terça-feira, 24 de abril de 2018

Padre Pietro Colbacchini e a Colônia Bella Vista no Paraná



Padre Pietro Colbacchini, foi um dos primeiros missionários formados pelo Instituto Scalabriniano, na Itália. Nasceu na cidade de Bassano del Grappa, próxima à cidade Castello di Godego, em 1845. Dos entornos dessas duas cidades emigraram algumas famílias que formaram a Colônia Bella Vista, localizada a aproximadamente 14 km da cidade de Imbituva, no estado do Paraná. Ela foi fundada no ano de 1896 por imigrantes italianos, provenientes da região do Vêneto, na Itália. Esses imigrantes, inicialmente se instalaram em outras Colônias ao redor de Curitiba para depois migrarem para a região de Imbituva. Esta cidade está situada a 177 km de Curitiba e recebeu imigrantes alemães e italianos. A Colônia Bella Vista, na época da sua fundação, tinha uma área de 870 alqueires de terras férteis e chegou a ter 400 habitantes. Esta colônia não fazia parte daquelas criadas pelos governos estadual ou federal, ela foi adquirida pelos próprios imigrantes. 
O padre Colbacchini sensível ao sofrimento dos emigrantes vênetos no Paraná, resolveu emigrar para o Brasil, após ler as cartas que recebia dos seus antigos fiéis emigrados já a algum tempo antes, em companhia do Padre Angelo Cavalli, que acabou falecendo em 1870. A respeito das cartas disse: “Me dilaceraram o coração os lamentos que continham aquelas cartas contando do abandono em que se encontravam tantos desgraçados italianos e do perigo de perderem a sua fé.” Partiu para o Brasil no início de novembro de 1884. Inicialmente se instalou em São Paulo e em 1886 se dirigiu para o Paraná, onde já estavam assentados a maioria das famílias que saíram de sua região no Vêneto. Em Curitiba se fixou na Colônia Dantas, atual Bairro de Água Verde. Para realizar o seu trabalho pastoral tinha que se deslocar à cavalo, por grandes distâncias, entre as cidades de Colombo, São José dos Pinhais, Campo Largo e Imbituva. 


Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS


O Noivado e o Casamento nas Zonas Coloniais Italianas no Sul do Brasil

Casamento em Erechim

Não diferente de outros lugares, uma característica marcante da época e que sobreviveu até poucos década atrás, a educação sexual era totalmente trascurada nas famílias de emigrantes italianos.
Nada se falava em família sobre o desejo sexual, o orgasmo e até mesmo sobre o processo reprodutivo. Os órgãos sexuais eram totalmente esquecidos na vida quotidiana e não deviam jamais serem expostos ou mesmo mencionados.
Nenhum aspecto da sexualidade era esclarecido aos adolescentes, tanto pelos seus pais como na escola. Os jovens conseguiam obter algumas informações através de amigos, irmãos e irmãs mais velhos.
O sexo era tratado como um grande pecado e como tal não era mencionado nem mesmo  como forma educativa nas escolas. Nem a respeito da gravidez as jovens podiam ser informadas. Tudo que se relacionava ao sexo era mantido escondido, como um grande tabu. Muitas vezes a primeira menstruação chegava para uma moça e causava o maior espanto por não ter ao menos alguns conhecimentos básicos da fisiologia feminina.
A concepção e o nascimento eram explicadas para as crianças e adolescentes de maneiras diversas, conforme o local onde viviam. Assim, as vezes, os recém nascidos vinham dos pântanos e o coaxar das rãs eram os seus gemidos. Outras vezes, eram trazidos em um cesto pela parteira ou então, o mais frequente, era a cegonha quem trazia as crianças para os pais que para tanto só precisavam encomendá-las.
Experiências sexuais antes do casamento, mesmo simples beijos, eram considerados imorais e não eram aceitos pelas famílias. Isso, no entanto, é mais verdade para as mulheres, pois, os homens trabalhando fora da colônia, as vezes até em locais afastados, tinham acesso as prostitutas e quase nunca chegavam virgens ao casamento. Para as mulheres o ato sexual sempre foi mais suportado como uma obrigação do matrimônio do que uma verdadeira fonte de prazer.
As moças chegavam ao casamento sem conhecer o que era um ato sexual. A maioria delas via nele somente em função da procriação, o qual trazia satisfação somente para o marido.
No caso de uma gravidez antes do casamento, que aconteciam com alguma regularidade, mas, em limitada proporção, só podia ser reparada pelo casamento, que devia acontecer antes do nascimento da criança.
Os namorados jamais tinham a oportunidade de ficarem sozinhos, sempre estavam acompanhados ou vigiados de perto por uma terceira pessoa o que os impedia de falar de assuntos mais pessoais.
Uma vez aceita a possibilidade de matrimônio e depois do consentimento dos pais da moça, o rapaz a podia visitar em sua casa, uma vez por semana, aos sábados ou aos domingos. Era também comum uma visita oficial do noivo aos futuros sogros, acompanhado dos seus pais, ocasião então em que era oficializado o casamento.
O noivado durava geralmente um ano. Uma vez decidido o casamento, o noivo ia comprar as alianças, ou como diziam: comprar i ori. Essas alianças vinham usadas tão logo que compradas. Em algumas colônias era hábito que o noivo nessa ocasião também comprasse um presente para a sogra. Comumente este era um pequeno colar, que, diferente dos demais presentes e alianças, não era de costume serem devolvidos por ocasião do rompimento do noivado. A dissolução deste era muito raro, mas, quando isso ocorria eram restituídos todos os presentes e as alianças adquiridas, com exceção do colar da “Madona”. 
Em algumas comunidades italianas, no dia anterior ao casamento era tradição que as mãe dessem a benção aos seus filhos com água benta, ocasião em que davam à eles os conselhos que achassem pertinentes. Era nesta ocasião em que geralmente a mãe da noiva falava alguma coisa sobre as suas obrigações conjugais, mas, tudo muito genérico e superficial.
O casamento ocorria geralmente em um sábado à tarde e em muitos lugares o noivo ia buscar a noiva em sua casa, acompanhado pelos padrinhos, pais e amigos, todos à cavalo e se dirigiam para a igreja. Durante o trajeto de ida e volta eram estourados foguetes e também muitos tiros de revólver eram disparados para o alto.
Após a cerimonia na igreja o casal, familiares e os convidados rumavam para a casa da noiva, onde era servido um almoço ou jantar, conforme a hora do casamento, seguido de um grande baile, que durava até o dia seguinte.

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS