Remessas são os rendimentos que os emigrantes enviavam para a Itália em moedas de ouro e vales postais. Eram utilizados para quitar dívidas, elevar o padrão de vida da família e também para pequenos investimentos em terras. Depósitos postais e bancários, compra de títulos remunerados e instrumentos de crédito. Aumento das reservas de ouro italiano, contribuição para os ativos da balança de pagamentos italiana.
De fato, os emigrantes, durante o seu período de trabalho no exterior, enviaram de lá grande parte das suas poupanças, tanto para investimento, principalmente em terras, como também para melhorar as condições de vida dos seus entes queridos que permaneceram em casa. Será graças a essas grandes remessas que a emigração italiana representou um importante instrumento para o nascimento do capitalismo e da industrialização italianos, a que a Itália se valeu para seu próprio desenvolvimento econômico. A importância dessas remessas para impulsionar a incipiente economia italiana, podemos avaliar pelas declarações de um ministro no parlamento do país que se referia a elas como "un vero ruscello d'oro" (um verdadeiro riozinho de ouro).
Nos últimos anos do século XIX e as primeiras décadas do século XX, as remessas de valores realizadas pelos milhares de emigrantes italianos espalhados pelo mundo desempenharam um papel fundamental na história econômica italiana, atuando como uma espécie de carta na manga da sua industrialização em particular na fase de decolagem industrial durante a era Giolitti. Este foi um momento muito delicado para um país que chegava atrasado à industrialização e em muitas ocasiões precisava importar bens de consumo e capitais, mas, por outro lado ainda não conseguia garantir exportações de igual valor, tendo assim um grande déficit na balança de pagamentos. As remessas, enviadas pelos emigrantes para os seus parentes que permaneceram na Itália, chegaram a cobrir, nesses anos, mais da metade da parte ativa do balanço de pagamentos, o que possibilitava fazer frente à importação de matérias-primas e bens de capital indispensáveis às necessidades cada vez maiores da produção industrial. Por outro lado, as numerosas comunidades de emigrantes italianos no exterior, uma vez transplantadas para os países de destino, abriram ou alargaram as portas dos mercados locais para as exportações italianas, da alimentação aos têxteis. As remessas, embora tenham tido maior importância na fase de decolagem industrial, assumem importância também em outras fases do crescimento econômico caracterizadas por um déficit comercial crescente, como por exemplo nos anos entre 1955 e 1963. Nos primeiros 15 anos do século XX, o montante de remessas vindas das comunidades italianas no exterior excedia a receita anual tributada diretamente pelo Estado italiano. Nesse mesmo período, existia a figura do emigrante temporário, um jovem do sexo masculino de família de pequenos agricultores, deixando uma família em precárias condições econômicas. Esta condição familiar e social determinava uma forte propensão à economizar para ajudar os seus entes queridos que permaneceram na Itália.
No caso do sul da Itália, já a partir de 1865, quando a fome castigava a muito tempo os seus casebres, os pequenos agricultores das províncias meridionais foram empurrados, em direção à emigração, como um último e desesperado remédio. Os primeiros a emigrarem foram os homens solteiros e os viúvos, depois os pais de família. Nesse tempo eram frequentes os despachos do exterior de vales postais, desde os países onde os que já tinham emigrado estavam assentados, para os membros da família que permaneceram no locais de origem. No começo as remessas chegavam à Itália por vale postal, mas os correios só existiam nas grandes cidades e muitas vezes estavam ausentes nos centros de mineração e das fazendas de café onde os emigrantes italianos tinham sido levados. No caso da emigração italiana para os Estados Unidos, os funcionários falavam inglês e isso se constituía em um sério obstáculo para pessoas que só falavam seu dialeto de origem. Dos 25 a 30 milhões de dólares que no ano de 1893 o Comitê de Emigração do senado americano acreditava terem sido enviados para a Itália, apenas alguns milhões passaram pelos correios americanos. Para o grosso das remessas, outros canais foram usados: às vezes as notas eram fechadas em envelopes comuns de cartas, mas, principalmente, através de pequenos bancos italianos, muitas vezes nos limites da legalidade. Os abusos e fraudes foram numerosos e foram relatados pelo Departamento do Trabalho e pela imprensa dos Estados Unidos. Muitas vezes, personagens ambíguos que haviam se improvisado como banqueiros recebiam mais de uma comissão, trapaceavam de várias maneiras e às vezes desapareciam com o dinheiro confiado. Em 1894, em Boston, cerca de 4 banqueiros haviam se tornado os protagonistas de grandes golpes, apropriando-se de grandes somas de depósito para serem remetidas à Itália. No entanto, é preciso enfatizar que nem todos os bancos estavam envolvidos em fraudes, havia também os convencionais. Por exemplo, uma agência napolitana de um banco suíço, que recebia anualmente uma média de 30 a 45 milhões de liras, diretamente de suas agências instaladas nos Estados Unidos. Uma lei promulgada em fevereiro de 1901 interveio exatamente para proteger as economias dos emigrantes e facilitar o fluxo de remessas para a Itália. O Banco di Napoli foi encarregado de substituir os chamados "banqueiros italianos" com serviços próprios em todos os centros onde as comunidades italianas estavam presentes, o que reduziu os custos de envio das remessas. A referida lei pretendia proteger os imigrantes e as suas poupanças, mas, também incentivar a chegada de remessas, tão importantes para a economia italiana da época. Um levantamento mais preciso feito nesses anos pelo Banco da Itália mostrou que as remessas no período ultrapassavam em muito 400 milhões por ano, aos quais se deve somar os valores enviados por vale postal, através de bancos italianos e as remessas que os emigrantes enviaram através de cartas às suas famílias na Itália, chegando a um total de mais de 500 milhões por ano. Destes, pelo menos 350 milhões foram para as regiões do Sul da Itália, protagonistas da emigração naquele período.
Essas remessas foram usadas para:
1- Parar a queda. Não se tratava de tentar melhorar a situação financeira da família, mas de saldar dívidas bloqueando assim a queda social. As dívidas a pagar podem ser as devidas a proprietários ou ainda aquelas contraídas para financiar a emigração, muitas vezes recorrendo a verdadeiros usurários. Só depois disso foi possível tentar sair da situação de subconsumo alimentar.
2- Consolidar o status. Significava pagar impostos em dia e comprar uma casa.
3- Elevar o status. É uma questão de expandir e diferenciar o consumo de alimentos, comprar gado, ampliar a propriedade comprando terras.
4- Depósitos de remessas em correios, contas correntes ou títulos remunerados; compras de títulos de dívida pública ou depósitos em bancos locais.
Após o nascimento do Reino da Itália, aconteceu o primeiro censo demográfico (1861), segundo o qual os italianos eram mais de 24 milhões. Os primeiros dados relativos à emigração também emergiram das estatísticas nacionais: os italianos residentes no exterior eram 220.000, dos quais cerca de 120.000 na Europa e na África mediterrânea (especialmente Tunísia e Egito) e cerca de 100.000 nas duas Américas. Especificamente, o Anuário Estatístico de 1861 registrou 220.000 italianos residentes no exterior, dos quais 77.000 na França, 14.000 na Suíça, 12.000 no Egito, aproximadamente 6.000 na Tunísia, 100.000 nas duas Américas (47.000 nos Estados Unidos, aproximadamente 18.000 no Brasil e na Argentina), e também foi registrado que, na grande maioria, os emigrantes eram das províncias do centro-norte.