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segunda-feira, 16 de junho de 2025

O Destino de Vittorio Belomonte


O Destino de Vittorio Belmonte


Na fria alvorada de 2 de julho de 1904, Vittorio Belomonte fechou a pequena mala de couro que sua mãe havia lhe dado e, com um último olhar para a casa onde crescera, saiu sem olhar para trás. O destino o chamava.

Nascido em 1882, em um vilarejo esquecido nas montanhas do Friuli, Vittorio passara a juventude trabalhando nos bosques, cortando lenha para senhores que nunca lembravam seu nome. Seu pai, Giovanni, morrera cedo, deixando a mãe e três irmãos na miséria. A fome tornara-se uma sombra constante, e, à medida que os anos passavam, Vittorio percebeu que seu destino não estava ali, mas além-mar.

A viagem até Longarone foi silenciosa. Seus companheiros, jovens de sua vila, compartilhavam a mesma melancolia. O condutor da carroça bradou impaciente para que subissem, e um nó apertou a garganta de Vittorio. Com um último olhar melancólico, ele contemplou seu vilarejo: as casas de pedra aconchegadas umas às outras, como se buscassem calor, e as montanhas imponentes ao fundo, seus picos eternamente coroados de neve. O vento gelado trouxe o cheiro da terra úmida e da lenha queimada nas lareiras. Vittorio suspirou fundo, gravando aquela imagem na memória.

Em Longarone, pegou seus documentos para deixar o país e seguiu para Veneza. As ruas estreitas e os canais da cidade lhe pareceram um outro mundo. Mas não havia tempo para contemplação. O passaporte foi carimbado, e, com os trocados que tinha, comprou pão, salame e um frasco de vinho, o suficiente para a jornada. Quando o trem para Gênova chegou, ele embarcou sem hesitação. Não havia mais volta.

A Estação de Gênova fervilhava de emigrantes, um turbilhão de rostos ansiosos e mãos calejadas segurando malas gastas pelo tempo. Homens e mulheres, vestidos com suas melhores – e muitas vezes únicas – roupas de viagem, deslocavam-se em meio à multidão, esbarrando-se sem querer, trocando olhares de cumplicidade e medo.

Poucos tinham dinheiro suficiente para um hotel decente, então amontoavam-se em uma pequena estalagem de teto baixo e paredes úmidas, escondida em uma viela sombria perto do porto. O lugar era abafado, impregnado pelo cheiro de suor e peixe salgado, e os murmúrios dos hóspedes misturavam-se ao ranger do assoalho gasto. Todos temiam os perigos daquela cidade portuária, onde golpistas e ladrões rondavam como lobos à espreita de presas fáceis. Qualquer descuido e o pouco que possuíam poderia desaparecer em um instante.

Ainda assim, mesmo em meio à incerteza, havia um sentimento pulsante no ar: a promessa de um novo começo, a esperança de um destino melhor do outro lado do oceano. A tensão e a expectativa eram quase palpáveis, como a eletricidade antes de uma tempestade.

Vittorio dividiu um quarto apertado e mal ventilado com outros três friulanos. Os beliches rangiam a cada movimento, e o cheiro de mofo misturava-se ao odor de corpos cansados e roupas úmidas. O sono veio apenas em fragmentos inquietos, interrompido pelo barulho da cidade que nunca dormia e pelo medo latente do que estava por vir.

Ao amanhecer, espreguiçaram-se sob a luz fraca que se infiltrava pelas frestas da janela e, sem muito a fazer além de esperar a hora do embarque, decidiram explorar a cidade. Caminharam pelas ruelas estreitas de Gênova, onde vendedores gritavam ofertas em dialetos diversos e carroças espirravam lama nos transeuntes. O cheiro de pão recém-assado se misturava ao odor forte do porto, onde o mar e o suor dos estivadores se fundiam em uma atmosfera pesada.

Então, ao dobrarem uma esquina, a visão do vapor Regina Elena os fez parar. Ele estava ancorado no cais, imenso e imponente, como um colosso de ferro e vapor. Suas chaminés erguiam-se como torres de um castelo flutuante, e a madeira dos conveses reluzia sob o sol da manhã. Para Vittorio, o navio era uma promessa e uma ameaça ao mesmo tempo. Dentro dele estava seu futuro, sua esperança e também o medo do desconhecido.

Por um instante, o mundo ao redor pareceu silenciar. O burburinho dos estivadores, o ranger das cordas sendo puxadas, até mesmo o tilintar das moedas nas mãos dos vendedores ambulantes — tudo pareceu distante, abafado, como se o tempo tivesse parado.

Vittorio sentiu o coração bater pesado no peito. O gosto salgado do ar encheu seus pulmões, misturado ao cheiro de carvão queimado que escapava das entranhas do navio. O Regina Elena estava ali, gigantesco, como um portão entre dois mundos — o passado que ele deixava para trás e o futuro incerto que o aguardava.

Engoliu em seco. Não havia mais volta. A Itália, sua terra, sua infância, seus bosques familiares e os rostos que jamais voltaria a ver... tudo ficaria para trás no momento em que ele pisasse naquele convés. A única direção agora era para frente.

No dia 29, Vittorio pagou a passagem e submeteu-se à rigorosa inspeção médica. Os oficiais o examinaram com olhares frios e mecânicos, apalpando-lhe os braços, verificando seus dentes, como se avaliassem a resistência de um animal de carga. Foi vacinado com uma agulha áspera e sem cerimônia, sentindo a ardência do líquido em sua pele. Cortaram-lhe os cabelos sem cuidado, deixando fios grossos caírem sobre seus ombros como vestígios da vida que abandonava. Seus pertences foram revistados por mãos desconhecidas, que reviraram sua mala como se buscassem algo de valor escondido.

A noite anterior ao embarque foi longa e inquieta. O quarto apertado da decadente estalagem estava impregnado pelo cheiro de suor e mofo, o colchão fino não oferecia conforto algum. Ele escutava a respiração pesada de seus companheiros de quarto — roncos intermitentes, murmúrios febris de sonhos turbulentos — misturados ao som distante das ondas quebrando contra as pedras do porto. Cada rajada de vento que entrava pela janela mal fechada trazia o cheiro salgado do mar, lembrando-o de que, dali a poucas horas, sua vida mudaria para sempre. 

Na manhã do dia 30, Vittorio caminhou até o porto com passos firmes, mas o coração acelerado. O cais fervilhava de gente. Homens gritavam ordens em dialetos diversos, carregadores passavam apressados equilibrando malas e fardos pesados nos ombros, e crianças agarravam-se às saias das mães, assustadas com a confusão ao redor. O cheiro do mar misturava-se ao de carvão queimado e peixe fresco, formando uma névoa espessa de sal e fuligem que pairava no ar.

Antes de seguir para o embarque, Vittorio comprou alguns limões — diziam que ajudavam contra o enjoo — e, apoiando-se em um caixote de madeira, escreveu uma última carta para a família. Escolheu as palavras com cuidado, tentando transmitir esperança, embora o peso da despedida lhe apertasse o peito.

A fila para embarque serpenteava pelo cais, arrastando-se lentamente como uma procissão de almas ansiosas. Os funcionários da companhia de navegação verificavam documentos com olhares indiferentes, enquanto os passageiros aguardavam sob o sol escaldante, segurando seus pertences com desconfiança. Quando chegou sua vez, Vittorio foi submetido a mais uma inspeção, os olhos atentos dos agentes percorrendo seu rosto e suas roupas como se buscassem algo suspeito.

Por fim, um funcionário lhe entregou um número rabiscado em um pedaço de papel sujo e indicou a entrada do navio. Descendo por corredores estreitos e abafados, iluminados apenas por lampiões oscilantes, Vittorio finalmente encontrou sua beliche: um espaço exíguo, onde mal cabia deitado. O colchão fino era pouco mais que um pedaço de pano gasto sobre tábuas duras, e a manta áspera cheirava a mofo. Ele se sentou devagar, sentindo o metal gelado da estrutura contra as mãos trêmulas.

Lá fora, os apitos soaram longos e solenes. A terra firme começava a se afastar. Pouco depois do meio-dia, soaram três apitos longos. As cordas foram soltas. O vapor Regina Elena moveu-se lentamente, afastando-se do porto. O barulho das despedidas ecoava no ar. Mães choravam, pais levantavam os chapéus, crianças acenavam sem entender. A bordo, Vittorio e seus companheiros retribuíam o gesto, engolindo as lágrimas. O hino real tocava, seguido pela Marcha Garibaldi. Uma pequena banda saudava aqueles que partiam, soldados de um exército invisível em busca de uma vida melhor.

Os primeiros dias foram um teste de resistência. No porão apertado onde dormia, o ar era denso, carregado do cheiro acre de suor, mofo e vômito. O calor sufocante tornava o ambiente ainda mais insuportável, e o balançar incessante do navio fazia com que muitos passageiros passassem mal. O som dos gemidos de náusea e da tosse seca de crianças doentes preenchia a escuridão.

A comida era pouca e sem sabor: pedaços de pão endurecido, caldo ralo que mais parecia água suja e, ocasionalmente, um punhado de batatas cozidas. As filas para receber as rações eram longas, e os mais fracos frequentemente ficavam sem nada.

Mas Vittorio resistia. Ele se recusava a ceder à fraqueza, mantendo a disciplina que aprendera nos campos de sua terra natal. Durante o dia, sempre que podia, escapava do porão e subia ao convés. Lá, o vento salgado refrescava sua pele, e a visão do oceano infinito lhe dava a ilusão de liberdade. Ficava horas observando as ondas, tentando ignorar o estômago vazio e a saudade crescente.

À noite, quando finalmente conseguia dormir, sua mente o levava de volta a Friuli. Sonhava com os bosques úmidos após a chuva, com o cheiro da terra revirada pelo arado, com a voz de sua mãe chamando-o para a ceia. Mas, ao acordar, tudo o que via eram paredes de ferro corroídas pelo tempo e corpos exaustos amontoados ao seu redor. A viagem mal havia começado, e já parecia uma eternidade.

No décimo quinto dia de viagem, o oceano, antes calmo, se transformou em um monstro furioso. O céu escureceu de repente, como se a noite tivesse caído em pleno dia. O vento uivava entre os mastros, e trovões ribombavam sobre as águas agitadas. Quando as primeiras ondas colossais atingiram o casco do Regina Elena, o navio estremeceu como se fosse feito de papel.

No porão, o terror tomou conta dos passageiros. Cada balanço da embarcação lançava corpos contra as paredes de ferro. Gritos se misturavam ao estrondo das ondas. Algumas mães, apavoradas, agarravam os filhos contra o peito e rezavam baixinho. Outros simplesmente choravam, sem forças para reagir.

Vittorio segurava-se como podia, os dedos crispados na borda da beliche. Um homem ao seu lado foi jogado ao chão e bateu com a cabeça em uma viga. O sangue se espalhou pelo assoalho de madeira, mas ninguém teve tempo de socorrê-lo. Tudo o que importava era sobreviver àquela noite interminável.

Lá fora, o mar tentava engolir o Regina Elena. Ondas monstruosas varriam o convés, levando caixas, barris e qualquer coisa que não estivesse presa. Tripulantes gritavam ordens que ninguém conseguia ouvir, enquanto lutavam para manter o navio no curso.

Então, tão repentinamente quanto começou, a tempestade passou. O silêncio foi quebrado apenas pelo som do mar ainda revolto e dos soluços abafados no porão. O estrago era visível. Malas e roupas encharcadas espalhavam-se pelo chão, alguns passageiros estavam feridos, outros simplesmente paralisados pelo medo.

Mas o Regina Elena seguia firme. E com ele, os sonhos e as esperanças de centenas de almas que, apesar de tudo, ainda acreditavam em um futuro melhor.

No vigésimo quinto dia de viagem, um burburinho se espalhou pelo convés. Terra à vista! Vittorio correu para olhar. No horizonte, uma linha escura tomava forma, crescendo a cada minuto. O porto de Santos emergia da névoa matinal como uma miragem, um amontoado de galpões, mastros de navios e telhados vermelhos, cercado por colinas cobertas de vegetação densa. O cheiro salgado do mar começou a se misturar com algo novo: um aroma quente e pesado, de madeira úmida e café.

Conforme o Regina Elena se aproximava do cais, a agitação tomava conta dos passageiros. Alguns se benziam, outros choravam, abraçados. Homens seguravam seus chapéus contra o vento, mulheres ajeitavam os lenços e roupas amarrotadas. Os tripulantes gritavam ordens em italiano, tentando conter o tumulto, enquanto barcaças carregadas de sacas de café passavam ao lado, guiadas por remadores morenos de olhar curioso.

Quando finalmente desceram a rampa de desembarque, uma onda de calor pegajoso os envolveu. Vittorio sentiu o suor escorrer pelas costas enquanto tentava respirar aquele ar novo, carregado de umidade. O idioma ao redor soava como uma cacofonia incompreensível—ordens gritadas, risadas, discussões entre trabalhadores portuários. Ele mal teve tempo de assimilar o choque antes de ser empurrado junto com os demais imigrantes para um dos galpões imensos ao lado do porto.

Lá dentro, o cheiro de corpos suados e roupas molhadas tornava o ambiente ainda mais sufocante. Filas se formavam diante dos funcionários, que verificavam documentos, assinavam papéis, apontavam direções. Alguns homens, de pele bronzeada e olhar avaliador, caminhavam entre os recém-chegados, observando-os como se escolhessem mercadoria.

— Café! Todos para o interior! — bradou um deles em italiano rudimentar.

Vittorio engoliu em seco, sentindo o peso da incerteza apertar-lhe o peito. Não havia tempo para contemplação, nem espaço para hesitação. A engrenagem da imigração girava sem pausas, empurrando-os inexoravelmente para o próximo destino.

A exaustão da viagem ainda pesava nos corpos dos recém-chegados, mas ninguém se atrevia a reclamar. Homens de rostos severos davam ordens rápidas, chamando nomes, apontando direções. Vagões de trem, de madeira escura e janelas gradeadas, aguardavam na linha férrea próxima ao galpão. O cheiro de ferro e óleo queimado se misturava ao calor abafado da manhã tropical.

Vittorio sentiu um nó no estômago ao avistar as composições que os levariam para o desconhecido. Onde dormiria naquela noite? O que encontraria no fim daquela jornada?

O aviso veio curto e seco:

— Para os trens! Movam-se!

Ele pegou sua pequena trouxa e avançou com os demais, passos hesitantes no solo quente do novo mundo. Já não havia mais navios, nem mar. Apenas terra firme e um destino incerto.

Não havia mais volta.

Com uma mala de couro gasta e um coração pesado de incertezas, Vittorio seguiu em frente, empurrado pelo fluxo implacável dos recém-chegados. Atrás dele, a Itália se tornava apenas uma lembrança distante, um mundo ao qual jamais retornaria da mesma forma.

O chão de terra batida rangia sob suas botas, o calor escaldante grudava em sua pele. À sua volta, imigrantes caminhavam em silêncio, carregando sacos e baús, os rostos marcados pela fadiga e pela expectativa. Cada passo era um salto no desconhecido.

No Brasil, um novo capítulo se abria diante dele—não por escolha, mas por necessidade. O que o aguardava além da estação de trem? Campos intermináveis de café? Trabalho árduo sob o sol impiedoso? Ou talvez, quem sabe, a promessa de uma vida digna, algo que a terra natal lhe negara?

A única certeza era que não havia caminho de volta.

Vittorio mal teve tempo de se recuperar da exaustiva travessia. Assim que desembarcou em Santos, foi rapidamente selecionado e encaminhado para o interior de São Paulo, onde um fazendeiro necessitava de trabalhadores para sua vasta plantação de café. A viagem de trem foi longa e desconfortável, o vagão de madeira sacolejando sobre os trilhos enquanto o calor e o cheiro de suor tornavam o ar quase irrespirável.

Quando finalmente chegou à fazenda, nos arredores da emergente Ribeirão Preto, foi recebido com poucas palavras e um olhar avaliador. Ali, o trabalho não fazia concessões. Antes mesmo do sol despontar no horizonte, já estava nos cafezais, arrancando os grãos vermelhos sob um calor implacável que fazia sua camisa grudar no corpo. Os cestos se enchiam rápido, e logo vinham os sacos pesados, que ele e os outros imigrantes carregavam até os secadores. Os ombros ardiam, as mãos se cobriam de calos, mas não havia descanso.

A barreira da língua o isolava no início. O português soava rude, estranho, como um código indecifrável. Mas, entre ordens gritadas e murmúrios trocados à sombra dos cafezais, Vittorio começou a entender. Aprendia com os outros imigrantes, muitos deles tão perdidos quanto ele. E, pouco a pouco, o desconhecido tornava-se familiar.

Os anos se passaram, marcados por trabalho árduo e sacrifícios silenciosos. Vittorio economizava cada tostão, recusando-se a gastar com qualquer coisa que não fosse essencial. Dormia pouco, comia o suficiente para se manter de pé e sonhava com o dia em que teria sua própria terra. A ideia de ser dono do próprio destino era o que o fazia resistir.

Em 1910, esse dia finalmente chegou. Com o que havia juntado, arrendou uma chácara nas proximidades de Araraquara. Não era grande, nem rica, mas era sua. A terra, escura e fértil, prometia sustento, mas cobrava um preço alto. Trabalhar sozinho significava acordar antes do sol e seguir até a última luz do dia, preparando o solo, plantando, colhendo. A cada estação, enfrentava novos desafios: a fúria das chuvas tropicais que castigavam as lavouras, as pragas traiçoeiras que ameaçavam destruir meses de esforço.

Mas Vittorio aprendeu. Observava os fazendeiros mais experientes, testava métodos, enfrentava as falhas e tentava de novo. Cada safra era uma lição. Cada derrota, um aprendizado. Seus calos engrossavam, suas costas se curvavam sob o peso do trabalho, mas, junto com o cansaço, crescia também a convicção de que, naquela terra, fincaria suas raízes.

O sucesso veio devagar, como a germinação das mudas que plantava. Primeiro, conseguiu comprar uma carroça, o que lhe permitiu levar sua colheita diretamente ao mercado. Depois, contratou ajudantes, homens tão determinados quanto ele, que viam no café uma chance de prosperar. A pequena chácara transformou-se em uma propriedade produtiva, e os sacos de grãos empilhavam-se na varanda antes de seguirem para a venda.

Em 1915, quando finalmente sentiu que havia construído algo sólido, casou-se com Maria, filha de um imigrante calabrês. Ela trazia no olhar a mesma resiliência de quem cruzara o oceano em busca de uma vida melhor. Juntos, trabalharam lado a lado, expandindo as plantações e cuidando da terra como se fosse um membro da família.

Com o tempo, a propriedade deixou de ser apenas um campo de cultivo e tornou-se um lar. Seus três filhos cresceram correndo entre os cafezais, os pés descalços tocando o solo que ele tanto lutou para conquistar. O som das risadas infantis misturava-se ao canto dos pássaros e ao farfalhar das folhas ao vento. Ali, no coração do Brasil, Vittorio não era mais apenas um imigrante. Tornara-se parte da terra que o acolheu.

Nos anos seguintes, o suor de Vittorio se transformou em prosperidade. Sua pequena fazenda expandiu-se além do que ele jamais imaginara. Com paciência e estratégia, adquiriu terras vizinhas, uma a uma, até tornar-se um dos maiores fornecedores de café da região. O aroma dos grãos recém-colhidos impregnava o ar, misturando-se à promessa de um futuro cada vez mais próspero.

Mas a riqueza de Vittorio não se media apenas em sacas de café. Ao lado de outros imigrantes italianos, ajudou a moldar uma comunidade forte e vibrante. Doou terras para a construção de uma escola, pois sabia que o conhecimento era a chave para que seus filhos tivessem um destino melhor. Contribuiu para erguer uma igreja, onde os fiéis se reuniam para rezar, buscar conforto e celebrar a vida. A vila cresceu, impulsionada pelo trabalho árduo de homens e mulheres que, como ele, haviam deixado tudo para trás em busca de uma nova chance.

No entanto, Vittorio jamais esqueceu o dia de sua partida. O último olhar lançado sobre sua terra natal permanecia gravado em sua mente, como uma fotografia desbotada pelo tempo. Sabia que nunca voltaria, que as ruelas estreitas e as montanhas de Friuli permaneceriam apenas em sua memória.

Ainda assim, ao caminhar entre os cafezais floridos, sentindo o perfume adocicado das flores brancas e ouvindo o riso de seus netos ecoando pelos campos, percebia que havia encontrado mais do que um lugar para trabalhar. Ali, fincara suas raízes. Ali, seu nome viveria além dele.




sexta-feira, 11 de abril de 2025

Famílias Vênetas no Brasil: Uma História de Trabalho e Esperança


Famílias Vênetas no Brasil: Uma História de Trabalho e Esperança


As famílias vênetas, um pilar da nossa cultura, deixaram uma marca profunda e indelével em diversas regiões deste grande país chamado Brasil. Partindo das terras do Vêneto em busca de um futuro melhor, enfrentaram longas e difíceis viagens, movidas pela esperança de uma vida digna, mas carregadas de saudades das raízes deixadas para trás.

No final do século XIX e início do XX, os vênetos, como muitos italianos, decidiram abandonar suas terras, forçados por condições econômicas e sociais devastadoras. Províncias como Verona, Belluno, Rovigo, Vicenza, Treviso e Padova estavam marcadas pela crise agrária, pela fome e pela falta de trabalho. Com uma mala simples e uma imensa carga de esperanças, embarcaram nos portos de Gênova e Veneza rumo a um mundo desconhecido, mas cheio de promessas.

No Brasil, as "terras prometidas" foram tão variadas quanto os desafios que encontraram. Os vênetos foram destinados a diversas regiões: no Sul, estados como Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná os acolheram em colônias agrícolas, enquanto no Sudeste, São Paulo e Espírito Santo os receberam nas fazendas de café e nos primeiros assentamentos montanhosos.

No Sul, as florestas virgens e o isolamento foram os principais obstáculos. As famílias vênetas tiveram de trabalhar arduamente para desmatar as terras, construir suas casas e cultivar o solo. Não havia estradas nem médicos, e a distância entre as comunidades era um fardo enorme para quem havia deixado seus entes queridos na Itália. Mas, com determinação, criaram as bases para comunidades sólidas, construindo igrejas, escolas e mercados locais, que ainda hoje são símbolos de união e resiliência.

No Espírito Santo, as montanhas tornaram-se lar de muitos vênetos, que transformaram terras difíceis em pequenos paraísos agrícolas. Com a mesma força e criatividade, contribuíram para o desenvolvimento de São Paulo, tanto nas fazendas de café quanto nas cidades, onde desempenharam trabalhos artesanais, comércio e pequenas indústrias. A cidade de São Paulo hoje é uma metrópole onde a herança vêneta permanece visível, tanto na língua quanto nas tradições familiares.

Um aspecto fundamental da cultura vêneta no Brasil é o talian, uma mistura de vêneto e italiano que ainda hoje é falada em muitas comunidades, tanto no Sul quanto no Sudeste. O talian é uma ponte entre gerações e um símbolo de como as raízes nunca são esquecidas, mesmo longe de casa.

As famílias vênetas não foram apenas agricultores, mas também pedreiros, artesãos e pequenos empreendedores. Com sua força e engenhosidade, construíram um patrimônio cultural e econômico que ainda hoje é motivo de orgulho. As primeiras igrejas, como as capelas dedicadas aos santos da tradição vêneta, os mercados locais e as escolas rurais são testemunhos de um povo que encontrou no trabalho um meio de superar todas as adversidades.

Não se pode falar dessas famílias sem lembrar a saudade que sentiam de sua terra natal. As cartas escritas aos parentes na Itália narram histórias de sacrifício e dores, mas também de esperança e sucesso. Cada palavra é uma ponte entre dois mundos: o Vêneto deixado para trás e o Brasil abraçado como novo lar.

Hoje, as comunidades vênetas no Brasil estão espalhadas por todos esses estados e representam um exemplo vivo de como a cultura, as tradições e o senso de identidade podem superar qualquer obstáculo. Os vênetos não vieram apenas para encontrar um lugar onde viver, mas transformaram São Paulo, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná em pedaços vivos do Vêneto, repletos de história e emoções.

As famílias vênetas são um testemunho eterno de como, com trabalho duro, união e orgulho por suas raízes, é sempre possível transformar esperança em realidade, construindo não apenas um futuro melhor, mas também um legado que perdura por gerações.



sexta-feira, 4 de abril de 2025

Le Remesse Económiche: Un Fiumicelo d’Oro Incredìbile

 


Le Remesse Económiche: Un Fiumicelo d’oro Incredìbile


I tempi de l’Otto e Novecento i ze stà segnà da un fenómeno straordinàrio che tanti de lori i ga descrito come na vera piova d’oro: el ritorno de capìtai verso l’Itàlia, generà da le remesse económiche de chi che ga dovù partir in serca de un futuro mèio. No ze stà mai fàssile stimar con pressision le dimenssion de sto fenómeno, parchè i dati ufissiài i conta solo le remesse “visibili”, come i vali internassionài, consolari e bancari. Tra el 1902 e el 1905, la mèdia anual de sti trasferimenti visìbili la ze stà de pì de 160 milioni de lire de quei tempi, ma ghe ze segnài che indica come el flusso reale el fusse ben pì grande.

Tante remesse le ze stà “invisìbili”, vale a dir quei schei che i emigranti i portava con lori durante i ritorni temporanei a casa, o che i afida a parenti, amissi o banchieri privà par farli rivar al loro destino. Sti schei i ze andà principalmente ´nte le zone pì poarete e marginai del paese, come el sud, dove la misèria la zera crónica, e le region montane del nord-est, come el Véneto, el Trentino e el Friuli, che a quei tempi i sofriva de gravi crisi agrìcole. Ne tanti casi, el ritorno de na remessa significava no solo miliorar el tenore de vita de una famèia, ma anche crear na spinta par altri de partir. El sònio de un futuro mèio, sostenù dai raconti e dai schei che i arivava, lori i zera na motivassion potente par i zòvani che i sercava de escapar da la fame.

Le remesse no le gavea un impacto solo su le famèie. Sti schei i ze stà fondamentai par sostegner l’economia italiana ´ntel so insieme. I ga aumentà la disponibilità de oro del paese, rinforsando la stabilità monetària, e i ga contribuì a crear le basi par el sgrandimento industrial, soratuto ´nte le region del nord. In tanti casi, i soldi mandài dai emigranti i ze servì par comprar tereni, pagar dèbiti agrìcoli, costruir case, scuole e anca pìcoli negosi. Le remesse le ze stà el filo che ligava chi ga restà in tera natìa con chi ga dovù partir.

Tra el 1876 e el 1915, pì de 14 milioni de italiani i ze emigrà. Le destinassion prinssipai le includeva el Brasile, l’Argentina, Stati Unii, ma anca paesi come el Canadà, l’Austràlia e el Sud Àfrica i ga ricevù tanti emigranti. Sto ésodo el ze stà guidà da motivi economici e sossiai. In Itàlia, le tere coltivabìli le zera poche, i racolti i sofriva per via de le crisi agrìcole, e i lavoratori i trovava poche oportunità par guadagnar na vita dessente. Altre cause ze stà le tasse alte, el sistema feudale che ancora el ga governà in tanti posti, e i contrasti polìtici che i crea instabilità e povertà.

I viài verso le nove tere no i zera sémplissi. Le condission de vita a bordo de le navi la zera teribili. I passegièri i se trovava amassài in spasi streti, con poca ària fresca e sibo scarso. Le malatie come el còlera, el tifo e el morbilo i spassava via tanti, soratuto i pì dèboli come i vèci e i putéi. Ma chi che rivava, anca dopo un viàio pien de sacrifissi, el trovava forsa par lavorar, come ´nte le piantagioni de cafè in Brasile, ´nte le pampas argentine o ´nte le fabriche americane.

Le remesse mandà da chi che lavorava de là la zera stà fondamentài. Ghe ze famèie che i ze riussì a riscatar le tere ipotecae, e altri i ze riussi a crear na picola impresa. Ne tanti paesi del sud Itàlia e del nord montan, sti schei i ze servì par costruir strade, scuole e cese. Sti interventi i ga portà no solo milioramenti materiai, ma anca speransa e orgòio par le comunità.

L’emigrassion de massa no la ze stada solo na tragèdia, con tanti che i ga lassià case e tere care, ma anca ´na spinta par l’Itàlia de quei tempi, che sensa sti aiuti i ghe sarìa restà intrapolà ´nte la so povertà. Chi partiva no se scordava da ndove che el vignia, e i schei che i mandava indrio i ghe ze stà segno de na lota comune par soraviver e par un futuro mèio.



domingo, 24 de novembro de 2024

Le Rimesse de Schei da i Emigranti par i So Parenti in Itàlia

 


Le Rimesse de Schei da i Emigranti par i So Parenti in Itàlia


Sensa dùbio, i primi tempi del emigrante ´ntela nova pàtria i zera de na dificoltà incredìbie. La lota par sopravivare la zera na roba de ogni giorno, piena de tribulassion e làgrema. Quei che ormai i zera ‘ndà in Brasile e Argentina i zera costreti a combater par sopravivare in meso a la spessa selva, su de i tereni enormi par el loro standard modesto, lontani da tuto e da tuti. Quei che i zera emigrati in i Stati Uniti, in le grande sità, i vivea anca lori in situasioni de granda misèria, in gheti sporchi, stanse o apartamenti piceni e barati,ndove mancava tuto, incluse le instalassion sanitàrie. Risparmiava ndove i podeva, par mandar pì schei a i so parenti che i ze restà in Itàlia. Par ogni scheo che i riussiva a meter via, sempre na parte la zera mandà ai cari restà a casa.

I italiani emigrà i mandava regularmente remesse de schei in Itàlia, pròprio come i fa ogi quei miliaia de emigranti che i riva là tuti i giorni. Ntel 1878, el valore de ‘ste remesse el zera 0,5% del PIB del paese, un valore importante par l’economia fràgile italiana de quel tempo.

I schei mandà da i emigranti italiani, dai USA, dal Brasile, da l’Argentina, da la Francia, Svizera e Germania i zera na gran aiuta par i parenti restà indrio. ‘Ste continue remesse, par la so quantità, le influiva ben positivo su la bilanssia de pagamenti italiana. Questo gesto da i emigranti italiani mostra chiaramente na situassion sossial disperà vissuta in Itàlia de quel tempo: "se lavorava fora, ma par far sopraviver i nostri qua", dista un´autorità del governa de l´època.

L’importanza de ‘ste remesse par l’economia italiana la se vede ben anca da le parole de un ministro italiano de queli ani che disea: “È un vero ruscello d’oro” (“Ze un vero fiume d’oro”).

I schei i zera mandà tramite na persona fidada che tornava a casa, per val di posta o, molto spesso, via posta normale, con assegni nascosti tra le pàgine de una semplice lètara. El primo banco che se ga interesà de ‘ste remesse el gera el Banco de Nàpoli, seguito dopo da altri.




sábado, 28 de setembro de 2024

Os Sonhos dos Emigrantes


 

Os Sonhos dos Emigrantes

A névoa suave da manhã cobria o porto de Gênova, onde o navio Esperança estava ancorado, preparando-se para zarpar rumo ao Brasil. Entre as sombras e os raios de sol que timidamente cortavam a neblina, um grupo de famílias italianas se reunia, carregando nas mãos não apenas malas, mas também o peso de seus sonhos e expectativas. Cada um dos emigrantes trazia em seus olhos o reflexo de um futuro idealizado, uma terra onde a fome, a miséria e as incertezas seriam substituídas pela abundância e pela dignidade.

Giuseppe Rossi, um agricultor de trinta anos, apertava a mão de sua esposa, Maria, enquanto seus dois filhos, Luigi e Clara, olhavam curiosos para o gigante de madeira que logo os levaria para uma nova vida. Giuseppe nascera e crescera na pequena aldeia de Castelfranco Veneto, onde o solo agora infértil e a falta de trabalho tornaram insuportável a luta diária pela sobrevivência. Em noites de insônia, ele frequentemente ouvia histórias de brasileiros prósperos que haviam sido contadas por viajantes e padres, promessas de uma terra onde tudo crescia, onde o trabalho era recompensado e onde os filhos poderiam sonhar sem limites.

A bordo do Esperança, os dias se arrastavam. A brisa do mar, que inicialmente era um alívio para os emigrantes, tornara-se uma constante lembrança da distância que crescia entre eles e a Itália. As noites eram preenchidas por cantos tristes, lamentos que ecoavam no porão do navio, onde os passageiros de terceira classe estavam confinados. Mas mesmo em meio às dificuldades da viagem, o sonho do Brasil permanecia vivo, alimentado pelas histórias que circulavam entre as famílias.

A primeira visão do Rio Grande do Sul foi uma miragem distante. O litoral recortado, com suas montanhas verdes e florestas densas, parecia prometer tudo o que haviam esperado. Giuseppe apertou a mão de Maria com força, e ambos trocaram um olhar cheio de esperança. “Aqui, construiremos uma nova vida”, pensou ele, certo de que aquela era a terra onde seus filhos cresceriam com dignidade e fartura.

A realidade, porém, era menos indulgente do que as histórias contadas na Itália. Assim que desembarcaram em Porto Alegre, foram direcionados para uma colônia na serra gaúcha, onde a promessa de terras férteis os aguardava. Mas ao chegar, os Rossi se depararam com uma floresta impenetrável, onde o solo virgem ainda clamava por ser desbravado. As árvores gigantescas precisavam ser derrubadas, os troncos arrastados, e os campos preparados para o plantio. As primeiras semanas foram de exaustão física e mental. O isolamento era total; a família mais próxima vivia a quilômetros de distância, e o médico mais próximo estava a dias de viagem.

Mas Giuseppe não desanimou. Ao lado de Maria, que nunca deixava de sorrir, mesmo nas horas mais difíceis, ele começou a trabalhar. As mãos calejadas, acostumadas à terra seca da Itália, aprenderam a lidar com o barro e as pedras do novo mundo. Luigi e Clara, ainda crianças, também ajudavam como podiam, colhendo frutas silvestres e aprendendo com os imigrantes vizinhos a língua portuguesa.

O primeiro inverno no Brasil foi uma prova de fogo. O frio, que eles nunca imaginariam encontrar tão ao sul, adentrava pelas frestas da madeira mal encaixada da pequena casa que haviam construído. Muitos dos imigrantes sucumbiram às doenças, à solidão e ao desespero. Giuseppe temia que sua própria família fosse também tragada por essa onda de sofrimento. Mas a fé em Deus e o amor que compartilhavam os mantiveram fortes.

Então, na primavera seguinte, o milagre aconteceu. A primeira colheita, ainda que modesta, encheu seus corações de alegria. O trigo dourado, que dançava ao vento, simbolizava não apenas o sustento físico, mas a concretização de um sonho. Os Rossi, como muitos outros, haviam finalmente encontrado seu lugar na nova terra. E com o trigo e o milho, vieram as parreiras, os vinhedos, o pão e o vinho, símbolos de uma cultura que não haviam abandonado, mas adaptado e enraizado naquele solo distante.

Os anos passaram, e as colônias italianas na serra gaúcha floresceram. Cidades como Caxias do Sul e Bento Gonçalves surgiram, erguidas pelo trabalho árduo dos imigrantes. Giuseppe, já com os cabelos grisalhos, olhava para seus filhos crescidos, agora donos de suas próprias terras, e sentia o coração aquecer. A Itália estava longe, em outro continente, mas o Brasil se tornara a sua pátria, onde seus netos cresceriam, falando português e italiano, carregando no sangue a força e a resiliência dos primeiros colonos.

No final, os sonhos dos emigrantes italianos não foram apenas expectativas de uma vida melhor; tornaram-se a realidade de um novo começo, uma nova cultura, e um novo Brasil. Giuseppe, Maria e seus descendentes são testemunhas vivas de que, mesmo em meio às dificuldades e aos desafios, a fé e o trabalho podem transformar a terra estrangeira em um lar, onde os sonhos são plantados e colhidos, geração após geração.



segunda-feira, 17 de junho de 2024

Il Viaggio di Matteo da Assisi al Brasile

 


Nelle verdi montagne che circondavano il pittoresco villaggio non lontano da Assisi, nella regione dell'Umbria, nel cuore dell'Italia, nacque Matteo, figlio di Giovanni e Maria. Era una fredda mattina di primavera quando venne al mondo, avvolto nelle speranze e nelle aspettative dei suoi genitori, che da tempo lavoravano sul fertile terreno della regione. Fin dai primi istanti della sua vita, Matteo fu immerso nella bellezza rustica e nella semplicità della vita rurale. Crescendo tra i campi ondulanti di ulivi e viti, respirando l'aria fresca delle montagne e ascoltando i canti degli uccelli che volteggiavano nei cieli azzurri. Su padre, Giovanni, era un mezzadro rispettato nella comunità, un uomo che dedicava le sue ore al duro lavoro nei campi in cambio di una modesta porzione di terra da coltivare. Sua madre, Maria, era il cuore della casa, una donna forte e amorevole che si prendeva cura della casa e dei figli con dedizione incrollabile. Matteo crebbe circondato dal calore della famiglia e dalla solidarietà dei vicini. Nel piccolo villaggio natale, vicino ad Assisi, dove tutti si conoscevano per nome e condividevano gioie e dolori, trovò un senso di appartenenza che plasmò la sua visione del mondo negli anni a venire. Mentre il tempo passava, Matteo vedeva cambiare le stagioni, ognuna portando con sé le proprie benedizioni e sfide. Imparò da suo padre i segreti della terra, lavorando fianco a fianco nei campi fin dalla tenera età, mentre assorbiva le storie e gli insegnamenti degli anziani del villaggio. Tuttavia, anche in mezzo alla tranquillità della regione, Matteo non riusciva a ignorare le storie di parenti e amici che erano partiti in cerca di opportunità al di là del mare. La situazione economica dell'Italia nel primo dopoguerra impediva lo sviluppo e la creazione di nuovi posti di lavoro per una popolazione che cresceva nelle città a causa dell'abbandono delle campagne. Sebbene il suo cuore fosse profondamente radicato nella terra che lo aveva visto nascere, sapeva che il mondo al di là delle montagne custodiva segreti e possibilità sconosciute. E così fu che, nonostante la sua iniziale resistenza, nel 1924 Matteo si trovò di fronte a una difficile scelta, quando l'Italia era ancora in fase di ripresa dopo la guerra e una serie di cattivi raccolti e difficoltà finanziarie afflissero la sua famiglia e molti altri nel villaggio. La tentazione dell'emigrazione divenne irresistibile e, insieme ad altre famiglie della provincia, Matteo si imbarcò in un viaggio incerto verso il Brasile, lasciando alle spalle le verdi colline e i legami di sangue che lo legavano alla sua terra natale. Dopo essere sbarcato al Porto di Rio de Janeiro, Matteo si trovò di fronte a una panoramica completamente diversa da quella che aveva lasciato in Italia. Le strade affollate, i suoni stridenti e la miscela di culture lo lasciarono meravigliato e un po' stordito. Tuttavia, sapeva che lì era solo l'inizio di una nuova avventura. Arrivato a Santos e salito per la Serra do Mar fino a San Paolo, Matteo contemplò le vaste piantagioni di caffè che si estendevano per la regione, comprendendo la magnitudine dell'economia caffettiera che spingeva lo stato. A San Paolo, fu tentato di stabilirsi in città, attratto dalla promessa di opportunità infinite, ma l'invito di un suo amico d'infanzia lo portò a dirigere verso l'interno fino a Ribeirão Preto. Arrivato a Ribeirão Preto, Matteo si immerse completamente nell'universo dell'edilizia civile. La sua padronanza delle tecniche di muratura, coltivata fin dall'infanzia mentre aiutava uno zio nei suoi progetti, lo distinse rapidamente per destrezza e dedizione. Presto si trovò coinvolto in progetti audaci e stimolanti, contribuendo a erigere le basi di una città in piena crescita. Mentre si dedicava al duro lavoro durante il giorno, Matteo si immerse completamente nella ricchezza della cultura brasiliana durante le sue ore di svago. Determinato a integrarsi completamente, si dedicò all'apprendimento della lingua locale, partecipando a feste tradizionali e stringendo legami di amicizia che oltrepassavano i confini. Fu in una di queste celebrazioni che il destino lo premiò con Giulia, una donna affascinante le cui radici italiane echeggiavano le sue stesse. L'amore tra loro fiorì in modo travolgente e rapido, portandoli a decidere, in poco tempo, di unirsi in matrimonio. Con Giulia al suo fianco, Matteo scopri una fonte rinnovata di motivazione per raggiungere il successo. Insieme, costruirono la propria dimora e diedero vita a una famiglia. Matteo perseverò nel suo percorso nell'edilizia civile, fondando infine la propria impresa, che emerse come una delle più rispettate della regione. Nel frattempo, Giulia si dedicava instancabilmente alla casa e ai figli, riflettendo la stessa devozione e amore che lui aveva osservato nella propria madre. Negli anni successivi, Matteo vide il fiore della città di Ribeirão Preto davanti ai suoi occhi, come un giardino che sbocciava con il tempo. Nuove strade furono accuratamente lastricate, imponenti grattacieli si eressero maestosi dove un tempo si estendevano campi aperti, e la città si trasformò in un polo economico vitale nella regione. Nel frattempo, i suoi figli furono cresciuti immersi nella ricca eredità italiana che Matteo aveva portato con sé, ma assorbirono anche avidamente le opportunità offerte dal Brasile in continua evoluzione. Matteo, ora anziano, contempla il passato con un cuore colmo di gratitudine per il cammino che lo ha condotto fino a quel punto. Si compiace del duro lavoro svolto, dei ricordi preziosi accumulati nel corso degli anni e della famiglia che ha avuto l'onore di costruire al fianco di Giulia. Sebbene le verdi colline dell'Umbria rimangano un suggestivo ricordo nella sua mente, riconosce pienamente di aver trovato una nuova casa, una nuova patria e una vita ricca di successi e significato nel caloroso cuore del Brasile.



quarta-feira, 3 de abril de 2024

A Jornada de Matteo de Assisi para o Brasil

 


Nas montanhas verdejantes que circundavam a pitoresca vila não longe de Assisi, na região da Umbria, a parte central da Itália, nasceu Matteo, filho de Giovanni e Maria. Era uma manhã ainda fria de primavera quando ele veio ao mundo, envolto nas esperanças e nas expectativas de seus pais, que há muito tempo trabalhavam na terra fértil da região.
Desde os primeiros momentos de sua vida, Matteo foi imerso na beleza rústica e na simplicidade da vida campestre. Cresceu entre os campos ondulantes de oliveiras e vinhas, respirando o ar fresco das montanhas e ouvindo os cânticos dos pássaros que pairavam nos céus azuis.
Seu pai, Giovanni, era um mezzadro respeitado na comunidade, um homem que dedicava suas horas ao trabalho árduo nos campos em troca de uma modesta parcela de terra para cultivar. Sua mãe, Maria, era o coração do lar, uma mulher forte e amorosa que cuidava da casa e dos filhos com dedicação inabalável.
Matteo cresceu rodeado pelo calor da família e pela solidariedade dos vizinhos. Na pequena vila natal, próxima de Assisi, onde todos se conheciam pelo nome e compartilhavam alegrias e tristezas, ele encontrou um senso de pertencimento que moldaria sua visão de mundo nos anos seguintes.
Enquanto o tempo passava, Matteo testemunhava as estações mudarem, cada uma trazendo consigo suas próprias bênçãos e desafios. Ele aprendeu com seu pai os segredos da terra, trabalhando lado a lado nos campos desde tenra idade, enquanto absorvia as histórias e os ensinamentos dos mais velhos na vila.
No entanto, mesmo em meio à tranquilidade da região, Matteo não conseguia ignorar as histórias de parentes e amigos que partiram em busca de oportunidades além-mar. A situação economica da Itália no pós guerra impedia o desenvolvimento e a criação de novos postos de trabalho para uma população que crescia nas cidades pelo abandono do campo. Embora seu coração estivesse profundamente enraizado na terra que o viu nascer, ele sabia que o mundo além das montanhas guardava segredos e possibilidades desconhecidas.
E foi assim que, apesar de sua resistência inicial, Matteo se viu confrontado com uma escolha difícil em 1924, quando a Itália ainda estava se recuperando da guerra, uma série de más colheitas e dificuldades financeiras assolaram sua família e muitos outros na vila. A tentação da emigração tornou-se irresistível, e junto com outras famílias da província, Matteo embarcou em uma jornada incerta em direção ao Brasil, deixando para trás as colinas verdejantes e os laços de sangue que o ligavam à sua terra natal.
Após desembarcar no Porto do Rio de Janeiro, Matteo se encontrou diante de uma paisagem completamente diferente daquela que deixara para trás na Itália. As ruas movimentadas, os sons estridentes e a mistura de culturas o deixaram maravilhado e um pouco atordoado. No entanto, ele sabia que ali estava apenas o início de uma nova jornada.
Ao chegar em Santos e subir a Serra do Mar até São Paulo, Matteo contemplou as vastas plantações de café que se estendiam pela região, compreendendo a magnitude da economia cafeeira que impulsionava o estado. Em São Paulo, ficou tentado a se estabelecer na cidade, seduzido pela promessa de oportunidades infinitas, mas o convite de seu amigo de infância o levou a seguir rumo ao interior até Ribeirão Preto.
Ao chegar em Ribeirão Preto, Matteo imergiu profundamente no universo da construção civil. Seu domínio das técnicas de alvenaria, cultivado desde a infância enquanto auxiliava um tio em suas empreitadas, rapidamente o destacou pela destreza e dedicação. Logo, viu-se envolvido em projetos audaciosos e desafiadores, contribuindo para erigir os fundamentos de uma cidade em pleno crescimento.
Enquanto se entregava ao trabalho árduo durante o dia, Matteo mergulhava de corpo e alma na riqueza da cultura brasileira durante suas horas de folga. Determinado a se integrar completamente, ele dedicou-se a aprender o idioma local, imergindo em festas tradicionais e estabelecendo laços de amizade que transcendiam fronteiras. Foi em uma dessas celebrações que o destino o presenteou com Giulia, uma mulher cativante, cujas raízes italianas ecoavam as suas próprias. O amor entre eles floresceu de forma arrebatadora e rápida, guiando-os a decidir, em pouco tempo, unirem-se em matrimônio.
Com Giulia como sua companheira, Matteo descobriu uma fonte renovada de motivação para alcançar o sucesso. Unidos, eles ergueram sua morada e deram vida a uma família. Matteo persistiu em sua jornada na construção civil, eventualmente fundando sua própria empresa, que ascendeu para se tornar uma das mais conceituadas da região. Enquanto isso, Giulia dedicava-se incansavelmente ao lar e aos filhos, espelhando a mesma devoção e amor que ele testemunhara em sua própria mãe.
Ao longo dos anos, Matteo testemunhou o florescimento de Ribeirão Preto diante de seus olhos, como um jardim que desabrochava com o tempo. Novas ruas foram meticulosamente pavimentadas, imponentes arranha-céus ergueram-se majestosos onde outrora se estendiam campos abertos, e a cidade transformou-se em um polo econômico vital na região. Enquanto isso, seus filhos foram criados imersos na rica herança italiana que Matteo trouxera consigo, mas também absorveram avidamente as oportunidades oferecidas pelo Brasil em constante evolução.
Matteo, agora idoso, contempla o passado com um coração transbordando de gratidão pela jornada que o conduziu até este ponto. Ele se regozija com o trabalho árduo que desempenhou, com as memórias preciosas que acumulou ao longo dos anos e com a família que teve a honra de construir ao lado de Giulia. Embora as montanhas verdejantes da Umbria permaneçam como um cenário nostálgico em sua mente, ele reconhece plenamente que encontrou um novo lar, uma nova pátria, e uma vida repleta de realizações e significado no caloroso coração do Brasil.



quarta-feira, 11 de outubro de 2023

De Rovigo ao Interior de São Paulo: a Longa Jornada dos Imigrantes Italianos no Brasil

 



Santo Pazette e sua esposa, Isabella Merlini, deixaram sua terra natal em uma longa jornada transatlântica rumo à América, com destino ao Brasil, no ano de 1886. Santo Pazette nasceu na Itália em 1860, em um pequeno município do interior da província de Rovigo, no Veneto, e veio a falecer em 1941. Sua esposa, Isabella Merlini, também nasceu na mesma província, em 1866, e faleceu em  1942. Com o casal, vieram para o Brasil seus dois filhos pequenos, nascidos na Itália. Ao chegarem ao Brasil, a família se estabeleceu em um lugar distante de grandes centros, onde passaram a trabalhar na extensa fazenda de cultivo de café propriedade de um rico fazendeiro, o qual tinha até o título de Barão. Em meio às vastas terras, Santo Pazette e sua esposa dedicaram-se integralmente a cuidar de milhares de pés de café, limpando a terra do mato que teimosamente não parava de crescer. No tempo da colheita, o trabalho era dobrado. Depois de colhidos manualmente, os grãos eram levados para uma grande área calçada por pedras, para secarem ao sol. Depois de secos, o que demorava alguns dias, os grãos eram ensacados e levados em carroções até a estação ferroviária que ficava em uma comunidade vizinha. No entanto, a vida desse casal de imigrantes começou com tristezas, pois já tendo perdido dois filhos na Itália, agora, infelizmente, perderam também os dois filhos que trouxeram consigo para o Brasil. Com o tempo, o lar deles foi iluminado com o nascimento de seus outros filhos Guerino, Domenico, Giuseppe, Albino e Teresa. Todos os imigrantes que trabalhavam na fazenda, mais de uma centena, precisavam comprar alguns mantimentos no armazém local da propriedade, cujos preços eram bem mais altas que nas cidades, resultando em uma alta conta para Santo Pazette. Decidiram, então, economizar ainda mais, na alimentação diária da família passaria a base de polenta, como quando ainda moravam na Itália, um excelente alimento, e suco de laranja. A farinha de milho para preparar a polenta era adquirida em troca de milho no engenho de açúcar da mesma fazenda. Além disso, eles mantinham, com o consentimento do patrão, uma pequena horta e alguns poucos animais de criação, como 1 ou 2 porcos, uma vaca para leite e aves, cuja carne e ovos complementavam a pobre alimentação. Graças às suas economias, e para isso todos da família contribuíam, vendendo sabão, hortaliças, ovos e os doces que a prendada Isabella e a filha Teresa faziam e vendiam na própria fazenda e até nas cidades próximas, quando íam nos dias de folga ou finais de semana. Ao longo de dez longos anos, eles finalmente conseguiram deixar o trabalho assalariado na fazenda e adquiriram um terreno relativamente grande e fértil em uma cidade vizinha que estava vivendo um período de intenso crescimento da sua população. Decidiram se estabelecer ali pois já a conheciam e lá já tinham alguns amigos e até fregueses para os quitutes das mulheres da casa. Santo e Isabella, junto com todos os filhos já casados e seus primeiros netos, passaram a fazer parte da comunidade italiana local, Santo trabalhando em uma olaria, fabricando tijolos e telhas de barro e os filhos foram se colocando na crescente indústria e no comércio local. A única exceção foi sua filha Teresa Pazette, que se casou com Angelo Marino, também de origem italiana, e se estabeleceu em uma outra fazenda de plantação de cana de açúcar, onde seu marido trabalhava como gerente e ganhava mais que a maioria dos empregados. 
Com o passar dos anos, a família prosperou na nova cidade. O terreno que adquiriram tornou-se um lar acolhedor, onde plantavam não apenas diversas frutas e hortaliças que contribuíam para a mesa farta da família e o que sobrava era vendido na cidade.
Santo Pazette continuou a trabalhar na olaria, aprimorando suas habilidades na produção de tijolos e telhas, enquanto Isabella, com sua experiência culinária, expandiu a produção de doces e quitutes que se tornaram famosos na região. A pequena horta e os animais de criação no quintal contribuíam com ingredientes frescos e sadios. 
A casa dos Pazette foi se tornando um ponto de encontro para a comunidade italiana local, onde as velhas tradições italianas eram preservadas e celebradas. As festas familiares eram marcadas por risos, música e, é claro, boa comida. A história de perseverança e superação dos imigrantes italianos inspirava não apenas os descendentes da família Pazette, mas também aqueles ao seu redor.
Os filhos de Santo e Isabella seguiram caminhos diversos. Os filhos, os mais velhos,  continuaram no ramo industrial, enquanto o caçula, que tinha dom para negócios, explorou as oportunidades no comércio local e nas cidades vizinhas, abrindo uma pequena loja de material de construção, que com o tempo se transformou em um império nas mãos de seus filhos. Teresa e Angelo Marino prosperaram na fazenda de cana de açúcar, contribuindo para a prosperidade da família. Depois de alguns anos ela e marido também adquiriram uma pequena chácara na mesma cidade e passaram a morar perto dos pais.
Com o tempo, a cidade testemunhou o crescimento da comunidade italiana, que se tornou uma parte integral da cultura local. Os Pazette foram reconhecidos não apenas pelo trabalho árduo, mas também por sua generosidade e envolvimento na comunidade. Seu legado perdurou através das gerações, e o nome da família era sinônimo de resiliência e sucesso.
Ao final de suas vidas, Santo e Isabella puderam contemplar o que construíram: uma família unida, uma comunidade fortalecida e uma história de superação que seria contada por muitas gerações. Faleceram com um ano de diferença um do outro e seus túmulos, localizados no cemitério da cidade, eram visitados não apenas pela família, mas por todos que reconheciam a contribuição valiosa dos Pazette para a construção daquele lugar. A jornada que começou em uma pequena vila no interior de Rovigo, na Itália, culminou em uma vida plena e significativa no Brasil, e o nome Santo Pazette tornou-se uma referência de determinação e sucesso.