sábado, 30 de abril de 2022

I Veneti in Rio Grande do Sul

 





Veneti in Rio Grande do Sul



Veneti in Rio Grande do Sul, 2006a cura di Gio vanni Meo Zilio

Quaderni dell'A.D.R.E.V. n. 11pp. 144, ISBN 978-88-8063-525-3

Settore storico a carico di:

L. DE BONI-R. COSTA, Ndemo in Merica. I Triveneti nel Rio Grande do Sul

E.L. BISOGNIN-J.V. RIGHI-V. TORRI, La presenza italiana nella Quarta Colonia del Rio Grande do Sul. Una prospettiva storica.


Settore linguistico-etnografico a carico di:


H. CONFORTIN - Luiz C. B. PIAZZETTA, Lingua, cultura, immigrazione italiana nel Rio Grande do Sul

T. MARASCHIN, Descrizione della parlata dei discendenti italiani nella città di Santa Maria, nel Rio Grande do Sul

H. SANGOI ANTUNES, L’insegnamento bilingue può essere un modello che garantisce la preservazione dei dialetti all’interno di una comunità italo-brasiliana?


Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS

segunda-feira, 25 de abril de 2022

As Quatro Fases da Imigração Italiana

 

Vademecum dei viaggi fra Italia e l'America del Sud



Para fins de estudo, podemos dividir a imigração italiana em quatro grandes fases, distribuindo-as no tempo, de acordo com seu aparecimento.

A primeira fase podemos facilmente situar entre os anos de 1875 até o último ano do século XIX. Nos primeiros anos ela se direcionou para os países mais desenvolvidos e ricos na própria Europa, como a França e a Alemanha. Países esses nos quais, já de longa data os italianos encontravam trabalho, principalmente, durante os meses de inverno, com pouco trabalho na lavoura. 

Era a chamada "immigrazione golondrina", em analogia aqueles pássaros migratórios que, todos os anos migravam e  retornavam para as suas casas. 

O número de novos emigrantes foi rapidamente aumentando e gradativamente os tradicionais países europeus de migração não tinham mais condições de absorver tanta gente. 



Imigrantes na Hospedaria




Assim, foi necessário encontrar outros países, mesmo localizados mais distantes, do outro lado do oceano, que naqueles tempos passavam por grande desenvolvimento econômico com uma crescente necessidade de mão de obra. 

Assim fluxo migratório italiano passou a se dirigir para os  jovens países da América do Sul, especialmente o Brasil e a Argentina. Alguns poucos foram atraídos para América do Norte. 

Através de movimentos organizados, muitas vezes subsidiados pelos governos desses países,  os italianos foram emigrando. Também um grande número deles saíram de forma clandestina da Itália,  viajando por conta própria, seguindo a grande onda, rumo ao tão sonhado el Dorado.

Nessa época, influenciados pela enganosa propaganda de recrutamento, o Brasil era considerado a "terra della cuccagna", o local onde todos ficariam ricos em pouco tempo. 

Para eles a cucagna nada mais era que um futuro melhor para si e para seus filhos, a possibilidade real para se tornarem proprietários  de  um pedaço de terra e não mais dividirem a colheita com um patrão.

Logo ao desembarcarem na terra prometida caíam na realidade e se davam conta do ardil usado pela propaganda de recrutamento.  

Calcula-se, com base nos registros das grandes  companhias de navegação e nos arquivos daqueles países que receberam esses imigrantes, que cerca de 5 milhões de homens, mulheres e crianças italianas nesse periodo deixaram definitivamente a Itália.

Número muito grande em relação a população total da Itália, que nesse período estava entorno de 30 milhões de habitantes. Quase 15% da sua população!


Imigrantes na Hospedaria da Ilha das Flores no Rio de Janeiro



Os fatores que levaram a esse verdadeiro êxodo, segundo Deliso Villa, somente comparado aqueles dos hebreus em sua fuga do Egito, foram principalmente aqueles de natureza sócio econômicos, em um país pobre, recém unificado, que não mais conseguia dar uma vida digna para os seus cidadãos.

Entre uma guerra civil sanguinosa, especialmente, os vênetos preferiram o caminho da emigração como forma de protesto, deixando para trás as terras onde nasceram, as suas pequenas casas, os seus amigos e entes queridos, para na maior parte das vezes, nunca mais tornarem a vê-los.  

A segunda fase compreende o período entre os anos de 1900 até 1914, quando eclodiu a I Grande Guerra Mundial. Entre esses anos deixaram a Itália um número calculado de 9 milhões de pessoas, o equivalente aproximadamente a um quarto da população total do país.

Nessa fase predominaram os emigrantes do centro sul da Itália, expulsos de suas terras devido inúmeros fatores, entre eles o empobrecimento cada vez maior do campo e, sem encontrarem uma alternativa de trabalho no setor industrial, ainda incipiente, foram obrigados a emigrar.

A terceira fase está situada no período compreendido entre o fim da primeira guerra mundial em 1918 e o início da segunda grande guerra em 1939. 

Essa fase se caracterizou por oscilações da economia de vários países europeus e americanos, o crack da bolsa de 1929 e a ascensão do fascismo, com a sua política contrária a emigração, fez com que se arrefecesse o fluxo de saída dos italianos para países extra europeus.

A tentativa grotesca de expansionismo fascista, nos moldes imperialistas já obsoletos, se caracterizou por movimentos migratórios de milhares de italianos em direção ao norte da África. 

Na Europa, a emigração italiana ficou restrita principalmente à França e à Alemanha, para onde se dirigiram em milhares após o fim dos conflitos da primeira grande guerra. 

Nesse período de vinte anos, segundo estimativas oficiais, cerca de 3 milhões de italianos abandonam o país. 

A quarta fase é aquela qua se seguiu ao fim da segunda grande guerra em 1945 até 1970, período no qual a Itália e todo o mundo experimentou profundas mudanças econômicas sociais e políticas. 

Nesses 25 anos voltou a crescer o fluxo emigratório italiano, especialmente de habitantes do sul do país, região que demorou um pouco mais para acompanhar o crescimento econômico da Itália pós guerra.

Os destinos preferidos nesse período foram para os tradicionais países da Europa: França, Alemanha, Suiça e Bélgica. Aqueles fluxos destinados para além do oceano seguiram para os países sulamericanos e agora também para a Austrália.

Nesse período os dados oficiais estimam que cerca de 7 milhões de italianos deixaram o país.

Em cem anos à partir da unificação italiana, deixaram o país cerca de 30 milhões de pessoas, que se estabeleceram em novas terras, fixando-se em diversas partes do mundo e após um período inicial de grandes dificuldades e provações a grande maioria deles encontrou a tão sonhada cucagna

Hoje os italianos e seus descendentes espalhados pelo mundo já somam mais de cem milhões de pessoas, um número total maior que a população atual da Itália.



Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS


quinta-feira, 21 de abril de 2022

As Vilas Palladianas no Vêneto

 


Ao longo da sua profícua vida profissional como arquiteto, Andrea Palladio projetou mais de vinte vilas na República de Veneza. Entre elas podemos lembrar de:


Villa La Retonda



A Villa Capra, conhecida mais tarde por La Retonda, se ergue em uma pequena colina perto de Vicenza. É talvez a mais conhecida e famosa de todas as vilas projetadas por Andrea Palladio. Foi construída nos primeiros anos da segunda metade do século XVI e recebeu este nome por ter sido comissionada por Monsenhor Almerico Capra, para ser a sua residência. É hoje uma construção reconhecida pela UNESCO como patrimônio mundial da humanidade.


Villa Angarano


Localizada em Bassano del Grappa, província de Vicenza, foi a residência de Giacomo Angarano. Sua arquitetura foi bastante modificada durante os anos seguintes a sua construção, perdendo muito das características originais, mas, ainda assim mantendo muitos traços do seu criador. As alas laterais são claramente de Palladio e o corpo da construção é obra de Baldassare Longhena, realizar no século XVI.



Villa Chiericati



A Villa Chiericati está situada em Vancimuglio, uma pequena localidade do município de Grumolo delle Abbadesse, Província de Vicenza. Foi projetada pelo arquiteto Andrea Palladio em 1550 e concluída postumamente em 1584. A sua construção foi comissionada por Giovanni Chiericati para ser a sua residência. Faleceu antes de nela morar e a construção não estava totalmente acabada. O novo proprietário Ludovico Porto, em 1574, contratou Domenico Groppino, para a conclusão das obras, o qual anteriormente já havia colaborado com Palladio.


Villa Godi Valmarana

A Villa Godi está situada em Lugo de Vicenza, na província de Vicenza. Foi um dos primeiros projetos do famoso arquiteto, tendo sido descrita em seu livro "Quattro libro d'Architetura" onde trata de teorias da arquitetura. A construção foi comissionada pelos irmãos Girolamo, Pietro e Marcantonio Godi e iniciada em 1542, sofrendo modificações posteriores sobre a entrada e nos jardins internos. Abriga hoje um Museu Paleontológico.
 

Villa Thiene


Está localizada no município de Quinto Vicentino, província de Vicenza. Foi construída para Marcantonio e Adriano Thiene, por Andrea Palladio após 1542, provavelmente se baseando em projeto de Giulio Romano. Foi posteriormente remodelada após 1740, por Francesco Muttoni, que deu o seu aspecto atual. 

Villa Trissino




A Villa Trissino está localizada em Cricoli, perto de Vicenza, construída em grande parte no século XVI. Foi a residência do literato e humanista Gian Giorgio Trissino. 

Villa Saraceno

Localizada em Agugliaro, província de Vicenza, construída para Biagio Saraceno entorno de 1548.


Villa Valmarana



A Villa Valmarana, construída na localidade de Vigardo, no município de Monticello Conte Otto, província de Vicenza. Também é conhecida como Villa Valmarana Bressan foi projetada por Andrea Palladio provavelmente em 1542, para os primos Giuseppe e Antônio Valmarana e tinha a finalidade de abrigar as duas famílias.

Villa Barbaro




Conhecida também como Villa Volpi ou Villa de Maser, está localizada neste município da província de Treviso. Projetada por Andrea Palladio entre os anos de 1554 e 1560 para os irmãos Daniele Barbaro e Marcantonio Barbaro, membros de uma nobre família veneziana que já de longa data exerciam importantes cargos no governo da Sereníssima República de Veneza. 



Villa Emo


Localizada em Fanzolo di Vedelago, província de Treviso, foi projetada em 1559 para a família Emo de Veneza. Ainda permanece tal como quando foi concluído e sempre pertenceu à família Emo até ser vendido em 2004.


 

 



segunda-feira, 18 de abril de 2022

As Remessas de Recursos dos Imigrantes Italianos para a Itália

Caxias no início do século XX


Remessas são os rendimentos que os emigrantes enviavam para a Itália em moedas de ouro e vales postais. Eram utilizados para quitar dívidas, elevar o padrão de vida da família e também para pequenos investimentos em terras. Depósitos postais e bancários, compra de títulos remunerados e instrumentos de crédito. Aumento das reservas de ouro italiano, contribuição para os ativos da balança de pagamentos italiana. 

De fato, os emigrantes, durante o seu período de trabalho no exterior, enviaram de  lá grande parte das suas poupanças, tanto para investimento, principalmente em terras, como também para melhorar as condições de vida dos seus entes queridos que permaneceram em casa. Será graças a essas grandes remessas que a emigração italiana representou um importante instrumento para o nascimento do capitalismo e da industrialização italianos, a que a Itália se valeu para seu próprio desenvolvimento econômico. A importância dessas remessas  para impulsionar a incipiente economia italiana, podemos avaliar pelas declarações de um ministro no parlamento do país que se referia a elas como "un vero ruscello d'oro" (um verdadeiro riozinho de ouro). 

Nos últimos anos do século XIX e as primeiras décadas do século XX, as remessas  de valores realizadas pelos milhares de emigrantes italianos espalhados pelo mundo desempenharam um papel fundamental na história econômica italiana, atuando como uma espécie de carta na manga da sua industrialização em particular na fase de decolagem industrial durante a era Giolitti. Este foi um momento muito delicado para um país que chegava atrasado à industrialização e em muitas ocasiões  precisava importar bens de consumo e capitais, mas, por outro lado ainda não conseguia garantir exportações de igual valor, tendo assim um grande déficit na balança de pagamentos. As remessas, enviadas pelos  emigrantes para os seus parentes que permaneceram na Itália, chegaram a cobrir, nesses anos, mais da metade da parte ativa do balanço de pagamentos, o que possibilitava fazer frente à importação de matérias-primas e bens de capital indispensáveis ​​às necessidades cada vez maiores da produção industrial. Por outro lado, as numerosas comunidades de emigrantes italianos no exterior, uma vez transplantadas para os países de destino, abriram ou alargaram as portas dos mercados locais para as exportações italianas, da alimentação aos têxteis. As remessas, embora tenham tido maior importância na fase de decolagem industrial, assumem importância também em outras fases do crescimento econômico caracterizadas por um déficit comercial crescente, como por exemplo nos anos entre 1955 e 1963. Nos primeiros 15 anos do século XX, o montante de remessas vindas das comunidades italianas no exterior excedia a receita anual tributada diretamente pelo Estado italiano. Nesse mesmo período, existia a figura do emigrante temporário, um jovem do sexo masculino de família de pequenos agricultores, deixando uma família em precárias condições econômicas. Esta condição familiar e social determinava uma forte propensão à economizar para ajudar os seus entes queridos que permaneceram na Itália. 


Caxias no final do século XIX


No caso do sul da Itália, já a partir de 1865, quando a fome castigava a muito tempo os seus casebres, os pequenos agricultores das províncias meridionais foram empurrados, em direção à emigração, como um último e desesperado remédio. Os primeiros a emigrarem foram os homens solteiros e os viúvos, depois os pais de família. Nesse tempo eram frequentes os despachos do exterior de vales postais, desde os países onde os que já tinham emigrado estavam assentados, para os membros da família que permaneceram no locais de origem. No começo as remessas chegavam à Itália por vale postal, mas os correios só existiam nas grandes cidades e muitas vezes estavam ausentes nos centros de mineração e das fazendas de café onde os emigrantes italianos tinham sido levados. No caso da emigração italiana para os Estados Unidos,  os funcionários falavam inglês e isso se constituía em um sério obstáculo para pessoas que só falavam seu dialeto de origem. Dos 25 a 30 milhões de dólares que no ano de 1893 o Comitê de Emigração do senado americano acreditava terem sido enviados para a Itália, apenas alguns milhões passaram pelos correios americanos. Para o grosso das remessas, outros canais foram usados: às vezes as notas eram fechadas em envelopes comuns de cartas, mas, principalmente, através de pequenos bancos italianos, muitas vezes nos limites da legalidade. Os abusos e fraudes foram numerosos e foram relatados pelo Departamento do Trabalho e pela imprensa dos Estados Unidos. Muitas vezes, personagens ambíguos que haviam se improvisado como banqueiros recebiam mais de uma comissão, trapaceavam de várias maneiras e às vezes desapareciam com o dinheiro confiado. Em 1894, em Boston, cerca de 4 banqueiros haviam se tornado os protagonistas de grandes golpes, apropriando-se de grandes somas de depósito para serem remetidas à Itália. No entanto, é preciso enfatizar que nem todos os bancos estavam envolvidos em fraudes, havia também os convencionais. Por exemplo, uma agência napolitana de um banco suíço, que recebia anualmente uma média de 30 a 45 milhões de liras, diretamente de suas agências instaladas nos Estados Unidos. Uma lei promulgada em fevereiro de 1901 interveio exatamente para proteger as economias dos emigrantes e facilitar o fluxo de remessas para a Itália. O Banco di Napoli foi encarregado de substituir os chamados "banqueiros italianos" com serviços próprios em todos os centros onde as comunidades italianas estavam presentes, o que reduziu os custos de envio das remessas. A referida lei pretendia proteger os imigrantes e as suas poupanças, mas, também incentivar a chegada de remessas, tão importantes para a economia italiana da época. Um levantamento mais preciso feito nesses anos pelo Banco da Itália mostrou que as remessas no período ultrapassavam em muito 400 milhões por ano, aos quais se deve somar os valores enviados por  vale postal, através de bancos italianos e as remessas que os emigrantes enviaram através de  cartas às suas famílias na Itália, chegando a um total de mais de 500 milhões por ano. Destes, pelo menos 350 milhões foram para as regiões do Sul da Itália, protagonistas da emigração naquele período. 

Essas remessas foram usadas para: 

1- Parar a queda. Não se tratava de tentar melhorar a situação financeira da família, mas de saldar dívidas bloqueando assim a queda social. As dívidas a pagar podem ser as devidas a proprietários ou ainda aquelas contraídas para financiar a emigração, muitas vezes recorrendo a verdadeiros usurários. Só depois disso foi possível tentar sair da situação de subconsumo alimentar.

2- Consolidar o status. Significava pagar impostos em dia e comprar uma casa.

3-  Elevar o status. É uma questão de expandir e diferenciar o consumo de alimentos, comprar gado, ampliar a propriedade comprando terras.

4- Depósitos de remessas em correios, contas correntes ou títulos remunerados; compras de títulos de dívida pública ou depósitos em bancos locais.


Após o nascimento do Reino da Itália, aconteceu o primeiro censo demográfico (1861), segundo o qual os italianos eram mais de 24 milhões. Os primeiros dados relativos à emigração também emergiram das estatísticas nacionais: os italianos residentes no exterior eram 220.000, dos quais cerca de 120.000 na Europa e na África mediterrânea (especialmente Tunísia e Egito) e cerca de 100.000 nas duas Américas. Especificamente, o Anuário Estatístico de 1861 registrou 220.000 italianos residentes no exterior, dos quais 77.000 na França, 14.000 na Suíça, 12.000 no Egito, aproximadamente 6.000 na Tunísia, 100.000 nas duas Américas (47.000 nos Estados Unidos, aproximadamente 18.000 no Brasil e na Argentina), e também foi registrado que, na grande maioria, os emigrantes eram das províncias  do centro-norte. 






sexta-feira, 15 de abril de 2022

Os Agricultores Italianos no Brasil




Os primeiros assentamentos de imigrantes do Brasil foram fundados nas províncias do Rio de Janeiro e de São Pedro do Rio Grande do Sul - Nova Friburgo e São Leopoldo respectivamente, surgindo o primeiro em 1818 e o segundo em 1824, formados principalmente por colonos alemães e suíços.


Na época, o governo brasileiro havia planejado uma colonização progressiva das terras, que seria implementada por meio da abertura de colônias habitadas por trabalhadores de nacionalidade majoritariamente alemã; no entanto, os resultados foram bastante decepcionantes sobretudo pela dificuldade de comunicação e entrosamento com as comunidades luso-brasileiras, com o perigo da formação de cistos étnicos dentro do país. 


Os alemães, alegavam então as autoridades brasileiras encarregadas da imigração, tinham a tendência de se manterem isolados do resto da população, falando somente a sua língua e dificilmente se misturando com outros povos além do fato de serem protestantes.
Eles logo foram substituídos preferencialmente pelos imigrantes italianos, mais dóceis e cordatos, além de católicos de religião.


Em 1836, cerca de cinquenta colonos provenientes da Região da Liguria se estabeleceram no vale do Iguaçu ao norte da província de Santa Catarina, provenientes da Argentina, atraídos pelas notícias dos jornais locais, que falavam da possibilidade de enriquecer facilmente nesses lugares indo em busca de ouro e diamantes; no entanto, eles se voltaram para a atividade agrícola e fundaram a pequena colônia da Nova Itália. Após a crise econômica na Argentina, o fenômeno teria se repetido por diversas vezes. 


A colonização agrária do final do século XIX no Brasil se configura como uma verdadeira conquista da terra incentivada pelo próprio Estado brasileiro, que precisava de mão de obra para aproveitá-la. Para resistir às duras condições da floresta, manter a identidade e as tradições eram vitais o que fazia das colônias núcleos bastante unidos. As congregações religiosas tiveram um papel importante na fixação e desenvolvimentos dessas colônias. 


No Brasil, uma grande parte da emigração de colonos italianos ficou concentrada no Rio Grande do Sul, onde surgiram grandes assentamentos formados principalmente por trentinos e vênetos, que desembarcaram em Porto Alegre em 1875 passando a povoar as extensas áreas do planalto interno. 


Esses pioneiros preservaram intacta, além das técnicas e hábitos rurais como da viticultura, a estrutura arquitetônica típica dos campanários vênetos e o uso do dialeto, que para se entenderem, aos poucos foi evoluindo dando lugar a uma língua comum, o Talian, usado por todos os descendentes italianos no estado. Ele é formado por palavras e modos de dizer dos diversos grupos italianos que aqui se estabeleceram.


O elemento religioso foi decisivo na construção das colônias brasileiras, especialmente aquelas dos vênetos: em cada uma delas havia pelo menos um grupo de padres, seguidos de freiras encarregadas da assistência social e escolar, contratadas por irmandades especiais italianas, também dedicadas a incentivar a emigração e pelas congregações dos Jesuítas, Capuchinhos, Salesianos ou irmãs vicentinas.


Este último organizou cursos de economia doméstica para preparar futuras donas de casa experientes, que teriam que se estabelecer nas novas fazendas ítalo-brasileiras.


O impacto que tiveram os colonos italianos ao chegarem no planalto do Rio Grande do Sul não foi muito animador, o local destinado aos colonos, as colônias, era desolado, cercado por uma densa mata virgem, repleta de árvores de tamanho descomunal para eles e de animais desconhecidos, alguns perigosos, desprovido de estradas e de qualquer outro conforto. 


Os colonos italianos tiveram que abrir picadas dentro dessas densas matas e com a madeira obtida com a derrubada construíram suas primeiras moradias. Para aliviar o sofrimento, as primeiras concessões de terras foram rapidamente reconhecidas pelo governo brasileiro e eles se tornaram proprietários dos seus lotes de terra. 


O isolamento e o rápido crescimento populacional das colônias, onde os casais tinham muitos filhos, logo se incrementaram as relações entre as famílias através do casamento. 


Várias famílias chegaram da Itália com dezenas de indivíduos e após alguns anos já somavam centenas de componentes. 









Uma das principais atividades dos agricultores emigrantes do Trentino-Veneto era a produção de vinho. No RS existem dezenas de vinícolas de sucesso que produzem vinhos renomados em todo o mundo. As mudas de parreiras foram trazidas na bagagem pelos primeiros emigrantes vênetos e trentinos. Assim, logo ao chegarem, plantaram castas de uvas como o cabernet, pinot e o tocai, cultivados com no mesmo sistema de terraços e pérgulas encontrados na Itália.






Uma emigração subsequente, composta principalmente por agricultores do centro e do sul da Itália, rumou para o Estado de São Paulo, para substituir a mão de obra dos escravos negros, nas plantações de algodão e café. 


Muitos italianos do sul chegaram, se instalando tanto nas cidade, onde se sujeitavam a empregos mais humildes e arriscados, como nas enormes plantações de café, onde viviam em condições de semiescravidão. 


Esses imigrantes trabalhavam, para um patrão fazendeiro proprietário da terra, na coleta e beneficiamento do café, sendo por contrato obrigados a cuidar de alguns milhares de pés.


Para eles era praticamente impossível comprar uma pequena propriedade como no sul do Brasil. Só podiam abandonar as terras do patrão após o pagamento total das dívidas contraídas, sob pena de estarem infligindo a lei. 


Ganhavam muito pouco, o estritamente necessário para a subsistência. O pouco que sobrava ainda devia consumir dentro da própria fazenda, onde adquiria do proprietário, tudo o que era necessário para ele e a família viverem. 


Um número significativo de imigrantes italianos morreram nessas fazendas precisamente por causa das duras condições de vida que lhes foram impostas e muitos outros, desiludidos, retornaram para a Itália. Na prática, eles assinaram um contrato de escravidão legalizada.


O boom da cafeicultura brasileira e a crise econômica argentina direcionaram muitos emigrantes italianos, na década de 1890, principalmente para o Brasil, incentivados tanto pelo governo daquele estado em busca de mão de obra barata, tanto pelo italiano ao facilitar a emigração.


Essas condições de vida e trabalho estavam longe daquilo que tinha sido apregoado pelos recrutadores na Itália.


Foi a abolição da escravidão em 1871, concedida pelo governo brasileiro aos filhos de escravos, que abriu as portas para a emigração italiana em massa para o Brasil. A partir daquele momento a maioria dos ex-escravos abandonou a dura vida das fazendas. 

Os fazendeiros vendo diminuir a sua mão de obra necessária para o cultivo do açúcar, café e algodão solicitaram ao governo imperial o recrutamento de agricultores do norte da Europa que não se adaptaram e foram rapidamente substituídos pelos italianos.

Em 1887, mais de trinta mil emigrantes chegaram ao Brasil para trabalhar nas fazendas. Em pouco mais de dez anos esse número já alcançava noventa e sete mil.

Diante das condições insuportáveis a que estavam sendo tratados os imigrantes nas fazendas de café de São Paulo, em 1902, o governo italiano promulgou o Decreto Prinetti para controlar e reduzir a emigração para este estado do Brasil, proporcionando também aos emigrantes uma assistência e proteção. 

Com o passar do tempo, uma parte desses trabalhadores das fazendas conseguiram melhorar suas condições de vida e, em muitos casos, comprar pequenos lotes de terra no entorno de cidades vizinha a fazenda onde tinham trabalhado. Plantavam e vendiam o produto de seu trabalho nas cidades e muitos outros se empregavam nas indústrias locais.

Alguns, mais audazes, quase sempre dominando alguma profissão, iniciaram pequenos comércios nas mais variadas áreas, que aos poucos se transformaram em grandes industrias, características das cidades do interior paulista.

No Brasil o papel da igreja e das ordens religiosas foi muito importante, proporcionando apoio e ajuda aos imigrantes.

Na Argentina essa ajuda veio sobretudo das autoridades seculares, como armadores e comerciantes genoveses, muitas vezes filiados à Maçonaria local da antiga tradição do Risorgimento, com fins paternalistas e muitas vezes lucrativos.


quarta-feira, 13 de abril de 2022

Os Sobrenomes no Vêneto

Os Sobrenomes Vênetos

 


Na região do Vêneto ainda hoje se usa no dia a dia das pessoas o belo dialeto da Sereníssima República de Veneza. Uma grande parte dos sobrenomes presentes no Vêneto tem a sua origem nessa forma de falar e foram muito menos "italianizados", durante o passar dos anos, do que em outras regiões do país.

Nos dias de hoje, os sobrenomes mais comuns no Vêneto se distinguem entre aqueles que mantêm a consoante final (especialmente o -n), aqueles com a preposição "dal" ou o sufixo "ato" e aqueles presentes por toda a Itália derivados de profissões, lugares e apelidos.

Muitos dos sobrenomes terminados em "n" indicam procedência, um lugar de origem dos primeiros portadores, como: Bressan, Visentin, Schiavon, Furlan, Pavan, Trevisan, Trentin.

Muitos outros sobrenomes tem suas origens em antigas profissões comuns em todo o Vêneto, como Ferrari, Favero, Favaretto, Fabri (fabro= ferreiro) ou (Ferèr=ferreiro), Boscolo (lenhador), Masiero (meeiro), locais de moradia ou de características físicas do indivíduo: Piazzetta (pracinha), Marangon (carpinteiro), Zanchetta e Zanco (coxo), Moro (escuro), Pippo (Filippo), Basso (baixo), Globo (corcunda).


Outros se originaram de nomes próprios muitas vezes no diminutivo: Zambom, Zanini, Zanin, Zanon, Zanetti, Zampieri, Zanatta (Giovanni). Os derivados de nomes e apelidos Pietro (Perin, Perini), Lorenzon (Lorenzo), Martini (Martino), Figro (Federico), Vianello (Viviano). 

Outros se caracterizam pela presença de "dal" antes dos sobrenomes, forma típica encontrada na província de Belluno e região do Friuli: Dal Castel, Dal Molin, Dal Lago, Dal Medico, Dal Zotto, Dal Corso.

Os sobrenomes terminados pelo sufixo "ato" são muito típicos da região do Vêneto, indicam descendência familiar ou um diminutivo: Simionato, Bonato, Volpato, Marcato.



Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS


segunda-feira, 11 de abril de 2022

A Prática Médica nas Colônias Italianas do Rio Grande do Sul

Benzedeira

 


Durante todo o período imperial o Brasil teve uma grande escassez de médicos com formação universitária, que continuou mesmo ainda quando já no período da república, e foi especialmente mais sentida no interior da província do Rio Grande do Sul, onde estavam instaladas as diversas colônias de imigrantes italianos.

Nos primeiros anos da imigração, quando alguém adoecia era tratado por membros da própria família, geralmente os mais idosos, usando chás e outros procedimentos apreendidos ainda quando na Itália, como algumas simpatias, e transmitidos oralmente nas várias gerações. Quase sempre se tratava de pequenos ferimentos, fraturas de costelas, intoxicações alimentares, doenças virais da infância ou mesmo as causadas por picadas de animais peçonhentos. 

Quando o doente não melhorava ou a doença era mais grave como uma grande fratura de membros, eram levados para serem tratados pelo curandeiro, a benzedeira ou os chamados "giustaossi".


Curandeira



Mesmo anos depois, quando até já existiam médicos, se bem que estes estavam quase muito sempre distantes das colônias, o imigrante ainda continuava procurando o atendimento dos curandeiros, giustaosssi ou benzedeiras no lugar daquele do médico. Tinham muito mais confiança nos curandeiros do que nos verdadeiros médicos. Muitas vezes essa preferência era devido ao alto preço das consultas e dos tratamento que os médicos praticavam.

Outro fator que prolongou a escassez de médicos no estado é que o Rio Grande do Sul demorou mais que outros estados brasileiros para ter uma escola de medicina. Os poucos médicos formados que existiam, e somente se concentravam nas cidades maiores, eram quase sempre italianos, diplomados em universidades da Itália e que, por diversos motivos, resolveram seguir o caminho dos imigrantes para darem início as suas vidas profissionais.

A maioria deles depois de uma quase sempre breve experiência de trabalho no Brasil, retornavam para a Itália após alguns anos.

Os imigrantes italianos, principalmente pela ignorância, eram bastante sugestionáveis e místicos, acreditando em magias e benzimentos executados por charlatães, não só para o tratamento dos seus males como também para apaziguar o clima, obter boas colheitas, proteger os animais de doenças e as culturas de pragas. 

Para ele as relíquias religiosas e também as imagens de santos tinham o poder de curar doenças e aliviar sofrimentos, mesmo as doenças físicas. Nos altares das benzedeiras era comum a presença de inúmeras imagens de santos da igreja católica (mais tarde associavam divindades do candomblé trazidas pelos negros) que, segundo esses curandeiros, ajudavam no processo de cura.

Nas colônias italianas do Rio Grande do Sul, todas localizadas em extensas regiões remotas do estado, desprovidas de estradas, circundadas por uma floresta densa, onde um vizinho morava bem distante do outro, nos primeiros anos os imigrantes italianos tiveram que enfrentar muitas dificuldades. Entre elas a necessidade de lidar com as doenças (muitas vezes já chegavam doentes após a longa viagem desde a Itália), as epidemias, a escassez de quase tudo e também com a insegurança.

Com a falta de médicos o recurso foi apelar para as benzedeiras e curandeiros, que já eram muito procurados pelos habitantes locais, os caboclos, negros e mestiços, que desde sempre se valiam deles nos momentos de dor.

Tomando as devidas proporções ainda nos dias de hoje essas crendices são muito populares entre os seus descendentes.

Pouco se sabia sobre as doenças e mesmo sobre o próprio corpo. Assim, a busca para a cura se fazia através de orações e de rituais trazidas do velho continente. Os imigrantes se tratavam na própria casa com benzimentos, chás e infusões aprendidas ainda na Itália ou com com os nativos brasileiros.

Entre os imigrantes italianos, quase sempre eram as mulheres que se destacavam nessas práticas de cura. Eram elas as responsáveis pelas rezas, pela escolha das ervas adequadas à cada doença e ministrarem os chás e infusões aos enfermos. 

As mulheres, principalmente as mais velhas sempre exerceram um papel fundamental como verdadeiras guardiãs da memória da própria família e de outros membros do grupo. Eram elas as responsáveis por passar adiante as tradições.

Muito raramente este trabalho estava nas mãos dos homens.



Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS


 




sábado, 9 de abril de 2022

O Decreto Prinetti e a Imigração Italiana

 

Pequenos Imigrantes frente a sua escola no Brasil


Tendo em vista o grande número de denúncias provenientes do Brasil feitas por imigrantes italianos e padres, especialmente aqueles encaminhados para a província de São Paulo, o governo italiano, depois de aprovação do Comissariado Geral da Emigração emitiu, em 26 de março de 1902, o chamado Decreto Prinetti, que proibia a emigração subvencionada para o Brasil. 

Esta portaria ministerial recebeu o nome do então Ministro do Exterior da Itália, Giulio Prinetti. A sua aprovação se deu devido a um relatório sobre as condições de trabalho a que estava sujeitos os imigrantes italianos nas fazendas brasileiras.

O relatório denunciava as situações a que estavam sendo submetidos os imigrantes nas fazendas de café.


Imigrantes italianos no refeitório



O decreto proibia a emigração subsidiada para o Brasil, porém, não restringiu a migração expontânea: aqueles italianos que quisessem emigrar para o Brasil teriam que comprar suas próprias passagens e não mais depender da passagem paga pelo governo brasileiro. 

Nas últimas décadas do século XIX, várias companhias de navegação, não somente aquelas italiana, obtiveram licença do governo italiano para transportar imigrantes que tinhas as passagens pagas pelo governo da Província de São Paulo. A esse processo dava-se o nome de emigração subsidiada. 


Imigrantes italianos na colheita do café em São Paulo



O Brasil, com a abolição da escravidão, perdia boa parte da mão de obra para as suas grandes plantações de café, algodão e cana de açúcar.  O aliciamento de agricultores italianos foi a solução encontrada.

Rapidamente as companhias de navegação passaram a aliciar camponeses por toda a Itália através de uma grande rede de agentes que, com mentiras faziam a cabeça dos mais pobres para emigrarem. Era o início de um novo modelo de tráfego humano.

Durante muitos anos o governo não se importou com a emigração, mesmo quando estavam partindo milhares de agricultores. Pelo contrário, via com bons olhos e até incentivava a colossal partida naquele momento de depressão econômica pois, seriam evitados distúrbios internos que aquela massa de desempregados descontentes certamente provocaria, mantendo-se assim o equilíbrio social. 

Também viam com satisfação que os emigrantes, com as suas regulares remessas de valores, engordavam a economia italiana.  

Os colonos italianos ao chegarem nas fazendas encontravam péssimas condições de vida, locais isolados distantes dos centros urbanos, sem assistência médica, sem escola para os filhos, moradias pequenas e insalubres sem as mínimas condições de higiene. 

No trabalho os imigrantes sofriam abusos, inclusive com violências e uso de chicotes, dos capatazes e também de alguns fazendeiros, acostumados até então a lidar somente com escravos e não com seres humanos livres.

Durante os trabalhos nas lavouras os capatazes vigiavam os colonos durante toda a jornada. Da mesma forma eram também vigiadas as suas atividades familiares e sociais.

Os imigrantes eram também explorados economicamente sofrendo multas por motivos fúteis, retenção do salário, confisco de seus produtos e adulteração de pesos e medidas. 

Não havia para o colono qualquer proteção legal contra esses abusos praticados pelos fazendeiros.

À partir desse decreto o Brasil deixou de ser um destino atraente para os emigrantes italianos, principalmente para o estado de São Paulo, que sentiu economicamente a brusca queda na migração italiana.




Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS