A Saga da Emigração Italiana: Por que Milhões de Italianos Deixaram seu País em Busca de Uma Nova Vida no Brasil?
"Digam à eles que deixamos os patrões na Itália e somos donos de nossas vidas, temos quanto queremos para comer e beber, além de bons ares, e isto significa muito para mim. Eu também não queria estar mais na Itália, sob aqueles patrões velhacos. Aqui, para encontrar autoridade, são necessárias 6 horas de viagem". Carta aos familiares de um imigrante vêneto assentado em terras brasileiras.
A emigração italiana para o Brasil no século XIX foi significativa e desempenhou um papel importante no desenvolvimento econômico e cultural do nosso país. Entre 1880 e 1920, mais de um milhão de italianos imigraram para o Brasil.
O fluxo migratório veio predominantemente do norte da Itália e foi relativamente curto, durando menos de 50 anos. Muitos italianos se naturalizaram cidadãos brasileiros no final do século XIX. Hoje, cerca de 25 milhões de brasileiros são de descendência italiana.
A migração italiana em direção ao nosso país iniciou em 1875, quando o governo imperial brasileiro começou a incentivar a vinda de trabalhadores europeus para o país, a fim de aumentar sua população nas zonas sub povoado dos pampas gaúcho e substituir a mão de obra de escravos africanos, para isso, criou colônias, relativamente bem estruturadas, principalmente em áreas rurais remotas do sul do país, para italianos e outros europeus migrarem. Para os estados do sudeste brasileiro também foram assentados milhares de agricultores italianos, para trabalharem nas grandes fazendas de café paulistas e capixabas. O fluxo migratório veio predominantemente do norte da Itália e foi relativamente curto, durando menos de 50 anos. Muitos fatores diferentes influenciaram a migração europeia, e em particular, a migração italiana para o Brasil. As principais razões para a emigração italiana para o Brasil no século XIX foram oportunidades econômicas, como o crescimento da demanda mundial do café, e o desejo de uma vida melhor. A Itália estava passando por superpopulação, desemprego, pobreza e instabilidade política, o que levou à busca por melhores condições de vida do outro lado do oceano em países muito mais novos e passando por uma fase de crescimento econômico.
As condições de vida dos pequenos agricultores, arrendatários e meeiros eram quase as mesmas das condições dos trabalhadores braçais diaristas, os chamados "braccianti", e muitos daqueles pequenos proprietários rurais foram forçados a trabalhar em outras propriedades para sobreviver. A emigração italiana representou uma solução para a crise de desemprego que já vinha assolando o novo reino desde muitos anos antes. As ondas de migração contribuíram para a mistura de populações de diferentes origens, e guerras, fomes, trabalhos itinerantes e fatores políticos também desempenharam um papel importante de favorecimento à ideia de deixar o país. A situação econômica na Itália durante o período de emigração para o Brasil foi caracterizada por desemprego, pobreza e instabilidade política. A economia italiana era em grande parte agrária e sofria com o atraso em que se encontrava há séculos, com práticas de cultivo ultrapassadas e, mais do que tudo, pelo avanço do capitalismo. O lento desenvolvimento industrial da Itália, bastante atrasado em comparação com outros países europeus, contribuiu para a emigração. De acordo com um esperto, "a emigração foi crucial para o socioeconômico (...) no período que viu o lançamento do noroeste industrial da Itália, e continuou como uma condição para o desenvolvimento econômico devido ao desequilíbrio estabelecido entre o norte e o sul do país".
Sobre essa situação o professor de História da USC, Paulo Pinheiro Machado (1999) escreveu:
"A grande emigração européia durante o século XIX foi, principalmente, conseqüência das transformações agrárias processadas pelo capitalismo. O campo tornou-se expulsor de pessoas em todos os países europeus em épocas distintas, com períodos de duração diferenciados. Objetivamente, o que ocorreu em todas as partes, foi a destruição da ordem tradicional camponesa, que mantinha um equilíbrio entre a produção agrícola e artesanal durante as diferentes estações de um ano."
A situação econômica na Itália durante o período de emigração para o Brasil afetou significativamente a decisão de deixar o país para se transferir para o tão sonhado El Dorado americano que era o Brasil.
Nota
A carta que abre este artigo é um testemunho verdadeiro de um imigrante vêneto radicado no Brasil no final do século XIX. Sua voz, direta e espontânea, ecoa a experiência de milhares de homens e mulheres que abandonaram uma Itália marcada pela miséria rural, pela superpopulação e pelo atraso econômico, em busca de novas possibilidades do outro lado do Atlântico.
Entre 1875 e 1920, o Brasil recebeu um contingente expressivo de italianos, sobretudo do norte da península. As dificuldades no campo, agravadas pelas transformações trazidas pelo capitalismo agrário e pela estagnação industrial, empurraram famílias inteiras para a emigração. No Brasil, por sua vez, a abolição do trabalho escravo e a expansão das lavouras de café abriram espaço para o assentamento de imigrantes europeus, que passaram a ocupar colônias agrícolas no Sul e a fornecer mão de obra para as fazendas do Sudeste.
Esses deslocamentos humanos não foram apenas movimentos demográficos: transformaram profundamente tanto as comunidades italianas de origem quanto a sociedade brasileira em formação. Os imigrantes introduziram novos hábitos, técnicas agrícolas e formas de sociabilidade, ao mesmo tempo em que enfrentaram a dureza do trabalho, o isolamento e a adaptação cultural. O Brasil, por sua vez, passou a contar com um contingente de trabalhadores livres que contribuíram para o desenvolvimento econômico e ajudaram a moldar a diversidade cultural que hoje caracteriza o país.
A carta escolhida sintetiza esse momento histórico: a ruptura com a opressão do passado e a construção de uma nova identidade em terras distantes. Ao resgatar esse fragmento de memória e situá-lo em seu contexto histórico, busco prestar uma homenagem às gerações de imigrantes que, com esforço e resiliência, transformaram tanto a Itália que deixaram quanto o Brasil que ajudaram a construir.
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS