domingo, 29 de novembro de 2020

Imigrantes Tiroleses de Idioma Italiano



O Tirol é uma região alpina hoje dividida entre Áustria e Itália. Do século XV até 1813 a região tirolesa pertenceu ao Império Austríaco com o nome Estado do Tirol. A partir de 1813, fez parte do Império Austro húngaro e pertenceu ao mesmo até 1918. Depois da Primeira Guerra Mundial de 1918, a metade sul da região foi ocupada pela Itália. Ao norte, pertencente à Áustria, está o Estado do Tirol, “dividido” entre Tirol do Norte (Nordtirol) e Tirol do Leste (Osttirol). Ao sul, pertencente à Itália, está a Região Autônoma Trentino Südtirol, subdividida em: Tirol do Sul (Südtirol, também chamado Alto Adige) e o Trentino (também chamado Welschtirol, isto é, Tirol de língua italiana). Uma pequena parte do Tirol do Sul foi desmembrada em 1923 e anexada ao território de Belluno (Vêneto). 

Colônia Imperial Santa Maria do Novo Tirol da Boca da Serra em Curitiba


O Império Áustro Húngaro era uma nação multiétnica em cujo território conviviam povos que falavam diversos idiomas tais como: alemão, italiano, esloveno, checo, eslovaco, polonês, ucraniano e croata. A população italiana do império vivia principalmente no sul da atual Áustria, nas zonas alpinas (atual Sudtirolo) e também na zona de litoral, como do Friuli: Trieste e Gorizia.
Os austríacos de língua italiana constituíram o maior grupo que ao emigrar se estabeleceram no Brasil, principalmente nos estados do Espírito Santo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, locais em que ainda hoje vivem milhares de seus descendentes, a maior parte deles provenientes da atual região do Trento e Alto Adige, o Tirol italiano e eram conhecidos como tiroleses. 

Uma parte dos imigrantes tiroleses de idioma italiano foram levados para as fazendas de café dos estados de São Paulo (Colônia Tirolesa de Piracicaba) e do Espírito Santo. Outros se estabeleceram no sul do país em colônias como Santa Maria do Novo Tirol, em Piraquara, estado do Paraná. Em Santa Catarina, na colônia de Blumenau e nas atuais cidades de Rodeio e Rio dos Cedros (atual Timbó), na colônia Príncipe Dom Pedro nas cercanias de Brusque e na comunidade de Lageado, em Guabiruba. No estado do Rio Grande do Sul os tiroleses de língua italiana se estabeleceram na Serra Gaúcha, nas colônias Conde D’Eu (Garibaldi), Dona Isabel, Caxias e Flores da Cunha (ex Nova Trento).
Como curiosidade, em Porto Alegre chegou a circular, durante os anos de 1915 e 1917, o jornal Il Trentino, editado nas línguas italiana, português e alemão, passando alguns anos depois a se denominar Áustria Nova. 

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS

sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Imigração Friulana para o Brasil




As primeiras notícias sobre a possibilidade dos habitantes da atual região de Friuli Venezia Giulia poderem viajar para o Brasil como emigrantes datam do ano de 1872. No dia 8 de junho desse ano,  o cônsul geral do Brasil em Trieste enviou ao governo da cidade juliana alguns exemplares com a relativa tradução do contrato firmado no dia 31 de janeiro anterior em Porto Alegre, no estado do Rio Grande do Sul, entre  o presidente da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul e de Caetano Pinto & Irmão e Holtzweissig & C.ª para  introduzir quarenta mil colonos em dez anos. Na carta que acompanha a cópia do contrato, o cônsul geral pede que se faça o acordo "de publicidade para ciência e conhecimento dos interessados ​​nesta estipulação por aquele governo para não serem eventualmente enganados pelas empreiteiras ou seus prepostos". 

Pelo acordo, o Governo da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul "receberá os assentados na cidade de Rio Grande ou na capital Porto Alegre" e “garante aos colonos hospitalidade e alimentação na cidade de Rio Grande, bem como transporte de lá para esta capital ou para as Colônias Provinciais”. 





O ano de 1875 é quando os historiadores traçam o início da grande emigração italiana para o Brasil. Nos 50 anos seguintes, aproximadamente, um milhão e meio de italianos desembarcaram nos portos de São Paulo e Porto Alegre. Foram protagonistas de muitas das transformações da época: da abolição da escravatura à expansão da agricultura, da consolidação da economia exportadora à incipiente industrialização. E foi justamente com a abolição da escravidão em 1888 que a demanda de mão-de-obra nas plantações de café e cana-de-açúcar aumentou muito e atraiu muitos emigrantes europeus.
Naquele mesmo período, muitos outros italianos emigraram para diferentes regiões do mundo, mas poucos tiveram que passar por condições de trabalho e vida tão adversas como no Brasil. 

A situação sócio econômica do Friuli no final do século XIX

Na segunda metade do séculoXIX, a economia enfraqueceu porque o artesanato local e as fiações estavam em dificuldade devido à competição das indústrias mecanizadas lombardas que suplantaram a tecelagem manual local. Mas também devido ao aumento dos impostos com a Áustria, impostos sobre o solo e o sal. Os trabalhadores pobres, os meeiros, os inquilinos tiveram que se adaptar a salários de fome ou emigrar. Poucos foram os latifundiários que modernizaram a agricultura, em crise devido à propagação da doença da videira e à competição do trigo importado da América. Imediatamente após a anexação de Friuli à Itália, em 1866, a emigração assumiu proporções alarmantes. 
Todos os melhores trabalhadores partiram em busca de trabalho no vizinho estado austro-húngaro, na Baviera e na Alemanha. Apenas mulheres e crianças permaneceram em casa.
Em 1875, a emigração sazonal temporária foi acompanhada pela emigração transoceânica permanente para a Argentina, Brasil e Estados Unidos. Os pequenos agricultores venderam suas casas e fazendas e emigraram permanentemente.
América parecia significar espaço, terra, liberdade, emancipação e significava um rompimento limpo com adversidades e privações. 

A partida dos primeiros emigrantes 

Do município de San Giorgio della Richinvelda (3.000 680 habitantes) saíram cerca de 420 pessoas entre 1878 e 1898, famílias completas com idosos e filhos (analfabetos em sua maioria) que emigraram para o Brasil e Argentina onde eles encontraram extensões de terra para serem recuperadas e cultivadas sem equipamento adequado e qualquer tipo de apoio e assistência.
Nesse período, partiram para o Brasil as famílias de Luigi Biasutti com sua esposa, Ferdinando Venier, chamada de Bispo, com 6 membros, de seu irmão Giovanni Battista Venier com 5 membros, de Onorio Bisutti com 5. Para a Argentina Família de Giobatta Lenarduzzi com 10 membros, Luigi Pellegrin com 8, De Paoli conhecido como Maccanin com 9, Giuseppe Guerra com 8, Luigi Del Pin com 24: 74 pessoas ao todo. 




A odisséia da viagem

Saíram de Gênova em um navio a vapor (os veleiros terminaram as longas travessias por volta de 1850). O pernoite a bordo ocorreu nos dormitórios que continham centenas de pessoas amontoadas, verdadeira confusão, sujos, úmidos, com o ar irrespirável devido ao fedor chamado "fedor de emigrante" gerado pela elevada temperatura e secreções dos corpos sem banho (fezes, urina e vômito). Os dormitórios eram divididos por gênero, as crianças até certa idade podiam ficar com a mãe nos reservados para mulheres. Os homens e os meninos em outra parte da embarcação. As refeições foram distribuídas com o sistema de ração segundo critérios de justiça, em folha de flandres com colher e garfo. A mortalidade segundo as estatísticas da época era, para a América do Sul, de três a sete pessoas por viagem: as maiores vítimas eram as crianças que morriam principalmente de sarampo devido o aumento dos contatos pela superlotação; os partos foram de 3 a 4 unidades.
Após 30-35 dias de travessia eles chegaram ao Rio de Janeiro onde com outro barco menor navegaram ao longo da costa por cerca de dez dias para Porto Alegre, capital da Província do Rio Grande do Sul. Ao desembarcarem, iniciaram a longa caminhada de 10-15 dias para o interior da província, com uma carroça para bagagem e comida, passando por florestas e caminhos quase impenetráveis, até os lotes, a eles designados pelas autoridades, para serem desmatados e cultivados. O primeiro ano foi péssimo para todos, não tanto pelo trabalho com meios inadequados ou pela alimentação insuficiente que consistia em caça, feijão bravo e pinhão cozido de araucária, mais pelas crianças chorando que perguntavam aos pais à noite: “Pai, mãe quando vamos para casa? " Eles não entenderam que essa emigração era sem volta.
As famílias de Venier Ferdinando (n.1842) com sua esposa Amabile Fornasier, seus filhos Rosa (1877), Vincenza (1880), Elisabetta (1881), Angelo (1883), Luigi (1885) e seu irmão Venier Giovanni Battista (1848) ) com sua esposa Meret Santa (1857) e seus filhos Rodolfo (1884), Giuseppe (1886) e Catterina (1888) partiram para o Brasil em 1889. Cada família foi atribuída um lote a "Linha Pitanga" no estado de Santa Caterina.
Foram os pequenos agricultores do Friuli italiano que mais emigraram para o Brasil, principalmente os originários dos municípios de Ampezzo, Forni di Sopra, Buja, Gemona, Cimolais, Frisanco, Cordenons, Fontanafredda, Rive d'Arcano Roveredo em Piano, Caneva e Polcenigo. 



Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS





quarta-feira, 25 de novembro de 2020

O Sobrenome e suas Origens




Já estamos acostumados, nascemos com ele e durante a vida em alguns poderão surgir até a curiosidade de saber o que ele significa e ainda de investigar a sua procedência. Entretanto, a maioria das pessoas nunca pensa que os sobrenomes nem sempre foram usados durante a evolução da civilização.

A sua origem é muito antiga e remonta ao período em que o ser humano passou a viver em uma sociedade organizada. Sobrenome quer dizer o segundo nome, e começou a ser usado para se diferenciar os membros dos diferentes grupos familiares do aglomerado humano em viviam. As primeiras tentativas nesse sentido e que se assemelham aos atuais sobrenomes, partiram dos Etruscos, povo com uma civilização muito desenvolvida que vivia na península italiana banhada pelo mar Tirreno, na altura da atual Toscana. Mas, foram os romanos que, ao copiarem dos etruscos a estrutura dos três elementos tradicionais dos sobrenomes, o difundiram para o mundo moderno. Em italiano o sobrenome é conhecido como cognome e o nome de uma pessoa era formado por três elementos principais, com diferentes funções para o identificar: Prenomen, Nomen e Cognomen. 

Para exemplificar, vejamos o nome romano Caius Julius Caesar, conhecido tribuno e general da história de Roma. Neste famoso nome composto por três elementos, Caius é o praenomen, que equivale ao nosso nome de batismo; Julius é o nomen da gens ou família Giulia, onde gens eram as várias famílias unidas pelo mesmo laços sanguíneos; Caesar é o cognomen, como que um apelido. Outros exemplos: Marcus Tullius Cicero, onde Marcus é o prenomen, Tulluis a tribo ou gens Tullia e Cicero a família. Quintus Honoratius Flaccus, Cais Cornelius Tacitus, Caius Plinius Secondus. Outros com mais elementos: Marcus Porcius Cato Uticensis, Marcus é o prenomen, Porcius é o nome, Cato o cognome e Uticensis o agomen = natural de Utica (na África). O agnomen era um elemento distintivo a mais no nome completo um cidadão. As vezes esse elemento era atribuído por decisão do próprio indivíduo, outras vezes não. Usava-se para distinguir uma pessoa de outro homônimo de época passada. Assim, Marcus Porcius Cato Censorius, que viveu no século III a.C., recebeu a posteriori o agnomen Censorius (de Censor) para distingui-lo de um homônimo que viveu dois séculos antes, na época de Júlio César do século I a.C.

Um nome bem conhecido é o do imperador Caligula, filho do general romano Germanicus: Caius Caesar Germanicus Caligula, onde o termo Caligula deriva da pequena cáliga (sandalinhas) que quando então menino usava. Caliga era a sandália usada pelos legionários romanos

Apesar do termo, era o nomen que mais se aproximava ao sobrenome moderno. 

Esse sistema de três elementos, usado para identificar m indivíduo somente era adotado pelas classes mais privilegiadas, como os patrícios e os membros da elite romana. A plebe, ou seja o povo comum, usava outros sistemas, chamados de patronímicos e matronímicos. Assim dizia-se fulano ou fulana, filho ou filha de sicrano ou sicrana, semelhante aos até hoje usados pelos árabes e judeus, com os termos ibn e ben, que em ambas línguas quer dizer filho. 

Esta forma de identificar as pessoas com três elementos não teve sequência devido a queda do Império Romano, em 476 d.C., ao qual se seguiu um caos social e principalmente pelas invasões de outros povos que trouxeram diferentes usos, costumes e tradições. Na Idade Média (entre 476 e 1453) passou-se a usar somente o nome de batismo para designar uma pessoa. Mas, a repetição dos nomes começou a ser muito frequente, causando muita confusão o que criou a necessidade de se estabelecer outra modalidade para nominar as pessoas já a partir do século VIII. Foi nesse período em que começaram a aparecer os primeiros sobrenomes italianos modernos. A partir dessa época usava-se citar o nome do pai para distinguir uma pessoa de outra: Paulus filius Philippi (Paulo filho de Felipe) ou Paulus filius quondam Philippi. A tradução seria Paulo filho do senhor Felipi

Séculos mais tarde, nos IX e X séculos, durante os períodos feudal e comunal, com a consolidação dos burgos e cidades, surgiu a necessidade de diferenciar ainda mais os indivíduos, e assim voltou a discussão o antigo sistema romano. As pessoas passaram a adotar o segundo nome, onde cognome significa com nome, com formas obtidas de nomes pessoais, apelidos que se referiam a características físicas, morais, profissão, lugar de origem, lugar de moradia e assim por diante. Assim primeiramente acrescentaram ao nome, a proveniência do individuo (toponímico) Paulus de Verona, Alipertus de Tarvisio. Também o de ou di passou a De ou Di. 

A massificação do uso do sobrenome ocorreu após as determinações do Concílio de Trento, ocorrido nesta cidade no ano de 1564, que tornava imutável, obrigatório e transmissível o sobrenome. Este sistema viria evitar os casamentos e uniões consanguíneas, mas, também facilitaria a cobrança de impostos.




Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS






segunda-feira, 23 de novembro de 2020

As Cartas dos Emigrantes Italianos



Entre os séculos XIX e XX, um total de um milhão e meio de italianos emigraram para o Brasil. Toda história de emigração começa com uma partida, com uma separação, e a distância por sua vez gera a necessidade de comunicação, e essa comunicação à distância, naquela época só podia apenas ser escrita. 

Quando nos portos, os navios carregados de emigrantes estavam para partir, era costume, para aqueles que ficavam em terra, segurarem nas mãos um novelo de lã cuja ponta era amarrada nas mãos daqueles que emigravam e, aos poucos, ia se desenrolando na medida que se afastavam.  Esse fio ligava até o último momento as mãos dos emigrantes à bordo com as dos parentes em terra, até que finalmente se rompe com o afastar do navio

Os emigrantes, muitas vezes, passariam a vida inteira sem rever os seus parentes que partiram. Em muitas ocasiões as únicas lembranças que restavam dos seus entes queridos, da sua pátria deixada para trás, eram as recordações desse afastamento. As cartas são justamente o testemunho deste esforço, desta tarefa impossível da busca constante para reconstruir, ou tentar manter inalterado, através da escrita, aquilo que a emigração havia irremediavelmente separado. Os sinais tangíveis deste processo de fragmentação da identidade e das tentativas de recomposição tão obstinadamente realizadas são, precisamente, as cartas que permitem restabelecer um ponto de continuidade com o passado e com a própria comunidade de origem. Pelo simples fato da carta ser um documento pessoal e privado, pode nos transportar no interior do fenômeno emigratório. 

A partir da segunda metade do século XIX até o segundo pós-guerra, os vapores que cruzaram os oceanos carregavam uma grande carga de histórias vividas e contadas: junto com os homens, mulheres e crianças que deixam suas famílias e suas terras, na verdade, uma quantidade considerável de viagens de correspondência.

As cartas de emigração têm se tornado ultimamente objeto de maior interesse dos estudiosos de diferentes disciplinas. Um grande número de pessoas acostumadas a usar a oralidade como forma quase exclusiva de comunicação, foram forçadas pela distância a aprender o uso da escrita e familiarizar-se com ela. Suas cartas muitas vezes estão muito distantes dos padrões da língua escrita, revelam incertezas na ortografia e sintaxe, mas são repletas de informações sobre a vida dos emigrantes, sobre seus projetos e expectativas, sobre as dificuldades de integração nos países de acolhimento e sobre a modificação de sua mentalidade devido ao confronto com um mundo diferente daquele que deixaram.

Essas cartas, às vezes mantidas em arquivos públicos e mais frequentemente nas memórias de família, há muito se tornaram uma fonte de importância primordial para a história da emigração. Em qualquer caso, são documentos heterogêneos, às vezes casualmente retirados da destruição, muitas vezes misturados com velhos papéis privados em arquivos familiares, outras vezes recolhidos em arquivos públicos. 

".., vou começar a contar-lhe algo sobre a viagem, isso foi tão pesado que pelo meu conselho não encontraria tantas tribulações nem mesmo o meu cachorro que deixei na Itália, a dita viagem foi muito pesada antes por encontrar uma tempestade, depois por estar muito lotado o navio ... " 

 "Não encontro palavras adequadas para descrever-lhes por inteiro  a agitação do Steamer (nome do navio), o choro, os rosários e as imprecações daqueles que empreenderam a viagem, em tempos de tempestade. As ondas assustadoras se erguem em direção ao céu, e então formam vales profundos, o vapor é investido da proa à popa, é batido pelos flancos. Não descreverei os espasmos, os vômitos e as contorções dos pobres passageiros não acostumados com tais cumprimentos. Eu deixo de contar-lhe sobre os casos de morte, que em média aqui morrem 5 ou 6 em 100, e de rezar ao Deus Supremo para que doenças contagiosas não aconteçam, que então não se pode dizer como será. " (carta de Bortolo Rosolen de 9 de março de 1889). 

Existem muitas cartas que descrevem viagens pacíficas e até  "muito boas"; mas os infortúnios no mar foram numerosos devido a insegurança dos barcos e à carga pesada que tinham de carregar. Abaixo o testemunho de um emigrante, Mizzan Gio, que escreve dos Estados Unidos que correu o risco de morrer devido a um incêndio que eclodiu a bordo do barco. 

"... foi um dia muito bom quando por volta das 4h30 da tarde, quando todos estavam jantando pacificamente na coberta, quando de repente se ouviu uma voz gritando  fogo, fogo e não viam o céu e água e de repente estamos todos descoloridos, todos viemos de mil cores de todos os lados você podia ouvir o choro de quem leva a criança nos braços que abraça a esposa que jogava ferramentas ao mar que recitava as ladainhas da Madona que estava ajoelhada com as mãos unidas em conclusão todos estavam resignados à vontade de Deus..."


Resumo


sábado, 21 de novembro de 2020

A Saúde dos Emigrantes Italianos e a Longa Travessia do Oceano

Emigrantes aguardando o embarque no porto de Genova


“A higiene e a limpeza estão constantemente em conflito com a especulação. Falta espaço, falta ar." 

Assim resumiu as condições sanitárias nos navios que transportaram a emigração italiana. 

Quando nas últimas décadas do século XIX as partidas para as Américas se intensificaram, a viagem de navio durava ainda mais de um mês e ocorria em condições lamentáveis. Até à aprovação da lei de 31 de Janeiro de 1901, não existia qualquer disciplina sobre os aspectos sanitários da emigração e, ainda em 1900, a situação do transporte naval de emigrantes era muito precário.

Os beliches dos emigrantes eram colocados em dois ou três corredores e recebiam ar principalmente pelas escotilhas. A altura mínima dos corredores variava de um metro e sessenta centímetros para o primeiro, partindo do topo, a um metro e noventa centímetros para o segundo. Nos dormitórios dessa maneira montados, as doenças eram frequentes, principalmente as respiratórias. 

A promiscuidade facilitava os contágios das doenças transmissíveis. Quanto a falta de regras de higiene mais elementares, podemos lembrar o problema da conservação da água potável que se guardava em caixotes de ferro forrados com cimento. Devido ao constante balanço do navio, o cimento tendia a se esfarelar, turvando a água que, a qual ao entrar em contacto com o ferro oxidado, adquiria uma coloração vermelha e mesmo assim precisava ser consumida pelos emigrantes, por não existirem filtros ou destiladores a bordo.

A alimentação, independentemente da impossibilidade de emigrantes, analfabetos ou de qualquer forma não poderem ter conhecimento completo da legislação alimentar, era preparada a partir de uma série de alternâncias constantes entre dias "gordos" e "magros", dias e dias "café" e algum arroz". Além disso, dependendo da prevalência a bordo de nortistas ou sulistas, eram preparadas refeições à base de arroz ou macarrão. Do ponto de vista dietético, a ração alimentar diária as vezes era suficientemente rica em elementos proteicos e, em muitos casos, superior em quantidade e qualidade ao tipo de dieta habitual do emigrante. Mas, na maioria dos navios predominava a escassez alimentar. 


Emigrantes a bordo de pequenos navios


A viagem transoceânica


A partir das estatísticas de saúde do Comissariado Geral de Emigração e dos relatórios anuais elaborados pelos oficiais da marinha italiana, encarregados do serviço de emigração, ambos relativos à morbidade e mortalidade de emigrantes em viagens de ida e volta da América do Norte e do Sul, é possível traçar um quadro da situação sanitária da emigração transoceânica italiana de 1903 a 1925 que, embora tendo em conta os limites da parcialidade e discricionariedade do sistema de detecção, permite estabelecer alguns elementos básicos da dinâmica sanitária do fluxo a que se refere o vasto estudo de caso descrito pelos relatórios e livros de registro. O estado de desorganização dos serviços de saúde para a emigração, tanto terrestre como a bordo, fez com que os quadros estatísticos assumam o caráter de indicadores gerais das dimensões assumidas pelo problema de saúde no contexto da experiência da migração em massa, mas sim, os torna problemáticos a utilização em função do estudo de patologias específicas. De fato, os dados recolhidos pelas estatísticas referem-se às doenças apuradas durante a viagem pelo médico governamental ou pelo comissário itinerante, excluindo assim do inquérito um certo número de emigrantes que por razões diversas, atribuíveis a uma desconfiança generalizada do poder médico ou ao medo de ser rejeitado por doença no país de destino ou hospitalizado depois de repatriado, não exigia cuidados de saúde. Uma parte substancial do fluxo migratório escapou então completamente a qualquer forma de controle sanitário, seja porque embarcou e desembarcou em portos estrangeiros, ou porque viajou em navios sem serviços de saúde, ou porque embarcou em formas semiclandestinas toleradas por muitas empresas de navegação. Parece, pois, evidente que qualquer tentativa de estimar sistematicamente o "problema sanitário" da emigração transoceânica com base nas fontes produzidas a nível oficial pelo serviço de saúde para a emigração apresenta dados amplamente subestimados em relação às reais dimensões assumidas pelo problema da saúde e doença na viagem transoceânica. 


O embarque para uma longa viagem


Apesar das limitações e da parcialidade da amostragem, as estatísticas de saúde das viagens transoceânicas continuam sendo uma das poucas ferramentas disponíveis para iniciar uma série de reflexões que vinculam o fenômeno da emigração transoceânica com as condições sócio sanitárias das classes populares nos séculos XIX e XX. A análise dos números fornecidos pelas estatísticas para o período 1903 a 1925 mostra claramente a persistência, durante todo o período considerado, de algumas doenças tanto nas viagens de ida como nas viagens de volta das Américas. Mesmo que uma avaliação da definição do fluxo transoceânico em relação à propagação na Itália de patologias de massa (pelagra, malária, tuberculose) não seja incluída na pesquisa, devido à complexidade dos elementos que contribuem para determinar a escolha migratória em áreas do país profundamente diversificadas quanto à estrutura econômicas e sociais, no entanto, não se pode deixar de notar que nas estatísticas de morbidade nas viagens transoceânicas algumas dessas patologias estão maciçamente presentes. 


Emigrantes amontoados no tombadilho do navio


Típico é o caso da malária, que apresenta as maiores taxas nas viagens de ida tanto para a América do Norte quanto para a América do Sul, superada apenas pelo sarampo. Nas viagens para o Sul, o número de pacientes com tracoma e escabiose também é significativo, enquanto na volta o tracoma e a tuberculose prevalecem claramente sobre outras doenças e, mesmo que com taxas mais baixas, parasitoses intestinais completamente ausentes em estatísticas futuras. Nas repatriações do Norte, os números mais elevados são atribuídos à tuberculose pulmonar, doenças mentais e tracoma. Esta última patologia, embora não apresente números particularmente elevados, é mais comum do que nas viagens de ida. As taxas de mortalidade e morbidade nas viagens transoceânicas, embora não alcancem picos muito elevados, são ainda mais elevadas nas viagens de e para a América do Sul, para onde se dirigiram as correntes migratórias com forte prevalência de grupos familiares. Os dados de morbidade constante e alta nas viagens de retorno parecem particularmente significativos para os que retornavam da América do Norte. O fluxo migratório para os Estados Unidos foi, de fato, composto principalmente por pessoas em boas condições físicas e na faixa etária de maior eficiência física, tanto por um processo de autosseleção da força de trabalho que optou por emigrar, quanto pelos rigorosos exames de saúde realizados pelos Estados Unidos para a emigração européia.




Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS





quinta-feira, 19 de novembro de 2020

A Epopéia da Emigração Vêneta




A Epopéia da Emigração Vêneta

Giovanni Meo Zilio 





Brasil de língua vêneta e condições gerais da primeira emigração


A primeira emigração organizada do Vêneto (em grande parte da província de Treviso e, em menor medida, da Lombardia e Friuli, data de 1875. Na verdade, a partir desse ano começaram a chegar ao Brasil - nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Espírito Santo, e sobretudo na chamada "área de colonização italiana" localizada no nordeste do primeiro estado, que hoje tem como centro econômico, comercial e cultural a próspera cidade de Caxias do Sul com cerca de 500.000 habitantes: milagre do desenvolvimento e modelo de "outro Vêneto" transplantado e erguido no exterior. A ele se somam outras correntes de emigração, especialmente na Argentina e no Uruguai, onde muitos italianos já estiveram presentes antes, e, em menor medida, em países menores como México. As principais causas do fenômeno da emigração foram, como se sabe, a miséria e a marginalização das classes rurais da época, senão a fome, a par do sonho da posse da terra pelos nossos camponeses (então verdadeiros "servos da gleba ”), muitas vezes enganados por falaciosas propagandas interessadas, favorecidos, por sua vez, pela ignorância mesclada com a esperança de que é sempre a última a morrer. Mas devemos também levar em conta aquele espírito de aventura insuperável, aquela atração pelo novo e pelo distante que sempre atuou sobre a humanidade e que muitas vezes é esquecida pelos historiadores da emigração.

A travessia do Atlântico naquela época (no fundo dos porões) foi por si só uma epopéia que ainda está presente na memória coletiva, transmitida em episódios pungentes nas memórias dos antigos e na copiosa literatura popular, especialmente vêneto brasileira (canções, poemas, contos), que, a partir das comemorações do centenário da primeira emigração "in loco" (1975), explodiu aqui e ali também em formas estilisticamente valiosas. A epopéia das indescritíveis condições de chegada e povoamento e as lutas da primeira geração para derrubar a floresta com os braços, para se defender de animais ferozes, cobras, índios, doenças, para construir estradas do nada permanecem na memória coletiva.

Essa história de ilusões e sofrimentos, de heroísmo e humilhações, essa "história interna" de nossa emigração, que representa o reverso da história externa que, mais do que qualquer outra coisa, os estudiosos trataram, ainda está por ser explorada.

Já pelo sul do Brasil, que pode ser considerado emblemático, um primeiro grupo de emigrantes chegou, depois de indescritíveis aventuras e sofrimentos, ao que hoje se chama Nova Milano, próximo a Caxias do Sul. Do porto da cidade de Porto Alegre seguiram em barcaças pelo Rio Caì e depois a pé, por quilômetros e quilômetros, pela mata, com os poucos utensílios domésticos nas costas, percorrendo com facões, até chegarem ao terreno que lhes foi designado, bem na floresta, ao norte dos territórios planos e mais férteis ocupados pela emigração alemã 50 anos antes. Pode-se imaginar o custo humano de tudo isso depois de terem cortado as pontes atrás de si, vendendo seus pobres bens antes de deixar a Itália.

Os vestígios da primeira colonização ainda hoje podem ser vistos em muitos nomes de lugares, como os já citados Nova Milano, Garibaldi, Nova Bassano, Nova Brescia, Nova Treviso, Nova Venezia, Nova Pádua, Monteberico ...; enquanto outros, como Nova Vicenza e Nova Trento, posteriormente mudaram seus nomes originais para os nomes brasileiros de Farroupilha e Flores da Cunha em períodos caracterizados pela xenofobia. Essa xenofobia do governo central chegou a tal ponto que, nos anos da última guerra, os nossos imigrantes que não falavam brasileiro foram proibidos (sob pena de prisão) de falar a língua vêneta, com as consequências morais de que é fácil imaginar, além das dificuldades práticas (que muitas vezes levavam à tragicômica!) que tudo isso produzia entre aqueles pobres marginalizados, privados até mesmo da palavra ...

Porém, é um fenômeno impressionante - tanto no Brasil quanto na Argentina, tanto por extensão, pela população (da ordem de milhões de descendentes), quanto pela homogeneidade e vitalidade - que por mais de um século foi esquecido senão ignorado pelo governo italiano e suas instituições.

A esmagadora maioria das primeiras correntes de imigração era composta de agricultores que plantavam safras e métodos agrícolas típicos de suas áreas de origem no novo território (aos quais se juntaram artesãos e comerciantes). A cultura que se impôs às demais foi a da videira com a conseqüente industrialização do vinho e demais derivados da uva, que ainda hoje representa a maior riqueza do estado brasileiro do Rio Grande do Sul, que abastece todo o Brasil.

Percorrendo o campo, encontram-se ainda ferramentas ancestrais vitais (que já quase desapareceu) da agricultura do século XIX e da vida doméstica da época (em Nova Pádua, perto de Caxias, o monumento ao imigrante, na praça da cidade, é solenemente representado por uma verdadeira "caliera de la polenta" sobre um pedestal imponente). A dieta do campo ainda é essencialmente a tradicional do Vêneto à qual se juntou o autóctone e inevitável "churrasco" (carnes grelhadas).

A religião ainda é intensamente seguida e sentida, também porque o clero católico e as organizações religiosas acompanharam o destino dos emigrantes desde o início. Basta dizer que as "capelas" têm sido até agora os principais centros comunitários dos colonos  não só religiosos mas também de organização social e cultural, e que à sua volta vão se constituindo as paróquias e os conselhos. Nos últimos anos, as aldeias onde não havia pároco estável puderam testemunhar cenas, incríveis para nós, como a da população reunida num galpão que servia de igreja, celebrando ritos religiosos sem padre e sob a orientação de quem era denominado “padre leigo”, com a participação ativa e solene dos anciãos da aldeia. 

Aqueles que vivem na colônia, e em sua maioria preservaram o artesanato e as tradições dos primeiros emigrantes, até recentemente ainda eram considerados marginalizados e olhados com desdém até mesmo pelos descendentes de habitantes vênetos nas grandes cidades. Apenas algumas décadas atrás, quando foram retomados os contatos efetivos com a Itália, uma consciência positiva das próprias origens (não mais opaca, um mito distante a ser esquecido) foi despertada e ampliada com um impulso de redescobrir a identidade histórica: uma pesquisa, muitas vezes comovente, de suas fontes para restaurar aquele cordão umbilical que havia sido cortado por mais de 100 anos.

O fenômeno mais impressionante desta "história de imigrantes sem história", como alguns a definiram com tristeza, é a manutenção, ao fim de um século, da própria língua de origem (venêto), em família, entre famílias e, em certas ocasiões (festas, aniversários, jogos, reuniões de convívio, etc.) também a nível da comunidade com um grau de vitalidade e conservação, no campo, que muitas vezes excede o da região do Vêneto, na Itália que, como se sabe, ainda está bem enraizada entre nós. É o que os dialectólogos chamam de "ilha linguística" relativamente homogênea, onde a língua vêneta acabou triunfando sobre o lombardo e o friuliano, estendendo-se como um "koinè" intervindo em um contexto heterofônico (lusobrasiliano).  Permite-nos reconstruir, como "in vitro", após três, quatro ou até mais gerações, a linguagem dos nossos avós e bisavós, especialmente para os aspectos orais indocumentados como a pronúncia e a entonação, ou para a utilização de certos provérbios, expressões idiomáticas, canções da época. Assim, através da história das palavras (as preservadas, as alteradas e as substituídas), podemos reconstruir alguns trechos da história (muitas vezes comovente) dessas comunidades. Por sua vez, representa um vislumbre dramático e emocionante da história da Itália e da história do Brasil. 

Quem escreve estas linhas é um velho emigrante que viveu pessoalmente o que viveram muitas centenas de milhares de compatriotas: um testemunho direto da situação daqueles que, no imediato pós-guerra, atravessaram o oceano amontoados no porão da velha Liberdade guerra, dormindo em beliches com quatro ou cinco beliches dispostos verticalmente, em um calor incrível e em condições infernais de promiscuidade. Ele viajou por toda a extensão das Américas por muitos anos, desde as terras altas áridas do México até a desolada Patagônia Argentina. Por muitos anos como emigrante e depois como estudioso e pesquisador. Como tantos outros emigrantes, ele viveu a tragédia do transplante em sua própria carne, a mortificação de seus entes queridos, a ansiedade de tantas ilusões, o naufrágio de tantas esperanças. Portanto, ao lado do significado histórico do fenômeno migratório, ele não ignora a dor, o cansaço e a coragem que o acompanharam, até porque ele, também, partiu da bagunça - como dizem - realizando trabalhos manuais de sobrevivência. Mas sua história pessoal é pouco comparada à história geracional de nossas comunidades que viveram, principalmente no imenso Brasil, uma epopéia indizível de lutas, sacrifícios, em condições de vida infra humanas (especialmente as primeiras gerações); épico transmitido oralmente (porque na maioria dos casos eram pessoas que não sabiam ler nem escrever) de pai para filho, na verdade de mãe para filha, porque as mulheres, como sempre, são as guardiãs das tradições mais vitais e essenciais. As primeiras gerações enfrentaram, como já foi dito, sacrifícios indescritíveis, abandonados nas florestas; sem Lares e sem Penates, ou seja, sem casa e sem família, obrigados a sobreviver em condições dramáticas. Mesmo sem a palavra, como já foi dito: sem palavra não há identidade, não há comunidade nem comunicação, portanto não há vida que se possa chamar de humana. Mas eles resistiram aos dentes cerrados com dignidade e coragem, apesar das condições humilhantes e ardentes de inferioridade.

Não só no Brasil, mas também na Argentina, e em outros lugares especialmente os vênetos  os lombardos e os friulanos, os chamados polentoni (lembre-se que "polenta", no popular Rio-Planalto, passou a significar força, coragem) junto com os piemonteses e genoveses industriosos e econômicos, deram, com luzes e sombras naturais em todas as coisas humanas, uma contribuição de progresso ao país que os acolheu. Têm guardado no coração, desde o último quartel do século passado, o sonho e o mito da pátria mãe, da madrasta que os abandonou durante mais de cem anos. Em vez disso, continuaram a lembrá-la e a sonhar com ela nas filas intermináveis ​​das cavalariças camponesas, na intimidade familiar sincera e discreta, nas comoventes reuniões comunitárias, nas humildes orações diárias.

Ao longo das gerações, eles preservaram de maneira incrível sua língua, usos, costumes, ritos, festas, danças, jogos (a tresette, as tigelas, a mora, a cuccagna). Jogos temperados com algumas das expressões do nosso country, não mais blasfemas, porque eufemistizados, como "Ostrega!", "Ostregheta!" ou "Sacramenta!". Você ainda pode ouvir as canções da comunidade do passado, que perdemos em grande parte e que os ajudaram moralmente a viver, a sobreviver: nos países mais remotos. Nas praças de algumas aldeias encontramos, como monumentos, para além da "caliera" da polenta, como já referido, a carroça ou o carrinho de mão, a gôndola veneziana, o leão de São Marcos (mesmo o símbolo do Município de Octavio Rocha, no Rio Grande do Sul, representa o leão de São Marcos segurando o cacho de uvas na pata ao invés do livro tradicional!).

Essas pessoas, com o saco nas costas (com a mala de madeira uma segunda vez e de papelão uma terceira), desde o século passado aliviaram a nossa pressão demográfica, prestaram um serviço histórico à Itália, nos libertaram da fome, especialmente depois da Segunda Guerra Mundial, com suas remessas, e hoje eles compram “principalmente” produtos italianos e, portanto, fortalecem o comércio e a economia de nosso país. A renda induzida pela colaboração econômica de nossos emigrantes é estimada em mais de 100 bilhões.

Essas pessoas são o sangue do nosso sangue, pessoas que sofreram moral e materialmente com a marginalização secular e das quais também temos algo a aprender ou reaprender: aqueles valores que hoje estão em grande parte sendo esquecidos.

A Itália, hoje, não pode deixar de honrar sua dívida secular, histórica, moral e política.


Giovanni Meo Zillo é Professor Emérito de Literatura Hispano-Americana na Universidade de Veneza. Ele publicou ensaios e artigos sobre o assunto do qual é um estudioso. 



Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS




terça-feira, 17 de novembro de 2020

Emigração Planejada




"Os mais fracos não emigram, não navegam nos mares, deixando para trás a pátria e a família, os mais medrosos, mas, em geral, aqueles para quem a vida é uma batalha e a alma é forte o suficiente para lutar mesmo em condições mais difíceis".


Entre 1861 e 1970, o total de emigrantes italianos que deixaram o país foi superior a 27 milhões de pessoas. Os anos de 1901 a 1910 constituem o período de maior número de saídas. De 1941 a 1970, a Itália contabilizou mais de 7 milhões de expatriados.
No período que se seguiu a Segunda Guerra Mundial as cotas de emigração foram consideravelmente mais reduzidas do que nas décadas anteriores e isso aconteceu devido principalmente a melhoria da economia  italiana e as mudanças que ocorreram nos principais países que receberam  os fluxos migratórios anteriores. 




Nessa época inúmeros países europeus, mais ricos, desenvolvidos e industrializados, passaram a ser o destino predileto do emigrante italiano, ultrapassando aqueles tradicionais países ultramarinos, onde agora o processo de recebimento de imigrantes começava a se fechar. Da década de 80 do século XIX até meados da década de 20 do século XX, mais da metade dos emigrantes italianos se dirigiram principalmente para os Estados Unidos, Argentina e Brasil.  Em relação a emigração italiana para a Europa, até a década de 1940 a França, Suíça, Alemanha, Áustria e a Bélgica foram os destinos que absorveram todos aqueles emigrantes que deixavam da Itália.
Nas duas ondas entre a emigração transoceânica e a emigração europeia, verificou-se uma maior especialização regional, que marcaram os fluxos migratórios por país de destino. Os italianos do norte da Itália que emigravam, mostravam preferência por países europeus, enquanto os das regiões do sul, ainda preferiram a emigração transoceânica, enquanto as regiões do centro da Itália ficaram em uma posição intermediária. 



A localização geográfica, a estrutura e o custo dos meios de transporte devem, portanto, ter desempenhado um papel importante na orientação dessas escolhas regionais. As estatísticas mostram uma situação bem diversificada relativa aos últimos vinte anos do século XIX em que nitidamente tivemos uma corrente imigratória, especialmente, do norte italiano, um total de 80% e no início do século XX esta percentagem já caiu para 50% e 10% são os que saíram do centro da Itália e 40% do sul. A razão para esta mudança na composição dos emigrantes quando se leva em conta a região de proveniência regional da emigração deveu-se a fatores próprios da economia italiana. Após o início da industrialização do norte e, portanto, quando já havia maior  disponibilidade de empregos, o número de expatriados diminuiu consideravelmente, enquanto a porcentagem dos que saíam do sul ainda continuou a crescer.
Do final dos anos 1940 a meados dos anos 1950, um aumento significativo dos fluxos migratórios transoceânicos voltou a  ocorrer. Ao lado dos antigos destinos dos Estados Unidos, Argentina, Brasil, Canadá e Austrália, um novo destino se estabeleceu na Venezuela. Esta onda migratória era amplamente organizada e assistida pelo governo italiano, no sentido de que através de acordos bilaterais a Itália e os países de imigração garantiam aos emigrantes contribuições, que muitas vezes cobriam integralmente as despesas de viagem. Os países de imigração exigiam categorias específicas de trabalhadores, assim a Austrália comunicava anualmente às autoridades italianas o número e as categorias de imigrantes de que necessitava; o governo brasileiro pagava a viagem e solicitava trabalhadores especialmente para o setor agrícola. No entanto, a assistência do estado italiano estava limitada a viagens só de ida. Ao chegarem ao seu destino, esses emigrantes italianos ficavam praticamente abandonados a sua própria sorte, nem recebiam assistência para um possível repatriamento. Mas o aspecto mais grave foram sem dúvida as dramáticas condições de trabalho. Aos trabalhadores italianos eram atribuídos os trabalhos mais pesados e insalubres, como aqueles nas minas de carvão, pedreiras e no cultivo de grandes plantações. 



Entre 1956 e 1960, foram registrados 1.739.000 italianos que deixaram o país. Foi o último grande contingente de emigrantes. A melhoria da economia italiana no período permitiu absorver aquele crônico excedente de força de trabalho no mercado interno. Mas, ao mesmo tempo, iniciou-se uma nova forma de emigração, não mais de mão de obra sem qualificação, mas, sim de quadros técnicos especializados, que ofereciam suas competências para atividades no exterior. Muitas grandes indústrias italianas encontraram pedidos no exterior, especialmente nos vários setores da engenharia.
Ao lado deste novo fenômeno, surgiu um forte aumento do desemprego a nível nacional, e também internacional, em meados da década de 1980 quando ocorreu uma corrente de imigração para a Itália, especialmente provenientes de alguns países africanos e latino americanos.
Tradicionalmente, a emigração para a Itália sempre foi uma emigração proletária com pouca participação de grupos familiares, muitas vezes vinculados a uma fazenda familiar na Itália, que não é autossuficiente. É muito difícil reconstituir a exata composição profissional da emigração italiana: ela tirou proveito principalmente do reservatório da superpopulação latente do campo e dos trabalhadores de baixa qualificação (pedreiros, operários, operários não qualificados). Esta emigração proletária parece fortemente correlacionada com a tendência cíclica da economia nos principais países importadores de força de trabalho italiana. Os italianos geralmente ocupavam os empregos mais pesados, os mais insalubres e perigosos, geralmente rejeitados pela classe trabalhadora local.
Quando se analisa os principais efeitos do fenômeno migratório do ponto de vista do país de emigração, importa sublinhar que as remessas de emigrantes se constituíram em uma alavanca muito importante do crescimento nacional da Itália, contribuindo muito significativamente para o reequilíbrio das contas externas. A emigração na Itália sempre foi substancialmente encorajada, quando não planejada pelas autoridades governamentais italianas; e isso não apenas pelos benefícios que traziam ao balanço de pagamentos, mas também, por ser considerado o mais eficaz antídoto para as crescentes tensões sociais causadas pelo estado de desemprego e miséria. A emigração foi, sem dúvida, a válvula de escape que impediu a explosão de uma sangrenta revolução que já se previa.
No pós guerra imediato a emigração se constituiu em um organizado plano do governo.




Na avaliação desse fenômeno, foi possível constatar uma unanimidade absoluta de julgamentos até a década de 1960: a Itália não conseguir oferecer trabalho para todos, não só nas contingências de um desastroso período pós guerra, mas também nas precárias condições futuras do seu desenvolvimento econômico, a emigração foi reconhecida como uma necessidade difícil, mas, indispensável para o sistema italiano.
Em junho de 1946, o problema do desemprego e da emigração foi novamente tratado pelo governo republicano; o crescimento do fluxo emigratório apresentou-se como a única forma de resolver o problema do desemprego. Decidiu-se, portanto, que a política italiana em direção ao exterior devia se basear em "acordos bilaterais", isto é, em acordos celebrados entre os dois países interessados ​​e que as melhores condições de vida e de trabalho para os emigrantes deviam ser conseguidas junto ao país estrangeiro de imigração.
A necessidade econômica fundamental a que responde a política de migração que será adotada pelo Estado italiano é a necessidade de desencadear um mecanismo de reequilíbrio da balança de pagamentos. Mas há também uma outra necessidade e é a política: num relatório que a Direção Geral da Emigração preparou no final de Março de 1949, está escrito que: «as vantagens da emigração para a Itália não se podem limitar só para o setor econômico: as repercussões sociais podem não ser menos importantes. A partir de uma elevação do padrão de vida, as lutas sociais também podem ser bastante atenuadas ”. 

Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS










domingo, 15 de novembro de 2020

Sobrenomes Italianos da Expedição Pietro Tabacchi no Espírito Santo



Segundo o sociólogo italiano Renzo M. Grosselli, a expedição de Pietro Tabacchi, foi o primeiro caso de partida em massa de imigrantes da região norte da Itália para o Brasil. Para recebe-los  governo imperial do Brasil criou a colônia Nova Trento, no estado do Espírito Santo, a qual foi a primeira de pelo menos outras três com o mesmo nome, fundadas para receber os imigrantes trentinos em terras brasileiras. 

A primeira viagem de imigrantes aconteceu no dia 3 de janeiro de 1874, às 13 horas, saindo do Porto de Gênova, em um navio a vela, o "La Sofia", na expedição Tabacchi, e a segunda viagem pelo " Rivadávia", ambos de bandeira francesa. O "Sofia" chegou ao Brasil em fevereiro de 1874, 386 famílias, diretamente para as terras de Pietro Tabacchi, em Santa Cruz .

Contudo, oficialmente, a imigração italiana teve início no Brasil com a chegada do navio "Rivadávia", que aportou em 31 de maio de 1875, com 150 famílias italianas, encaminhadas para Santa Leopoldina, de onde seguiram para Timbuí e fundaram Santa Teresa, todas localidades situadas no estado do Espírito Santo. 

A estes dois navios seguiram-se outros dos anos de 1874 a 1894: "Mobely", "Itália", "Werneck", "Oeste", "Izabella", "Berlino", "Clementina", "Adria", "Colúmbia", "Maria Pia"," Regina Margherita", "Solferino", "Andréa Dória", "Savona", "Città de Genova", "Roma", "Baltimore", "Savoia", "Pulcevere", "Birmania", "Las Palmas", "La Valleja" e finalmente, "Mateo Bruzzo", chegando com 528 famílias em outubro de 1894. 





FAMÍLIAS DA EXPEDIÇÃO TABACCHI

NOMEORIGEM
Abdermarcher DomenicoRoncegno 
Angeli GiobattaNovaledo
Armallao AndreaBorgo V.na 
Armellini MarcellinoRoncegno 
Bassetti GiovanniLasino
Baber ValentinoTenna
Bertotti GiuseppeCavadini 
Betti GiovanniTenna
Bolin ValentinoProv. Veneto 
Bolognani Fioravante
Bolognani Giovanni
Boneccher AntonioBorgo Valsugana 
Boneccher PrósperoBorgo V. na 
Bortolletti SimoneVezzano 
Capelletti GiobattaRoncegno 
Comper LeonardoBesenello 
Corn. Domenico ValentinoRoncegno 
Corn. GuerinoNovaledo
Corn. Pietro PaoloRoncegno 
Corradi BenedettoStenico 
Damasco PaoloVilla del Banale 
Delana Giovanni
Demoner Giuseppeprop. Veneto 
Fedele AndreaTelve
Felicetti DomenicoRoncegno 
Franceschini LeonardoVigolo? 
Furlan AntonioNovaledo
Fusinato OsvaldoRoncegno 
Gaiotto AntonioBorgo V. na 
Giacomozzi DomenicoSegonzano 
Giuliani LuigiRoncegno
Guazzo MarcoBorgo V. na
Ladini Sebastiano
Lazzari Annibale
Lira GiacomoCastelnuovo
Margoni Costante
Martignoni GiuseppeNovaledo 
Martinelli Don DomenicoCenta 
Merlo EnricoCovelo
Merlo FrancescoCovelo
Merlo GiuseppeCovelo
Merlo PaoloCovelo
Merlo TommasoCovelo
Moratelli TizianoNovaledo 
Motter ClementeBorgo V. na 
Palaoro DanieleNovaledo
Paoli GiuseppeNovaledo
Passamani DomenicoTenna
Perli GiobattaRoncegno
Perotti Valentino
Piovesan Pietroprovíncia Treviso 
Romagna ErmenegildoRoncegno 
Rosanelli GiacomoTenna
Serafini AntonioTenna
Slomp BertoloLevico
Slomp GiovanniLevico
Stroppa ProsperoBorgo V.na 
Tesainer GiuseppeRoncegno 
Toler Pietro GiovanniRoncegno 
Tonini AnnibaleNovaledo
Tonini GiobattaNovaledo
Tonini LázaroNovaledo 
Valandro FrancescoCastelnuovo 
Venzo GiovanniBorgo V.na 
Verones DomenicoCovelo
Verones VincenzoCovelo
Zambelli Giuseppe
Zamprogno LuigiMontebelluna (TV) 
Zamprogno SebastianoMontebelluna (TV) 
Zen AndreaNovaledo
Zottele FortunatoRoncegno 
Zonttele PietroRoncegno
Zurlo AbramoNovaledo



COLONOS TRENTINOS QUE FORAM PARA RIO NOVO (ES)

