domingo, 7 de agosto de 2022

Um Aspecto Pouco Comentado da Emigração Italiana

A Chegada dos Italianos nos Estados Unidos em Ilustração Pejorativa da Época





À partir da última metade do século XIX, o povo italiano protagonizou um dos maiores deslocamentos de pessoas jamais visto, foi o maior êxodo dos tempos modernos, o qual somente tem comparação àquele dos judeus fugindo do Egito, descritos na Bíblia.

Foi sem dúvidas um acontecimento trágico e dramático que marcou profundamente toda uma geração de italianos, os quais com coragem enfrentaram a nova situação, deixando para trás séculos de atraso, de conformismo sem fim e de sacrifícios de uma vida dura e sem perspectivas de um futuro melhor. Se apegaram com todas forças ao sonho de um mundo novo, de um trabalho que pudesse dar condições de por um prato de comida na mesa para a família. 

Foi um êxodo que, no espaço de aproximadamente cem anos, envolveu quase 30 milhões de homens, mulheres e crianças de todas as regiões da Itália. A grandeza desse número é melhor compreendida sabendo-se que essa era a população aproximada do país, por ocasião da Unificação, episódio acontecido alguns anos antes do início da grande emigração, e que deu origem ao reino da Itália.

Entre os anos de 1876 e 1900, no findar do século a maior quantidade de partidas era de italianos provenientes das regiões do norte, mas nas duas décadas seguintes se inverteu, quando a primazia migratória passou para as províncias da regiões do sul do país, sendo que da Sicília emigraram a maioria deles.


New York ano 1900

Os meridionais partiam os milhares para as Américas, sendo os Estados Unidos o destino preferencial. Foi um êxodo da população agrária italiana, onde se misturavam pequenos agricultores e diaristas, na sua grande maioria analfabeta. A crise da agricultura italiana vinha de longa data, com baixa produtividade nas colheitas, onde se cultivava a terra de maneira antiquada e os instrumentos de trabalho eram os mesmos do século anterior usados pelos seus avós.

O aumento dos novos impostos criados após a unificação italiana agravaram a situação do campo, principalmente no Sul do país, onde pequenas propriedades rurais não conseguiam produtividade para manter o homem no campo. Segundo alguns historiadores  "no Sul a terra é apenas suficiente para comer e pagar impostos".

Além dos fatores internos que pressionavam os mais pobres, levando-os ao desemprego e a fome, importantes fontes de atração dessa grande massa populacional mal empregada ou mesmo até sem emprego, somam-se fatores externos como: o aumento da demanda de mão de obra em países vizinhos da Itália como a França e a Suíça, na própria Europa como países do outro lado do oceano que estavam passando por período de grande desenvolvimento econômico nas Américas, como o Brasil, Argentina e Estados Unidos, as metas mais cobiçadas pelos imigrantes.

Os imigrantes italianos nem sempre foram bem acolhidos nos diversos países que os receberam. Muita coisa ainda hoje não se fala desse período negro da história. Os mesmos  adjetivos  racistas, xenófobos e pejorativos que hoje os italianos descrevem aqueles pobres imigrantes que procuram abrigo no país, foram usados a menos de um século atrás por outros povos para qualificar os imigrantes italianos, que em grande número chegavam nos seus países.

Devido a pobreza explícita das roupas que usavam, da baixa qualidade das suas maletas de papelão, valises e sacos feitos com lençóis que transportavam, da sujeira dos seus corpos e do fedor que exalavam ao passar, eram vistos com muita desconfiança pela opinião pública das cidades, principalmente entre as populações autóctones, aonde chegavam. Também, talvez,  a rudeza e a conduta de muitos imigrantes italianos tenha contribuído para gerar e até mesmo aumentar esse preconceito para com eles. 


Uma estreita viela em bairro residencial de italianos nos Estados Unidos


De um modo geral, os italianos já foram considerados, em muitos lugares, como sendo a escória do planeta, pessoas de risco e perigosos imigrantes ilegais. Por toda a Europa corriam dizeres que a "Itália era um belo país, mas de pessoas más".

Além da miséria que de forma tão explícita demostravam, o problema real dos imigrantes italianos era o cultural. Em vários países consideravam que ninguém era absolutamente tão ignorante quanto o imigrante italiano. A falta de cultura, o modo de vida e o comportamento dos imigrantes italianos eram reprovados abertamente na maioria dos países que os acolhiam.

Os imigrantes italianos já foram muitas vezes rotulados, pelos noticiários de jornais, ou mesmo em páginas de livros, dos países que os recebiam, como sendo: "o pior lixo da Europa, como indivíduos preguiçosos, venais, mafiosos, corruptores de juízes e políticos, recordistas de crimes", e muitos outros adjetivos mais, sempre do mesmo nível e com forte conotação xenófoba.

Mesmo alguns importantes escritores europeus da época, especialmente franceses e ingleses, chegaram a descrever a Itália, em seus livros, generalizando todos de norte ao sul,  como um país de prostitutas e  ladrões imundos.