e para suas famílias no Brasil. A presença dos descendentes de imigrantes italianos no país é um testemunho da importância da imigração na história do Brasil e do papel vital que os imigrantes desempenharam na construção do país moderno.


Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS





quarta-feira, 21 de junho de 2023

Danke: O Cão Que Desvendou Minha História Familiar Perdida em Pederobba, Itália




Desde quando eu ainda era apenas um menino, e isso já faz muito tempo, pois, estamos falando da década de 1950, sempre manifestei curiosidade pela história da minha família. Quem eram eles? O que faziam e de onde vieram meus antepassados? Porque tiveram que abandonar o seu país natal, quando e como vieram? Por que escolheram o Brasil? As dúvidas eram muitas. Sabia, pelo meu sobrenome, e também por esporádicos relatos de outros familiares mais velhos, que tínhamos raízes na Itália. A explicação que eu recebia deles não ia muito além disso, simplesmente, terminava por aí. Pela minha pouca idade as vagas respostas que recebia até me satisfizeram parcialmente por algum tempo. 
O tempo foi passando e já adulto comecei a fazer algumas pesquisas por conta própria, as quais, também não progrediram muito, sempre esbarrando na identificação do local da Itália de onde partiram os primeiros emigrantes da família. Meus pais, e também os poucos parentes que eu conhecia, pouco ou nada puderam acrescentar, todos estavam na mesma situação de ignorância. Parecia até que os antigos não queriam me contar a verdade. Mas, por qual razão? 
Na cidade onde nasci moravam diversas famílias que tinham o mesmo meu sobrenome, algumas delas eram de conhecidos parentes, e outras tantas, por pessoas que não se conheciam como tal. Aqueles que então contatei não puderam me esclarecer mais nada. Eu não podia me conformar com esta situação, tínhamos que ter um lugar-comum de origem, uma cidade, um estado e não somente que viemos de um país chamado Itália. 
Sem respostas para minhas perguntas, apesar de muito procurar, a estranha sensação de deslocamento da minha origem, me fazia sentir muito mal. 
Depois de alguns anos, então já casado e com filhos, queria contar para eles a nossa origem, o local de onde viemos, mas, não conseguia encontrar nada. 
Foi após comprar uma casa, com um grande quintal, que um dia resolvi que seria hora de adquirir um bom cachorro de guarda. Não sabia qual raça escolher, pois, até então conhecia algumas poucas. Lembro que ainda estávamos muito longe do advento da internet, a qual só surgiria quase trinta anos depois. Não querendo errar na escolha, emprestei de um casal amigo, e também eles grandes entusiastas por cães, um livro ilustrado sobre as diversas raças caninas então existentes no mundo. Folheando a belíssima coleção de fotos coloridas, onde os exemplares das raças estavam dispostos por casais, com as devidas especificações oficiais, como finalidades da raça, peso, altura e também uma completa explicação do comportamento de cada uma. 
Não precisei procurar muito e lá estava a foto daquele que eu me apaixonei imediatamente. Realmente, eram animais muito bonitos, fortes e considerados na época, e acredito que até hoje, os melhores cães de guarda. Tratava-se de um cão da raça Rotweiller. Feito a escolha da raça bastava agora ligar para o Kennel Clube e obter informações sobre os telefones de criadores idôneos, registrados naquele conhecido clube de cinofilia. Foi o que realmente fiz. 
Os responsáveis pela entidade perguntaram onde eu morava, a fim de facilitar o encontro. Informei onde eu morava e eles disseram que perto da minha cidade ficava um famoso canil, o mais premiado daquela raça em todo o estado. Falaram também que o casal proprietário tinha vários grandes campeões no plantel, inclusive de nível mundial. Informaram o nome do canil, que ficava em uma cidade muito próxima de onde eu moro. Seus proprietários eram também grandes fazendeiros e criadores de cavalos de raça, em um município não muito distante. O mais interessante e inesperado aconteceu quando pedi o nome desse criador, para minha surpresa tinha o mesmo meu sobrenome: era um primo, filho do irmão mais velho do meu pai, o qual desde o tempo de criança não o tinha mais visto e nem sabia mais do seu paradeiro. Ele também, depois fiquei sabendo, não sabia que eu morava assim tão perto. 



Visitando-o, fiquei impressionado com a estrutura do canil e com o tamanho daquela mãe com seus sete filhotes, nascidos a pouco mais de um mês, mas, já enormes. O primo, separou-os da mãe e me deu o privilégio de escolher o cãozinho que eu mais gostasse de toda a ninhada. Adquiri o filhote e o fui buscar algumas semanas depois, quando já tinha dois meses. Já estava devidamente registrado no Kennel Clube e recebera por acaso o nome de Danke, palavra que em alemão quer dizer "obrigado". 



Restabelecemos amizade e algum tempo depois, em uma noite, depois de um caprichado jantar em sua casa, o assunto origem da nossa família foi abordado. Ele era alguns anos mais velho que eu, mas, também nada sabia da nossa origem. Disse que o pai dele falava, que o nossos avô e o bisavô, que vieram da Itália, não gostavam muito de falar nesse assunto. 
A única coisa que lembrou, e isso não passou despercebido para mim, foi que a muitos anos antes, em um velho livro que pertencia ao nosso avô e que ficara com seu pai após o falecimento do "nonno", ele tinha encontrado um bilhete, já bastante amarelado pelo tempo, com o nome Pederobba, manuscrito a lápis. Por mais que pensasse, ele não sabia a que podia se referir. Pensei comigo que talvez fosse uma pista sobre a origem da nossa família, escondida no meio daquelas páginas do livro. 
Sabia pelo nome que era de algum lugar da Itália, mas, naqueles anos tudo era mais difícil, não tinha os meios para saber qual era, como já citei antes ainda não havia sido criada a internet. 
Naquele tempo eu já era um aficionado do radioamadorismo, fazendo diariamente contatos via rádio, com todos os países, através das grandes antenas instaladas sobre uma alta torre no quintal. Como radioamador eu era obrigado a ter um conhecimento de geografia acima da média e também recebia diariamente pelo correio, muitos cartões de confirmação dos novos contatos que realizava. Esses cartões eram, por nós radioamadores, conhecidos por QSL cards e continham informações relevantes sobre o contato, como as datas, horários, frequências e detalhes técnicos, e eram trocados como uma forma de comprovação e registro das comunicações entre os radioamadores. Com eles, era habitual o companheiro, do outro lado do mundo, enviar também um postal da cidade onde morava, com algumas palavras gentis escritas. 
Um dia recebi de um desses amigos, radioamador na Itália, um mapa da província de Treviso e um belo cartão postal da cidade de Treviso, onde morava. O cartão era patrocinado e distribuído pelo jornal local Tribuna de Treviso, em cujo logo se podia ler o endereço. Esse jornal tinha uma excelente penetração em toda a província de Treviso, especialmente aos domingos, quando então circulava por todos os municípios. 
Procurando naquele mapa, que tinha muito mais detalhes que os meus, devido a sua escala ampliada, percebi que Pederobba era um dos municípios dessa província, localizado quase na fronteira com a província de Belluno. Entendi imediatamente que tinha encontrado uma pista concreta, pois, por qual razão aquele nome estaria em um bilhete escondido entre as páginas de um livro? 
Acreditando muito nessa possibilidade, redigi uma carta para o diretor do referido jornal, com muita dificuldade é verdade, me valendo de um pequeno dicionário português-italiano para ajudar, pois, até então não sabia nada de italiano. Pelo rádio e telégrafo usávamos o inglês para se comunicar. 
Nessa carta tentei explicar quem eu era, onde morava, e que estava pesquisando sobre as minhas origens, pois acreditava que poderiam estar em algum município da província de Treviso. Pedi ao diretor fazer o favor de verificar se entre seus assinantes existia algum deles com o meu sobrenome, reforçando também que o meu interesse era simplesmente encontrar as minhas raízes. 
Naquela época, início da década de 1980, quase ninguém aqui no Brasil estava procurando pelas suas raízes na Itália, como veio acontecer a partir de alguns anos depois, com milhares ansiosos em encontrar um possível antepassado que tivesse emigrado, para assim obter o reconhecimento da cidadania italiana por "juris sanguinis", um direito conferido pela constituição italiana. 
Naquele tempo em que escrevia a carta ao diretor do jornal ninguém falava em dupla cidadania, a qual era ainda proibida pelas leis em vigor no Brasil. Quem resolvesse obter uma cidadania estrangeira deveria automaticamente renunciar aquela brasileira e o indivíduo não poderia exercer um cargo público federal, como era o meu caso. 
Passados pouco mais de um mês, recebi, quase simultaneamente, seis cartas da Itália, cujos remetentes tinham todos o meu sobrenome. O diretor do jornal Tribuna de Treviso, se comoveu bastante com a minha pequena e mal escrita carta, com diversos erros de italiano, como depois soube, e resolveu divulgá-la em uma edição dominical, aquela que circulava por toda a província. 
Das seis cartas recebidas de Pederobba, todas muito educadas e gentis, em duas delas as pessoas que escreviam eram de fato meus parentes, afastados é bem verdade, que tinham eles mesmos sofrido com a emigração para outros países e compreendiam bem o que eu estava procurando: o reencontro com a minhas raízes mais profundas. 
Um casal em especial imediatamente se prontificou em ajudar a encontrar a minha linha familiar e para tanto mobilizou diversos amigos, entre eles um que era considerado o arquivo vivo da cidade, o historiador local. A partir daí mantivemos contato frequente por cartas e um dia marquei uma viagem para a Itália, já no ano seguinte para nos conhecer. Como não entendia nada de italiano, fomos com uma excursão que nos hospedou em outro município, distante uma hora e meia de carro de Pederobba. Tinha somente um dia para os encontrar, sacrificando uma visita, constante no roteiro da excursão, ao Santuário de Santo Antonio, em Padova. 
Bem cedo pela manhã, eles gentilmente foram de carro até o hotel para nos buscar e nos levaram para sua casa onde, em um grande almoço, pudemos conhecer diversos membros daquela família. A tarde também nos levaram para breves visitas pela cidade. Estudei italiano e a partir desse encontro fizemos inúmeras viagens para a Itália, sempre nos hospedando alguns dias em um município vizinho a Pederobba, muito próximo dela por falta de hotel na cidade, e gradualmente fui refazendo toda a nossa história familiar. 
Isso aconteceu a mais de quarenta anos atrás e até hoje agradeço por ter escolhido aquele querido cão que me ajudou a encontrar as minhas origens e, apesar da sua vida curta, foi um grande amigo e fiel companheiro.

As imagens acima são fictícias e foram geradas por I.A., mas, este relato é totalmente verdadeiro, de como consegui reencontrar com as minhas raízes.

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS










Danke: Il cane che ha svelato la mia storia familiare perduta a Pederobba, Italia


 


Da quando ero solo un ragazzo, e questo è accaduto molto tempo fa, stiamo parlando degli anni '50, ho sempre manifestato curiosità per la storia della mia famiglia. Chi erano loro? Cosa facevano e da dove venivano i miei antenati? Perché hanno dovuto abbandonare il loro paese natale, quando e come sono arrivati? Perché hanno scelto il Brasile? Le domande erano molte. Sapevo, dal mio cognome e anche da occasionali racconti di altri parenti più anziani, che avevamo radici in Italia. La spiegazione che ricevevo da loro non andava molto oltre, semplicemente finiva lì. A causa della mia giovane età, le vaghe risposte che ricevevo mi hanno soddisfatto solo parzialmente per un po' di tempo.
Il tempo passava e da adulto ho iniziato a fare alcune ricerche da solo, che non hanno fatto molti progressi, sempre bloccato nell'individuazione del luogo in Italia da cui i primi emigranti della famiglia provenivano. I miei genitori e anche i pochi parenti che conoscevo poco o nulla potevano aggiungere, erano tutti nella stessa situazione di ignoranza. Sembra quasi che i più anziani non volessero dirmi la verità. Ma per quale motivo? 
Nella città in cui sono nato vivevano diverse famiglie con lo stesso cognome, alcune di esse erano parenti conosciuti, mentre altre, persone che non si conoscevano come tali. Coloro che ho contattato non sono stati in grado di chiarirmi nulla di più. Non potevo accontentarmi di questa situazione, dovevamo avere un punto di origine comune, una città, uno stato e non solo il fatto di venire da un paese chiamato Italia.
Senza risposte alle mie domande, nonostante la mia ricerca, la strana sensazione di estraneità alla mia origine mi faceva sentire molto male.
Dopo alcuni anni, ormai sposato e con figli, volevo raccontare loro la nostra origine, il luogo da cui venivamo, ma non riuscivo a trovare nulla.
Fu dopo aver comprato una casa con un grande cortile che decisi che era il momento di prendere un buon cane da guardia. Non sapevo quale razza scegliere, poiché fino ad allora ne conoscevo solo alcune. Ricordo che eravamo ancora molto lontani dall'avvento di Internet, che sarebbe emerso quasi trent'anni dopo. Non volendo sbagliare nella scelta, presi in prestito da una coppia di amici, anch'essi grandi appassionati di cani, un libro illustrato sulle varie razze canine allora esistenti nel mondo. Sfogliando la splendida collezione di foto a colori, in cui gli esemplari delle razze erano disposti in coppie, con le relative specifiche ufficiali come scopo della razza, peso, altezza e una completa spiegazione del comportamento di ognuna. Non ho dovuto cercare molto e lì c'era la foto di colui di cui mi sono innamorato immediatamente. Erano davvero animali molto belli, forti e considerati i migliori cani da guardia dell'epoca, e credo che lo siano ancora oggi. Era un cane di razza Rottweiler. Dopo aver scelto la razza, mi è bastato chiamare il Kennel Club e ottenere informazioni sui contatti di allevatori affidabili registrati in quel famoso club cinofilo. Ed è proprio quello che ho fatto.



I responsabili dell'ente mi hanno chiesto dove abitassi per facilitare l'incontro. Ho fornito loro il mio indirizzo e mi hanno detto che vicino alla mia città c'era un famoso allevamento, il più premiato dello stato per quella razza. Mi hanno anche detto che i proprietari del canile avevano diversi grandi campioni nel loro allevamento, alcuni dei quali a livello mondiale. Mi hanno fornito il nome del canile, che si trovava in una città molto vicina alla mia.
I proprietari erano anche grandi allevatori di cavalli di razza e agricoltori, in un comune non molto lontano. La cosa più interessante e inaspettata è successa quando ho chiesto il nome di quell'allevatore e, per mia sorpresa, aveva lo stesso cognome del mio: era un cugino, figlio del fratello maggiore di mio padre, che non vedevo più e di cui non sapevo più nulla fin da quando ero bambino. Anche lui, come ho scoperto in seguito, non sapeva che io abitassi così vicino. Visitandolo, sono rimasto impressionato dalla struttura del canile e dalle dimensioni della madre con i suoi sette cuccioli, nati poco più di un mese prima ma già enormi. Il mio cugino li ha separati dalla madre e mi ha dato il privilegio di scegliere il cucciolo che preferivo di tutta la cucciolata. Ho acquistato il cucciolo e sono andato a prenderlo alcune settimane dopo, quando aveva già due mesi. Era stato adeguatamente registrato presso il Kennel Club e aveva casualmente ricevuto il nome di Danke, parola che in tedesco significa "grazie". Ristabilimmo l'amicizia e qualche tempo dopo, in una serata, dopo una cena a casa sua, affrontammo l'argomento delle origini della nostra famiglia. Lui era più vecchio di me di alcuni anni, ma non sapeva nulla delle nostre origini. Disse che suo padre raccontava che nostro nonno e bisnonno, che vennero dall'Italia, non amavano parlare di questo argomento. L'unica cosa che ricordava, e che non mi sfuggì, era che molti anni prima, in un vecchio libro che apparteneva a nostro nonno e che suo padre aveva conservato dopo la morte del "nonno", aveva trovato un biglietto, ormai ingiallito dal tempo, con il nome di Pederobba, scritto a matita. Per quanto ci riflettesse, non sapeva a cosa si potesse riferire. Pensai che forse fosse un indizio sulle origini della nostra famiglia, nascosto tra le pagine del libro. Sapevo dal nome che si trattava di un luogo in Italia, ma in quegli anni era più difficile scoprire quale fosse, come ho già detto prima, internet non era ancora stata creata. In quel periodo ero già un appassionato di radioamatore e ogni giorno facevo contatti radio con tutti i paesi, tramite le grandi antenne installate su una torre alta nel giardino. Come radioamatore, ero obbligato ad avere una conoscenza geografica superiore alla media e ricevevo quotidianamente per posta molte schede di conferma dei nuovi contatti che facevo. Queste schede, chiamate QSL cards, contenevano informazioni rilevanti sul contatto, come date, orari, frequenze e dettagli tecnici, e venivano scambiate come prova e registrazione delle comunicazioni tra radioamatori. Di solito, l'amico dall'altra parte del mondo inviava anche una cartolina della città in cui viveva, con alcune gentili parole scritte. Un giorno ricevetti da uno di questi amici, un radioamatore in Italia, una mappa della provincia di Treviso e una bella cartolina della città di Treviso, dove lui abitava. La cartolina era sponsorizzata e distribuita dal giornale locale Tribuna di Treviso, il cui indirizzo era visibile nel logo. Quel giornale aveva una grande diffusione in tutta la provincia di Treviso, specialmente la domenica, quando circolava in tutti i comuni. Consultando quella mappa, che aveva molti più dettagli della mia a causa della sua scala ingrandita, mi resi conto che Pederobba era uno dei comuni di quella provincia, situato quasi al confine con la provincia di Belluno. Capì immediatamente che avevo trovato una pista concreta, perché altrimenti perché quel nome sarebbe stato scritto su un biglietto nascosto tra le pagine di un libro? Credendo fortemente in questa possibilità, scrissi una lettera al direttore del suddetto giornale, con molta difficoltà, aiutandomi con un piccolo dizionario portoghese-italiano, perché fino ad allora non sapevo nulla di italiano. Per le comunicazioni via radio e telegrafo usavamo usato l'inglese. In quella lettera cercai di spiegare chi ero, dove abitavo e che stavo cercando le mie origini, perché credevo che potessero trovarsi in uno dei comuni della provincia di Treviso. Chiesi al direttore di fare la cortesia di verificare se tra i suoi abbonati ce ne fosse uno con il mio cognome, sottolineando anche che il mio interesse era semplicemente quello di trovare le mie radici. In quel periodo, all'inizio degli anni '80, quasi nessuno qui in Brasile stava cercando le proprie radici in Italia, come sarebbe successo alcuni anni dopo, con migliaia di persone ansiose di trovare un possibile antenato emigrato, al fine di ottenere il riconoscimento della cittadinanza italiana secondo il "jure sanguinis", un diritto conferito dalla costituzione italiana. In quel tempo in cui scrivevo la lettera al direttore del giornale, nessuno parlava di doppia cittadinanza, che era ancora proibita dalle leggi vigenti in Brasile. Chiunque volesse ottenere una cittadinanza straniera doveva automaticamente rinunciare a quella brasiliana e non poteva svolgere un incarico pubblico federale, come nel mio caso. Dopo poco più di un mese, ricevetti, quasi contemporaneamente, sei lettere dall'Italia, tutte con il mio cognome come mittente. Il direttore del giornale Tribuna di Treviso fu molto commosso dalla mia piccola e mal scritta lettera, con vari errori di italiano, come poi scoprii, e decise di pubblicarla in un'edizione domenicale, quella che circolava in tutta la provincia. Di quelle sei lettere ricevute da Pederobba, tutte molto educati e gentili, in due di esse le persone che scrivevano erano effettivamente miei parenti, anche se lontani, che avevano anch'essi sofferto dell'emigrazione verso altri paesi e capivano bene ciò che stavo cercando: il ritorno alle mie radici più profonde. Una coppia in particolare si offrì immediatamente di aiutarmi a trovare la mia linea familiare e per farlo mobilitò diversi amici, tra cui uno che era considerato l'archivio vivente della città, lo storico locale. Da lì in avanti mantenemmo un frequente contatto tramite lettere e un giorno programmai un viaggio in Italia per l'anno successivo per incontrarli. Non capendo nulla di italiano, partimmo con un tour che ci ospitò in un altro comune, a un'ora e mezza di macchina da Pederobba. Avevo solo un giorno per incontrarli, sacrificando una visita che era prevista nel tour, al Santuario di Sant'Antonio a Padova. Al mattino presto, gentilmente vennero in macchina all'hotel a prenderci e ci portarono a casa loro, dove in un grande pranzo potemmo conoscere vari membri di quella famiglia. Nel pomeriggio ci portarono anche a fare brevi visite in città. Studiai l'italiano e da quell'incontro feci numerosi viaggi in Italia, alloggiando alcuni giorni in un comune vicino a Pederobba, molto vicino per mancanza di alberghi in città, e gradualmente ricostruii tutta la nostra storia familiare.



Questo è successo più di quaranta anni fa e ancora oggi ringrazio di aver scelto quel caro cane che mi ha aiutato a scoprire le mie origini e, nonostante la sua breve vita, è stato un grande amico e fedele compagno.

Le immagini qui sopra sono immaginarie e sono state generate dall'Intelligenza Artificiale, ma questa narrazione è completamente vera, riguardante come sono riuscito a riscoprire le mie radici.

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta 
Erechim RS

quarta-feira, 15 de setembro de 2021

Pederobba

Pederobba

 



Pederobba é um município que tem hoje uma população um pouco maior de 7.000 habitantes e cuja sede administrativa se encontra na "frazione" Onigo. Está localizado na província de Treviso, região do Vêneto. 

Hoje está formada por cinco frações: Pederobba, Onigo, Covolo, Curogna e Levada e se limita com os municípios de Alano di Piave (BL), Cavaso del Tomba, Cornuda, Crocetta del Montello, Monfumo, Valdobbiadene e Vidor.


Frazione Onigo


Desde o período romano já era considerada uma área estratégica, devido a sua privilegiada localização entre a margem direita do rio Piave  e os pés dos maciços montanhosos que formam os pré Alpes beluneses e especialmente por ser a ligação natural entre a zona montanhosa e a planície, através da estrada Feltrina.

Durante os séculos o município de Pederobba foi se formando no grande vale limitado pelas colinas de Asolanas  e os pré alpes beluneses e as frações de Onigo, Levada e Covolo ao sul e o platô que se abre para os municípios de Cornuda e Crocetta. 

Sua altitude máxima em relação ao nível do mar é de 780 metros no Monfenera, limite setentrional do município. A sua altitude mínima é de 134 metros no leito do rio Piave, nas proximidades de Covolo.


Edifício da Prefeitura de Pederobba


Além do rio Piave o município é servido por outros cursos de água: o rio Curogna e a Brentella, este um canal artificial que represa as água do rio Piave, usado para a irrigação de toda a planície entorno. Este canal foi construído em 1436, ainda quando toda a região estava sob o domínio da Serenissima República de Veneza.

Testemunhos do antigo passado de Pederobba podem ser encontrados nos diversos achados de era romana e no seu nome, um topônimo latino "petra rubra", em referimento a abundante pedra avermelhada encontrada em toda a localidade.

Tem-se como certo que Pederobba era naqueles tempos uma zona de trânsito tendo em vista que a via Claudia Augusta Altinate talvez coincidisse com a atual Feltrina, uma posição protegida pelo rio Piave.

Os restos de locais de culto encontrados ao longo da estrada Feltrina dão a entender que por ali passavam peregrinos. Por volta do ano 1000 foram erguidas as igrejas paroquiais de Pederobba e Onigo, embora as igrejas de Levada e Curogna, ambas dedicadas a São Miguel, são ainda mais antigas.

Toda a localidade de Pederobba esteve ligada a família Onigo, ricos feudatários que habitavam um castelo localizado na fração do mesmo nome. Inúmeros foram os conflitos bélicos que envolveram toda a zona, ainda durante o século XIII, com enfrentamentos especialmente contra os Ezzelinos.

Do momento que toda localidade de Pederobba passou para as mãos da Serenissima teve uma recuperação econômica passando, a partir de 1500, a ser sede de importantes mercados forrageiros que atendiam toda a província.

Com a dominação napoleônica e austríaca, que se sucedeu, após a queda de Veneza a administração imperial até tentou impulsionar a agricultura do município. Entretanto, a fome e a pobreza já começavam a dar sinais de suas presenças entre a população local, atingindo especialmente os mais pobres e desprotegidos, fato que seria bastante agravado, nos anos seguintes, com a passagem de Pederobba e todo o Vêneto para o Reino da Itália. 

A formação do novo país agravou a situação de penúria em que viviam os pequenos agricultores e artesãos de Pederobba. Coincidentemente aconteceram frustrações de várias safras e os produtos agrícolas sofriam com a concorrência daqueles importados. Os altos impostos criados para sustentar a novo país agravaram a situação da população. O êxodo rural e o desemprego eram grandes e a fome já rondava os lares do município. 

Nessa ocasião Pederobba também foi envolvida pelo fenômeno migratório, ocasião em que centenas de famílias se viram constrangidas a emigrar, fugindo do seu país, em busca de trabalho e de uma vida melhor. 

A I Grande Guerra Mundial de 1914/18 atingiu de cheio o município de Pederobba. Com a derrota de Caporetto as forças italianas foram obrigadas a se retirarem, recuando para o maçico do Grappa, Montello e  rio Piave, onde estabeleceram um novo front de resistência. Pederobba ficou completamente na zona de guerra e teve quase todos os seus edifícios destruídos por bombardeios de canhões lançados dos dois lados em luta. O município ficou justamente no centro daquele  conflito e sofreu brutalmente as consequências, tendo a totalidade da sua população evacuada, refugiados mais ao sul, longe dos ferozes bombardeios.  

Como testemunha desse grande conflito foram erigidos vários monumentos alusivos no município, entre os quais o ossário militar francês, localizado as margens da estrada Feltrina, próximo a atual entrada principal do município. 


Nos anos que se seguiram a I Guerra Mundial, o município de Pederobba foi aos poucos se recuperando com a instalação de indústrias que a tornaram um dos principais centros industriais e artesanais da "pedemontana del Grappa". 




Dr. Luiz Carlos Piazzetta
Erechim RS

quarta-feira, 12 de maio de 2021

Sacrário Militar Francês em Pederobba

Monumento Militar Francês em Pederobba

 

Ao lado esquerdo da estrada conhecida por Via Feltrina, no sentido de quem vai de Treviso para Feltre, encontramos o grande sacrário militar francês, uma homenagem aos soldados franceses mortos nas operações bélicas da I Grande Guerra Mundial. Está localizado no município de Pederobba, na província de Treviso, frente ao simbólico rio Piave e próximo do histórico Monte Tomba. 

O grande monumento foi  inaugurado em junho de 1937, na mesma ocasião daquele outro de Bligny, município do departamento de Aube, na França. Este também um monumento funerário que reúne mais de 4.400 italianos mortos na frente ocidental.

O monumento foi idealizado pelo arquiteto Camille Montagne e representa uma gigantesca parede de pedra que simboliza o avanço inimigo detido com o sacrifício desses soldados. No interior da muralha encontram-se inúmeros  nichos onde repousam os despojos de cerca mil soldados, que caíram nas batalhas finais. Ao pé desta grande muralha, estão gravados, em ordem alfabética, os seus nomes e somente doze desses corpos ainda permanecem como desconhecidos. 


Sacrário Militar Francês em Pederobba (TV)

O monumento se completa com um gigantesco grupo de estátuas em primeiro plano que representam a Mãe Itália e a Mãe França, unidas na dor, segurando seu Filho morto sobre os joelhos.

segunda-feira, 3 de maio de 2021

Pederobba e a Nobre Família d'Onigo



Os Onigo foram por muito tempo uma das famílias nobres de Treviso. É muito provável que a família tivesse origens distantes , provavelmente germânicas, chegando ao Vêneto seguindo algum imperador. Outra teoria é a sua origem longobarda. 

Desde tempos imemoriais, os representantes dessa família eram agraciados com o título de conde, o qual também foi reconhecido pela Sereníssima em 1795. A partir de 1460, segundo documentos já pesquisados, eles faziam parte do conselho dos nobres de Treviso. O progenitor é identificado como Gualperto da Cavaso, capitão das forças de Treviso. Ele lutou vitoriosamente em Cesana, contra o bispo de Belluno, mas por outro lado perdeu a sua vida nesse local. 

Posteriormente, a viúva Lodovica Capilupi comprou os castelos de Onigo e Rovigo e a partir de Gualpertino a família tomou o nome de Onigo. Durante o tempo de Ezzelino da Romano, o castelo passou temporariamente para este último, que ali aprisionou Giovanni di Gualpertino. 

Entre os membros da família De Onigo mais importantes da época medieval, devemos lembrar Guglielmo e Gherarduccio, que apoiaram o golpe de estado de 1327 liderado pelo pró Scaligero Guecello Tempesta. Em 1356 eles se rebelaram contra a República de Veneza e, derrotados, conseguiram obter o perdão graças à intercessão de Ludovico da Hungria. 

Outras figuras importantes foram Alberto, tenente, em Asolo, de Caterina Cornaro e Fiorino, que construiu o Teatro Onigo, reconstruído várias vezes e conhecido hoje como Teatro Comunale di Treviso (a família continuou a administrar a estrutura por mais dois séculos). 

Os Onigo também se destacaram em um período posterior. Girolamo da Onigo foi prefeito de Belluno sob o domínio de Napoleão e depois vice prefeito de Treviso. Ele é também lembrado pela construção da estrada Pederobba à Bassano. Seu filho Guglielmo (1808-1872) foi considerado um patriota do Risorgimento italiano. 

Teodolinda d'Onigo


A família se exterminou com a morte trágica de Zenobia Teodolinda Costanza, filha ilegítima de de Gugliemo d'Onigo e Caterina Jaquillard Onigo, esta de origem suíça. 

Em 11 de março de 1903, a condessa conhecida pela sua sórdida mesquinhes e avareza, quando caminhava no parque de seu palácio em Treviso,  em companhia de um seu administrador, foi decapitada com um machado, por  Pietro Bianchet, um inquilino (espécie de "servo della gleba") das suas propriedades rurais. O túmulo da condessa Teodolinda e de seus pais Caterina e Guglielmo Onigo, se encontra no pequeno templo, erguido no interior dos jardins da Opere Pie di Onigo.

O território de Pederobba ainda hoje é marcado por diversas lembranças dessa época, como nas atividades das Opere Pie de Onigo e no Palazzo Onigo. Também são recordações desse tempo as ruínas de uma fortaleza e antigo castelo dos Onigo, construção do século XII, onde  então residiram os primeiros membros da família, hoje conhecida como Mura Bastia. 




Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Pederobba e a História



Pederobba é um dos municípios da província de Treviso,  tendo sido instituído por decreto imperial de Napoleão Bonaparte em 1810. Entretanto, foi somente após a anexação ao Reino da Itália que Pederobba nasceu como município. A partir desta data todas as escrituras, certidões cadastrais e resoluções do Município passaram a ser guardadas no Arquivo Municipal. 
 
O brasão do município foi concedido à cidade em 27 de abril de 1913 pelo rei Vittorio Emanuele III. A faixa ondulada prateada no centro do  escudo representa o rio Piave, que atravessa o território municipal, enquanto o leão dourado na parte superior é uma referência à República de Veneza e em particular ao leão galopante da Opere Pie d'Onigo, brasão heráldico da nobre família Onigo, que fixou residência em Pederobba de 1200 a 1900. Os nomes do Conde Gugliemo e a filha Teodolinda D'Onigo, considerados benfeitores de Pederobba, são lembrados em vários locais públicos e edifícios,  entre eles o hospital, construídos nas terras doadas pela família, após o trágico falecimento de Teodolinda em 1903, decapitada por um dependente descontente. 

Localizada na confluência de Val Feltrina com Valcavasia, Pederobba é um importante cruzamento entre Bassano, Feltre, Montebelluna e o Quartier del Piave. 

Os testemunhos mais antigos do passado de Pederobba são representados por vários achados da época romana. O próprio topônimo deriva do latim petra rubla, referindo-se à pedra vermelha típica e abundante na localidade. 

A sua posição às margens do rio Piave foi ponto obrigatório de  passagem entre a planície e a zona montanhosa de exércitos,  peregrinos e viajantes de diferentes povos, desde os Reti aos Romanos, dos Lombardos aos Franceses. Todos eles deixaram vestígios indeléveis no território, que podem ainda ser encontrados em topônimos, nas tradições populares e nos assentamentos urbanos. Assim, ao longo dos séculos, várias aldeias foram se formando dentro do território: Pederobba, Curogna, Onigo, Levada e Covolo, hoje chamadas de frazioni do município. Outros pequenos e antigos ajuntamentos pontuam o município, da Costa Alta a Vittipan, de Rovigo a Barche.

Acredita-se que na época romana se tratava de uma área de trânsito, devido a passagem da famosa Via Claudia Augusta Altinate, cujo traçado parece coincidir com a atual Via Feltrina, e a também pela sua posição próxima ao Piave. 
As escavações arqueológicas e os achados evidenciaram que também assim se manteve no período seguinte: a presença de numerosos locais de culto à beira da estrada sugere a passagem de peregrinos. 

Cerca do ano 1000 se formaram as freguesias de Pederobba e Onigo, ao passo que as igrejas de Levada e Curogna, ambas dedicadas a San Michele, seriam mais antigas.
A área de Pederobba esteve ligada durante muito tempo a família nobre Onigo, senhores feudais que residiam num castelo perto da aldeia homônima, e do qual ainda restam algumas ruínas. Durante o século XIII toda a área assistiu inúmeros conflitos, entre os quais com  a  família dos Ezzelini, especialmente na época de Romano da Ezzilini.

Passou para o controle da Sereníssima República de Veneza, ocasião que Pederobba teve uma certa recuperação econômica, com a construção de engenhos e fábricas. No século XVI Pederobba tornou-se um dos mercados de forragem mais importantes da região. 




Acompanhou a história de Veneza durante os períodos de domínio napoleônico e austríaco, tendo a administração imperial tentado impulsionar a agricultura local. No entanto, a fome e a pobreza continuaram generalizadas entre a população e muitos foram forçados a emigrar. 

Pederobba foi literalmente arrasada durante a I Grande Guerra, pois, após a rompimento das linhas de defesa italianas em Caporetto, sobretudo pela sua posição estratégica entre o Rio Piave e os montes Grappa e Montello, local onde foi contido o avanço das tropas austríacas e alemães. Testemunho desse lamentável episódio, que praticamente arrasou com a cidade, são os vários monumentos erguidos na região em homenagem aos heróis mortos que participaram das batalhas, entre os quais se destaca o sacrário militar francês, que guarda os restos mortais de soldados franceses que combateram na I Grande Guerra Mundial.
A recuperação do segundo pós-guerra fez de Pederobba hoje um dos principais centros artesanais e industriais na zona entorno ao Grappa. 

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS











sexta-feira, 17 de julho de 2020

Giacomo Piazzetta Escultor em Madeira e Mármore

Ezequiel (detalhe)


Giacomo Piazzetta foi uma das figuras mais interessantes no panorama da escultura veneziana entre os séculos XVII e XVIII.
Injustamente esquecido entre os séculos XVII e XIX, a sua recuperação crítica e historiográfica só aconteceu com os trabalhos de Enrico Lacchin, renomado crítico de arte que o reavaliou no final da década de 1920.
Pouco se sabe sobre o artista e sua vida. Nascido no comune de Pederobba, província de Treviso o seu pai se chamava Domenico. Por motivo de trabalho transferiu-se para Veneza por volta de 1665, onde trabalhou na oficina de Santo Pianta. Casou-se com Angela em 20.05.1677 e viviam na paróquia de S. Felice em Veneza. Sabe-se que ela morreu de parto. Giacomo era pai do famoso pintor veneziano Giovanni Battista Piazzetta, este já nascido em Veneza. 



Seu primeiro trabalho documentado é a uma decoração complexa e detalhada, em madeira de nogueira, da biblioteca do convento dos padres dominicanos na basílica veneziana de São Giovanni e Paolo. Alguns anos depois produziu outros trabalhos importantes na construção dos altares e outras obras de madeira da Scuola de S. Maria della Carità. Trabalhou também na decoração das Procuratorie na piazza S. Marco. Infelizmente, a maioria de seus trabalhos foram perdidos especialmente devido à saques ocorridos durante a invasão napoleônica e austríaca à partir de 1807. O Piazzetta não era apenas um escultor e entalhador de madeira, mas também um escultor de mármore, como atestam as esculturas de São Romualdo levado para o céu por dois anjos, localizada no altar deste santo na igreja de San Michele, em Isola, Veneza. 



Detalhe do forro da Scuola Grande dei Carmini em Veneza

 
Basílica SS Giovanni Paolo em Veneza

Estátua em mármore de San Giovanni Battista
Chiesa dei Santi Apostoli di Cristo 
Veneza




Basílica Santos Giovanni e Paolo



Dr. Luiz Carlos Piazzetta

quarta-feira, 15 de julho de 2020

Comune di Pederobba um pouco de História




Pederobba está situada em uma área estratégica relatada desde os tempos antigos, na margem direita do Piave e aos pés dos pré-Alpes de Belluno, onde conecta a área montanhosa (Feltrino) à planície através da SS 348 denominada estrada "Feltrina".
As áreas habitadas de Pederobba e Curogna se distribuem  no início da Valcavasia, uma área plana que compreendida entre as colinas Asolana e os pré-Alpes de Belluno. Onigo, Levada e Covolo estão localizadas mais ao sul, em um platô que se abre para Cornuda e Crocetta. 



A altitude máxima é de 780 m acima do nível do mar no Monfenera em direção do maciço do Grappa que é o limite setentrional do município. A altitude mínima é de 134 m e corresponde leito do rio Piave, já na área de Covolo.
Além do Piave, os cursos d'água dignos de nota são o Curogna, que desce dos pré-Alpes, e o Brentella, um canal artificial construído em 1436 sob o domínio do Sereníssima que, trazendo as águas do Piave, contribui para irrigar a planície abaixo, caso contrário, seco e estéril.
Os testemunhos mais antigos do passado de Pederobba são representados por várias descobertas da era romana. O mesmo topônimo derivaria do latim petra rubra, em referência à característica pedra vermelha comum na localidade. 



Acredita-se que então localidade era uma zona de trânsito, tendo em vista que por ali passava a Via Claudia Augusta Altinate, talvez coincidindo com a atual Feltrina e a posição próxima ao  Piave.  Esta característica teria sido mantida mesmo em época seguintes: a presença de inúmeros locais de culto aos lados da estrada, faz-se pensar na passagem de peregrinos. Cerca do ano 1000 foram criadas as paróquias de Pederobba e Onigo, enquanto que as igrejas de Levada e Curogna, ambas erigidas em homenagem a San Michele, seriam mais antigas. 
A área ficou ligada por muito tempo à nobre família dos Onigo, senhores feudais que residiam em um castelo perto da aldeia homônima, da qual algumas ruínas ainda permanecem. Durante o século XIII este local foi assolado constantemente por guerras contra os Ezzelini. 

Prefeitura de Pederobba

Passando para o domínio da Sereníssima Republica de Veneza, houve uma certa recuperação econômica, com a construção de moinhos e fábricas. Pederobba tornou-se, entre outras coisas, a sede de um dos mais importantes mercados de milho do século XVI.
Do domínio de Veneza passou para as mãos dos regimes napoleônico e austríaco. A administração imperial austríaca tentou impulsionar a agricultura local. No entanto, a fome e a pobreza continuaram atingindo severamente a população e muitos foram forçados a emigrar. 
Passada para o Reino da Itália, Pederobba foi arrasada durante a grande guerra de 14/18, e após a ruptura de Caporetto, se viu no meio do fronte do Piave, perto do Grappa e do Montello. Testemunho desses difíceis anos são os vários monumentos construídos na zona, entre os quais se destaca o ossuário francês.
A recuperação após a Segunda Guerra Mundial fez de Pederobba hoje um dos principais centros artesanais e industriais da zona do Grappa.

Dr. Luiz Carlos Piazzetta


domingo, 1 de abril de 2018

De Pederobba ao Alasca em Busca do Ouro




Giovanni Dalla Costa e a família viviam em Pederobba, uma cidadezinha da província de Treviso, já na fronteira com a província de Beluno, costeada pela estrada feltrina. 
Nascido em 1868 de família de pequenos agricultores. Trabalhava com os pais em terras alugadas, aos pés do monte Monfenera. A situação econômica da família era igual a da maioria dos pequenos agricultores daquela zona e ainda não estava em seus planos emigrar, como tantos outros já estavam fazendo.
Improvisamente em uma noite de outono, um grande incêndio destruiu a sua casa e toda a colheita guardada no paiol. Ficou repentinamente na miséria. Procurou ajuda do governo, foi pedir dinheiro emprestado aos bancos, mas, não encontrou a ajuda necessária e na falta de trabalho na cidade foi compelido a emigrar.
Em 1886 Giovanni partiu sozinho para a França onde encontrou trabalho em uma mina e assim pode mandar algum dinheiro para a família que tinha ficado em Pederobba. Insatisfeito com aquele trabalho pensou em emigrar para os Estados Unidos onde tinha ouvido falar que as oportunidades, para quem queria trabalhar, eram muito grandes, havendo mesmo a possibilidade de fazer fortuna.
Embarcou no porto francês de Le Havre, na Normandia com destino a cidade de Nova York. Ao chegar naquela grande cidade logo ouviu falar da Califórnia, localizada no outro lado do país, onde haviam muitas minas de ouro. 
Pegou um dos primeiros trens que fazia o trajeto de costa a costa e para lá se dirigiu. Chegando ficou sabendo que a corrida do ouro, iniciada vinte anos antes, já havia acabado e para viver precisava trabalhar. Encontrou um como minerador assalariado em uma mina industrial no Estado de Montana, na região da Montanhas Rochosas, já na divisa com o Canadá. 
Lá chegando era voz corrente que no Alasca tinha se iniciado a mais nova corrida pelo ouro dos Estados Unidos. Disposto a fazer fortuna Giovanni, agora já conhecido por Jack, decidiu se transferir imediatamente para aquela terra longínqua e desconhecida, coberta de gelo durante boa parte do ano, em busca de uma mudança drástica de vida. A febre do ouro já o havia dominado.
Uma vez desembarcado no Alasca, foi adentrando naquele imenso território a pé, a cavalo, de canoa, junto com outros aventureiros, que como ele, também estavam contaminados pela febre do ouro. Fez amizade com um emigrante de Modena que já tinha tido uma experiência anterior de procura do ouro. Logo em seguida também chegou o seu irmão Francesco.
Durante anos percorreram grandes distâncias, atravessaram rios em barcos e as florestas em trenós, subiram em montanhas cobertas de neve onde a temperatura chegava até 35 graus negativos. Comiam carne seca e feijão abrigados em barracas pouco seguras naquelas noites enregelantes. No curto verão, entretanto, eram assaltados por enormes nuvens de mosquitos.
No seu deslocamento paravam de tanto em tanto para explorar o terreno congelado, que para ser cavado necessitavam fazer grandes fogueiras para derreter o gelo. Tinham aprendido com os nativos a trabalhar sem provocar suor, caso contrário a pele suada seria imediatamente congelada. Depois de dois anos de sofrimento, chegou o dia tão sonhado em um lugar ao longo do rio Yukon, quando então encontraram ouro em grande quantidade. Essa localidade é hoje a cidade de Fairbanks e ali se encontra uma placa e um busto com a data de 09 de Abril de 1903. 
Rico resolveu voltar para a Itália, mas, em São Francisco teve todo o seu ouro roubado e assim precisou retornar ao Alasca e continuar escavando. Passado mais um ano estava novamente muito rico e desta vez partiu direto para Pederobba.
Quando lá chegou em 1905, depois de quase 20 anos, nenhum acreditava na sua história, mas, quando começou a comprar casas, terrenos e depositar moedas de ouro no banco todos passaram a admirá-lo.
Durante esse longo tempo a família se dissolvida, repletos de dívidas que não conseguiram pagar. O irmão Giacomo emigrou para a França, onde casou com uma francesa e o seu paradeiro foi perdido. A mãe, o pai, um irmão e uma irmã, depois de venderem o pouco que tinham, emigraram para Montevideo, no Uruguai. Algum tempo depois entraram no Rio Grande do Sul onde a irmã veio a falecer, em grande dificuldade financeira. Mais tarde, os membros da família que tinha sobrado, ajudados por Giovanni, conseguiram se estabelecer com um pequeno hotel na cidade gaúcha de Guaporé. Giovanni estava em Pederobba e logo mais tarde foi alcançado pelo irmão Francesco. Ambos decidiram se casar. Giovanni casou com Rosa Rostolis e junto empreenderam uma grande viagem, pelas cidades que antes tinha conhecido, no continente americano, chegando até Fairbanks no Alasca, sempre se hospedando em hotéis de luxo.
Desse matrimonio teve um filho e quatro filhas. Givanni em Pederobba se ocupou na administração dos seus bens e lavoura nos seus vários terrenos naquele município.
Seu irmão Francesco se casou com Maria Poleselli, tiveram vários filhos e retornaram para o Alasca, depois mais tarde, se transferindo para Roma e dali para a Toscana. 
Com a deflagração da I Guerra Mundial, com o rompimento das defesas italianas em Caporetto, o fronte se deslocou e se estabeleceu justamente na linha do Monte Grappa e rio Piave, e Pederobba se encontrava bem no centro do conflito. Com muita pressa a cidade foi evacuada e a família de Giovanni, levando somente o mínimo indispensável, se refugiou na Lombardia, na cidade de Pavia, durante mais de um ano, até o final do conflito. Nessa cidade veio a falecer uma das filhas, vítima da epidemia de gripe espanhola que assolava toda a Europa.
Pederobba tinha sido quase que totalmente arrasada pelos constantes bombardeios efetuados por ambos os lados em conflito. Encontraram a casa em ruínas, o mobiliário roubado ou destruído. Uma caixa com pertences de valor, que tinha sido enterrada no jardim da casa, havia sido descoberta e também roubada. As moedas de ouro depositadas junto ao Banco de Valdobbiadene, também tinham sido sequestradas pelos austríacos. Ficou novamente em dificuldades financeiras. Algum tempo depois veio a falecer vítima de um ataque cardíaco, com 60 anos de idade, deixando a família em situação de grandes dificuldades. Com a crise de 1929 a esposa Rosa foi obrigada a vender o que havia sobrado de terrenos e também a casa, vindo a falecer em 1955. 
No cemitério de Pederobba em recordação a essa incrível história foi colocada uma lápide fúnebre.

Resumo do livro distribuído pela prefeitura de Pederobba. 

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS