sexta-feira, 15 de abril de 2022

Os Agricultores Italianos no Brasil




Os primeiros assentamentos de imigrantes do Brasil foram fundados nas províncias do Rio de Janeiro e de São Pedro do Rio Grande do Sul - Nova Friburgo e São Leopoldo respectivamente, surgindo o primeiro em 1818 e o segundo em 1824, formados principalmente por colonos alemães e suíços.


Na época, o governo brasileiro havia planejado uma colonização progressiva das terras, que seria implementada por meio da abertura de colônias habitadas por trabalhadores de nacionalidade majoritariamente alemã; no entanto, os resultados foram bastante decepcionantes sobretudo pela dificuldade de comunicação e entrosamento com as comunidades luso-brasileiras, com o perigo da formação de cistos étnicos dentro do país. 


Os alemães, alegavam então as autoridades brasileiras encarregadas da imigração, tinham a tendência de se manterem isolados do resto da população, falando somente a sua língua e dificilmente se misturando com outros povos além do fato de serem protestantes.
Eles logo foram substituídos preferencialmente pelos imigrantes italianos, mais dóceis e cordatos, além de católicos de religião.


Em 1836, cerca de cinquenta colonos provenientes da Região da Liguria se estabeleceram no vale do Iguaçu ao norte da província de Santa Catarina, provenientes da Argentina, atraídos pelas notícias dos jornais locais, que falavam da possibilidade de enriquecer facilmente nesses lugares indo em busca de ouro e diamantes; no entanto, eles se voltaram para a atividade agrícola e fundaram a pequena colônia da Nova Itália. Após a crise econômica na Argentina, o fenômeno teria se repetido por diversas vezes. 


A colonização agrária do final do século XIX no Brasil se configura como uma verdadeira conquista da terra incentivada pelo próprio Estado brasileiro, que precisava de mão de obra para aproveitá-la. Para resistir às duras condições da floresta, manter a identidade e as tradições eram vitais o que fazia das colônias núcleos bastante unidos. As congregações religiosas tiveram um papel importante na fixação e desenvolvimentos dessas colônias. 


No Brasil, uma grande parte da emigração de colonos italianos ficou concentrada no Rio Grande do Sul, onde surgiram grandes assentamentos formados principalmente por trentinos e vênetos, que desembarcaram em Porto Alegre em 1875 passando a povoar as extensas áreas do planalto interno. 


Esses pioneiros preservaram intacta, além das técnicas e hábitos rurais como da viticultura, a estrutura arquitetônica típica dos campanários vênetos e o uso do dialeto, que para se entenderem, aos poucos foi evoluindo dando lugar a uma língua comum, o Talian, usado por todos os descendentes italianos no estado. Ele é formado por palavras e modos de dizer dos diversos grupos italianos que aqui se estabeleceram.


O elemento religioso foi decisivo na construção das colônias brasileiras, especialmente aquelas dos vênetos: em cada uma delas havia pelo menos um grupo de padres, seguidos de freiras encarregadas da assistência social e escolar, contratadas por irmandades especiais italianas, também dedicadas a incentivar a emigração e pelas congregações dos Jesuítas, Capuchinhos, Salesianos ou irmãs vicentinas.


Este último organizou cursos de economia doméstica para preparar futuras donas de casa experientes, que teriam que se estabelecer nas novas fazendas ítalo-brasileiras.


O impacto que tiveram os colonos italianos ao chegarem no planalto do Rio Grande do Sul não foi muito animador, o local destinado aos colonos, as colônias, era desolado, cercado por uma densa mata virgem, repleta de árvores de tamanho descomunal para eles e de animais desconhecidos, alguns perigosos, desprovido de estradas e de qualquer outro conforto. 


Os colonos italianos tiveram que abrir picadas dentro dessas densas matas e com a madeira obtida com a derrubada construíram suas primeiras moradias. Para aliviar o sofrimento, as primeiras concessões de terras foram rapidamente reconhecidas pelo governo brasileiro e eles se tornaram proprietários dos seus lotes de terra. 


O isolamento e o rápido crescimento populacional das colônias, onde os casais tinham muitos filhos, logo se incrementaram as relações entre as famílias através do casamento. 


Várias famílias chegaram da Itália com dezenas de indivíduos e após alguns anos já somavam centenas de componentes. 









Uma das principais atividades dos agricultores emigrantes do Trentino-Veneto era a produção de vinho. No RS existem dezenas de vinícolas de sucesso que produzem vinhos renomados em todo o mundo. As mudas de parreiras foram trazidas na bagagem pelos primeiros emigrantes vênetos e trentinos. Assim, logo ao chegarem, plantaram castas de uvas como o cabernet, pinot e o tocai, cultivados com no mesmo sistema de terraços e pérgulas encontrados na Itália.






Uma emigração subsequente, composta principalmente por agricultores do centro e do sul da Itália, rumou para o Estado de São Paulo, para substituir a mão de obra dos escravos negros, nas plantações de algodão e café. 


Muitos italianos do sul chegaram, se instalando tanto nas cidade, onde se sujeitavam a empregos mais humildes e arriscados, como nas enormes plantações de café, onde viviam em condições de semiescravidão. 


Esses imigrantes trabalhavam, para um patrão fazendeiro proprietário da terra, na coleta e beneficiamento do café, sendo por contrato obrigados a cuidar de alguns milhares de pés.


Para eles era praticamente impossível comprar uma pequena propriedade como no sul do Brasil. Só podiam abandonar as terras do patrão após o pagamento total das dívidas contraídas, sob pena de estarem infligindo a lei. 


Ganhavam muito pouco, o estritamente necessário para a subsistência. O pouco que sobrava ainda devia consumir dentro da própria fazenda, onde adquiria do proprietário, tudo o que era necessário para ele e a família viverem. 


Um número significativo de imigrantes italianos morreram nessas fazendas precisamente por causa das duras condições de vida que lhes foram impostas e muitos outros, desiludidos, retornaram para a Itália. Na prática, eles assinaram um contrato de escravidão legalizada.


O boom da cafeicultura brasileira e a crise econômica argentina direcionaram muitos emigrantes italianos, na década de 1890, principalmente para o Brasil, incentivados tanto pelo governo daquele estado em busca de mão de obra barata, tanto pelo italiano ao facilitar a emigração.


Essas condições de vida e trabalho estavam longe daquilo que tinha sido apregoado pelos recrutadores na Itália.


Foi a abolição da escravidão em 1871, concedida pelo governo brasileiro aos filhos de escravos, que abriu as portas para a emigração italiana em massa para o Brasil. A partir daquele momento a maioria dos ex-escravos abandonou a dura vida das fazendas. 

Os fazendeiros vendo diminuir a sua mão de obra necessária para o cultivo do açúcar, café e algodão solicitaram ao governo imperial o recrutamento de agricultores do norte da Europa que não se adaptaram e foram rapidamente substituídos pelos italianos.

Em 1887, mais de trinta mil emigrantes chegaram ao Brasil para trabalhar nas fazendas. Em pouco mais de dez anos esse número já alcançava noventa e sete mil.

Diante das condições insuportáveis a que estavam sendo tratados os imigrantes nas fazendas de café de São Paulo, em 1902, o governo italiano promulgou o Decreto Prinetti para controlar e reduzir a emigração para este estado do Brasil, proporcionando também aos emigrantes uma assistência e proteção. 

Com o passar do tempo, uma parte desses trabalhadores das fazendas conseguiram melhorar suas condições de vida e, em muitos casos, comprar pequenos lotes de terra no entorno de cidades vizinha a fazenda onde tinham trabalhado. Plantavam e vendiam o produto de seu trabalho nas cidades e muitos outros se empregavam nas indústrias locais.

Alguns, mais audazes, quase sempre dominando alguma profissão, iniciaram pequenos comércios nas mais variadas áreas, que aos poucos se transformaram em grandes industrias, características das cidades do interior paulista.

No Brasil o papel da igreja e das ordens religiosas foi muito importante, proporcionando apoio e ajuda aos imigrantes.

Na Argentina essa ajuda veio sobretudo das autoridades seculares, como armadores e comerciantes genoveses, muitas vezes filiados à Maçonaria local da antiga tradição do Risorgimento, com fins paternalistas e muitas vezes lucrativos.