quinta-feira, 5 de abril de 2018

A Emigração Italiana no Paraná e Don Angelo Cavalli



No Arquivo Público do Estado do Paraná encontramos registro dos sobrenomes de um grande número de imigrantes italianos, a grande maioria composta de vênetos, que foram recrutados e vieram no ano de 1877 com o Padre Angelo Cavalli para a então Província do Paraná.
Eles chegaram ao Estado através do Porto D. Pedro II, em Paranaguá, nos dias 15 a 17 de Novembro deste mesmo ano, destinados à Colônia Nova Itália, em Morretes. Trata-se de quase 800 emigrantes italianos que possuíam contrato de emigração e destinação definida.
Alguns anos mais tarde, com o falimento do projeto Colônia Nova Itália, a maioria deles subiu a Serra do Mar e foram assentados nas várias colônias que estavam sendo criadas nos arredores de Curitiba, entre elas a Colônia Dantas, atual Bairro da Água Verde.
Na longa relação com todos os nomes, vamos relacionar somente os sobrenomes, os quais, as vezes, identificam mais de um grupo familiar.
Assim nesses dias chegaram as famílias:



Accordi, Alberti, Ambrosi, Andreatta, Arcot, Bassani, Basso, Battaglia, Bazza, Bernardino, Bertopetto, Bobbato, Bonato, Bonin, Bonturio, Busato, Caliari, Carazzai, Carrozai, Casagrande, Cativelli, Cavallari, Cavalli, Cavarzin, Ceccon, Cemin, Ceremin, Chemenazzo, Cicanto, Cocchinel, Conte, Costa, Dagostin, Dalazuanna, Daldin, Dalla Zuana, Diapaolo, Disegna, Dolta, Dondeo, Ferronato, Fracaro, Fracarolli, Gabardo, Generini, Gianesin, Giuliani, Grando, Guarise, Guernesini, Lavaro, Lazzaroto, Leonardi, Lusardi, Maestrello, Marchiori, Marconcini, Mareschi, Martin, Martini, Menegato, Mattani, Menon, Migianlaro, Mingleti, Mocellin, Mocellin, Moletta, Moreschi, Mosele, Motin, Motin, Nicoli, Nodari, Panzarim, Pasi, Pasinato, Pieroboni, Polati, Poli, Pomparollo, Pontarollo, Pracaro, Razzolin, Riva, Roza, Sarchetti , Sartore, Sasso, Scamagnotte, Scamoncini, Scopel, Scremin, Settin, Signoretti, Spoladore, Strapasson, Tasca, Tessari, Todeschini, Tomasi, Tosin, Trevensoli, Vittorazzo, Volpe, Zaffari, Zanon, Zanoni, Zem, Zuelle.




Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta

Erechim RS

Algumas Antigas Profissões da Época da Emigração Vêneta



A emigração sazonal e a imigração de trabalhadores italianos, e especialmente os vênetos, dentro da própria Itália ou para os países vizinhos, trazia um alívio bem grande para a combalida economia, das pequenas e grandes cidades, na medida que os artesãos se deslocavam em busca do trabalho, chegando muitas vezes em locais bem distante das suas casas, onde conseguiam ganhar algum dinheiro para tocar as suas vidas e a de suas famílias.  
As estradas e as ruas dessas pequenas cidades ou no campo, uma quantidade enorme de profissionais deambulavam diariamente, oferecendo mão de obra e o objetos produtos do seu trabalho. Uma das características de todos eles era gritarem pelas ruas das localidades visitadas, fazendo assim a sua publicidade, para atrair os seus clientes.
Estes artesãos, geralmente, aprendiam o ofício trabalhando como aprendizes dos seus pais, e a profissão passavam adiante, para seus filhos e netos. Existiam famílias de artesãos que, por diversas gerações, os homens do grupo exerciam determinada profissão já há centenas de anos. Era uma tradição familiar exercer o ofício dos pais e dos seus antepassados.
Assim temos alguns exemplos dessas atividades: o seggiolaio (ou careghèr, caregheta  ou caregàro, em dialeto) responsável pela fabricação e venda de cadeiras, além de dar a manutenção periódica das cadeiras de palha entrelaçada.
O spazzacamino (ou el spàssa camin. em dialeto) responsável pela limpeza interna dos chaminés. Viviam sempre sujos de fuligem negra que cobria todo o seu  corpo, inclusive o rosto. Geralmente usavam um chapéu alto, espécie de uma cartola, que também os identificava.
O afiador de facas, ou arrotino em italiano e (moleta em dialeto vêneto) que afiava as facas e outros instrumentos cortantes, como tesouras e utensílios usados no trabalho agrícola. Usava uma bancada de madeira adaptada sobre o eixo de uma grande roda de carroça, com a qual se deslocava e no momento de afiar, passava uma larga cinta de couro ao seu redor, e obtinha movimento através da pressão intermitente, de uma tábua estreita, colocada ao lado a qual era movimentada com o pé. Se fazia anunciar com o penetrante silvo característico da profissão, obtido pela fricção de uma dura  lâmina de ferro contra o rebolo que girava em alta velocidade.
Algumas vilas, e mesmo alguns pequenos municípios vênetos, concentravam um grande número deles e quase todos quando emigraram definitivamente para várias partes do mundo, levaram consigo esta profissão.
O stagnino ou stagnin em dialeto vêneto, eram o funileiro, o latoeiro, o encanador que também reparava as panelas furadas ou quebradas com rachaduras.
O straccivendolo ou trapeiro, que era o catador de papéis, roupas descartadas e outros objetos jogados fora.
O ombrelàro, profissional que fabricava os guarda chuvas e também os consertava na casa dos fregueses.
O muratore, ou em dialeto vêneto el muràro ou el murèr, que se dedicava a executar os trabalhs com tijolos ou pedras, fazendo casas, muros e calçdas.
Os taglialegno ou (tàia legno), cortadores de lenha com machados e serras, que andavam de cidade em cidade, oferecendo os seus serviços em troca de algum dinheiro ou mesmo de um prato de comida.
O chamado scarpàro ou sapateiro que fazia sapatos e chinelos e ia vende-los pelas ruas e estradas. Também fazia o conserto desses objetos, diretamente na casa dos fregueses.
O falegname ou (em dialeto vêneto el marangon), já era um profissional mais especializado, o qual trabalhava por contrato fazendo e reparando casas de madeira ou forros, paredes, assoalhos e portas. Também era responsável pela construção dos moinhos que moíam os grãos para o pão ou polenta.
O maniscalco ou ferreiro (ou ainda em dialeto vêneto ferèr ou feràro) trabalhava em um local fixo, geralmente em sua oficina próxima ou ao lado da sua casa. Entretanto alguns trabalhos deviam ser realizados nas casas ou nas propriedades rurais dos seus fregueses, como a colocação de ferraduras nos animais e os consertos nos moinhos.
Essas profissões vieram para o Brasil junto com os imigrantes italianos, sendo esses profissionais muito requisitados aqui nas colônias italianas onde praticavam  exatamente o que faziam na Itália. Aqui também era costume deles se deslocando entre as cidades e as colônias, sempre em busca de trabalho.
Esses profissionais podiam ser vistos em todas cidades brasileiras e sobreviveram até meados dos anos setenta.
As profissões que exerciam serviram para cunhar inúmeros sobrenomes de famílias, com algumas variações. Assim temos o sobrenome Ferraro, ou ferreiro, derivado do vêneto feràro. O sobrenome Marangon ou Marangoni, derivado de marangon ou carpinteiro. O sobrenome Moleta, que eram os que trabalhavam na afiação de facas, com algumas variações como a italianização Moletta.


Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta

Erechim RS