lcbpiazzetta
Espaço destinado aos temas referentes principalmente ao Vêneto e a sua grande emigração. Iniciada no final do século XIX até a metade do século XX, este movimento durou quase cem anos e envolveu milhões de homens, mulheres e crianças que, naquele período difícil para toda a Itália, precisaram abandonar suas casas, seus familiares, seus amigos e a sua terra natal em busca de uma vida melhor em lugares desconhecidos do outro lado oceano. Contato com o autor luizcpiazzetta@gmail.com
lcbpiazzetta
Fragmentos de Amor
As Histórias de Dona Clara
Em um tranquilo lar para idosos, cercado por árvores frondosas e jardins floridos, uma velha senhora chamada Dona Clara passava suas tardes sentada em uma poltrona confortável, de tecido azul desbotado. O ambiente ao seu redor era acolhedor, com o suave cheiro de flores que entrava pelas janelas abertas e o canto dos pássaros que se aninhavam nos galhos das árvores. Seus cabelos brancos, finos como algodão, emolduravam seu rosto sereno, e seus olhos azuis brilhavam com a luz de memórias passadas, mas também com uma sombra de tristeza.
Hoje, ela decidiu folhear um álbum de fotografias antigas que guardava com carinho. A capa de couro desgastada do álbum refletia os anos vividos, e ao abrir a primeira folha, Dona Clara encontrou uma foto de seu casamento. Nela, ela usava um vestido branco simples, mas elegante, com detalhes em renda que pareciam ter sido feitos à mão. O sorriso radiante de seu marido, Antônio, iluminava a imagem como um farol em meio à escuridão do tempo. Ela podia quase ouvir as risadas e o tilintar das taças de champagne daquele dia especial. Lembranças do salão decorado com flores frescas e da música suave que preenchia o ar dançavam em sua mente. “Ah, Antônio”, murmurou ela, sentindo uma onda de nostalgia. “Quantas danças nós tivemos naquela noite!”
Seguindo em frente nas páginas amareladas pelo tempo, Dona Clara encontrou fotos dos filhos brincando no quintal da antiga casa. A imagem deles correndo atrás de um cachorro que parecia tão feliz quanto eles a fez rir baixinho. Os rostos sorridentes eram como raios de sol em um dia nublado; a alegria pura e inocente da infância transbordava em cada clique. Contudo, enquanto revivia essas memórias felizes, uma mágoa profunda a envolvia: fazia meses que seus filhos e netos não a visitavam. A ausência deles pesava em seu coração como uma nuvem escura sobre um dia ensolarado.
Ela se lembrou das histórias que contava à noite, quando os pequenos se aninhavam ao seu redor, com os olhos brilhando de expectativa e as bochechas coradas pela emoção. Cada risada e cada abraço eram tesouros que ela guardava no coração como pérolas preciosas. Mas agora, o silêncio do lar parecia ecoar sua solidão; as visitas que antes eram frequentes tornaram-se raras e distantes.
Enquanto folheava as páginas do álbum, Dona Clara percebeu que as fotografias não eram apenas imagens; eram fragmentos de amor e conexão. Cada rosto trazia consigo uma história única e uma emoção palpável. Ela se lembrou das dificuldades enfrentadas ao longo da vida: as noites insones cuidando dos filhos doentes, as lágrimas derramadas nas despedidas e as alegrias simples que tornavam tudo suportável. “Se ao menos eu pudesse compartilhar essas memórias com eles agora”, pensou, sentindo-se um pouco solitária em meio àquelas recordações vibrantes. Mas logo sua mente se iluminou com a ideia de que essas histórias poderiam ser contadas novamente.
Inspirada por essa reflexão e pela necessidade de se conectar mais uma vez com sua família, Dona Clara decidiu que iria escrever suas memórias para seus filhos e netos. Com um sorriso nos lábios e um brilho nos olhos que refletiam a determinação renovada — mas também um toque de tristeza — ela começou a planejar como organizaria suas histórias em um livro. As palavras dançavam em sua mente como folhas ao vento; cada memória era uma página em branco esperando para ser preenchida com amor e sabedoria.
“Essas memórias não podem ficar apenas nas páginas do álbum”, disse para si mesma enquanto acariciava a capa do livro com ternura. “Elas precisam viver.” A ideia de deixar um legado para sua família encheu seu coração de alegria e esperança, mas também um desejo profundo de reencontrar aqueles que tanto amava.
Com o coração aquecido pela nova missão que se apresentava diante dela — embora ainda marcado pela mágoa da ausência dos filhos — Dona Clara fechou o álbum e olhou pela janela do lar. As folhas das árvores dançavam ao vento como se estivessem celebrando sua decisão; o sol filtrava-se através dos galhos, criando padrões luminosos no chão coberto de grama verdejante. Naquele momento mágico, a velha senhora branca não era apenas uma guardiã de memórias; ela estava prestes a se tornar uma contadora de histórias, unindo passado e presente através da magia das palavras.
E assim, naquela tarde ensolarada, Dona Clara sorriu para o futuro que se desenrolava diante dela, cheia de esperança e determinação para compartilhar sua rica história de vida com aqueles que mais amava — mesmo na ausência deles.
A Luz da Fé: Sob o Céu do Novo Mundo
O Navio da Esperança
A neblina pairava sobre o porto de Gênova como um véu de luto, abafando os sussurros e soluços dos que se despediam. O homem apertava a mão da esposa, sentindo o frio do metal da aliança de casamento. Ao lado deles, três crianças olhavam para o horizonte, onde o vasto Atlântico prometia uma nova vida, enquanto a mãe dele, uma senhora viúva conhecida em família como nonna Pina, mantinha os olhos baixos, escondendo o desespero que crescia em seu peito. As ruas estreitas de Vicenza, a praça onde brincavam, a igreja onde se casaram, tudo isso ficava para trás, reduzido agora a lembranças dolorosas.
O Brasil, o El Dorado, era um sonho distante, vendido pelos agentes de imigração como a terra das oportunidades. Mas para o homem, o que começara como uma necessidade premente de fugir da fome e da miséria tornava-se, a cada quilômetro percorrido pelo mar, uma escolha amarga, uma traição silenciosa às raízes que nunca deixariam de sangrar.
Naquela longa e turbulenta viagem, as esperanças se misturavam ao medo. As águas revoltas do Atlântico espelhavam a tempestade de emoções que tomava conta daqueles corações exilados. As noites eram repletas de sonhos interrompidos, pesadelos onde a pátria parecia se distanciar cada vez mais. No fundo de seus pensamentos, sempre pairava a dúvida: teriam feito a escolha certa ao deixar a terra natal?
Ao desembarcar no porto de Rio Grande, foram recebidos por um calor sufocante e uma língua desconhecida que parecia um emaranhado de sons. A longa viagem de barco pelo Rio Jacuí até a colônia italiana na Serra Gaúcha era longo e árduo, através de estradas que não existiam e trilhas no meio da mata fechada. A terra, parecia ser fértil, mas necessitava de muito esforço para domá-la, os desafios eram muitos e surgiam a cada instante. O homem sentia o peso do mundo sobre seus ombros; a promessa de uma nova vida rapidamente se desfez diante da realidade brutal de derrubar a mata, cultivar um solo rebelde e enfrentar as doenças tropicais.
A esposa, sempre forte e silenciosa, cuidava da casa improvisada com uma dignidade que impressionava todos ao redor. Ela mantinha as tradições italianas vivas, tentava cozinhar pratos que evocavam o sabor de casa, mas o gosto sempre parecia faltar. A nonna Pina, por sua vez, via os dias se arrastarem, consumida por uma saudade que parecia um câncer na alma. Ela sonhava com o retorno, com as ruas de pedra, as vozes familiares, mas sabia, no fundo, que nunca mais veria sua pátria.
Os primeiros meses na colônia foram marcados por privações e trabalho incessante. As crianças, ainda pequenas, aprendiam a conviver com o barro e a dureza da vida rural. O homem e a mulher trabalhavam duro do amanhecer ao anoitecer, desbravando a mata, erguendo cercas, tentando domar uma terra que se recusava a ser conquistada. À noite, quando todos dormiam, ele se permitia olhar para o céu estrelado e imaginar que, em algum lugar distante, sua Itália também estava sob aquele mesmo céu, esperando por seu retorno.
O inverno na Serra Gaúcha era implacável. A família, mesmo acostumada com o clima gélido dos invernos do Veneto, sentiu o frio cortar seus corpos e almas pela falta de um abrigo mais fechado. As roupas eram inadequadas, as casas mal construídas deixavam passar o vento gelado, e as provisões escasseavam. A esposa cuidava das crianças como podia, envolvendo-as em mantas improvisadas, contando histórias ao redor do fogo para mantê-las aquecidas, tanto no corpo quanto no espírito.
Os dias passavam lentamente, e a saudade se tornava um companheiro constante. Nas noites silenciosas, a nonna murmurava rezas em italiano, suas mãos trêmulas apegando-se ao terço como um último elo com a terra que tanto amava. As crianças, embora jovens, percebiam o peso daquele fardo invisível que seus pais carregavam. Cresciam entre dois mundos: o das histórias e canções italianas, e o da realidade dura e implacável do Brasil.
O tempo transformou a colônia em um lugar de contrastes. Por um lado, agora trabalhavam na própria terra, nao dependiam de patrões e não precisavam mais dividir as colheitas. Havia a promessa de uma nova vida, de prosperidade e de um futuro melhor para os filhos. Por outro, a realidade de que cada dia ali era uma luta constante, uma batalha travada contra a natureza, contra a distância, contra a saudade. A terra que prometia tanto, entregava pouco. Os campos que deveriam florescer com vinhas e trigais estavam cobertos de ervas daninhas e pedras.
A cada carta recebida da Itália, a dor se renovava. As notícias de parentes que ficavam para trás, as festas e celebrações que não mais participavam, tudo isso servia para lembrar que estavam longe, muito longe de casa. O retorno, que no início parecia uma possibilidade real, foi se tornando um sonho cada vez mais distante. As economias que deveriam ser guardadas para a volta eram gastas em necessidades imediatas: ferramentas, remédios, comida.
As crianças, crescendo entre a cultura italiana dos pais e a brasileira que os cercava, começavam a perder o vínculo com a terra dos antepassados. Falavam um português com sotaque carregado, misturado com palavras italianas que não faziam sentido para os outros colonos. Era uma identidade em formação, um misto de dois mundos que nunca se encaixariam completamente.
O homem observava esse processo com tristeza. Via seus filhos se afastarem, pouco a pouco, das tradições que tanto prezava. O desejo de retornar à Itália tornou-se um peso esmagador. A cada ano que passava, a realidade de que nunca mais voltariam ficava mais clara. A Itália, com suas colinas verdes e vinhedos, não era mais uma opção. Estavam presos a uma terra que não os abraçava, mas que também não os deixava partir.
Os anos trouxeram mais dificuldades, mas também uma certa aceitação. A esposa, que no início lutava contra a realidade, agora se resignava. Encontrava força na família, na certeza de que, apesar de tudo, estavam juntos. A nonna, em seu leito de morte, pediu apenas uma coisa: que, onde quer que fossem enterrados, uma pequena porção de terra da Itália fosse colocada sobre seus corpos, para que, mesmo na morte, estivessem ligados ao lar que tanto amaram.
Com o tempo, a colônia começou a prosperar. As primeiras colheitas foram modestas, mas suficientes para alimentar a esperança. Os colonos se ajudavam mutuamente, criando uma comunidade onde o espírito de solidariedade era tão forte quanto o amor pela pátria distante. A igreja, construída com esforço coletivo, tornou-se o coração da colônia, onde todos se reuniam para rezar e manter viva a chama da fé.
O homem, agora envelhecido, olhava para a colônia com um misto de orgulho e tristeza. Havia criado raízes ali, mas sentia que uma parte de si sempre estaria em outro lugar. A esposa, ainda forte apesar dos anos, cuidava do lar com o mesmo zelo de sempre, mas seus olhos estavam cansados. As crianças, já crescidas, agora trabalhavam ao lado dos pais, mas sonhavam com um futuro diferente, mais moderno, menos ligado às tradições que sustentaram seus pais.
O sonho de retorno à Itália, um sonho que um dia foi vivo e pulsante, havia se transformado em uma lembrança amarga, um lamento silencioso que acompanharia a família para sempre. No entanto, a colônia continuava a crescer, e com ela, a nova geração que carregava no sangue a herança dos imigrantes, mas que também começava a forjar uma nova identidade, uma identidade brasileira.
No fim das contas, a vida na colônia italiana do Rio Grande do Sul era uma vida de adaptação e transformação. O que começou como um sonho de retorno se converteu em uma aceitação melancólica da nova realidade. O amor pela Itália permaneceu, mas agora dividido com o novo lar. A nonna, que tanto sonhou em voltar, encontrou a paz no solo brasileiro, onde foi sepultada sob uma pequena porção de terra italiana, trazida com carinho pelos seus parentes.
Os anos passaram, as gerações se sucederam, mas a história daqueles primeiros imigrantes, que lutaram contra a saudade e a adversidade para construir uma nova vida, foi transmitida de pai para filho, como um legado de coragem, fé e resiliência. E assim, entre montanhas e vales, sob o céu da Serra Gaúcha, a memória da Itália continuava a viver, nos corações e nas histórias daqueles que um dia sonharam em voltar, mas encontraram seu destino em terras brasileiras.
O Eco das Memórias
Isabel sentava-se junto à janela do seu pequeno quarto de 12 metros quadrados, observando o movimento silencioso do jardim do lar de idosos. As árvores balançavam suavemente ao vento, como se sussurrassem segredos antigos que só elas conheciam. As flores, cuidadas com esmero por algum jardineiro anônimo, exibiam suas cores vivas, contrastando com a monotonia cinzenta que Isabel sentia em seu coração.
Ela pensava nos filhos, quatro ao todo. Cada um seguiu seu caminho, construindo suas vidas, criando seus próprios filhos. Isabel nunca foi de reclamar, mas a saudade era uma companheira constante. Seus netos, onze pequenas extensões do seu amor, eram a razão de muitos dos seus sorrisos solitários. Os bisnetos, dois pequeninos que ela mal conhecia, eram como um sonho distante, quase irreal.
"Como chegamos a isso?", perguntava-se. Isabel lembrava-se das noites em que fazia nuggets e ovos recheados, e dos almoços de domingo com rolos de carne moída que tanto agradavam a todos. Lembrava-se das risadas ecoando pela casa, dos brinquedos espalhados, das brigas infantis e das reconciliações rápidas. Era uma casa cheia de vida.
Agora, a vida dela estava limitada a este pequeno quarto. Não havia mais a sua casa, nem as suas coisas amadas. Os móveis que escolheu com tanto carinho foram substituídos por peças impessoais. Ela tinha quem arrumasse seu quarto, quem lhe preparasse as refeições, quem lhe fizesse a cama, quem lhe controlasse a pressão e a pesasse. Mas não tinha mais a alma do lar que tanto amava.
As visitas dos filhos e netos eram raras. Alguns vinham a cada quinze dias, outros a cada três ou quatro meses. Alguns, nunca. Isabel tentava não se abater com isso, mas a ausência deles era um fardo pesado. Não fazia mais sentido preparar seus pratos favoritos ou decorar a casa para recebê-los. Sua alegria era agora contida em passatempos solitários, como o sudoku, que a entretinha por alguns momentos.
Naquele lar, Isabel conheceu outras pessoas. Muitas estavam em condições piores que a dela. Ela se apegava a algumas, ajudava no que podia, mas evitava criar laços muito fortes. "Eles desaparecem frequentemente", pensava. A vida no lar era uma constante dança com a morte. O tempo passava devagar, mas cada dia parecia trazer a notícia de uma nova partida.
Dizem que a vida é cada vez mais longa. "Por quê?", questionava Isabel em seus momentos de solidão. Quando estava sozinha, olhava para as fotos da família e para algumas memórias que trouxera de casa. Isso era tudo o que lhe restava. A decisão de ir para o lar não foi fácil. Isabel ainda se lembrava da reunião de família, quando todos se sentaram ao redor da grande mesa de jantar que agora pertencia a outra pessoa. Seus filhos tentaram convencê-la de que era o melhor para ela. “Mãe, você não pode mais viver sozinha”, disseram. “É perigoso, e no lar você terá todos os cuidados de que precisa.”
Ela sabia que estavam certos, mas doía pensar em deixar a casa onde criou sua família. A casa tinha alma, e cada canto estava impregnado de lembranças. Quando fechou a porta pela última vez, Isabel sentiu como se um pedaço de seu coração ficasse para trás.
O lar parecia mais uma instituição hospitalar do que uma casa. Os corredores eram amplos e frios, as paredes brancas e sem vida. O quarto que lhe designaram era pequeno, mas ela tentou decorá-lo com alguns objetos pessoais: fotos dos filhos e netos, um quadro que ela mesma pintara, e uma colcha de crochê feita por sua mãe. Mas nada conseguia mascarar a sensação de solidão.
Os primeiros dias foram os mais difíceis. Isabel estava acostumada à sua rotina, à liberdade de fazer o que queria quando queria. No lar, tudo era controlado. As refeições tinham hora marcada, assim como os remédios e as atividades. Era uma mudança brusca e dolorosa. Com o passar do tempo, Isabel começou a conhecer os outros moradores. Havia Dona Maria, uma senhora de 90 anos com um sorriso contagiante, mas que sofria de Alzheimer. Seu José, um ex-marinheiro com histórias fascinantes, mas com uma saúde frágil. E Dona Clara, uma mulher que, como Isabel, fora deixada pelos filhos no lar e nunca recebia visitas.
Essas novas amizades traziam algum alívio à solidão de Isabel. Ela passava horas ouvindo as histórias de Seu José e ajudando Dona Maria a lembrar dos nomes dos filhos. Mas cada nova amizade vinha com o medo da perda. As despedidas eram frequentes, e Isabel começou a se proteger, evitando se apegar demais.
A terapia ocupacional era uma das atividades que Isabel mais apreciava. Ela se sentia útil, ajudando a organizar eventos, fazendo artesanato e até ensinando as enfermeiras a fazerem os pratos que um dia preparou para sua família. Mas mesmo esses momentos de alegria eram sombreados pela tristeza da ausência daqueles que ela mais amava. Isabel passava muito tempo refletindo sobre a vida e o que ela ensinara. Lembrava-se das palavras da própria mãe: “A família se constrói para ter um amanhã”. Ela criara seus filhos com amor e dedicação, esperando que um dia eles retribuíssem com o mesmo cuidado. Mas a realidade era diferente. Eles estavam ocupados com suas próprias vidas, seus próprios filhos e problemas.
Ela não os culpava. Entendia que o mundo mudara, que as pressões do trabalho e da vida moderna afastavam as pessoas. Mas ainda assim, doía. Isabel queria que as próximas gerações entendessem a importância de cuidar daqueles que nos cuidaram. Que vissem além da correria do dia a dia e encontrassem tempo para estar com os mais velhos, para ouvir suas histórias, para retribuir o amor que receberam.
Certa noite, Isabel estava sentada à janela, observando as estrelas. Pensava na vida, na morte e no que viria depois. Sentiu uma calma profunda ao perceber que, apesar de tudo, vivera uma vida plena. Criara uma família, amara e fora amada. E mesmo que agora estivesse sozinha, tinha suas memórias e a certeza de que fizera o melhor que pôde. O tempo passou, e Isabel tornou-se uma memória no lar onde viveu seus últimos dias. Mas suas palavras e ensinamentos permaneceram. Os filhos e netos, tocados pela ausência e pelas reflexões tardias, começaram a valorizar mais o tempo com suas próprias famílias. O ciclo da vida continuava, mas com uma nova consciência sobre a importância da presença, do cuidado e do amor.
Isabel se foi, mas deixou um legado. Seu quarto de 12 metros quadrados, que um dia fora um símbolo de solidão, tornou-se um símbolo de esperança. Uma lembrança de que, no final, o que realmente importa são os laços que construímos e o amor que deixamos para trás.
Destinos Entrelaçados: A Jornada da Emigração