quinta-feira, 30 de novembro de 2023

Medicina e Médicos - A Arte de Curar




 

Medicina e Médicos - A Arte de Curar


Na vasta encruzilhada da existência humana, 
Onde o corpo e a alma encontram a esperança, 
Os médicos erguem sua lança, 
Na luta contra a dor e a desesperança.

Em seus jalecos brancos, como heróis da ciência, 
Mergulham no oceano da experiência, 
Navegando mares de incerteza, 
Buscando curar com destemor a tristeza.

A medicina, arte milenar de curar, 
Nas mãos dos doutores, a vida a acalentar, 
Pois mesmo quando a cura não alcança, 
A dor da alma, a medicina extravasa.

Na frieza do estetoscópio e na precisão do bisturi, 
No eco do diagnóstico, no calor da sala de parto, 
Os médicos, com coragem, encaram o futuro, 
Com a promessa de alívio, de um tempo mais farto.

O estetoscópio é o violino da melodia do coração, 
Que toca a canção da vida, em cada respiração, 
No eco dos batimentos, a esperança se renova, 
O médico, poeta do corpo, a história escreve e comprova.

Nas paredes das clínicas, o estetoscópio repousa, 
Enquanto o médico, com olhar que se recompõe, 
Escuta a história de dor, angústia e esperança, 
E com ternura, ameniza a dor, traça a bonança.

Em cada prescrição, há uma receita de alento, 
No consolo e na empatia, um medicamento, 
Poetas da cura, com palavras e ação, 
Médicos são faróis na escuridão.

Na luta contra o mal que a todos assola, 
Médicos enfrentam a noite, a tempestade, 
E na luz da medicina, com amor e bondade, 
Ajudam a alma a encontrar a sua escolha.

Assim, na arte de curar, médicos brilham como estrelas, 
Aquecendo corações, suavizando cicatrizes e sequelas, 
E mesmo quando a cura é um sonho que se distancia, 
Eles são anjos de esperança, na dança da vida e da medicina.






Entre Raízes e Arranha-Céus: A Saga de Esperança em São Paulo


 


Em 1924, a família de Maria tomou a difícil decisão de emigrar da Itália, buscando refúgio em São Paulo, Brasil. A decisão foi motivada pelas dificuldades econômicas que assolavam a Europa no período pós-Primeira Guerra Mundial. O aumento do custo de vida e a inflação tornaram a vida nas pacíficas colinas de Viterbo, cada vez mais desafiadora.
O pai de Maria, um hábil sapateiro, viu seu modesto negócio ser afetado pelas instabilidades econômicas que assolavam a Itália após o conflito. O sonho de proporcionar uma vida melhor para sua esposa, seus filhos e a promissora vila em que nasceram tornou-se cada vez mais inatingível. A inflação destruiu o poder de compra, e a família viu-se enfrentando uma encruzilhada, onde permanecer na terra natal significava lutar diariamente contra as adversidades.
Ao chegar a São Paulo, a família de Maria encontrou-se imersa em uma nova realidade. O frenesi industrial da cidade oferecia oportunidades, mas também apresentava desafios. Seu pai, adaptando-se à necessidade de sustentar a família em uma terra estrangeira, encontrou trabalho em uma pequena oficina de consertos de calçados, contribuindo para a crescente economia paulista.
Domenico, o irmão de Maria, por sua vez, conseguiu emprego como auxiliar de pedreiro em uma pequena empresa de construção civil  liderada por um grupo de profissionais italianos radicados em São Paulo há muitas décadas. Essa oportunidade não só lhe proporcionou um meio de sustento, mas também o conectou a uma comunidade de conterrâneos que haviam trilhado o caminho da adaptação décadas antes.
A família, agora residindo nos subúrbios de São Paulo, enfrentou as complexidades de uma vida urbana em um Brasil em ascensão. Os baixos salários e o custo de vida, embora diferentes dos enfrentados na Itália, ainda representavam um desafio diário. O sonho de retornar à Itália, onde suas raízes estavam fincadas, persistia, mas a realidade econômica ditava o curso de suas vidas.
Maria, além de suas responsabilidades domésticas, encontrou trabalho como empregada doméstica em uma rica família de comerciantes de origem italiana, contribuindo para a renda familiar. Antonio, um jovem mecânico calabrês, que também havia imigrado para escapar das dificuldades econômicas da Europa, cruzou o caminho de Maria em meio à movimentada São Paulo. Unidos pela esperança de um futuro melhor, eles enfrentaram juntos os desafios de uma vida em um país estrangeiro.
Maria e Antonio, unidos pelos laços do amor e da esperança, decidiram escrever juntos uma nova página de suas vidas. Casaram-se e, em breve, a pequena casa alugada nos subúrbios de São Paulo abrigou não apenas os pais de Maria e seu irmão, mas também a alegria e as risadas de sua própria família.
Dois filhos vieram abençoar essa união. Luigi, nome escolhido em homenagem ao avô paterno de Maria, representava a continuidade das raízes familiares e a celebração das tradições italianas que carregavam consigo. A pequena Maria Antonia recebeu esse nome como uma homenagem tanto ao pai de Maria quanto ao avô, ambos chamados Antonio, assim como em referência ao nome da mãe. Essa escolha especial adicionou um toque único à dinâmica familiar.
A vida na pequena casa tornou-se um cenário de risos, canções e, é claro, os aromas irresistíveis da culinária italiana que a mãe de Maria trazia consigo. Antonio, com sua habilidade mecânica e a experiência adquirida ao longo dos anos, sonhava cada vez mais alto. A pequena família estava determinada a superar os desafios e construir um futuro melhor.
Luigi e Maria Antonia cresceram envoltos pela rica tapeçaria cultural que seus pais trouxeram consigo. A tradição italiana misturou-se com as nuances da vida brasileira, criando uma identidade única para a família. Enquanto Maria Antonia encantava a todos com sua energia contagiante, Luigi absorvia as histórias dos avós e pais, mantendo viva a chama das origens familiares.
Os anos se passaram, a cidade de São Paulo evoluiu, e a família cresceu não apenas em número, mas também em laços inquebráveis. Antonio, com tenacidade, conseguiu estabelecer seu próprio negócio como mecânico, e Maria continuou a trabalhar como empregada doméstica, agora parte de uma nova geração de imigrantes que encontravam seu lugar em uma terra distante.
A casa, inicialmente alugada, transformou-se ao longo do tempo em algo muito mais profundo que um simples lar. A família decidiu comprá-la, realizando ampliações e modificações que a tornaram o epicentro não só das lutas diárias, mas também dos momentos de alegria, amor e superação. Além disso, a família cresceu quando o irmão de Maria, Domenico, casou-se com Lauretta, unindo-se a eles na mesma casa e compartilhando esse espaço repleto de significado. Esse lar, edificado sobre os alicerces da coragem e esperança, converteu-se em um símbolo marcante da extraordinária jornada desta família italiana em solo brasileiro.
A história de Maria e sua família é uma narrativa de coragem e determinação, delineada pelos eventos tumultuados do pós-guerra, impulsionando-os a buscar um novo começo em terras brasileiras.

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS



quarta-feira, 29 de novembro de 2023

Il Passo Ardito degli Zoccoli: Un Viaggio nel Cuore dell’Artigianato e della Tradizione Italiana




In un piccolo villaggio italiano dell'Emília Romagna, la transizione da settembre segnava l’addio alle scalze passeggiate estive, sostituite dalla tradizione degli zoccoli fatti in casa. Con l’arrivo delle piogge e del freddo, i contadini abbandonavano la leggerezza dei piedi nudi per indossare con maestria gli zoccoli artigianali.

Il legno, tagliato durante le notti di luna buona, diventava la materia prima per questi calzari rustici. Dopo un processo di spaccatura, asciugatura e stagionatura, le tavole di legno prendevano forma seguendo la sagoma dei piedi. Un padre, ispirato al film di Olmi, dedicava la sua abilità artigiana a creare zoccoli personalizzati per suo figlio.

Gli zoccoli diventavano il simbolo dell’umiltà e della praticità in questa comunità, sostituendo le scarpe considerate un lusso riservato alle occasioni speciali. Anche durante l’inverno, uomini, donne e bambini sfoggiavano gli zoccoli, accoppiati con calzettoni di lana che proteggevano dal freddo pungente.

Questa antica tradizione, tramandata di generazione in generazione, dava vita a storie uniche di artigianato e saggezza con un legame indissolubile tra la comunità e il calzare fatto con amore e dedizione.


terça-feira, 28 de novembro de 2023

O Legado do Cônego Estanislau Pollon: Líder e Visionário em Barão de Cotegipe

 



 O Legado do Cônego Estanislau Pollon: Líder e Visionário em Barão de Cotegipe 


A longa permanência do cônego Estanislau Pollon em Cotegipe, como pároco, foi de fundamental importância para o destino daquela distante e quase esquecida vila, que tempos atrás já foi chamada de Floresta, um dos distritos de Erechim. Realmente, ele foi o motor propulsor que conseguiu impulsionar o antigo distrito de Floresta, criando as condições para a sua emancipação, transformando-se no município de Barão de Cotegipe. Sua inconteste liderança ia muito além das atividades meramente religiosas e paroquiais, desempenhadas com inteligência e tenacidade, estendendo-se a várias outras áreas, como saúde, educação, política, bem-estar social e lazer.

Quando ainda não existia energia elétrica no povoado, ele foi o criador e incentivador de uma pequena usina de força, com gerador movido por queda de água, que naquele tempo dava conta do atendimento à cidadezinha e algumas poucas propriedades rurais. Incentivou e, com muita luta, criou o hospital São Vicente de Paulo, uma construção bastante grande para a época, trazendo de Curitiba, para administrá-lo, as Irmãs de Caridade da Ordem das Vicentinas. Também foi através de sua visão e liderança a criação do Colégio Cristo Rei, entidade de ensino médio para alunos de ambos os sexos, assim como o conceituado internato, ambos administrados pela mesma ordem das Irmãs Vicentinas, escola de referência por onde passaram centenas e centenas de jovens provenientes de todo o Alto Uruguai, e mesmo de municípios mais distantes, como os de Santa Catarina.

Idealizou e construiu a grande Igreja de Nossa Senhora do Rosário, imensa construção mesmo para os padrões atuais, localizada em frente à avenida principal da cidade, com duas altas torres e tendo no seu interior uma comprida nave. Também foi sua a criação do enorme ginásio de esportes do município, construído em local da própria paróquia, ao lado da Igreja Matriz, o qual logo se tornou o espaço ideal para grandes festas e apresentações culturais na cidade, além de um concorrido campo de futebol de salão.

De personalidade forte e centralizadora, conquistou o respeito e a amizade da maioria da população, mas, como todo líder, também a antipatia de alguns poucos invejosos do seu carisma e sucesso empreendedor. Desde minha chegada à cidade, em 1º de setembro de 1969, tive nele um grande amigo e aliado, tanto social quanto profissionalmente. Sempre tive nele um grande apoiador do meu trabalho que desempenhava no hospital. Muitas vezes fui seu confidente nos assuntos financeiros e outros de cunho profissional.

Assim que cheguei, então solteiro, sem conhecer ninguém, ele foi a pessoa com quem mais me relacionei no primeiro ano na cidade. Uma vez por semana, sempre à noite, ele me esperava para conversar ou jogar algum jogo, em sua residência, a espaçosa Casa Paroquial, construção sólida de dois pisos e inúmeros aposentos. Seu jogo favorito era uma espécie de arremesso de pequenos discos de madeira com os do adversário, com o objetivo de jogá-los em uma espécie de caçapa no final da mesa. Aprendi com facilidade, e sempre jogávamos algumas partidas enquanto conversávamos, tomando um chá com bolachas ou apreciando um licor caseiro que o cônego tivesse ganho de algum paroquiano, sempre servidos pela sua atenciosa perpétua.

Acompanhei a fase final de construção e acabamento do ginásio de esportes, especialmente a compra da madeira de lei para o piso; se não me engano, ele optou pelo Tarumã, uma madeira muito dura e pesada. Todos os domingos, depois da última missa, ele passava lá no hospital, onde eu morava na época, para me pegar com sua velha caminhonete, e íamos visitar alguma capela que estava em festa pelo dia do seu padroeiro. Para mim, essas saídas dominicais eram muito gratificantes após uma dura semana, atolado em trabalho e preocupações.

Em todas essas ocasiões, eu participava da missa por ele oficiada e logo após ele me apresentava à comunidade ali reunida, o que muito me ajudou a conhecer com mais profundidade a sociedade local. Durante o trajeto da viagem, para essas afastadas capelas, tínhamos oportunidade de conversar muito francamente sobre todos os tipos de assuntos. Essas viagens também serviram para consolidar ainda mais a amizade entre nós.

Em um sábado, recebi o convite para acompanhá-lo até a casa de uns seus parentes, que moravam em Áurea, então distrito do município de Gaurama. A viagem era longa para a época e toda ela percorrida em estrada de chão batido, a chamada batinga. Como em todo aquele distrito, na casa não havia luz elétrica e sim uma luz fraca proveniente de dois pequenos lampiões a querosene. Foi lá que ele tentou me pregar uma peça. Para o jantar, tivemos uma saborosa sopa com macarrão, de cor escura. Falavam entre eles quase que só em polonês. Ninguém me esclareceu o que era aquilo. Eu também não conhecia as tradições polonesas para poder antever aonde queriam chegar. Terminada a refeição, o cônego perguntou se eu havia gostado daquele prato típico, o que prontamente respondi afirmativamente, tanto que o repeti duas vezes. Com um largo sorriso nos lábios, ele e seus familiares contaram que aquele prato se chamava czarnina e era feito com sangue de pato, daí aquela coloração bastante escura. Ficaram muito contentes, principalmente a dona da casa e cozinheira, que eu, uma visita de origem italiana, tivesse gostado daquele prato típico deles.

Em outra ocasião, numa tarde muito quente de verão, no meio da semana, talvez fosse um feriado (não recordo bem), o cônego me telefonou convidando para um passeio até a barragem da usina elétrica, para um banho de rio. Quando chegou com sua inseparável camioneta, estava acompanhado por dois jovens padres poloneses, seus hóspedes na casa canônica. O local onde ficava a barragem da usina elétrica, então já desativada, era gramado e bastante arborizado, um verdadeiro oásis no meio daquele sol abrasador. O cônego e os padres tiraram suas batinas e outras roupas, ficando apenas de calção de banho, e mergulharam naquela água limpa e fresca. Eu resolvi não entrar na água, pois estava com gripe. O cônego e os padres pareciam três garotos de colégio, alegres, nadando e saltando sem descanso das bordas da represa. No final da tarde, retornamos para Cotegipe.

Eram nessas oportunidades, que podíamos conhecer mais claramente as duas faces da personalidade do cônego: uma austera, sisuda e de poucas palavras, que usava no seu dia a dia de trabalho, e a outra bastante alegre, extrovertida e brincalhona, quando na intimidade com amigos, longe dos seus tantos deveres. Como seu médico particular acompanhei o desenrolar da sua doença e o longo período de sofrimento que se seguiu, especialmente nos seus últimos anos de vida, sempre enfrentado com muito otimismo, coragem, fé e resignação. Lembro que quando retornou de Santa Maria, onde se submeteu a um grande tratamento, não se cansava de me dizer: “A gente não é ninguém longe da nossa casa”.

A figura do cônego Estanislau Pollon destaca-se como um verdadeiro líder e visionário que, além de suas responsabilidades religiosas, desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento e na transformação da vila de Floresta em Barão de Cotegipe. Seu legado vai além das construções materiais, abrangendo a promoção da educação, saúde e bem-estar social. A dualidade de sua personalidade, entre a seriedade no trabalho e a jovialidade na intimidade, demonstra a riqueza de suas contribuições para a comunidade. Este  artigo destaca momentos marcantes que revelam não apenas sua liderança, mas também a conexão e amizade que cultivou com aqueles ao seu redor. O título "O Legado do Cônego Estanislau Pollon: Líder e Visionário em Barão de Cotegipe", ressalta a importância e a influência duradoura desse grande líder na história da região.


Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta

Erechim RS


A Saga Italiana nas Fazendas de Café de São Paulo: Uma História de Determinação e Sucesso

Imigrantes Italianos na Colheita do Café no início do século XX


Os Imigrantes Italianos nas Fazendas de Café de São Paulo


Com o início da imigração subsidiada, nos anos 1884 até 1886, milhares de imigrantes europeus, especialmente, italianos foram introduzidos no estado de São Paulo, dando início a criação de um mercado de trabalho livre no Brasil. 

Com os movimentos abolicionistas cada vez fortes, a proibição de trazer novos escravos e, logo depois, com a abolição da escravidão no país, com a Lei Áurea, o trabalhador europeu foi trazido para substituir aquela mão de obra escravizada, tão necessária para o surgimento da cultura cafeeira paulista e sua expansão para outros estados do Brasil.

Milhares de italianos do norte da Itália, a sua maioria composta por imigrantes originários da região do Vêneto, foram assentados pelo interior do estado, nas grandes fazendas de café.

Desde início os grandes produtores de café deram preferência em trazer esses trabalhadores acompanhados de suas famílias. Eram assentados nas grandes fazendas de café, empregandos no sistema de relação trabalhista conhecido como colonato. Daí surgiu o termo colono, a denominação dada a esses trabalhadores.


Colonos italianos na colheita do café em 1910


O colono era uma espécie de trabalhador que não trabalhava isoladamente em sim era inserido com todo o seu núcleo familiar. Quando então o fazendeiro contratava o colono estava na verdade contratando toda a sua família, com o seu chefe passando a ser o responsável na execução das tarefas diárias que deviam desempenhar. 

Devido a proporcionalidade, os imigrantes que tivessem famílias maiores levavam vantagem sobre aquelas que tinham poucos membros, pois, poderiam cuidar de um maior número de pés de café e assim conseguirem permissão para usar uma maior extensão de terra para cultivar. Os ganhos dessas grandes famílias com os excedentes comercializados seriam maiores e teriam maiores chances de melhoria social. Assim ter uma família grande era uma estratégia do colono para aos poucos melhorar as suas condições de vida.

O colono era assim ao mesmo tempo um empregado assalariado, um trabalhador de subsistência, pois devia plantar para suprir a alimentação para a família, era também um produtor, um negociante de produtos agrícolas e um consumidor. 

O colono e sua família estavam responsáveis pela limpeza do cafezal, da colheita do grão, do plantio de alimentos e também, podiam ser convocados para outros serviços da fazenda, os quais, conforme o seu contrato, podiam ser remunerados ou não. 

Conforme o acerto que tinham com o fazendeiro, o colono recebia como pagamento pelo serviço de limpeza, um valor fixo em dinheiro, valor esse proporcional a cada mil pés de café que estivessem ao seu cuidado, isso por 3 a 5 vezes ao ano. 


Imigrantes Italianos trabalhando na Colheita do café no início do século XX



Na safra o colono recebia uma quantia em dinheiro, proporcional ao volume de grãos de café colhidos.

O colono podia usufruir de moradia gratuita e do uso de outras benfeitorias da fazenda. Plantava milho, arroz e feijão em locais determinados pelo fazendeiro e podia manter uma pequena horta ao redor de casa, criar alguns animais pequenos, como aves e porcos, e utilizar do pasto para umas poucas vacas e cavalos. 

Essa produção independente fornecia o alimento para a sua família e o excedente era vendido ao fazendeiro ou nas vilas e cidades mais próximas da fazenda. 


Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS

 

segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Raízes Além-Mar: A Saga dos Pinotto uma Família de Imigrantes Italianos no Brasil




Era o ano de 1853 quando Gioacchino Pinotto nasceu na pequena vila de San Giorgio Bigarelo, no coração da província de Mantova, na Itália. Ele cresceu em meio aos campos verdejantes e aos aromas da rica culinária mantovana, aprendendo desde cedo o valor do trabalho duro e da família. Dois anos depois, em 1855, nascia Elena Bianchi, uma jovem cheia de vitalidade, na vizinha Marmirolo, também província de Mantova.
Os Pinotto eram donos de uma modesta propriedade na vila, herdada dos antepassados, onde cultivavam a terra com dedicação há várias gerações. Contudo, as alterações do clima dos últimos anos e as condições econômicas desafiadoras da Itália naquela época, levaram Gioacchino e Elena a tomar uma decisão difícil, mas corajosa. Como milhares de compatriotas, decidiram buscar novas oportunidades além das fronteiras, rumo ao Brasil.
Em 1887, com seis filhos pequenos e corações repletos de esperança, os Pinotto venderam sua propriedade e outros bens que não poderiam levar consigo. Embarcaram no vapor Himalaia em Gênova, destino ao Rio de Janeiro. O desconhecido os aguardava do outro lado do oceano.
A viagem não foi fácil, e ao chegarem ao Rio, foram surpreendidos por uma estadia inesperada na Hospedaria da Ilha da Flores, decorrente de uma epidemia de sarampo que eclodiu durante a travessia, causando a morte de algumas crianças. Esse período, marcado por desafios e incertezas, fortaleceu ainda mais o vínculo familiar. Determinados a seguir em frente, passada a quarentena, a família navegou até o Paraná, desembarcando em Paranaguá após sete dias de travessia.
A jornada continuou pelo interior do estado até uma nova colônia para imigrantes inaugurada há poucos anos, onde, com o tempo, receberam do governo material para construção de uma modesta casa de madeira. A vida na colônia não era fácil, mas Gioacchino e Elena enfrentaram cada desafio com resiliência, sempre pensando que um dia as coisa mudariam para melhor.  E assim foi, passados seis anos de trabalho árduo finalmente adquiriram um pedaço de terra na densa floresta, próximo ao rio Iguaçu.
Naquela localidade, ergueram a pequena casa de madeira, um lar que testemunhou o crescimento da família. Gioacchino,  habilidoso e determinado a prosperar, construiu um moinho d'água, marcando o início de uma trajetória empresarial. Anos depois, uma serraria a vapor transformou-se em uma próspera empresa, solidificando o legado dos Pinotto no Paraná.
Os seis filhos, batizados com nomes que evocavam suas raízes italianas – Marco, Isabella, Alessandro, Lucia, Matteo e Giorgia –, cresceram enfrentando as adversidades da vida na nova terra. Cada um, à sua maneira, contribuiu para o sucesso da família, destacando-se em diversas áreas da sociedade paranaense.
A história dos Pinotto no Brasil é um testemunho de coragem, perseverança e sucesso diante das adversidades. Uma jornada que começou em uma pequena vila na Itália e floresceu em uma nova terra, construindo não apenas um lar, mas um legado que transcende gerações.





domingo, 26 de novembro de 2023

Castanhas Douradas: O Tesouro Oculto das Montanhas que Nutriu uma Comunidade


 


No remoto e pitoresco vale de Montecaldo, a família Rossi prosperava com a valiosa colheita de castanhas. Matriarca da família, a senhora Maria, transmitia de geração em geração a antiga arte de transformar castanhas em farinha dourada. Seu rústico casarão de pedra, cercado por imponentes montanhas, guardava com zelo o segredo de uma farinha de castanhas de qualidade superior.

Os habitantes de Montecaldo, guiados por uma sabedoria passada de pai para filho, eram mestres no uso desse tesouro da natureza. Em cada estação, a família Rossi se aventurava pelos bosques, cestas em mãos, em busca das castanhas mais suculentas. Os dias se transformavam em aventuras, com os adultos ensinando aos jovens os segredos da colheita, reconhecendo o momento exato em que o fruto estava maduro.

A cada inverno, o casarão ganhava vida com uma atmosfera calorosa e laboriosa. A senhora Maria, com suas mãos hábeis, liderava o processo de secagem e moagem das castanhas. A farinha resultante, dourada e perfumada, tornava-se o coração pulsante da cozinha de Montecaldo. Os habitantes compartilhavam receitas transmitidas de geração em geração, criando pratos únicos que levavam o sabor da montanha diretamente às suas mesas.

As festividades assumiam um significado especial em Montecaldo, onde a farinha de castanhas se tornava o ingrediente principal de doces tradicionais. O castagnaccio, com suas notas de doçura e riqueza, tornava-se o símbolo das celebrações natalícias. A comunidade se reunia para compartilhar histórias, canções e, claro, delícias culinárias criadas com amor e dedicação.

No entanto, nem tudo era sempre idílico na vida de Montecaldo. Invernos rigorosos testavam as reservas, obrigando a comunidade a ser criativa na gestão dos estoques. Nestes momentos desafiadores, os habitantes se uniam ainda mais, compartilhando recursos e solidariedade para superar as dificuldades.

Um dia, um jovem da aldeia, Marco, decidiu explorar as alturas das montanhas em busca de novos tesouros culinários. Ao atravessar bosques inexplorados, descobriu uma variedade rara de castanhas, ainda mais saborosa e robusta. A notícia se espalhou como um vento suave entre os habitantes, criando uma emoção palpável no ar.

O conselho da aldeia decidiu celebrar essa descoberta organizando uma festa extraordinária. A mesa foi posta com pratos especiais preparados com a nova variedade de castanhas, símbolo de renascimento e prosperidade. A festa, iluminada por fogueiras e sorrisos radiantes, marcou um capítulo memorável na história de Montecaldo.

As estações mudaram, mas a tradição da farinha de castanhas permaneceu uma constante na vida de Montecaldo. A família Rossi, guardiã desse patrimônio, continuou a transmitir o segredo da castanha dourada às gerações futuras, para que o vínculo entre a montanha e o alimento persistisse ao longo do tempo.

Em uma dessas gerações, surgiu uma jovem talentosa chamada Isabella, cujo amor pela culinária ultrapassava as fronteiras da tradição. Ela introduziu inovações sutis às receitas tradicionais, elevando a farinha de castanhas a novas alturas gastronômicas. Seus pratos tornaram-se não apenas uma celebração da herança de Montecaldo, mas também uma expressão criativa de sua própria paixão pela culinária.

A notícia dos feitos culinários de Isabella espalhou-se além das montanhas de Montecaldo, atraindo a atenção de chefs renomados e entusiastas da gastronomia. Isabella, agora uma embaixadora da tradição familiar, viajava pelo mundo compartilhando as delícias da farinha de castanhas e a rica história por trás de cada prato.

O vale de Montecaldo, antes conhecido principalmente por sua beleza natural, tornou-se um destino gastronômico internacional, atraindo apreciadores de sabores autênticos e histórias de vida entrelaçadas. O casarão de pedra da família Rossi, outrora silencioso, transformou-se em um centro pulsante de atividade, com visitantes de todos os cantos do mundo ansiosos para provar o fruto do trabalho de gerações.

Assim, a história das castanhas de Montecaldo continuou a evoluir, conectando passado e presente, tradição e inovação, como uma sinfonia que incorpora notas antigas e modernas. A farinha dourada, que há muito tempo era o segredo guardado nas montanhas, tornou-se uma preciosa herança global.

Isabella, agora reconhecida como uma mestra culinária, estabeleceu uma academia de gastronomia em Montecaldo, onde chefs de todo o mundo vinham aprender os segredos da farinha de castanhas e a arte de combinar tradição e criatividade. As estações não eram mais apenas mudanças climáticas; eram capítulos na história gastronômica de Montecaldo, cada um trazendo novas nuances de sabor e inspiração.

A celebração anual das castanhas em Montecaldo tornou-se um evento internacional, atraindo foodies, chefs renomados e curiosos de todas as partes. As colinas outrora tranquilas ganhavam vida com o burburinho da festa, onde os aromas envolventes da culinária local misturavam-se com risos e histórias compartilhadas ao redor das mesas festivas.

Em meio à prosperidade e reconhecimento global, a família Rossi continuava a desempenhar um papel central na preservação da tradição. A antiga árvore de castanheiros, que testemunhara gerações, tornou-se um símbolo sagrado. Cada ramo era como uma página de um livro, narrando a história das conquistas e desafios enfrentados pelo vale de Montecaldo.

Com o passar dos anos, a tradição não apenas persistia, mas florescia. A herança das castanhas não era mais apenas um tesouro local; era uma contribuição valiosa para o patrimônio culinário global. Montecaldo tornara-se um farol de como a tradição, quando combinada com a inovação, poderia transcender fronteiras e criar uma história viva e em constante evolução.

E assim, enquanto o sol se punha sobre as montanhas de Montecaldo, a história das castanhas continuava a ser escrita. O vale, antes silencioso, ecoava com risos, sabores e a alegria de uma comunidade que soubera honrar suas raízes enquanto abraçava o futuro. A farinha dourada, uma vez guardada como um segredo local, agora era compartilhada com o mundo, unindo pessoas através de uma paixão comum pela boa comida e pela rica história que ela carregava. Montecaldo, agora mais do que nunca, era um testemunho de como uma pequena tradição podia criar ondas que reverberavam muito além de suas montanhas originais.

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS



sábado, 25 de novembro de 2023

O Renascimento Dourado: Histórias e Sabores Entre as Montanhas Repletas de Castanheiras


 


Em um vale remoto nas montanhas, a vida camponesa era uma arte de sobrevivência. Terrenos hostis desafiavam os habitantes a colher o precioso sustento que a natureza oferecia parcimoniosamente. Cogumelos, batatas e, sobretudo, castanhas eram os pilares da alimentação.

A farinha de castanhas, fruto de secagens e moagens pacientes, tornava-se o tesouro vital para as famílias dessa comunidade isolada. Conservada com cuidado em robustos recipientes de madeira, assemelhava-se a um bloco inatacável, retirado apenas quando necessário. Uma reserva culinária versátil, transformada em castanhas, polentas doces, pães, massas e biscoitos, alimentava os dias dos habitantes dessa região montanhosa.

Na serenidade dessas paisagens majestosas, a castanha não era apenas alimento, mas um símbolo de resiliência e engenhosidade para enfrentar os desafios da vida na montanha.

Em um desses vales, a família Di Marco vivia com a árdua tarefa de extrair subsistência da terra áspera. Carlo, o chefe de família, com suas mãos multifacetadas, sabia transformar castanhas rugosas em farinha dourada. Sua casa exalava o aroma de castanhas acabadas de assar e de histórias transmitidas por gerações.

Uma manhã fria de outono, quando as folhas estalavam sob os pés e a fumaça das casas se misturava ao ar cristalino, a filha mais jovem, Isabella, decidiu explorar a floresta. Envolta em um xale quente de lã, adentrou-se entre as árvores centenárias, fascinada pela dança das folhas douradas.

Isabella descobriu uma antiga árvore de castanhas, cujo tronco majestoso parecia guardar segredos milenares. Enquanto colhia as castanhas caídas, notou uma luz fraca vindo de uma abertura no solo. Com medo, mas também com curiosidade, aproximou-se e descobriu uma gruta escondida.

Dentro da gruta, Isabella encontrou um antigo moinho abandonado. Ao lado dele, um livro amarelado continha receitas de castanhas esquecidas ao longo do tempo. Seus olhos brilhavam de excitação ao imaginar como poderia enriquecer a mesa de sua família com esses tesouros culinários esquecidos.

Ao retornar para casa, Isabella compartilhou sua descoberta com a família. Carlo, com os olhos cheios de gratidão, decidiu ressuscitar aquelas antigas receitas. A farinha de castanhas, já símbolo de vida, tornou-se uma ligação entre passado e presente, transformando a cozinha da família Di Marco em um ritual que celebrava a história daqueles lugares.

Assim, nas noites de inverno, o aroma envolvente do bolo de castanhas misturava-se às risadas da família Di Marco, criando uma narrativa que, como as próprias montanhas, resistia ao tempo. A castanha, de simples alimento, tornou-se o fio mágico que tecia as gerações, transformando a vida cotidiana em uma história de resiliência, descoberta e amor pela terra.

As estações mudavam, pintando a paisagem montanhosa com nuances diferentes. A família Di Marco prosperava, e sua mesa era enriquecida por novas variantes de pratos à base de castanhas. Isabella, crescida com a sabedoria da floresta e a história guardada na gruta, tornou-se uma mestra culinária.

A vila, inicialmente cética, começou a descobrir os tesouros gastronômicos escondidos nas receitas antigas. A farinha de castanhas dos Di Marco tornou-se renomada, atraindo visitantes de vilarejos vizinhos. Seu modesto lar transformou-se em um ponto de encontro para quem buscava não apenas comida, mas também a calorosa hospitalidade das montanhas.

Numa noite em que a neve dançava lá fora e o fogo crepitava no antigo fogão, a família recebeu a visita de um ancião da vila. Ele trazia consigo uma caixa de madeira desgastada e um sorriso nostálgico. Dentro da caixa, havia receitas transmitidas por sua família por gerações.

Com um nó na garganta, o ancião contou como a farinha de castanhas já havia sustentado suas comunidades durante invernos rigorosos. A família Di Marco ouvia com respeito, reconhecendo o vínculo especial entre passado e presente, entre seus esforços e os das gerações anteriores.

Decidiram unir forças, criando um festival anual de castanhas, onde as famílias da vila compartilhavam suas tradições culinárias. O aroma convidativo do bolo de castanhas misturava-se às risadas e às histórias, criando uma atmosfera festiva que enchia o ar de gratidão e apreço pela vida na montanha.

Assim, no coração daquele vale cercado por cimos majestosos, a castanha não era apenas alimento, mas um símbolo de conexão entre as gerações, de comunidades que prosperavam graças ao compartilhamento de suas riquezas culinárias e da história entrelaçada nos fios do tempo.

E assim, o festival das castanhas tornou-se um evento anual que unia corações e mentes na vila de montanha. A mesa dos Di Marco, repleta de delícias à base de castanhas, tornou-se o centro de uma tradição que transcendia a comida em si.

As estações passavam, mas a resiliência da comunidade e o amor pela terra permaneciam firmes. A farinha dourada de castanhas, transmitida através das gerações, tornou-se uma moeda de troca entre famílias, um sinal tangível de solidariedade e compartilhamento.

Com o passar dos anos, a vila prosperou, atraindo não apenas pela pitoresca paisagem montanhosa, mas também pela riqueza de suas tradições culRurais.

Como suas tradições culinárias. A história das castanhas, entrelaçada com a vida cotidiana das famílias, tornou-se um patrimônio compartilhado que era contado de geração em geração.

E assim, sob o céu estrelado das noites de montanha, a comunidade celebrava a vida, o amor e a continuidade. A castanha, uma vez apenas um simples alimento, adquirira um significado mais profundo, transformando-se no elo que ligava passado ao presente e projetava a comunidade para um futuro luminoso, sempre enraizado em suas tradições de montanha.

Numa noite especial, marcando o ápice do festival anual, a família Di Marco reuniu todos os moradores da vila para compartilhar não apenas pratos à base de castanhas, mas também histórias e canções que ecoavam pelas montanhas. Uma grande fogueira crepitava no centro da praça, iluminando os rostos sorridentes e atraindo todos para o calor reconfortante.

O ancião que trouxera as antigas receitas, agora com um brilho nos olhos, compartilhou memórias de invernos passados e como a farinha de castanhas mantinha viva a chama da esperança nas noites mais frias. As gerações mais jovens ouviam atentamente, absorvendo as lições de resiliência e união transmitidas por meio dessas histórias.

Enquanto a noite avançava, a atmosfera se tornava mágica. Risos e conversas preenchiam o ar, as crianças dançavam ao redor da fogueira e todos partilhavam da abundância de alimentos preparados com a preciosa farinha de castanhas. A comunidade havia se transformado em uma grande família, conectada não apenas pela geografia montanhosa, mas também pelos laços de uma tradição partilhada.

O festival anual das castanhas não era apenas uma celebração gastronômica, mas uma expressão viva da força coletiva, da sabedoria compartilhada e da beleza que pode surgir quando uma comunidade se une em torno de suas raízes comuns. E assim, nas montanhas imponentes, a história da castanha continuava a ser escrita não apenas nas páginas de receitas, mas nos corações daqueles que encontravam significado e alegria na simplicidade de uma vida ligada à terra e à tradição.


sexta-feira, 24 de novembro de 2023

Guardiões Peludos: A Saga Épica dos Gatos Venezianos na Batalha Contra a Peste


 


Na encantadora cidade de Veneza, a Festa da Madonna della Salute evoca memórias de uma época sombria: a terrível epidemia de peste que assolou o norte da Itália entre 1630 e 1631. Durante esses dias aflitivos, os gatos venezianos emergiram como heróis silenciosos, desempenhando um papel crucial na proteção da cidade.

À medida que os barcos zarpavam para longas jornadas em direção ao Oriente, os gatos se tornavam tripulantes essenciais, enfrentando a ameaça dos ratos portadores da doença. A meticulosa seleção de raças, como os destemidos "soriani" da Síria, evidencia os esforços dos venezianos em salvaguardar sua cidade da iminente epidemia.

Mesmo com a propagação da peste, os gatos permaneceram, transformando-se em testemunhas afetuosas e silenciosas da história de Veneza. As vielas e praças da cidade se enchiam de gatos, símbolos de resistência em meio às adversidades. Embora o número deles tenha diminuído ao longo do tempo, os gatos modernos de Veneza são herdeiros da coragem de seus antecessores, perambulando pelas ruas estreitas e canais tranquilos, carregando consigo uma herança única e fascinante.

Na Veneza do século XVII, a cidade enfrentou um desafio sem precedentes durante a epidemia de peste bubônica entre 1630 e 1631. Em tempos sombrios, os gatos venezianos desempenharam um papel crucial na defesa da cidade, embarcando nas imbarcazioni que cruzavam os mares em direção ao Oriente. Esses gatos não eram apenas mascotes, mas guardiões essenciais contra os ratos portadores da doença.

A seleção criteriosa de raças, incluindo os destemidos "soriani" da Síria, revela a sagacidade dos venezianos na proteção de sua cidade. À medida que os barcos retornavam das longas jornadas comerciais, os gatos eram soltos pelas calle e campielli da cidade, tornando-se membros apreciados da comunidade veneziana.

Apesar de todos os esforços, a peste deixou suas marcas em Veneza, ceifando vidas e alterando irrevogavelmente o curso da história da cidade. No entanto, os gatos permaneceram, não apenas como símbolos de resistência durante tempos difíceis, mas como testemunhas peludas da resiliência de Veneza diante da adversidade.

O legado dos gatos venezianos não é apenas uma curiosidade histórica; é um testemunho vívido da ligação única entre os seres humanos e esses companheiros felinos. Mesmo agora, ao passear pelas ruas estreitas e pontes pitorescas de Veneza, é possível sentir a presença sutil, mas duradoura, dos gatos que uma vez ajudaram a cidade a enfrentar uma de suas maiores provações.

As águas serenas dos canais de Veneza refletem não apenas a arquitetura grandiosa, mas também a narrativa silenciosa dos gatos que patrulhavam os barcos e becos da cidade. Esses guardiões de quatro patas, ao desbravarem os recantos venezianos, personificam a coragem e a tenacidade que permearam a sociedade durante aquela época desafiadora. Suas pegadas, agora suaves, contam a história de uma cidade resiliente e dos laços indissolúveis entre ela e seus destemidos protetores felinos.




Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS




quinta-feira, 23 de novembro de 2023

Uma Dança de Cores, Calor Familiar e a Promessa de Novos Começos

 



Novembro, frequentemente considerado o mês mais melancólico, exala uma beleza singular. A celebração dos Mortos proporciona uma atmosfera única, mas a perspectiva que minha avó me presenteava tornava aquele momento tudo, exceto triste. A explosão de cores, das tonalidades de vermelho ao amarelo intenso, com as folhas dançando como borboletas, cria um espetáculo de transição entre o fim de uma vida e o início de outra, nos campos já semeados de trigo.

A grama intensamente verde, o musgo nos troncos e nas sombras dos riachos, tudo parecia me preparar para o iminente Natal, um verdadeiro nascimento que amplificaria meus pensamentos. O céu era sulcado por pássaros desenhando voos encantadores, fazendo-me sentir parte daquele cenário maravilhoso.

O frio penetrante não me impedia de explorar, e as bochechas avermelhadas testemunhavam as aventuras vividas. O fogo aceso pela vovó, acompanhado do crepitar das chamas na lareira, tornava-se o centro daqueles dias. Novembro era um conto de fadas pintado com a escuridão das casas iluminadas pelo calor do fogo e o aroma convidativo de castanhas no fogão.

O amarelo da polenta, cuidadosamente trazido à mesa pela vovó, tornava-se um símbolo de bênção, como um raio de sol sobre a mesa. Eu comia aquele sol de farinha com gratidão, mergulhando-o em um pequeno molho ou acompanhado de um arenque defumado grelhado. A simplicidade desses momentos, com os mais velhos ao redor e o calor das brasas sob a mesa, criava uma riqueza única.

Não havia necessidade de mais nada naqueles dias, pois o calor humano e a partilha ao redor da mesa tornavam cada momento precioso. Novembro, longe de ser triste, revelava-se como um período de profunda conexão com os outros e consigo mesmo, preparando o terreno para o próximo mês, quando o nascimento encheria de alegria os corações de todos.

Com a chegada de dezembro, a atmosfera se impregnava de uma emoção tangível. Os dias ficavam mais curtos, mas cada instante estava impregnado de uma atmosfera única. A floresta próxima, testemunha silenciosa de nossos momentos, antecipava a grande festa da natureza. Enquanto o frio apertava a terra, nossa mesa transbordava de histórias e risadas.

O calor humano, como o fogo que queimava incessantemente, tornava-se o centro dos dias. Sentados ao redor da mesa, saboreávamos a polenta dourada como se fosse um raio de sol capturado e trazido diretamente para a nossa mesa. Não precisávamos de mais nada, pois nessa refeição simples encontrávamos a riqueza da união familiar.

As noites tornavam-se mais íntimas, iluminadas apenas pela luz tremeluzente das chamas. Os momentos passados com os mais velhos sob o calor das brasas tornavam-se tesouros de sabedoria e afeto. Novembro, o mês que muitos consideravam triste, revelava-se, para mim, um período de conexão profunda com os outros e comigo mesma.

E assim, enquanto o sol de farinha iluminava nossas noites, eu sentia crescer dentro de mim a expectativa, a promessa de um novo começo iminente. Novembro, com seu encanto envolvente, estava se preparando para dar lugar a dezembro, portador de novos nascimentos e de uma alegria destinada a encher todos os corações, assim como o presente de um nascimento esperado por todos.

Com a chegada de dezembro, a atmosfera se impregnava de uma emoção palpável. Os dias ficavam cada vez mais curtos, e as luzes natalinas começavam a decorar as casas, dando um toque mágico a cada canto. Enquanto o frio abraçava a natureza em um abraço gelado, o calor humano tornava-se ainda mais envolvente.

Os preparativos para o Natal começavam a tomar forma: a árvore enfeitada, os presentes escondidos sob sua imponente forma e o aroma envolvente de doces natalinos que invadia a cozinha. Era como se cada detalhe contribuísse para criar uma atmosfera de espera, de esperança.

Naqueles dias de dezembro, a intimidade familiar tornava-se ainda mais profunda. Sentados ao redor da mesa, com os olhares voltados para a árvore cintilante, compartilhávamos histórias, sonhos e a alegria de estar juntos. A polenta dourada do mês anterior transformava-se em iguarias natalinas, e o sol de farinha tornava-se a luz que iluminava o caminho para a festa.

Os dias escorriam entre o calor das casas e as ruas iluminadas. As luzes da árvore refletiam nos olhos cheios de expectativa, antecipando o momento mágico da meia-noite de Natal. Era como se tudo, desde a preparação da comida até as decorações cintilantes, convergisse em uma única celebração de compartilhamento e amor.

E então, quando os sinos anunciavam a meia-noite de Natal, a espera atingia seu ápice. Naquele momento preciso, um novo capítulo começou a ser escrito em nossa história familiar. Um pequeno milagre, um novo nascido, portador de esperança e alegria, fez sua entrada, presenteando a todos um coração cheio de emoções indescritíveis.

À medida que os primeiros flocos de neve começavam a dançar no ar, anunciando a chegada do inverno, a magia persistia. A paisagem transformava-se em um cenário de conto de fadas, onde a neve macia cobria delicadamente cada superfície. O calor das lareiras ganhava um significado ainda mais profundo, proporcionando não apenas conforto físico, mas também um refúgio acolhedor para os corações que buscavam abrigo do frio lá fora.

As tradições de inverno tornavam-se a cola que unia gerações. As histórias à luz das chamas perduravam, agora envoltas em mantos de neve e suspiros de ar gelado. O aroma de especiarias e chocolate quente pairava no ar, elevando o espírito de celebração. Era um momento em que as fronteiras entre o interior e o exterior se dissipavam, e o calor humano criava uma barreira contra o frio impiedoso.

À medida que dezembro avançava, os preparativos para a celebração de Ano Novo ganhavam vida. O som de risos e música enchia o ar, enquanto os fogos de artifício pintavam o céu noturno com cores vibrantes. Era um momento de reflexão e expectativa, uma transição suave para um novo ano repleto de possibilidades.

Enquanto as festividades ecoavam, o ciclo anual se completava. De novembro a dezembro, a jornada era uma ode à vida, à conexão e à renovação constante. A cada estação, uma nova camada de significado era adicionada à tapeçaria da existência, formando uma história que transcenderia as páginas do calendário, ecoando eternamente nas memórias entrelaçadas de uma família unida pelo calor do amor.

Janeiro chegava com a promessa de um recomeço. Enquanto o frio do inverno se intensificava, a neve pintava os campos de um branco sereno, transformando a paisagem em um cenário de conto de fadas. As pegadas frescas na neve eram trilhas de histórias que se desenrolavam a cada novo passo.

Os dias eram curtos, mas a luz do sol refletida na neve criava uma luminosidade mágica. A lareira continuava a queimar, proporcionando calor e conforto durante os longos dias de inverno. A família se reunia ao redor do fogo, compartilhando risadas e memórias enquanto o mundo lá fora estava envolto em um silêncio tranquilo.

O aroma de sopas quentes e pães frescos preenchia a casa, criando uma sensação acolhedora. Era o momento de desacelerar, de refletir sobre o ano que passou e de traçar planos para o futuro. Janeiro, com sua serenidade e calma, convidava à introspecção, preparando o terreno para os dias mais longos que viriam.

Com a chegada de fevereiro, a expectativa do iminente despertar da primavera começava a pulsar no ar. Os primeiros sinais de vida começavam a aparecer, mesmo que timidamente. Botões de flores rompiam a superfície congelada, anunciando a renovação da natureza. Era como se a própria terra estivesse prestes a despertar de um sono profundo.

O amor estava no ar, não apenas no sentido romântico, mas na forma como a natureza se renovava e se reinventava. Os pássaros começavam a cantar canções de esperança, e a luz do sol ganhava uma qualidade mais suave. Era o prelúdio da primavera, um despertar gradual que trazia consigo a promessa de dias mais quentes e cheios de vida.

Assim, o ciclo continuava, cada mês trazendo sua própria magia e transformando a narrativa da vida em uma tapeçaria rica e intrincada. A jornada através dos meses era uma dança entre as estações, cada uma contribuindo com sua própria beleza e significado, criando uma sinfonia que ecoava através do tempo.



Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS





quarta-feira, 22 de novembro de 2023

As Artesãs da Treccia


Há muitos anos, nas pitorescas colinas do interior da província de Bologna, uma pequena comunidade de mulheres conhecidas como “le trecciaiole” desempenhava um papel vital na trama da vida local. O tecido social dessas terras estava intrinsecamente ligado ao ritmo constante das agulhas e à habilidade hábil de mãos dedicadas.


Essas mulheres, verdadeiras artistas da treccia, eram as guardiãs do saber transmitido de geração em geração. Envolvidas pela magia das vigílias invernais, suas mãos habilidosas transformavam a simplicidade da palha em intrincadas obras de arte, formando padrões de treccia que contavam histórias silenciosas de tradição e criatividade.


À luz fraca das velas, as "trecciaiole" dedicavam horas preciosas à sua arte, criando metros e metros de "treccia di paglia" que se tornariam o coração pulsante da economia local. Cada trança, uma manifestação única de destreza, era posteriormente destinada à produção de chapéus distintos, carregando consigo o orgulho de uma tradição tecida com fios de experiência e paixão.


A influência dessas mulheres transcendia as fronteiras da região, pois suas criações elegantes encontravam seu caminho para cabeças distantes, espalhando a fama das "trecciaiole" para além das colinas do interior de Bologna. As vigílias invernais não eram apenas uma expressão de trabalho árduo; eram rituais sagrados onde a história se desdobrava pelas mãos talentosas daqueles que carregavam consigo o legado das trecciaiole.


À medida que as estações mudavam, os chapéus de "treccia" celebravam a primavera com padrões florais e acolhiam o outono com tons quentes e terrosos. Cada "cappello" contava a história da natureza que o inspirou e das mãos pacientes que o teceram.


Hoje, as "trecciaiole" são mais do que meras artesãs; são guardiãs de uma tradição intemporal, cujo eco ressoa nas brisas suaves das colinas e nas histórias sussurradas pelos "cappelli" que viajam para terras distantes.


Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta / Erechim RS


terça-feira, 21 de novembro de 2023

Sobrenomes Emilianos: Tradições e Heranças da Emilia-Romagna



Provincie della Regione Emilia Romagna



Amadei-Arfelli-Artioli-Bandini-Barbieri-Barilla-Bartolini-Batelli-Benatti-Benini-Bernardi-Bertolani-Bianchi-Bocchi-Bolognesi-Bordini-Bortolotti-Bragaglia-Buccioli-Budriesi-Calzolari-Campanini-Campari-Carani-Carini-Carletti-Casadei-Casadio-Castellani-Cattani-Cavallari-Celeghini-Cesari-Cesena-Cocchi-Codeluppi-Dalle Vacche-Davoli-Degli Esposti-Dodi-Donati-Emiliani-Fabbri-Fagioli-Fantini-Fazzioli-Ferrari-Ferretti-Ferri-Forlivesi-Galloni-Gamberini-Gandolfi-Gazza-Gazzoni-Gilioli-Giovannini-Grandi-Guidi-Lambertini-Ligabue-Lolli-Lugaresi-Maccaferri-Malagoli-Malaguti-Mambelli-Mantovani-Marmiroli-Martelli-Marzetti-Massari-Mattioli-Mazzavillani-Mazzetti-Mazzini-Missiroli-Modena-Monari-Montanari-Monti-Mora-Nanni-Natalini-Neri-Paraboschi-Pasini-Patelli-Pelagatti-Pellacani-Poli-Ravaglia-Ravaioli-Reggiani-Ricci-Roda-Romagnoli-Rossi-Salicini-Sampaoli-Sarti-Semprini-Serpieri-Severi-Sidoli-Stanzani-Tabanelli-Tagliaferri-Tarozzi-Tavernari-Vaccari-Ventura-Venturi-Veronesi-Verri-Villa-Zavagli-Zavalloni-Zoli-Zucchini