(RG)significa retirado para Rio Grande do Sul

(D) Retirado com destino desconhecido

Andreatta CarloCostasavina 
Andreatta GiovanniBosentino 
Antonelli Bernardo (D)
Angeli Giuseppe (RG)Levico 
Angeli Magoriano (RG)Levico 
Angeli Michele (RG)Levico 
Arman Costante (D)Barco
Avancini Antonio (D)Barco 
Bachiet Fausto
Bazzan Ricardo(RG)Levico 
Berlanda Emanuele
Bernabè GiuseppeS. Giuliana (Levico) 
Bernabè OrsolaS. Giuliana (Lev.) 
Bertol PietroMezzolombardo 
Bertoldi AlbinoS. Giuliana (Lev.) 
Bertoldi Attilio (RG)S. Giuliana (Lev.) 
Bertoldi Giuseppe
Bertoldi Paolo (D)
Bertoldi Pietro (D)
Betti Antonio (RG)Tenna
Bombasaro AlexandroCastelnuovo 
Bonella AntonioTelve di Sopra 
Broilo Bortolo (RG)Levico 
Broilo MaddalenaLevico
Caldara Antonio
Caldonazzi Francesco (D)Levico 
Capra Giuseppe (RG)
Carlini Giovanni (ou Giuseppe)Caldonazzo 
Casale G. B.Levico
Celva Giovanni
Cetto DomenicoLevico
Cetto G. B.Levico
Cetto Michele (D)Levico
Ciola Emanuele(D)Caldonazzo 
Colma (ou Culmano) GustavoLevico 
Coradello GiacomoCastelnuovo 
Curzel Bartolomeo (D) Caldonazzo 
Curzel Giuseppe (RG)Caldonazzo 
Dallastra Valentino (RG)Barco 
Dalmaso PietroSelva (Lev.) 
Debortoli AntonioRonchi
Degregori G.B.Mezzolombardo 
Eccel BertoloLevico
Eccher Giovanni (RG)Caldonazzo 
Eccher Sisto (RG)Caldonazzo 
Endrizzi MariannaDercolo 
Erla Domenico (RG)Levico 
Espem Ottavio (D)Levico
Faes Claudiano
Fillipi Clementino (D)
Foches Andrea
Fontana Antonio
Francio Angelo (ou G. B.)Caldonazzo 
Franzoi Francesco (RG)Castelnuovo 
Franzoi PaoloCastelnuovo 
Frisetti Paolo
Froner Giuseppe (RG)Levico 
Furlan G.B.Selva (Lev.)
Furlan GiuseppeSelva (Lev.) 
Furlan ZeffirinoSelva (Lev.) 
Gabrielli EmilioLevico ou Barco 
Gabrielli G.B.Levico
Gabrielli MassimilianoLevico 
Gabrielli Pietro (RG)Barco 
Gaigher PietroLevico
Gaigher TaddeoLevico
Gaigher TommasoBarco
Ghesla Giacomo (RG)Caldonazzo 
Ghesla Domenico
Giacomelli Gabriele
Gianeselli EliaLevico
Gottardi DomenicoRoncegno 
Iob Giovanni
Lenzi Antonio
Libardi Domenica
Libardi Fiorante (RG)Barco 
Libardi GeremiaLevico
Libardi GiacomoSelva (Lev.) 
Libardi Giovanni (RG)Levico 
Libardi Giuseppe (D)Levico 
Libardi Gregorio (RG)Levico 
Libardoni Alessandro (D)Levico 
Lorenzini CarloLevico
Lorenzini FrancescoLevico 
Lorenzini TerenzioLevico 
Lorenzini GiacomoLevico
Lunz EvaristoSelva (Lev.) 
Magnago CarloLevico
Magnago OttavioLevico
Magnago PietroLevico
Magnago Ricccardo Levico 
Marchiori Luigi (ou Melchiori)
Marcolla Antonio
Martinelli Angelo (D)
Martinelli ValentinoBarco 
Mattei (ou Mattè) Camillo (RG)Caldonazzo 
Mattei (ou Mattè) Domenico (RG)Caldonazzo
Menegazzi Bartolo (D)
Merlo Michele
Molinari AntonioBorgo Valsugana 
Moschen AntonioQuaere (Lev.) 
Moschen G.B. (RG)Levico
Moschen Giuseppe (D)Selva (Lev.) 
Moschen GiuseppeLevico
Moser CarloBarco
Moser GiovanniBarco
Motter ClementeRoncegno
Negri Clemente (RG)Levico 
Noelli Antonio
Oss BortoloVignola
Pallaoro G.B. (D)Quaere (Lev.) 
Pallaoro LazzaroSelva (Lev.) 
Pallaoro MargheritaS. Giuliana (Lev.) 
Pallaoro Michele (RG)Quaere (Lev.) 
Paoli FrancescoLevico
Parotto AgostinoVilla Agnedo 
Partele Amadeo
Partele AntonioCastelnuovo 
Partele GiuseppeCaselnuovo 
Passamani PietroSelva (Lev.) 
Passamani TemistocleBarco 
Peretti Carlo (RG)Levico 
Petri CesareS. Giuliana (Lev.) 
Pezzi Francesco (RG)Dercolo 
Pezzi Gioseffa (RG)Dercolo 
Pezzi Giovanni (RG)
Piazzarollo PietroLevico 
Piccolo Giuseppe (D)
Poffo LucianoLevico
Pola FrancescoCaldonazzo 
Polliot (ou Polioti)Luigi
Pompermaier CristanoRoncegno 
Raota G.B.Barco
Raota QuirinoBarco
Rigotti AndreaMezzalombardo 
Rigotti Antonio
Rigotti EmanueleMezzalombardo 
Sartori Achille
Sartori AntonioLevico
Sartori Lodovico
Sartori PietroLevico
Serafini Ferdinando (RG)Tenna 
Smarzaro FrancescoCastelnuevo 
Stefanon Antonio
Sterzel PietroRoncegno
Strada Domenico (RG)Caldonazzo 
Tartarotti Rosa (RG)Levico 
Tomaselli Giuseppe Levico 
Tom(m)asi Alberto (RG)Barco 
Tom(m)asi Egidio (RG)Barco 
Tom(m)asi Guglielmo (RG) S. Giuliana (Lev.) 
Tom(m)asi Quirino (RG)Barco 
Tomasini Carlo
Toniolli BernardoBarco
Trisotto Giustina Samone 
Valentini Andrea (RG)Tenna 
Valentini VincenzoLevico 
Valentini DemetrioLevico 
Vettorazzi Antonio (RG)Levico 
Vettorazzi NataleBarco
Vettorazzi Pietro (RG)S. Giuliana (Lev.) 
Vettorazzi Pietro (1)Levico 
Vettorazzi Pietro (2)Levico 
Zambiasio Giovanni (RG)Levico 
Zambiasio Zeffiro (RG)Levico 
Zanottelli Giacomo
Zurlo Antonio "Meneghin" (RG)
Zurlo FrancescoRonchi



COLONOS TRENTINOS QUE FORAM PARA S. LEOPOLDINA (ES)

(RG)significa retirado para Rio Grande do Sul

(D) Retirado com destino desconhecido

Agostini GiovanniCaldonazzo 
Andermarchel( r ) FrancescoRoncegno 
Andreatta LazzaroCampiello (Lev.) 
Anesini AntonioPergine
Anesini GiovanniPergini
Angeli BattistaNovaledo
Angeli DanieleNovaledo
Angeli GiovanniNovaledo
Angeli LuigiNovaledo
Armellini TommasoRoncegno 
Armani AnselmoPannone
Armani Carlo
Arnoldo LeopoldoMadramo
Artioli Giuseppe
Avancini AdoneSelva (Lev.) 
Avancini Antonio
Avancini PietroSelva (Lev.) 
Baitella AntonioMadrano
Baitella G.B.Madrano
Baldessari MargheritaNogaredo 
Baldo Fioravante
Banal Alessandro
Barotto AugustoNovaledo
Bason (?)
Bassetti Francesco
Bassetti Pietro
Battisti BattistaCalliano 
Battisti G.B.Calliano
Belumat CirilloNovaledo
Berlanda ArcangeloMadrano 
Bertoldi Pietro Roncegno 
Bettini Francesco
Bolognani Angelo
Bolognani Luigi
Bonmassar CostanteLevico 
Bonec( c )her ProsperoBorgo V.na 
Bortolini FilippoCenta
Bortolini GiuseppeCenta
Boso(a) Celeste
Boso LorenzoCanal S. Bobo 
Bottura Angelo Caldonazo 
Bridi Giuseppe Mattarello 
Broilo DomenicoMattarello 
Broso AngeloCaldonazo
Cappelletti Giuseppe
Carlini GiovanniMattarelo 
Carraro FrancescoVilla Agnedo 
Casagrande Giuseppe
Casotti Paolo
Casteluber DavideNovaledo 
Casteluber giuseppe Novaledo 
Cattani Antonio
Cestar LeonardoMattarello 
Ceschini Antonio
Ceschini Giovanni
Cetto Annibale
Chesani Giovanni (RG)
Chistè Antonio
Chistè Francesco (RG)
Chistè GiovanniLasino 
Chistè Giuseppe
Comper LeonardoBesenello 
Cordini Giuseppe (D)
Corn TeresaNovaledo
Corradi BenedettoStenico 
Corradini Domenico
Cortelletti GiuseppeMattarello
Coser AngeloAldeno
Coser AntonioAldeno
Coser Carlo
Coser Carlo(Minghel)Aldeno
Coser GiovanniAldeno
Coser Michele
Coslop Pietro
Costa CaterinaNovaledo
Costa GiuseppeCaldonazzo
Costa PietroNovaledo
Cuel Eugenio
Dalbosco Anselmo
Dalcolmo GiovanniMadrano
Dallafontana Antonio
Dallapiccola GiuseppeNovaledo