segunda-feira, 16 de abril de 2018

Emigração Italiana para o Brasil – Um Breve Resumo



O Brasil era descrito como o país da abundância e da riqueza pelos inúmeros  agentes de emigração contratados pelo governo do império brasileiro. Era assim que apregoavam o país “della cuccagna” onde o dinheiro fruto do trabalho estaria garantido com a possibilidade de vir a ser, finalmente, proprietário  de um pedaço de terra. Essa última frase foi o que mais atraiu os emigrantes vênetos para a nova pátria.
Esses agentes treinados e persuasivos, na corrida para angariar o maior número possível de candidatos à emigração – pois deviam completar a cota estipulada em contrato com a empresa de emigração e com as companhias de navegação -  percorriam as pequenas cidades e vilas, geralmente nos dias de feira ou de mercado, frequentavam as praças, as tavernas e pátios da igrejas, sempre nos locais onde poderiam encontrar um maior número de pessoas desempregadas, passando necessidades, desesperadas, dispostas a emigrar.
Mèrica! Mèrica!Era o grito que passou a ser ouvido nas vilas e cidades  pobres, naquelas províncias do norte e do sul da Itália, atingidas pela fome e pelo desemprego no campo, logo à partir de 1876, quando a emigração foi finalmente liberada. Podiam agora emigrar legalmente pelos portos italianos. Antes disso, os que partiam, o deviam fazer cladestinamente, através de portos estrangeiros, na França (Marselha e Le Havre) ou na Bélgica (Antuérpia), pois, o governo italiano até então dificultava a saída. 



Fazer a Amèrica” foi sem dúvida o grande mito que teve o significado de emancipação, resgate social e liberdade. Emigrar foi também uma dura resposta de descontentamento, desses excluídos, dada ao governo e a classe dos ricos proprietários  de terras. Foi a solução pacífica encontrada por aquela população marginalizada, pobre e ignorante, para dar um basta para aquela humilhação. A emigração, apesar de ser uma atitude muito dura, foi a válvula de escape que evitou a explosão de uma sangrenta guerra civil. Com a grande emigração o Vêneto pode aos poucos se reequilibrar e partir para um desenvolvimento que só chegou para valer na região já na década de cinquenta. Em uma família pobre de doze pessoas à mesa, quando cinco ou seis delas se vão em emigração, sobra muito mais comida para os que ficam. Foi isso que os nossos avós fizeram quando decidiram emigrar. Ao saírem deixaram mais comida na mesa para os que ficaram. Também, com as suas regulares remessas de dinheiro para os parentes que lá ficaram, deram  uma grande contribuição para o desenvolvimento da Região. Para se ter uma ideia da quantia e o que representava para a Itália esse dinheiro mensalmente enviado pelos emigrantes,  um ministro italiano assim descreveu: “Sono un vero ruscello d’oro”. Sim, um verdadeiro riacho de ouro que alavancou o desenvolvimento da Itália, às custas do sofrimento e da vida de milhares de emigrantes.
No Vêneto, a ainda recente unificação ao Reino da Itália, colaborou muito para o seu esfacelamento econômico, com a aplicação pelo governo real italiano de novas taxas abusivas, como o imposto sobre o sal e o grão que era moído, os quais sempre gravavam com maior intensidade os mais desprotegidos da sociedade. Foram os pobres agricultores vênetos aqueles que suportaram em seus ombros os maiores sacrifícios para a formação da Itália. 
Atingido por inúmeras de calamidades durante alguns anos, períodos de seca infindáveis, chuvas de granizo, enchentes nas planícies e aluviões nas montanhas, que levavam consigo a terra fértil, causaram quebras importantes nas colheitas e por consequência desemprego em massa no campo, nada mais restava ao pequeno agricultor vêneto do que deixar tudo para trás e emigrar para o Brasil, para nunca mais voltar.
No ano da liberação da emigração começaram a zarpar do porto de Gênova os primeiros navios carregados de vênetos com destino às plantações de café em São Paulo, e principalmente, para as recém criadas colônias no Rio Grande do Sul e Paraná. 

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS