quarta-feira, 9 de julho de 2025

Vozes Ausentes: A Dor de uma Mãe Imigrante na Colônia Dona Isabel

 



Vozes Ausentes

A Dor de uma Mãe Imigrante na 
Colônia Dona Isabel

Na vastidão da colônia esquecida,
Entre o mato fechado e o pó da estrada,
Uma mãe leva a dor, sempre escondida,
E o tempo arrasta a vida, desgraçada.

Três filhos guarda — são seu bem maior —,
Mas dois lhe faltam, e o vazio a toma.
Silêncio fere — um silêncio sem cor —,
Quase um ano sem carta, sem diploma.

No fundo da mata, seu canto é oração,
Desejo de letras que nunca vieram.
Ecoa o clamor — dor sem redenção —,
Enquanto as estrelas as noites teceram.

Os dias rastejam no chão, sem calor,
E as lágrimas riscam seu rosto cansado.
A esperança tropeça no temor,
Sozinha, ferida, num tempo calado.

A saudade aperta — estilhaça o peito —,
E a dúvida bate, sem se anunciar:
"Estão bem? Estão longe? Por que esse jeito?
Em terras distantes, vão me escutar?"

No Brasil, vela a mãe com fé e ardor,
Por notícias que tragam algum consolo,
Das filhas casadas, perdidas no amor,
Na França e nos Estados — fora do solo.

A cada alvorada, renasce o querer:
Um amor que resiste ao tempo e ao mar,
A força de mãe, que jamais vai ceder
Às marés que insistem em lhe afogar.

No ermo da mata, em silêncio profundo,
Ela acende a fé — sua última espera —,
Sonhando que as cartas cruzem o mundo
E tragam, enfim, sua aurora primeira.

Em cada estrofe que aqui se apresenta,
Celebro essa mãe de esperança em flor:
A dor, o silêncio, a alma que aguenta,
Na fé de um reencontro cheio de amor.

lcbpiazzetta

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