Espaço destinado aos temas referentes principalmente ao Vêneto e a sua grande emigração. Iniciada no final do século XIX até a metade do século XX, este movimento durou quase cem anos e envolveu milhões de homens, mulheres e crianças que, naquele período difícil para toda a Itália, precisaram abandonar suas casas, seus familiares, seus amigos e a sua terra natal em busca de uma vida melhor em lugares desconhecidos do outro lado oceano. Contato com o autor luizcpiazzetta@gmail.com
terça-feira, 10 de setembro de 2024
Os Últimos Dias de San Martino
domingo, 8 de setembro de 2024
Sob o Céu do Veneto: A Jornada de uma Família de Agricultores
O sol se punha sobre as montanhas dos Dolomitas, tingindo o céu de um laranja vibrante. Em um pequeno município na província de Belluno, na fronteira norte do Vêneto, a família Benedettini reunia-se ao redor de uma mesa de madeira antiga, marcada pelo tempo e pelo uso. Giovanni Benedettini, o patriarca, era um homem de mãos calejadas e olhos que guardavam séculos de história. Ele observava seus filhos, Rosa e Pietro, e sua esposa Augusta Aurora, sentada silenciosa com o rosário entre os dedos. “Era diferente no tempo da Serenissima”, murmurou Giovanni, quebrando o silêncio. “Nós almoçávamos e jantávamos. Tínhamos pão e vinho, e o trabalho na terra nos sustentava. Mas agora, sob os Savoia, mal conseguimos uma refeição. A fome bate à nossa porta, e a terra, que antes nos dava vida, agora parece nos condenar.” Maria assentiu, seus olhos refletindo a mesma preocupação. Ela sabia que a mudança estava se aproximando, uma mudança que seria definitiva. A memória da Serenissima Republica de Veneza ainda era viva na comunidade, uma época de relativa prosperidade e dignidade, antes da invasão de Napoleão e a subsequente dominação austríaca. Sob Francisco José, o imperador “Cesco Bepi” como os venetos o chamavam, a vida se tornou mais difícil, mas ainda suportável. Com a unificação da Itália e a anexação do Vêneto ao Reino da Itália sob a Casa de Savoia, a situação deteriorou-se rapidamente. As promessas de liberdade e prosperidade eram mentiras vazias; o que restou foi a miséria. A crise econômica se agravava, e a família Benedettini, como muitos outros pequenos agricultores e artesãos, se via à beira do colapso. A terra que Giovanni cuidava com tanto zelo pertencia a um grande senhor que vivia distante, em Veneza. O gastaldo, encarregado da administração, era implacável e não tolerava qualquer falta. As dívidas se acumulavam, e a fome se tornava uma companheira constante.
Em uma manhã fria de outubro, durante a missa dominical, o padre Don Luigi, um homem respeitado por toda a aldeia, subiu ao púlpito e, com uma voz que ecoava pelas paredes da igreja, não mediu as palavras e mesmo contra os interesses dos ricos proprietários de terras, incentivou a emigração. “Meus filhos, a nossa terra é abençoada, mas os tempos são difíceis. Deus nos deu coragem, e devemos usá-la. Há terras além-mar, terras que prometem uma vida melhor. A fome não deve ser o nosso destino. Emigrem, encontrem nova vida. Essa é a vontade de Deus.” As palavras do padre reverberaram no coração de Giovanni. Ele sabia que permanecer significava a morte lenta da sua família, mas partir era uma aposta no desconhecido. Muitos proprietários de terras, contrários a emigração, pois, ficariam sem mão de obra ou, pela falta, teriam que pagar muito mais por ela, faziam circular entre o povo, boatos e desinformações que criavam temor e medo naqueles que estavam querendo emigrar. Contudo, naquela noite, ao olhar para os rostos de seus filhos, ele tomou uma decisão. Eles deixariam o Vêneto.
A decisão de emigrar não foi fácil, mas o destino estava traçado. Em uma manhã nebulosa, a família Benedettini juntou seus poucos pertences e se preparou para a longa jornada até o porto de Gênova. Ali, embarcariam em um navio rumo ao Brasil, um país do qual sabiam pouco, mas que prometia novas oportunidades. Antes de partir, Giovanni foi até a igreja. Ele se ajoelhou diante da imagem de São Marco, padroeiro de Veneza, e rezou em silêncio. Sentia o peso de séculos de história sobre seus ombros, mas também sabia que não havia outra escolha. O dia da partida foi marcado por lágrimas e abraços apertados. A pequena aldeia se reuniu para se despedir dos Benedettini. Amigos e vizinhos ofereciam orações e promessas de cartas. A tristeza era palpável, mas havia também uma centelha de esperança nos olhos daqueles que partiam. “Não esqueçam quem vocês são, onde nasceram. Levem o Vêneto no coração,” disse o velho Paolo, o amigo mais antigo de Giovanni, enquanto apertava a mão do patriarca.
A travessia do Atlântico foi longa e cheia de desafios. No porão do navio, os Benedettini compartilhavam um espaço apertado com dezenas de outras famílias, provenientes de várias regiões da Itália, todas em busca de uma nova vida. O mar era implacável, e muitos dias se passavam sem que a luz do sol penetrasse as profundezas do navio. Rosa, a filha mais velha, adoecera durante a viagem. Maria fazia o possível para cuidar dela, mas a falta de médicos e as condições insalubres tornavam a recuperação difícil. Em momentos de desespero, Giovanni questionava sua decisão de partir, mas Maria o lembrava das palavras de Don Luigi: “Essa é a vontade de Deus.”
Finalmente, após semanas no mar, avistaram a costa brasileira. O porto de Santos se estendia diante deles, uma visão que misturava alívio e incerteza. Era o início de uma nova vida, mas também o fim de tudo o que conheciam. O Brasil os recebeu com um calor sufocante e uma vegetação exuberante. A adaptação foi difícil. A língua, os costumes, a própria terra eram estranhos. Contudo, os Benedettini eram resilientes. Giovanni encontrou trabalho em uma fazenda de café, enquanto Maria cuidava dos filhos e da pequena horta que conseguiam manter. O trabalho era árduo, mas pela primeira vez em anos, havia esperança. Com o tempo, outras famílias italianas se uniram a eles, criando uma comunidade onde as tradições do Vêneto eram preservadas. Em meio às dificuldades, havia também a alegria das colheitas, das festas religiosas, e do nascimento de novos filhos, que traziam consigo a promessa de um futuro melhor.
Rosa recuperou a saúde e, anos depois, se casou com um jovem agricultor também vindo do Vêneto. Pietro, o filho mais novo, cresceu forte e cheio de sonhos. A nova geração dos Benedettini não conhecia a fome que havia marcado a vida de seus pais. Anos se passaram, e Giovanni envelheceu. Sentado na varanda de sua modesta casa, ele observava os campos ao redor, que se estendiam até onde a vista alcançava. O Brasil, tão distante de sua terra natal, agora era seu lar. Giovanni nunca esqueceu o Vêneto. Contava histórias para os netos sobre as montanhas, os campos e as tradições da sua terra. Mas ele também sabia que o futuro estava ali, na terra que ele e sua família haviam adotado. “Somos como as árvores”, dizia ele. “Nossas raízes estão no Vêneto, mas aqui, nesta terra, crescemos e damos frutos.”
E assim, a história dos Benedettini se entrelaçou com a história do Brasil, um legado de coragem, resiliência e esperança, que continuaria a viver nas gerações futuras. Os Benedettini nunca mais voltaram ao Vêneto. Mas, nas suas orações e nos seus corações, a Serenissima Republica de Veneza continuava viva, como um símbolo de tempos melhores, de uma dignidade que o mundo moderno tentara roubar, mas que eles mantiveram intacta através da fé, do trabalho e da unidade familiar. O Brasil lhes deu uma nova vida, mas o espírito do Vêneto, forjado em séculos de história, nunca os deixou. Sob o céu estrelado da nova terra, Giovanni Benedettini encontrou paz, sabendo que, apesar de todas as adversidades, ele e sua família haviam construído um novo futuro sem jamais esquecer o passado.
quarta-feira, 4 de setembro de 2024
O Horizonte do Novo Mundo
O Horizonte do Novo Mundo
No vilarejo de Collevecchio, aninhado entre as colinas suaves da Toscana, a vida de Giovanni e Isabella Valenzi seguia um ritmo sereno, mas sombrio. As colheitas, antes generosas, agora mal sustentavam a família, e o futuro parecia tão árido quanto os campos castigados pelo sol. As notícias vindas de parentes distantes, já instalados no Brasil, eram como uma brisa de esperança em meio ao sufocante desespero. "La terra promessa", diziam eles, um lugar onde a terra era abundante e as oportunidades, incontáveis.
A decisão de partir foi tomada com o peso da responsabilidade e a leveza do sonho. Giovanni, com seu semblante austero e mãos calejadas, sabia que o destino de sua família estava atrelado a essa travessia. Isabella, com a suavidade de quem carregava nos braços o pequeno Carlo, de apenas dois anos, enxugava discretamente as lágrimas ao pensar nos pais que deixavam para trás. Era um adeus definitivo, um corte profundo na carne do coração.
O porto de Gênova fervilhava de vida, mas a atmosfera era carregada de incertezas. O navio a vapor, o imponente Stella del Mare, parecia ao mesmo tempo uma promessa de liberdade e uma prisão flutuante. Centenas de famílias amontoavam-se no convés, cada qual com sua bagagem precária, carregando sonhos pesados demais para caberem nas pequenas malas de madeira.
Giovanni observava o mar infinito que se estendia à sua frente, uma vastidão desconhecida que o enchia de temor. Ao seu lado, Isabella apertava a mão dele com força, como se temesse que aquele ato de coragem pudesse, a qualquer momento, desmoronar. O pequeno Carlo, alheio ao turbilhão de emoções ao redor, brincava inocentemente com uma velha boneca de pano.
Quando as sirenes do navio ecoaram pelo porto, o som melancólico parecia marcar o início de uma nova era. Os olhos de Isabella encheram-se de lágrimas ao ver a Itália, sua pátria, lentamente desaparecendo no horizonte, engolida pelo azul profundo do Mediterrâneo.
A primeira semana de viagem foi uma mistura de esperança e desconforto. A bordo, as condições eram precárias. Os passageiros, alojados em compartimentos apertados, lutavam contra o enjoo e a claustrofobia. O cheiro de maresia, misturado ao odor de corpos mal lavados, não acostumados à proximidade, tornava o ar pesado. As conversas giravam em torno do que esperava por eles do outro lado do Atlântico. Cada história, cada relato compartilhado entre as famílias, era como um fio de esperança que os mantinha unidos.
No entanto, o mar, que parecia sereno nos primeiros dias, começou a mostrar sua verdadeira face. Atravessar o Atlântico era enfrentar a natureza em sua forma mais bruta e implacável. As ondas tornaram-se cada vez mais altas, chicoteando o convés com fúria. As tempestades, que surgiam de repente, faziam o Stella del Mare ranger como se estivesse prestes a ser partido ao meio.
Giovanni, embora temeroso, mantinha-se firme. Ele sabia que não podia mostrar fraqueza, não podia deixar que Isabella visse o medo que ele guardava no fundo do peito. Durante as noites mais turbulentas, enquanto o navio balançava violentamente, ele segurava Carlo com uma mão e Isabella com a outra, sussurrando palavras de conforto que ele próprio precisava ouvir.
As semanas se arrastavam, e a travessia parecia interminável. A escassez de comida começava a afetar todos a bordo. A água, antes abundante, tornara-se um bem precioso, racionada entre as famílias. As doenças, inevitavelmente, começaram a se espalhar. Isabella, sempre devota, rezava diariamente, pedindo proteção para sua família e os outros passageiros. Em meio ao desespero, a fé era a única âncora que impedia muitos de se afogarem em desolação.
Certa manhã, uma tragédia abalou o navio. Uma das crianças, que adoecera dias antes, não resistiu. A pequena foi envolta em lençóis brancos e, com um breve ritual, seu corpo foi lançado ao mar. O som do impacto foi abafado pelas águas que logo a engoliram, mas o eco daquele momento ficou gravado na alma de todos que assistiram à cena. Isabella, com o coração apertado, segurava Carlo contra o peito, sentindo o desespero de uma mãe que temia pelo futuro de seu filho.
Depois de intermináveis semanas no mar, um grito de euforia ecoou pelo navio: "Terra à vista!" O horizonte, antes vazio e desolador, agora exibia uma linha escura, a promessa de um novo começo. Os rostos marcados pelo cansaço e sofrimento foram subitamente iluminados por sorrisos, e os passageiros correram para o convés, ansiosos para ver a nova pátria.
Quando finalmente desembarcaram no porto de Santos, Giovanni e Isabella sentiram-se tomados por uma mistura de alívio e apreensão. O Brasil era um mundo desconhecido, um vasto território onde a promessa de uma vida melhor vinha acompanhada de desafios imensos. As primeiras semanas foram duras. As barreiras linguísticas, as condições adversas de trabalho, e a saudade esmagadora dos entes queridos que ficaram para trás eram dificuldades que pareciam intransponíveis.
No entanto, com o tempo, a resiliência dos Valenzi e de tantos outros imigrantes italianos começou a dar frutos. Eles formaram comunidades, plantaram raízes e, apesar de todas as adversidades, começaram a construir uma nova vida. Giovanni e Isabella, agora mais unidos do que nunca, sabiam que a travessia do oceano não havia sido apenas uma jornada física, mas uma travessia emocional e espiritual, que os transformara profundamente.
Anos se passaram, e o pequeno Carlo, que outrora brincava no convés do navio, agora corria pelos campos férteis do interior paulista, onde a família havia se estabelecido. Giovanni, com orgulho no olhar, observava a terra que cultivara com tanto esforço. A Itália, embora distante, permanecia viva em suas memórias, mas o Brasil havia se tornado sua nova pátria, o lugar onde seus filhos e netos teriam oportunidades que ele jamais imaginara.
Isabella, em suas orações diárias, agradecia a Deus pela força que os sustentara durante a longa travessia. Ela sabia que o mar, com todas as suas provações, havia sido o batismo de fogo que preparara sua família para enfrentar e superar os desafios da nova vida. A travessia do oceano, com suas tormentas e calmarias, fora a metáfora perfeita para a jornada que os Valenzi viviam agora: um caminho árduo, mas repleto de esperança.
Décadas depois, quando os descendentes dos Valenzi se reuniam em torno da mesa da casa que Giovanni e Isabella construíram com tanto sacrifício, as histórias daquela travessia se tornaram parte da herança familiar. Era um relato que misturava dor e esperança, despedidas e reencontros, mas que, acima de tudo, simbolizava a força de um povo que, ao cruzar o oceano, encontrou não apenas uma nova terra, mas a si mesmos.
O horizonte do Novo Mundo, outrora desconhecido e temido, tornou-se o símbolo do renascimento, da coragem e da fé que uniram os corações de tantos imigrantes. A travessia do oceano era mais que uma viagem; era um rito de passagem, uma prova de que o espírito humano, movido pelo desejo de uma vida melhor, é capaz de superar qualquer tempestade.
sábado, 17 de agosto de 2024
O Adeus no Oceano: A Jornada de Uma Família em Busca de Esperança
Giovanni e Maria haviam suportado mais do que a vida deveria exigir de qualquer um. Ele, aos 32 anos, tinha o vigor físico de um trabalhador incansável, mas a alma marcada pelas agruras que o tempo impôs. As mãos calejadas de Giovanni, acostumadas ao peso da enxada, contavam uma história de luta e sacrifício, enquanto seus olhos, profundos e sombrios, refletiam a constante batalha contra a desesperança.
Maria, com 28 anos, era o esteio da família. Seus olhos castanhos, que um dia brilhavam de juventude, agora eram testemunhas silenciosas de noites mal dormidas e dias intermináveis de trabalho nos campos de arroz. Ela mantinha uma postura digna, mesmo diante da pobreza e das incertezas que a vida em Lendinara, na província de Rovigo, trazia. Cada sorriso que oferecia a Giovanni ou aos filhos, Pietro e Lucia, era um ato de coragem, uma promessa de que, apesar de tudo, a esperança ainda resistia.
O pequeno município de Lendinara, com suas colinas verdejantes e paisagens bucólicas, era um lugar onde a beleza natural contrastava dolorosamente com a miséria que assolava seus habitantes. A terra não era fértil, e as colheitas mal cobriam os altos impostos e as necessidades básicas. O futuro parecia cada vez mais sombrio, e a fome se tornava uma presença constante nas mesas das famílias. Giovanni e Maria sabiam que, se continuassem ali, a miséria seria o legado deixado para seus filhos.
Em meio a esse cenário desolador, surgiu uma oportunidade: o Brasil. Era uma terra distante, envolta em mistério e promessas. Promessas de terra fértil e trabalho nas imensas plantações de café, onde poderiam recomeçar, longe das sombras que pairavam sobre a Itália. No entanto, a decisão de partir não foi tomada levianamente. Eles estavam deixando para trás o lugar onde nasceram, onde suas raízes estavam profundamente fincadas, onde tinham enterrado seus sonhos e onde tinham dado os primeiros passos como família.
O medo do desconhecido assombrava as noites de Giovanni e Maria. O Brasil era uma incógnita, uma terra de perigos e incertezas. Mas, ao olhar para Pietro, de seis anos, e Lucia, de quatro, seus corações se encheram de determinação. Eles não podiam permitir que seus filhos crescessem na mesma pobreza que os consumia. A esperança de um futuro melhor superou o medo do desconhecido, e a decisão de partir foi tomada com o coração apertado e a alma repleta de coragem.
A travessia, no entanto, não era um simples detalhe no caminho para uma nova vida. O navio, que deveria ser um símbolo de esperança, logo se transformou em um pesadelo flutuante. O espaço exíguo, as condições insalubres e a mistura de centenas de pessoas, cada uma com sua própria história de fuga e esperança, criaram um ambiente sufocante. O mar, que deveria ser um caminho para a liberdade, parecia mais uma barreira intransponível.
Foi então que a difteria irrompeu a bordo, espalhando-se com uma velocidade aterrorizante. O que antes eram risos de crianças e murmúrios de expectativa, agora se transformou em choros abafados e gritos de dor. As crianças, frágeis e indefesas, eram as mais atingidas pela doença, e o desespero tomou conta de cada canto do navio.
Giovanni e Maria fizeram de tudo para proteger Pietro e Lucia, mas o medo era palpável. Cada tosse de Lucia, cada febre que assolava Pietro, parecia um presságio de que a tragédia estava à espreita. Infelizmente, o destino foi implacável. Lucia, a pequena de apenas quatro anos, não resistiu à difteria. Sua morte trouxe um peso insuportável ao coração de seus pais, que assistiram impotentes enquanto a vida da filha se esvaía.
No meio do vasto oceano, sem terra à vista, não havia escolha a não ser dar à pequena Lucia o último adeus no mar. Seu corpo, frágil e sem vida, foi envolto em um lençol branco e, com uma pedra amarrada aos seus pés, foi lançado às águas profundas. O som das orações de Maria, entrecortadas pelo choro, e o silêncio pesado de Giovanni ecoaram pelo navio enquanto o pequeno corpo de Lucia desaparecia nas ondas. O mar, outrora um símbolo de esperança, agora se tornava o guardião do que lhes era mais precioso.
A dor da perda foi um golpe brutal para Giovanni e Maria, que agora precisavam encontrar forças onde parecia não haver mais nada. A travessia se arrastou por semanas, mas finalmente, o navio avistou as costas do Brasil. O que antes era uma terra de promessas, agora parecia ser a última esperança de salvação. Giovanni e Maria desembarcaram com Pietro nos braços, mais exaustos e enfraquecidos do que poderiam imaginar. Eles haviam sobrevivido, mas sabiam que as cicatrizes daquela jornada ficariam para sempre.
Em São Paulo, foram recebidos por um novo mundo, onde a língua, a cultura e as paisagens eram estranhas e desafiadoras. A fazenda para a qual Giovanni havia sido contratado parecia um paraíso comparado ao inferno que haviam deixado para trás, mas a adaptação seria uma nova luta. Mesmo assim, havia algo em seus corações que continuava a pulsar—um desejo inabalável de reconstruir suas vidas, de dar a Pietro a oportunidade que Lucia não teve.
A vida no Brasil não seria fácil, mas Giovanni e Maria aprenderam que a verdadeira força não reside apenas na capacidade de sobreviver, mas na coragem de recomeçar. Eles haviam cruzado oceanos, enfrentado a morte e superado o desespero. Agora, estavam prontos para transformar esse novo começo em uma vida digna, onde a esperança poderia finalmente florescer, e onde a memória de Lucia viveria para sempre em seus corações.
sexta-feira, 16 de agosto de 2024
Em Meio ao Caos: A Heroína do Vilarejo
domingo, 7 de julho de 2024
O Ocaso da Vida: Uma História de Coragem e Amor
sexta-feira, 10 de maio de 2024
Entre Ruínas e Renascimentos: A Jornada de Marietta
quinta-feira, 2 de novembro de 2023
Destinos Entrelaçados: A Jornada da Emigração
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sábado, 16 de setembro de 2023
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terça-feira, 29 de agosto de 2023
Além do Horizonte: A Coragem da Emigração
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domingo, 30 de julho de 2023
Da Itália ao Brasil: A História de Francesco e Maria - Uma Jornada de Esperança e Superação
Da Itália ao Brasil: A História de Francesco e Maria - Uma Jornada de Esperança e Superação
Era o final do século XIX, uma época de grandes transformações e esperanças para muitas pessoas ao redor do mundo. Em uma pequena aldeia no norte da Itália, vivia um casal de jovens apaixonados, Francesco e Maria, que sonhavam com uma vida melhor do outro lado do oceano. A pobreza e as dificuldades da vida no campo os impulsionavam a buscar novas oportunidades em terras distantes. Com coragem e determinação, Francesco e Maria decidiram embarcar em uma longa travessia pelo Atlântico rumo ao Brasil. A viagem foi árdua e desafiadora, com dias intermináveis de mar revolto e incertezas sobre o futuro. No entanto, a esperança de uma vida melhor os mantinha firmes em seu propósito.
Após semanas de viagem, finalmente avistaram a terra à distância. Era o Brasil, o país que lhes prometia uma nova chance. Desembarcaram em Porto Alegre e, com poucas posses e muitos sonhos, partiram em direção à Colônia Dona Isabel, no Rio Grande do Sul. A chegada à colônia foi um misto de deslumbramento e desafios. A paisagem verdejante e as vastas terras férteis pareciam prometer um futuro próspero. No entanto, a adaptação à nova cultura e a língua desconhecida se mostraram grandes obstáculos. Francesco e Maria encontraram abrigo em uma pequena choupana de madeira e começaram a trabalhar na plantação de trigo de um colonizador local. Os dias eram longos e árduos, com o sol escaldante castigando suas costas e a terra seca exigindo esforço redobrado. Mas eles não desistiram. A cada novo amanhecer, renovavam sua determinação em construir uma vida melhor para si e para as gerações futuras.
Com o passar dos anos, Francesco e Maria prosperaram. Suas lavouras se expandiram, eles construíram uma casa de alvenaria e tiveram filhos. A colônia Dona Isabel se transformou em um pequeno vilarejo, com uma comunidade italiana unida pelo trabalho árduo e pela solidariedade. As tradições italianas foram preservadas, com festas e celebrações que remetiam à terra natal. A comida típica, como a polenta e o vinho, eram apreciados por todos. A língua italiana era falada com orgulho e os costumes transmitidos de geração em geração. Francesco e Maria, orgulhosos de suas raízes e da vida que construíram, viram seus filhos crescerem e se tornarem parte ativa da comunidade. O legado de coragem e perseverança deixado por eles influenciou não apenas seus descendentes, mas também todos aqueles que os cercavam.
No final do século XIX, a longa travessia do oceano e os primeiros anos na Colônia Dona Isabel no Rio Grande do Sul foram marcados por desafios, mas também por esperança e superação. Francesco e Maria, assim como tantos outros imigrantes italianos, deixaram um legado de trabalho árduo, fé e amor pela terra que escolheram chamar de lar. Sua história é um testemunho da força e da resiliência daqueles que buscam uma vida melhor para si e para seus descendentes.
de Gigi Scarsela
erechim rs