domingo, 29 de abril de 2018

A Acentuação Gráfica na Língua Talian: o Vêneto Brasileiro



O Talian é uma língua de comunicação criada no Rio Grande do Sul pelos emigrantes italianos chegados à partir de 1875. Depois da longa viagem,  todos misturados, emigrantes procedentes de várias partes da Itália, os recém chegados foram assentados em lotes nas linhas e travessões das diversas colônias criadas para recebe-los. Não foram respeitadas as suas origens, as suas línguas e seus usos e costumes, criando portanto evidentes problemas de entendimento entre eles. 
Da necessidade de entender-se foi sendo criada uma nova língua de comunicação, muito mais vêneta do que daquelas de outras regiões da Itália que também formaram o grande contingente de italianos que aqui chegaram. 
Como em geral os vênetos representavam a grande maioria dos imigrantes italianos, é compreensível que também a sua forma de falar viesse a ter papel predominante na nova língua, fato que, por outro lado, pode ser comprovado nos locais onde a predominância era, pelo contrário, de lombardos ou friulanos, a predominância das palavras dos seus dialetos se torna evidente no Talian falado nesses locais.


Acentos gráficos no Talian


1- Acento grave (`) se usa para indicar os sons abertos. Ex: fràgola
2- Acento agudo (´) é usado para sinalizar os sons fechados. Ex: doménega

Regra nº1 

Todas as proparoxítonas são acentuadas. Ex.: Véneto, mèrcore, basìlico, Ménego

Regra nº2 

As palavras paroxítonas não são acentuadas, com exceção daquelas terminadas em ditongo crescente. Ex.: orgòlio, calvário

Regra nº3 

As palavras oxítonas que terminam com consoante não são acentuadas. Ex.: talian

Regra nº4

As oxítonas não monossilábicas terminadas em vogal serão acentuadas. Ex: bacalá

Regra nº5

As palavras monossilábicas só serão acentuadas quando possuírem um homógrafo átono. Ex.: dó (embaixo) de do (dois)


Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS

Emigração Os Vênetos na Terra de la Cucagna



Em 1875 a Itália, inicialmente, passou por uma grave crise econômica que atingiu a península de norte ao sul, justamente no período pós reunificação do país e a formação definitiva do Reino da Itália. Em seguida surgiu uma grave crise na agricultura, que já vinha se acumulando de anos anteriores, que veio a contribuir para o crescimento da emigração, especialmente das zonas de montanha do Vêneto. As condições de atraso da agricultura e da indústria e a crescente pressão fiscal foram alguns fatores que deram início a partida dos emigrantes. 
O êxodo dos vênetos foi causado pelo aumento do desemprego, pelas precárias condições de vida e de trabalho da população, que atingiram com maior força as camadas mais vulneráveis da população, aqueles pequenos agricultores sem terras e os artesãos, mas também os pequenos proprietários rurais. Um outro fator que naquele momento foi decisivo para incentivar a partida de milhares de vênetos foi a nova política de colonização adotada pelo governo imperial brasileiro. Este com auxílio de empresas e de uma intensa propaganda para atrair mão de obra dos países europeus que passavam por problemas econômicos. Os agentes de emigração contratados pelas empresas que buscavam mão de obra, giravam pelas vilas nos dias de mercado, quando o movimento de pessoas era muito maior, e descreviam o Brasil como a terra “de la cucagna” onde poderiam ficar ricos.
As primeiras levas de emigrantes que deixaram a Itália eram compostas prevalentemente por vênetos e as metas escolhidas eram o Brasil e a Argentina. O Brasil passava por um período de grande desenvolvimento econômico, necessitando de mão de obra livre, para utilizar nas enormes plantações de café no Estado de São Paulo, em parte para substituir a força de trabalho escravo, que estava prestes de ser abolido. Na mesma época, no Sul do país, principalmente, nos estados do Rio Grande do Sul e Paraná, o governo brasileiro tinha criado várias colônias para o assentamento desses emigrantes.
A necessidade de emigrar era uma solução para os pobres que para conseguirem o dinheiro para comprar as passagens no navio, vendiam os animais e os objetos que não podiam levar e,  quando os possuíam, também os pequenos pedaços de terra. Muitas famílias juntavam as suas economias para permitir que algum de seus membros pudesse ir em busca de melhores oportunidades naquela terra “de la cucagna”, lá do outro lado do desconhecido oceano. 
No início da grande emigração a viagem marítima não era financiada e o bilhete entre Gênova e o Brasil podia custar de 160 a 200 liras. À partir de 1877 começaram a surgir as oportunidades de emigração, onde a viagem era totalmente custeada, pelas agências de emigração convencionadas, com o governo dos países para onde eles seriam levados. 

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS