sábado, 20 de janeiro de 2024

Lamentos nas Marés da Condenação: O Desolador Destino dos Remadores de Veneza no Século XVI


 

No sombrio contexto do século XVI, a expressão "condannati al remare" sussurrava uma sentença cruel: prisioneiros condenados ao martírio das galés. Surgindo das terras germânicas, grupos de delinquentes, como sombras indesejáveis, eram escoltados por guardas através da Valsugana. No limiar de sua jornada sinistra, a Sereníssima República de Veneza, a Rainha do Adriático, os aguardava para impor a pena, na qual os condenados redimiriam seus pecados remando incansavelmente nas temíveis galés.

O nefasto comércio humano, urdido na Alemanha em 1556, estendeu seus tentáculos para outras cidades, proporcionando às autoridades germânicas uma maneira eficaz de se desvencilharem de elementos socialmente perigosos. Para Veneza, era uma fonte vital de remadores, uma necessidade acentuada, especialmente nos tumultuosos períodos de guerra. Na Guerra de Morea, o Duque da Baviera, Maximiliano Emanuel, estendeu a crueldade da pena de remo a mendigos, ciganos e caçadores, além dos criminosos comuns.

Os prisioneiros, como peões involuntários em um jogo perverso, eram reunidos na cidade de Munique, cruzavam os majestosos Alpes pelo Passo de Brenner, descendo o vale do Adige até Trento, onde ingressavam na traiçoeira Valsugana. O ritual sombrio atingia seu ápice em Primolano, quando os infortunados eram entregues ao podestà de Bassano, representante de Veneza. O preço da redenção variava entre 35 e 45 ducados, podendo atingir a exorbitante cifra de cem ducados para os condenados à prisão perpétua.

Uma cruel expedição, anotada nos anais em 1715, testemunhou 62 prisioneiros enviados pelo Eleitor de Mogúncia. No lazareto de Primolano, a realidade brutal se desdobrava diante do podestà de Bassano, Lorenzo Pisani, e seus 28 homens a cavalo, que recebiam apenas 59 prisioneiros, três deles consumidos pela sina antes mesmo de chegar ao seu destino final.

Primolano, entrelaçado nas teias da desgraça, não era o único palco dessa tragédia humana; em Val d’Astico, uma ponte de madeira sobre o rio Tora testemunhava a mesma prática macabra. Ali, sob a égide de Cesare, os prisioneiros eram entregues às triremes venezianas, um espetáculo dantesco de almas acorrentadas.

Essa tenebrosa gestão de prisioneiros, negociada por sombrias alianças, não era um monopólio veneziano; as autoridades do principado episcopal de Trento também recorriam a esse sinistro expediente para resolver o enigma da custódia. Nesse enredo sombrio, onde a vida era barganhada como moeda de troca, a jornada dos condenados à galé se tornava um capítulo macabro na história obscura e implacável da Valsugana.