domingo, 4 de março de 2018

Descrição de Uma Calamidade no Vêneto da Sereníssima República de Veneza no ano de 1779






Addì 10 maggio 1779

Sarà cosa grata a posteri il sapere che in quest’anno si è patita terribile siccità, non avendo mai piovuto ne nevicato dalli mesi novembre 1778 sino addì 10 aprile 1779 - ed ancora oggi ha piovuto lentamente per due o tre ore e non più, cosicché l’umidità tanto bramata non penetrò un solo dito. Tale inaudita siccità si è stesa per tutta l’Italia e persino in Polonia, a molti luoghi dell’Alemagna così pure in Francia e in Spagna. Li 27 aprile verificò una lentissima pioggia. Finalmente il 7 e 8 maggio è piaciuto alla Divina Provvidenza consolarci intieramente, avendo piovuto abbondantemente ove i nostri fiumi Brenta e Piave, che erano quasi dissecati con tanto danno alla navigazione e specialmente con l’essersi resi quasi affatto inefficienti tanti molini sopra medesimi, ciò che arrecava una totale miseria agli afflitti popoli circonvicini. Nelle nostre montagne, tante restarono dissecate, quasi tutte, con estrema desolazione di quegl’infelici popoli che penavano enormemente per dissetare sé stessi e i loro bestiami, persino di notte. Quei pochi, che portati di benigna Provvidenza del Cielo restarono provveduti del bramito liquido, erano sempre circondati di gente da lontani paesi conversa per raccoglierne sino la più minuta stilla. In un pubblico rapporto in data di Madrid, 27 marzo, si legge ciò che segue: “ in tutto questo Regno fanno delle pubbliche Devozioni per ottenere la pioggia, poiché da 7 interi mesi non è caduta una goccia di acqua, lo che ha cagionato infinite malattie e grandissima mortalità”.

Dia 10 de maio de 1779

Será gratificante aos que virão saber que neste ano sofremos terrível seca, não tendo chovido, nem nevado, desde o mês de novembro de 1778, apenas no dia 10 de abril de 1779 – e ainda hoje choveu muito pouco, por não mais de duas ou três horas, sendo que a tão esperada umidade não penetrou um só dedo no solo. Esta rara seca se estendeu por toda a Itália e também na Polônia, em muitos locais da Alemanha e até na França e Espanha. Ali em 27 de abril ocorreu uma breve chuva. Finalmente nos dias 7 e 8 de maio a Divina Providência quis nos consolar inteiramente, tendo chovido abundantemente em nossos rio Brenta e Piave, os quais estavam quase secos, causando tantos danos a navegação, especialmente pelo fato de tornar ineficientes tantos moinhos ao longo dos mesmos, acarretando uma grande miséria às aflitas populações circunvizinhas. Nas nossas montanhas, tantas ficaram secas, com seus habitantes na extrema desolação, sofrendo enormemente para satisfazer as necessidades de água para si e para o gado, buscando água inclusive a noite. Aqueles poucos escolhidos pela providência do céu, que conseguiam obter o esperado líquido, eram sempre circundados de pessoas provenientes de cidades longínquas, ansiosos para obter algumas gotas. Em um documento público de Madrid, com data de 27 de março, se le o que segue: “em todo este reino se fazem súplicas públicas para obter a chuva, pois a 7 inteiros meses não caiu uma gota de água, o que ocasionou muitas doenças e elevado número de mortos”.


Questo racconto originale, ci parla di una gran calamità accaduta tanti anni fa, nel secolo XVIII, già nel finale del potere della Serenissima Repubblica di Venezia, che marcò profondamente i nostri antenati e certamente ha concorso per creare una situazione di miseria cronica nel Veneto. Scritto originalmente in latino dal parroco d’allora, dovuto la sua importanza storica, cent’anni dopo fu tradotta in italiano antico e messa nel libro parrocchiale di 1877, dal Pe. Cristiano Cera, con una calligrafia fatta a pena e con degli errori grammaticali. Molte parole hanno avuto bisogno di traduzione per essere capite, eppure lasciamo alcuni sbagli che danno una idea dell’epoca. Questo documento è stato trovato un mese fa, nel libro parrocchiale della Parrocchia di San Marco, comune di Camposampiero, provincia e diocesi di Padova, e ci fu inviata dal nostro lettore Cezar Scolari, della città di Costantina (RS), che con perspicacia l’ha veduto e fatto una copia quando ricercava i registri di suoi antenati in quella parrocchia veneta. Scolari ancora ci racconta che questa parrocchia è dell’anno 1300 e li ci sono custodite dati e documenti dal 1470.


Este relato original, nos fala de uma grande seca acontecida tantos anos atrás, no século XVIII, já no final do poder da Sereníssima República de Veneza, que marcou profundamente os nossos antepassados e certamente concorreu para criar uma situação de miséria crônica no Vêneto. Escrito originalmente em latim pelo pároco de então, devido a sua importância histórica, cem anos após foi traduzido em italiano antigo (documento acima) e colocado no livro paroquial de 1877, pelo padre Cristiano Cera, com uma caligrafia feita pena e com alguns erros gramaticais. Muitas palavras necessitaram de tradução para serem compreendidas, entretanto deixamos alguns erros que dão uma idéia da época. Este documento foi encontrado a poucos anos atrás, nos livros da Paróquia de San Marco, município de Camposampiero, província e diocese de Padova, e nos enviada pelo nosso leitor Cezar Scolari, da cidade de Costantina (RS), o qual com perspicácia a viu e fez uma fotocópia, quando pesquisava os registros dos seus antepassados naquela paróquia vêneta. Scolari ainda nos contou que esta paróquia é do ano de 1300 e ali estão guardados dados e documentos desde o ano de 1470.


Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS


A Batalha de Lepanto - La Battaglia di Lepanto




Em 1570 o grande Império Otomano estava em franca expansão, ganhando cada vez mais terreno, se apoderando de privilegiadas posições Venezianas ao longo do Mediterraneo oriental após inúmeras vitórias contra as forças ocidentais. A Batalha de Lepanto, considerada um dos maiores encontros bélicos navais ocorridos naquelas águas, teve a finalidade de impedir o avanço dos turcos que já ameaçavam invadir o ocidente, impondo suas leis e religião, ao mesmo tempo em que estavam contrariando os interesses econômicos das potencias ocidentais da época. Para enfrentar o eminente perigo, e Veneza era sem dúvida o Estado mais ameaçado de invasão, foi criada, com a ajuda do Papa Inocêncio III, uma Liga de Nações, que recebeu o nome de Liga Santa, formada pela Sereníssima República de Veneza, reino da Espanha, de Genova, Lucca, Genova, os Gonzaga de Mantova, os Estensi de Ferrara, os Della Rovere de Urbino, o duque de Savoia, o granduque de Toscana, os Cavaleiros de Malta e o Papado. As despesas foram divididadas em seis partes: três a cargo da Espanha, duas de Veneza e uma do Papa. Foi assim reunida uma grande armada, com mais de 200 navios, sendo que somente a Sereníssima República de Veneza participou com uma frota de 105 navios de guerra, construídos em seu famoso Arsenal. Entre esses navios, participou da batalha a chamada Galeaça Veneziana, nova embarcação guerra até então desconhecida, construída em segredo e que possuía um castelo de proa redondo equipado com 9 canhões dispostos em círculo, com área de tiro de 360º, além dos outros quase 30 fixados lateralmente na embarcação, o que a tornava muito eficaz em encontros a curta distância, apesar de ser uma embarcação lenta. Ela foi um dos fatores decisivos para a vitória da Liga Santa. A frota turca era formada por mais de 230 navios de guerra. As duas armadas se enfrentaram em batalha na manhã do dia 07 de Outubro de 1571, nas águas da ilha de Lepanto, na Grécia, e durou aproximadamente 4 horas. A Batalha de Lepanto foi a mais memorável vitória militar de Veneza, e o dia passou a ser feriado. Ela marcou o fim da potência marítima otomana. Essa vitória das forças da Liga Santa é considera um importante marco que mudou o rumo da história.

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta

Erechim RS

Il Carnavale di Venezia

Il Carnavale di Venezia

 

 








Segundo os estudos de pesquisadores e historiadores vênetos, as origens do Carnaval de Veneza, o mais famoso da Itália, se encontram no século X. Dizem que no "Giovedì Grasso", a Terça-Feira gorda, se celebrava a vitória do Doge Vitale Michiele contra Ulrico, este Patriarca de Aquilea, no ano de 1162. Com a finalidade de recordar a derrota sofrida, os sucessores do Patriarca eram obrigados a enviar ao Doge um certo número de animais cuja carne era destinada aos nobres, ao clero e ao povo. Este dia acontecia uma festa que se prosseguia com espetáculos animados por saltimbancos, jogos, fogos de artifício e o famoso "Volo dell´Angelo" também conhecido como "Volo della Colombina", no qual um acrobata, com o auxílio de uma corda, subia a torre do Campanile di S. Marco, voltando com um maço de flores que eram oferecidas ao Doge. Posteriormente o governo "della Serenissima" oficializou o carnaval em 1296, declarando dia festivo a Terça-feira gorda, o dia precedente da Quaresma. Com o passar dos séculos a duração da festa foi aos poucos aumentando os dias de duração. Por volta do ano de 1638 o carnaval de Veneza conquista a fama de atração turística européia e a cidade passou a ser conhecida como a "Città del Carnevale". Aos poucos também foi se consolidando a tradição do uso das belas fantasias e principalmente das conhecidas máscaras brancas, usadas por homens e mulheres e do chapéu preto de três abas.

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS

Capodanno Veneto - Ano Novo Vêneto



Nos dias de hoje já não se ensina mais nas escolas que na nossa antiga tradição vêneta o ano começava em 1º de Março e não em Janeiro como aprendemos. Realmente é esquisito e pouco compreenssível que no nosso calendário o mês de Setembro seja o 9º mês do ano e não o sétimo como o nome está dizendo (Settembre), ou que Outubro seja o 10º mês e não o oitavo (Ottobre), que Novembro seja o 11º mês e não o nono (Novembre= Nonno) ou ainda que Dezembro seja o 12º mês e não o décimo (Dicembre = dieci). Nos parece inconcebível que o Ano Novo se inicie no inverno (hemisfério norte), a estação mais fria onde a natureza parece parar. O antigo costume vêneto respeitava o rítmo natural das coisas: o Ano Novo nasce com o alvorecer da Primavera, juntamente com a vida que se renova. Com esta simples explicação fica muito mais fácil entender o nome dos meses do nosso calendário. Infelizmente, por razões diversas, a escola e o governo italiano procuraram sempre meios para fazer cair no esquecimento de todos essa e outras nossas antigas tradições. Entretanto a tradição do Capodanno Veneto ainda resiste e alguns municípios vênetos, principalmente aqueles da Pedemontana del Grappa, onde podemos ver as fogueiras do Brusamarzo, que "queimam" o ano que finda.

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta

Erechim RS

Sposalizio del Mare





Sposalizio del Mare está entre as mais antigas e conhecidas tradições vênetas e se refere a uma antiga cerimônia que se realizava durante a Festa della Sensa, ou da Ascenção, que simbolizava o domínio marítimo de Veneza. Ela foi instituída por volta do ano 1000 para comemorar a conquista da Dalmazia pelo Doge Pietro Orseolo II e para tal foi escolhido o Dia da Ascenção, uma vez que este tinha sido o dia em que o doge partiu para aquela expedição. A cerimônia consistia de uma procissão de embarcações, tendo a frente o barco do doge, este a partir de 1253 foi chamado de Bucintoro. Esta procissão saía da laguna veneta até o porto do Lido. Neste local, frente a igreja consagrada a S. Nicolò, patrono dos navegantes, era então recitada uma oração "para nós e para todos os navegantes o mar possa ser calmo e tranquilo". Em seguida o doge e acompanhantes eram solenemente aspergidos com água benta, sendo o resto jogado ao mar enquanto os sacerdotes entoavam um hino religioso apropriado. No ano de 1177 o papa Alexandre III conferiu maior importância religiosa a esta solenidade como retribuição à Veneza do apoio recebido na luta contra Frederico Barbarossa. Na mesma ocasião o doge também deixava cair o seu anel na água, consagrando-o ao mar, seguindo talvez um rito pagão mais antigo, proferindo as palavras: "Te esposamos, Mar. Em sinal de verdadeiro e perpétuo domínio". Declarava assim Veneza e o Mar unidos indissoluvelmente, reforçando o domínio sobre o Mar Adriático.

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS